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domingo, 31 de março de 2019

Kaol: o popular prato de Belo Horizonte

(Por Arnaldo Silva) O tradicional Café Palhares, é mais que um pequeno bar em Belo Horizonte. É parte da história da capital. Foi fundado em 1938 na rua dos Tupinambás, 638, bem no coração de BH. Resistiu a inúmeras mudanças de época e do centro e neste mesmo endereço está até os dias de hoje. Durante esses quase 80 anos em funcionamento, milhares de pessoas anônimas e famosas passaram pelo local. 
          Numa mesa ou no balcão do Palhares tomando cerveja geladinha e degustando os famosos pratos criados, muitas conversas e histórias contadas pelos seus frequentadores. Uma dessas conversas era de que a lendária Hilda Furacão chegou a frequentar o local. 
Na foto do Carlos Magno Foureaux o atual e tradicional Kaol, direto do balcão do Café Palhares:  Arroz, couve refogada, ovo frito, farofa de feijão inteiro, torresmo, linguiça de pernil e molho (ambos da casa)
          Até a década dos anos 1980 os bares tinham pouca presença de mulheres. Eram mais frequentados por homens. Com o objetivo de atrair um público mais diversificado para o estabelecimento, o Café Palhares passou a ser cafeteria, bar e restaurante. Foi no início dos anos 1980 que um prato bem simples criado no Café Palhares caiu no gosto dos belo-horizontinos. É o famoso kaol. 
          Antes basicamente frequentado por homens, hoje recebe famílias inteiras para almoçar no local. É um dos principais pontos da gastronomia mineira em Belo Horizonte. Antes era uma cafeteria que funcionava 24 horas por dia. Hoje um dos mais famosos e procurados restaurantes da capital mineira.
          O carro chefe do restaurante é sem dúvida o kaol, batizado com esse nome pelo compositor Rômulo Paes. O curioso é que esse prato foi preparado para os funcionários que trabalhavam no café. Kaol é uma sigla e quer dizer cachaça (com k mesmo para chamar mais a atenção), arroz, ovo e linguiça. O k é porque naqueles tempos o povo gostava muito de tomar um aperitivo antes do almoço. Diziam que era para abrir o apetite.
          Essa receita clássica caiu no gosto de quem experimentava por ser fácil de preparar, barata e bem simples. Pouco tempo depois vários outros estabelecimentos de Belo Horizonte começaram a servir kaol, mas acrescentavam uma rodela de tomate e as vezes uma, folha de alface. Era mais em conta que o tradicional Prato Feito.
          No Café Palhares, a receita original foi incrementada e hoje o kaol tem couve, torresmo, farofa de feijão, ovo frito e um molho de tomate com um segredo especial. Mas os proprietários não revelam o ingrediente secreto do molho. Está melhor que antes e continua sendo o prato mais pedido pelos clientes.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Tradição religiosa nas cidades históricas mineiras

(Por Arnaldo Silva) A religiosidade em Minas vem do interior. Não somente das cidades do interior, mas do interior de nossa gente. Na fé e manifestação de sua religiosidade, o povo mineiro se reencontra e se fortalece.
          As festividades religiosas são marcos da fé do mineiro, principalmente a Semana Santa, onde nosso povo revive o sofrimento de Jesus do calvário à crucificação, morte e ressurreição da mesma forma que eram feitas há 300 anos. (na foto acima da Ane Souz, tapetes de Corpus Christi em Ouro Preto MG)
 
