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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O Museu dos Dinossauros em Peirópolis

(Por Arnaldo Silva) Distrito de Uberaba, no Triângulo Mineiro, Peirópolis, está localizado às margens da rodovia BR-262, a 20 km do centro da cidade. 
          No início do século XX, o distrito se destacava pela produção de calcário, o que trouxe várias pessoas para a região. Na época, o Triângulo Mineiro era ligado por trilhos pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, que chegou a Uberaba em 1889. Com a estrada de ferro, foi criada uma pequena estação em Cambará, entre Conquista MG e Uberaba, inaugurada em 1924.
          Entre as pessoas que foram atraídas pelo calcário, estava Frederico Peiró, um imigrante espanhol que chegou ao local em 1911, montando em seguida duas fábricas de cal virgem. A atividade de Peiró se tornou conhecida, abrindo novos mercados e tornando a região de Cambará muito conhecida, graças ao fácil acesso e escoamento da produção pelos trilhos da Mogiana. (fotografia acima e abaixo de Luís Leite)
          Com a popularidade da produção de cal virgem e do espanhol, o nome do povoado passou a ser associado ao de Frederico Peiró, popularmente chamado de cidade do Peiró ou Peirópolis (polis= cidade). Assim, a estação de Cambará, bem como o distrito, foi oficialmente chamado de Peirópolis.
          Com a desativação da linha férrea em 1976, o calcário continuou sendo extraído na região, não sendo hoje a atividade de destaque do distrito. Peirópolis se destaca hoje pelo turismo.
          Com as escavações na região para a retirada do calcário e retificações de obras da Companhia Mogiana, a partir da década de 1940, foram sendo encontrados fósseis de animais pré-históricos. (fotografia acima de Luís Leite)
          A descoberta atraiu para a região paleontólogos, como o gaúcho Llewellyn Ivor Price (1905-1980), considerado o pai da paleontologia brasileira Ivor Price chegou em Peirópolis em 1947, ficando até 1974. 
          O paleontólogo e seus assistentes fizeram fizeram escavações entre 1949 e 1961, encontrando e recuperando centenas de ossos fossilizados do período Cretáceo Superior (100 a 65 milhões de anos atrás), principalmente de titanossauros. (foto abaixo de Cris Ferreira/@paisagenscsf)
          O paleontólogo viveu em Peirópolis até 1974. Ao longo desse tempo foi formando um rico acervo de fósseis que hoje integra a coleção do Museu de Ciências da Terra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), no Rio de Janeiro.
          Em 1991, a antiga estação de trem foi restaurada e em seu entorno foi instalado um Complexo Científico Cultural com nome o Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, popularmente chamado de Museus dos Dinossauros de Peirópolis. (fotografia acima e abaixo de Luís Leite)
          No museu há um laboratório de preparação de fósseis e um museu paleontológico que conta com fósseis e painéis com cenários com a história dos animais e vegetais que habitaram a região de Uberaba há milhões de anos. Tem ainda um parque com réplicas de dinossauros e algumas residências que foram construídas em seu entorno para os pesquisadores.
          No Museu dos Dinossauros, além de fósseis e história dos dinossauros, tem como destaque:
- O esqueleto fossilizado do crocodilomorfo do Cretáceo Superior Uberabasuchus terrificus – descoberto na região no ano 2000 e um dos mais completos do tipo já encontrado no mundo – exposto no museu ao lado de uma réplica do animal. (fotografia acima de Luís Leite)
- O Uberabasuchus terrificus - pertence a uma família de crocodilomorfos denominada Peirosauridae em homenagem a Peirópolis. Estima-se que ele media aproximadamente 2,5 metros de comprimento e pesava cerca de 300 kg.
- O Uberabatitan ribeiroi -  encontrado em 2004, na Serra do Galga entre Uberaba e Uberlândia, durante escavações para duplicação da BR-050.
Localização e horários de funcionamento
          
Horário de visitação: terça a sexta das 08h às 17h e sábado, domingo e feriados das 08h às 18h.No período de janeiro (férias) o Museu também está aberto às segundas-feiras.
