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terça-feira, 29 de junho de 2021

O estilo europeu do Palácio da Liberdade

(Por Arnaldo Silva) No topo de uma colina do arraial do Curral Del Rei, subordinado a Sabará, no século XIX, segundo a sabedoria popular, não oficial, ex escravos, livres ou alforriados, se encontravam para ajudar escravos, ainda cativos nas senzalas das fazendas da região, a comprarem suas liberdades.
          Esse lugar se popularizou com o nome de Liberdade. No ano da Abolição da Escravidão no Brasil, 1888, o local que os ex escravos se reuniam, Liberdade, se transformou em praça do arraial de Curral Del Rei, passando a se chamar, Praça da Liberdade, a partir de 1888. (na fotografia acima de Nacip Gômez, a escadaria de acesso para o segundo andar)
          Com a decisão da implantação da nova capital de Minas Gerais, numa região mais central, o local escolhido para ser a nova capital dos mineiros, foi o arraial de Curral Del Rei, tendo como centro administrativo da futura capital, justamente, a Praça da Liberdade, do arraial. (na fotografia acima, o Arraial do Curral Del Rey em 1890, com destaque para a antiga Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Fotografia: Arquivo Público Mineiro/Domínio Público)
          A partir da escolha da nova sede da capital mineira, começam as construções e execuções dos projetos da futura capital, que seria inaugurada em 1897. A Praça da Liberdade foi urbanizada, prédios públicos começaram a serem erguidos, com destaque para a nova sede do Governo de Minas Gerais, o Palácio da Liberdade. (na fotografia acima do Wilson Paulo Braz/@paulobraz10, alguns dos prédios públicos da Praça da Liberdade)
          Toda Belo Horizonte, da época, teve em sua arquitetura urbana, bem como os traçados de suas ruas e avenidas, inspiração no urbanismo das cidades de Paris, na França e Washington, nos Estados Unidos. A cidade foi projetada para ter uma população de no máximo, 400 mil habitantes. Hoje tem 2,5 milhões.
A construção do Palácio da Liberdade
          Projetado pelo engenheiro e arquiteto pernambucano, José de Magalhães, o imponente e suntuoso Palácio da Liberdade, é um dos grandes destaques da arquitetura mineira, do final do século XIX. O arquiteto projetou o prédio, se inspirando no estilo neoclássico, mesclando ainda outros estilos da época, como o estilo Luís XVI, e traços do estilo mourisco, muito comum na Espanha e Portugal, no século XIX. Sua arquitetura, ornamentação e jardins, tem um pouco da Alemanha, Bélgica, Espanha, Portugal e França. (na foto acima do Arnaldo Silva, os fundos do palácio)
          Inaugurado em 1898, um ano depois da instalação de Belo Horizonte, como capital de Minas Gerais, o Palácio da Liberdade, foi idealizado para ser a mais importante construção da capital mineira, já que foi feito para ser a sede do Governo de Minas Gerais e moradia dos governadores mineiros.
Detalhes e ornamentação interna europeia
          São três pavimentos, com fachada em cantaria lavrada, um tipo de pedra lisa, batida, muito comum nas construções daquela época. O prédio conta ainda com torreões com terraços, pilares revestidos em mármore, portas e janelas, em colunas jônicas (na foto acima do Arnaldo Silva, percebe os detalhes das portas e colunas jônicas). No topo da sacada frontal, um monumento em alusão à liberdade.
          Boa parte do material usado na construção do palácio, bem como mobiliário e ornamentação interna, foram importados da Europa, no final dos séculos XIX e início do século XX.
          No térreo, se destaca a escadaria em estilo art-nouveau, feita em mármore, ferro fundido e arranjos florais, também em ferro. Um tapete vermelho dá um tom de glamour à escadaria. (fotografia acima de Wilson Paulo Braz/@paulobraz10)
        Projetada no Brasil, foi integralmente construída na Bélgica, com os detalhes florais dos ferros fundidos, feitos na Alemanha (nos detalhes acima, na fotografia de Nacip Gômez). A belíssima escadaria dá acesso ao segundo andar, onde fica o receptivo, salão de reuniões, gabinete do governador, sacadas, sendo a principal, de frente para a praça, onde os governadores faziam discursos.
