Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Itueta: a cidade trilingüe de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Itueta conta com cerca de 6.500 habitantes. Está a 403 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce e faz limite em Minas com Resplendor, Santa Rita do Itueto, Aimorés e Baixo Gandu no Espírito Santo. Seu nome é a junção de duas palavras do tupi. "Itu" significa "muitas e "eta" "cachoeiras. O Rio Doce passa no município, que é ainda banhado pelos rios Manhuaçu e Resplendor, além de córregos, como o Quatis. Ao longos dos trechos desses rios, inúmeras cascatas e cachoeiras são formadas, por isso o nome da cidade. Quem nasce em Itueta é ituetense. (na foto abaixo, fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta, temos os 3 povos presentes na cidade: Pomeranos, Italianos e brasileiros de origem portuguesa)
Origem de Itueta
          O povoamento do que é hoje o município de Itueta começou a ser formado a partir de 1914, com chegada de imigrantes alemães e em maior número, imigrantes da Pomerânia, os pomeranos. Esses povos se fixaram ao norte, na margem esquerda do Rio Doce, onde formaram várias comunidades.
          Na década de 1930, começou a chegar em terras ituetenses, um grande número de imigrantes italianos, fixando na margem direita do Rio Doce, ao sul de Itueta. Da mesma forma, formaram várias comunidades.
          Região de terras férteis, com muita água e madeira, além de não ser habitada, a imigração contou com apoio dos Governos de Minas Gerais e Espírito Santo, visando atrair os imigrantes, bem como os que já viviam em terras capixabas, para povoarem a região.
          O crescimento e desenvolvimento de Itueta ganhou grande impulso com o surgimento de várias serrarias e ampliação dos ramais da Ferrovia Vitória Minas, na década de 1920. A ferrovia teve seu primeiro trecho inaugurado em 1904, ampliando-se ao longos das primeiras décadas do século passado até Vitória, no Espírito Santo.
          Com os imigrantes italianos, alemães e pomeranos, se instalaram na região, bem como outras famílias de várias regiões mineiras e do Brasil para trabalharem na ferrovia e em outras atividades. Esses povos deram origem ao distrito de Itueta, reconhecido em 1938, subordinado a Resplendor. Em 27 de dezembro de 1947, o distrito é elevado à cidade emancipada. Nascia assim o município de Itueta, na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura da cidade. (na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta, vista parcial da cidade)
Os imigrantes
          A presença dos imigrantes com formação de colônias e comunidades rurais, foi o marco inicial do povoamento e colonização de Itueta. Os italianos, alemães e principalmente pomeranos, por serem a comunidade maior, preservaram ao longo dos anos, suas origens históricas, arquitetônicas, familiares, gastronômicas, folclóricas e culturais, valorizando com isso as danças, a música e a língua original de seus antepassados. (nas imagens acima fornecidas pela Secretaria de Cultura, produção caseira de fumo de rolo, na propriedade do Sr. Agenor Nicoli, em sua propriedade na comunidade italiana de Santa Luzia)
          Na cidade, o português, o pomerano e o italiano são os idiomas falados. Itueta é uma das poucas cidades no Brasil com características trilíngue, onde seu povo fala três línguas diferentes.
          Várias cidades mineiras têm alemães, italianos, pomeranos e vários outros povos, mas como comunidade organizada, que busca preservar seus idiomas de origem e ainda formada em grande número vivendo em comunidades organizadas e ativas culturalmente, como é o caso das comunidades pomeranas e italianas em Itueta, não tem outra em Minas Gerais.
Formação de comunidades em Itueta
          Em Itueta, os imigrantes e descentes deram origem a duas grandes comunidades, divididas pelo Rio Doce. Pomeranos e alemães concentraram-se ao norte do município e italianos, ao sul de Itueta. A história do município, está diretamente ligada a imigração italiana e principalmente, pomerana, que vieram em maior número e são a maior comunidade de imigrantes pomeranos de Minas Gerais.
          No mapa acima fornecido pela Secretaria de Cultura de Itueta, temos ao norte, as primeiras comunidades povoadas por pomeranos e alemães, com a comunidade da Vila Neitzel sendo a sede do distrito, por ser a maior comunidade entre as demais comunidades pomeranas do norte de Itueta e a mais desenvolvida. Ao sul, temos o distrito de Quatituba, formado pelas comunidades de imigrantes italianos, tendo como ponto de referência Vila de Santa Luzia, a maior e mais desenvolvida comunidade italiana do distrito.
          Em Itueta se dedicaram às atividades agrícolas, desenvolvendo a economia local, bem como impulsionando o crescimento da cidade.
          Tanto pomeranos quanto italianos, chegaram com poucos pertences, após atravessarem o Rio Doce, andando cerca de 40 a 50 km a pé, pela mata fechada, até seus destinos.
          Começaram do nada, construindo barracos simples e formando lavouras, em trabalho duro. Enfrentando ainda as dificuldades iniciais como a resistências dos indígenas Botocudos, nativos da região, o risco de ataques de animais selvagens como lobos, onças e cobras, além das doenças comuns na época como chagas, sarampo, tifo, malária, febre amarela e pragas comuns em matas como pulgas, carrapatos, bicho-do-pé, etc. 
          Com muito sacrifício, dedicação e trabalho, em pouco tempo superaram as dificuldades iniciais,  desenvolveram suas comunidades, construíram casas melhores em pau-a-pique e esteios de braúnas, igrejas. Com o tempo, substituíram as carroças e carros de bois por ônibus e caminhões, facilitando o escoamento da produção e transporte dos moradores das comunidades.
Os Italianos de Itueta – A Vila de Santa Luzia
          Os italianos chegaram à região de Itueta entre 1920 e 1940, fugindo da fome, pobreza e miséria, que assolava a Europa e ainda na eminência da Segunda Guerra Mundial.
          Os imigrantes se estabeleceram inicialmente nos arredores de Alfredo Chaves e Vargem Alta, no Espírito Santo e pouco depois, uma parte desses imigrantes deixou essa região rumo a Itueta. Chegaram a uma terra inabitada, sem povoamento, de Mata Atlântica fechada. (Pelas imagens acima, fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta, dá para percebermos a evolução da comunidade italiana de Santa Luzia)
          Começaram do zero, construindo suas casas no estilo arquitetônico italiano, bem como igrejas. No braço e com muita disposição, abriram a mata densa na foice, enxada e no arado, para iniciar a produção agrícola. (fotos acima fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta)
A Nova Itália
          Foram chegando, formando comunidades nas margens de lagoas e cabeceiras do Rio Quati. Inicialmente a comunidade italiana estabelecida ao Sul de Itueta, passou a chamar a região de Nova Itália, sendo a maior e mais estruturada comunidade, a de Santa Luzia. De Nova Itália, o nome foi alterado posteriormente para Quatituba, permanecendo as outras comunidades com seus nomes originais. Todas as comunidades italianas ao sul de Itueta fazem parte do distrito de Quatituba.
A comunidade de Santa Luzia
          Santa Luzia é uma pequena vila que conta com escola, uma igreja com arquitetura tradicional das comunidades rurais mineiras. A igreja é dedicada a Santa Luzia. Foi construída na década de 1940 e em seu entorno há uma singela pracinha, um pequeno comércio, ruas calçadas e poucas casas, além de um cemitério, inaugurado em 26 de maio de 1926. (foto acima de autoria de Luciene Fazolo)
          A comunidade se reúne na vila durante as festividades religiosas como o dia da padroeira da vila, Santa Luzia, no Corpus Christ, Semana Santa e também, nos cultos semanais realizados pela comunidade local e na missa mensal, celebrado por um padre da Paróquia de São João Batista de Itueta, a qual a igreja é subordinada.
