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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Monte Sião: do tricô, do turismo religioso e das porcelanas azuis

(Por Arnaldo Silva) Com cerca de 25 mil habitantes, Monte Sião é uma atraente, charmosa, turística e importante cidade do Sul de Minas Gerais. A cidade é destaque em todo o Brasil pelo tricô, malhas, moda e porcelanas. Monte Sião está a 470 km de Belo Horizonte e apenas 160 km de São Paulo, capital. Isso porque a cidade está na divisa com as cidades paulistas de Socorro, Águas de Lindóia e Itapira e na divisa com Jacutinga Ouro Fino e Bueno Brandão, em Minas Gerais.
          Monte Sião é referência no Brasil inteiro na área têxtil, em especial, na confecção em tricô, desde 1980 e também em moda. O município mineiro segue as tendências da moda das principias capitais mundiais da moda como Paris e Milão. (foto acima de Marcos Pironi, o portal de entrada da cidade)
          O turismo de negócios é um dos setores de maior impacto na economia da cidade. Todos os dias turistas chegam à Monte Sião para fazerem compras no atacado e no varejo, principalmente durante os dias de inverno quando acontece na cidade o tradicional Festival de Inverno. Outros eventos realizados na cidade durante o ano, como a Festa Nacional do Tricô, Trilhas das Malhas, o Encontro de Fuscas, Festa do Peão, festas religiosas tradicionais, atraem milhares de turistas à cidade.
          Além disso Monte Sião é uma estância hidromineral, com várias fontes de águas medicinais como a Virtuosa e Virtuosinha, as mais procuradas por suas propriedades medicinais.
          Monte Sião se destaca ainda na fabricação das tradicionais porcelanas azul e branca, única no Brasil. As porcelanas são artesanais e totalmente pintadas a mão, além disso, o visitante pode entrar na fábrica e conhecer todo o processo de produção das porcelanas, desde o barro, até a fase final, que é a pintura feita pelas mãos das artesãs locais. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          O passeio pela fábrica de porcelana é incrível. O lugar lembra as antigas construções medievais.
Origem de Monte Sião
          O povoamento do que é hoje Monte Sião teve início no século XIX, devido o fim do Ciclo do Ouro na Região. Como alternativa ao fim da mineração, os antigos garimpeiros começaram a trabalhar com agricultura e pecuária, já que as terras do Sul de Minas Gerais são férteis. Com isso foram se formando vários povoados que hoje são cidades.
          Entre os povoados formados, está Monte Sião que surgiu a partir de 1823 com o nome de Bairro do Eleotério. O povoado, começou a crescer em torno de uma pequena ermida dedicada à Nossa Senhora do Socorro. Em 1849, começou a ser construída no povoado, que era subordinado a Ouro Fino MG, um templo maior, dedicado a partir de então a Nossa Senhora da Conceição da Medalha Milagrosa, passando a ser esse o marco do surgimento de Monte Sião MG e considerado o primeiro templo da cidade. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, o Santuário da Medalha Milagrosa, hoje)
          O vilarejo que se formou no século XIX, se tornou distrito em franco desenvolvimento e cidade emancipada em 3 de novembro de 1936. O nome Monte Sião foi adotado por sugestão de frades franciscanos que notaram a semelhança do Morro do Pelado com o Monte Sião, da cidade santa de Jerusalém, no Oriente Médio.
A Imigração Italiana
          Com a chegada à região de imigrantes italianos a partir de 1887, para trabalharem no cultivo do café, a economia e estrutura local começou a crescer em passos largos. Os italianos trouxeram experiências na agricultura e indústria e foram de grande importância para o desenvolvimento da região. Sobrenomes italianos são comuns em Monte Sião.
Turismo religioso
          A cidade que nasceu no século XIX, em torno da devoção a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, é hoje um dos grandes centros de peregrinação religiosa. Devotos de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa vem de todas as regiões do Brasil à Monte Sião para pedir bênçãos, agradecer e adquirir a Medalha Milagrosa, para se protegerem de males. 
          A devoção a Nossa Senhora da Medalha Milagrosa começou em 27 de novembro de 1830, quando a Virgem Maria apareceu a Catarina Labouré, uma humilde noviça francesa na Capela das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Paris.
          Na visão da noviça, a virgem apareceu com túnica branca com manto azul, mais justa e um cinturão na cintura. Trazia a letra “M”, sobre a letra, a cruz de Cristo e embaixo, os corações de Jesus e de Maria. Na visão da noviça, Maria estava sobre um globo pisando numa serpente e segurando outro globo menor com as mãos, oferecendo-o a Deus em gesto de súplica. (na foto acima do Thelmo Lins o interior do Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa em Monte Sião MG)
          Ainda segundo Cataria Labouré, a Virgem Maria lhe deu a seguinte ordem:” Mandar fazer uma medalha conforme este modelo”. E promete: “As pessoas que trouxeram com fé e confiança receberão graças especiais”.
          Com a descrição da aparição da Virgem Maria, feita pela noviça, e obedecendo sua ordem, foi cunhada esta medalha que passou a ser considerada milagrosa, popularmente chamada de Medalha Milagrosa e sendo difundida pelo mundo. A visão de Catarina Labouré se transformou em imagem e altares, com a mãe de Jesus sendo retratada de acordo com os relatos da visão da noviça.
          O altar do Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa em Monte Sião (na foto acima do Thelmo Lins) é fiel a descrição da visão da noviça francesa. Além disso, Monte Sião foi a primeira cidade do mundo a ter uma igreja dedicada a Medalha Milagrosa. Por isso a cidade é um dos mais importantes centros de peregrinação religiosa do país.
Turismo e atrações
          As fábricas e lojas de malhas além da fábrica de porcelana azul e branca são as maiores atrações de Monte Sião. São cerca de 800 malharias espalhadas por toda a cidade e os turistas podem ainda visitar as dependências da fábrica de Porcelana Monte Sião. (na foto acima do Marcos Pieroni, a loja da fábrica)
          Tem ainda como atrativos o Museu Histórico e Geográfico, Mirante da Santa (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade), o Santuário de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e o Mosteiro da Santíssima Trindade, além de outras charmosas igrejas como a Igreja do Rosário, de Nossa Senhora Aparecida e de Santa Terezinha.
          Além disso, a cidade é bem estruturada, com um excelente comércio, produção caseira de doces, quitandas e cachaças, artesanato, lindas e bem cuidadas praças como a Praça Prefeito Mário Zucato (na foto acima de Marcos Pieroni) e ruas bem cuidadas como por exemplo Rua dos Guarda-Chuvas (na foto abaixo de Marcos Pieroni) e ruas com árvores “vestidas” em tricô.
          Monte Sião conta ainda com uma boa estrutura de prestação de serviços, eventos e atendimento ao turista. A cidade conta ainda com uma boa rede hoteleira e gastronômica, além de acesso rodoviário bem fácil, tendo como base a BR 381 (Fernão Dias).
          O município de Monte Sião conta com belezas naturais como cachoeiras, paisagens com matas nativas, nascentes, montanhas e serras, além da agricultura e pecuária com destaque para o cultivo da cana-de-açúcar, milho, soja, mexerica, laranja, uva, mandioca, banana, feijão, noz e principalmente café arábica (na foto acima de Marcos Pieroni e abaixo do Elpídio Justino de Andrade, panorâmica da cidade).
          Seja para o turismo religioso, de negócios, ecológico ou cultural, Monte Sião te espera de braços abertos.