          A fé leva o povo a buscar contato direto com Deus, entender o sofrimento de Jesus por isso preservam as tradições, de séculos, acompanham todo o ritual religioso, desde as confissões, procissões, missas e penitências. (foto acima a imagem de Nossa Senhora das Graças de autoria de Saulo Guglielmelli, de Morro do Ferro, distrito de Oliveira MG)
          Quem participa está lá pela fé, quem vai às cidades históricas, vê cultura e, tradição preservadas nas procissões pelas estreitas ruas das cidades coloniais mineiras, ao som de cânticos melancólicos, rezas fervorosas, intercaladas pelas badaladas dos sinos das igrejas de nossas cidades históricas. (na fotografia acima de Elvira Nascimento, interior da Igreja de Nossa Senhora da conceição em Catas Altas MG)
Diamantina
          Em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, distante 292 quilômetros de BH,  a Semana Santa é marcada por uma forte devoção popular e a presença da Guarda Romana dá mais brilho e emoção à festividades. (na foto acima de Giselle Oliveira, celebração de Corpus Christi em Diamantina)
          São cerca de 50 homens que se vestem como os soldados Romanos da época de Jesus e caminham pela ruas históricas da cidade nas cerimônias da encenação da Paixão, condenação e morte e ressurreição de Jesus. Caminham com passos e movimentos compassados, portando escudos e batendo as alabardas (arma romana composta por uma longa haste) produzindo um som que lembra dor e sofrimento. (foto acima de Giselle Oliveira)
          A Guarda Romana é tão importante para a cidade que foi registrada como bem imaterial do patrimônio municipal. 
Pitangui
          Pitangui está a 125 km de Belo Horizonte, na Região Centro Oeste de Minas. Fundada em 1715, foi uma das primeiras cidades mineiras. Com mais de três séculos de história, Pitangui preserva suas tradições, principalmente religiosas.  (fotografia acima de Nicodemos Rosa)
          Há mais de 300 anos, acontece a "Procissão do Fogaréu" no dia de Santa Cruz, 3 de maio de cada ano. A procissão encena a saída dos soldados romanos para prenderem Jesus. Somente homens participam da procissão, seguindo a risca a tradição tricentenária. Saem pelas ruas históricas de Pitangui, em ritmo lento cantando hinos de louvor, vestidos come túnicas brancas, cobrindo a cabeça e segurando tochas ou luminárias nas mãos. 
Congonhas
          Congonhas é uma das mais importantes cidades históricas de Minas. Fica a 88 km de Belo Horizonte.  É na cidade que está o Santuário do Bom Jesus do Matosinhos, uma das mais impressionantes obras do maior artista brasileiro de todos os tempos, Antônio Francisco Lisboa, o Mestre Aleijadinho (1730-1814). (foto acima de Marcelo Santos) Os passos da Paixão de Cristo é a obra prima de Aleijadinho que conta com  66 figuras em cedro representando a ceia, horto, prisão, flagelação, coroação de espinhos, cruz às costas e crucificação de Jesus. 
Ouro Preto
          A Semana Santa em Ouro Preto MG, cidade Patrimônio da Humanidade, distante 100 km de Belo Horizonte atrai gente de todo mundo. As ruas recebem serragens e arte, como no dia de Corpus Christi. As celebrações são da mesma forma que 300 anos atrás, inclusive com cantos em latim. (foto acima e abaixo de Ane Souz)
          A Semana Santa em Ouro Preto é organizada pelas Paróquias de Nossa Senhora da Conceição, no bairro Antônio Dias em ano ímpar e pela Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, em ano par.
          A beleza da fé, das vestimentas usadas pelos religiosos, a decoração das janelas dos casarões coloniais, a luz das velas levadas pelo povo em cortejos pelas ruas históricas da cidade se transformam num espetáculo que dá gosto de se ver. É uma verdadeira volta ao tempo. 
Mariana
          Mariana a mais antiga cidade de Minas, tem mais 320 anos de história Fica apenas 20 km de Ouro Preto e a 120 km de Belo Horizonte. Desde os primórdios de sua existência, a Semana Santa é o evento religioso mais importante da cidade e com tradições seculares. Todos os anos acontece a procissão das almas, onde fiéis se cobrem com túnicas brancas, carregam velas e saem pelas ruas da cidade na madrugada da sexta-feira da Paixão. (fotografia acima de Ane Souz)
