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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Ah, Minas!

A verdade de Minas
é de quem
nunca saiu de lá
mesmo que os sonhos
tenham engendrado voos
para as grandes capitais
onde não se ouve o rorejar das águas cristalinas
despencando do alto
virando rio
buscando outras águas
pra alimentar o Velho Chico.

Quem não sabe de Minas a verdade
por certo não sabe do pó
da terra
da pedra
da limalha de ferro
que vai entrando pelos pulmões
sufocando vozes
no seu grito de liberdade
ou vira arte bela
nas mãos dos artesãos....

Quem nunca andou pelo solo mineiro
quem não parou pra ouvir o sotaque brejeiro
que é assim meio caipira
meio poesia
não sabe das angústias de um povo
que tem o horizonte encurtado pelas montanhas
as alterosas tão lindas
que impressionam o visitante
mas não revelam o grande segredo
dessa terra gigante
desse estado-diamante.

Quem sabe de Minas a verdade?
A que se esconde nas fissuras gigantescas
abertas por mãos ávidas de lucro
que transformam rejeitos tóxicos
em lama avassaladora e faminta
que a tudo devora num minuto
sem fazer distinção de nada?

É preciso ser mineiro
de coração ou de nascença
pra entender a verdade possível
a que escapole por uma pequenina fresta
quando um olhar mais atento
aquele que sai do fundinho do coração
olha assim de soslaio
e apreende o tesouro escondido.

Minas não é evidente!
Não. E nunca será.
E pra saber de Minas
é preciso intenção
e pernas pra andar.
Bom também ter ouvidos desejosos de prosa boa
e um olhar perscrutador
Se tiver ainda poesia na alma,
aí sim
a verdade de Minas se revelará
não de forma escancarada
mas aos poucos
como água saindo da nascente
à espera do tropeiro-viajante.

As riquezas de Minas
as que provocam rompimentos de barragens
explosões, inundações
vidas interrompidas
são fantasias capitalistas

O essencial
a verdade mais bonita
Ah!
É preciso ter olhos pra ver e sentir
todos os nossos Brumadinhos
Bentos Rodrigues
Marianas
tudo tão pequenino
lembrando presépio a céu aberto
e soberbo a um só tempo.

Minas é um grande mosaico
costurado de amores
Nenhum retalho é igual ao outro
mas essas sutilezas
só quem sabe da verdade de Minas
vai decifrar.

Poema de Amarília T. Couto
Imagem ilustrativa de Marselha Rufino em Itumirim MG

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