domingo, 25 de setembro de 2022

Queijo Minas pode se tornar Patrimônio da Humanidade

(Por Arnaldo Silva) O tradicional Queijo Minas Artesanal, reconhecido como o melhor do Brasil e premiado como um dos melhores do mundo, será candidato a Patrimônio Imaterial da Humanidade.
          O título de patrimônio imaterial é concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esse título visa proteger as expressões culturais e as tradições imateriais de uma determinada região de todo o mundo, que pode ser dança, linguagem, rituais, festas, lendas, músicas, os saberes da culinária, dentre outras tradições. (Queijos do Laticínios Sevilla em José Raydan MG no Vale do Rio Doce. Fotografia de Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
          O “Modo de Fazer do Queijo Minas Artesanal” é tradição bicentenária, além de ser o queijo mineiro igualado e em alguns casos, até superior em sabor e qualidade aos milenares e tradicionais queijos europeus. com destaque para os queijos feitos no Serro, Serra da Canastra, Alagoa e Serra do Salitre, as principais regiões queijeiras mineiras.
          Além disso, o “Modo de Fazer do Queijo Minas Artesanal” é Patrimônio Imaterial do Brasil desde 2008, reconhecido pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de ser Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, reconhecido pelo Iepha/MG.
          Falta o reconhecimento internacional do “Modo de Fazer do Queijo Minas Artesanal”, como Patrimônio Imaterial da Humanidade. O primeiro passo para alcançar o reconhecimento da Unesco foi dado recentemente.
           Com o objetivo de preservar e proteger os saberes e história do Queijo Minas, foi apresentado a candidatura do queijo mineiro ao título de Patrimônio Imaterial da Humanidade, no dia 24 de setembro de 2022, durante o Festival do Queijo Artesanal de Minas, realizado em Belo Horizonte, no Parque de Exposições da Gameleira. (foto ilustrativa acima do Queijo Canastra de São Roque de Minas, registrado pelo Alexandre Vidigal)
          O documento solicitando o reconhecimento do queijo mineiro como Patrimônio Imaterial da Humanidade foi assinado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG) e pela Associação Mineira dos Produtores de Queijos Artesanais de Minas Gerais (Amiqueijo).
          A iniciativa, além do apoio dos queijeiros mineiros, Iepha/MG e sociedade civil, conta ainda com apoio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo. O documento foi entregue a Carlos Alberto Gomes de Brito, atual ministro do Turismo. É o Governo Federal que inscreve as candidaturas a patrimônios materiais e imateriais junto a Unesco.
          O passo seguinte será a elaboração do dossiê de registro pelo Iphan e Ministério do Turismo para ser protocolado junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) e por fim, aguardar a análise e a escolha dos bens pela entidade.
          Os bens imateriais são escolhidos a cada dois anos pela Unesco, que avalia todos os bens apresentados pelos países signatários da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.

