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quarta-feira, 18 de março de 2020

Marmelópolis mantém viva a tradição do marmelo

(Por Arnaldo Silva) A cidade tem marmelo no nome em razão da fruta ser abundante em suas terras. Seu nome original era “Queimada”, quando ainda era distrito de Delfim Moreira, no Sul de Minas. Boa parte das plantações de marmelo ficou no município, quando sua emancipação em 1962, por isso a cidade adotou este nome, pela abundancia e tradição do cultivo do marmelo e produção de marmelada no antigo distrito de Queimada, hoje Marmelópolis. Polis = cidade, ou seja, “Cidade do Marmelo”.
          Marmelópolis faz divisa com Delfim Moreira, Virgínia e Passa Quatro no Sul de Minas e Piquete e Cruzeiro em São Paulo. A cidade é pacata, charmosa, aconchegante, muito atraente e conta menos de três mil moradores, simpáticos, gentis e muito hospitaleiros. É uma típica cidade do interior mineiro. (fotografia acima de Jair Antônio Oliveira)
           Além do marmelo, da sua exuberante natureza, como cachoeiras, matas nativas de araucárias e áreas naturais preservadas, o frio é um dos atrativos da cidade. É uma das mais frias de Minas Gerais e o inverno é bastante rigoroso, com geadas constantes, transformando a paisagem local de forma notável, fazendo com que a pequena cidade da Mantiqueira, se pareça com as charmosas vilas portuguesas. (fotografia acima de Renato Ribeiro)
          Esses atrativos atraem turistas para a cidade, que buscam vivenciar a natureza plena, bem como curtir o charme de uma tradicional cidade do interior mineiro, e experimentar a famosa truta da Mantiqueira (na foto acima de Jair Antônio Oliveira, do Restaurante Monte Moriá), a tradicional marmelada, suco de marmelo, a manteiga GHEE sem lactose e sem colesterol ruim e outros pratos deliciosos feitos com o marmelo.
A origem do marmelo
          O marmelo (na foto acima de Jair Antônio Oliveira) tem sua origem no Oriente Médio se expandindo para o restante do mundo através da Grécia. É uma fruta muito apreciada no Oriente Médio há milhares de ano. Acredita-se que a fruta já existia no paraíso de Adão e Eva. In natura tem o sabor um pouco ácido, por isso é mais consumida em forma de sopa, compota, geleia, licor e doce, a famosa marmelada. Sua aparência lembra muito a pera e a maçã.
          Quando do pecado homem, citado na Bíblia, foi oferecida uma fruta. A mitologia diz que foi uma maçã, mesmo a fruta não sendo de origem desta região e nem o nome da fruta é citada na narrativa bíblica, as ilustrações do fruto proibido mostra uma maçã. Se a narrativa bíblica se referir mesmo a uma fruta real, com certeza, a fruta do pecado original seria o marmelo, pelo fato de ser uma fruta comum na região e com sua origem onde a passagem é narrada.
 O resgate do cultivo do marmelo 
          O marmelo foi introduzido no Brasil pelo português Martin Afonso de Souza em 1532, se adaptando muito bem à região Sul do país e no Sul de Minas. (na foto acima de Jair Antônio Oliveira, a flor do marmeleiro) O cultivo do marmeleiro foi introduzido na região da Mantiqueira entre os séculos XIX e XX. Somente em Marmelópolis, foram plantados mais de mais de dois milhões de pés, tornando a cidade a maior produtora da fruta no país, bem como o maior produtor de marmelada.
          Entre as décadas de 1940 e 1970, no auge da popularização da marmelada, existia na região mais de 20 indústrias atraídas pela grande oferta da fruta. Entre essas fábricas, uma delas era a gigante Cica, que hoje não existe mais. Onde funcionava a fábrica da Cica, é atualmente a sede da Prefeitura de Delfim Moreira.
          O fechamento das empresas foi gradativo, tem seu auge na década de 1980. (na foto acima de Renato Ribeiro, uma dessas fábricas fechadas, em ruínas) Um dos fatores que levaram ao fechamento das fábricas foi a industrialização de outros doces em Minas e no Brasil, como por exemplo, o doce de leite e de frutas diversas, como a goiabada. Com isso a produção de marmelada na região foi reduzindo, bem como o plantio da fruta, chegando ao fechamento das empresas existentes na cidade. Hoje resta existe apenas uma única fábrica de marmelada na cidade e o cultivo da fruta restringido a pequenas propriedades.
          Mas essa realidade vem mudando com a retomada da produção de marmelo no município, por iniciativa da família do Moisés Ribeiro Cunha, proprietários da única fábrica de marmelo atualmente na cidade. O objetivo é resgatar uma das mais antigas atividades agrícolas de Minas Gerais, e devolver à cidade o posto de terra do marmelo, aumentando a produção da fruta e da marmelada. (foto acima de Jair Antônio Oliveira)
          A iniciativa vem entusiasmando alguns produtores e reanimando os antigos, que estão fazendo novas plantações ou mesmo recuperando antigas plantações, bem como ampliando a área de plantio.
          É uma forma de manter viva a tradição do marmelo na cidade, cuja produção da marmelada foi de grande importância para a economia local, bem como fez de Minas Gerais um dos grandes produtores do doce Brasil. (na foto acima de Renato Ribeiro, plantação de marmelo no município)
          O povo mineiro tem no sangue o amor por sua cultura e faz parte do nosso povo esse instinto de conservação. Marmelópolis está se recuperando, voltando a ser a cidade do marmelo e da marmelada.
          O povo da pacata Marmelópolis lembra com saudades, do cheiro da fruta, do doce tilintando nos caldeirões das antigas fábricas, da fartura nos tempos da colheita da fruta.
          Esse mesmo povo não está apenas na saudade hoje. Estão reagindo e trazendo de volta a cultura do marmelo.
A Festa do Marmelo
          Um dos eventos que ajudam na divulgação da cidade, bem como incentivo na produção do marmelo e produção de seus derivados, é a tradicional Festa do Marmelo de Marmelópolis, que acontece no outono, geralmente nos fins de março para início de abril. (na foto abaixo, de Cássia Almeida, visitantes esperando a abertura do salão para conhecer os produtos derivados do marmelo e artesanato, na Festa do Marmelo em 2019)
          A cidade com menos de três mil habitantes praticamente triplica nos dias da festa. No evento, o visitante conhece todos os produtos feitos com marmelo, como sopa, licor, geleia, compota e claro, marmelada, além dos produtos derivados do leite e azeites orgânicos, tradicionais na região. O visitante terá oportunidade ainda de conhecer o artesanato local, a culinária típica da cidade, como a truta da Mantiqueira e pinhão, além dos pratos da cozinha mineira. Durante os dias de festa há apresentações de oficinas culturais e ainda a apresentação de bandas regionais que cantam e tocam em estilos diversos com o Sertanejo Raiz, Pop Rock, Jazz e MPB. (na foto abaixo de Renato Ribeiro, show musical com grande presença de público durante a Festa do Marmelo)
          Marmelópolis fica a cerca de 460 quilômetros da capital Belo Horizonte, 255 quilômetros de São Paulo e 305 do Rio de Janeiro.
Os benefícios do marmelo e receitas tradicionais
          Consumida in natura ou em forma de chá, ajuda no combate a aftas, males da gengiva, inflamações estomacais e dores na garganta. Por ter ação antisséptica e antiespasmódica, ajuda no combate a casos de enjoos e vômitos. É ainda calmante, ajuda no tratamento de queimaduras, cólicas e problemas pulmonares.
          No Brasil é consumida como chá, com a infusão de suas folhas, in natura e principalmente em forma de marmelada.

