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sábado, 10 de maio de 2025

Minas é um mini-Brasil e um mini-mundo

(Por Arnaldo Silva) Desde o Ciclo do Ouro, no século XVIII, Minas Gerais se transformou no retrato do Brasil. A formação da característica cultural, folclórica, histórica, social, religioso, no jeito de ser e falar do povo mineiro, é resultado da mistura entre portugueses, com origens no Minho (norte de Portugal), de africanos escravizados, de origens sudanesas e banta, de indígenas locais.
        Nesse processo, vieram para Minas, povos de outros países, de todas as regiões e capitanias brasileiras, durante o Brasil Colônia, como tropeiros, mascates, viajantes e aventureiros.
Primeira foto de César Reis em Tiradentes MG e segunda, de Vinícius Montgomery em Itajubá MG
        Vieram em busca da riqueza mineral e aqui ficaram, deixando um pouco de cada região do país e continentes, na formação da identidade mineira. As origens desses povos estão presentes em todas as atuais 12 regiões mineiras graças à sua diversidade geográfica, de acordo com a cultura, história, arquitetura, folclore, tradições e gastronomia, que cada um desses povos deixaram em cada região mineira.
Estado estratégico 
Coronel Fabriciano, Vale do Aço - Fotografia: Elvira Nascimento
        O Estado de Minas é estratégico para o Brasil, devido a sua diversidade geográfica, além de sua localização estratégica. Minas faz divisas com 6 estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul) e com o Distrito Federal. Por esse motivo, conta com uma grande infraestrutura ferroviária e principalmente, viária. Com aproximadamente 272.062,90 km de rodovias federais, estaduais e municipais.
        Minas Gerais tem maior malha viária do Brasil. O estado mineiro é de vital importância para a integração regional e para o próprio desenvolvimento econômico do estado. A economia dos grandes centros produtores e exportadores do Brasil, passa por Minas.
Minas é o DNA do Brasil
Criação e arte: Ernani Calazans/Araçuaí MG
        O estado mineiro absorveu ao longo de mais de três séculos, as características típicas de cada estado e região do país e também de outros continentes como Europa, América do Sul, Ásia, Oceania, Oriente Médio e África. Minas Gerais é um retrato da miniatura do Brasil. A identidade mineira foi moldada ao longo dos séculos com a absorção das características culturais, gastronômicas, religiosas, folclóricas, vestimentas, sotaques e características regionais e físicas de todos esses povos.
        A diversidade cultural mineira faz do Estado único e sem igual no país. Minas é o reflexo da diversidade geográfica, étnica, cultural e social brasileira. Em Minas está o DNA do Brasil.
        Não apenas isso. Com a presença de imigrantes de vários países e descendentes de imigrantes que já viviam em outras regiões brasileiras, como alemães, árabes, franceses, ingleses, espanhóis, italianos, dentre outros povos, Minas se tornou ainda mais abrangente em suas características arquitetônicas, culturais, religiosas e folclóricas. 
Monte Verde no Sul de Minas. Fotos: Kelvin Borges/MOVE
        Como por exemplo, a Região Sul de Minas, que recebeu um grande número de imigrantes italianos, alemães, dinamarqueses e letões. Imigrantes da Letônia, por exemplo, fundaram Monte Verde, chamado “cantinho da Europa em Minas”. Minas Gerais é um mini-mundo.
        Todos esses povos deram grande contribuição para a gastronomia mineira, reconhecida como uma das melhores e mais diversificadas do mundo. A riqueza gastronômica mineira, com cerca de 627 pratos típicos tradicionais, recebeu influências de todas as regiões do país e de outros continentes como a Europa e África, que vieram no século XVII, XVIII, XIX e século XX, dando contribuição à formação da identidade gastronômica de Minas.
Minas é a história do Brasil
        Minas é a história do Brasil. É um museu a céu aberto. As alterosas mineiras sozinha, guarda 62% de todo o Patrimônio Histórico do Brasil, concentrados nas dezenas cidades históricas e centenas de cidades mineiras que preservaram riquezas arquitetônicas dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX.
Três falares mineiros
Criação de Ernani Calazans/Araçuaí MG
        Além disso, o falar mineiro reflete claramente a diversidade étnica dos mineiros. Em Minas Gerais não tem um falar. Tem três: Montanhês Caipira e o Geraizeiro.
Montanhês: É o dialeto falado em 50% do território mineiro, é o dialeto original de Minas Gerais, falado pelos povos que viviam entre as montanhas do que é hoje o Quadrilátero Ferrífero, onde estão as principais cidades formadas no século XVIII, durante o Ciclo do Ouro.
Caipira: É um dialeto falado em 33% do território mineiro. Falado no Triângulo Mineiro, Noroeste, Oeste, Sul e Sudeste de Minas. Tem influência no dialeto caipira paulista, com influência do dialeto Montanhês.
Geraizeiro: É um dialeto falado em 17% do território mineiro. Tem origens no final do século XVII, sendo falado pelos povos do Cerrado Mineiro, do Norte de Minas, que se formaram em comunidades surgidas às margens do Rio São Francisco e se expandiu para boa parte do Noroeste Mineiro e Vale do Jequitinhonha, nas áreas de transição do Cerrado para a Caatinga, na divisa com a Bahia.
Minas é o mundo!
Fotos: César Reis em Tiradentes MG
        Essa frase tem tudo a ver com o que é Minas Gerais. Seja em qual contexto for, Minas é realmente o mundo! Autoria específica da frase ninguém sabe exatamente, mas é o reflexo claro da importância de Minas Gerais para o país. Diversidade cultural, politica, social, histórica, da hospitalidade, das cores e sabores de sua culinária, da conexão mineira com a terra.