Arroz à grega mineiro

(Por Arnaldo Silva) O prato é saboroso, nutritivo, prático, fácil de preparar e muito colorido. Isso faz com que as crianças apreciem também esse prato que tem um nome sugestivo: “arroz à grega”.
          O nome sugere que o prato tenha origens da Grécia, mas não é grego, nem existe esse prato na Grécia e na região do Mediterrâneo. Nenhum grego nunca ouviu falar desse prato. Isso porque é genuinamente um prato brasileiro, embora não se saiba com certeza quando o prato surgiu, quem criou ou onde foi criado.
          O porque do nome “arroz à grega” não se sabe também ao certo. Acredita-se que quando da criação do prato, o autor se inspirou na culinária mediterrânea, que tem como base pratos coloridos a base de azeite, verduras e legumes variados. Daí surgiu o sugestivo nome de “arroz à grega” e se tornou um dos pratos mais populares do Brasil.
          É um prato leve, que acompanha por exemplo churrasco e está presente nos almoços de domingos, além de festas por todo o Brasil.
          O prato original tem como ingredientes o arroz cru e cozido normalmente, além de cebola, alho, pimentão, ervilhas, milho verde refogados no azeite, não leva carne e é decorado com uvas passa.
          Em Minas Gerais o arroz à grega é um pouco diferente. 
          O arroz à grega mineiro é preparado com  sobras de arroz, carne de frango ou bovina, desfiadas, misturado com cebola, cheiro verde, pimentão, cenoura, tomate, milho, ervilhas, azeite e ao invés de uvas passa no tradicional, é decorado com ovo. Além disso, o arroz à grega mineiro não é cozido como o tradicional e sim, assado.
Vamos aprender então a preparar o brasileiríssimo Arroz à grega a mineira:
Ingredientes

. 500 gramas de arroz que sobrou do dia anterior
. Sobras de frango ou carne bovina desfiados.
. 1 copo americano de caldo natural de frango ou carne bovina
. 1 pimentão picadinho
. 1 dente de alho amassado
. 1 cebola média ralada
. 2 cenouras grandes raladas
. 2 colheres de sopa de extrato ou molho de tomate
. 1 latinha de milho verde
. 1 latinha de ervilhas
. Azeite e sal a gosto
. 6 ovos
. Cheiro verde a gosto
Modo de preparo
- Cozinhe os ovos e reserve
- Dissolva o extrato de tomate no caldo e reserve
- Rale a cebola e as cenouras
- Pique o pimentão e o tomate em pequenos pedaços
- Coloque o arroz em uma vasilha e acrescente o frango ou a carne desfiada, a cebola e cenoura raladas, o alho, o milho verde, as ervilhas e o caldo reservado e misture tudo.
- Acerte o sal se necessário.
- Unte uma fôrma com azeite, espalhe a mistura, regue azeite por cima e leve ao forno até secar bem e já começando a dourar.
- Retire do forno, espalhe as rodelas dos ovos por cima e decore com cheiro verde.
          Prontinho, agora é só servir!