          Isso porque a maioria da comunidade viva na zona rural, em pequenas propriedades, trabalhando na agricultura com cultivo de lavouras variados e produção caseira de queijos, cachaças, quitandas, doces, geleias, além da produção de fumo de rolo.
          A pequena vila conta com uma venda típica do interior mineiro. Aquelas vendas que é uma mercearia, armazém, lojinha de miudezas, brinquedos, utensílios domésticos e boteco ao mesmo tempo. Aqueles pitorescos lugares, que tem de tudo e mais um pouco, além de ser um ponto de encontro de amigos da vila para uma longa prosa encostado no balcão acompanhado por um bom tira gosto e cachaça. (fotografias acima da Luciene Fazolo)
          Em Santa Angélica, outra comunidade rural do distrito de Quatituba, temos a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma escola e algumas casas. No restante do distrito, a maioria dos italianos e descendentes vivem em seus sítios, fazendas e chácaras.
Preservação das origens italianas
          No distrito de Quatituba, nos povoados e Vila de Santa Luzia os sobrenomes de famílias já é uma clara evidência da presença italiana. São sobrenomes, como Baldon, Fazolo, Benicá, Bonisegna, Pazini, Pancini, Costalonga, Rigo, Zanon, Dalfior, Nico, de Paula, Bonella, Hespanhol, BStefanon, Zorzal, Nicoli, Cremasco, Venturim, Raggio, dentre outros tantos.
          Além disso, principalmente os italianos e seus descendentes mais antigos, preservam a língua italiana, falando em português e italiano. Isso incentiva os mais jovens e crianças e se interessarem pela língua e cultura do país de origens de seus pais e avós, a Itália.
          Não só isso, pelas danças tradicionais como por exemplo a Tarantela e Siciliana. As tradicionais canções folclóricas e populares italianas, bem como diversos cantores e bandas estão presentes no dia a dia dos moradores das comunidades italianas de Quatituba.
          Além disso, vale destacar o valor que a comunidade italiana de Santa Luzia dá à culinária original da Itália, considerada umas das mais ricas e tradicionais cozinhas do mundo.
A Itália
          Formalmente a Itália, como conhecemos hoje, foi criada em 17 de março de 1861. Antes, a região era uma península formada por estados e ilhas independentes. Esses estados e ilhas foram unidos e formaram uma só nação a partir dessa data, no governo do rei da Sardenha Vítor Emanuel II, da Casa de Saboia. Roma se tornou a capital da Itália. A cidade foi fundada em 793 a.C.
          A base da cultura, culinária, arquitetura e tradições italianas, principalmente de sua cozinha, que ao longo dos quase 3 milênios, recebeu influências da cozinha etrusca, da antiga Grécia, da antiga Roma, Bizantina, Hebraica e Árabe. Por isso ser uma cozinha rica em pratos variados e apreciados no mundo todo.
A boa mesa italiana e mineira juntas
          Em Santa Luzia e demais comunidades italianas de Quatituba, os tradicionais pratos da cozinha italiana como a Pizza, o Ravioli, o Spaghetti, a Lasagna, Risotto, Arancino e o Tiramisu são tradicionais. Além disso, tem os tradicionais pães italianos como o Ciabatta, focaccia, fugliese, foscano e o eataly, pão rústicos de fermentação natural. 
          Sem contar o croissant/brioche, o cappuccino, os famosos doces italianos como o cannoli, o zeppole, o pandoro, o pandolce, o struffoli. Sem contar os italianos queijos famosos como a mozzarella, a ricota, o provolone, o Parmesão, o mascarpone e o burrata.
          São pratos sempre presentes nas mesas da comunidade. Em sua maioria, os pratos italianos são a base de massa de trigo, com muito azeite de oliva, vinhos e queijos diversos, já que o país tem tradição milenar na produção de vinhos e queijos, grãos, cereais, legumes, temperos e especiarias.
            Não apenas os pratos italianos, isso porque todo italiano aprecia uma boa mesa e na Vila de Santa Luzia, junto com os pratos típicos da Itália, estão também os pratos típicos de Minas Gerais, como as quitandas, biscoitos, pratos feitos a base de carnes, nossos doces e queijos e cachaça também.
          Comida típica em Santa Luzia é uma tradição valiosa. Nos encontros de famílias, são preparados verdadeiros banquetes no quintal das casas. São pratos italianos e mineiros, acompanhados de bebidas mineiras e italianas. (as fotos de culinária acima foram fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta e foram feitas na casa do Sr. Agenor Nicoli)
Os Pomeranos de Itueta – A Vila Neitzel
          Incentivados pelos governos de Minas Gerais e Espírito Santo, diante da necessidade de povoamento do Vale do Rio Doce e a partir de 1914 começaram a chegar à região de Itueta um grande número de descendentes de alemães e pomeranos. Atravessaram o Rio Doce de balsas e canoas, a partir de Baixo Guandu, no Espírito Santo, entrando em terras mineiras e seguindo a pé carregando seus filhos e seus poucos pertences nas costas, por 40 km, abrindo picadas das matas até chegarem ao norte de Itueta, onde fixaram-se em várias comunidades, sempre à beira de córregos e lagoas.
          Eram agricultores, buscavam em Minas Gerais terras férteis, melhores condições de vida e trabalho. A preferência por locais próximos a água era primordial, pois necessitavam de água para fazer a terra produzir.
          Formaram comunidades, suportaram as dificuldades iniciais como desbravar a terra, enfrentar a resistências dos indígenas Botocudos, doenças, etc., mas resistiram. Criaram suas famílias, outras foram surgindo e se formando. Construíram casas, igrejas, escolas, investiram em diversificação da agricultura e em maquinários de ponta para época, enfim a vida seguia enquanto prosperavam. (a imagem acima, cedida pela Secretaria de Cultura de Itueta, mostra momento da inauguração de uma Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil na comunidade pomerana local)
          Hoje são mais de 2 mil descendentes de pomeranos que vivem ao norte de Itueta. A maior comunidade, que surgiu em terras do fazendeiro, também de origem pomerana, Henrique Neitzel, dá nome à comunidade em geral. É dotada de boa estrutura como cemitério, posto de saúde, igrejas, escola, farmácia, mercado, etc. (na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta, a Vila Neitzel)
          Ao andar pela comunidade pomerana, percebe-se claramente a origem germânica de seus moradores, seja na arquitetura, no grande número de igrejas luteranas, nos tons de cabelos, pele e olhos bem claros, na música, na dança, na língua e nos sobrenomes alemães e pomeranos como por exemplos: Shulz, Strutz, Ramlow, Witt, Hermann, Dettmann, Kurth, Roos, Kanke, Ramlow, Laurret, Borchardt, Fleguer, Keplin, Radünz dentre outras dezenas de sobrenomes. (fotos acima fornecidas pela Jeane Shulz)
          O povo pomerano, por tradição, preserva sua história, sua cultura, suas tradições, sua música, suas danças e sua religiosidade. Desde a época da Reforma Protestante na Alemanha, liderada por Martinho Lutero, no século XVI, os pomeranos seguem a religião Luterana. (nas fotos acima fornecidas pela Jeane Shulz, inauguração de uma das Igrejas Evangélica de Confissão Luterana na cidade de Itueta MG)
          Os pomeranos vieram da Pomerânia, um povo de origem milenar que vivia em um território situado entre a Alemanha e Polônia. Era uma região independente, com cultura, tradições, história e língua diferentes do alemão-padrão. Quem nasceu na Pomerânia, não é alemão, é pomerano. São territórios, história, tradição, língua e origens diferentes.
          Com as constantes guerras na Europa, desemprego, fome, pobreza, além da ambição de outros povos por seu território, devido a região ter saída pelo Mar Báltico, os pomeranos foram vítimas de perseguições ao longo dos séculos. Por esses motivos começaram a deixar sua região no século XIX, imigrando-se para os Estados Unidos e Brasil, a partir de 1859. O então território da Pomerânia foi anexado à Alemanha e Polônia em 1945.