        Minas é o mundo são os modos de falar do povo mineiro, é a essência de suas 12 regiões geográficas que tem com origens e tradições diferentes e variadas. São as paisagens, rios, lagos, cachoeiras, montanhas, cordilheira. Minas é um estado único!
        Minas é a cara do povo brasileiro. O reflexo do retrato do Brasil. Minas é o mundo é nada mais que reflexo a grandiosidade de Minas Gerais. É a essência da mineiridade e da abrangente riqueza do Estado.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Penha de França: a Vila Colonial mineira fundada por alemães

(Por Arnaldo Silva) Em 3 de maio de 1824 chegava em Nova Friburgo/RJ, o primeiro grupo de imigrantes alemães. 83 dias depois, em 25 de julho de 1824, chegava mais um grupo de alemães, desta vez instalados em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Foi a partir deste ano que o governo Imperial de Dom Pedro I, abriu as fronteiras do Brasil para receber imigrantes europeus. 
Vila de Penha de França. Fotos: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        O Sul do país foi a região que recebeu o maior número de imigrantes à época, por ser uma região pouco habitada, contar com terras férteis, além do fato dos europeus, principalmente os alemães, terem conhecimentos e habilidades no cuidado com a terra, além de conhecerem dominarem a tecnologia agrária, da época. Tecnologia e mão de obra especializada na área agrícola, era o que faltava no Brasil Imperial.
A presença alemã no Brasil começou em 1824?
        Oficialmente sim, em 1824. Este é o ano que marca o início da imigração alemã para o Brasil, de forma organizada e como politica de Estado. Antes desta data, a presença de alemães em terras brasileiras era comum, não como comunidades ou colônias organizadas e autorizadas pelo Coroa Portuguesa. A presença germânica no Brasil é mais antiga que se pensa.
Os alemães descobriram o Brasil?
Desembarque de Cabral em Porto Seguro em 1500. Pintura de Oscar Pereira da Silva, 1922. Acervo do Museu Paulista. 
        Embora não contada nos relatos históricos da época e nem nos livros de história oficial do Brasil de hoje, os alemães estiveram presentes no momento do descobrimento do Brasil em 22 de abril de 1500.
        A esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral era composta por 13 navios: 9 naus, 3 caravelas e uma naveta de mantimentos. Cada um dos 13 navios contava com portugueses e vários grupos de alemães.
        Os alemães que vieram com Cabral atuavam na unidade militar portuguesa como artilheiros e acompanhavam Cabral em suas atividades por mar.
        Portugueses e alemães foram os primeiros europeus a pisarem em solo brasileiro. Isso 324 anos antes da chegada oficial dos primeiros imigrantes alemães em Nova Friburgo/RJ e São Leopoldo/RS.
        Além disso, os primeiros registros sobre a nova terra, não foi feito por Pero Vaz de Caminha como conta a história oficial. Foram os alemães que vieram com Cabral, os primeiros a fazerem citações escritas sobre a nova terra recém-descoberta. O relato foi na língua alemã. 
        Inclusive, foram os alemães os primeiros a usarem a palavra “Brasil” como lugar que a esquadra de Cabral acabara de desembarcar, por terem identificado uma espécie de árvore com tronco vermelho, usado nas tinturarias europeias conhecida na Europa como Pau-brasil. Sim, a identificação do Pau-Brasil, que deu origem ao nome do nosso país, foi feita pelos alemães. 
        A presença Germânica no Brasil não se limitou a essa data. Ao longo das idas e vindas de esquadras portuguesas para o Brasil, no século XVI, vieram vários grupos de alemães.
        A partir do século XVII, com o aumento da perseguição religiosa na Alemanha e a Inquisição Católica que imperava na Europa, a presença alemã passou a ser mais constante e em maior número. Mas era uma imigração espontânea, sem ser oficializada, incentivada ou planejada pela Coroa Portuguesa à época.
Presença estrangeira no Brasil Colônia
Vila de Penha de França. Fotos: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas         
        Como foi dito no início, 1824 é o marco da formação de colônias alemães no Brasil, formadas e autorizadas a existirem pelo Império e como política de Estado. É fato histórico comprovado. Antes desta data, foram formadas durante o Brasil Colônia, comunidades alemãs, francesas, holandesas, judaicas, espanholas, árabes, dentre outras na então colônia portuguesa.
        Eram famílias que vieram de seus países de origem busca de novas oportunidades de vida e em sua maioria, em busca de riquezas minerais. O destino inicial era o porto de Salvador, na Bahia, à época, capital da colônia. Algumas famílias ficavam na sede da colônia e outras adentraram pelo sertão do país por conta própria.
        Entre os séculos XVI e XVII, ouro, esmeralda e diamantes era um sonho a ser alcançado. Incursões de bandeirantes e portugueses e aventureiros desbravavam o sertão em busca da descoberta de riquezas minerais, até então não conhecidas. Os povos que se instalaram no Brasil à época, como alemães, ingleses, franceses e holandeses, espanhóis, judeus, árabes, etc., tinham também essa intenção. Era ação de grupos de estrangeiros, sem serem permitidos pela Coroa Portuguesa,.
A primeira comunidade alemã no Brasil foi fundada em Minas?
Vila de Penha de França. Foto: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        Estudos históricos não comprovados oficialmente, tendo como base apenas a tradição oral local, afirmam que Minas Gerais teve uma comunidade formada por alemães formadas a partir de 1653. O curioso nessa afirmação é que o fato aconteceu antes da descoberta de ouro e diamante nas Minas Gerais e antes mesmo da fundação oficial do Estado. 