sábado, 17 de setembro de 2022

A Vila dos Gaúchos que se tornou cidade mineira

(Por Arnaldo Silva) Chapada Gaúcha é uma cidade mineira com cerca de 14 mil habitantes, na Região Norte de Minas. O acesso à é pela BR-479 e está distante 772 km de Belo Horizonte e conta atualmente. O município faz divisa com Januária, Formoso, Arinos, Urucuia, Pintópolis e São Francisco, em Minas Gerais e ainda com Cocos, no Estado da Bahia. (na foto abaixo, vista parcial de Chapada Gaúcha com foto arquivo Prefeitura Municipal/Divulgação)
A vila dos Gaúchos
          A cidade tem origem bem recente. Sua história começa a partir de 1976 com a chegada de um grande número de famílias vindas do Rio Grande do Sul para trabalhar na agricultura. Vieram através de incentivos de assentamento do Governo Federal à época, denominado Projeto de Assentamento Dirigido à Serra das Araras (PADSA). Na região, o projeto de assentamento englobava terras dos municípios de Formoso, Arinos, Januária e São Francisco, entre as regiões Norte de Minas e Noroeste do Estado.
          O PADSA atraiu um contingente muito grande de gaúchos, devido as dificuldades de trabalho que famílias de agricultores encontravam na época, além das dificuldades climáticas no Sul do país, como geadas constantes, estiagens prolongadas e falta de incentivos agrícolas. Iriam para uma região de clima mais estável, terras férteis, planas e com vários rios próximos, como os rios Urucuia e São Francisco, facilitando assim a irrigação, além é claro, de incentivos e apoio do Governo, no início.
          As famílias gaúchas foram instaladas numa área próxima ao Rio São Francisco, denominada de Serra das Araras. Com o tempo, mais famílias gaúchas foram chegando, formando assim uma vila, que passou a ser chamada de Vila dos Gaúchos.
          Os gaúchos cuidavam da terra, plantavam e faziam a terra gerar riquezas e prosperidade. A vila cresceu, ganhou igreja, ruas foram abertas, casas e mais casas foram sendo construídas e novas famílias foram sendo formadas, até que a Vila foi elevada à distrito em 1994, subordinado à cidade de São Francisco MG.
A escolha do nome
          A Vila dos Gaúchos já não era mais vila, cresceu a ponto de se tornar distrito. Tinha que ter outro nome. Para a definição do novo nome para o distrito que surgiu, foi feito um plesbicito entre os moradores. Três nomes foram os mais votados: Novo Horizonte o mais votado, Chapada Gaúcha, em segundo e Serra Gaúcha, em terceiro.
          Pelo fato de já existir outros distritos mineiros com o nome de Novo Horizonte, este nome foi descartado, ficando o segundo nome mais votado, Chapada Gaúcha, como nome do novo distrito, por votação popular.
          A decisão popular foi referenda pela Câmara de Vereadores em 19/12/1994, de São Francisco MG, a qual o novo distrito era subordinado, através do projeto de Lei n°1523, sendo instalado oficialmente em 28 de janeiro de 1995, como distrito reconhecido.
          O tempo como distrito de Chapada Gaúcha foi bastante curto. Não ficou nem um ano como distrito. Nesse mesmo ano, 1995, começou o processo de emancipação de Chapada Gaúcha. (na foto, o Vão dos Buracos- Comunidade quilombola de Buraquinhos, fotografado pelo Guia Elson Barbosa)
De distrito à cidade em apenas 1 ano
          Um fato inédito na história de Minas, jamais visto. Chapada Gaúcha foi elevada à cidade emancipada em 21 de dezembro de 1995, um ano depois de se tornar distrito, através da Lei n°12.030.
          À nova cidade que surgiu, foi incorporado povoados antigos como as comunidades quilombolas de Buracos e Buraquinhos (na foto acima do Guia Elson Barbosa), além do distrito histórico de Serra das Araras (na foto abaixo do Guia Elson Barbosa), com origens no final do século XVIII, fundado por descendentes de escravos.
          É nessa região que está localizado o Parque Nacional Grande Sertão Veredas (na foto abaixo de Lester Scalon).
          Nascia assim uma nova cidade mineira. A antiga Vila dos Gaúchos se transformou em cidade, charmosa, pacata, e de grande potencial agrícola na região, além de turística. O território total do município de Chapada Gaúcha é de 3 255,189 km². No ano seguinte, em 1996, foram eleitos os primeiros vereadores e o primeiro prefeito e vice-prefeito da cidade, tomando posse em 1° de janeiro de 1997.
Aniversário da cidade
          É tradição a data de emancipação das cidades ser considerada a data de aniversário da cidade, mas em Chapada Gaúcha no dia de sua emancipação, em 25 de dezembro, mas em 25 de julho.
          Isso devido esse dia ser nacionalmente o Dia do Agricultor/Colono/Trabalhador Rural e do Motorista. Esta dada foi escolhido pelo simples fato da agrária da cidade e por ter sido formada por agricultores, colonos e trabalhadores rurais.
Economia
          A essência e origem de Chapada Gaúcha é agrária. A agricultura familiar é um pontos fortes da economia do município além de cultivo de milho e arroz (na foto acima de José Wilson, roça de arroz), e outros grãos, com destaque para soja e sementes de forragem (capim). Inclusive, o município é o maior produtor de soja do norte de Minas, além de ser o maior produtor brasileiro de sementes de forragem (como podem ver na foto abaixo de José Wilson).
          Um dos eventos importantes da cidade é a Agrochapada (na foto abaixo enviada pelo Ramon Oliveira), evento agropecuário que reúne o que tem de melhor na agricultura e pecuária da cidade, além de apresentação de shows, rodeios, exposição de animais, tecnologias agrícolas, atividades culturais e gastronômicas.
Artesanato e culinária