          Em Peirópolis, o visitante encontra pousadas, restaurantes e lanchonetes.

Diário de Viagem: Serra do Caraça

Misturando-se com as montanhas, o Santuário do caraça é mais uma das miragens Mineiras. É cercado de Horizontes e História. De fé e de sorrisos. " Só o caraça paga toda viagem a Minas" disse D Pedro II.
Tudo é detalhadamente belo, nos pequenos e grandiosos detalhes. 
O silencio da mata toma conta do espaço, é quebrado apenas, pelos ventos que balançam as orquídeas, pelos turistas que sussurram e pelos pássaros, que insistem em cantar! 
A construção neogótico, primeira do Brasil, foi construída sem mão escrava. E permanece intacta mesmo após as chamas na madrugada de 1968. "Se foi muitos livros e documentos da nossa História" disse-me Pedro enquanto me mostrava a revista do mosteiro. Foi o único momento em que seus olhos mergulharam na tristeza. Eu, o entendia completamente! 
Apesar da tragedia no frio de maio de 68 , o Santuário não perdeu o brilho; parte foi restaurado fazendo um paralelo entre o antigo e o moderno. Na biblioteca encontrei anotações de D pedro II , junto estava a cópia do seu diário. No museu vi alguns antigos rádios; machados, retratos e a cama de Tereza Cristina (queria cochilar por ali mesmo) vi os objetos que mais me interessavam: os baús. 
Na capela, vi alguns fiéis pedindo suas preces, vi o Padre por perto, pra qualquer orientação e vi a arquitetura, que fugia do barroco. 
E na simplicidade, vi o sorriso de Vicente. O "nosso vicente". Sentando em baixo da árvore , o olhar aceso disfarçava seu cento e poucos anos. Escolhendo as palavras, prozeou com a Aline, contando que morou ali a vida inteira e não se imagina longe. 
Afirmou que iria se casar um dia, e quem sabe não era comigo? 
Abri um sorriso por tamanha simpatia. Sr Vicente é tão especial que a sua História se mistura com a do Caraça, e a do Caraça se mistura com a dele. O ovo e a gema. 
Percebi na partida , olhando no vidro do carro enquanto as nuvens passavam, que: por mais que meus olhos se esforçassem , eles não conseguiriam, jamais, captar todos os detalhes daquele lugar. Alguns se misturaram no Horizonte, outros se foram nas chamas ou simplesmente esconderam-se na timidez ,como os olhos negros de Vicente. 
Conheçam o Caraça! 
Texto e fotografias de Suelen Rezende, 22 /11 de 2018.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A Gruta da Lapa, Antônio Pereira e o mistério da Igreja queimada

(Por Arnaldo Silva) Distrito de Ouro Preto, Antônio Pereira é uma charmosa e atraente vila ouro-pretana, distante 16 km da sede e a 9 km de Mariana, cidade histórica vizinha a Ouro Preto. (na foto acima de Judson Nani, a entrada para a Gruta da Lapa)
           Foi uma das primeiras povoações de Minas Gerais e um dos primeiros núcleos de mineração em território mineiro, com grande número de minas de ouro e minério, encontradas na região no início do século XVIII. (na foto acima de Ane Souz, vista parcial de Antônio Pereira) 
Relíquias de Antônio Pereira      
          Antônio Pereira guarda relíquias de nossa história, destacando as ruínas da igreja de Nossa Senhora da Conceição e o cemitério que fica no seu interior. (na foto acima de Ane Souz) 
          Da igreja, restou a imponente fachada e suas colunas, erguida em blocos de pedra. Além das ruínas da igreja, tem o Garimpo do Topázio Imperial, pedra preciosa encontrada somente na região de Ouro Preto e em nenhum outro lugar no mundo.        