        Segundo a história oficial, a primeira povoação surgida em Minas foi em 1660, com a fundação do povoado de Matias Cardoso, no extremo Norte de Minas, pelo bandeirante de mesmo nome.
        A cidade mineira afirma que em 1663, alemães e um pequeno numero de franceses e espanhóis chegaram à região e fundaram um povoado onde está hoje o município de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha. O povoado fundado pelos alemães é Penha de França, hoje, distrito de Itamarandiba.
        A informação não é reconhecida pela história oficial por falta de indícios concretos e históricos da presença de alemães na fundação da comunidade. Franceses e espanhóis sim, há indícios deixados na religiosidade católica. Mesmo assim, a informação tem como base apenas a tradição oral, sem documentação oficial que comprove a veracidade da informação.
        Oficialmente, a imigração alemã em Minas Gerais se deu a partir de 1858, com a chegada de imigrantes em Teófilo Otoni MG, no Vale do Mucuri.
História conhecida em Itamarandiba
Vila de Penha de França. Foto: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        A Prefeitura de Itamarandiba, no Vale do Jequitinhonha, a qual Penha de França é subordinado, confirma que seu distrito, Penha de França, foi fundado por alemães, e em menor número, franceses e espanhóis.
        A informação está no site oficial da Prefeitura. Procurei conversar com pessoas ligadas à cultura da cidade, entre eles, Gelte Guimarães, que confirmaram que a base histórica da origem de Penha de França é somente a tradição oral, contada por seus moradores desde a origem do povoado. Tradição oral que foi passada ao longo de mais de três séculos, de geração para a geração. Por este motivo a história é preservada. Todas as famílias que moram em Penha de França sabem dessa história de cor, passadas por seus pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós, pentavós, hexavós, etc.
O que diz a tradição oral
Vila de Penha de França. Foto: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        Segundo a tradição oral e reconhecida pela Prefeitura local, o vilarejo de Penha de França foi fundado por alemães e um pequeno grupo de franceses e espanhóis, que chegaram à região em 1653, vindos da Bahia, onde viviam. Vieram com suas famílias para trabalharem na agricultura, no cultivo de cana-de-açúcar, feijão, milho, mandioca, etc., e claro, buscavam na região ouro e diamantes.
        Aliás, a possibilidade de existir ouro nessa região foi o motivo da vinda de desses povos no território mineiro, antes mesmo da chegada das entradas e bandeiras por Minas Gerais. Não há, até o momento, nenhum documento ou dado histórico concreto que embase essa afirmação. Apenas a tradição oral, passada de gerações.
        Com base na tradição oral, vamos conhecer um pouco da origem Penha de França e estudos independentes que eu mesmo fiz sobre a religiosidade de alemães, espanhóis e franceses, que não faz parte da tradição oral, é fato histórico.
Origem de Penha de França
Vila de Penha de França. Foto: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        Em uma região originalmente habitada por povos indígenas e escravos fugidos de fazendas, os alemães e um grupo de franceses, desbravaram o sertão mineiro, enfrentando as intempéries naturais e o risco de confronto com os povos nativos. Mesmo assim, deram início a formação de uma comunidade.
        Tanto alemães, quanto franceses e espanhóis, professavam a fé cristã. Alemães, em sua maioria, seguiam a doutrina Luterana. Já os franceses e espanhóis, a fé católica. Os poucos franceses que vieram para a região eram devotos de Nossa Senhora de Penha de França.
Origem da fé em N. S. de Penha de França
Igreja dePenha de França. Foto: Prefeitura de Itamarandiba MG - Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        A devoção à santa teve origem na Espanha, em 1434, após a imagem da Virgem ter sido encontrada por Simão Vela, um monge francês que sonhou que uma imagem da Mãe de Jesus estaria enterrada no alto de uma montanha.
        Peregrinando por 5 anos em busca dessa imagem, o monge a encontrou em uma montanha de nome Penha de França, na Espanha.         A partir desse momento, tem-se início a fé em Nossa Senhora de Penha de França, como passou a ser chamada a santa. Em pouco tempo a devoção se estendeu para a Europa, sendo a santa muito popular em Espanha, França e Portugal.
Legado de fé dos franceses e espanhóis
Altar da Igreja Penha de FrançaFoto: Prefeitura de Itamarandiba MG- Apoio institucional: Secult e Governo de Minas
        Penha de França é uma vila com casario colonial setecentista. Charmosa, pacata, bem preservada e atraente, com um povo hospitaleiro e acolhedor que valoriza as tradições mineiras e sua origem, principalmente na fé católica, deixada pelas poucas famílias francesas e espanholas que vieram juntos com os alemães.
      Quando chegaram no local onde fundaram a vila, as famílias francesas, com apoio dos espanhóis, ergueram uma pequena igreja em honra a essa santa. Segundos os moradores, a igreja é datada de 1653.
        Não há registros ou citações de igreja luterana construída por alemães na comunidade. Relatos orais apontam apenas para uma igreja católica no vilarejo, erguida pelas famílias francesas. Embora franceses espanhóis tenham sido em menor número no vilarejo, prevaleceu em Penha de França a predominância da fé católica.
        Para os portugueses, destruir uma igreja católica seria um sacrilégio e algo inaceitável. Geralmente preservavam seus templos se estivessem em boas condições.  Caso necessitassem de um novo templo, por questão de crescimento da comunidade, retiravam o altar, as imagens e ornamentos para serem colocados no novo templo, com as bênção e autorização da Igreja. 