          As tradições culturais e gastronômicas de Chapada Gaúcha têm forte influência do Rio Grande do Sul, aliados à cultura, tradição e gastronomia mineira.
          Nota-se a influência gaúcha na culinária, no artesanato e na cultura da cidade, embora prevaleça as tradições de Minas Gerais, como o artesanato e a gastronomia típica mineira e do povo do Cerrado, o bioma predominante nessa região. (Artesanato de buriti expostos no Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. Foto arquivo: Prefeitura Municipal/Divulgação)
O Festival do Chopp
          Uma mostra da influência gaúcha é o gosto do chapadense por chopp e cervejas. A tradição herdada dos alemães pelos gaúchos, faz parte também da tradição de Chapada Gaúcha. Na cidade acontece sempre o Festival do Chopp de Chapada Gaúcha.
          O festival atraí centenas de pessoas de cidades vizinhas e conta com comidas típicas mineira, gaúcha e alemã, além de shows com a presença de bandas da região Sul do País, tocando e cantando ao ritmo das tradicionais músicas gaúchas e germânicas. (foto acima: Arquivo Prefeitura/Divulgação)
Artesanato e turismo
          Além disso, a cidade produz artesanato de qualidade como trançados, cestos, esteiras, caixas e brinquedos, feito com a fibra do buriti, espécie nativa abundante na região.
          Por estar numa região de rara beleza, com fauna e flora exuberante, em Chapada Gaúcha concentra-se grandes áreas de preservação ambiental, como o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, o Parque Estadual Serra das Araras, com destaque para a Gruta do Coração, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari e a Cachoeira Arara Vermelha, favorecendo com isso o turismo ecológico, a geração de emprego e renda para a cidade. (Na foto acima do José Wilson, a beleza das veredas nativas de Chapada Gaúcha e abaixo do Elson Barbosa, o Morro Dois Irmãos)
Estrutura urbana
          A cidade é bem estruturada, conta com uma boa infraestrutura urbana, hotéis, pousadas, restaurantes típicos, um comércio variado e um setor de prestação de serviços abrangente e de boa qualidade.
          O povo chapadense é empreendedor, criativo e se sobressai nas adversidades. Até 2009, a cidade não tinha agência bancária. Para movimentar a economia local, seus moradores na época, criaram uma moeda social, chamada de “vereda”, através do Banco Comunitário.
          Essa iniciativa foi inédita em Minas Gerais e ajudou bastante no fortalecimento da economia do município. Com a chegada de agências bancárias à cidade, a moeda social caiu em desuso e não circula mais desde 2015.
          Cidade de taxa de escolarização bastante alta e com um bom nível educacional, além de possibilitar a seus moradores, boas condições para a prática de esportes, além de contar com área de lazer urbana e rural. (na foto acima o Balneário do Ney na Comunidade Rio dos Bois, registrada pelo Guia Elson Barbosa)
Festas e Festivais
          Além disso, a cidade promove eventos rurais como exposições e o Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, realizada sempre na segunda semana de julho. Este evento foi criado para divulgar as tradições, cultura e história dos povos do sertão. (foto acima arquivo Prefeitura Municipal/@divulgação)
          No Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas Nesse evento, além de shows musicais com música regional, tem pratos típicos regionais, danças de roda, mostra do artesanato e apresentações culturais, dentre outras atividades. (foto acima: Arquivo Prefeitura/Divulgação)
          Outro evento de grande importância é o “Caminho do Sertão”, também chamado de “Caminho Rosiano”, em alusão a Guimarães Rosa, autor do livro O Grande Sertão Veredas, com histórias no livro, ambientadas nessa região. São 187 km, entre Sagarana até o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, passando por estradas, trilhas e povoados. (na foto acima enviada pelo Elson Barbosa, caminhantes fazendo o Caminho Rosiano)
          Esse percurso é todo feito a pé pelos caminhantes, o que permite a todos um contato direto as tradições e costumes dos povos do sertão das veredas mineiras.
          Outro evento tradicional em Chapada Gaúcha é a Festa de Santo Antônio de Serra das Araras ou somente, Festa da Serra. É uma tradição secular, nascida pela fé do sertanejo mineiro. Antes mesmo de Chapada Gaúcha existir, a Festa da Serra já existia, preservada há mais de 200 anos pelo povo do sertão de nossas veredas.
          A tradição começa quando foi encontrada em uma gruta na Serra das Araras, a imagem de Santo Antônio. Todos os anos, desde o século XIX, no dia de Santo Antônio, 13 de junho, romeiros e fiéis chegam à gruta vindos vários de lugares. Vem de ônibus, de carro, de moto, a cavalo e até a pé para participarem dos festejos juninos. A Romaria e a Festa da Serra são umas das maiores festas religiosas da região e uma das mais importantes festas tradicionais mineiras. (foto acima enviada pelo Guia Elson Barbosa)
          Outro evento religioso de grande importância para a cidade é a Folia de Reis, que acontece entre o Natal e os primeiros dias do novo ano. Tradicional em toda Minas Gerais, a Folia de Reis é tradição secular nas comunidades chapadenses de Buracos, Buraquinhos e Ribeirão de Areia. (foto acima enviada pelo Guia Elson Barbosa)
          Chapada Gaúcha (na foto acima da Prefeitura Municipal/Divulgação) te espera para uma visita. Venha vivenciar um pouco da tradição do sertão das veredas de Minas, da tradição sertaneja, gaúcha e mineira, numa só cidade. 

