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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

O Clube, a Esquina e a musicalidade mineira

(Por Arnaldo Silva) Saindo da cidade de Três Pontas, no Sul de Minas, Milton Nascimento chega em Belo Horizonte em 1963. Na capital, Bituca, como era carinhosamente chamado, foi morar no quinto andar Edifício Levy. Neste mesmo edifício, morava a família Borges.
          Nessa época, Lô Borges tinha apenas 10 anos. Quando desceu para comprar pão, ouviu Milton Nascimento cantar. Se interessou logo em conhecer o cantor. Surgiu assim uma amizade e admiração, com Milton Nascimento conhecendo os irmãos de Lô Borges, Milton e Márcio Borges. Pouco tempo depois, se juntava ao grupo Wagner Tiso.
          O pequeno grupo de amigos começou a se encontrar frequentemente, numa esquina da Rua Divinópolis com Paraisópolis, no bairro Santa Tereza (na foto acima do Thelmo Lins). Nesta esquina, conversavam, tocavam e cantavam as canções que cada um compunha.
          Ao pequeno grupo, foram se unindo outros músicos, cantores e compositores mineiros como Fernando Brant, Nivaldo Ornelas, Paulo Braga, Beto Guedes, Flávio Venturini, Tavinho Moura, Nelson Ângelo, Tavito, Robertinho Silva, Luiz Alves, Vermelho, Rubinho, Toninho Horta, dentre outros. (na foto acima de Thelmo Lins, placa em frente à famosa esquina do Santa Tereza)
Gêneros musicais
          Músicos de talentos inigualáveis, os membros do Clube da Esquina representavam o que tinha de mais genuíno e autêntico na música mineira. A sonoridade específica das músicas, os arranjos e letras das composições, são únicos e inconfundíveis.
          Isso se deve à fusão diferentes gêneros musicais, que cada integrante do Clube da Esquina trouxe consigo, ao se juntarem ao grupo, como a Música Regional, MPB, Bossa Nova, Música Experimental, Rock Progressivo e Psicodélico, Smooth Jazz, Jazz Rock, Jazz Fusion, Art Rock, Samba, Música Folclórica mineira, Música Erudita e Mod.
          Essa fusão de sons e gêneros diferentes de cada um dos artistas que formavam o Clube da Esquina, gerou um dos mais impactantes, importantes e impressionantes movimentos musicais do século XX.
          Além disso, o movimento influenciou toda uma geração, tornou popular a música mineira no Brasil, além de ser ter sido um movimento de forte influência musical em nível nacional e mundial.
          No ecletismo dos gêneros musicais predominavam o violão, instrumentos de percussão, bateria, teclados, baixo elétrico, contrabaixo e guitarra elétrica. Com esses instrumentos, os integrantes do Clube da Esquina, mesclavam seus gêneros e entoando notas diferenciadas graças ao talento de seus integrantes, na união de sons e arranjos fantásticos.
O que é o Clube da Esquina?
          O Clube da Esquina não é um clube na expressão literal da palavra e nem seus integrantes formavam uma banda ou grupo musical. Era um grupo de amigos que tinham em comum a música. O grupo se formou de forma espontânea, se encontrando com frequência em uma esquina do bairro Santa Tereza, para trocarem experiências musicais, conversarem entre si, apresentarem suas composições, canções, arranjos. Um grupo de amigos, que tinham em comum a música. (na foto acima e abaixo de Thelmo Lins, placas oficiais na esquina onde foi formado o Clube da Esquina)
          Cada um dos integrantes do Clube da Esquina tinha sua própria carreira musical. Em apresentações solos ou em bandas, cantavam e gravavam suas canções.

