Na Letônia, tinham boas notícias do Brasil, vindas de letões que por aqui já viviam. Um país de grande extensão territorial, florestas densas, terras férteis, inverno menos rigoroso que na Europa, além de terem como plantar e colher duas vezes ao ano.
A família e outros imigrantes letões, chegaram em São Paulo e foram viver, inicialmente, em Pariquera-Açu, no Vale da Ribeira. Mas não se adaptaram à região, se mudando para São José dos Campos, em seguida, foram viver em Campos do Jordão. Essa região tinha grande presença de letões e como madeireiro, a família de Verner, se dedicava a fazer casas, hotéis e móveis, usando árvores nativas, como o pinheiro e a peroba. O trabalho era duro, com serras manuais, mas um trabalho que deixou uma grande herança cultural nas cidades em que a família e todos os letões passaram. Nesta época, Campos do Jordão estava em formação e era um lugar para tratamento de tuberculose.
Aos 7 anos de idade, a mãe de Verner faleceu e a família se mudou para a região de "Alta Paulista", vivendo em Inúbia Paulista, onde estavam construindo uma estrada de ferro, havendo necessidade de muita mão de obra. Os letões trabalhavam na construção da ferrovia. A família de Verner, se dedicava a construção de casas de madeira para os operários e funcionários da ferrovia. Usavam a peroba, nas construções. Nessa época, por volta de 1922, já havia uma grande colônia de letões nesta região, tendo chegado de uma só vez, cerca de 2 mil letões. Foi desse grupo que chegou, que Verner conheceu Emília Grinberg, com quem se casou em 1934. Emília era soprano e solista e contava no coro da Igreja Batista de Varpa, distrito de Tupã/SP. (foto acima e abaixo de Ricardo Cozzo, apresentação de letões em Monte Verde) Como aprendeu com seu pai, Werner se dedicou a profissão que o pai lhe ensinara e montou uma serraria, abastecendo a região com madeiras, já que a carência era muita, devido ao crescimento da região e chegada de novos moradores e imigrantes.
Desde quando a família decidiu deixar a Letônia, sonhavam em encontrar no Brasil, um lugar que tivesse semelhança com seu país de origem, em clima, paisagens, belezas naturais e que fosse um lugar saudável para se morar. Verner já tinha ouvido falar, desde menino, que existia um lugar assim, desse jeito que a família queria, que lembrava muito a Letônia, chamado de "Campos do Jaguari", mas ninguém saiba sabia onde era lugar.
Campos do Jaguari e a Letônia
O tempo passou, a vida e o trabalho continuaram, até que em uma de suas viagens de negócios, um de seus compatriotas, disse que encontrou o tal lugar que Verner falava, o "Campos do Jaguari". Procuraram informações sobre esse lugar. Werner e seu pai, saíram do Oeste de São Paulo de trem, em 1938, seguiram o trajeto de jardineira e por fim, a cavalo, porque não havia estradas para lugar que buscavam. O cantinho da Letônia, que tanto sonhavam, encontrava-se a 1555 metros de altitude, numa região com baixíssimas temperaturas, onde poucos arriscavam viver. Esse lugar que tantos buscavam, "Campos do Jaguari, ficava em Camanducaia, no Sul de Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Ricardo Cozzo)
Quando chegaram, havia no local alguns poucos mineiros, que trabalhavam numa fazenda. Procuraram conhecer toda a região, subindo montanhas e topos de picos, como o do Selado. Ficaram encantados com o lugar. Uma região montanhosa, com florestas de pinheiros (araucárias) e campos abertos, além de rios, cachoeiras, córregos e nascentes. Do jeito que sonhavam e imaginavam. A região lembrava exatamente as belezas naturais da Letônia. Se interessaram de imediato em comprar terras na região.
A compra de terras nos Campos do Jaguari
Inicialmente, adquiriram 5 alqueires de terras e registram a nova propriedade no cartório de Camanducaia. Compraram as terras, com as economias que fizeram, nos anos de trabalho duro na serraria da família. Voltaram e retornaram com a família para demarcar suas terras. Vieram com Verner, seu pai, seu tio, Karlis Kempis, seu primo, Raymondo Kempis, sua esposa, Emília, e sua cunhada, Ilga.