          O território foi extinto, mas o povo não. Em todas os países, estados e cidades em que estejam, os pomeranos são unidos, vivem em comunidades e buscam preservar sua memória e sua história, através da sua língua, cultura, tradições, gastronomia e religiosidade.
          Na Vila Neitzel, os descendentes preservam suas raízes ancestrais. Valorizam a culinária pomerana e tem no Brote, um pão típico pomerano e alemão, como sua maior identidade gastronômica. Além disso, falam e estudam o pomerano. Nas escolas que existem nas comunidades, a língua pomerana faz parte do currículo escolar.
          Além disso, preservam os rituais pomeranos do casamento, fúnebres, religiosos e familiares.
          Todos os anos, acontece a Festa do Brote e Festa Pomerana, sempre no mês de agosto. O destaque gastronômico da festa é o Brote, um pão feito com massa de farinha de milho, mandioca, batata-doce e cara, além do grupo de Dança Pomerisch Dansgrup For Minas.
          O grupo foi criado em 2010 com o objetivo de resgatar as vestimentas, a música e seus instrumentos musicais, como a concertina e as danças pomeranas tradicionais, respectivamente. Nas festividades religiosas, de casamentos ou familiares, se apresentam com vestimentas tradicionais pomeranas e principalmente na Festa Pomerana da Vila Neitzel, onde o grupo é principal atração da festa. (na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta, Pomerisch Dansgrup For Minas em apresentações)
A velha Itueta debaixo d´água
          Na primeira década de 2000, a parte urbana da sede de Itueta foi reconstruída em outro local mais elevado, urbanizado e planejado, com toda a população da sede passando a viver na nova Itueta, entre 2004 e 2005.
          A nova Itueta contava com ruas planejadas, igrejas e casario novos, prédios públicos modernos, centro cultural, estação de tratamento de esgoto e de lixo, museu, rodoviária e acesso pavimentado para as cidades vizinhas e BR-259. Em termos de tradição, artesanato, cultura e manifestações populares e religiosas, continuam presentes da mesma forma que antes. (na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura, o início da construção da Nova Itueta, antes da inundação da velha Itueta)
          A Itueta antiga foi inundada por um mundaréu de água e está toda debaixo d´água, para a formação do lago da Usina de Aimorés. As águas da represa não atingiu os povoados, permanecendo italianos e pomeranos, que continuaram preservados.
          As lembranças de como era a cidade antes de ser submersa, ficaram na mente dos moradores antigos, em fotos e pinturas em telas, como esta acima do artista plástico Alfredo Vieira, de Lagoa Santa MG, que mostra como era Itueta antes de ser submersa pelas águas da represa.
O que fazer em Itueta?
          Além de conhecer a Festa Pomerana, a cultura, gastronomia, história, língua e tradições pomeranas, alemãs e italianas presentes na Vila Neitzel e na Vila de Santa Luzia, o visitante tem como atrativos o lago da Usina Hidrelétrica de Aimorés, no caminho do Rio Doce, que é outro atrativo para a prática de esportes aquáticos, náuticos e da pesca, além da beleza da paisagem de Mata Atlântica. (imagens acima e abaixo fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          Não apenas isso, na zona rural, fazendas de grande valor histórico, belas cachoeiras e cascatas como no rio Quati e nos córregos do Quatizinho e na Pedra do Santo Cristo.
          A origem de Itueta é na imigração europeia mas a cidade não foi formada apenas por descendentes de imigrantes, povos que vieram de Minas Gerais e do Brasil para trabalhar nas serrarias e Ferrovia Vitória Minas, no início do século passado se fazem presentes com sua história, cultura e religiosidade.
          Igrejas Luteranas fazem parte da vida religiosa de Itueta, bem como a Igreja Católica, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, igrejas evangélicas como a Assembleia de Deus, Batista e Presbiteriana, dentre outras denominações religiosas e suas festas religiosas, que são atrativos do município. (na imagem acima fornecida pela Jeane Shulz, Igreja Adventista do 7° Dia em comunidade rural da Vila Neitzel e abaixo, inauguração de Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Itueta MG)
          Entre as festas religiosas, destacamos os festejos da Semana Santa, o Corpus Christi, o dia do padroeiro da cidade, São João, celebrado em 24 de junho, o dia do Evangélico, em 31 de outubro. Tem ainda o dia do aniversário da cidade, comemorado em 27 de dezembro.
          Além disso, a cidade de Itueta, por ter sido reconstruída de forma planejada, com ruas bem traçadas é uma cidade charmosa, acolhedora e atraente. (na imagem acima do Elpídio Justino de Andrade, a represa da Usina Hidrelétrica de Aimorés MG)
          Conta com ótima estrutura urbana, com hotéis, pousadas e restaurantes com comida típica, comércio variado, pequenas indústrias familiares, setor de prestação de serviços de boa qualidade, além da agricultura familiar e os produtos da terra como queijos, doces, quitandas, frutas, verduras e legumes. A agricultura familiar, a pecuária de corte e leiteira são as principais atividades econômicas do município.
          Seu povo é muito gentil, hospitaleiro e recebe bem os visitantes, seja na sede e principalmente nas vilas e povoados de origem italiana e pomerana, como Santa Luzia e a Vila Neitzel.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

A Festa Pomerana de Itueta e o grupo de dança pomerana

(Por Arnaldo Silva) Itueta fica a 403 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. Dentre seus 6.500 moradores, 2 mil são descendentes de imigrantes alemães e pomeranos. É a maior comunidade pomerana de Minas Gerais.
          A Pomerânia era uma região autônoma na Europa Oriental, ocupada por pomeranos há vários séculos antes de sua extinção. Ficava na Prússia, sendo uma parte da Pomerânia no território da Alemanha e outra em território da Polônia, margeados pelos rios Vistula e Odra e o rio Recknitz. Após a Segunda Guerra Mundial, o território pomerano foi incorporado à Alemanha e Polônia. (Fotografia acima de William Wesphal/Portal Baixo Guandu))
         Os pomeranos têm origem na Europa Indo-europeus. É um povo com língua própria, cultura, vestimentas, música, dança, história, tradições e origens diferentes dos alemães e poloneses. Ou seja, os pomeranos não são alemães, são pomeranos. (fotografia acima de @paulo_broseguini)
          Fugindo da guerra, da fome, do preconceito e da intolerância religiosa, os pomeranos começaram a deixar sua região a partir de 1859, imigrando para os Estados Unidos e principalmente, Brasil, se instalando nos estados do Sul do país e no Espírito Santo, estado com enorme concentração de pomeranos.
          Em busca de terras férteis e melhores condições de vida e trabalho uma parte dos pomeranos deixaram o Espírito Santo no início do século XX, atravessaram o Rio Doce e colonizaram o Norte de Itueta. Durante a Primeira Guerra e depois, chegaram novos imigrantes pomeranos e alemães à Itueta.
Em Itueta formaram várias pequenas comunidades rurais, instaladas nas proximidades de córregos e lagoas. Isso porque os pomeranos têm grande vocação para o trabalho com a terra. Água é essencial para fazer a terra produzir e terem alimentos, por isso a opção de formarem comunidades nas proximidades de córregos. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          Hoje, os povoados e vilas pomeranas de Itueta formam um distrito, tendo como sede a maior comunidade local, dotada de escola, farmácia, posto de saúde e comércio, a Vila Neitzel, comunidade formada na fazenda de Henrique Neitzel, pomerano que se instalou na região a partir de 1920.
           Oficializado por Lei em 1979, o distrito adotou o nome de sua maior comunidade, Vila Neitzel. Com a Vila Neitzel e seus subdistritos, formam uma comunidade de pouco mais de 2 mil descendentes de pomeranos e alemães.