segunda-feira, 16 de março de 2020

As pedras preciosas de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) A história de Minas começa com a procura de riquezas minerais em nosso território. A descoberta das primeiras jazidas ocorreu por volta de 1554, pelas Entradas e Bandeiras, que adentraram no interior do Brasil em busca de ouro e outros minerais. (foto acima de Sérgio Mourão em Teófilo Otoni e abaixo de Ane Souz, em Ouro Preto)
          No início foi lenta a exploração, só aumentando no final do século XVII, quando se descobriu que no território mineiro tinha o metal mais cobiçado na época e em abundância. A maior parte das riquezas minerais extraídas em Minas Gerais foram levadas para Portugal. Outra parte, ficou nas mãos de poucas pessoas, sendo ainda, boa parte do ouro que saiu do subsolo mineiro, usado na ornamentação das igrejas construídas no século XVIII, como na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, ornada com meia tonelada de ouro puro como podem ver na foto abaixo de Ane Souz.
          O auge da exploração das jazidas minerais em Minas foram nas minas de ouro, diamante e esmeraldas. Hoje ainda se extrai esses minerais no nosso território, embora boa parte das minas exploradas nos séculos anteriores se exauriu com a exploração desenfreada, ainda existe, mesmo que em menor escala. A mineração continua ativa, agora com maior concentração nas minas de minério de ferro, ainda abundante no Estado. 
          Além do ouro, diamante e esmeraldas (na foto acima de Sérgio Mourão, extraídas em Nova Era) são extraídas outras variedades de pedras preciosas em Minas Gerais, como água-marinha, topázio, turmalina, alexandrita, crisoberilo, heliodoro, morganita, olho-de-gato, kunzita, andaluzita, granada, ametista, berilo, brasilianitas, citrino e outros minerais raros. (foto abaixo de Sérgio Mourão)
          Mesmo depois de séculos de exploração, a atividade mineradora continua nosso Estado, conhecido internacionalmente pelo seu subsolo riquíssimo em minerais, já que mesmo com tantos séculos de exploração, Minas Gerais ainda é o maior produtor de ouro, gemas coradas e diamantes do Brasil. (na foto abaixo, de Jair Antônio Oliveira, Turmalina Negra, encontrada em Marmelópolis MG, Sul de Minas)
          O turismo mineral atrai compradores e gemólogos de todo o mundo para Minas, principalmente nas grandes produtores de gemas como Teófilo Otoni, Araçuaí, Governador Valadares, Itabira, Sabinópolis, Araçuaí, Turmalina, Padre Paraíso, Malacacheta, Diamantina, Nova Era, Ganhães, Ferros, Santa Maria do Itabira, Corinto, Curvelo, Teófilo Otoni, considerada a Capital Brasileira e Latino Americana das Pedras Preciosas e Ouro Preto, são os principais polos mineradores atualmente no Estado.
          Em Ouro Preto, pode-se conhecer as pedras preciosas mais raras e valiosas de Minas, expostas no Museu de Ciência e Técnica da Universidade Federal de Ouro Preto. É na famosa cidade histórica mineira, Patrimônio da Humanidade, que é encontrada o topázio imperial. (nas fotos acima e abaixo de Arnaldo Silva, com as pedras já trabalhadas) Essa pedra preciosa é encontrada somente em Ouro Preto.
          Governador Valadares, Teófilo Otoni e Araçuaí são os grandes destaques hoje em produção de gemas no Brasil, tanto na forma bruta, como trabalhadas.
           Em Governador Valadares (na foto acima do Zano Moreira), no Vale do Rio Doce, realiza o Brazil Gem Show com stands com mostras das impressionantes variedades de pedras preciosas da região. 
          Já no Vale do Mucuri, considerada uma das maiores províncias gemológicas do mundo, está Teófilo Otoni (na foto acima de Sérgio Mourão), uma das grandes produtoras e exportadores de gemas da América Latina. Na cidade existe a Gems Export Association (GEA), entidade representativa, responsável por organizar anualmente a tradicional Feira Internacional de Pedras Preciosas (FIPP), hoje um dos principais eventos do gênero no mundo e o mais importante evento do ponto de vista turístico para região, já que atraem visitantes de todo o Brasil e do mundo para a cidade. 
          Outra cidade mineira que se destaca na produção de gemas no Brasil é Araçuaí (na foto acima de Ernani Calazans), no Vale do Jequitinhonha. Região rica em produção de pedras preciosas, destacando as pedras kunzitas, hiddenitas, andaluzitas, e petalitas, além das turmalinas, topázios-azuis e berilos. A produção de pedras preciosas é um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da região.

