Em Minas Gerais, os doces se destacam nos tabuleiros das cozinhas mineiras, principalmente em Piranguinho MG, cidade do Sul de Minas, a Capital do Pé-de-moleque no Brasil. O Pé-de-moleque movimenta a economia da cidade e é tão importante que todos os anos, acontece em Piranguinho a Festa do Pé-de-moleque. O destaque da festa, que acontece em junho, junto com os festejos juninos, é a apresentação para degustação pública do maior Pé-de-moleque do mundo, com recordes em tamanho e peso, reconhecidos pelo Guines-book.
A origem do nome não é exata, mas é interessante. Moleque é uma palavra presente no Antigo Testamento bíblico. Era um deus cultuado pelos amonitas, um povo que vivia em Canaã, no Oriente Médio. Um deus, segundo relatos, muito travesso, mal educado, impaciente e esperto. Os filhos dos escravos desde a antiguidade, quando se comportavam mal, eram chamados de moleques pelos seus senhores, acabando virando costume chamar os filhos de escravos de moleques. Calçar ruas com pedras rústicas, desalinhadas, grandes e pesadas, era comum desde os tempos da Roma antiga, passando pela Idade Média e chegando ao Brasil nos tempos da Colônia, quando ruas passaram a serem calçadas com pedras. Era a forma que tinham de evitar andar em ruas de terra, pegando a poeira na estiagem e o barro no período chuvoso.
Os escravos faziam o calçamento e para acertar os espaçamentos entre as pedras irregulares, espalhavam areia misturada com terra. Em seguida, os meninos, filhos dos escravos, pisavam entre esses espaçamentos, amassando bem, para que ficasse firme. Como eram constantemente chamados de moleques pelos senhores de escravos e por usar os pés dos moleques para acertar os espaços entre as pedras, esse tipo de calçamento passou a se chamar “Pé-de-moleque”.
Nos tempos do Brasil Colônia, calçar ruas com pedras passou a ser comum e o mesmo método era usado nas grandes cidades da época. Calçamento esse presente na maioria das cidades históricas. (como em Tiradentes MG, na foto acima de autoria de César Reis) Apenas no final do século XIX e no século XX, as ruas começaram a serem calçadas com pedras em forma retangular, mais trabalhada e lisa, os chamados paralelepípedos, sem a necessidade de usar os pés dos meninos para acertar os espaços.
O doce Pé-de-moleque num tabuleiro lembra muito as ruas calçadas em pedra e por isso passou a ter esse nome. Vale lembrar que o doce surgiu no Brasil no século XVI e o calçamento com pedras tem sua origem milenar.
O Pé-de-Moleque, ao contrário do que muitos pensam, não é um doce brasileiro. É Árabe, tendo sido introduzido na Europa na Idade Média, pelos árabes em suas incursões pela península Itálica e Ibérica. No continente Europeu ganhou variações na receita e nomes. Em Portugal era “nogat”, na França, “nougat”, na Espanha “turrón” e “castuera”, na Itália, “torrene, “Benevento” e “ciubatta, no México é “palanqueta”. Até na Índia existia esse doce, com o nome de “chikki”. Na receita original árabe usava-se o mel de abelhas. No Brasil, a receita chegou pelas mãos dos portugueses no século XVI, quando foi introduzida na Capitania de São Vicente por Martin Afonso de Sousa, o cultivo da cana-de-açúcar, planta de origem indiana.
Da cana saiu o açúcar que passou a ser usado na receita original do pé-de-moleque, no lugar do mel. Com a invenção da rapadura, pelos brasileiros, no lugar do açúcar passaram a usar a rapadura. Não deu outra, o doce ficou divino e a partir dai caiu no gosto do nosso povo de todas as regiões do Brasil. Mas seu nome original era “quebra-queixo” e chamado ainda de “Quebra-Dentes”. Mais tarde com inovações regionais ao longo dos tempos, passou a se chamar Pé-de-moleque, como foi descrito acima. Hoje o doce está presente em todas as regiões do Brasil. Em alguns estados, com receitas um pouco diferentes, com características da culinária regional, mas em sua essência, é o nosso Pé-de-moleque, uma das identidades gastronômicas brasileiras, sendo um dos doces mais populares da cozinha mineira e nordestina, com forte ligação com a cultura caipira, principalmente nos pequenos arraiais mineiros, durantes as festas juninas.
0 comentários:
Postar um comentário