Martinho Lutero e a Igreja Luterana
        Foi na Alemanha, no século XVI, que a Igreja Luterana surgiu no mundo. A denominação religiosa surgiu a partir das pregações de Martinho Lutero (em alemão: Martin Luther; Eisleben, 10 de novembro de 1483 – Eisleben, 18 de fevereiro de 1546), foi um monge agostiniano e professor e professor de teologia alemã. Lutero discordava dos rumos da Igreja Católica à época, principalmente em relação a venda de indulgências, além de criticar abertamente a corrupção do clero. Em 1517, Lutero fixou 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha, dando origem a Reforma Protestante.
        Martinho Lutero, defendia entre outras coisas, que a salvação é garantida pela fé. Lutero acreditava que a salvação era garantida pela fé, baseando-se no versículo bíblico “justo viverá pela fé”. Lutero defendia que as pessoas podem ser salvas sem a mediação de intermediários e sem precisar das indulgências.
        Além disso, tinha convicção que todos tinham o direito a lerem os escritos sagrados, que à época, era restrito ao clero e escrito em hebraico, aramaico e grego e traduzida para latim, através da Vulgada, versão oficial da Igreja Católica Romana à época. Lutero traduziu toda a Bíblia para o alemão, facilitando assim o acesso do povo alemão às escrituras sagradas. Com o crescimento do protestantismo e surgimento de novos segmentos religiosos, a Bíblia passou a ser traduzida para outros idiomas e a se popularizar no mundo.
Vestígios da presença alemã em Penha de França
        Em Penha de França não há nenhuma construção típica alemã. Não há vestígios documentados da presença alemã em Penha de França. A presença alemã no vilarejo está apenas na oralidade perpetuada há mais de 300 anos, preservada por seus moradores
        E aí está a pergunta: porque em Penha de França não há nenhum vestígio da religiosidade alemã e sim, da fé católica dos franceses e espanhóis? 
        A resposta é simples: à época, templos não católicos eram proibidos na Colônia.
Proibição de templos não católicos
        Isso porque Portugal era oficialmente um país católico, alinhado à Igreja Católica, Apostólica, Romana. Em suas colônias, não era permitido cultos de outras religiões, somente a fé católica era autorizada. Além disso, a predominância das construções tinham como base a arquitetura barroca portuguesa.
        Ao longo do descobrimento, além de portugueses, vieram para o Brasil alemães, ingleses, franceses, holandeses, suíços, judeus, ciganos, africanos, etc, como já foi dito. Evidentemente que entre esses povos, haviam adeptos de outras igrejas como a igreja Luterana e Calvinista, a Igreja Anglicana, a fé judaica, islâmica, as religiões africanas, dentre outras, além das crenças nativas, praticadas pelos indígenas.
        Todos esses credos eram praticados no Brasil à época, mas não abertamente, porque eram proibidos. Não podia existir templos religiosos não católicos na Colônia. Era lei.
        A realidade começou a mudar a partir da abertura do Brasil para a imigração e independência do país em 1822 com a elaboração da primeira constituição do Brasil independente, promulgada em 1824.
        No artigo 5º da Constituição de 1824 preceituava que “a religião católica, apostólica romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”. Ou seja, a partir de 1824, podia existir manifestações religiosas no Brasil, mas os locais dos cultos não podiam se assemelhar de forma alguma a uma igreja.
        Com a queda do Império de Dom Pedro II e a Proclamação da República em 1889, uma nova constituição foi promulgada, seguindo a tendência do período positivista e ideias constituintes modernas da época, derrubando essa proibição. 
        A partir desse período, o Estado se separou da Religião, tornando-se laico. Com isso, as tendências religiosas puderam manifestar sua fé publicamente e construírem no país seus templos religiosos, normalmente, de acordo as arquiteturas de suas origens. Foi a partir da Proclamação da República que começaram a chegar ao Brasil várias denominações religiosas europeias e principalmente, estadunidenses.
        Esse seria o motivo da não existência de vestígios da religiosidade dos alemães em Penha de França. Não era permitido templos e cultos de outras religiões na colônia, sem ser a católica. Os cultos eram feitos nas próprias casas dos moradores. 
        Esse é motivo da não existência de vestígios da religiosidade alemã em Penha de França. Não apenas a religiosidade, mas a presença dos alemães em Penha de França foi ignorada pelos historiadores. 
        Se foi registrada, apagou-se com o tempo ou simplesmente foi apagada por questão de conveniência dos historiadores da época, mas não da memória dos moradores do vilarejo. Este sim, preservaram as origens da vila através da tradição oral, mantida até os dias de hoje.
        Por esse motivo foi preservada a igreja fundada pelos franceses e espanhóis em Penha de França, simplesmente porque a religião oficial da Coroa Portuguesa era a Religião Católica, a mesma dos franceses e portugueses, além de Nossa Senhora de Penha de França ser também popular entre os portugueses.
Portugueses ignoravam histórias de outros povos
        A história do Brasil Colônia e Imperial foi escrita pelos historiadores ligados à Coroa Portuguesa e ao Império e claramente voltada para feitos dos chamados “desbravadores”, no caso, bandeirantes, lideranças portuguesas que viviam na colônia, heróis criados, além das histórias de um imenso número de famílias portuguesas que vieram de Portugal. 
        Posteriormente, foram trazidos para a colônia africanos escravizados para trabalharem na agricultura e exploração de ouro e diamantes. A história da origem do Brasil aceita pela Coroa Portuguesa era somente as descritas pelos historiadores e lideranças portuguesas.