          O segundo piso do Palácio da Liberdade é o que chama mais atenção. Subindo a escadaria do hall de entrada para o salão nobre, o visitante se depara com o brilho, glamour e luxo das decorações do início do século XX. (na fotografia acima de Arnaldo Silva)
          No teto, um enorme lustre de cristal bacarat, com 40 tulipas e quatro painéis enormes, revestindo todo o teto e paredes laterais, com os temas: Salfe, Labor, Fortuna e Spes, não passam despercebidos. Impressionam os visitantes, que não resistem em observar cada detalhe das imponentes obras e detalhes decorativos. Três portas decoradas em dourado e bem talhadas, dão acesso ao salão nobre. (fotografia acima de Nacip Gômez)
          Visitando as salas e salões do segundo piso, impressiona ainda a riqueza do mobiliário, das finíssimas peças, vasos, quadros e telas, além de sua ornamentação, enfeites em papier mâché, pintado, bem como pinturas nos tetos, paredes com telas e molduras com finíssimos acabamentos, conhecidas na época como cimalhas.
Salas e salões
           Outro destaque do segundo andar é o piso dos salões e salas, feito no estilo parquê belga. Neste estilo, os soalhos formam desenhos e formas interessantes. (na foto acima do Thelmo Lins, uma das salas do palácio e abaixo de Nacip Gômez, o Salão de Reuniões)
          Chama a atenção, a impressionante riqueza dos objetos decorativos, principalmente, os cristais, os detalhes nas portas de entrada do salão, as poltronas e sofá no estilo da Renascença italiana, a Sala das Medalhas, a Sala do Couro, a Sala da Rainha, em homenagem a Rainha Elizabeth, da Bélgica, um vaso japonês no século 19 e outros vasos chineses, além do mobiliário em madeira, do salão dourado, no estilo Luís 16.
          Este estilo tem como base o estilo clássico e romântico. Conhecido ainda por neoclássico, tem como características principais o luxo e o excesso de dourado em suas talhas.
          O luxo e belezas das talhas desse estilo, estão presentes nas decorações de palácios, castelos e sedes de governos de todo o mundo, construídos no início do século XX. Os detalhes do luxo e dourado das talhas bem trabalhadas do estilo Luís XVI estão presentes nas salas e salões do Palácio da Liberdade, principalmente no salão nobre, onde fica o receptivo, salas e salões do palácio. (na foto acima e abaixo do Thelmo Lins, um dos belíssimos mobiliários, em estilo Luís 16, presentes nos salões do palácio)
          A decoração e ornamentação do Palácio da Liberdade, além da pintura da entrada do salão nobre, foi executado por um grupo de decoradores, formado por brasileiros e estrangeiros. Liderados pelo artista Frederico Antônio Steckel, o grupo veio do Rio de Janeiro para fazer a decoração interna do palácio.
          Já os painéis do teto do salão nobre, foram pintados pelo artista plástico Antônio Parreiras, em 1925. Nos painéis, está Apolo, cercado por cavalos brancos e ladeado por 12 musas, além das imagens das musas da música, pintura, literatura e escultura. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
Mobiliários da Europa e os Reis da Bélgica
          No andar superior, foi construída a residência oficial dos governadores mineiros. São aposentados com fino acabamento, em estilo rococó e mobiliário importado.
          No final da década de 1910, o mobiliário do palácio foi renovado, com um finíssimo mobiliário, vindos da Europa.
          Isso porque, o Palácio da Liberdade, receberia em seus aposentos, Alberto e Elisabeth, Reis da Bélgica, na ocasião. A corte belga, chegou a Belo Horizonte em 2 de outubro de 1920. Foram recebidos com muita honra e pompa, com direito a sala de reuniões, sala de visitas, sala para chás e aposentos com mobília preparadas para receber a realeza belga. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Foi a primeira viagem de monarcas europeus, ao Brasil, após a Proclamação da República, em 1889. A presença do Rei e Rainha da Bélgica, estreitou laços com o Brasil e principalmente, com Minas Gerais. Dessa aproximação, por exemplo, foi instalada em Minas Gerais, a Companhia Belgo-Mineira, em 1921. Alberto e Elizabeth, visitaram ainda, em Minas Gerais, a cidade de Lagoa Santa e a Mina de Morro Velho, em Nova Lima.