          No domingo, por ser significar a Ressurreição de Cristo, as ruas são enfeitadas com lindos tapetes coloridos onde crianças vestidas de anjos passam por essas ruas. Os moradores enfeitam suas sacadas e janelas com colchas, toalhas bordadas e flores. O toque dos sinos são espetáculos à parte.  O evento religioso se concentra principalmente na Catedral da Sé e na Praça Minas Gerais. Além das procissões, tem malhação do Judas, decoração das rua com flores e serragens e shows à noite. 
São João Del Rei 
          Na cidade histórica que fica a 185 km de Belo Horizonte a tradição e devoção dos fiéis atravessam séculos (foto acima de Wilson Paulo Braz). A Semana Santa é um dos marcos da fé dos moradores de São João Del Rei. Cânticos em latim, rituais seculares, cerimônia do lava-pés, encenação da crucificação e ressurreição de Jesus, missas, apresentação de corais e orquestras, acompanhadas por 25 padres, numa manifestação de fé e religiosidade oriundas das Irmandades do século 18. Além disso, decorar as ruas do Centro Histórico com tapetes de serragem e flores pelos moradores é uma tradição valioso para os fiéis que fazem questão de participar ajudando a decorar suas ruas. 
Tiradentes
          Tiradentes fica a 15 km de São João Del Rei e a 190 km de Belo Horizonte.(foto acima de César Reis) O evento religioso mais importante da cidade é a Semana Santa. O ponto de partida ou chegada é a Igreja de Santo Antônio. O ritual religioso da Semana Santa é preservado desde os tempos do Brasil Colônia, há 300 anos e duram 19 dias. Missas, procissões, encenações, vigílias e todo o ritual da Semana Santa é praticado com o envolvimento de toda a cidade. No domingo de Páscoa, as janelas do preservado casario da cidade ficam decoradas com toalhas bordas e flores. A cidade fica mais linda ainda nesse dia.
Caeté, Barão de Cocais, Santa Bárbara e Catas Altas
          No alto da Serra da Piedade, em Caeté, distante 51 km da Capital, acontece todos os anos uma das mais belas celebrações da Semana Santa em Minas. Por estar no topo da Serra da Piedade, o Santuário, que é a menor basílica do mundo, parece que está no céu. O visual é impressionante e emociona a todos. Nossa Senhora da Piedade é a Padroeira de Minas Gerais. Durante dos dias de celebração da Semana Santa, no Santuário tem missas e vigílias em intenção das almas, onde os fiéis rezam pelas almas dos que estão no purgatório.
          Um pouco perto de Caeté, está Barão de Cocais MG, distante 95 km de Belo Horizonte. Na cidade acontece a bênção dos fogos de artifícios, também conhecida por "Cerimônia da Luz", no sábado de Aleluia, no Santuário de São João Batista
         Na vizinha Santa Bárbara (na foto acima de Thelmo Lins), a 105 km de Belo Horizonte acontece há mais de 40 a encenação dos Passos da Agonia pelo Grupo de Teatro Âncora em frente a Igreja Matriz de Santo Antônio, no Centro Histórico. É encenação da Paixão e morte de Cristo.
          Em Catas Altas (na foto acima de Elvira Nascimento), pertinho de Santa Bárbara e distante 120 km de Belo Horizonte, a tradição na Semana Santa é a procissão de Ramos e a comemoração da Ressurreição de Jesus Cristo. As festividades religiosas acontecem no entorno da Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
Sabará 
          Sabará está a 20 km a 20 km de Belo Horizonte. Nessa cidade tricentenária, a Semana Santa é revivida como no período colonial. Um dos costumes preservados até os dias de hoje em Sabará é o de enfeitar enfeitar as imagens de Nossa Senhora das Dores com rosas, e a de Nosso Senhor dos Passos com folhas de rosmaninho, manjericão e alecrim, que dão um perfume suave nos templos dos séculos XVIII e XIX. 
          Um outro ritual em Sabará, do século 18, considerado único no Brasil, é a abertura do santo sepulcro do Senhor Morto, que acontece na Igreja de São Francisco na véspera da Sexta-feira da Paixão. No caso, é numa quinta-feira, quando os fiéis saem as ruas em procissão do enterro, relembrando a crucificação de Jesus e ficando em vigília e oração. Na Sexta-feira da Paixão, antes do sol nascer por volta das 4 horas da manhã, os fiéis saem da Igreja de São Francisco em procissão, até o Morro da Cruz encenando a via-sacra e retornam em seguida. Esse ritual dura em média 3 horas. 