Pintópolis: origem do nome, turismo e história

(Por Arnaldo Silva) Entre a Serra das Araras e o leito do Rio São Francisco, no Norte de Minas, está a cidade de Pintópolis, município que faz divisa com São Francisco, Urucuia, Icaraí de Minas, São Romão e Chapada Gaúcha. Contando com cerca de 7.084 habitantes, Pintópolis está a 615 km de Belo Horizonte.
          Pintópolis surgiu em 29 de agosto de 1964 como povoado denominado Riacho Fundo, subordinado inicialmente a São Francisco MG. Após emancipação da vizinha Urucuia MG em 1992, então distrito também subordinado a São Francisco MG, Riacho Fundo passou a ser subordinado a Urucaia MG. Em 21 de dezembro de 1995, Riacho Fundo foi desmembrado de Urucuia e elevado a cidade, com o nome de Pintópolis em homenagem ao sobrenome da família de seu fundador, Germano Pinto. (na foto acima e abaixo do Kleiton Brito)
          Uma cidade planejada, tranquila, pacata, com povo bom e hospitaleiro, conta com uma boa estrutura urbana, um comércio variado, setor de serviços de boa qualidade, pousadas, hotéis e restaurantes com comidas típicas. A economia do município tem como base o comércio, pequenas empresas familiares e a agricultura e pecuária.
          Pintópolis faz parte do Circuito Turístico Grande Sertão Veredas e oferece como atrativos sua charmosa Matriz, o Cristo Redentor, as tradicionais festas de São João e da Padroeira, Nossa Senhora da Abadia.
         A travessia de balsa sobre o Rio São Francisco, de Pintópolis até a cidade de São Francisco, é outro atrativo a parte. (na foto acima de Márcio Pereira/@dronemoc, a balsa)
          Além disso, suas belezas naturais estão inseridas neste circuito turístico, com destaque para a Cachoeira do Buriti, o Rio Urucuia e o encontro do Rio Urucuia com o Rio São Francisco e a Cachoeira do Rio Acari (na foto acima do Guia Elson Barbosa).
A origem do nome          
          Dos 853 municípios mineiros, algumas cidades chamam a atenção pelo nome diferenciado dos demais. É o caso de Pintópolis. Polis vem do grego e significa cidade e Pinto é um sobrenome de origem ibérico, ou seja, de Portugal e Espanha. Literalmente, Pintópolis significa Cidade dos Pintos.
          O nome é em homenagem a Germano Pinto (31/10/1924 – 21/11/2015), o fundador da cidade. (na foto acima feita por sua neta, Ana Paula Souza Pinto Cunha, quando completou 90 anos)
          Embora o nome possa provocar indagações e até mesmo risos maliciosos, os moradores de Pintópolis não se constrangem, ao contrário, tem orgulho de sua cidade e de sua origem, além de estarem já acostumados com o nome e de explicarem a origem do mesmo. Quem nasce em Pintópolis é pintopolitano ou pintopolense.
Germano Pinto
          O fundador de Pintópolis, Germano Pinto, já falecido, um sertanejo e, pecuarista, de hábitos bem simples e um visionário empreendedor. Foi pai de 11 filhos, 49 netos e outros tantos bisnetos.
Tinha como prazer uma boa prosa e contar causos, principalmente sobre si mesmo. São causos pitorescos, interessantes e verídicos. Um de seus causos preferidos era sobre a origem da cidade que fundou, feito que muito se orgulhava. (foto acima de sua neta, Ana Paula Souza Pinto Cunha)
          Germano Pinto contava que chegou à região aos 30 anos de idade vindo de Mocambo, povoado de São Francisco MG, cidade na outra margem do Velho Chico. Veio a pé e se instalou no local onde é hoje a cidade. Quando chegou, era apenas mato, não tinha casa, estrada, pastagem formada, nada. Começou do zero e transformou o lugar numa fazenda produtiva que denominou de Riacho Fundo.
          Vendo a fazenda crescer, Germano Pinto já alimentava o sonho de construir no local, não um povoado ou uma vila para seus colonos, como era normal, na época.
          Sonhava grande. Queria era construir uma cidade. Até que em agosto de 1964, já com 40 anos de idade, decidiu colocar seu sonho em prática e transformar sua fazenda em uma cidade planejada. Seria a primeira cidade planejada do sertão do interior mineiro, já que Belo Horizonte, planejada por Aarão Reis (1853-1936) não conta por ser a capital.
Projetando a cidade
          Embora sem curso superior na área, Germano Pinto era autodidata e começou a desenhar no papel o projeto do seu sonho. Sonhava com uma cidade que pudesse oferecer melhores condições de vida a seus moradores, principalmente os mais carentes, além de ser uma cidade bem estruturada e organizada.
          Aos poucos a paisagem típica das fazendas rurais do interior foi mudando. No lugar das pastagens e lavouras, foram surgindo ruas traçadas e avenida larga, transformando os caminhos que passavam carroças e carros de bois, em ruas para passar carros e caminhões. O curral, a casa grande e as casas dos colonos, foram dando lugar a escola, praça e lojas para comércio. (fotografia acima de Odair Rodrigues)
Incentivo ao povoamento
          Para atrair moradores, Germano vendeu lotes a preços bem em conta ou mesmo fiado e até doou terrenos para famílias que não tinham condições de comprar, mesmo barato ou fiado. Com isso a cidade começou a ser povoada, necessitando assim de novos traçados de ruas laterais à avenida principal.
          
Projetou a principal avenida da cidade em linha reta, que recebeu seu nome e em traço quadrado, planejou e construiu a Matriz e a praça da cidade. Conta Germano que para construir a igreja, vendeu 10 novilhas, um cavalo e um garrote, além de arborizar a praça com palmeiras. Dedicou a igreja a Nossa Senhora da Abadia, santa de sua devoção. (fotografia acima de Kleiton Brito)
          Para uma cidade existir como cidade, necessitava não só de ruas, casario e praças, mas de padre, professora, juiz, delegado, polícia, vereador e prefeito. O benfeitor tratou de providenciar tudo isso.
Fez tudo e foi de tudo e mais um pouco
          Trouxe um padre para a Matriz e professora para lecionar na escola. Queria que os filhos dos novos moradores da cidade estudassem. 
          Para garantir a segurança pública, Germano Pinto assumiu o papel de prefeito e acabou virando até delegado. Naquela época esse cargo era por nomeação, sem necessitar de concurso público ou formação em direito. Como delegado, improvisou a delegacia no terreno de sua própria casa e tinha até cadeia pública. Assumiu ainda a condição de juiz de paz e foi ainda vereador por dois mandatos.
          Doou as terras, fundou a cidade, projetou e planejou seu traçado, foi construtor, prefeito, vereador, juiz, delegado. Enfim, ocupou todos os cargos possíveis em uma cidade, algo inédito na história mineira.
Cidade com potencial de crescimento
          
Fez uma cidade e não uma cidadezinha qualquer. Uma cidade que cuja história é a história de seu próprio fundador. Começou com um sonho, com um morador e hoje conta com 7.500 moradores, bem estruturada, com boa qualidade de vida. (na foto acima do Cristian Denner, vista parcial de Pintópolis)
          Embora tenha poucos habitantes, Pintópolis não é uma cidadezinha do interior comum. O município é formado por 1243 km² quilômetros quadrados de terras. Pra se ter ideia desse tamanho, Belo Horizonte, a capital mineira, tem 332 km², ou seja, Pintópolis tem condições de crescer e se desenvolver bem mais. 
          É uma cidade jovem, que nasceu planejada, portando, com estrutura para crescimento planejado, o que a diferencia das demais cidades do interior.
Discussão sobre o nome
          