        Essas descrições, mesmo quando narravam atuações de outros povos na colônia, tinham como ênfase a ação portuguesa. Os responsáveis por descrever a história da dominação portuguesa no Brasil, eram indicados pela Coroa Portuguesa e Império. Partiam do princípio das ações e vitórias dos colonizadores em guerras e proteção dos interesses portugueses na colônia, principalmente quando da descoberta de ouro em Minas.
         O foco dos estudiosos, cientistas e historiadores à época, era sempre a atuação heroica dos portugueses e bandeirantes. Quando citavam outros povos “amigos”, não aprofundavam nos estudos e informações.
Influência de outros povos ignorada pela história
        A presença e história dos outros povos que chegaram ao Brasil desde o descobrimento, era fato irrelevante para os historiadores da época, como já frisei. Além de irrelevante, em sua maior parte, era praticamente ignorada. À exceção dos fatos com vitórias dos portugueses sobre estrangeiros que tentavam ocupar o Brasil, os holandeses e franceses, a Guerra do Paraguai, além das ações dos navios negreiros que traziam seres humanos escravizados da África para trabalharem como escravos no Brasil e ações contra quilombolas e povos originários.
        Além disso, a história oficial buscava narrar os feitos dos que chamavam de “heróis” aqueles que percorriam o Brasil em grandes números e bem armados, praticando atos contra povos indígenas, quilombolas. Com suas ações, evitavam qualquer tipo de ações e reações contrárias aos interesses portugueses na Colônia. Poucos são os estrangeiros lembrados e que fazem parte da história do Brasil.
        Esse é o caso da primeira comunidade de europeus formada em Minas Gerais, antes mesmo da chegada dos portugueses à Minas. Embora os alemães tinham larga parceria com portugueses, a comunidade formada em Minas Gerais não faz parte da história oficial de Minas e nem da presença alemã no Brasil. Isso porque a história oficial foi contada pelos colonizadores e não pelos colonizados. Prevalece na história oficial da Coroa Portuguesa, a presença dos portugueses na região, da fé Católica e do seu domínio sobre a colônia e colonizados.
        Essa era a prática dos povos dominantes. Podemos dizer que é assim até os dias de hoje. Apagavam a história, cultura, tradições e memória dos povos dominados, não permitiam histórias não oficiais entre os dominados e reescreviam suas histórias ou simplesmente apagavam, as histórias que não lhes interessavam manter.
        Em 1978, Milan Kundera, escreveu em “O livro do Riso e do Esquecimento” a seguinte frase: "Para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história. E uma outra pessoa lhes escreve outros livros, lhes dá outra cultura e lhes inventa uma outra História". É bem isso.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

A Guerra dos Emboabas e a imponente Matriz de Caeté

(Por Arnaldo Silva) Fundada em 1714, Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte aos pés da Serra da Piedade. A cidade abriga tesouros da arquitetura e arte colonial, além de sua riqueza natural e histórica. 
Fotografia: Sérgio Mourão/@encantosdeminas
A Guerra dos Emboabas
          A cidade foi palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709), confronto armado e violento entre paulistas e portugueses, que culminou com a vitória dos portugueses, apoiados pela Coroa Portuguesa. Emboabas era um termo pejorativo que os paulistas usavam contra portugueses e outros brasileiros. O motivo do conflito foi, disputa entre portugueses e paulistas pelo controle das minas de ouro recém descobertas.
          A guerra foi um marco da história de Minas de grande relevância para que Minas se tornasse uma capitania independente, fato que ocorreu em 1720.
Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso
Fotografia de Thelmo Lins
          Em meio a sua riqueza história, a Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, construída em 1756, é um dos marcos históricos e arquitetônicos de Caeté. Trata-se de um dos mais belos exemplares da arte barroca e uma das precursoras do estilo rococó em Minas Gerais.
Fotografia: Thelmo Lins
          Construída em alvenaria de pedra e não em estrutura de madeira e barro, como eram comuns naquela época, a igreja data da primeira metade do século XVIII, com atribuição do projeto a Antônio Gonçalves da Silva Bracarena. Há relatos de época, que diz que Bracarena não projetou a obra, apenas executou, sendo os riscos feitos por Manuel Francisco Lisboa.
Quem foi?
  Detalhes da ornamentação interior da Matriz. Foto: Thelmo Lins        
          Pra quem não conhece, Manuel Francisco Lisboa, era um renomado arquiteto, carpinteiro, construtor e mestre-de-obras português. Chegou ao Brasil em 1724, vivendo em Ouro Preto, até sua morte, em 1767.
          Na cidade, deixou grandes obras como pontes e igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1727 e a Igreja do Carmo, construída em 1766, além de ter construído o Palácio dos Governadores e feito outras obras em Ouro Preto e outras cidades. 
O pai de Aleijadinho
Interior da Matriz de Caeté - Foto: Thelmo Lins
          Seu talento e obras foram ofuscadas pelo talento notável do filho, que teve com uma de suas escravas. Era o pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Manuel Francisco Lisboa é mais conhecido hoje como, “o pai do Aleijadinho”.
O filho de Manuel Francisco Lisboa, o jovem Antônio Francisco Lisboa, estava iniciando nos primeiros passos na arte barroca, ensinada por seu pai.
          Aleijadinho, como mais tarde passou a ser conhecido, participou da ornamentação desta igreja como aprendiz, tendo esta obra influenciado na definição de seu estilo arquitetônico próprio, que fez dele o maior artista da arte barroca no Brasil e um dos artistas mais notáveis do mundo.
Igreja imponente
Altar-mor da Matriz - Foto: Thelmo Lins
          Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Caeté, ostenta uma imponente fachada, pilastras em relevo de cantaria, com janelas e portada, emolduradas em pedra, torres em corte quadrado, com óculo ao centro e cruz no topo.