quarta-feira, 20 de março de 2019

Conheça Sabará: a terceira cidade de Minas

(Por Arnaldo Silva) O arraial que deu origem a Sabará começou a se formar no final do século XVII com a chegada da bandeira de Fernão Dias à região para explorarem ouro. Após a morte do bandeirante, quem liderou o povoamento e exploração do ouro foi o bandeirante Borba Gato, tendo sido o primeiro guarda-mor (Oficial do Rei, com função de protegê-lo e zelar por sua segurança e posses).
          O arraial foi elevado a freguesia em 17 de junho de 1707, data que a cidade, emancipada em 1838, comemora oficialmente sua fundação. Com o crescimento da exploração do ouro, a freguesia começou a crescer rapidamente, bem como outros povoados com grande capacidade de mineração, passaram rapidamente de freguesias a vila e por fim municípios. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          É o caso de Sabará, elevada a vila e município em 17 de julho de 1711 com o nome de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. Naqueles tempos, a extensão territorial dos municípios eram enormes. Pra se ter ideia, a extensão total do município de Sabará se estendia até Noroeste de Minas, na região de Paracatu e o Triângulo Mineiro, tendo esta extensão sido reduzida ao longo dos anos, devido algumas outras vilas terem sido elevadas a municípios.  
          A primeira vila e município mineiro foi Mariana, criada em 8 de abril de 1711 e a segunda, Ouro Preto, em 8 de julho de 1711 que passou a ser a capital da Província das Minas Gerais a partir de 1821, permanecendo na condição até 1897, quando a capital foi transferida para Belo Horizonte.
          No início do século XIX, o crescimento populacional se expandiu para além dos arredores das igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Ó. Foi entre essas localidades que começou o povoamento no município, no início do século XVIII. A cidade começou a crescer e a localidade de origem passou a ser chamada de "Cidade Velha", tendo sido criado uma nova região, na parte mais alta do município, próximo ao Rio das Velhas, com abertura de novas ruas, construção de igrejas e sobrados suntuosos, chamada de "Cidade Nova", onde está hoje o tradicional Centro Histórico da cidade. 
          Sabará crescia, como as outras cidades, graças a riqueza gerada pelo ouro. Com a chegada de portugueses, atraídos pelo brilho do ouro, a Vila foi crescendo, surgindo casarões imponentes, igrejas suntuosas, teatro, praças, chafarizes, enfim, foi se formando uma autêntica cidade mineira, no auge da riqueza do Ciclo do Ouro. 
          Essa riqueza está presente até os dias de hoje na cidade, que preservou quase que na totalidade seu patrimônio histórico ao longo dos mais de 300 anos de sua existência, destacando em Sabará, além de suas ruas, seu valioso casario colonial tanto na parte "velha", entre a Igreja do Carmo e a Igreja do Ó, quanto na parte "nova", no Centro Histórico, principalmente na Rua Dom Pedro II e Rua Direita. (foto acima de Arnaldo Silva)
           O Chafariz do Kaquende, construído em 1757 é um dos mais interessantes da cidade, por ter sido durante séculos fonte de água que abastecia as casas com água potável. (na foto acima de Arnaldo Silva)
          A Casa da Ópera de Sabará é outra relíquia de Minas Gerais. Sua construção data de 1819. (foto acima de Arnaldo Silva) O estilo arquitetônico não seguiu o tradicional estilo Elizabetano, comum nas construções do gênero na Colônia, mas sim no estilo barroco italiano, seguindo o estilo das casas de espetáculos italianas do século XVIII e XIX.
          Guardando a memória dos tempos do ouro, em Sabará tem o Museu do Ouro, funcionando na antiga Casa de Intendência e Fundição do Ouro da Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. O museu contém peças do período do Ciclo do Ouro, mobiliários originais dos séculos XVIII e XIX, pratarias, arte sacra, aparelhos de chá e outros objetos valiosos da época. 
          O grande destaque das cidades históricas mineiras, são suas igrejas (na foto acima de Thelmo Lins, torres da Igreja de Nossa Senhora da Conceição). Construídas no auge da riqueza gerada pelo ouro, são igrejas imponentes, com talhas douradas e arte sacra de impressionar. Em Sabará não foi diferente. A cidade guarda impressionantes igrejas do período setecentista em Minas Gerais, de grande valor cultural, histórico e arquitetônico para Minas Gerais, que são: 
- Igreja de Nossa Senhora da Conceição, datada de 1710, é a matriz da cidade; (foto acima de Thelmo Lins)
- Igreja de Nossa Senhora do Rosário, iniciada em 1713, inacabada pelos escravos da irmandade dos homens negros da Barra do Sabará, os quais a construíam e pararam por falta de recursos; (na foto acima de Arnaldo Silva)
- Igreja de Nossa Senhora do Ó, datada de 1717: é uma das mais representativas do barroco mineiro, possui influência chinesa em sua arquitetura externa e na decoração interna; (na foto acima de Thelmo Lins)
- Igreja de Nossa Senhora do Carmo, datada de 1763, com várias obras de Aleijadinho; (na foto acima de Thelmo Lins)
- Igreja de Nossa Senhora das Mercês, datada de 1781, construída pela irmandade dos homens pardos, possui linhas arquitetônicas simples, sem ornamentações internas, mas localizada em lugar privilegiado, podendo ser vista em vários ângulos por estar no topo de uma colina; (foto acima de Arnaldo Silva)
- Igreja de São Francisco de Assis, datada de 1781.
- No distrito de Ravena, encontra-se a Igreja de Nossa Senhora da Assunção e no distrito de Pompéu, a Capela de Santo Antônio, datada século XVIII.
          Em Sabará, (foto acima de Arnaldo silva) são cerca de 140 mil moradores. Se no século XVIII, o ouro foi sua maior atividade econômico, hoje, no século XXI é a jabuticaba que é o ouro negro e o Ora-pro-nobis, o ouro verde. Nos quintais sabarenses, tanto a jabuticaba, quanto o ora-pro-nobis, estão presentes valorizando a culinária local, e movimentando o comércio com os produtos feitos a base da fruta e da folha do ora-pro-nobis. No mês de maio de cada ano, acontece em Pompéu, distrito de Sabará o tradicional Festival do Ora-Pro-Nobis. Já em novembro, no Centro Histórico da cidade, acontece um dos mais importantes festivais gastronômicos do Brasil, o Festival da Jabuticaba.
           A cidade guarda com carinho tesouros arquitetônicos como casarões, sobrados, teatros, igrejas, ruas e chafarizes dos tempos do Brasil Colônia e se orgulham por ter na cidade, preciosas obras do mestre do Barroco, o Aleijadinho e do mestre da pintura, Manoel da Costa Ataíde. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Sabará tem como característica a receptividade e hospitalidade de seu povo, além de uma excelente estrutura para receber os turistas. São hotéis, pousadas, bares e restaurantes presentes na cidade e em alguns distritos, oferecendo conforto com requinte, com a tradicional cozinha típica mineira presente nos cafés coloniais das pousadas e culinária típica de Minas e da cidade, como os pratos e doces preparados com jabuticaba e ora-pro-nobis. 

