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domingo, 7 de março de 2021

As Irmandades religiosas e a construção de igrejas em Minas

(Por Arnaldo Silva) Quem vem às cidades históricas mineiras se deslumbra com a riqueza arquitetônica dos casarões e principalmente, pela suntuosidade e imponência das igrejas mineiras.
          Minas Gerais, no auge de sua povoação, no século XVIII, não foi construída pelas mãos de engenheiros e arquitetos e sim, pelas mãos de artistas, artesãos, escultores e mestre nas artes que fizeram escola e até hoje são reverenciados, como mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e seu pai, Manuel Francisco Lisboa, Joaquim José da Natividade, Valentim da Fonseca e Silva, Manoel da Costa Ataíde, José Soares de Araújo, Silvestre de Almeida Lopes, dentre outros outros tantos talentos mineiros e estabelecidos em nossas terras. (na fotografia acima de Nacip Gômez as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo em Mariana MG)
          Minas não foi construída, foi esculpida e pintada à mão.
Por isso a riqueza e beleza das construções e ficam sem entender, porque tantas igrejas, até próximas umas das outras e do porque a Igreja Católica construía tantas igrejas e com tanto ouro e suntuosidade. A questão é que não foi a Igreja Católica a construtora das igrejas mineiras durante o Ciclo do Ouro e sim, as Irmandades.
O Ciclo do Ouro e as Irmandades
          A descoberta do ouro em Minas Gerais, fez surgir vilas e cidades, formada por diferentes povos, que vieram para a então capitania. Vieram de todos os cantos do Brasil e também, do mundo. Foram esses povos, que deram origem a formação social, política, arquitetônica, cultural e gastronômica de Minas Gerais.
          Foi este um período que começaram a surgir em Minas Gerais, as irmandades e confrarias. Com origem na Europa, eram associações de homens de diversas camadas sociais, ricos ou pobres, que tinham ideais e objetivos comuns, além da devoção a um santo católico, que era a base para o surgimento das irmandades e confrarias. (na foto acima de Peterson Bruschi, o Altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, igreja de Ouro Preto construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
Confraria, Irmandade e Ordem Terceira
          
Embora pareça ser a mesma coisa, confraria, irmandade e Ordem Terceira, tem suas diferenças. As confrarias eram associações pias, informais, formada pela união de grupo de pessoas leigas, com o objetivo de fazer caridade. Quando passavam a se constituir formalmente, como pessoas jurídicas, registradas e reguladas por estatutos, eram chamadas de irmandades.
          Já as ordens terceiras eram instituições da Igreja Católica, formada por leigos. Eram muito ativas nos tempos do Brasil Colônia, em Minas. Para se fundar uma ordem terceira, os leigos dependiam de autorização dada por uma ordem primeira. Diferente das confrarias e irmandades, que aceitavam entre seus membros, diversos setores da sociedade, o ingresso à Ordem Terceira, obedecia a critérios rigorosos e seletivos, como por exemplo, ser rico, ter o sangue limpo, ou seja, seus membros não podiam ser negros, cristãos novos, ter origem de “raça duvidosa” ou com descendência de alguns desses povos, além de outras exigências.
          Menos seletivas, as irmandades e confrarias eram mais comuns, formadas por homens brancos, negros, pardos, mestiços e mamelucos, com profissões e classes sociais diferentes, seja rico ou seja pobre. Cada grupo, com suas respectivas irmandades e devoção a seus santos, mas sem se misturarem. (na foto acima de Elvira Nascimento, a Igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina MG, construída pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis)
          Ser aceito e fazer parte de uma irmandade ou confraria, era primordial para o reconhecimento social, dos homens no período colonial.
A Irmandade dos Homens Pretos
          Entre as irmandades formadas em Minas Gerais, as irmandades dos homens pretos, eram as mais ativas e atuantes. Isso devido à limitação impostas pelos brancos à fé dos escravos, bem como as discriminações, humilhações e preconceitos a que eram submetidos, constantemente.
          A forma que encontraram para se unirem, com a permissão das autoridades, foi através das irmandades.          
          Assim foram surgindo irmandades de homens pretos e pardos pelas cidades mineiras, com o objetivo de se protegerem e construírem suas próprias igrejas. Com isso, conseguiam se fortalecer, protegerem-se uns aos outros, além de preservarem suas tradições, cultura e fé, mantendo ainda a unidade dos homens que formavam a irmandade. 
          As irmandades dos homens pretos nutria grande afeição por Nossa Senhora das Mercês, São Benedito e em especial, Santa Efigênia (na foto acima de Ane Souz, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, irmandade fundada por volta de 1717) e principalmente por Nossa Senhora do Rosário.
          A predileção dos escravos pela santa católica se deu devido ao seu rosário, semelhante ao “rosário de ifá”, usados pelos sacerdotes africanos. (na foto abaixo de Ane Souz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, irmandade fundada em 1715)
A expulsão das Ordens Religiosas em Minas 
          A maioria das igrejas mineiras, durante o Ciclo do Ouro, foram construídas por irmandades e confrarias religiosas, diversas. As irmandades foram se formando durante o período da mineração do ouro, devido os desentendimentos entre a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa.