          Por serem integrantes do movimento musical e seguirem o gênero musical do grupo, as composições musicais desses integrantes, durante a existência do Clube da Esquina (1972/1978), integram o acervo do movimento musical, imortalizadas como músicas do Clube da Esquina.
          Com o nome Clube da Esquina, apenas dois álbuns foram lançados durante a existência do movimento: Clube da Esquina I (1972) de Milton Nascimento e Lô Borges e Clube da Esquina II (1978), de Milton Nascimento.
          O restante da discografia que faz parte da odisseia dos mineiros do Clube da Esquina, são lançamentos individuais, de cada artista do grupo, seguindo o gênero e sonoridade do movimento musical mineiro. Destaque para discos o e composições de Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta, dentre outros, além das composições de Fernando Brant, um dos principais compositores de músicas do Clube da Esquina, reconhecido como um dos maiores compositores brasileiros.
Por que Clube da Esquina
          A esquina onde o grupo se encontrava começou a se popularizar. Foi sugerido ao grupo frequentarem um clube da alta sociedade belo-horizontina da época, mas o grupo recusou. (na imagem acima de Thelmo Lins, placa fixada em frente à famosa esquina do Santa Tereza)
          A ideia de um clube foi atraente, mas todos entendiam que o lugar deles era ali, naquela esquina. Ali era o lugar deles. A esquina do Santa Tereza era o local de encontro e eles, os artistas, eram o próprio clube. Se era para estar num clube, a esquina era o clube.
          Assim ficou, Clube da Esquina que passou a ser muito além de um clube de encontro de amigos que tinham em comum, o gosto pela música, para ser um dos maiores estilos musicais do Brasil, considerado o maior movimento musical brasileiro, depois da Tropicália.
50 anos do Clube da Esquina
          Na década de 1970, o estilo musical do Clube da Esquina já se tornara conhecido e suas canções já influenciava gerações de artistas e amantes da boa música. A partir de 1972, o Clube da Esquina se desponta no Brasil como movimento musical.
          Embora tenha surgido a partir 1963, não como estilo e movimento musical, mas como um grupo de amigos que se encontravam na esquina do Santa Tereza, 1972 é o ano de referência da criação do Clube da Esquina. 1978 é o ano que o movimento musical encerrou sua epopeia. Em 2022, o movimento musical Clube da Esquina completa 50 anos. (na imagem acima de Thelmo Lins, placa em frente à famosa esquina do Santa Tereza)
          Durante os anos de existência do Clube da Esquina, canções, de grande valor para Minas Gerais, o Brasil e a humanidade, surgiram. Verdadeiras joias da música mineira e brasileira. São músicas eternizadas e que nunca saem de moda. Uma verdadeira epopeia musical, nascida numa época de ouro da música mineira e brasileira.
          Mesmo as canções, composições, discos e álbuns individuais dos integrantes do Clube da Esquina, compostas antes de 1972 e durante os anos do movimento, até 1978, são consideradas como sendo do movimento musical, por terem sonoridade e estilo das músicas do Clube da Esquina.
          Canções épicas do Clube da esquina e de integrantes do movimento musical, estão presentes até os dias de hoje em nosso cotidiano e fazem parte da cultura mineira e brasileira.
          Como por exemplo Ponta de Areia, Travessia, Maria, Maria, Canção da América, Planeta Blue, Promessas do Sol, O Vendedor de Sonhos, Encontros e Despedidas, San Vicente, Nos Bailes da Vida, Suíte Minas Gerais, Trem Azul, Para Lennon e MacCartney, Calixbento, Trem de doido, Paisagem da janela, Cravo e Canela, Estrelas, Nada será como antes, Tudo que você podia ser, dentre outras tantas canções, presentes em discos épicos como Travessia (1967) de Milton Nascimento Lô Borges (O disco do tênis - 1972), de Lô Borges, Amor de Índio (1978) de Beto Guedes, Som Imaginário (1970 e 1971), Matança do Porco (1973), dentre outros discos e álbuns lançados pelos integrantes do Clube da Esquina, entre 1963 e 1978.
O Bar do Museu
          Na esquina do local onde os integrantes do Clube da Esquina se encontravam, onde era antigamente o Bar do Godofredo, funciona desde dezembro de 2015, o Bar do Museu – Música, Poesia e Gastronomia. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          Está a alguns metros da esquina onde os integrantes do Clube da Esquina costumavam se encontrar, no tradicional bairro de Santa Tereza, entre as Ruas Divinópolis e Paraisópolis.
          O ambiente interno conta toda a odisseia do Clube da Esquina. São objetos, discos de vinil e painéis que nos levam de volta aos velhos e saudosos tempos do Clube da Esquina, relatados poeticamente na música, Rua Ramalhete, do cantor e compositor Tavito.
          Além da decoração temática, o visitante encontra souvenires diversos, camisas e livros alusivos ao Clube da Esquina, pratos, quitutes, sobremesas e bebidas da nossa gastronomia, com nomes de músicas dos integrantes do Clube, além de poesia e apresentações musicais de canções Clube da Esquina. Fica aberto às quintas e sextas-feiras a partir das 16h e sábados, a partir das 12h até as 00:h. No outros dias da semana, não abre.
Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais
          A música e sonoridade do Clube da Esquina, ainda não é oficialmente, Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais, mas está caminhando para ser.
          Está em estudo e análise, desde janeiro de 2022, o projeto dedicado à Mineiridade, da Secretaria de Estado da Cultura e Turismo/Secult-MG. O objetivo final é reconhecer a obra musical do Clube da Esquina e de seus integrantes, como Patrimônio Cultural e Imaterial dos mineiros.

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