domingo, 15 de março de 2020

Minas Gerais é pioneira no ensino público de música

(Por Arnaldo Silva) Minas Gerais é a pioneira no ensino público de música no Brasil. São 12 Conservatórios Estaduais de Músicas (CEM´s), todos localizados no interior do estado, geridos pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Atende atualmente mais de 30 mil alunos, entre crianças, jovens e adultos, com ensino público música da mais alta qualidade.
          Foi Juscelino Kubitschek, quando governou Minas Gerais de 1951 a 1955, o responsável pela instalação dos primeiros conservatórios em Minas Gerais.(na foto de Robson Gondim/@robsongondim, o Conservatório Estadual de Música, Lia Salgado, de Leopoldina MG)
          Não é segredo para ninguém que JK gostava de música, principalmente da musicalidade mineira, que foi construída ao longo de 300 anos de história. A música mineira evoluiu ao longo dos séculos e tem no seu DNA os cantos barrocos nas igrejas, nas serestas, nos saraus, nos sons das violas pelo interior e a influência dos cantos e instrumentos musicais africanos e indígenas, juntamente com a influência musical portuguesa.
          Esses foram os fatores primordiais para a formação da identidade musical mineira. Nos quatros anos que governou Minas Gerais, Juscelino Kubitschek criou cinco conservatórios no Estado.
01 -  O Conservatório Estadual de Música Lobo Mesquita, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, em 1951, mas institucionalizado em 1971.
02 - O Conservatório Padre José Maria Xavier, em São João Del-Rei,  no Campo das Vertentes em 1953, que foi o primeiro conservatório institucionalizado do Estado (na foto acima do Fabrício Cândido).
03 - O Conservatório de Música, Professor Theolindo J. Soares em Visconde do Rio Banco, na Zona da Mata, em 1953 (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade)
04
- O Conservatório Estadual De Música Juscelino Kubitschek de Oliveira, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, em 1954. (fotografia acima de Fernando Campanella)
05 - O Conservatório Estadual de Música Haydée França Americano, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1955. (foto acima de Joseane Astério)
          Nos governos posteriores a JK, foram criados os Conservatórios Estaduais de Música nas seguintes cidades:
06 - Conservatório Estadual de Música Lia Salgado em Leopoldina (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade), na Zona da Mata, em 1956.
07Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez em Montes Claros, no Norte de Minas, em 1962 (na imagem acima enviada pelo Márcio Pereira)
08 - Conservatório Estadual de Música Dr. José Zóccoli de Andrade, em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, em 1967. 
09 - Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, em 1967. (fotografia acima de Thamires Manfrim/@gotogetherbr) 
10 - Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro em 1967  
11 - Conservatório Estadual de Música Maestro Marciliano Braga, em Varginha, no Sul de Minas, em 1985, 
12 - Conservatório Estadual de Música e Artes Raul Belém, em Araguari, no Triângulo Mineiro, em 1985.
          JK sempre foi visionário e enxergava bem à frente dos políticos de sua época. Entendia a vocação do povo mineiro para a música e queria ampliar a formação de profissionais e desenvolver talentos mineiros, dando oportunidades a cantores, compositores, instrumentistas e apreciadores da boa música estudarem música ou se aprimorarem. 
          Para isso, criou os Conservatórios, para dar opções de aprendizado em curso de nível médio e gratuito, voltado para alunos das escolas públicas mineiras, numa época em que estudar música era restrita a uma pequena parcela da população. Foram cinco escolas criadas por JK, em quatro anos de governo, hoje são 13 Conservatórios Estaduais de Música, formando talentos por toda Minas Gerais. 
          Nos Conservatório são feitas audições, concertos, exercícios práticos de música, cantos e em instrumentos musicais como exemplos de flauta doce, piano, violão, violino, violoncelo, bateria, cavaquinho, contrabaixo elétrico, flauta transversal, guitarra, percussão, saxofone, teclado, trombone, trompete, dentre outros, aprimorando a sensibilidade musical do aluno. 
          Os cursos são de níveis médios e livres, com duração máxima de um ano letivo. O aluno participa de atividades musicais e oficinas organizadas pelos Conservatórios fazendo com que se envolva na cultura local e regional. Essas atividades leva música para todas as camadas sociais e impulsiona o desenvolvimento dos estudantes, através da cultura, da música e da participação social.
          A maioria das vagas nos CEM’s se destina a estudantes entre 6 e 15 anos que frequentem as escolas públicas de educação básica. Outra parte das vagas é destinada, a quem tenha formação técnica ou superior em música, podendo fazer cursos livres de curta duração ou participar das oficinas musicais organizadas pelos Conservatórios.
          Além dos Conservatórios, o Governo de Minas fomenta a Orquestra Sinfônica e a Filarmônica de Minas Gerais, que são de grande importância para a preservação da cultura e musicalidade mineira. 
          Além disso, em praticamente todas as cidades mineiras, existem bandas municipais e fanfarras, uma mostra viva e ativa da vocação mineira para a música, que ecoa além das nossas montanhas, encanta e inspira novos talentos por todo o Brasil. A nossa música é tão famosa quanto nossa culinária e montanhas. A musicalidade é uma das identidades mineiras.