Os pomeranos de Itueta
          A comunidade luta para preservar sua cultura, história, tradições, culinária, a música pomerana, seus rituais religiosos presentes em funerais, casamentos, batismo e confirmação da fé Luterana, as danças e principalmente a língua.
          Na Vila Neitzel, fala-se o português e o pomerano. Inclusive, a língua pomerana passou a ser integrada ao currículo escolar. É um povo que valoriza sua história e suas origens. Uma das culturas pomeranas preservadas na Vila Neitzel é a Festa do Brote, um pão típico da Alemanha e Pomerânia, feito originalmente com trigo.
          Como na época da colonização pomerana na região não havia trigo, a iguaria sofreu adaptações à mineira. O trigo foi substituído por fubá de moinho ou fubá de milho de canjica. É assado no forno a lenha, moldado na folha de bananeira, como os mineiros fazem para assar algumas quitandas, já que não havia forma para pão na época.
Não só isso, na massa vai ainda mandioca, cará, batata e para adoçar mais, colocam banana também.
          Assim nascia um pão tradicional da Pomerânia e Alemanha. O nome é Broud, mas foi “amineirado” e passou a se chamar Brote e também “myberbroud”, ou seja, Pão de Milho.
          Esse pão foi criado para saciar a fome e é consumido pelos pomeranos em uma mesa farta, com muitas outras iguarias, principalmente na primeira refeição do dia, o café da manhã. (nas fotos acima cedidas pela Secretaria de Cultura de Itueta MG, o brote na folha de bananeira e já assado)
          Na mesa das famílias pomeranas tem o brote, banha de porco, isso mesmo, banha de porco, manteiga, linguiça defumada crua, geleia, carne de boi, marreco ou de pato, bolos, coalhada, batata-doce e dependendo da ocasião, com vinho, cerveja e cachaça também. É um alimento bem forte e feito para saciar a fome.
          Por tradição de décadas, esse pão faz parte das festividades locais, como eventos sociais, familiares, casamentos, aniversários e batizados. Esse pão é associado ao fortalecimento dos laços familiares, além de preservar a cultura pomerana.
          Esses eventos familiares em torno do brote era chamado pela comunidade pomerana da Vila Neitzel de Festa do Brote.
          Nos encontros de famílias e festejos pomeranos, os mais antigos sempre falam em pomerano, despertando com isso o interesse das crianças e jovens pela língua nativa de seu povo.
          Mesmo assim, percebiam que faltava uma festa maior, que envolvesse toda a comunidade no resgate e divulgação das tradições pomeranas. Assim foi surgindo a ideia da Festa Pomerana, aglutinando não apenas a Festa do Brote, mas a culinária pomerana em geral, a música, a dança, a cultura e língua. Nascia assim o embrião da Festa Pomerana de Itueta. (na imagem acima forneceida pela Secretaria de Cultura de Itueta, preparativos de evento junino na Vila Neitzel)
Pomerisch Dansgrup Fon Minas
O grupo de Dança Folclórica de Minas Gerais
          Um das identidades pomeranas é manifestada através da dança e preservação da vestimenta tradicional dos camponeses pomeranos. É uma tradição passada ao longo dos séculos, de geração para geração.
          Com o objetivo de fortalecer a língua e resgatar a cultura pomerana local, através da música, dança, vestimentas tradicionais e instrumentos musicais, em 2010, foi criado na Vila Neitzel, o grupo de Danças Folclóricas Pomerisch Dansgrup Fon Minas, traduzindo, Grupo de Dança Pomeranos de Minas. Inicialmente tiveram apoio de comunidades pomeranas do Espírito Santo para conhecerem e aprenderem as danças, a música e os trajes, através de professores voluntários e conhecedores da cultura pomerana. (fotografia acima e abaixo de @paulo_broseguini)
          Atualmente o Pomerisch Dansgrup Fon Minas é formado por 15 casais de jovens entre 15 a 30 anos, descendentes de imigrantes pomeranos. O ensaio do grupo acontece todos os fins de semana, na quadra da escola da Vila Neitzel.
          Esse envolvimento da comunidade fortalece o laço histórico do povo pomerano, na luta pela preservação de sua história, língua e cultura, bem como une e fortalece a comunidade pomerana da Vila Neitzel.
          Nesse sentido, a organização das atrações culturais da festa ficam a cargo do Wallex Schemelpfenig, que é o diretor do grupo de dança, além de coreógrafo e um dos principais produtores e colaboradores da Festa. Inicialmente, os recursos para bancarem a festa e vestimentas vinham de patrocínios, hoje o grupo conta também com apoio do poder público. (foto acima de William Wesphal/Portal Baixo Guandu)
A Festa Pomerana
          O Pomerisch Dansgrup Fon Minas é a principal atração da tradicional Festa Pomerana da Vila Neitzel, que geralmente ocorre em agosto. Além do grupo da Vila, durante a Festa Pomerana, grupos de dança pomeranos de outras cidades brasileiras, principalmente do Espírito Santo, se apresentam.
          Durante os dias da Festa Pomerana além da dança folclórica pomerana, acontece shows com bandas locais de música alemã, pomerana e brasileira, como o forró. Na abertura tem desfile na principal rua da Vila Neitzel, com carroções, mostra de produtos da terra, carros decorados nas cores da Pomerânia apresentando a rainha e princesas da festa e grupos em trajes típicos, etc. (fotografias acima do @paulo_broseguini)
          O local da festa é na quadra da escola da Vila Neitzel que é decorada com brasões das famílias locais, objetos e fotos antigas da comunidade, instrumentos antigos camponeses, flores e bandeirinhas nas cores azul e branca, cores tradicionais da bandeira da antiga Pomerânia. As bandeirolas são suspensas, formando um imenso arco com os grupos se apresentando no centro. (na fotografia acima de @paulo_broseguini, as princesas e rainha da Festa Pomerana de 2023)
Festa única em Minas
          A Festa do Brote – A Festa Pomerana da Vila Neitzel, é a única do gênero em Minas Gerais e um dos bens imateriais de Itueta MG. É a melhor época para o povo mineiro conhecer um estilo de vida diferente, uma cultura milenar, uma língua preservada e uma culinária das mais variadas e saborosas de todo o mundo. (fotografia acima e abaixo de William Wesphal/Portal Baixo Guandu)
          Só para se ter ideia da riqueza da culinária alemã e pomerana em geral, são mais de 300 receitas somente de pães diferentes, sem contar outros pratos tradicionais com carnes, batatas, legumes, frutas, doces, queijos, bebidas, etc.
          A Festa Pomerana de Itueta é anual, tradicionalmente na primeira semana de agosto. 
          É uma oportunidade única para o visitante conhecer um pouco mais do interior de Minas Gerais e entender o significado da tradicional frase de Guimarães Rosa: “Minas são muitas”. Minas é o mundo dentro da gente!
          Além disso o Pomerisch Dansgrup Fon Minas de Itueta apresenta-se em outras cidades. Em suas apresentações, se vestem a caráter, dançando as músicas típicas do folclore pomerano. O repertório do grupo é formado por cerca de 90 danças pomeranas. (fotografia acima de @paulo_broseguini)
O contato com o grupo para agendamento de apresentações é através do Instagram @pomerisch_dansgrup

domingo, 23 de julho de 2023

Vila Neitzel: a maior comunidade pomerana de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) As características desta vila mineira são bastantes diferentes das tradicionais vilas colônias, presentes em todo o Estado de Minas. Ao chegar nesta vila, percebe-se de cara que é um lugar único em Minas Gerais.