A Igreja de Santa Rita no Serro

(Por Arnaldo Silva) A igreja de Santa Rita e o conjunto arquitetônico colonial do século XVIII em seu entorno, compõem uma das mais belas e originais paisagens coloniais de Minas Gerais, sendo ainda maior símbolo do Serro MG, cidade histórica na Região Central Mineira, distante 325 km de Belo Horizonte. 
          Foi erguida no topo de uma colina, de onde se tem uma bela vista de toda a cidade, inclusive o todo do Pico do Itambé, um dos pontos mais altos da região, com 2044 metros de altitude. (fotografia acima de Nacip Gômez)
         Erguida no início do século XVIII, a singela e atraente ermida se destaca por sua fachada em traços poligonais, com apenas um torre e um relógio, pilares em madeira, 5 janelas e 3 portas frontais, além dos 57 degraus da escadaria de acesso ao templo. (fotografia acima de John Brandão-In Memoriam)
          Sua ornamentação interior começou em meados do século XVIII, constando campanhas entre a comunidade para arrecadar fundos para custear a ornamentação da igreja por volta de 1745. Em seu interior, impressiona a beleza das talhas douradas do altar-mor, muito bem trabalhadas e suas paredes revestidas com belíssimas pinturas de marmorizados e motivos florais, datados de meados do século XIX.
          Foi no século XIX, que a Igreja de Santa Rita passou por várias reformas em seu exterior e principalmente em seu interior, definindo assim suas características arquitetônicas, tanto na sua fachada chanfrada, quanto em sua ornamentação interna. (na fotografia acima da Alexa Silva/@alexa.r.silva, o interior da Igreja de Santa Rita)
          O conjunto arquitetônico do Serro (na foto acima de Tiago Geisler), incluindo a Igreja de Santa Rita, foi tombado em abril de 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

terça-feira, 19 de março de 2019

Emboabas: distrito de São João Del Rei

(Por Arnaldo Silva) São Francisco do Onça ou simplesmente Onça era o nome antigo desse charmoso distrito de João Del Rei MG, cidade histórica mineira no Campo das Vertentes, a 190 km de BH. Seu nome atual é Emboabas, mesmo assim, seus moradores costumam chamar o lugar de Onça ou São Francisco do Onça.
          Onça é um dos mais antigos povoados formados em Minas Gerais, surgido no final do século XVII, com a chegada de bandeirantes à região. Em 13 de janeiro de 1727 era erguida a capela de São Francisco. Em torno da capela o arraial foi crescendo, tendo sido elevado a freguesia em 1864, de novo em 1884 e a partir de 1911 com a divisão administrativa do município de São João Del Rei, foi integrado como distrito, tendo seu nome alterado para Emboabas por decreto-lei em 31/12/1943.
          Emboabas é uma atraente e pacata vila, com um povo hospitaleiro, com muita história para contar, além de ter um charmoso casario colonial, com destaque para sua a Igreja de São Francisco de Assis, embora não, seja a antiga igreja erguida no século XVIII, a construção atual é do século passado, faz parte da fé e história de Emboabas. 
          Durante os festejos de São Francisco de Assis, a vila se movimenta para a festa. Missa com a presença de sacerdotes de outras paróquias, reza do terço, procissões onde os fiéis levam os andores de São Francisco de Assis, São Benedito e São Sebastião, com a participação ainda de grupos de congado, durante o cortejo. No dia da festa são realizados leilões, além de barraquinhas com comidas típicas e apresentações de bandas de músicas locais, que atraem pessoas de toda a região. 
(As fotografias desta edição são todas de autoria de César Reis)