Antes de sua emancipação, em 1995, os moradores de Riacho Fundo optaram por mudar este nome para Pintópolis. Alguns acharam o nome meio estranho e até constrangedor e queriam que se chamasse de Noroeste de Minas. Esse sugestão não foi aceita pela maioria dos moradores, que não viam problema algum no nome. Outros sugeriram Germanópolis, em homenagem ao fundador, que não concordou. (fotografia acima de Cristian Denner e abaixo de Odair Rodrigues)
          Germano Pinto queria que o nome da cidade abrangesse sua família, já que para construir a cidade, não tinha feito tudo sozinho, teve o apoio da família. E assim, ficou Pintópolis o nome da cidade, homenageando não somente o fundador, mas a toda sua família que abraçou seu sonho.
          Germano Pinto faleceu em 21/11/2015, aos 91 anos, com honras e respeito dos moradores da cidade que fundou e de que muito se orgulhava ter fundado e vivido.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Guapé: a cidade que marcou encontro com o dilúvio

(Por Arnaldo Silva) Entre serras e montanhas, rodeada por águas, formando assim uma península, bem na encosta de um espigão, se estendendo até a Serra dos Macacos, encontra-se uma cidade charmosa, tranquila, turística e atraente. É Guapé, no Sul de Minas, um dos principais balneários náuticos do país.
          O município faz divisa com Capitólio, Alpinópolis, Formiga, Piumhi, Pimenta, Boa Esperança, Cristais, Ilicínea, Carmo do Rio Claro e São José da Barra. Está a 293 km de Belo Horizonte e conta atualmente com cerca de 14 mil habitantes.
          Banhada pelas águas da Represa de Furnas, sua história é dividia por antes e depois das águas de furnas inundarem o município, na década de 1960. (na foto acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique, vista parcial de Guapé)
História antes de Furnas
          Antes de Furnas, a história de Guapé tem origens a partir de 1759, no século XVIII, quando chega à região a família do fazendeiro José Bernardes Ferreira Lara. Em 1825, no século XIX, o fazendeiro, juntamente com Felisberto Martins Arruda e Cândida Soares do Rosário, doou parte de suas terras para a construção de uma capela, em honra a São Francisco de Assis a pedido Dona Esméria Angélica da Pureza.
          Com a capela construída, o pequeno arraial começou a crescer. Posteriormente foi elevado a distrito subordinado a Boa Esperança MG, com o nome de São Francisco de Aguapé, em 1856. Nesse mesmo ano, em 9 de maio, a capela foi elevada a paróquia. Pouco tempo depois, o nome do distrito é alterado para São Francisco do Rio Grande.
          Em 7 de setembro 1923, o distrito é desmembrado de Boa Esperança e elevado à cidade, passando a adotar o nome de Guapé, instalado oficialmente em 3 de fevereiro de 1924, com eleição de prefeito e vereadores. (foto acima cedida pelo Grupo  Guapé - Memórias em Fotos e Fatos)
          Guapé é um nome indígena dada a uma planta aquática (Eichhornia) que significa “Caminho das Águas”. A planta, que tem a folhagem verde, tem como características cobrir toda a superfície de rios e lagos.
A cidade que marcou encontro com o dilúvio
          A vida em Guapé seguia normalmente, como todas as pequenas cidades do interior. Casario singelo, simples, em estilo colonial, matriz, praça com coreto, povo hospitaleiro. Essa tradicional rotina mudou por completo quando da formação do Lago de Furnas e instalação da Usina Hidrelétrica de Furnas, obra idealizada por Juscelino Kubitschek nos anos 1950.
          Em 19 de janeiro 1963, as comportas das da usina foram fechadas. Era o início do tão esperado encontro com o dilúvio, quando um mundão de águas encobriu a cidade e maior parte das terras rurais do município. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          O povo já sabia disso e se preparou por anos para esse dia, enquanto uma nova cidade era construída. Tudo que podiam retirar de suas casas, praças, igrejas, criação, fazendas, como objetos, carros de bois, carroças, decoração, gado, retiraram, para serem levados para a nova cidade numa parte alta do município.
          Até mesmo seus mortos, levaram. Não queriam deixar os restos mortais de seus entes queridos submersos. A nova cidade tinha tudo. Casas novas, ruas largas, saneamento, praças, igrejas, tudo. Só não tinha a história, as lembranças, o passado vivido por gerações. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          Os casamentos, as quermesses, os bailes, as rodas de viola, as novenas, as procissões, a missa na Matriz, o toque das bandinhas. Tudo isso ficou nas lembranças. A cidade nova, tinha conforto, mas não tinha lembranças, não tinha história.
          Todos sabiam que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria e até a data. 19 de janeiro de 1963. Era o encontro de Guapé com o dilúvio. E esse encontro ocorreu. (foto acima cedida pelo Grupo Guapé - Memórias em Fatos e Fotos)
          A tão esperada cena diluviana e apocalíptica aconteceu aos olhos em lágrimas, de espanto, de perplexidade e prantos dos moradores que assistiram do alto da serra, as águas chegarem e indo aos poucos encobrindo toda a cidade que viveram e viveram seus antepassados. As águas foram inundando até nada ficar à vista, até mesmo a torre da igreja Matriz.
Coincidência do nome e lema da bandeira
          A antiga cidade, onde os moradores construíram suas vidas, seus sonhos e famílias, já não existia mais. Ficou debaixo d´água. Jornais e revistas da época noticiaram o ocorrido de forma dramática e dantesca.