          Nesse lugar, os sobrenomes fogem do padrão normal dos sobrenomes portugueses usuais em Minas. Nesta vila, seus moradores tem sobrenomes como Sibele, Tetzner, Borchadt, Klemz, Kamke, Pittelkow, Butske, Pieper, Raasch, Schreiber, Friedrich, Wendt, Lancken, Strelow, Mutz, Welmer, Lehman, Ortlieb, Kester , Ponaht, Denard, Welherman, Rossow, Reckel, Schwe, Dietrich, Kampini, Uhlig, Felberg, Bichi, Schneider, Saibel, Schulz, Neumann, Schumacher, Gaede, Neitzel, Gumz, Boasquives, Eller, Polack, Witt, Schemelpfenig, dentre outros tantos. (foto acima de @paulo_broseguini)
          Povo de sorriso aberto, tons de pele bem claros, olhos claros, cabelos loiros, culinária diferente, vestimentas diferentes em dias festivos, dança e música diferentes da dança e música caipira tradicional que conhecemos. (Fotografiaa acima e abaixo fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          Tem ainda o casario com arquitetura bastante diferente do tradicional Barroco Mineiro. Nesse lugar, a religião predominante não é a Católica, como é na maior parte de Minas Gerais. Eles seguem a religião Luterana. Além disso a língua mais falada nesta vila não é o português e sim o pomerano, a língua oficial da extinta Pomerânia.
Pomeranos e Luteranos
          Os pomeranos viviam na Pomerânia, uma antiga região do Sacro Império Romano-Germânico, situada na costa sul do Mar Báltico, entre a Alemanha e a Polônia, no século X. Mais precisamente, entre as duas margens dos rios Vistula e Odra e o rio Recknitz, a oeste da Europa. O território da Pomerânia foi integrado ao território da Alemanha e da Polônia após a Segunda Guerra Mundial. Antes da unificação alemã, os pomeranos faziam parte da Prússia.
          Os pomeranos são descendentes dos povos eslavos, referência a uma ramificação étnica e linguística de povos indo-europeus, da Europa Oriental e Central. Por esse motivo, sua história, costumes, cultura, tradições, festividades, ancestralidade e a língua pomerana, serem diferentes do alemão-padrão. (Na foto acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG, uma saia com as cores tradicionais da Pomerânia: branco, azul e vermelho)
          A língua pomerana assemelha-se mais ao holandês, vestfalliano e saxão antigo do que com a língua alemã-padrão. Embora a Pomerânia tenha feito parte território germânico, é um povo com origens ancestrais diferentes dos alemães Os pomeranos não são alemães, são pomeranos.
          Além disso, os pomeranos são luteranos. Pra quem não sabe, pomeranos e alemães, professam, em sua maioria, a fé cristã luterana. Foi na Alemanha, no século XVI, que surgiu a Reforma Protestante, movimento religioso liderado por Martinho Lutero, ex monge agostiniano, contrário, principalmente contra a cobrança de indulgências pela Igreja Católica.
          Foi através dos imigrantes alemães que o protestantismo chegou ao Brasil, presente hoje em boa parte dos Estados Brasileiros, reunindo, não só descendentes de alemães, mas quem concorda, aceita e professa o credo luterano, através da Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) e Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). (na imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta, inauguração da Igreja Evangélica Luterana do Brasil na comunidade luterana da Vila Neitzel)
Que vila é essa? Onde fica?
          É a Vila Neitzel, distrito de Itueta, município localizado no Vale do Rio Doce, a 403 km distante de Belo Horizonte. Itueta faz limites territoriais com Resplendor, Santa Rita do Itueto e Aimorés em Minas e ainda, Baixo Guandu, no Espírito Santo.
          O surgimento de Itueta tem início no século XX com a chegada de imigrantes europeus à região, principalmente pomeranos e alemães. É em Itueta que está a maior comunidade pomerana de Minas Gerais, localizada ao Norte de Itueta. (na foto acima do Duva Brunelli, balsa atravendo o Rio Doce em Itueta MG)
          A comunidade pomerana de Itueta é formada pela vila sede, Vila Neitzel e várias pequenas comunidades em seu entorno, como Córrego do Chapéu, Córrego do Juazeiro e Santo Antônio, dentre outros, além de outras famílias que residem em pequenas propriedades nas proximidades da Vila Neitzel.
          Em sua maioria são famílias de pequenos produtores que tiram seu sustento cultivando a terra, no cultivo de café, milho, batata, inhame, mandioca, leite, além de produzirem produtos quitandas, doces, geleias, queijos etc.
          Itueta conta atualmente com pouco mais de 6.500 habitantes. Desse total, são cerca de 2 mil descendentes de pomeranos e alemães, em sua maioria concentrados nas comunidades rurais da Vila Neitzel, distante 37 km da cidade. Foram os imigrantes que deram origem da formação de Itueta.
Por que deixaram a Europa?
          Com a contínua crise na Europa, piorando com a Primeira Guerra e na eminência de outra Guerra Mundial ainda maior, com consequências mais catastróficas que a primeira, fizeram que milhares europeus deixassem seus países rumo ao Brasil. Minas Gerais recebeu um grande número desses imigrantes e o Vale do Rio Doce também.
Em busca de uma vida melhor
          Os imigrantes pomeranos chegaram ao Brasil a partir de 1859, fugindo das guerras, fome e miséria, além do preconceito contra sua cultura e discriminação religiosa que eram submetidos. Deixaram a Pomerânia em busca de uma vida melhor longe das guerras, da fome e perseguições religiosas e culturais.
          No Brasil, os pomeranos eram encaminhados às colônias agrícolas e comunidades nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e principalmente no Espírito Santo, estado do Sudeste que recebeu maior número de imigrantes.
De imigrantes a migrantes
          Parte dos descendentes desses imigrantes deixaram o Espírito Santo no início do século XX, entre os anos de 1914 e 1920, atravessaram o Rio Doce e chegaram à Minas Gerais, igualmente fugindo da pobreza e da fome. Vieram para as terras mineiras em busca de segurança, emprego e melhores condições de vida e trabalho. 
          Não apenas pomeranos, mas descendentes de alemães deixaram o Espírito Santo e algumas famílias de pomeranos e alemães que viviam no Sul, migraram-se também para Minas Gerais.
Por que escolheram o Vale do Rio Doce?
          Nessa época, o Vale do Rio Doce era uma região pouco habitada e inexplorada, onde prevalecia florestas densas e fechadas de Mata Atlântica. Não havia estrada, pontes, nenhuma estrutura. O Vale do Rio Doce foi a última região a ser povoada em Minas.
          A presença dos imigrantes foi o marco do povoamento e desenvolvimento da região, bem como a construção da Estrada de Ferro Vitória Minas que ligava Belo Horizonte à capital capixaba. Seu primeiro trecho foi inaugurado em 1904 e envolveu a mão de obra de centenas de trabalhadores em cada ramal que ia sendo construído, além de promover o surgimento de povoados no entorno das estações, que futuramente se tornariam distritos e até mesmo, cidades. (na imagem acima cedida pela Secretaria de Cultura de Itueta, a antiga estação ferroviária do município)
          Região rica em madeira nobre, rios e água em abundância, além de terras férteis, os pomeranos viram na região a oportunidade de melhores condições de vida e trabalho. Na foto acima da Elvira Nascimento, paisagem nativa de Mata Atlântica, típica do Vale do Rio Doce.
          Por isso a escolha, além claro, da proximidade do Espírito Santo com a região. O Rio Doce marcava a divisa dos dois estados, o que facilitou a escolha dos pomeranos capixabas, por ser a região mais próxima. Atravessaram o rio e instalaram-se com suas famílias na margem esquerda do rio, dando origem a comunidades e formação de sítios e fazendas na região.
Travessia do Rio Doce
          Naquela época não havia pontes ligando o Espírito Santo à Minas. O único jeito era atravessar o Rio Doce em canoas ou balsas a partir de Baixo Guandu, no Norte do Espírito Santo, na divisa com Minas. (na imagem acima, de Alberto Ohnesorge, a perigosa travessia no Rio Doce, dos primeiros pomeranos feita em canoa )
          Em Baixo Guandu, os pomeranos eram recebidos pela comunidade evangélica local como mostra os arquivos históricos da Igreja de Confissão Luterana de Baixa Guandu. Ajudavam no acolhimento, além de contar com o apoio espiritual oferecidos pelos pastores Albert Bionow e Emilie Kremz Bienow e Carl Wolfgramm e Louise Wernicke Wolfgramm.