sexta-feira, 13 de março de 2020

A cidade que recebe turistas o ano todo

(Por Arnaldo Silva) São Tomé das Letras, no Sul de Minas, recebe todos os dias turistas que vem de todo o Brasil e também do mundo. Chegam ônibus, moto homes, caravanas, vans e até de motos. Mas por que a cidade recebe tanta gente assim? (foto acima de Marcelo Melo Fotografias)
          São Tomé das Letras é uma mistura da mineiridade de nossas típicas cidades interioranas, com tradições, cultura e culinária mineira, mas também, seu ar rústico, sua arquitetura em pedra, sua altitude de 1227 metros, bem como sua exuberante natureza, as formações rochosas, o misticismo e supostas aparições de Ovnis. Esses são os diferenciais que tanto atraem turistas para a cidade. A cidade é singular, totalmente única no Brasil. (foto acima de Sérgio Mourão e abaixo, de Rinaldo Almeida, um ponto de ônibus na cidade)
          Tem também o artesanato riquíssimo em qualidade e detalhes, em sua maioria voltada para temas místicos, como incensários, magos, apanhadores de sonhos, camisetas estilizadas, sinos do vento, duendes, panelas e lembranças feitas de pedra, encontrados tanto na rua, quanto em diversas lojas da cidade. A arte dos artesãos letrenses impressiona. Dificilmente alguém sai de São Tomé das Letras sem levar o artesanato local para casa.
          Quem vem a São Tomé, busca sossego, tranquilidade, arte, meditação, contato com a natureza e também com Extraterrestres. Segundo os místicos, a cidade é considerada um dos sete pontos energéticos da Terra. Por isso São Tomé das Letras atrai tantos adeptos do esoterismo, sendo essa crença, uma das responsáveis pela fama de "Cidade Mística" que São Tomé tem. Tanto é que a cidade respira o esoterismo e misticismo em sua arte, artesanato e arquitetura. (foto acima de Alexandra Dias, o Vale das Borboletas)
          A cidade é tranquila, muito aconchegante, com ótimas opções gastronômicas e uma rede hoteleira muito boa, com pousadas decoradas com a identidade mística local (na foto acima e abaixo, de Vânia Pereira, a Pousada dos Anjos), com artesanato, símbolos esotéricos presentes nas fachadas e até mesmo nos quartos.
          Além de muito conforto, muitas pousadas contam com lareiras, já que o inverno na região é bem rigoroso. É nos feriados e principalmente no inverno que a cidade fica mais movimentada. Fora das altas temporadas, o turista nem precisa agendar com antecedência reservas nos hotéis e pousadas de São Tomé. São muitas opções, dezenas. Para quem quer contato pleno com a natureza e acampar, a cidade tem ainda opções de camping. 
          Além de sua beleza arquitetônica (foto acima de Jerez Costa), o turista tem várias opções de passeios como conhecer o charmoso distrito de Sobradinho, a Gruta São Tomé, Gruta do Carimbado, a Rua do Amendoim, Casa da Pirâmide, formações rochosas que lembram feições humanas como a Pedra da Bruxa, as cachoeiras da Lua, Eubiose, Véu de Noiva, Paraíso, Borboletas, Antares entre outras. Têm ainda corredeiras como Shangri-lá, a de Sobradinho e agora, descobriram o Poço Secreto, outra opção de lazer para os letrenses e turistas. (na foto abaixo de Lucas Vieira, a Cachoeira da Lua)
          Para chegar a esses lugares, o caminho é por estrada de terra, mas em boas condições de tráfego. Trilheiros em motos e bikes são comuns pela região, já que existem muitas trilhas. 
          O grande prazer do turista é subir na pirâmide (na foto acima de Jorge Nelson) e ficar contemplando as estrelas ou sentado sobre as formações rochosas de quartzito, mineral abundante na região. O pôr do sol em São Tomé é mágico. Geralmente, no segundo sábado de cada mês, acontece no local o "Pôr do Rock” com apresentações de banda de rock ou mesmo os turistas que levam seus instrumentos, cantam e dançam livremente.
          À noite em São Tomé têm ainda como destaque seus bares, muito aconchegantes, com música ao vivo e muito procurada pelos turistas. (fotografia acima de John Brandão/In Memoriam e abaixo de Robson Rodarte/@robson.rodarte, a Pirâmide em noite estrelada)
          A cidade é pequena, com menos de 10 mil habitantes e o turista pode conhecer toda a cidade e suas belezas naturais num de semana, mas quem vai a São Tomé, volta, porque se encanta com a magia e encantos naturais da cidade.
          Estar em São Tomé das Letras é como se estivéssemos numa pacata cidade mineira, misturada com o charme das construções medievais em pedra sobre pedra, a beleza natural mineira e a magia Celta. É um pouco de tudo isso, por isso encanta tanto e atrai tanta gente de todo o Brasil e do mundo. (foto acima e abaixo de Vânia Pereira e abaixo de John Brandão/In Memoriam
            São Tomé das Letras fica a 308 km de Belo Horizonte, pela BR 381. Quem vem do Rio de Janeiro são 340 km, pelas BRs 116 e 354 e de São Paulo, são 350 km, pela BR 381. A cidade faz divisa com os municípios de Três Corações, Cruzília, São Bento Abade, Conceição do Rio Verde, Baependi e Luminárias.

quinta-feira, 12 de março de 2020

O Santuário de Nossa Senhora das Graças em Urucânia

(Por Arnaldo Silva) Urucânia é uma charmosa cidade, fazendo parte do Circuito Montanhas e Fé, na Zona da Mata Mineira. Com pouco mais de 10 mil habitantes, está distante 256 km de Belo Horizonte e faz divisa com os municípios de Piedade de Ponte Nova, Jequeri, Santo Antônio do Grama, Rio Casca, Santa Cruz do Escalvado e Oratórios. Seus moradores vivem do pequeno comércio, turismo religioso e da produção agropecuária, em destaque para suinocultura e a produção de açúcar. (foto abaixo de Pedro Henrique)
          A história da cidade se formou pela fé, hospitalidade e simplicidade de seu povo. As manifestações religiosas são marcantes na cidade, manifestada principalmente na devoção a Nossa Senhora das Graças.
          Emancipada apenas em 30 de dezembro de 1962, sua história bem antes, em meados do século XIX com o surgimento de um povoado com o nome de urucu. O nome é devido à planta urucum, muito abundante na região, mas naquela época, a grafia era sem o m no final. Por volta de 1869 foi erguida na região uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Bom Sucesso do Urucu e uma casa, para receber um padre que viria para a localidade. A construção foi feita no terreno doado por Francisca Inácia da Incarnação, senhora bondosa, protetora dos escravos, colonos e muito religiosa. Na mesma época, foi construído um cemitério, onde está hoje a atual Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. (na foto abaixo de Elpídio Justino de Andrade)
          No início do século XX, deu-se início na região de um extensivo e crescente cultivo da cana de açúcar para abastecer as açucareiras que surgiam na região, extinguindo boa parte da planta que originou o nome do povoado. Em 1924, o local mudou o nome para Urucânia. Segundo o dicionário, o nome “Urucânia” tem origem no Tupi-Guarani, “urucu” (ou urucum), que significa, o “vermelho”.
          Urucânia é uma cidade muito conhecida, não pela planta urucum e sim pelo Padre Antônio Ribeiro Pinto, filho de escrava, nascido em 2 de abril de 1879 em Rio Piracicaba MG, na vigência da Lei do Ventre Livre e faleceu em 22 de Julho de 1963, em Ponte Nova MG, aos 84 anos. Padre Antônio chegou a Urucânia em 1946 para assumir a Paróquia da cidade. O padre conquistou o coração dos fiéis, tendo alterado definitivamente a trajetória de Urucânia, que passou a ser lembrada como última morada do sacerdote. Tanto é que a data de sua morte, 22 de julho, é feriado municipal. Na cidade, foi criado ainda o Museu Padre Antônio Pinto, com objetos e a história da vida do sacerdote. Isso porque o padre, para a comunidade, é um santo que em vida fez milagres e mesmo depois de morto, ainda faz. Os relatos dos milagres do Padre Antônio podem ser conhecidos na Casa dos Milagres, onde os fiéis deixam escritos, as graças alcançadas por intermédio do Padre Antônio.
          Foi por intermédio do Padre Antônio que a devoção a Nossa Senhora das Graças chegou ao município. Mas o sacerdote sentia a necessidade de construir um Santuário dedicado à santa que devotava, Nossa Senhora das Graças. 

          Com autorização dada pela Arquidiocese de Mariana, na década de 1950 foi dada o início das obras, sendo o Santuário concluído na década de 1970. Como faleceu em 1963, não pôde ver o seu sonho concretizado, mas foi ele quem abençoou o terreno onde seria construído o Santuário, bem como a majestosa e imponente imagem de Nossa Senhora das Graças, vinda do Rio de Janeiro, doada à comunidade em 1961 por Beatriz Monteiro de Carvalho, com obra do artista plástico português, Joaquim de Souza e Silva. 
          A construção encontra-se próxima a Matriz, na área central da cidade, com fácil acesso e boa acessibilidade. (foto acima de Elpídio Justino de Andrade)
          O mirante, a estátua do Cristo e o Santuário são os principais atrativos da cidade. Dentro do Santuário, está o túmulo do Padre Antônio e no altar, uma imagem de Nossa Senhora das Graças.
          A devoção a Nossa Senhora das Graças e os milagres atribuídos ao Padre Antônio, atraem todos os anos, milhares de pessoas a Urucânia. A movimentação de fiéis é maior no dia de aniversário de morte do Padre Antônio, 22 de julho e no dia de Nossa Senhora das Graças, 27 de novembro.