Vieram recomeçar suas vidas, a partir do sonho de viver num lugar que lembrasse seu país de origem. O começo não foi nada fácil. Montaram uma barraca de lona, dividida em 2 quartos e uma pequena fogueira, na parte externa, que servia de fogão. Começaram logo os trabalhos de demarcação da área e construção de casas, em madeira, além de comprarem mais terras.
Ao todo, a família adquiriu cerca de 400 alqueires de terras. Construíram suas moradias no estilo tradicional arquitetônico letão. As casas eram feitas em madeira, já que era esse o ofício da família, bem como o estilo das construções típicas dos letões. A família continuou vivendo em Inúbia Paulista, indo e vindo à região para cuidar da propriedade, mudando-se em definitivo em 1952. (fotografia acima de Anthony Cardoso)
5 pessoas: o começo da povoação
A propriedade dos letões prosperava e mais gente chegava à região, atraídos pela beleza das paisagens e oportunidade de viver numa comunidade e lugar, com paisagem, clima e arquitetura, semelhantes ao seu país de origem. Vinham, gostavam e queriam ficar, de vez.
A partir de 1954, Werner e a família, decidiram vender lotes aos no entorno da sede da fazenda. Assim com mais gente chegando a cada dia, foi-se formando um povoado, que crescia com a chegada de letões. De uma fazenda familiar, surgiu assim uma charmosa e movimentada Vila de origem europeia, em Minas Gerais. Começou com 5 pessoas. Hoje são cerca de 6 mil moradores, vivendo no distrito de Camanducaia. Maior até que muitas cidades do Brasil.
O porque do nome Monte Verde?
Com o crescimento da Vila, surgiu a necessidade de um nome para o lugar. A esposa de Verner, Emília, resolveu associar seu sobrenome letão, Grinberg, ao local. Grinberg ou "Grün Berg", na escrita alemã. No português, significa, Monte Verde. Lugar de montanhas, rodeada por extensas matas e paisagens bem verdes, com certeza, tudo a ver com o nome. Optaram em chamar o lugar de Grimberg, mas em português, Monte Verde. (fotografia de Anthony Cardoso)
Em 1956, fundaram a Igreja Batista na Vila, já que os letões que chegavam, eram batistas. Pouco tempo depois, com o grande número de crianças na Vila, Verner percebeu a necessidade de criar uma escola e assim o fez.
Introduziu ainda na Vila, energia elétrica, através de um gerador, além de fazer captação de água das nascentes, para abastecer as casas. Foram construídos cerca de 40 km de rede tubular, que levava água à Vila, além de ter construído caixas d´águas nas casas dos moradores.
Além disso, fez aberturas de ruas e acesso ao povoado, bem como outras melhorias, que visavam melhorar qualidade de vida de seus moradores. Tudo isso por sua iniciativa própria e ainda bancava do próprio bolso, as melhorias que fazia na Vila.
Visão empreendedora de Verner Grimberg
Verner enxergava longe. Percebia o potencial turístico do lugar, com as constantes visitas, que chegavam, gostavam e queria voltar. Buscava oferecer melhores condições para que os visitantes se sentissem bem em Monte Verde. Investia e incentiva os moradores a buscarem sempre melhorias em seus estabelecimentos comerciais, calçadas e ruas, melhorando sempre a Vila, para que os visitantes, além de gostar da receptividade, da arquitetura, das belezas, das tradições, da culinária, voltassem e recomendassem Monte Verde para os amigos. (fotografia acima e abaixo de Anthony Cardoso)
Verner Grinberg, além de grande empreendedor e visionário, tinha paixão por seu país de origem, pela região que escolheu para viver e que muito o orgulhava de ter sido, junto com a esposa, pai, tio e primo, os fundadores de Monte Verde. Amava sua profissão, tinha paixão por carros e também por aviões.
Conseguiu seu brevê de piloto em 1942 e claro, adquiriu um avião. Ter um avião era para poucos naquela época e até hoje é. Mas Werner tinha e usava o avião em suas viagens de negócios.
O crescimento da Vila
Monte Verde, ao longo dos anos seguintes a sua fundação, foi crescendo, principalmente no turismo. Novas construções foram surgindo, inspiradas no estilo arquitetônico letão como pousadas, hotéis, restaurantes, lojas diversas.
Além da arquitetura e tradição, os letões trouxeram também um pouco da cultura e gastronomia do Leste Europeu, combinando perfeitamente com a riquíssima culinária mineira.