Conheça São Miguel do Cajuru

(Por Arnaldo Silva) Um lugar calmo, tranquilo, charmoso, pitoresco e rico em história, onde a vida passa devagar. Seu povo é bom de prosa, hospitaleiro. Lugar de gente simples, recebe bem os visitantes. Lugar onde você encontra gente na praça, nos botecos, nas vendinhas ou sentado num banquinho no passeio, em frente a porta de suas casas.
           Antes, seu nome era Arcângelo, hoje, esse cantinho de Minas,  chama-se São Miguel do Cajuru, distrito do município mineiro de São João Del Rei MG, distante 185 km de Belo Horizonte. 
          São Miguel do Cajuru, ou Cajuru, como popularmente é chamado por seus moradores tem como atrativo seu casario colonial e sua igreja dedicada a São Miguel Arcângelo que guarda 
uma belíssima pintura sacra com detalhes impressionantes, de altíssimo valor cultural e artístico para Minas Gerais, com autoria da obra é atribuída a Joaquim José da Natividade.
          Chama a atenção para a pintura no teto da igreja, mostrando aos pés da Santíssima Trindade, o Arcanjo São Rafael que para a Igreja Católica é o Anjo da Redenção e o Guardião da Saúde. Mostra também o protetor Miguel, o Forte, aquele que, segundo a Igreja Católica,  com sua armadura, afasta os demônios.
          A charmosa vila surgiu em torno da Igreja de São Miguel, crescendo devagar. Seus moradores vivem de pequenos comércios e da atividade agropecuária.
          São apenas 36 km de distância de Cajuru, até a sede, São João Del Rei com 9 km de estrada de chão e o restante, estrada asfaltada. (As fotos que ilustram a matéria são de autoria de César Reis)