Primeira hidrelétrica do Brasil foi construída em Minas

(Por Arnaldo Silva) Segundo pesquisas e estudos do Centro de Ciência da Universidade Federal de Juiz de Fora, a usina de Marmelos, sediada em Juiz de Fora, foi a primeira usina hidrelétrica do Brasil e da América Latina. 
          Foram pesquisadas e estudadas a origem e história de todas as usinas existentes naquela época e, inclusive a do Ribeirão do Inferno, em Diamantina, que foi construída para gerar energia restrita a mineração de diamantes de um local específico, 5 anos antes da inauguração da Usina de Marmelos e de outras localidades brasileiras. 
          Isso porque na época existiam pequenas usinas setoriais no Brasil, gerando energia apenas para um determinado fim. Usina hidrelétrica, com geração de energia em turbinas, para o coletivo comunitário, foi a de Marmelos. 
             Após os estudos e análises, chegaram à conclusão de que a Usina de Marmelos em Juiz de Fora, foi a primeira usina hidrelétrica de Minas Gerais, do Brasil e da América Latina, reconhecida pelo Ministério das Minas e Energia, Cemig e tombada pelo tombado pelo Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Juiz de Fora, em 1983, tendo sido transformada em Espaço Cultural e Museu. Em 2005, a Usina de Marmelos foi tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). (foto acima e abaixo: arquivo da Cemig/Divulgação)
História
          Os avanços tecnológicos no mundo começaram a se difundir a partir da Revolução Industrial na Inglaterra, embora na América Latina em especial, no Brasil, tais avanços demoravam a chegar e quando chegavam, demorava muito para se disseminada pelo país, devido à desconfiança dos fazendeiros e industriais da época com as novas tecnologias. A única exceção foi a energia elétrica, que teve disseminação rápida no Brasil, graças a visão de dois homens: o mineiro Bernardo Mascarenhas e Dom Pedro II, que regeu o Brasil de 1840 a 1889.
          Dom Pedro II buscou ampliar a malha ferroviária brasileira, na época, começando a surgir no Brasil, construindo trilhos, pontes e estações, ligando cidades e estados. A primeira ferrovia brasileira foi fundada por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Inaugurada em 1854, sua extensão era de 14,5 km e ligava Porto de Mauá a Fragoso, no Rio de Janeiro. 
          Foi através de Dom Pedro II que foi instalado no país, um cabo telegráfico, lingando o Brasil à Europa, ficando com isso mais fácil saber das novidades tecnológicas daqueles tempos. Quando soube da invenção da lâmpada elétrica incandescente por Thomas Edison, mandou instalar a novidade, inicialmente nas estações ferroviárias fluminenses, em 1872. (na foto acima da Josiane Astério, antiga Sede da Companhia Mineira de Eletricidade construída em 1890. Foi a distribuidora de energia elétrica produzida pela usina de Marmelos)
          O monarca era grande incentivador de novas descobertas. Uma de suas grandes contribuições para o desenvolvimento do Brasil foi a introdução no Brasil da eletricidade, ato de grande importância, que avançou rapidamente no Brasil.
          Numa economia agrária, com vistas ao desenvolvimento, a energia elétrica era de grande importância, inclusive para a agricultura, onde predominava a cultura do café e a iniciante mineração. Com a eletricidade, foi possível desenvolver no Brasil a indústria têxtil, metalúrgica e siderúrgica, por exemplos. 
          Um dos grandes entusiastas da energia elétrica no país foi o industrial mineiro do setor têxtil, Bernardo Mascarenhas, cujo nome foi dado à usina posteriormente, em sua homenagem. A iniciativa partiu desse industrial que conheceu a novidade quando esteve em Paris, na Exposição Universal, em 1878, onde conheceu as novidades tecnológicas e industriais da época, se convencendo do quanto às novas tecnologias melhoravam o desempenho da produção industrial, principalmente, as usinas hidrelétricas, grande novidade apresentada na Exposição. 
          Voltou para o Brasil decidido a fazer com que a forças das águas brasileiras, fossem transformadas em energia elétrica. O Brasil precisava crescer e se desenvolver. A energia elétrica era o fator preponderante para esse desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população. O industrial enxergava isso, tanto é que retornou à Europa, com o apoio da Prefeitura, para introduzir em Juiz de Fora a energia elétrica urbana, substituindo a energia que naqueles tempos era a gás. 
          Foi criada a Companhia Mineira de Eletricidade (CME), de Juiz de Fora, que passou a fornecer energia elétrica para a iluminação para a cidade e redondezas. Por fim, a energia elétrica foi se popularizando, sendo instaladas nas residências a partir do início do século 20, substituindo os lampiões e lamparinas. A CME foi responsável pela energia elétrica de Juiz de Fora e região até 1980, quando foi incorporada pela Cemig. Bernardo Mascarenhas foi também o responsável por mostrar a importância da energia elétrica, bem como educar e retirar da população as desconfianças sobre a eficácia da nova tecnologia.
          As iniciativas do industrial mineiro teve todo apoio do Imperador Dom Pedro II. Foi o marco da saída do Brasil de uma economia rural totalmente rudimentar, para o fortalecimento da industrialização do país, ainda iniciante.
          Com esse propósito, de incentivar o desenvolvimento industrial brasileiro, através da geração de energia elétrica, foram importadas dos Estados Unidos as turbinas para a construção da primeira usina elétrica no continente Latino Americano. Assim sendo, nas águas do Rio Paraibuna, em Juiz de Fora, Zona da Mata, foi construída a primeira usina hidrelétrica do Brasil e da América Latina. 
          O Rio Paraibuna atravessa a Zona da Mata e deságua no litoral fluminense. Suas turbinas foram testadas em agosto e ligadas em definitivo em 5 de setembro de 1889, antes da queda da Monarquia e instalação da República, dando o pontapé inicial para o desenvolvimento industrial do Brasil. A iniciativa logo se expandiu, surgindo várias outras hidrelétricas na região, em São Paulo e por todo o país, tornando hoje o Brasil um dos gigantes do setor no mundo. Devido a grande demanda, a própria usina de Marmelos foi ampliada, tendo os primeiros equipamentos instalados substituídos por outros mais modernos.
          A inauguração da usina foi o marco na industrialização brasileira e os rios deixaram de ser apenas locais escoamento de esgoto urbano, pesca e lazer, para ser um dos fomentos do desenvolvimento nacional. As industriais têxteis passaram a produzir mais e a crescer, bem como foi propulsora do surgimento da metalurgia, siderurgia e outros segmentos industriais e comerciais no Brasil, além de ter contribuído para melhora na produção agropecuária brasileira, ainda bastante rudimentar naquela época.
FONTES: Ministério de Minas e Energia (MME), Centro de Ciências da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), IEPHA e CEMIG