          A Gruta da Lapa é outro atrativo para os visitantes (na foto acima do Judson Nani). Na gruta foi montada uma pequena capela, onde peregrino acendem velas e fazem orações. (na foto abaixo de Ane Souz)
A origem de Antônio Pereira
          A história do distrito começa com a chegada à região do bandeirante português Antônio Pereira Machado, por volta de 1700-01. O português ficou pouco tempo na região, deixando a vila 3 anos depois de sua chegada, assustado com o grande número de animais selvagens que apareciam em sua propriedade e a escassez de alimentos, provocando uma grande onda de fome nesta época. 
          Posteriormente chegou a região padre João de Anhaia que deu início a formação do povoado, com a ajuda de Mateus Leme e Antônio Pompéu Taques, que passaram a explorar as numerosas minas de ouro da região como as minas Romão, Mata-mata, Macacos, Capitão Simão, Fazenda do Barbaçal, Mateus, da Rocinha
          Com a atividade mineradora crescente, o arraial aumentava a cada dia, e em homenagem a seu primeiro morador, Antônio Pereira, passou a ter esse nome. Pouco tempo depois, era erguida uma imponente igreja, graças a riqueza produzida pelas minas de ouro da região. A igreja foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição, fundada em 1716, reconhecida como matriz em 1720. Em torno da Matriz o povoado se desenvolvia.  
O mistério da igreja queimada
          Da igreja erguida com pompa no início do século XVIII, ornada em ouro, restou apenas a fachada. Era imponente, se destacava logo na entrada do povoado. Foi incendiada em 1830 e até hoje a causa do incêndio é desconhecida. Não se sabe se foi acidental ou proposital.  Há duas versões sobre o incêndio, passadas oralmente por gerações. Uma dessas versões diz que a igreja foi roubada por um viajante que entrou na calada da noite na igreja, retirou tudo que pôde em ouro, colocou fogo e fugiu em seguida.
          Outra versão diz que o incêndio foi provocado por uma vela esquecida pelo sacristão, de nome Roque. Como boa parte da ornamentação da igreja era em madeira, o incêndio se alastrou com rapidez, destruindo todo o templo. Segundo a tradição oral, o sacristão chegou a ser detido pelas autoridades da época, pelo fato. Mas nenhuma das duas versões citadas foi comprovada até hoje.
Por que não foi reconstruída?
          A igreja foi destruída e reconstruí-la não seria tarefa difícil para os moradores da vila, mas optaram por deixar como estava. Isso devido a um fato marcante para os moradores de Antônio Pereira na época, envolvendo Nossa Senhora da Conceição.
          Segundo a tradição oral, a Santa saia de sua igreja e aparecia numa gruta próxima a sua igreja, por isso era chamada de Nossa Senhora da Lapa. Quando a igreja foi queimada, a imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no interior da gruta, intacta. Entenderam assim os fiéis que a santa queria ficar neste local. 
          E assim está até hoje e a igreja de Antônio Pereira passou a ser a da Gruta da Lapa, bem como de Nossa Senhora da Conceição, carinhosamente chamada de Nossa Senhora da Lapa pelos moradores locais, um dos pontos de manifestação de fé da região recebendo fiéis que vão à gruta rezar, pagar promessas e pedir bênçãos, como podem ver na foto acima da Ane Souz. 
          No local onde está imagem, foi construído um altar e todos os todos os dias, fiéis vão à gruta rezar e acender velas, principalmente no dia 8 de dezembro, data que a Igreja Católica comemora o dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, como podem ver na foto acima de Ane Souz.
O óleo que surge das rochas
           Outra curiosidade no interior da gruta é um óleo que surge numa pedra, que lembra o formato da santa que está no altar. Os fiéis se emocionam com a pedra, tocam com as mãos e passam este óleo pelo corpo, se benzendo, simplesmente movidos pela fé em Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Qual a explicação para o fenômeno?
          Esse tipo de fenômeno no interior de cavernas e grutas são comuns. O fenômeno se dá pela precipitação lenta e contínua de carbonato de cálcio, levados pelas águas que chegam as grutas por fendas, que escorrem pelas formações lentamente, se petrificando ao longo dos séculos. (foto acima e abaixo de Judson Nani)
          Quando esse líquido cai de cima para baixo, chama-se estalactites. Quando o líquido vem de baixo para cima, é estalagmites. Esse líquido petrifica, formando belas composições naturais no interior das cavernas e grutas. Dependendo da formação rochosa, podem ter várias tonalidades de cores, bem como formatos inusitados que podem lembrar figuras humanas, de animais ou de plantas. 