          O interior da Igreja simplesmente impressiona pela riqueza dos detalhes e talhas douradas bem trabalhadas. Cada detalhe e cada entalhe é uma história e uma arte que impacta. A Igreja de Caeté é mais que uma igreja, é uma obra de arte pura! 
Fotografia de Thelmo Lins
          São oito altares com sanefas e baldaquinos, atribuídas a José Coelho Noronha. O forro da nave tem pinturas em perspectivas, o coro e pia batismal, em madeira. O retábulo do altar-mor, apresenta colunas salomônicas, anjos e um resplendor, onde estão onde estão simbolizados Deus Pai e o Espírito Santo e conta com a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso.  
Fotografia: Gustavo Simões/@gustavosimoes.art
          A Matriz é um dos mais belos e mais preciosos templos religiosos de Minas Gerais. Está perto de Belo Horizonte, apenas 55 km. Vale a pena visitar a cidade e conhecer a igreja.        

quarta-feira, 30 de abril de 2025

A igreja mineira em formato de navio negreiro e detalhes chineses

(Por Arnaldo Silva) Datada de 1717 e concluída por volta de 1720, é uma das mais antigas igrejas de Minas Gerais e uma joia da arte Barroca mineira. Por fora, uma singela e simples igreja. Por dentro, a decoração impressiona pelos detalhes das pinturas que retratam a vida de Jesus Cristo e Nossa Senhora. Arte feita em madeira, cedro e ouro puro.
 Fotografia: Jairo Nunes Ferreira
       Os traçados arquitetônicos da Igreja de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, a 20 km de Belo Horizonte, teve forte influência do estilo arquitetônico Nacional Português, já que a arte Barroca tradicional estava ainda criando identidade própria em Minas Gerais. Este estilo é considerado a primeira fase do Barroco Mineiro.
          Seguindo o estilo traçado, a reluzente luz dourada da riqueza do ouro de Minas Gerais e a beleza da arte sacra, são marcas evidentes do interior da Igreja de Nossa Senhora do Ó. 
Nossa Senhora representada grávida
 Fotografia: Thelmo Lins
         A imagem da Mãe de Jesus, retratada no altar da igreja, mostra a Maria, diferente das demais imagens de Nossa Senhora, geralmente com o menino Jesus nos braços. No altar da Igreja, Nossa Senhora é representada grávida. 
          É a imagem de Nossa Senhora da Expectação do Parto ou Nossa Senhora do Bom Parto, santa venerada em Toledo na Espanha desde o ano de 656, cuja fé chegou a Minas Gerais através dos bandeirantes paulistas que fundaram a cidade de Sabará. 
          O termo Expectação do Parto ou Bom Parto foi substituído pelo Ó devido a um cântico dedicado à Santa, cantado na véspera de seu dia, que iniciava com a palavra Oh numa longa exclamação. A partir dai ficou Nossa Senhora do Ó.
Obra única e singular
Fotografia: Thelmo Lins
          Pela irregularidade das pinturas, principalmente nos painéis, acredita-se que mais de um artista tenha participado da decoração interna da igreja.
          O principal artista, cuja obra é predominante no interior da Igreja do Ó foi Jacinto Ribeiro, artista natural da Índia, que residia em Minas Gerais desde 1711. As figuras e painéis presentes no interior da Igreja de Nossa Senhora do Ó foram pintadas a ouro sobre fundos em tom azul escuro, com bordas em vermelho e talhas douradas em moldura. 
Arquitetura em formato de navio negreiro
Fotografias: @gustavosimoes.art
          Pouca gente sabe ou ainda não percebeu, é que as igrejas construídas no início do século XVIII tiveram a parte frontal de suas plantas inspiradas na proa de um navio negreiro. 
          Desenhar a planta de uma igreja com a parte frontal da proa de um navio negreiro era tendência dos arquitetos da época devido a importância dos navios negreiros para a economia de Portugal e para a manutenção e ampliação da mão de obra escrava nas minas de ouro recém descobertas.
          Literalmente, a intenção era simbolizar a importância da mão de obra escrava trazidas pelos navios negreiros e mostrar o poderio do domínio português na região.
          Além da Igrejinha do Ó, de Sabará, outras igrejas mineiras tem as mesmas características arquitetônicas como por exemplo a Igreja do Rosário dos Pretos de Milho Verde, distrito de Serro, Igreja de São José da Lagoa de Nova Era, Igreja do Sagrado Coração de Jesus de Tabuleiro, distrito de Conceição do Mato Dentro, dentre outras.
          As igrejas construídas antes da terceira fase do Barroco Mineiro geralmente tinham as características frontais em formato de proa de navio negreiro. No caso da Igreja do Ó de Sabará, as semelhanças para por aí. O diferencial da igreja está em seu interior.
Detalhes chineses na ornamentação
Fotografia: Arnaldo Silva
          O interessante que os desenhos e personagens bíblicos retratos nas pinturas do artista indiano, tem traços orientais, chineses. 
Fotografia: Thelmo Lins
        A explicação para este detalhe diferente na pintura e arte barroca, é que o artista conhecia os estilos artísticos usados em Macau, uma antiga colônia portuguesa no Oriente, hoje pertencente à China.
          A época, Portugal tinha um intenso comércio entre Macau e Índia, o que explica a influência dos traços orientais usados na arquitetura portuguesa naquela época, pelos artistas e escultores portugueses que vieram para o Brasil no início do século XVIII, entre eles, Jacinto Ribeiro.