          No início do século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, a Coroa Portuguesa proibiu as ordens primeiras da Igreja Católica de atuarem e de existirem em Minas Gerais, bem como, limitava a circulação de religiosos, nas cidades onde existia mineração. (na fotografia acima de Ane Souz a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto MG)
          O objetivo era manter bem longe de Minas Gerais, principalmente das cidades onde eram extraídos ouro e diamantes, o clero regular. Afastando e expulsando as ordens religiosas de Minas Gerais, a Coroa Portuguesa visava controlar o contrabando, bem como se prevenia de possíveis complicações futuras, pelo fato das ordens religiosas não se submeterem à normas da administração portuguesa e sim, à normas internas da Igreja Católica. 
          Além disso, muitos religiosos e ordens,  se envolviam em rebeliões de contestação da atuação da Coroa Portuguesa, sendo vistos como desestabilizadores e incentivadores de revoltas populares. 
O papel das Irmandades na religiosidade mineira
          Expulsar as ordens religiosas foi uma medida drástica. Para evitar descontentamento entre os mineiros, a saída que a Coroa Portuguesa encontrou foi a de incentivar a criação das irmandades ou confrarias, formadas por leigos. Assim, as manifestações de fé do povo mineiro, continuava e as regras e imposições da Coroa Portuguesa, respeitadas. Cabia então às irmandades, construir os templos, zelar pelas igrejas, organizar os serviços religiosos, além de construírem e manterem seus cemitérios.
          Mesmo com o impedimento da presença das ordens religiosas da Igreja Católica em Minas Gerais, a administração portuguesa permitia a presença de padres, designados pelos bispos da Bahia e Rio de Janeiro, estados onde não havia as restrições impostas aos clérigos. Com a expulsão das ordens religiosas em Minas Gerais, era o Arcebispado desses dois estados, os responsáveis por designar padres e orientar as atividades religiosas na Capitania das Minas Gerais. (na fotografia acima de Ane Souz, o interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto MG)
          Os padres que eram designados pelo Arcebispado, tinham que obter licença do governo português na colônia e seguir rígidas regras, para atuarem em na Capitania de Minas Gerais. Teoricamente, a atuação desses padres se limitava à ministração dos cultos e serviços dos sacramentos. Quem construía, dirigia, preparava as cerimônias dentro e fora dos templos e administrava as igrejas, eram as irmandades e não a Igreja Católica.
O papel social das Irmandades 
          Assim foram surgindo as irmandades e confrarias pelas cidades mineiras, com o objetivo de unir homens em prol de seus ideais comuns, defendendo seus interesses e a devoção em seus santos, dedicando a eles, as igrejas e capelas que construíam.
          As atuações das irmandades eram vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, já que esses movimentos, tinham total controle sobre a construção de seus templos, contratação de arquitetos, pintores para ornamentação e decoração de suas igrejas. Eram as irmandades que decidiam como seriam construídas as igrejas, que tipo de adornos e ornamentações que teriam, mobiliário, peças sacras, tudo. Isso eximia o Estado de subsidiar e manter os templos, já que o custo das obras, bem como sua ornamentação e pinturas, ficava por conta dos membros das irmandades. (na foto acima do Matheus Freitas/@m.ffotografia, o Altar-mor da Basílica de Nossa Senhora do Pilar em São João Del Rei MG, igreja construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1711)
          Outro fator importante para o apoio às irmandades pelo Estado, era o serviço de apoio e assistência social que estas prestavam aos seus membros e seus familiares. Além disso, ajudavam os que não eram membros das irmandades, mas tinham devoção a seus santos, mantendo afinidades com as irmandades.
          Todos os membros das irmandades, tinham por obrigação, ajudar uns aos outros, em tudo que necessitassem. Quando ficavam doentes e necessitavam de ajuda, lá estava os irmãos e confrades para ajudarem. Eram ajudados quando passavam por problemas financeiros e quando eram presos, contavam com assistência jurídica. 
          As viúvas dos membros das irmandades não ficavam desamparadas e as irmandades, ajudavam financeiramente as viúvas e filhos, caso necessitassem. Davam ainda apoio às famílias com velório e sepultamento dignos, além de apoio e conforto espiritual.
          Essas atividades sociais eram importantíssimas paras as irmandades e vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, que assim se sentia desobrigada de prestar assistência social à população.
          Mesmo assim, a atuação das irmandades era controlada pelo governo português, que exigia que cada irmandade criada, tivesse seu estatuto próprio, com normas que regulava as atividades dos membros da irmandade. 
          O estatuto teria que ser registrado e aprovado por uma entidade criada pela administração portuguesa, a Mesa de Consciência e Ordens. Nos estatutos das irmandades, constava suas obrigações jurídicas de acordo com as leis vigentes da época, regulamentação da conduta moral, ética, religiosa, política, familiar e social de seus membros.
          A formação das irmandades e suas atividades, eram acompanhadas e orientadas, pelo Arcebispado da Bahia e Rio de Janeiro, que acompanhava a formação das irmandades em Minas, bem como na orientação de suas atividades religiosas. Recebendo essa aprovação das autoridades, passavam a serem reconhecidas pela Coroa Portuguesa. Caso houvesse necessidade de mudança nos estatutos, as irmandades teriam que comunicar às autoridades, encaminhar as mudanças e aguardar a aprovação. (na foto acima da Ane Souz, o altar da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, no bairro Padre Faria em Ouro Preto MG)
          Por isso a existência de tantas irmandades e confrarias em Minas Gerais e claro, de igrejas. Quanto mais irmandades existiam numa cidade, mais igrejas eram construídas.