quarta-feira, 11 de março de 2020

A beleza mágica da Serra do Cipó

(Por Arnaldo Silva) Durante o período colonial, a região da Serra do Cipó foi caminho para os bandeirantes paulistas que vieram para Minas em busca de ouro e pedras preciosas. Os bandeirantes chamaram a região inicialmente de Serra da Vacaria. 
          Já no século 17, Serra da Lapa. Esse nome durou pouco tempo, já que todos chamavam a região de Cipó por conta da Fazenda Cipó, que ficava na região. Assim permaneceu e ficou até hoje o nome Serra do Cipó. (na foto acima de Tom Alves/tomalves.com.br as Cataratas do Cipó ou Cachoeira Grande, em dias de normais e abaixo, em dias após chuvas intensas)
     Naquela época, foi construída pelos escravos uma estrada com o nome de Mãe d´Água, para facilitar a passagem das tropas. Essa estrada é a que dá acesso à cachoeira “Véu da Noiva”, uma das mais belas da Serra do Cipó. (na foto abaixo de Tom Alves/tomalves.com.br, o Rio Cipó)
     Desde os primórdios de Minas Gerais, a região da Serra do Cipó sempre chamou atenção por sua impressionante riqueza natural que sempre atraiu, além de turistas, pesquisadores, não só do Brasil, mas de todo o mundo.  
    Nascentes que formam os rios Cipó e do Peixe, riachos, cachoeiras, piscinas naturais, matas nativas, fauna diversificada e sua flora, impressionante. Essa é a Serra do Cipó. 
     Segundo dados de pesquisadores, foram catalogados 12 tipos de cactos e árvores da família das goiabeiras, diversas espécies de orquídeas nativas, além de mais de mil espécies da flora local, muitas delas ameaçadas de extinção. (na foto abaixo de Wilson Fortunato, orquídea nativa da região)
     Por sua diversidade e quantidade de plantas nativas, a Serra do Cipó é considerada o “jardim do Brasil”. Para preservar tanta riqueza, foi criado em 1975 o Parque Estadual da Serra do Cipó. Devido sua importância para o Brasil, à unidade passou a ser federal , em 1984, passando a se chamar Parque Nacional da Serra do Cipó. A unidade de conservação federal engloba os municípios de Itambé do Mato Dentro, Nova União, Morro do Pilar, Santana do Riacho e Jaboticatubas, sendo este último, com cerca de 60% de seu território compondo a área do parque, que no total é de 34 mil hectares, com um perímetro de cerca de 154 km. 
     Tanta beleza e tanta riqueza natural rendeu a Serra do Cipó o título de Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, em 1950. 
     Para os amantes da natureza, de esportes radicais ou para quem curte o convívio com a natureza, contemplando as belezas das cavernas e pinturas rupestres ou mesmo ouvindo o som das águas das cachoeiras (na foto acima de Arnaldo Quintão, a Cachoeira Serra Morena), se banhando calmamente em suas piscinas naturais de águas limpas e do convívio com a simplicidade e história das cidades que fazem parte da área do parque, a Serra do Cipó é o lugar ideal. As cidades e distritos como Cipó, Lapinha da Serra, Fechados, são pitorescos, charmosos, ricos em cultura, tradição, culinária, e claro, belezas naturais impactantes. A Serra do Cipó fica apenas 90 km de Belo Horizonte, seguindo pela MG 010. 
     É uma das regiões mineiras mais procuradas por turistas, tanto de Minas, quanto de todo o Brasil. (na foto acima de Tom Alves/tomalves.com.br o Rio Cipó e abaixo o Vale do Travessão) 
     Com o objetivo de promover a integração entre os municípios que compõem a área do parque e outros em seu entorno, bem como incrementar o turismo nesses municípios, foi criado em 2002 o Circuito Serra do Cipó, abrangendo os municípios de Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Itambé do Mato Dentro, Jaboticatubas, Morro do Pilar, Santana do Riacho e Santa Maria de Itabira. São cidades com excelentes opções de hospedagens e gastronomia diversificada, além serem turísticas, possuírem atrativos históricos e arquitetônicos dos tempos do Brasil Colonial.
     Palco de uma natureza encantadora e exuberante, a Serra do Cipó possui como principais atrativos, diversas cachoeiras, piscinas naturais, grutas e cavernas, pinturas rupestres, além de locais para prática de esportes radicais.
Atrativos na Serra do Cipó
     O que mais atrai turistas na Serra do Cipó são as cachoeiras, destacando a Cachoeira Grande, Cachoeira da Farofa, Cânion dos Confins, Cachoeira do Tomé, Cachoeira de Baixo, Cachoeira do Gavião, Cachoeira de Braúna, Cachoeira do Riachinho, Cachoeira da Capivara e Cachoeira das Andorinhas.
     Além das cachoeiras, as estátuas em homenagem ao folclórico Juquinha, que subia a serra para coletar flores e trocar por comida e objetos é outro atrativo. Figura simples, simpática, sorridente, muito querida, com sua vida e história imortalizada na mente dos moradores da região, bem como em estátuas, tanto na Serra (na foto abaixo de Raul Moura), quando na entrada de Santana do Riacho. 
     Para os apaixonados por trilhas, na Serra do Cipó tem as trilhas do Juquinha, Trilha dos Escravos, Pico da Lapinha, Cachoeira Véu da Noiva e Morro da Pedreira, todas sinalizadas. O trilheiro pode ainda dar uma parada pelo caminho para praticar esportes de aventura, como escalada, rapel e canoagem
     A culinária e o artesanato da região são atrativos imperdíveis. Artesanato rico e variado, bem como a gastronomia. Vinho de jabuticaba, cachaça, queijos, doces e claro, os mais tradicionais pratos típicos da cozinha de Minas. Além de curtir as belezas da Serra do Cipó, o charme e beleza da arquitetura das cidades, o visitante não deve mesmo deixar de conhecer o artesanato e provar da culinária local.

terça-feira, 10 de março de 2020

Superstições, as benzeduras e benzedeiras

(Por Arnaldo Silva) A geração que teve infância no século passado, guarda nas lembranças as superstições e benzeções comuns naqueles tempos. Nos rincões de nosso interior, o acesso a saneamento, eletricidade, saúde pública e educação era bastante difícil. As famílias se formavam e colocavam em prática os ensinamentos passados de geração em geração, em sua maioria, voltada para superstições. 
          Eram religiosos, professavam a religião Católica em sua maioria. Buscavam praticar sua fé, mesmo na ausência da igreja, já que nas comunidades rurais, onde vivia a maioria da população naqueles tempos, a presença de padres era muito pouca. As comunidades se reuniam por conta própria, às vezes construíam pequenas capelas na comunidade e faziam a tradicional reza do terço, seja nas capelas ou nas casas dos moradores. Tudo com a maior simplicidade e boa fé possível. 
          A vida isolada no sertão e o pouco conhecimento que tinham, geravam superstições, muitas delas vindas com os portugueses e africanos que para cá vieram. As vidas das pessoas naqueles tempos eram cercadas de crendices e superstições, desde o nascimento, até a fase adulta. 
          Quando a criança adoecia, a dificuldade de encontrar médico e hospitais era enorme, por isso a figura das benzedeiras era importante. Toda comunidade tinha, pelo menos uma. Eram muitas, mas muitas mesmo. Eram mulheres simples, de bom coração, boas intenções e muito respeitada por todos. Eram mulheres de fé, que simplesmente faziam sinal da cruz, usando alguma erva, rezavam as tradicionais orações católicas e faziam as benzeções, recitando versos e fazendo o sinal da cruz. Eram mulheres comuns, bondosas, caridosas, que nunca falavam que tinha poderes sobrenaturais, apenas acreditavam ter fé e que pela fé as maldições eram afastadas da casa e da vida das pessoas, bem como acreditavam que a fé curava. (na foto acima, de Tiago Geisler, Dona Maria Tereza, uma das mais queridas benzedeiras do Serro MG)
          Você vai conhecer comigo, as principais superstições tanto com recém-nascidos, que eram muitas, como as benzeduras e superstições normais, que até hoje ainda existem.
          Relembrará porque com o desenvolvimento social, a população passou a ter mais acesso a educação, saneamento básico, hospitais e postos de saúde, além de terem opções maiores de conhecimento, com a internet, as benzedeiras e superstições quase não existem mais. Esses fatores afastaram a procura pelas benzedeiras e reduziu em muitos as superstições antigas, embora exista muita gente supersticiosa e benzedeiros e benzedeiras por nosso interior. Por isso vamos relembrar.
          Numa época que quase não existia médicos e nem hospitais para atender toda a população, principalmente a rural, os partos eram feitos em casa mesmo, por parteiras. Tudo que era retirado na hora do parto, como umbigo, eram entregues aos pais para que providenciassem o que fazer. Geralmente eram enterrados nos quintais das casas, baseado na crença religiosa de que do pó nascemos e ao pó voltaremos.
          Quando o umbigo do bebê caia, tinha que ser enterrado rapidinho. Ai é que entra a superstição. Não podia de jeito nenhum ser guardado como lembrança porque quem o fizesse, nunca conseguiria viajar ou mudar de cidade e se viajasse ou mudasse, daria tudo errado e voltava. Nem podia ser jogado fora como um lixo qualquer, porque o umbigo poderia ser comido por um rato e se acontecesse isso, o bebê seria, quando adulto, um ladrão.
          Alguns enterravam o umbigo junto a uma roseira, porque assim a criança nascia bonita, saudável e querida. Outros preferiam perto de um cocho, por acreditar que traria sorte na vida. Tinha quem enterrasse o umbigo num terreno de hospital, pois acreditavam que a criança seria médico. Quando o umbigo era enterrado numa porteira, a criança seria um fazendeiro. Junto à soleira da porta de entrada, a criança seria caseira. Se o umbigo fosse enterrado num local onde os pais gostavam, os filhos voltariam ao local depois de adultos. E nesse raciocínio, iam enterrando os umbigos, de acordo com seus motivos e objetivos para a criança.
          Além dessas crenças, havia outras superstições em relação a recém-nascidos e crianças, como por exemplo: quem escolhia o nome do filho era o pai e não a mãe, para dar sorte; beijar os pés dos bebês também dava sorte na vida.
          Se uma mulher estiver grávida e comer frutos grudados, teria gêmeos. Outra superstição interessante é sobre as marcas de nascença indesejada. Havia uma crença bem antiga de que saliva curava. Neste caso, a mãe teria que lamber bastante a marca de nascença indesejada, o tempo que for necessário, para que ela desaparecesse.
          
Essas são algumas superstições envolvendo recém-nascidos, boa parte esquecidas pelo tempo. Eu pelo menos fiquei sabendo desde criança o destino de meu umbigo. Ele foi enterrado atrás da igreja de meu bairro. O objetivo de minha mãe com isso era que eu crescesse religioso e me tornasse sacerdote. Quase fui, cheguei a me preparar para ser seminarista, mas por fim, optei por ser jornalista mesmo. (na foto abaixo de Eliane Torino, um quintal com roseiras, lugar preferido antigamente para enterrar restos dos partos)
Superstições antigas
          Eram interessantes também naqueles tempos as superstições que a gente adquiria com os nossos pais e avós, muitas das vezes enraizadas até hoje em nós. Lembro que toda vez que um chinelo virasse, tinha que desvirá-lo imediatamente, caso contrário, ia encontrar a mãe morta atrás da porta. Por via das dúvidas, ninguém deixava o chinelo virado.
          E quem nunca evitou passar debaixo de escadas hein? Dava um azar danado fazer isso. Gato preto e sexta-feira 13 era sinal de mau agouro. Se alguém falasse algo que soasse a maldição, eram três batidas na madeira. O interessante ainda era quando estávamos a pensar em uma pessoa e essa aparece em nossa frente na horinha do pensamento. A frase é a mesma: não vai morrer tão cedo.
          E quando a orelha esquentava e ficava vermelha? Dava era uma pulga atrás da orelha para saber quem estava falando mal da gente. Tinha até quem acreditava que andar com um trevo de 4 folhas na carteira ou se encontrar um, dava sorte. Mas também, quem andasse de costas estava lascado, porque dava um azar danado mesmo. Mas o maior terror mesmo era quando se quebrava um espelho. Terror porque eram sete anos de azar na vida, acreditavam. Naqueles tempos nunca uma mulher comia na panela. Era certeza que no dia do casamento, era chuva mesmo. Não dava para arriscar. Naqueles tempos, ruas asfaltadas eram raridades. Imagina chover nesse dia?
          Pior era beijar o retrato do namorado ou da namorada. Dava um azar danado e o namoro acabava rapidinho. Mas se moça não quisesse casar, era só pedir para alguém varrer seus pés. Era tiro e queda. A mulher encalhava mesmo.
          O bom mesmo era quando a mão coçava. Era dinheiro chegando. E quando chovia hein? Se havia espelhos na casa, tinha que cobrir todos. Se não fizesse isso, era raio para todo o lado dentro de casa. Acreditavam que espelhos atraiam os raios.
          E aquela visita chata? Ia embora rapidinho quando se colocava uma vassoura atrás da porta. E aquelas noites estreladas e lindas? Coitado daquele que apontasse para as estrelas. Ia ficar com o dedo cheio de verrugas. Quem quisesse ter fortuna, se proteger de espíritos e estar perto dos pais quando esses morressem, nunca devia cortar as unhas a noite.
          Quem achava que estava sendo vítima de olho gordo e mau-olhado, era só usar pimenta nos bolsos e espalhar pela casa, que estaria tudo resolvido. Se tiver medo de cobras, nem pense em assobiar à noite. Você irá atraí-las para sua casa. Pelo menos, era o que acreditavam.
          Mas a superstição que mais me assustava era misturar manga com leite. Matava mesmo, pelo menos era a crença. Tinha tanto medo que evitava chupar manga. Nunca vi alguém morrer por isso, mas falavam tanto dessa mistura que nem manga eu chupava. Por precaução mesmo.
 As principais benzeduras
          Tem tantas superstições que nem me lembro de todas, mas o interessante mesmo eram as benzeções. (na foto acima o "Seu" Alcidor, um dos mais antigos benzedores de Bom Despacho MG em atividade) Dificilmente se encontra hoje quem nunca tenha sido benzido no século passado. Eu fui, não me lembro de quê, mas fui. Benzer significa tornar bento, abençoar uma pessoa através da oração e rezas tradicionais Católicas, para que delas se afastem os males espirituais e doenças.
          As benzedeiras se aproximavam com suas ervas e Rosário nas mãos, faziam o sinal da cruz e rezavam, por fim, recitavam versos de acordo com a benzeção. Vou citar apenas algumas das principais benzeções:
Para quem sofria de quebrando a reza era essa:
Deus te remiu, Deus te criou, Deus te livre
De quem para ti mal olhou.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
Virgem do Pranto,
Tirai este quebranto.