          Não foi uma migração fácil. Os pomeranos deixaram suas terras e suas casas para trás, seguindo até Baixo Guandu a pé, levando seus poucos pertences em lombos de mulas e burros. Atravessaram o Rio Doce, entrando em Minas Gerais e rumo a seu destino, abrindo caminho nas matas fechadas a facão.
          Dessa margem, até o local onde ficariam, era uma caminhada de cerca de 40 km e ainda por cima, carregando seus pertences nas costas e filhos pequenos, sem pouco ou nenhuma comida, se alimentando de peixes e frutos silvestres pelo caminho.
Formando comunidades
          Seguiam pela margem do Rio Doce, e seguiam para o norte do que é hoje o município de Itueta MG, formando comunidades às margens de córregos ou lagoas, por serem agricultores e precisavam estar perto de água. Vieram para trabalhar no cultivo da terra, cultivando lavouras de milho, café, batatas, mandioca, inhame, além de criarem porcos, gados, galinhas, patos e marrecos.
          Aos poucos a migração foi aumentando, cada dia mais chegando pomeranos e alemães. Com isso foram surgindo várias pequenas comunidades, sempre à beira de córregos ou lagoas como as comunidades de Macaquinho, São Simião, Jequitiba, Laranjeira, Juazeiro, São Tomé, Santo Antônio, Quatro Rodas, Baixio, Racha Pau, Vargem Alegre, Alto Santo Antônio, Santo Antônio e Vila Neitzel. (No mapa acima, podem ter noção das comunidades pomeranas (na cor azul) e suas localizações, formadas ao norte de Itueta, no início do século XX. (Arte fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          Essas comunidades ficavam nas proximidades da fazenda da família de Henrique Neizel, onde já existia uma pequena estrutura no entorno do casarão sede da fazenda com farmácia, armazém e maquinários para produção de alimentos.
          Em Itueta, mantiveram o modelo de desenvolvimento de pequenas propriedades e diversificação de cultivares na produção de alimentos, modelo chamado hoje de Agricultura Familiar. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
            Modelo este que deu muito certo no Sul do país através dos imigrantes alemães e pomeranos. Inclusive esse foi um dos fatores de incentivo do governo em abrir as portas do país para os imigrantes pomeranos, alemães e europeus em geral.
          Não apenas isso, imigrantes tinham muito conhecimento sobre tecnologias industriais, já que a Europa era experimentara um alto desenvolvimento industrial, para a época. Além disso, os europeus sabiam muito bem cultivar a terra, tradição passada por gerações. Exerciam com grande competência a administração de suas propriedades, trabalhos na indústria e administração de pequenos comércios, como as populares vendas, armazéns, mercearias. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
Vila Neitzel e a formação da comunidade pomerana
          Segundo informações de sua neta, Giselle Pereira Neitzel Klemz, seu avô, Henrique Neitzel nasceu em 1900, no Espírito Santo. Vivia em Santa Joana, na região dos Pontões. Era filho de Otto Neitzel e Guilhermina Neitzel. Antes de chegar á região de Itueta, era tropeiro.
          Com pouco mais de 20 anos e solteiro, acompanhado de um amigo, também tropeiro, deixou sua comunidade em busca de melhores condições de vida, terras férteis e com água em abundância. Chegou até a divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, atravessou o Rio Doce e chegou ao norte do que é hoje Itueta. Adquiriu uma grande propriedade na região e começou a formar sua fazenda.
          Antes da chegada de Henrique Neitzel à Itueta, já existiam várias comunidades de pomeranos e alemães, que vieram para a região na década anterior, 1910, oriundos do Espírito Santo e também, novas famílias que vieram da Alemanha durante e depois da Primeira Guerra Mundial..
          Aos 23 anos, Neitzel conheceu Ana Romaes, moradora da comunidade do Córrego do Chapéu. Ana era natural do Espírito Santo e filha de Marcos e Maria Romaes. Nesta época, Ana tinha 20 anos de idade. Pouco tempo depois, em 9/11/1923, os dois se casaram e Ana passou a assinar o nome de Ana Neitzel. O casamento, oficializado no Cartório de Registro Civil de Aimorés MG, foi testemunhado por Alberto Ohnesorg e Guilherme Mutz. O casal teve filhos, filhas e netos.
          Henrique Neitzel era empreendedor. Com muito esforço e com trabalho em família, fez sua fazenda crescer. Empregava várias funcionários e era um exímio e próspero comerciante, além de muito influente na região.
          Na fazenda tinha máquina de moer café com uma caldeira para tocar essa máquina, alambique, engenho de cana, gado de leite e corte e cultivo de lavouras diversas. Construiu na fazenda uma mercearia e uma botica. Comprava bois e porcos e os revendia. Comercializava sua produção em Itueta, nas comunidades pomeranas que ficavam nas proximidades de sua fazenda e em Aimorés. E ainda, vendia para quem fosse na sua propriedade comprar de sua produção, seja para uso próprio ou para revender.
          Na propriedade tinha o casarão sede e as casas dos seus funcionários. Os filhos foram crescendo, se casando e com isso, construindo casas no entorno da casa grande.( na imagem acima Comunidade Pomerana da Vila Neitzel, estima-se que a imagem foi tirada no início da década de 1960. Acervo particular s/d.)
          Com isso, Neitzel começou a alimentar o sonho de formar uma vila em sua fazenda. Começou a lotear lotes de terra na propriedade a preço bem simbólico. Trocava lotes por móveis, animais ou mesmo, vendia os lotes fiado e bem baratos.
          Cedeu terreno para a Prefeitura construir uma escola na fazenda, e também igreja. Após sua morte, sua esposa doou um terreno para a construção de um posto de saúde. (na foto acima a escola e abaixo, o Posto de Saúde de Barra do Juazeiro - Imagens enviadas pela Jeane Shulz)
            Seus filhos continuaram o sonho do pai. Mesmo sem a intenção de formar um distrito ou vila, lotearam terrenos na localidade para famílias de pomeranos e alemães que já viviam no local ou que continuavam a chegar, vindos do Espírito Santo.
          Não somente para imigrantes e migrantes, famílias de trabalhadores da Ferrovia Vitória Minas e de agricultores da região que vieram para Itueta em busca de trabalho, adquiriram lotes e se fixaram vila, devido sua boa estrutura.
          Os loteamentos foram aumentado, o número que moradores também. A comunidade pomerana nos córregos e povoados em redor, dependiam da estrutura da Vila Neitzel que contava com comércio, farmácia, escola e posto de saúde. Era a maior das comunidades do Norte de Itueta.
          Em 1979, a Vila Neitzel e as comunidades e povoados em seu entorno, se tornou distrito de Itueta, por lei, aprovada pela Câmara Municipal e oficializada pelo prefeito, na época, Rúdio Pieper, que também era pomerano. Todas as comunidades nas proximidades da Vila Neitzel, passaram a fazer parte do distrito criado, como seus subdistritos, formando com isso um só distrito, com o nome de Distrito Vila Neitzel.
          Ao todo, são 2 mil moradores no distrito Vila Neitzel, juntando a vila sede, Vila Neitzel e todas as comunidades em seu entorno. A maior parte da comunidade de descendentes de alemães e pomeranos estão nos povoados e sítios nas proximidades dos córregos que formam o distrito. 
           Na vila sede, a Neitzel, tem descendentes de pomeranos, alemães e de famílias que vieram da região ou de outras localidades mineiras e até de outros estados para viverem e trabalharem no município.