Quanto mais irmandades, mais igrejas
          Em Ouro Preto, por exemplo, durante o Ciclo do Ouro, existiam 29 irmandades. Cada igreja ou capela ouro-pretana, nessa época, foi construída por uma irmandade diferente. E assim foi por todas as cidades mineiras, surgidas durante o Ciclo do Ouro, como Sabará, Serro, Mariana, Tiradentes, São João Del Rei, Diamantina, etc.
          E era cada um na sua, cada irmão em sua irmandade, cada confrade em sua confraria. (na foto acima do @viniciusbarnabe, a Igreja de São José, construída pela Irmandade do Patriarca São José dos Homens Bem Casados e ao fundo, a Igreja de São Francisco de Paula, construída pela Irmandade da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula em Ouro Preto MG) 
          As irmandades não viam a carência religiosa da sua cidade em si, mas sim, os seus interesses, com sua atuação religiosa e social, restrita a seus membros e devotos dos santos de suas respectivas igrejas. Não se incomodavam e nem se importavam em construir seus templos, próximas uns dos outros. 
          Isso porque suas igrejas não eram para a cidade, e sim, para a própria irmandade, inclusive, as sedes das irmandades eram dentro das igrejas, em salões localizados nos fundos. Cada irmandade construía sua igreja, mesmo que à frente, na rua do lado ou atrás da sua igreja, exista outra. (na foto acima do Matheus Freitas/@m.ffotografia, a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e ao fundo, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em São João Del Rei MG)
          Por isso que nas cidades históricas mineiras, erguidas nesse período, existem tantas igrejas e todas, bem próximas.
Irmandades, vaidades e poder financeiro
          Havia inclusive disputas de poderio econômico entre irmandades. Notadamente visível na Praça Minas Gerais em Mariana, manifestação clara da disputa de poderio econômico e de poder, entre duas irmandades: a Ordem Franciscana e a Terceira Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Essa disputa resultou na construção de duas igrejas, uma em frente a outra, dedicadas à São Francisco de Assis, construída em 1763 e à Nossa Senhora do Carmo, construída em 1784. (na foto acima do Peterson Brushi)
          A construção de igrejas pelas irmandades, ultrapassava os sentimentos de fé e devoção. Era mostra clara de disputa de poder, com explícita demonstração de poderio econômico. Para conquistar poder ou manter o poder em mãos, as irmandades investiam fortunas em ornamentos em ouro, madeiras nobres, luxo e riqueza. 
          O luxo excêntrico e riqueza das ornamentações das igrejas do período colonial em Minas Gerais,  saiam dos bolsos dos membros das irmandades e não dos cofres da Igreja Católica.          
          Quanto mais ricos eram os membros das irmandades, mais investiam em seus templos. Quanto mais ouro e ornamentos tinham as igrejas, mais prestigio, fama, poder econômico e social, tinham a irmandades e seus membros.
(na foto acima do César Reis, o reluzente brilho do ouro do Altar-mor da Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes MG, construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1710)
A volta das Ordens Religiosas à Minas Gerais
          Com o fim da riqueza gerada pelo ouro, finalizou também a proibição da presença das ordens religiosas oficiais, que voltaram a se instalar em Minas Gerais, passando a administrar as igrejas e cemitérios e demais obras sociais, bem como reformar e construir novos templos. 
          As irmandades e ordens terceiras, continuaram a existir e muitas delas, existem até os dias de hoje, nas cidades históricas mineiras. Dão apoio às ordens e ajudam nos trabalhos das igrejas, que administradas diretamente pelas ordens oficiais católicas, bem como, colaboram na manutenção de seus templos. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Chapada do Norte e a tradição da Festa do Rosário

(Por Arnaldo Silva) Localizada no Vale do Jequitinhonha, distante 522 km de Belo Horizonte, está Chapada do Norte, uma pequena cidade histórica mineira, com 10.337 habitantes, segundo Censo do IBGE em 2022. Chapada do Norte faz divisa com os municípios de José Gonçalves de Minas, Berilo, Francisco Badaró, Jenipapo de Minas, Novo Cruzeiro, Minas Novas e Leme do Prado. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade).
          A cidade se destaca por sua arquitetura colonial, sua história e por guardar e preservar em sua forma original, as tradições, raízes e cultura negra. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade) Isso porque Chapada do Norte tem sua origem em quilombos formados durante o Ciclo do Ouro. A exploração mineral na região começa a partir de 1728, no século XVIII. Em busca do ouro, vieram pessoas de várias localidades, formando assim um arraial, denominado de Arraial de Santa Cruz da Chapada.
          Com a decadência do ouro, parte dos moradores do arraial, começaram a ir embora, permanecendo boa parte dos escravos que lá viviam. Com o tempo, começou a chegar escravos que fugiam dos maus tratos, dando origem a formação de quilombos. A comunidade aumentou a partir de 1888, com a abolição da escravidão. Assim, a comunidade crescia, foi elevada à distrito e cidade emancipada em 1963, com o nome de Chapada do Norte.