          No caso da gruta de Nossa Senhora da Lapa em Antônio Pereira, a formação lembra a imagem da santa, o que instiga mais ainda os mitos criados ao longo do tempo em torno da gruta, da igreja e da santa. 
Outros atrativos de Antônio Pereira
         Além dos das ruínas da igreja, do cemitério, do casario e da gruta, em Antônio Pereira tem ainda belas paisagens naturais (na foto acima de Ane Souz) e belas cachoeiras como a Cachoeira da Escuridão, Cachoeira da Vila ou Lagoa Azul a e Cachoeira da Lajinha, dentre outras belezas naturais formadas pelas montanhas em redor e a quantidade de minério entre as montanhas e rochas, tornando a paisagem muito bela. 

sábado, 17 de novembro de 2018

A culinária do Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) A Cozinha mineira é uma das maiores riquezas do Estado. É um patrimônio imaterial do povo mineiro. A nossa culinária ajudou na formação da identidade do Estado. (na foto abaixo da Marilene Rodrigues, a farinha de mandioca, um dos principais produtos da região)
          A nossa cozinha é como nosso povo. Tem origem mestiça. Veio do colono europeu, do povo negro africano e dos índios nativos. Essa mistura maravilhosa de raças e povos, criou a nossa identidade cultural, social e gastronômica. (na foto abaixo do Edson Borges, o pequi com arroz, um dos principais pratos da culinária do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha)
          Para o português, que para cá veio em busca de ouro, a necessidade de comida era grande. Numa terra recém-descoberta, comida praticamente não existia, dai a necessidade de se criar. Junto com os portugueses, vieram os negros e aqui, juntamente com a população indígena, começaram a brotar as nossas raízes culturais e gastronômicas. Essa união afro-indígenas proporcionou o surgimento da culinária que é uma das identidades do Estado de Minas Gerais.
          Os portugueses e demais povos europeus que para cá vieram, contribuíram em muito com o aprimoramento da culinária que estava se desenvolvendo. Eles conheciam as qualidades naturais dos produtos e tinham domínios sobre temperos, principalmente temperos indianos, que foram introduzidos à nossa culinária. Sem contar os doces e o queijo, que os colonos trouxeram da Europa as técnicas de fazer, ensinando aos escravos e índios, adaptando as técnicas aos produtos encontrados em nossas terras. Assim começou o embrião da nossa culinária. (na foto abaixo de Eduardo Gomes, o araticum, um dos principais frutos do Cerrado)
          O aprimoramento e até mesmo a criação de pratos, se deve aos tropeiros. É inegável a influência dos tropeiros no surgimento da nossa culinária. Não que eles queriam inventar, mas porque precisavam de comida, dai foram adaptando seus conhecimentos aos produtos encontrados na região que hoje é o Estado de Minas. Eles viajavam por todo o território mineiro, em busca de ouro e por serem viagens longas, precisavam de alimentos que durassem mais tempo, que não perecessem rápido.
          Assim foi surgindo formas de armazenar comida como a carne, armazenada na lata, o açúcar que foi transformado em rapadura, o queijo curado, a mandioca, que era comida indígena, bem como o milho triturado, chamado de canjiquinha e o fubá. Alimentos que podiam ser levados nas tropas e que duravam muito tempo.