Rio das Mortes: a terra onde nasceu Nhá Chica

(Por Arnaldo Silva) Rio das Mortes é um tradicional e histórico distrito de São João Del-Rei MG, na região do Campo das Vertentes. Sua origem data de 1693, no século XVII, com a chegada na região de bandeirantes, para explorarem as minas de ouro recém-descobertas na região do Rio das Mortes, do Rio das Velhas, em Sabará e em Vila Rica e Mariana. 
          Entre essas três regiões produtoras de ouro, São João Del Rei era o ponto central, pelos exploradores que vinham de São Paulo, entrando no território mineiro pela Serra da Mantiqueira e seguindo o destino pelo Rio Grande. Além dos bandeirantes, grande número gente interessadas na busca do ouro e de imigrantes, principalmente portugueses, vieram para Minas Gerais em busca da riqueza que o metal proporcionava. (na foto acima do Lucas Carvalho/@elclucas, a matriz de Rio das Mortes e na foto abaixo de César Reis, o portal de entrada do distrito)
          Com a chegada constante de novos moradores à região, foi se formando pequenos arraiais, que hoje são importantes distritos de São João Del Rei, como São Sebastião da Vitória, São Miguel do Cajuru, São Gonçalo do Amarante, Emboabas e Rio das Mortes, parada obrigatória dos tropeiros e viajantes que abasteciam as vilas com gêneros alimentícios e outros produtos. (na foto abaixo, do acervo de Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy", Rio das Mortes em 1927)
          Com o passar o tempo, o arraial foi crescendo graças a mineração. Segundo documentos da Irmandade de Santo Antônio, a terceira mais antiga de São João Del Rei, o povoado foi formado nas primeiras décadas do século XVIII, tendo registro da capela de Santo Antônio, ter sido erguida em 1722. Foi elevado a freguesia e pôr fim a distrito em 1876 com o nome de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, em alusão ao Ribeirão Rio das Mortes Pequeno, um dos afluentes do Rio das Mortes, que passa no distrito e não ao Rio das Mortes, propriamente dito. Foi nessa época que começou a surgir na região a estrada de ferro, trazendo desenvolvimento e atraindo muitas pessoas, inclusive, novos imigrantes. Entre os imigrantes que vieram para o Brasil no final do século XIX, após o fim do Ciclo do Ouro e Abolição da Escravidão, chegaram à região, imigrantes italianos, fundando colônias agrícolas, além de imigrantes sírios, que se dedicaram ao comércio na área urbana. 
          Dentre as vilas formadas no século no início do século XVIII, se destaca Rio das Mortes, hoje com uma população estimada em 5458 habitantes, vivendo no distrito e em seus povoados (Goiabeiras, Canela, Porteira da Várzea, Queima Sangue, Mumberra e Trindade). De São João Del Rei até Rio das Mortes (na foto acima do Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy") são apenas 8 km.
          O distrito preserva seu charme colonial e suas tradições religiosas, folclóricas e musicais. Uma dessas tradições preservadas é a Congada de Nossa Senhora do Rosário, presente no distrito desde o século XVIII. (foto acima enviada pelo Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy) São mais de 300 anos de tradição. A festa acontece sempre no terceiro domingo do mês de outubro, com a presença da Congada de Nossa Senhora do Rosário, que dança e canta pelas ruas de Rio das Mortes, seguido por grande número de devotos, em honra à Nossa Senhora do Rosário.
          A musicalidade sempre esteve presente na alma dos moradores de Rio das Mortes desde os tempos antigos. Prova disso é a Corporação Musical Lira do Oriente Santa Cecília (na foto acima enviada pelo Nilton de Carvalhos Rios, o "Pyoy"), fundada em 22 de novembro de 1895, permanecendo até os dias de hoje com seu propósito original: ensinar, desenvolver talentos e popularizar a música entre seu povo. Na sede da Corporação, músicos de 8 a 80 anos se interagem, aprendem e enriquecem seus conhecimentos musicais. Muitos músicos hoje de destaque em bandas da Polícia Militar e Exército fizeram parte da Corporação Lira do Oriente de Santa Cecília. A banda se apresenta em escolas, eventos religiosos, folclóricos e sociais no distrito e em cidades e povoados vizinhos outras regiões. 
          Rio das Mortes se destaca ainda por ser sede do Industrial de São João Del Rei e por sua culinária, tipicamente mineira, em especial seu famoso Bolinho de Feijão Miúdo, feito de forma totalmente artesanal, colocando o feijão em uma pedra maior, ralando-o com uma pedra menor, bem ao ponto de virar massa, para depois ser frito.
A religiosidade em Rio das Mortes
          Com toda sua tradição histórica, o distrito tem enorme destaque em sua religiosidade. Primeiro, chamando atenção por sua igreja, a Matriz de Santo Antônio (na foto acima de Marcelo Melo).
          Voltando à história, no século XIX, com fortes e frequentes chuvas que caiam na região, o Rio das Mortes transbordou, inundando parte da vila e destruindo a capela de Santa Antônio, de 1722, restando hoje, apenas parte de suas ruínas.
A nova Igreja de Santo Antônio
          Tempos depois, um novo templo era erguido e posteriormente, em meados do século XX, uma nova igreja foi construída, maior e bem mais espaçosa que a anterior. (foto acima de César Reis)
          Sua arquitetura é singela e ornamentação interna, bem simples. Ao lado da igreja encontra-se a Capela do Santíssimo, lugar de oração (na foto acima do Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy"). O altar é bem simples, mas decorado com requinte e suavidade nos traços. 
Os curiosos 4 quadros da matriz
          O que chama a atenção mesmo na decoração da igreja, são 4 quadros, com molduras em madeira, de autoria e data desconhecidas. O primeiro, chega a assustar e causar estranheza nos visitantes. Nesse quadro está retratada a imagem do diabo. Sim, dele mesmo. No mundo, existe apenas duas igrejas onde o diabo está presente em pintura ou quadro dentro de uma igreja. Uma na Itália e a outra, em Rio das Mortes. (abaixo, com fotos do Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy", os quadros expostos na Igreja.. São quadros separados, emoldurados em madeira e pendurados na parede) 
          Segundo a tradição oral, uma pessoa muito religiosa e piedosa, por não conseguir o que queria, caiu num grande erro em fazer um pacto com o diabo, para que seu pedido fosse atendido, o que foi feito. Quando este homem morreu, o diabo foi cobrar a parte do homem no pacto, ou seja, levar sua alma para o inferno. Santo Antônio se apiedou da alma do pobre homem, sabendo de seu bom coração, mesmo com seu deslize, impediu que o diabo mantivesse o homem no inferno, retirando-o de lá, levando-o para o purgatório, para que pudesse alcançar o perdão divino. Essa história está ilustrada no quadro, como pode ver na primeira foto a esquerda.
          O segundo quadro mostra uma passagem de Santo Antônio em Rímini na Itália, quando Santo Antônio foi desafiado por um herege chamado Bonvillo, ironizando a pregação do frade sobre a Santíssima Eucaristia e sobre a presença de Jesus na hóstia Sagrada. O herege deixou sua mula sem comida e água por quase um mês para ver o que o santo faria. Ao ver a aproximação de Santo Antônio com seu ostensório e hóstia Consagrada onde estava a mula, o herege percebeu que tinha feno e água ao lado da mula e o animal, ao ver o santo, se ajoelhou.
          O terceiro quadro mostra Santo Antônio pregando para os peixes e o quarto quadro mostra o santo ainda padre Agostiniano, quando se chamava Fernando, pregando no Marrocos, na África. Ficou doente e por isso precisou voltar para Portugal de barco. Durante a viagem uma forte ventania desviou o rumo da embarcação, levando-o para a costa da Itália, onde conheceu os Franciscanos. Sentiu o toque de Deus em seu coração, mudou seu nome para Frei Antônio, seguindo sua religiosidade como frade Franciscano, a partir de então.
Altar de Nhá Chica 
          Outro destaque na Igreja de Santo Antônio é o altar em honra a Bem Aventurada Nhá Chica (na foto acima do Nilton de Carvalho Rios, o "Pýoy"),  que nasceu em Rio das Mortes em 1810, tendo sido batizada na antiga Igreja de Santo Antônio, falecendo em 14 de junho de 1895, em Baependi MG. 
          No altar dedicado a Nhá Chica, encontra-se um enorme quadro com a imagem da Beata, a réplica do documento de Batismo de Nhá Chica, encontrada na Catedral Nossa Senhora do Pilar em São João del-Rei pelo Monsenhor Paiva, a pia batismal onde a Beata foi batizada, encontrada nas ruínas da antiga igreja antiga, um oratório com ostensório e fragmentos de vestes, do caixão e da terra de sua sepultura em Baependi MG. 
          Filha de escravos alforriados, a beata foi batizada em 26 de abril de 1810, sendo esta a data em que se comemora no distrito o dia da Bem Aventurada Nhá Chica, com festividades em sua honra com missa e caminhada com reza do terço, até as ruínas da antiga Capela de Santo Antônio, onde fora batizada.
          A Beata viveu pouco em Rio das Mortes, porque sua família resolveu se mudar para Baependi MG, no Sul de Minas, cidade onde viveu até sua morte. Foi beatificada pelo Papa Bento XVI em 4 de maio de 2013, tornando-se a primeira leiga brasileira declarada beata pelo Vaticano. 
          Mesmo tendo vivido pouco tempo em Rio das Mortes, no distrito são guardados com carinho algumas lembranças da Beata. No lugar onde Nhá Chica nasceu, foi erguida uma pequena capela em sua homenagem, hoje um local de peregrinação (na foto acima de César Reis). No local onde ficava a antiga capela de Santo Antônio, foi erguida uma pequena capela pelo proprietário do terreno. 
Encontro de relíquias históricas 
          Durante as escavações para preparar o terreno, foram encontradas as ruínas da antiga capela, bem como a pia batismal, onde Nhá Chica foi batizada, encontrada soterrada, mas intacta. O local foi recuperado e a pia batismal foi levada para a atual Igreja de Santo Antônio, ficando no local, uma réplica da pia batismal, tendo sido construída uma capela, no estilo arquitetônico da primeira, dedicada a Santo Antônio, com o nome de Igreja do Batismo de Inhá Chica (na foto acima e abaixo do Nilton de Carvalho Rios, o "Pyoy", o local onde ficava a pia batismal, onde tem agora uma réplica na antiga Capela de Santo Antônio)
          Hoje, local onde foi edificada a igreja que Nhá Chica foi batizada, o local onde residiu e o altar na Igreja de Santo Antônio, são pontos de visitações e peregrinações com a presença constante de fiéis e pessoas que querem conhecer a história da beata Nhá Chica. (na foto abaixo do Nilson Carvalho Rios, o "Pyoy", vista parcial de Rio das Mortes)
Como chegar
          Para chegar em Rio das Mortes vindo de Belo Horizonte são 200 km de estrada. O melhor caminho é pela BR-040, chegando em Congonhas, pegar a BR-383 até São João Del Rei e por fim, entrar na BR-265 até Rio das Mortes. Se vier do Rio de Janeiro, são 340 km, pegando a BR-040 até Congonhas MG, seguindo o trajeto descrito acima. Para quem vem de São Paulo são 460 km pela BR-381, Fernão Dias até o trevo de Ribeirão Vermelho e Lavras, onde deve-se pegar a BR-265 até Rio das Mortes.       

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