          Charmosa, atraente e acolhedora, guarda tesouros valiosíssimos da nossa arquitetura, religiosidade, folclore e tradições, presentes nos casarões e igrejas do século XVIII, como a Igreja Matriz de Santa Cruz, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de Nossa Senhora da Saúde e ainda a Capela do Bom Jesus da Lapa, do século XIX. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1), o interior da Capela do Rosário)
Tradicionais vendinhas
          Na cidade, encanta as pitorescas vendinhas, onde se encontra de tudo, o singelo casario e a simplicidade de seu povo, muito hospitaleiro e atencioso. (na foto acima do Sérgio Mourão)
Maior percentual de população negra do país
          Por ter como origem em quilombos, Chapada do Norte, possui, segundo o IBGE, o maior percentual urbano de negros no país. 91,1% de seus habitantes se declaram negros ou pardos. É ainda em Chapada do Norte que se encontra o maior número de comunidades quilombolas de Minas Gerais. São 14 ao todo.
A Festa de Nossa Senhora do Rosário 
          Devido à grande concentração negra, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que acontece no segundo fim de semana de em outubro, na Capela de Nossa Senhora do Rosário é um dos eventos religiosos mais tradicionais do município. É uma tradição preservada há mais de 200 anos com danças, cânticos, apresentações musicais, lavação da igreja e distribuição do angu, entre outros rituais. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          A Festa e a Capela de Nossa Senhora do Rosário são tão importantes, que ambas foram tombadas pelo patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais. Em 2013, a Festa de Nossa Senhora do Rosário foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais, pelo IEPHA/MG. Já a Capela de Nossa Senhora do Rosário, foi tombada em 1980, também IEPHA/MG. 
A Capela do Rosário dos Homens Pretos
          Datada do século XVIII, é uma capela típica do barroco mineiro, com características externas bem simples, mas abriga um impressionante acervo em seu interior. (foto acima de Thelmo Lins) Seu altar-mor conta com retábulos laterais junto ao arco do cruzeiro, dois altares em talhas em dourado douradas muito bem trabalhadas, além de belíssimos painéis, pintados em seu forro.

Desemboque e o Sertão da Farinha Podre

(Por Arnaldo Silva) Desemboque, povoação fundada em 02/03/1766, no século XVIII, é hoje, distrito de Sacramento MG, no Triângulo Mineiro. O curioso nome “Sertão da Farinha Podre” era o antigo nome da Região do Triângulo Mineiro.
 
          O nome, Sertão da Farinha Podre, segundo a tradição oral, se popularizou quando da chegada de bandeirantes, que adentraram no sertão em busca de ouro e diamantes. (foto acima de Luís Leite) Tinham como prática, plantar alimentos pelo caminho e muitas vezes, enterrar, para consumirem em suas idas e vindas. Enterraram um grande suprimento de alimentos, principalmente farinha, mas quando desenterraram, encontraram os alimentos e toda a farinha já podres. Daí passaram a chamar o lugar de Sertão da Farinha Podre, tendo o nome se popularizado, tanto por moradores, e efetivado pelo poder público da época. (na foto abaixo do Luís Leite, Desemboque vista da estrada)
          Inicialmente, o Sertão da Farinha Podre pertenceu geograficamente ao Estado de São Paulo, passando a domínio, tempos depois, para o Estado de Goiás e por fim, em 1816, passou a pertencer definitivamente Estado de Minas Gerais.
          O nome Triângulo Mineiro surgiu no final do século XIX. A região está nos limites entre o Rio Grande, a sul, Rio Paranaíba, a norte e bacia do Rio Paraná, a leste, formando geograficamente, um triângulo. Percebendo essa semelhança, o nome Triângulo Mineiro passou a se popularizar, sendo hoje uma das 12 regiões geográficas de Minas Gerais.
          No século XVIII e XIX era uma região de intenso garimpo, principalmente ouro e diamantes, além de outros minerais, menos explorados na época, como o minério de ferro, o que motivou a formação de povoados, que deram origem a várias cidades e construções características. Hoje, seu solo continua produzindo riqueza, sendo a agricultura uma das alavancas para o desenvolvimento da região, já que seu solo é rico e fértil.
          O povoamento da Região do Triângulo Mineiro se deu pela exploração de ouro e diamantes na região. As características arquitetônicas e religiosas da região estão presentes em Desemboque, considerado o berço do Triângulo Mineiro. (na foto acima de Luis Leite, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e seu cemitério) 
Poucos moradores
          Nos áureos tempos da exploração mineral no Sertão da Farinha Podre, Desemboque chegou a ser a maior povoação da região, com cerca de 2.500 moradores, com fórum, cartório, Câmara de Vereadores, pousadas, tabernas. Contava ainda com um grande fluxo de viajantes, bandeirantes e exploradores, o que tornava a vila muito movimentada. (fotografia acima e abaixo de Pedro Beraldo)
          Hoje, em Desemboque, vivem cerca de 30 pessoas apenas, restando a história e os áureas tempos da riqueza proporcionada pela mineração.
          Em dias de carreadas de bois, cavalgadas e festa junina, a charmosa vila ganha vida e alegria, com a presença de centenas  de pessoas. 
A Igreja do Desterro
          Entre essas riquezas, além do seu casario colonial, está a Igreja de Nossa Senhora do Desterro (na foto acima de Pedro Beraldo), construída entre 1743 e 1754, frequentada pelos homens brancos e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, frequentada pelos homens pretos e pardos. Cada uma com um cemitério próprio. Ambas foram tombadas pelo IEPHA/MG, em 1984.