Cultura e costumes pomeranos
          Os pomeranos têm a tradição milenar de preservar suas origens e elementos culturais como a língua, a cultura, a história, a dança, a música e seus instrumentos musicais, nascimento, morte, casamentos, batizados, suas ligações com a terra e a preservação e confirmação do papel da mulher nas decisões da família. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          Preservar seus costumes e religiosidade é uma forma dos pomeranos preservarem suas identidades e a si próprio, como povo. São crenças e costumes seculares, que preservadas, reafirmam a essência da existência pomerana como um povo.
          Em Itueta, desde a chegada dos primeiros pomeranos à região, os costumes, crenças e tradições são preservadas até os dias de hoje, principalmente nos costumes religiosos luteranos como o Casamento Pomerano, o Ritual do Quebra Louças e Oralidade. A Igreja Luterana está presente em Itueta desde a chegada dos pomeranos.
Igrejas na Vila Neitzel
          A religião predominante entre os alemães e pomeranos no distrito é obviamente, a Luterana. Na sede do distrito, Vila Neitzel, formada não apenas por descendentes de pomeranos e alemães, existem outras denominações religiosas cristãs, como a Igreja Católica, Igreja Adventista do 7° Dia, Igreja Presbiteriana e Igreja da Assembleia de Deus. (nas fotos acima pela Jeane Shulz a igreja Católica, A Adventista e da IELB e abaixo, algumas Igrejas Luteranas das comunidades rurais do distrito)
          Já nos subdistritos que formam o distrito Vila Neitzel, onde estão as maiores concentrações de descendentes de alemães e pomeranos, predomina a Igreja Luterana com a presença de templos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) e da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB).
Que língua falam aqui?
          Em Minas e no Brasil, descendentes dos imigrantes pomeranos falam português, mas nas colônias e comunidades, preservam sua cultura linguística, falando e comunicando-se entre si, na língua pomerana. Os pomeranos do Espirito Santo e Minas Gerais, falam o Pommerch. Em outros estados com comunidades pomeranas, falam outros dialetos da língua pomerana, como Riograndenser Hunsrückisch e o Plaudtdiestsch, falados no Sul do Brasil.
Em português e pomerano
          No distrito Vila Neitzel, antigos moradores e também os mais jovens, procuram conversar em pomerano entre si com o objetivo de melhor dominar a língua e preservar suas origens. Com os que não são de origem pomerana, conversam em português. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          A comunidade pomerana de Itueta vem fazendo um esforço para recuperar a língua e a dança folclórica pomerana, ensinando o pomerano aos mais jovens das comunidades e mesmo aos mais velhos, que queiram reaprender o pomerano.
          O idioma pomerano no distrito passou a fazer parte do currículo escolar do distrito com o objetivo de preservar a língua pomerana entre os moradores.
          Antes, somente os mais antigos falavam a língua em residências familiares, nos eventos sociais, religiosos e momentos de integração de toda a comunidade, seja na Vila Neitzel, quanto nos subdistritos, como durante a Festa Pomerana. 
          Com a iniciativa, os mais jovens poderão conhecer a língua e conversarem entre si em pomerano. Isso desperta o interesse das crianças não apenas pela língua, mas para a dança, a música e a história de suas origens.
          É um trabalho que vem sendo feito, aos longos dos anos com apoio de comunidades pomeranas do Espírito Santo e prefeitura local, para resgatar as tradições, música, vestimentas, festas religiosas e folclóricas, a cultura e a língua pomerana na região.
          Estando na comunidade, você ouvirá conversas e palavras em pomerano e alemão como Bom dia - Gun Morgen! Obrigado - Daitchen/ Danken Shen; Até Logo! - Ousvrindesan! (Aús-frídesan); Avô - Groutfuter (grôut.fótar) / Opa; Avó - Groutmuter (grôut.môtar) / Oma; Agora Ficou Melhor – Nurr is Beta Vôra; Aonde tu quer ir? - Voa Vist Du Ren Móka? Eu quero ver todos dançando - Ick Vill Allas Dancan Zaier; Eu vou sair - Ich Go Lôus/rrúlda; Fica Quieto - Vies Ishtill/blif chtil; Porco – Shwina; Porque – Vurim; Trabalhar - Arbera; Vem Aqui/Vem Cá - Come ré; Você está entendendo? - Hes dú fórstôn?; Você quer tomar café? - Vís dú cáfê drínkán? Eu estou aprendendo a falar em pomerano - Ich Daw Lera pomich Fatéla; Pode acreditar em mim - Cast Min Leiva.
A gastronomia pomerana
          A culinária alemã e pomerana em especial e bem diversificada e também valorizada e preservada nas comunidades pomeranas brasileiras, bem como na Vila Neitzel.
          Em festas, casamentos, batizados, aniversários, festividades religiosas e outros eventos, a boa mesa pomerana é o destaque da festa. Na verdade nem é uma mesa e sim um Snack Weg (caminho dos sabores) da boa comida germânica.
          Um passeio gastronômico que mais lembra um banquete especial diante de tanta fartura e tantos pratos alemães que impressiona quem não é da comunidade.
          Mesmo travando a língua ou tendo dificuldades em entender a pronúncia dos pratos, a concordância é que os pratos são saborosíssimos como spätzel, apfelstrudel, bretzel, o eisbein, o currywurst, bockwurstas weisswurst, o kassler, o heringsbrot, iguarias acompanhadas outros pratos típicos alemães como o marreco recheado, o purê de batatas, o repolho roxo, o chucrute, vinho, chopp e claro, o broud, chamado no Brasil de brote, o tradicional pão pomerano.
          A culinária germânica e pomerana, que chegou ao Brasil com os imigrantes no século XIX, sofreu adaptações devido à inexistência de alguns ingredientes no Brasil. O ingrediente principal do broud é o trigo, mas como na época o trigo não existia no Brasil e importá-lo da Europa era muito difícil, esse ingrediente foi substituído pelo fubá de milho.
          Com isso, o tradicional pão alemão e pomerano ganhou uma releitura com base na tradição e ingredientes da culinária mineira no preparo de pratos como por exemplo o uso da folha de bananeira e forno de barro.
          No caso do Broud, o trigo foi substituído pelo fubá de canjica ou mimoso, por exemplo. Com isso passou a ser chamado também de “miyberbroud”, (Pão de milho). É um pão preparado com massa de fubá, batata doce, cará, e mandioca. A massa é de milho eu pão moldado no formato original de pão e enrolado em folha de bananeira para ir ao forno a lenha para assar. (Acima e abaixo o modo de preparo do Brote. Fotos fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta)
          Para adoçar mais o pão, algumas famílias acrescentam à massa banana. São ingredientes fáceis de conseguir nas comunidades por serem produzidos pelas próprias famílias em suas propriedades.
           É um pão consumido nas refeições, principalmente no café da manhã, acompanhado de banha de porco, sal, manteiga, linguiça defumada crua, carnes de boi, porco, marreco, galinha e pato, geleia, coalhada, bolos, queijos, dentre outros alimentos.
O casamento pomerano
          Na tradição pomerana, os casamentos são realizados em janeiro e início de fevereiro e dura em média 3 dias.
          É uma festa muito especial, ritualística, tradicional e que envolve não só a família dos noivos, mas toda a comunidade. Envolve ainda toda a fartura da boa mesa pomerana com muitos pães, bolos diversos, linguiça, biscoitos, doces, vinhos, cervejas, cachaça, brote, queijos, etc.
          Nas comunidades que preservam os casamentos pomeranos tradicionais, o irmão caçula da noiva é quem faz o convite para o casamento. É o chamado hochtijdsbirer (convidador)
          Os noivos agendam o casamento com o pastor ou pastora. O evento é anunciado no culto onde os noivos apresentam o hochtijdsbirer, que geralmente é o irmão caçula da noiva, tem como missão convidar as famílias escolhidas pelos noivos para participarem da festa.