Turistas descobrem Monte Verde
O frio abaixo de zero grau, a arquitetura, a culinária europeia, o estilo de vida diferente do estilo original de Minas Gerais começou a atrair cada vez mais turistas para o distrito.
Desde os anos de 1980, Monte Verde começou a ser descoberta por turistas, não só de Minas, mas do Brasil e do mundo.
Hoje é um dos principais pontos turísticos do Estado, no mesmo nível das cidades históricas e estâncias hidrominerais.
Monte Verde desenvolveu-se muito desde sua fundação, mas não perdeu o charme e a simplicidade deixada pelos antigos moradores. Ao contrário, o espirito empreendedor e o carinho de Verner Grinberg tinha por Monte Verde, está incorporado em seus moradores e empresários, que investem cada dia mais em melhorias na Vila, tornando-a cada mais charmosa, aconchegante, atraente com mais estrutura para receber os visitantes. (fotografia acima de Anthony Cardoso)
Vocação para o turismo e ótima estrutura
Do amor e carinho pelo lugar em que vivem, nasceu a vocação de Monte Verde para o turismo.
Hoje a vila possui diversas pousadas, hotéis, desde os mais simples aos mais sofisticados. Tem restaurantes que servem comidas típicas mineiras e europeias. Tem ainda fábricas de chocolate, de cerveja artesanal, queijos, licores, cachaças artesanais e um artesanato original, variado e muito rico. O visitante tem ainda pista de patinação no gelo e várias opções de passeios por trilhas e mirantes da Serra da Mantiqueira. (fotografia de Wellington Diniz)
Tradição europeia com sabor e estilo mineiro
Um detalhe importante é que mesmo com a origem europeia, Monte Verde preserva a mais pura e genuína tradição mineira, seja na culinária, seja nas tradições culturais e folclóricas do Estado de Minas. É uma mescla da cultura europeia, com a cultura rica mineira. Monte Verde hoje é uma das melhores opções de turismo no Brasil que atende a todos os gostos e bolsos de quem quer fugir da agitação da cidade e respirar o ar puro das montanhas mineiras. (fotografia acima de Dener Ribeiro)
Por sua origem, pela arquitetura, pelas paisagens e semelhança do seu clima com o europeu, Monte Verde é conhecida carinhosamente como a "Suíça Mineira" ou “Suíça brasileira”, isso porque toda cidade no Brasil, fundada por imigrantes europeus, já é logo chamada de “Suíça”, mesmo sendo fundada por alemães, ingleses, franceses, dinamarqueses, etc. (fotografia acima de Ricardo Cozzo)
O fato é que Monte Verde, não tem origem Suíça, seus fundadores vieram da Letônia e a arquitetura original da Vila, tem origem nas construções da Letônia e não da Suíça.
Portanto, Monte Verde é a Letônia brasileira, mas como todos chamam de "Suíça Mineira" e até de "Suíça brasileira", é aceitável como termo carinhoso, já que a Suíça é um país mais conhecido e mais badalado no turismo que a Letônia.
Valorizando a origem letã de Monte Verde
Valorizando e respeitando sua origem, Monte Verde, além de ser a "cidade dos namorados" e "cidade do chocolate", é a Letônia Mineira ou mesmo, a Letônia brasileira.
Em respeito e honra aos imigrantes da Letônia, pelas dificuldades que tiveram quando aqui chegaram, o esforço para melhorar a Vila, carinhosamente, nós da Conheça Minas, chamamos Monte Verde de "Letônia brasileira" e assim deveria ser, em honra ao país de origem de seus fundadores, Letônia.
Não é justo tanto sacrifício, tantas dificuldades vividas pelos letões desde 1938, quando chegaram na região e agora, chamarem Monte Verde de "Suíça".
O termo "Letônia brasileira" cai muito bem na cidade dos namorados, da cerveja artesanal, dos queijos, dos doces e do melhor chocolate de Minas Gerais.
E por falar em chocolate, as chocolaterias de Monte Verde dão show de sabores e cores com deliciosos sorvetes e chocolates, como este abaixo da Chocolates Montanhês.
Se for a Monte Verde em dias de verão ou clima ameno, pode curtir passeios de biques, quadriciclos, escaladas, trilhas, corredeiras, mega tirolesa e outras atividades radicais, que o distrito oferece aos visitantes.