A Igreja do Rosário
          A Capela do Rosário, datada de 1854, segue os traços do estilo das construções do Sertão da Farinha Podre, que se caracteriza pela simplicidade em sua construção, com as paredes da nave em pedra, com vedação em tijolos de adobe, pintura em cal e telhado com telhas tipo, capa e bica, com beirais em cachorrada, com um conjunto de cachorros. Cachorro e cachorradas é um termo usado na arquitetura e nada mais é que pedras ou madeira em balanço, que dão sustentação ao beiral. (na foto acima do Luís Leite, a Capela do Rosário)
          O altar-mor e sacristia em lateral única da Capela do Rosário possui ornamentos e talhas esculpidos em madeira e pinturas interiores, bem simples e singelas. 
          Está situada num lugar privilegiado na vila, em meio a natureza plena, oferecendo paz, acolhimento e conforto aos que visitam a capela. Tanto na Igreja do Desterro, quanto na Capela do Rosário, se passaram boa parte da história do Triângulo Mineiro.

O beleza exuberante da Capela do Rosário em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Mais conhecida como Capela do Padre Faria, fica no bairro de mesmo nome, em Ouro Preto MG e foi tombada em 8 de setembro de 1939, como Patrimônio Histórico Nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É um dos mais belos exemplares do Barroco Mineiro, não só por sua riqueza arquitetônica, mas por fazer parte da origem e história de Ouro Preto e de Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Ane Souz, dos ornamentos interiores da Capela)
          Foi construída nos primeiros anos do século XVIII, pelo Padre João de Faria Fialho, nascido em 1636 na Ilha de São Sebastiao, atual Ilha Bela/SP, falecendo aos 76 anos em 1712, na Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
          Padre Faria era Capelão da Bandeira de Antônio Dias e também, tinha sua própria bandeira. Foi o responsável pela descoberta de ouro na região da antiga Vila Rica, hoje, Ouro Preto. O padre fundou ainda a cidade paulista de Pindamonhangaba, bem como, nesta mesma cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. É atribuída ao Padre Faria, a celebração da primeira missa em Ouro Preto, que aconteceu num dia de São João.
          
Em Ouro Preto, o padre ergueu uma pequena ermida, dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Em 1723, a administração e posse da Capela foi assumida pela Irmandade de Nossa Senhora do Parto do Bonsucesso, formada por homens pardos e mamelucos. (foto acima de Ane Souz)
          Por volta de 1740, a Capela passa a abrigar também Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Nessa época, a pequena ermida erguida pelo Padre Faria, dá lugar a outra capela, um pouco maior, seguindo o estilo nacional português. Simples por fora e por dentro, uma riqueza impressionante.
 
          A pintura do forro da igreja, segue o estilo barroco mineiro e mostra a coroação de Nossa Senhora do Rosário por anjos, bem como também, pinturas de cenas do cotidiano da época. (foto acima de Ane Souz)
          A estrutura foi erguida em alvenaria seca e tijolos talhados de rocha bruta, chamado de cantaria. A fachada é bem simples, com uma porta frontal em de madeira maciça, emoldurada em pedra lavada e duas janelas com balaústres. Seu interior, conta com laterais talhadas em estilho joanino e três altares, com ornamentos dourados, muito bem talhados, em estilo rococó. (fotografia acima de Ane Souz)
          Nas imaginárias, estão as imagens de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora do Bom Parto. (fotografia acima de Ane Souz) O sino da Capela data de 1750 e a cruz pontifícia, de 1756. Essa cruz chama a atenção por possuir três braços. (na foto abaixo da Ane Souz)
          Acredita-se que os três braços da cruz, simbolize as três bulas pontifícias, assinadas pelo papa Pio VII (Cesena, 14 de agosto de 1742 — Vaticano, 20 de agosto de 1823). Uma bula era um tipo de alvará, assinado pelo papa, que concedia privilégios e indulgências, e tinham força de lei eclesiástica. Nesse caso, as três bulas, concedia privilégios e graças às capelas.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pirapora: origem, economia, cultura e turismo

(Por Arnaldo Silva) Pirapora tem seu nome de origem na língua tupi, que significa “Salto do Peixe”. A formação de Pirapora, tem origem no século XVIII, com o avanço da mineração de ouro e diamantes em Minas Gerais.
          Para abastecer as cidades mineradoras, as mercadorias saiam de Juazeiro, na Bahia e chegava à Minas Gerais de barco e canoas, pelas águas do Rio São Francisco. Era um percurso longo, uma subida de 1371 km até o último ponto navegável do Rio São Francisco, após a foz do Rio das Velhas. (na foto acima de Rhomário Magalhães, o Rio São Francisco, a Ponte Marechal Hermes e ao fundo, Pirapora)
          Nesse ponto, as mercadorias eram descarregadas e seguiam em carros de bois, aos centros mineradores. Foi a partir desse ponto de baldeação, à margem direita do Rio São Francisco, que se formou um povoado, que deu origem à cidade de Pirapora. O povoado cresceu, foi elevado a distrito em 1847 e finalmente, a município em 30 de agosto de 1911, instalado em 1 de junho de 1912, data em que se comemora sua emancipação.