          Outra parte da nossa culinária veio das fazendas, basicamente das senzalas, onde as escravas criavam pratos a pedido das Sinhás. Das tabas indígenas e senzalas surgiram vários pratos e ingredientes que hoje fazem parte da nossa cozinha como polvilho, a farinha de milho, de mandioca, o fubá. A partir desses ingredientes foi surgindo quitandas diversas como o pão de queijo, o biscoito, o bolo de fubá. Doces também, como o de leite, de mamão, a goiabada, saíram das senzalas para nossas mesas aprimorando as técnicas ensinadas pelos colonos.(na foto acima, de Manoel Freitas, doce de marmelo em São João do Paraíso, fruta introduzida na região desde o século XIX, hoje cultivada em larga escala, no município)
          E nesse contexto a culinária foi se desenvolvendo, usando o que a terra produzia e o que já existia por aqui, passados pelos índios. Mas pela dimensão do Estado e biomas diferente, como Cerrado e Mata Atlântica, presentes na vegetação mineira, a cozinha variava, não era a mesma em todas as regiões. Em boa parte sim, mas certos alimentos não eram comuns em todas as regiões do Estado como, por exemplo, pequi, comum no Norte, Centro Oeste e parte da região Central de Minas Gerais, onde predomina o Cerrado. (na foto de Manoel Freitas a castanha do pequi, muito rica em minerais)
          Já na região Sul, Campo das Vertentes e Zona da Mata, a predominância é do bioma Mata Atlântica. É nesse contexto que surge a culinária regional, que faz parte da culinária Mineira, com suas identidades próprias de acordo com clima, vegetação e alimentos disponíveis. Essa regionalização hoje é a marca da nossa culinária, presente em todas as regiões, com certos pratos típicos de cada uma das 12 regiões mineiras, de acordo com o que os biomas produzem.
          Como disse acima, a junção do branco, índio e africano, deu origem a nossa formação cultural e gastronômica. A presença dessas três raças foi predominante para o povoamento e crescimento da região Norte de Minas, a partir do século XVI e XVII. Os portugueses e tropeiros chegaram ao Norte de Minas margeando o Rio São Francisco e ao longo do caminho, foram formando povoados, que hoje são cidades. (na foto acima, de Manoel Freitas, feijão de Andu, colhido em Botumirim MG)
          Assim surgiu uma das mais ricas cozinhas de Minas, que é a cozinha do Norte do Estado de Minas Gerais, cujos pratos estão presentes em nossas mesas e contribuíram para dar a Minas Gerais, a nossa identidade culinária.
          No Norte de Minas predomina a vegetação de Cerrado nativo e tem o Rio São Francisco como um das suas maiores riquezas. Dos frutos do Cerrado Norte Mineiro surgiu pratos que hoje sustentam famílias e deram origem a vários pratos ainda hoje presentes em nossas mesas. Por ser uma região de contrastes, não apenas sociais, mas geográficos, os sabores da mesa norte mineira é um pouco diferente do restante do Estado. A região produz frutos, alimentos e temperos diferentes do restante do Estado, oriundos de uma culinária mestiça, muito rica em sabores e temperos singulares e fortes como a pimenta, muito apreciada, diferente de outras regiões do Estado. (na foto abaixo do Manoel Freitas, barcos de pescadores no Rio São Francisco em Itacarambi MG)
          Esses pratos e temperos vêm do que a região produz. A pecuária sempre foi forte na região. A carne de boi é muito apreciada na região, principalmente a carne de sol. Mirabela, uma das cidades da região, é considerada a Capital Nacional da Carne de Sol. 
          O nosso quiabo com angu, muito apreciado com frango hoje, tem origem no Norte de Minas. No Norte Mineiro a paçoca de carne, a farofa de feijão andu, tropeiro com torresmo e rapadura não faltam nas mesas. Sem contar o pequi com arroz, que é consumido sempre, já que o pequi é o símbolo do Cerrado e o fruto reina em todo norte mineiro, sustentando inclusive famílias e gerando empregos em municípios com a produção de licores, compotas e polpas da fruta, vendidos no comércio. Montes Claros e Japonvar se consideram capitais nacionais do pequi.
          Além do pequi, o Cerrado tem outras frutas que são consumidas in natura ou viram sucos, doces, compotas, geleias, sorvetes, licores, conservas como o cajá, jatobá, cajá manga, seriguela, caju, cagaita, araticum, tamarindo e etc. (na foto acima do Gilberto Coimbra, o Mercado Municipal de Montes Claros, onde você pode encontrar todos os temperos e ingredientes da famosa culinária do Norte de Minas)
          O Rio São Francisco banha boa parte do Norte de Minas e suas águas sustentam milhares de famílias, seja no turismo, seja na pesca. O Rio São Francisco, possui 152 espécies de peixes, ao longo de toda sua bacia. Esses peixes como o surubim, dourado, curimatã-pacu, matrinchã, mandi-amarelo, pirá, piau-verdadeiro, dentre outros estão presentes na culinária norte mineira, como a famosa moqueca de surubim.
          Essa é a origem da culinária de uma das maiores e mais importantes regiões do Estado de Minas Gerais. Marcada pelos contrastes, mas também pela força e fibra do povo, que batalha, trabalha e preserva sua cultura, história e gastronomia. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Conheça Santo Antônio do Leite

(Por Arnaldo Silva) Um dos mais bucólicos e charmosos distritos de Ouro Preto, Santo Antônio do Leite encanta pela simplicidade, pelo belo e preservado casario colonial, por sua cultura e vida simples, mas com ótima qualidade que oferece aos seus moradores e visitantes. (foto acima de Vinícius Barnabé)
          Os moradores de Santo Antônio do Itambé, tem vida longa. Isso se explica pela salubridade do clima a mais de 1000 metros de altitude, boa qualidade do ar e de sua água de ótima qualidade. Esse conjunto de qualidades, faz com que Santo Antônio do Leite atraia cada dias mais a presença de turistas, tanto do Brasil, quando do exterior em busca de sossego, lazer, descanso em suas várias pousadas e hotéis fazendas. (foto acima de Thelmo Lins)
          O distrito conta com pouco mais de 2 mil moradores e fica apenas 25 km de Ouro Preto. É um dos mais antigos povoados de Minas Gerais. Seu povoamento começou por volta de 1864, no século XVIII, sendo reconhecido como distrito de Ouro Preto em dezembro de 1953. (na foto acima de Vinícius Barnabé, a Capela de São José e abaixo vista noturna do distrito)
          Como em todos os distritos de Ouro Preto o artesanato se faz presente. Em Santo Antônio do Leite o artesanato com prata e pedras brasileiras são muito procurados e inclusive, boa parte tem destino para a Europa. Existem também trabalhos em cerâmicas, pedra sabão e outros estilos de arte.
          Aos sábados e domingos, os visitantes podem conhecer o artesanato local, bem como sua culinária, na tradicional feirinha.
          Os moradores de Santo Antônio do Leite são calorosos, educados e recebem muito bem os visitantes. 

Quando vier a Ouro Preto, venha conhecer Santo Antônio do Leite.

A pedra transformada em artesanato em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Por ser bem oleosa em sua superfície, em Minas Gerais é conhecida como pedra sabão. Também por pedra de talco, em outros lugares. É abundante no Estado, principalmente em Ouro Preto e Mariana, sendo retiradas do solo em sua forma bruta, nas suas cores originais que vão do cinza ao verde. Seu nome original mesmo é esteatito, chamada ainda de esteatite ou esteatita.
          A pedra sabão é uma rocha de baixa dureza por conter muito talco na sua constituição, além de vários minerais como magnesita, clorita, tremolita e quartzo, dentre outros. (foto abaixo de Arnaldo Silva de uma pedra sabão bruta, em Santa Rita de Ouro Preto MG)

Pedra resistente, praticamente impenetrável, não sendo afetada por substâncias alcalinas ou ácidas, é resistente a temperaturas extremas, desde abaixo de zero, até 1000ºC, tendo muita facilidade em absorver e distribuir de forma regular o calor. Por essas características, é usada desde a antiguidade para fazer panelas, lareiras e no artesanato, principalmente em Ouro Preto e Mariana, cidades históricas mineira, onde a pedra sabão é encontrada em abundância, sendo usada largamente desde o século XVIII, no artesanato, produção de panelas, estátuas, calçamento de ruas, etc. (na foto acima, de Arnaldo Silva, estátua de Santa Rita, em pedra-sabão, na Igreja de Santa Rita de Ouro Preto MG)
          Um dos exemplos da resistência e durabilidade da pedra sabão, são os trabalhos do Mestre Aleijadinhos, nas fachadas das igrejas históricas mineiras, como por exemplo, os 12 profetas no Santuário do Bom Jesus do Matozinhos em Congonhas MG, (na foto acima de Elvira Nascimento) esculpidos entre 1800 e 1805, submetidos a variações atmosféricas constantes, como chuvas, vento, calor, poluição e umidade, continuam intactas. 