Bem tombado
          Devido seu valor cultural e arquitetônico, a Igreja de Nossa Senhora do Ó de Sabará foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, em 1938. O tombamento inclui toda arquitetura colonial da Rua Direita, onde se localiza a igreja.

terça-feira, 29 de abril de 2025

A origem vulcânica de Poços de Caldas

(Por Arnaldo Silva) Poços de Caldas é uma estância hidromineral, localizada no Sul de Minas, com 172 mil habitantes e distante 461 km de Belo Horizonte Está a 1186 metros de altitude e faz limites territoriais com Águas da Prata (SP); Andradas; Bandeira do Sul; Botelhos; Caconde (SP); Caldas; Campestre; Divinolândia e São Sebastião da Grama (SP).
Onde a cidade está, se acreditava ser a boca de um vulcão. Fotos: Thelmo Lins
        Cidade de beleza cênica, atraí turistas de todo o país e do mundo inteiro pela qualidade e propriedades medicinais de suas águas sulfurosas e medicinais, além de suas belezas naturais devido a riqueza de sua flora e fauna. No município forma catalogadas cerca de 300 espécies de aves como o tangará e uma espécie rara de rã Adenomera phonotriccus, que emite sons semelhantes ao canto de aves, como o da maria-sebinha-do-acre.
Fábrica de Cristais São Marcos - Registro de Luís Leite
        Além da sua riqueza arquitetônica, inspirada na arquitetura barroca, eclética e europeia, graças à presença de imigrantes europeus que vieram para a região no início do século XX como por exemplo as fábricas de cristais Cá d´Oro e São Marcos, que produzem cristais finos, inspirados na beleza dos cristais da ilha de Murano na Itália tradicional na fabricação de vidro desde 1291, no século XIII. 
        As famílias que fundaram as empresas são descendentes de vidreiros de Murano. A própria arquitetura das empresas tem traços da arquitetura romana.
A formação das águas termais
Uma das várias fontes de águas sulfurosas encontradas na cidade. Foto: Arnaldo Silva
        Segundo a ciência, esse processo teve início entre 80 milhões de anos, quando a região era formada por planaltos vulcânicos e vulcões ativos. Hoje todos os vulcões que existiam nessa região estão extintos.
        Nas profundidades subterrâneas do município, permanecem vestígios dos antigos vulcões, como lavas, rochas vulcânicas e águas que foram se acumulando ao longo dos milhões de anos nas galerias subterrâneas entre as frestas das rochas. Ao longo de milhões de anos, as águas subterrâneas foram desenvolvendo propriedades medicinais, devido as rochas vulcânicas.
        As águas quentes que brotam das profundidades das rochas vulcânicas, estão armazenadas nas galerias subterrâneas do Poços de Caldas há mais de 4 mil anos.
        Todas as atividades geológicas em decorrência da ação vulcânica, foram as responsáveis pelas origens das águas sulfurosas e de todo o complexo alcalino presente em Poços de Caldas.
Dentro da cratera de um vulcão?
Fotografia de Luís Leite
        A cidade tem origens em 1819, no século XIX, a partir da descoberta de fontes de águas termais e medicinais, foi se formando um povoado originalmente formado por tropeiros, garimpeiros e pessoas que vieram em busca de tratamento e cura de enfermidades. Esse fato, além das propriedades curativas das águas de Poços de Caldas, foi constatado e descrito minuciosamente pelo naturalista francês, Sainte´Hilaire.
        Estudando a região e as propriedades medicinais das águas, médicos e cientistas da época, afirmavam que a cidade estava situada exatamente sobre uma boca de um grande vulcão. As montanhas em redor da cidade dava a impressão de ser uma caldeira vulcânica.
Se subirmos no topo mais alto da cidade, por exemplo onde está o Cristo Redentor, verdadeiramente temos essa impressão, devido à cidade está circundada por montanhas, que os pesquisadores do passado acreditavam fosse a cratera de um vulcão.
        Tal raciocínio tinha bom base a crença de que as caldeiras vulcânicas existentes no mundo fossem as bocas de um grande vulcão, formadas devido erupções vulcânicas. Hoje esse conceito mudou. Poços de Caldas não surgiu dentro de uma cratera de um vulcão e sim sobre um planalto vulcânico.
O Planalto Vulcânico de Poços de Caldas
Foto: Arnaldo Silva
         A área da imagem acima, onde a cidade está localizada é um planalto de formação vulcânica. A área do planalto se estende por 800 km² e 30 km² de diâmetro.
        Segundo pesquisadores, o planalto foi formado há 80 milhões de ano, devido a intrusão de rochas alcalinas e do rompimento da crosta terrestre. Esse fenômeno natural fez com que essas rochas alcalinas “subissem”, elevando a região em mais 500 metros de al
        Após um tempo, as rochas começaram a sofrer esfriamento, sedimentando e literalmente, afundando, formando assim o que a ciência chama de Planalto Vulcânico, que é a forma de relevo elevada e relativamente plana, formada pela acumulação de lava e cinzas vulcânicas ao longo do tempo, através de erupções vulcânicas. É o caso de Poços de Caldas.
Não é a boca de um vulcão
        Estudo e pesquisas de que Poços de Caldas foi formada literalmente dentro da boca de um vulcão não é aceita atualmente por boa parte dos  pesquisadores. Isso porque falta um elemento primordial para confirmar que o lugar foi um vulcão em atividade. Esse elemento é a lava vulcânica, encontrada em arredores de cidades que comprovadamente tiveram vulcões ativos há milhões de anos.
        Foram encontradas lavas vulcânicas na parte interna do planalto vulcânico de Poços de Caldas. Para se afirmar a existência de um vulcão ativo onde está Poços de Caldas deveria haver vestígios da presença de lavas vulcânicas em redor de toda a área. Isso porque os vulcões, quando entram em erupção, espalham lavas que podem percorrer centenas de quilômetros em redor. Não foram encontrados vestígios de lavas vulcânicas em redor do planalto de Poços de Caldas.
        A ausência de vestígios de lava vulcânica é indício da não existência de um vulcão de grandes proporções. A cidade se encontra em planalto de origem vulcânica, confirmada pela ciência, mas não exatamente na caldeira de um vulcão.
        O que se sabe é que depois da estabilização das rochas vulcânicas, processo que levou milhões de anos após ocorrência do fenômeno, foram formados pequenos vulcões dentro desse planalto. Tal afirmação tem como base a presença de 13 estruturas circulares semelhantes a pequenos vulcões, evidenciando assim a presença de vulcões de menor porte e menor poder destruidor.
Há risco de erupção vulcânica?
        Apesar de todas as informações de pesquisadores atuais, tem gente que afirma que a primeira teoria é a correta, que a cidade foi formada na boca de um vulcão. Mais que isso, acreditam que esse vulcão entrará em erupção. A ciência refuta qualquer possibilidade de uma erupção vulcânica ocorrer. Quem afirma que a cidade está na caldeira de um vulcão e que este mais cedo ou mais tarde irá “acordar” e entrar em erupção, está em delírio e quem acreditar nesta teoria, está igualmente delirando.
Origem de Poços de Caldas
        Em 6 de novembro de 1872, Joaquim Floriano de Godói, então presidente da Província de Minas, desapropriou as terras de águas temais sulfurosas da região, tornando-as de interesse público, inclusive as terras onde o povoado se formara, de propriedade do Capital Joaquim Bernardes que doou 96 hectares de sua propriedade. O povoado foi urbanizado, seguindo os padrões arquitetônico e urbanístico da época, feito pelo engenheiro Honório Rodrigues Soares do Couto.
Fotografia de Luís Leite
A data de 6/11/1872, é o marco da fundação da cidade. Em 6/12/1879, foi elevado a freguesia adotando o nome de Nossa Senhora da Saúde das Águas de Caldas, subordinado a Caldas MG. Em 1° de setembro de 1888, o povoado foi elevado à categoria de vila, adotando o nome de Poços de Caldas e em 18 de setembro de 1915, a Lei Estadual n° 663 concede a Poços de Caldas o título de cidade.
Origem do nome
Fotografia de Luís Leite
        O nome foi inspirado no semelhança da origem de Poços de Caldas com a estância hidromineral portuguesa Caldas da Rainha, visitada pelo Imperador Dom Pedro II e Imperatriz, Tereza Cristina. O casal imperial também visitou Poços de Caldas em outubro de 1886. Vieram para a inauguração de um ramal da Estrada de Ferro Mogiana.
        Outra semelhança com a cidade lusitana é que tanto em Caldas da Rainha, quando na então Vila de N. S. da Saúde das Águas de Caldas, em suas origens, homens e animais usavam os poços de águas. Dai foi juntar o nome "poços" com " caldas" e o vilarejo elevado a distrito adotou o nome de Poços de Caldas. Quando foi elevada à cidade, o nome Poços de Caldas foi mantido.
Cidade desenvolvida
Vista parcial da cidade. Foto: Luís Leite
        Cidade com excelente estrutura urbana, possui um centro histórico com casarões coloniais e em diversos outros estilos, praças arborizadas, igrejas seculares, jardins, ruas bem cuidadas e parques diversos.
        Além disso, a cidade conta com uma sofisticada e variada rede hoteleira e gastronômica com restaurantes e bares de categoria internacional.
O que visitar em Poços de Caldas?
Fotografia de Luís Leite
Fábrica de Cristais Cá d´Oro: Fundada em 1965, a Cá d'Oro mantém as tradições da Ilha de Murano, na Itália, e permite aos visitantes observar a produção artesanal.
Fábrica de Cristais São Marcos: É uma das maiores fábricas de cristal Murano do mundo, com sede em Poços de Caldas. Oferece peças únicas e inteiramente brasileiras desde 1962.
Festas de inverno: Poços de Caldas é conhecida por suas festas de inverno, com diversas atividades e eventos culturais.
Spas: A cidade oferece diversos spas, onde é possível fazer tratamentos de relaxamento, massagens, banhos imersivos e outros serviços.
Fotografias de Arnaldo Silva
Além de: Palace Cassino Hotel; Mercado Municipal; Feira de Artesanato da Praça dos Macacos; Serra de São Domingos com 1.686 metros de altitude; Represa Bortolan, os bares em redor e os passeios de escuna,Teleférico; Basílica de Nossa Senhora da Saúde; Fonte dos Amores; Parque do Cristo Redentor; Águas Termais; Thermas Antônio Carlos; Cachoeira Véu das Noivas; Zoológico das Aves; Urca; Recanto Japonês; Relógio Floral e Calendário Floral; Parque de diversões Walter World; Parques José Afonso Junqueira e Parque Antônio Molinari.
Fotografias de Thelmo Lins
Museu Histórico e Geográfico: Permite conhecer a história e a geologia da região. Visite Poços de Caldas
Fotografias de  Luís Leite
        São riquezas minerais de origem vulcânicas, diversas fontes de águas sulfurosas espalhadas pela cidade, além de sua beleza natural, torna Poços de Caldas cidade única no mundo. Além disso, a cidade se estruturou ao longo do século XX, se tornando uma cidade turística e referência na área em todo o Brasil.

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