Os jardins do Palácio e a Praça da Liberdade
          Os jardins do palácio, foram projetados pelo paisagista francês, Paul Villon, no final do século XIX, que obviamente, seguiu os projetos de jardinagens franceses e também, com detalhes ingleses. (na foto acima de Wilson Paulo Braz/@paulovbraz10, os fundos do Palácio da Liberdade e na foto abaixo, também de @paulobraz10, a Alameda das Palmeiras)
          A praça foi dividida por uma alameda, ladeada por palmeiras imperiais e geometrias de seus canteiros, tem a assinatura de Reynaldo Dierberger, em 1920. O coreto dos jardins do palácio, teve a assinatura de Edgar Nascentes Coelho, em 1904 e Francisco Izidoro Monteiro, em 1909. Não é o coreto da praça, que foi inaugurado em 1923, é nas dependências dos jardins do palácio.
          Ornamentam os jardins, cinco diferentes esculturas francesas em mármore, um lago, uma capela, um quiosque em estilo oriental e postes com luminárias do século XIX, além do orquidário (na foto acima do Nacip Gômez)
          Quando de sua construção, tanto o palácio, quanto a praça, compunham um só espaço. A alameda rodeada por palmeiras, era a entrada principal do Palácio da Liberdade. A entrada não tinha a separação por rua e nem o palácio era cercado com grades, como é hoje. Foi a partir de 1968, que foram colocadas grades no entorno do palácio e abertura de uma rua, separando a Praça, da sede do Governo. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          Até 1950, os governadores mineiros moravam no terceiro piso do palácio, quando o então governador, Juscelino Kubitschek, determinou a construção do Palácio das Mangabeiras, no bairro de mesmo nome, para servir de moradia aos governadores. A partir de então, o Palácio da Liberdade, foi usado apenas, como sede administrativa, do Governo de Minas.
          A Praça da Liberdade, seus jardins, arborizações e construções imponentes, são uma completa mistura de cores, charme, beleza e riqueza dos vários estilos predominantes na Europa, no final do século XIX e início do século XX. (jardins do palácio fotografado pelo Nacip Gômez)
          Mesmo com novas construções ao longo do século XX, como o Edifício Niemeyer e passando por modificações e reformas, ao longo de mais de 120 anos, o Palácio da Liberdade, bem como, todo o conjunto arquitetônico que forma a Praça da Liberdade, mantiveram seus aspectos e estilos, originais.
O Palácio da Liberdade hoje
          O Palácio da Liberdade sempre foi um dos destaques da arquitetura belo-horizontina e um dos principais cartões postais de Minas Gerais. Requinte, luxo riqueza decorativa, história e beleza, são as marcas do palácio. (na foto acima de Arnaldo Silva, os jardins dos fundos do palácio)
          Desde 1977, o conjunto arquitetônico e Paisagístico originais da Praça da Liberdade, foram tombados pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA/MG)
          Hoje, a sede administrativa do governo mineiro não é mais o Palácio da Liberdade e sim, o Palácio Tiradentes, projetado por Oscar Niemeyer. Construída no bairro Serra Verde, próxima ao aeroporto Internacional de Confins. O Palácio Tiradentes é mais conhecido por Cidade Administrativa, por abrigar, além da sede do Governo de Minas, todas as secretarias de Estado. (na foto acima do Wilson Paulo Braz/@paulobraz10, a parte frontal do Palácio da Liberdade)
          Já o Palácio da Liberdade, é hoje um espaço público, recebendo nas quartas e quintas-feiras, escolas para visitas e atividades educacionais. E ainda, é aberto à visitação do público em geral, aos sábados e domingos, de 10h às 16 h, com guias. Diante da situação atual que vive Minas Gerais e o país, as visitas foram suspensas. Certifique-se antes.

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