          Por ser uma pedra macia e de baixa dureza, é muito fácil ser esculpida. Por isso é muito usada no artesanato, para fazer esculturas, na decoração de ambientes e utensílios domésticos, como panelas, filtros, taças, canecas, pratos, xícaras, etc. (foto acima de de Arnaldo Silva utensílios domésticos e abaixo, artesanato em Ouro Preto, todos em pedra sabão)
          As panelas em pedra sabão são as mais indicadas na culinária e largamente usadas nas cozinhas mineiras, por ser uma pedra impenetrável, não solta faíscas ou tenha poros. 
          Para seu uso na cozinha, as panelas em pedra sabão tem que ser curadas. (foto acima de Arnaldo Silva em Cachoeira do Campo MG) O processo de cura é simples, bastando passar óleo de cozinha em toda a panela, por dentro e por fora, aquecer por 15 minutos no forno e repetir o processo por 5 vezes, intercalando 3 horas entre cada etapa, sendo que nas duas últimas etapas, deve se cobrir toda a panela com água. Quando estiverem totalmente escuras, estão aptas para o uso. Quanto mais preta a panela em pedra sabão ficar, melhor. Sem a cura, ela desprende o pó de talco, comprometendo o sabor da comida e prejudicando a saúde humana. Já com a cura, todos os poros são fechados, tornando-a resistente a corrosão, impenetrável e nenhum resíduo de talco se desprenderá. (foto abaixo de Chico do Vale)
          A pedra sabão tem uma enorme facilidade de absorver todo o calor produzido pela fonte de energia, seja no fogão a lenha ou a gás, conduzindo rapidamente esse calor e distribuindo-o por igual, através do aquecimento de massa térmica É diferente por exemplo da panela de alumínio, cujo calor é oriundo somente da chama. Na pedra sabão, além da chama, a própria constituição da pedra a transforma por si só numa fonte de calor, cozinhando mais rápido o alimento e se mantendo aquecida por mais tempo, mesmo quando a chama é apagada.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

O Mosteiro de Macaúbas e o Vinho de Rosas

(Por Arnaldo Silva) O Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas, ou simplesmente convento ou mosteiro de Macaúbas, está localizado na rodovia MG 020, km 37,5 que liga Santa Luzia ao município de Jaboticatubas, a 12 km do Centro Histórico de Santa Luzia e a 40 km de Belo Horizonte. (fotos abaixo de Rodrigo Martins, com arte de Arnaldo Silva)
          O imponente casarão do século XVII conta com 200 cômodos, mobiliário, capela e detalhes do período Colonial brasileiro. O silêncio do local é apenas quebrado pelo canto dos pássaros e os cânticos em latim e orações das freiras que vivem no convento.
          São 16 freiras da Ordem da Imaculada Conceição. Elas vivem em regime completo de clausura, saindo apenas em ocasiões necessárias, como por exemplo, problemas familiares ou de saúde.
          Entrar no templo não é permitido. As freiras vivem numa rotina rigorosa. Acordam todos os dias antes às 5 da manhã e se deitam às 20h30min. Fazem pelo menos 10 orações diárias com horários pré-determinados. Quando não estão orando, estudam ou meditam e trabalham nos afazeres no interior do convento e na produção dos produtos culinários. (abaixo, detalhes da rotina das freiras enclausuradas, com fotos das fotos expostas em painéis no interior do convento, fotografadas pelo Rodrigo Martins)
História
          Sua construção começou em 1714, por Félix da Costa para ser uma casa de recolhimento religioso e educandário feminino. A obra foi concluída em 1770.