          Tiverem que recomeçar do zero, se acostumar com o novo lugar, criar novos laços e seguir a vida. As autoridades decidiram inundar a cidade e não tinha como mudar. Por ironia do destino, campos, ruas, praças, tudo, passou a ser caminho das águas, exatamente a tradução do nome Guapé. As águas de Furnas inundaram 206 km² do município. (na foto acima do Professor Antônio Carias Frascoli, o Vale do Rio Grande em Guapé)
          Coincidentemente, na bandeira do município, criado em 1924, tem como lema “Fluctuat Ne Mergitur, ou seja, “Flutuarás, não afundarás”. Juntando com o nome da cidade, Guapé, que significa Caminho das Águas, percebemos uma coincidência enorme com seu destino final: o encontro com o dilúvio em 1963. Os mais supersticiosos diriam que o nome e o lema de 1924, seriam profecias que aconteceriam. E aconteceu 39 anos depois, em 1963 com as águas inundando 206 km² do município.
O dilúvio na mídia
          Revistas e jornais de Minas Gerais e do Brasil, da época, noticiavam constantemente os impactos da inundação na vida dos vilarejos e cidades que seriam inundados pelas águas de Furnas, descrevendo o evento como um dilúvio com data e hora marcados.
          Em sua edição 09 de 1959, a Revista O Cruzeiro trazia como manchete uma matéria especial sobre Guapé, com o título: “A cidade a espera do dilúvio” e em fevereiro de1963, quando as águas começaram a inundar o município, a mesma revista publicou outras duas matérias com o título “Guapé vai ser apenas um retrato na parede” e uma outra assinada por Rachel de Queiroz com o título “Cantiga para a cidade de Guapé, que vai desaparecer sob as águas da Represa de Furnas”.
          Em março de 1965 o Lago de Furnas já estava completamente formado. São 1.440 km², cinco vezes maior que a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Em linha reta, a extensão do Lago de Furnas corresponde a metade do litoral brasileiro. (na foto acima do professor Antônio Carias Frascoli a foz do Ribeirão Verde com o Rio Grande em Guapé)
Guapé depois do encontro com o dilúvio.
          Construída em uma parte mais alta, a nova cidade ficou isolada, margeada pelas águas de Furnas. Praticamente ilhada, formando uma península.
          Os primeiros anos foram difíceis para os moradores. O povo não tinha assimilado toda a situação, além de ter de recomeçar a vida do zero. Boa parte das terras férteis do município, às margens do Rio Grande, ficaram submersas. Somente na década de 1970 é que começou de fato a atividade rural do município, sua vocação original. (na foto acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito  de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique, a cidade de Guapé hoje)
          Começou a preparação da terra com o uso de técnicas de manejo mais avançadas para formação de pastagens para a pecuária leiteira e de corte, de cafezais, plantio de grãos e também o plantio de cana-de-açúcar para a produção de cachaça. Começou a desenvolver a pesca e extração de pedras, pecuária leitura e de corte. A agricultura é hoje um dos principais pilares da economia de Guapé.
          A cidade também começa a se despertar para o turismo. Se perdeu em terras férteis, ganhou mais beleza, com as águas do Lago de Furnas. Era o início de uma nova era para os guapeenses que passaram a investir no turismo como alavanca para seu desenvolvimento.
          Hoje Guapé é uma das mais belas cidades turísticas de Minas Gerais, com paisagens impactantes e espetaculares. Além disso, possui uma excelente estrutura urbana, boa qualidade de vida, e uma ótima rede hoteleira e gastronômica, com boa parte de hotéis, pousadas e restaurantes com comida típica mineira, às margens do Lago de Furnas.
          Essas mesmas águas, além da beleza, proporcionam um clima ameno e ar leve, além de possibilitar a prática de esportes náuticos. As serras e montanhas de Guapé propiciam a prática de esportes radicais como rapel, escalada, parapente e voo livre. (fotografia acima de Evandro Antônio de Oliveira - Vice prefeito  de Guapé e Capitão do Terno de Moçambique em Guapé)
          Além disso, trilhas e matas nativas são atrativos para os turistas, além da rica fauna e flora, sem contar a beleza de riachos e cachoeiras incríveis, paradisíacas, de águas limpas e cristalinas como a cachoeira do Garimpo, do Moinho, do Lobo, do Capão Quente, da Água Limpa, da Volta Grande, do Macuco, dentre outras tantas.
          Outro destaque do turismo de Guapé é o Parque Ecológico do Paredão, uma área de preservação formada por mata nativa, uma fenda entre as serras, aberta naturalmente pela ação do tempo, formações rochosas milenares e três belíssimas cachoeiras, além de trilhas ecológicas e com condições geográficas propícias para a prática de esportes de rapel e escalada. (foto acima e abaixo do professor Antônio Carias Frascoli)
          O lugar tem boa estrutura com área para camping, estacionamento, além de banheiros e restaurante.
          Além do turismo ecológico, Guapé tem atrativos urbanos como o Ipê Campestre Clube, a Igreja Matriz de São Francisco de Assis, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no distrito de Aparecida do Sul, além de festividades durante o ano como o Carnaval, a Festa do Divino Pai Eterno e grupos folclóricos de Folia de Reis e Congadas, além da visita às comunidades rurais como Araúna, Santo Antônio das Posses, Pontal, Penas, São Judas Tadeu, Pedra Vermelha, Capoeirinha e Campestre. (na foto acima do Thelmo Lins, a Matriz de São Francisco de Assis)
          Venha conhecer Guapé, a cidade aguarda sua visita.

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