          Com a chegada das embarcações a vapor, a partir de 1871, o transporte de mercadorias ficou ágil, crescendo ainda mais a partir de 1902, com a chegadas de embarcações maiores, como os vapores, Saldanha Marinho, Mata Machado e o famoso Benjamim Guimarães. Essas embarcações, transportavam, além de cargas, passageiros, percorrendo todas as cidades ribeirinhas, saindo de Pirapora, até Juazeiro, na Bahia. (foto acima de Ronan Rocha/Hitch Vídeo Produtora)
          Desde sua origem, Pirapora sempre foi um dos destaques da região Norte de Minas. É uma das mais importantes cidades mineiras, tanto na cultura, no artesanato, na culinária, no turismo, quanto do desenvolvimento. Fica a 340 km de Belo Horizonte e conta atualmente com cerca de 60 mil habitantes. O município faz divisa com Várzea da Palma e Buritizeiro e está apenas 472 metros de altitude, acima do nível do mar. (foto abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Por sua localização, servida por malha ferroviária, que liga a cidade a Tubarão, no litoral do Espirito Santo e estar às margens da BR-365 e BR-496, Pirapora atrai grandes investimentos. Indústrias de vários segmentos, de pequeno, médio e grande porte, como de alimentos, cerâmica, produtos hospitalares, calçados, metalúrgicas, dentre outros segmentos industriais e comerciais, estão instaladas na cidade, com destaque ainda para o Hospital de Olhos do Norte de Minas. Além disso, Pirapora se destaca na produção e exportação de ferro silício, silício metálico, ferro-ligas, ligas de Alumínio e tecidos.
          A ampla atividade industrial do município, faz com que Pirapora, seja atualmente, o segundo maior polo industrial do Norte de Minas.
          Outro setor econômico de grande destaque em Pirapora é a de energia solar. Na cidade está instalada um complexo solar, formado por 11 usinas, com capacidade de geração de 321 MW de energia, sendo atualmente uma das maiores usinas fotovoltaicas da América Latina. Em funcionamento desde 2017, a capacidade de geração de energia da usina, por ano, é suficiente para o consumo de cerca de 400 mil residências. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A área da usina corresponde a cerca de 1500 campos de futebol e foi construída em uma área plana, de sol pleno. São mais de 1 milhão de painéis solares instalados, de forma inclinada, que giram acompanhando o movimento do sol. Esse tipo de usina produz energia 100% limpa e renovável, já que usinas solares não liberam CO2, na atmosfera.
          Um dos grandes geradores de empregos e renda em Pirapora é a agricultura e pecuária, em especial, a fruticultura, produzidos através de sistema de irrigação, no Perímetro de Irrigação. É o quinto maior empregador do município, gerando cerca de 1.100 empregos diretos. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          A fruticultura em Pirapora, bem como no Norte de Minas, desenvolveu-se bastante no final da década de 1970, com a implantação do Projeto Pirapora, em 1975, pela SUVALE, tendo sido a primeira experiência no Norte de Minas. Em 1976, a projeto foi assumido pela Companhia de Desenvolvido dos Vales do São Francisco e Paranaíba (CODEVASF), utilizando as águas do Rio São Francisco na irrigação de uma área inicial de 1500 hectares, inaugurada em 24/15/1978. Está instalado a 12 km do Centro de Pirapora, na BR-365, rodovia que liga o Norte de Minas ao Triângulo Mineiro e Brasília.
          A ocupação da área irrigável foi feita através de concorrência pública, vencendo a Cooperativa Agrícola Cotia Ltda e a Empresa Frutas Tropicais S/A. Famílias de agricultores começaram a chegar, a partir de então, principalmente de agricultores de origem japonesa. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Eram cerca de cerca de 20 famílias, de origem nipônica, que viviam do plantio de soja e café no interior de São Paulo e Paraná. Essas famílias, deixaram descendentes e à essas famílias, ao longo do crescimento do projeto, se juntaram outras, também de origem na “Terra do Sol Nascente”. Os orientais e seus descendentes são hoje, predominantes na produção de frutas, em Pirapora, num total de 23 empresários que atuam no Perímetro de Irrigação.
          A partir de 1987 o projeto passa para a gestão da Associação dos Usuários de Projeto Pirapora - AUPPI, responsabilizando pela administração, operação, manutenção e conservação da infraestrutura de uso comum. A área atual do Perímetro é de 1.685 hectares, sendo 1.236,05 hectares de área irrigável.
          Além de toda organização e apoio dos órgãos estaduais, o boa parte do sucesso do Projeto Pirapora se deve aos imigrantes japoneses. Tradicionalmente, os nipônicos tem vasto conhecimento na lida da terra e conhecimentos na irrigação, dando grande contribuição para o desenvolvimento da agricultura em Pirapora e Norte de Minas, bem como também, no Projeto Jaíba.
          A região Norte de Minas é hoje uma das maiores produtoras de frutas do país, com sua produção abastecendo o mercado das grandes cidades e regiões brasileiras como Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Juazeiro, Belém, Fortaleza e outras cidades do Brasil. Em Pirapora se destaca a produção de banana, uva, sendo a espécie Niágara, a de destaque, mexerica, laranja, legumes, dentre outras culturas.
O que fazer em Pirapora?