          Este foi o primeiro educandário feminino do Brasil. Pelo convento passaram filhas das mais ricas famílias do Brasil e de personagens ilustres de nossa história como, por exemplo, Joaquina, a filha de Tiradentes. Também as nove filhas do Contratador João Fernandes de Oliveira, marido de Chica da Silva estudaram no local. 
          A casa em que o Chica da Silva e seu marido ficavam, quando iam visitar suas filhas, ainda existe. Fica nas proximidades da entrada do Mosteiro (fotografia acima de Alexa Silva/@alexa.r.silva). O próprio João Fernandes, a título de dote pelo acolhimento de suas filhas, entre 1767 e 1768 ampliou o local, mandando construir a Ala do Serro, com mirante e 10 celas (quartos para religiosos). 
          Mas o convento não abrigava apenas filhas da elite brasileira da época. Recebiam e davam abrigo a meninas e mulheres órfãs, pensionistas e devotas. Recebiam também mulheres que optavam em ficar por algum tempo no convento para guardar a honra, enquanto os pais ou maridos viajavam. O convento acolheu também várias mulheres, que para lá fugiram do preconceito e discriminação social por terem sido desonradas. 
          Devido sua importância passou a ser protegido da rainha de Portugal, Dona Maria I, por Carta Régia. Quase um século depois, em 1881, o Imperador Dom Pedro II, que estava de viagem à Minas Gerais, fez questão de visitar o colégio. (fotografia abaixo do Rodrigo Martins)
          Em 1847, o convento passou a funcionar como colégio, se tornando uma das mais tradicionais escolas de Minas Geras.
          No século XX, começa a chegar a Minas congregações religiosas europeias com experiência em educação. 
Com isso, o colégio começa a entrar em decadência e em 1933 deixou de existir o colégio, se tornando desde então até os dias de hoje, um convento de freiras que vivem enclausuradas.
Dia a dia e trabalho
          Quando não estão orando ou estudando, as freiras trabalham e muito. É do trabalho das freiras e doações que vem o sustento e manutenção do convento.
          No interior do Mosteiro elas produzem e vendem licores, doces, quitandas e o famoso vinho de rosas. No século XVII, médicos da época recomendavam este vinho para curar problemas do pulmão. (foto acima de Rodrigo Martins, o Vinho de Rosas e abaixo de Thelmo Lins, mostra a fachada do mosteiro)
          As paredes do convento guardam as receitas das quitandas, licores e do vinho de rosas desde o século XVII. A técnica usada pelas freiras são as mesmas de 300 anos atrás, não mudaram nada no modo de fazer. É totalmente artesanal.
          Elas guardam com zelo cada receita e fazem com um imenso carinho, preservando uma das mais fortes culturas gastronômicas de Minas Gerais. As freiras fazem quitandas, doces, licores e o famoso vinho de rosas. No século XVII, o vinho de rosas era recomendado pelos médicos da época para curar os males do pulmão. 
O vinho que inspirou o filme
     A tradição gastronômica e a história do convento, principalmente o vinho de rosas, virou filme em 2005, chamado de O vinho de rosas. Dirigido por Elza Cataldo, o longa metragem retrata a vida de Joaquina, filha de Tiradentes, criada num convento. Na história, Joaquina descobre que é filha de Tiradentes e que sua mãe, ainda estava viva. Aos 18 anos, deixa o convento e sai em busca de sua história e seu passado.
Como comprar os produtos do Mosteiro de Macaúbas
     A manutenção dos trabalhos, do imóvel e atividades das freiras enclausuradas, vem das vendas dos produtos feitos pelas irmãs e de doações.
     Quem quiser adquirir os produtores da culinária do Mosteiro de Macaúbas, podem entrar ir diretamente ao local ou entrar em contato pelos telefones (31) 3684-2096/9612-1773. 
     Os interessados em ajudar nos gastos com manutenção e reformas do Mosteiro de Macaúbas podem entrar em contato pelos  telefones acima e obter mais informações. 
Agradecimentos: Ao Thelmo Lins e Rodrigo Martins pela gentileza na cessão das fotos para esta edição

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