Dizer a oração 3 vezes.
          Já para o mau-olhado as benzedeiras pegavam um copo com água e colocavam algumas gotas de azeite na água e dois pauzinhos em forma de cruz. Se o azeite espalhasse, era mesmo mau-olhado e com o Rosário nas mãos, rezavam:
- Jesus que é o Santo nome de Jesus, onde está o santo nome de Jesus não entra mal nenhum.
Eu te benzo criatura do olhado se for na cabeça a Senhora da cabeça e se for na cara a Senhora de Santa Clara e se for nos braços o Senhor de S. Marcos e se for nas costas as Senhoras das Verônicas e se for no corpo o meu senhor Jesus Cristo que tem o poder todo.
Santa Ana pariu a Virgem, meu Senhor Jesus e assim com isto é verdade assim este olhado daqui tirado para as ondas do mar, seja lançado para onde não ouça galos nem galinhas cantar, em louvor de Deus e da Virgem Maria, padre nosso e avém Maria.
Em seguida, a benzedeira rezava uma Salve Rainha nove vezes.
          Para dores na cabeça, começavam fazendo o sinal da cruz e dizia:
- Pelo sinal da Santa Cruz, livre-nos Deus Nosso Senhor dos nossos inimigos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém. ( nome da pessoa), eu te benzo da dor de cabeça que tens ou dos maus olhos que para ti olharam, ou vento ou sol, ou o mau tempo que por ti passou. Diz-se três ou cinco vezes.
          Para quem estivesse com o nervo torcido a benzedeira recitava:
- Jesus que é o Santo nome de Jesus, onde está o Santo nome de Jesus não entra mal nenhum.
A pessoa que vai coser pega numa agulha e num novelo de linha e diz:
Eu coso. E quem está padecendo responde:
Carne quebrada nervo torto.
Cosa a Virgem melhor do que eu coso, a virgem cose pelo são e eu coso pelo vão. Em louvor de Deus e da Virgem Maria, Padre Nosso e Avém Maria
          Depois de se fazer esta benzedura, molha-se os dedos no azeite e esfrega-se a parte dorida. Reza-se um Pai Nosso e uma Ave Maria, a Santo Amaro, advogado de pernas e braços e oferece-se ao Nosso Senhor Jesus Cristo. Repetia-se por 9 vezes.
          Espinhela caída, aquela dor no estômago, costas e pernas e muito comum naqueles tempos. A benzedeira recitava por 9 vezes essa oração:
- Jesus que é o Santo nome de Jesus, onde está o Santo nome de Jesus não entra mal nenhum.
Quando a Nossa Senhora pelo mundo andava, chegou à casa de um homem manso e de uma mulher brava, pedindo-lhes pousada.
O homem dava e a mulher não.
Onde Nossa Senhora se foi deitar, água por baixo e água por cima; com estas mesmas palavras, cura a dor de barriga, em louvor de Deus e da Virgem Maria.

          Por fim, rezava um Pai Nosso e uma Ave Maria.
          Para curar dor de cabeça e de ouvidos, a benzedeira fazia o sinal da cruz, colocava as mãos com o terço na cabeça da pessoa e rezava assim:
- Jesus que é o Santo nome de Jesus, onde está o Santo nome de Jesus não entra mal nenhum. (nome da pessoa a benzer), eu te benzo do mal e de ar maldito, quem te trouxe, e de ar frio e de ar quente. (Pega-se numa faca) Com esta faca te lançarei, pernadas do ar cortarei e daqui para fora te deitarei e com o poder de Deus e da Virgem Maria, um Pai nosso e uma Avém Maria.
Repete-se nove vezes a Benzedura e benze-se novamente a pessoa, com as mãos e o Rosário sobre a cabeça da pessoa a ser benzida, recitando: Nossa Senhora que leve o mal que a pessoa tem para o outro lado do mar, onde não ouça galo nem galinha cantar e nem mãe por filho chamar e Nossa Senhora dê as melhoras. Amém.
          Para se livrar da tentação do mal, as benzedeiras rezavam essa reza as terças e sextas-feiras, até que a tentação se afastasse: 
- Em louvor do Santíssimo Sacramento do Altar, a minha casa vou benzer e defumar, e que todos os males existentes na mesma, que vão para casa de quem nos desejar (repetia-se a última expressão três vezes). Enquanto se faz a repetição, bate-se com o pé esquerdo três vezes. No final reza-se um Pai-Nosso.
          Tem mais rezas, benzeções e superstições, mas que eu me lembre, essas são as principais.

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