          Pirapora se destaca por suas belezas naturais e principalmente, pelo Rio São Francisco, bem como os pratos típicos de sua culinária, com destaque para os pratos feitos com os peixes do Rio São Francisco. (fotografia acima de Rhomário Magalhães)
          Cidade de tradição e cultura, preserva as festas folclóricas e religiosas, bem como o riquíssimo artesanato local, destacando as carrancas, peças em madeiras colocadas na proa das embarcações, esculpidas em formatos um pouco assustadores. Segundo a crença dos ribeirinhos, as carrancas servem para dar proteção. (fotografia acima de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora) 
          Uma ótima dica para o turista em Pirapora é conhecer o ICAD, um espaço cultural que funciona em um antigo galpão restaurado. Conta com um pequeno auditório, lugar para exposição e vendas do artesanato local e áreas de oficinas.
          Duas feiras públicas, não podem deixar de ser visitadas. Uma delas é a Feirinha da Avenida Pio XII, no bairro Santos Dumont, realizada todos os domingos. Organizada por pequenos produtores do município, a Feirinha, conta com muita animação, comidas típicas e produtos naturais, direto da roça. A outra feira é a Feirarte, que acontece nas manhãs de sábado, no Mercado Municipal da cidade, com exposição dos trabalhos dos artistas e a artesãos piraporenses.
          Durante o ano, vários eventos são realizados na cidade, com destaque para festas religiosas, eventos sociais, gastronômicos, empresariais e agropecuários.
          Em janeiro acontece a tradicional Festa de São Sebastião, padroeiro da cidade. Pirapora se destaca por realizar um dos melhores carnavais do Norte de Minas. Realiza também, com grande destaque e presença de público, o Encontro Nacional de Motociclistas, que acontece entre maio e junho, quando acontece também as comemorações de aniversário da cidade.
          Em setembro, dois eventos de grande destaque, movimentam a cidade. O primeiro é a Expociapi, evento organizado pela associação comercial local, com desfile de modas, comidas típicas, feiras de artesanato, mostras de tecnologias e negócios. O segundo é a Feira do Agronegócio, realizada pelo Sindicado dos Produtores Rurais da cidade, no Parque de Exposições em parceria com empresários do setor e Prefeitura. Nesse evento, além de shows, barraquinhas com comidas típicas, apresenta inovações para o setor, leilão de gado e palestras para os produtores rurais.
          Pirapora conta ainda com muitos atrativos por exemplos, seus telefones públicos, que tem formas de animais de nossa fauna, como onças e peixes.
          Tem o barco a vapor Benjamim Guimarães (na foto acima do Rhomário Magalhães), que é o único barco movido a lenha em atividade no mundo, além de ser um bem tombado pelo IEPHA/MG em 1985, como patrimônio de Minas Gerais. Construído em 1913, nos Estados Unidos, navegou por muitos anos nas águas do Rio Mississipi e também em Rios da Amazônia, até chegar à Pirapora, na década de 1920. Trafegava no Rio São Francisco, de Pirapora até Juazeiro, na Bahia, transportando cargas e passageiros. Com a abertura de estradas e popularização de ônibus e caminhões, o barco passou a transportar somente passageiros. Hoje, o Benjamim Guimarães realiza apenas passeios turísticos de ida e volta. Atualmente, o barco está ancorado no porto de Pirapora, passando por reformas, com previsão para voltar a navegar no Rio São Francisco, ainda esse ano.
          Outro atrativo turístico de Pirapora é a Ponte Marechal Hermes, ponte da linha férrea com tecnologia e material importado da Bélgica. Com 692 metros de comprimento, a ponte foi inaugurada em 10 de novembro de 1922, lingado Pirapora a Buritizeiro, passando sobre o Rio São Francisco. Foi tombada pelo IEPHA/MG, em 1985, como patrimônio do Estado de Minas. (fotografia acima e abaixo de Ronan Rocha/Hitech Vídeo Produtora)
          Próxima a Ponte Marechal Hermes, uma outra ponte, de concreto, faz a ligação da BR-365 entre Pirapora, passando sobre o Rio São Francisco, até Buritizeiro. 
          Banhada pelo Rio São Francisco, o Velho Chico proporciona belezas que atraem os moradores e turistas como a prática de esportes náuticos, pesca profissional e esportiva, espetáculos naturais como o pôr do sol e belas praias fluviais, formadas ao longo de seu percurso como a Praia do Areão em Pirapora. Nessa praia os banhistas, além de aproveitar o sol e as águas do Rio São Francisco, praticam esportes como vôlei de praia, peteca, futebol e futevôlei. (foto acima de 2019, de autoria de Rhomário Magalhães)
          Pirapora é uma cidade bem estruturada, com uma boa rede hoteleira e gastronômica, um setor de serviços amplo e de qualidade, com um comércio variado, bons bares, lanchonetes. Além disso, seu povo é hospitaleiro e acolhedor. O turista será sempre bem-vindo e se sentirá em casa.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Escrava Isaura e a Igreja de São José em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Escrito num período, onde a escravidão estava sendo contestada, com manifestações pedindo a abolição da Escravidão no Brasil, o livro de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura, foi considerado antiescravagista, por incutir no seio da sociedade, a discussão sobre o tema. 
          O sofrimento de uma mulher branca, nascida escrava e a forma incisiva e racional que o autor dá à sua trama, prendiam a atenção dos leitores. Por isso o impressionante sucesso do livro na época do lançamento e em nossa época atual. (na foto acima de Deocleciano Mundim, a Igreja do Patriarca São José dos Homens Pardos e Bem Casados e seu cemitério)
A Escrava Isaura
          A Escrava Isaura, foi um romance escrito, em 1875, por Bernardo Guimarães. Era a história de uma escrava, branca, que vivia numa fazenda em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Se perguntar quem leu o livro, poucos vão responder, mas da novela, exibida pela Rede Globo, em 1976, a maioria vai responder que viu ou pelo menos, ficou sabendo da novela. A geração atual pôde assistir à novela em sua nova versão, exibida pela à Rede Record. A primeira versão, protagonizada por Lucélia Santos e Rubens de Falco, em 1976, fez tanto sucesso que foi exportada para cerca de 150 países, assistido por de milhões de pessoas. 1 bilhão de pessoas, assistiram a novela, somente na China, além de cerca de 300 mil exemplares do livro, terem sido vendidos nesse país. 
O que o livro tem a ver com Ouro Preto?
          Agora você pergunta: o que a cidade histórica de Ouro Preto MG, na Região Central de Minas, fundada em 1711 e Patrimônio da Humanidade desde 1980, tem a ver com A Escrava Isaura? (na foto acima de Ane Souz, vista parcial de Ouro Preto MG)
          É que o autor do livro, Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, é mineiro e nasceu em Ouro Preto, em 15 de agosto de 1825. Faleceu também em Ouro Preto, em 10 de março de 1884. Era casado com Teresa Maria Gomes de Lima Guimaraes, com quem teve 8 filhos.
          Além de escritor, romancista, jornalista, crítico literário, advogado, juiz, poeta, foi também professor, lecionando francês e latim em Queluz MG e professor de retorica e poética do Liceu Mineiro, em Ouro Preto MG.
          Homem culto e viajado, Bernardo Guimarães viveu boa parte de sua vida em sua cidade natal, Ouro Preto. Foi sepultado no cemitério da Igreja de São José em sua terra natal.
A Igreja de São José           
          Capela Imperial era o nome antigo da Igreja de São José. Era chamada de Capela Imperial devido ao título concedido pelo Imperador Dom Pedro II, em 1889. Voltou ao seu nome original, após o fim do Império, permanecendo até os dias de hoje como Igreja de São José dos Homens Pardos e Bem Casados. (fotografia acima de Peterson Bruschi)
          A Igreja de São José começou a ser erguida a partir de 1753. Em 1772, Mestre Aleijadinho fez os riscos do retábulo do altar-mor. A obra foi concluída em 1811. 
          Foi construída pela Irmandade do Patriarca São José dos Homens Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília. A irmandade era formada por músicos, artesãos, artistas e pintores da época, que queriam um espaço próprio, para a Irmandade. 
          A igreja e seu cemitério ao lado, são modestos em tamanho, mas é um dos mais belos exemplares da arte setecentistas de Minas. É única, em toda a sua singeleza externa com sua única torre, sacada e sineira, além da riqueza de suas talhas douradas, ornamentos e pinturas em seu interior.
          Irmandade do Patriarca São José dos Homens Pardos e Bem-Casados e Músicos de Santa Cecília tinha atividades e convivências, diferentes do restante das irmandades ouro-pretanas. (na foto acima de Ane Souz o altar da Igreja eabaixo, a riqueza de seus entalhes dourados)
          As esposas dos membros da irmandade, tinham participação ativa nas decisões da Irmandade. A igreja abria suas portas para diferentes camadas da sociedade, como brancos, pardos, pobres e ricos, tendo sido frequentada também por governadores da Capitania de Minas Gerais. O que era incomum naquela época.
 O túmulo de Bernardo Guimarães
                    Em 1992, foi iniciada a restauração da igreja. As obras de restauro se estenderam por longos anos, tendo sido concluída 20 anos depois, entregue, restaurada à comunidade, em 2012.
          Ao lado da Igreja de São José, tem um cemitério e é aí que entra Bernardo Guimarães na história da Igreja. É nesse cemitério que o escritor foi sepultado. O túmulo do escritor Bernardo Guimarães, é um dos mais visitados e fotografados. (na foto acima do Wellington Diniz, o túmulo do escritor no cemitério da Igreja de São José, com a Igreja de São Francisco de Paula ao fundo)  
Onde fica?      
          A Igreja de São José fica próxima a Igreja de São Francisco de Paula. Está um pouco distante do Centro Histórico, na rua Teixeira Amaral, 130. Por isso, passa despercebida, pelos turistas. Fica boa parte do tempo fechada, abrindo de terça à sexta-feira, de 9:30h às 11:30 horas. O melhor dia e horário para conhecer a igreja por dentro é nas quartas-feiras, a partir das 18h:30, quando acontece as missas.
Quem foi Bernardo Guimarães
          O grande escritor mineiro ocupou a Cadeira de nº 5 da Academia Mineira de Letras. Além de A Escrava Isaura, Bernardo Guimarães escreveu outros romances, poesias, dramas e contos de grandes sucessos. Foram dezenas de obras publicadas e não publicadas e mais de 20 livros escritos. Como são muitos livros, não vou alongar muito o texto, apenas destacar os livros de Bernardo Guimarães, que eu li, ainda estudante: O Garimpeiro (romance/1872); O Seminarista (romance/1872); O Pão de Ouro (conto/1879); Uma História de Quilombolas, A Garganta do Inferno, A Dança dos ossos; História e Tradições da Província de Minas Gerais (crônicas e novelas – 1872: A Cabeça do Tiradentes, A filha do fazendeiro, Jupira), além claro, A Escrava Isaura.

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