          Um dia antes do casamento é realizado o Polterowend, que é o ritual da quebra das louças, que são jogadas pelo alto acompanhado de muita gritaria e música pomerana cantada e acompanhada pela concertina. Tem que ser louça de porcelana ou cerâmica porque segundo a crença pomerana, traz sorte e bênção na vida do casal. Já o vidro, traz azar.
          Á noite a família prepara o Heunerowend, um jantar feito com miúdos de galinha a galinha na tem simbologia anuncia ou alerta e sobre perigos ou coisas ruins que podem surgir aos noivos.
          No dia do casamento pela manhã o convidador e o servente fazem a acolhida das famílias. O local é todo decorado com flores de murta, ciprestes e laços coloridos e ainda com música e muita alegria, animada pelos Tau Hochtied inspäle/ranaspäle, os tocadores de concertina ou acordeão.
          Os músicos acompanham ainda os noivos até a ida à igreja para receberem a bênção matrimonial. À frente, o convidador, soltando foguetes para trazer sorte aos noivos. Segundo a crença pomerana, o primeiro que pisar na igreja, noivo ou noiva, será o líder e terá a última palavra da casa.
          Ao fim da cerimônia, os noivos seguem rumo ao banquete, preparado pelas famílias e decoradas com com flores murta, cipreste e laços coloridos. Na cabeceira da mesa ficam os noivos, os pais, as testemunhas, o pastor e familiares, nessa ordem.
          No fim da tarde a festa continua com danças típicas que representam o ritual de passagem da vida de solteiro para a vida de casado. A primeira dança é a tradicional Bruttdanz, a dança da noiva, onde os noivos dançam com os convidados casados e os solteiros, a Kranzafdance, a dança da grinalda ou coroa, quando os noivos dançam apenas com as pessoas solteiras. A cada dança, o convidador oferece aos noivos cachaça e vinho e os convidados, ofertas em dinheiro. (foto acima fornecida pela Jeane Shulz)
          A última dança da festa é o Bäzendanz, a dança da vassoura. É quando os noivos dançam com os casais. Caso não tenha alguém sem par na festa, a noiva ou o noivo, dançam com uma vassoura. (fotografia acima de William Wesphal)
          Por fim, após a festa, os noivos vão para sua nova casa e comparecem no próximo culto da igreja, visitam os sogros onde tradicionalmente recebem dotes dos pais e convidados, podendo como presentes, objetos, roupas, sapatos, porco, vaca, cavalo, boi ou mesmo, dinheiro.
          No casamento pomerano, toda a comunidade se envolve e esse ritual significa que os noivos romperam a relação entre pais e filhos e passam a ser independentes por suas ações e escolhas, construindo suas vidas independentes.
Funeral pomerano
          A postura dos pomeranos diante da morte os diferencia dos demais cristãos. O funeral e luto pomerano são um conjunto da tradição milenar pomerana com o luteranismo. Ao longo dos séculos, o funeral na antiga Pomerânia se transformou em um dos pilares da identidade pomerana. (imagens acima e abaixa, fornecidas pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          O funeral pomerano tem como base três elementos: o Cemitério, a Sepultura e o Tafel. É uma simples tábua em madeira, pendurada em uma cruz, onde é entalhado a frase: “Hier huhet in Gott” ( “aqui descansa no senhor”) seguido do nome, data de nascimento e falecimento, além de um versículo bíblico, relacionado ou não com a morte. 
          Além disso, no Tafel são entalhados ou pintados em cores variadas ramos de flores, palmas e cruzes. Por tradição, os mortos pomeranos são sepultados com suas bíblias, hinários, certidões de batismo e confirmação, além de alguns objetos de uso pessoal do falecido. Nos desenhos, predomina a cor azul, a cor símbolo da extinta Pomerânia.
A Festa do Brote - A Festa Pomerana da Vila Nietzel
          O Brote, é a principal iguaria dos descendentes de pomeranos de Itueta e uma das identidades gastronômicas da cidade. O famoso pão alemão está presente há décadas em casamentos, batizados, aniversários e festas coletivas da Vila Neitzel. (na foto acima do @paulo_broseguini, a Festa Pomerana)
          Quando tem festa e encontros de família, tem o brote na mesa. Esses encontros eram conhecidos como Festa do Brote. Não era um evento oficial, organizado pela comunidade em geral mas um evento de famílias e em eventos festivos e religiosos, embora contasse com a participação de boa parte da comunidade.
           Havia necessidade de uma festa maior que envolvesse toda a comunidade e abrangesse não apenas o brote, mas toda a culinária pomerana, a dança, a música e as vestimentas. O embrião dessa ideia começou a surgir nos primeiros anos do ano 2000.
          Em 2010, foi criado na cidade o Pomerisch Dansgrup Fon Minas, o Grupo de Dança Folclórica de Minas, formado atualmente por 15 casais que ensaiam todos os fins de semana na quadra da escola da Vila Neitzel. O grupo é coordenado por Wallex Schemelpfenig. (imagem acima fornecida pela Secretaria de Cultura de Itueta MG)
          O grupo foi criado com o objetivo resgatar a dança, a música, a vestimenta e a língua pomerana da comunidade. Através do grupo, a comunidade passou a conhecer como eram as músicas pomeranas, as danças e como se vestiam os camponeses que viviam na extinta Pomerânia. (fotografia de @paulo_broseguini)
          Com a criação do grupo de danças, a tradicional Festa do Brote passou a ser a Festa Pomerana, integrando o Pomerisch Dansgrup Fon Minas e a culinária pomerana em um só evento.
          Durante os dias de festa, a língua falada é praticamente o pomerano. Isso é para incentivar os mais jovens a se interessarem pelo idioma de seus antepassados e valorizar a língua, a cultura, a música e a culinária pomerana.
          Um desfile a caráter marca o início da Festa Pomerana, além da escolha das princesas e rainha da festa. Bandas locais e regionais se apresentam durante os dias da Festa Pomerana, que recebe um grande número de visitantes da região e também da comunidade pomerana de outras regiões como do Espírito Santo. (imagem acima enviada pela Jeane Shulz)
          O Pomerisch Dansgrup Fon Minas é a principal atração da Festa Pomerana de Itueta. O grupo se apresenta vestido a caráter bem como o local da festa, a quadra da Vila Neitzel, é toda decorada com bandeirolas nas cores principais da Pomerânia, que é o azul e branco. (imagens acima e abaixo fornecidas pela Jeane Shulz, do Pomerisch von Minen se apresentando em cidades da região)
          Além disso, o Pomerisch Dansgrup Fon Minas se apresenta em outras cidades, a convite. São mais de 90 danças diferentes, bem como vários trajes típicos da Pomerânia. Quem se interessar em contar com a presença do Grupo Folclórico de Dança Pomerana de Itueta, o Pomerisch von Minen, o contato é pelo Instagram: @pomerisch_dansgrup
          A Festa Pomerana de Itueta já está em sua nona edição. Acontece todos os anos, geralmente, no primeiro fim de semana de agosto. Em 2023, a 9° Festa Pomerana de Itueta MG será nos dias 4, 5 e 6 de agosto.
Conheça Itueta
          Estão todos convidados, não apenas para conhecerem a Festa Pomerana, mas para conhecerem a cidade de Itueta e sua comunidade pomerana.
          Itueta é uma cidade tranquila, com boa estrutura urbana, conta com um variado comércio, bom setor de prestação de serviços, pequenas pousadas e hotéis, restaurantes, bares e lanchonetes.
          Serão todos bem-vindos. Seu povo é simples, amigável e hospitaleiro.
Agradecemos ao secretário de Cultura de Itueta, Valdinei Cardoso Coutinho e professora Jeane Shulz Schemelpfenig pelo empenho em ceder fotografias e nos passar informações sobre o distrito Vila Neitzel.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores