Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Montanhês: o nome original do dialeto mineiro

(Por Arnaldo Silva) O português é a língua oficial do Brasil, mas cada estado brasileiro, de acordo com suas origens e formação, tem seu estilo, jeito e modo de falar peculiar. Isso se chama dialeto e sotaque.
Dialeto não é o mesmo que sotaque
          Embora pareçam ser sinônimos, dialeto é diferente de sotaque. Isso porque dialeto é definido como a forma de construção de palavras, frases próprias e completas de uma comunidade, povo ou região, de acordo com sua formação social, tradição, cultura, folclore e origens.
          Já o sotaque se define como a forma de pronunciar determinadas palavras usadas no nosso cotidiano de forma diferente do português tradicional. São pronuncias diferentes à fonética normal de determinadas palavras como por exemplo, o uso do X na pronúncia de várias palavras, muito expressivo entre os cariocas.
          No caso de Minas Gerais, o jeito calmo, tranquilo, atraente e encurtado de pronunciar as palavras e de construir frases inteiras, bem como o uso de palavras diferentes, até mesmo inexistentes no idioma oficial, não é sotaque, é dialeto.
Origem do dialeto mineiro
          O dialeto mineiro começou a ser formado no século XVIII, tendo sido consolidado no século XIX.
          No século XVIII, no auge do o Ciclo do Ouro, a população de Minas Gerais concentrava-se basicamente na Região Central da Capitania de Minas Gerais. Era a região onde concentrava-se as principais minas de ouro de Minas Gerais na época.
          Essa região correspondia hoje às cidades do Quadrilátero Ferrífero, Região Metropolitana de Belo Horizonte e 100 km de seu entorno, Centro Oeste Mineiro, bem como boa parte do Vale do Rio Doce.
          É uma região de alto relevo, altitudes elevadas e rodeadas por imensas montanhas. Por essas características, quem vivia nessa região era conhecido por montanhês e seu jeito próprio de falar, também.
          Durante o Ciclo do Ouro, quem nascia na Capitania de Minas Gerais era chamado de Geralista. O gentílico mineiro passou a ser usado e oficializado, tempos depois. O jeito típico do mineiro falar, já manifestado nessa época, passou a ser o Montanhês, o nome de origem do dialeto mineiro.
O dialeto Montanhês
          O jeito mineiro de falar é uma mistura de palavras africanas, portuguesas e indígenas. Esses povos formaram a base social, cultural, gastronômica, econômica, política e cultural de Minas Gerais.
          No século XIX, o dialeto Montanhês, ainda em formação, recebeu acréscimos de palavras introduzidas em Minas pelos ingleses. Os britânicos vieram para a província de Minas Gerais explorar as minas de ouro, em cidades da Região Central e Quadrilátero Ferrífero.
          Várias expressões presentes no dialeto mineiro, tem origem em palavras comuns da língua inglesa.
          São várias palavras, citando apenas como exemplos why (por quê), why so (porquê então?) e Where (onde).
          Quando ouviam essas palavras dos ingleses, os mineiros repetiam e escreviam da forma que entendiam. Sendo assim o why dos ingleses ficou, uai, o where, ué e o why so, uai sô. 
          Incorporadas ao dialeto Montanhês, não tem tradução específica, como as palavras originais do inglês. No dialeto Montanhês, passaram a ter vários significados, de acordo com a frase ou situação de momento.
          Com a expansão do crescimento de Minas Gerais para todas as regiões da província, o sotaque montanhês foi chegando a todas as regiões mineiras.
          A partir de meados do século XX, o nome Montanhês começou a entrar em esquecimento, devido o êxodo rural e por ser o nosso dialeto, confundido com o dialeto caipira e sertanejo.
Características fonéticas do dialeto Montanhês
          O dialeto do povo mineiro e seu jeito de falar é característico e identificável em qualquer lugar do Brasil, pelas expressões e a forma fonética com que o mineiro expressa seu dialeto.
          No dialeto Montanhês o ritmo da fala é rápido e bastante acentuado, devido várias expressões serem pronunciadas de forma aberta, em tons de exclamação, afirmação ou interrogação e também no diminutivo.
          A pronúncia em diminutivo do dialeto Montanhês não é usual e normal, como banco (banquinho), pouco (pouquinho), chão (chãozinho), etc. No Montanhês, o “NHA/O é substituído pelo “im
          Como exemplo, ajeitado fica ajeitadim, charmoso, fica charmozim, pouco, fica poquim, banco é banquim, tipo é tipim, caldo é caldim, chão é chãozim, feio é feim, etc.
          Isso porque o dialeto Montanhês é caracterizado pela supressão, acréscimos ou substituição de vogais, desde sua origem. Isso muda a pronúncia, a frase, a fonética e a forma de expressá-las por inteiro, evidentemente, a escrita é diferente da palavra no português original.
          Palavras com início ou final em "E” e “Te”, perdem o E no dialeto Montanhês. Isso faz com que a pronúncia seja mudada com o S e o T pronunciados de forma mais suave, baixa e o restante da palavra, mais acentuado e rápido.
          Como exemplo: casa (cas) estrada (strada), mesmo (mes), estudante (studant), está (sta), suporte (suport), norte (nort), estandarte, (standart), etc.
          Outra característica do dialeto montanhês é a pronúncia de nomes compostos de forma consecutiva e rápida, além da substituição da vogal E pelo I, se estiver no final da palavra.
          Como exemplos: Belo Horizonte pronuncia-se belohorizonti, Belo Oriente é belorienti, Itamonte é Itamonti, etc. A pronuncia é de forma consecutiva e rápida, com o I pronunciado de forma mais acentuada. 
          A vogal E no Montanhês é sempre pronunciada como se fosse I caso seja o E esteja entre as letras D, M e S. Por exemplo: destaque é distaque, desmiolada é dismiolada, destemido é distemido, demais é dimais, etc. 
          Em palavras com a vogal "O", esta letra é substituída pelo "U". Como exemplo Domingo é pronunciado como dumingu, despacho como dispachu, combinado como cumbinadu. Nesses casos, a pronúncia do U é bem forte e incisiva.
          No dialeto Montanhês o “O” é mudado para o ‘U’ em praticamente todas as palavras que possam ser pronunciadas com a fonética “U”.
          Em palavras com final “io”, a vogal O é suprimida. Citando como exemplos: feio, passa a ser fei, meio vira mei, arreio passa a ser arrei, rodeio, rodei, etc.
          Dependendo da palavra que termine com “io”, o O é substituído por dois “is”. É o caso por exemplo de palavras como pavio que passa a ser paviii. O “fio” do sotaque caipira é pronunciado em Montanhês por fiii, milho é miii, etc.
          Já o R no dialeto Montanhês é pronunciado em forma dupla, “rr”, retroflexo, ou seja, para dentro e não alongado como no dialeto caipira. Quando está no início de uma palavra, como exemplo rato que é pronunciado “rrato”. Se após o R tiver um O, substitui-se essa vogal por U, como exemplo, roer fica, “rruer”. A pronúncia dos dois "rr" é sempre arranhada.
         Quando uma palavra terminar com “ar” o R é pronunciado como “rr”, como exemplo cantar pronuncia-se cantarr, falar é falarr, etc.
         Palavras que terminam com “er” no final, tem o R excluído e recebe acento circunflexo no E, como por exemplo, saber que fica “sabê”, ter, passa a ser “tê, dizer é “dizê”, etc.
          Frases curtas ou longas onde tem a palavra "que' é necessário a divisão da letra Q e a pronúncia é feita como se fosse uma só palavra e rápido. Como exemplo: Que bom que você veio, fica "Q´bom q´ocê vei" ou q´bão q´cê vei". Quero falar algo com você, fica "Quero prosear um trem c´ocê". O que você está fazendo menino passa a ser "Q´cêtá fazend mininu?", etc.
          Uma das características básicas do dialeto Montanhês é a pronuncia de palavras pela metade e bem rápido, como exemplo, li (litro) vin (vinho) Vimdiminas (venho de Minas Gerais), Veio de onde? (vimdilá), etc.
          Essas são as características que formam parte do dialeto montanhês. A outra parte são palavras indígenas, africanas, portuguesas e inglesas, que passaram a fazer parte do dialeto Montanhês, ao longo da formação do Estado de Minas Gerais, no século XVIII e XIX.
          Palavras ou frases feitas nas características do dialeto Montanhês não são erros de português ou pronúncias erradas, é dialeto.
Dialeto Montanhês, Caipira e Sertanejo
          Dialeto Montanhês não tem nada a ver com o dialeto caipira e nem com o dialeto sertanejo. São dialetos diferentes, de origens diferentes, de regiões diferentes. Um tem origem em São Paulo e outro, no Centro Oeste do Brasil.
O dialeto Caipira
          O dialeto caipira tem origem no interior de São Paulo, durante a colonização. É um sotaque com a forte influência do português usual dos bandeirantes paulistas e de idiomas indígenas, presentes neste estado durante a colonização.
          Foi no início do século XX que este dialeto foi estudado e caracterizado pelo folclorista, poeta, filólogo e ensaísta brasileiro Amadeu Amaral (1875/1929) descrito no livro "O dialeto Caipira", lançado em 1920.
          O dialeto caipira se expandiu pelas cidades de regiões de divisa de São Paulo com o leste e sul do Mato Grosso do Sul, norte do Paraná, sul de Minas e sul de Goiás.
          Tem como característica principal a ausência de alguns sons comuns na fonética da língua portuguesa, a exclusão de diágrafos como “ih” em palavras como atalho, filho, palha, milho, etc., ficando as palavras como fio, taia, paia, mio, etc, além de ser comum o uso de frases curtas com palavras no plural e no singular ao mesmo tempo, como exemplos “as coisa”, “as rua”, “as casa”, “as pessoa”.
          Outra característica predominante no dialeto caipira é o uso do “R” de forma alongada e arrastada. Essa letra é uma das formas mais características expressivas desse dialeto.
          A forma alongada e arrastada da pronúncia do “r” nesse dialeto tem origem da dificuldade dos indígenas que não conseguiam pronunciar o “r” chiado dos portugueses, ficando assim incorporado ao dialeto caipira.
          Nosso dialeto não é Caipira, é Montanhês!
O dialeto Sertanejo
          Sertanejo é quem vive no sertão, que significa uma região afastada do litoral e centro urbanos, pouco habitado e coberto por matas, caracterizado ainda por terras férteis.
          Nesse caso, o sertão brasileiro compreendia as terras entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal. A Região Centro Oeste do Brasil.
          O dialeto do Sertão ou dialeto Sertanejo, tem em sua origem em expressões dos indígenas que povoavam a região e de bandeirantes paulistas, quando da chegada das entradas e bandeiras à região, no século XVIII. 
          Os bandeirantes desbravaram o sertão em busca de ouro a partir de Desemboque, distrito de Sacramento, no Triângulo Mineiro. Com as bandeiras, vieram também escravos.
          Os paulistas tinham seu jeito próprio de falar, caracterizado como dialeto Caipira. Juntamente com os africanos e indígenas, deram origem à formação do dialeto do sertão.
          A partir das primeiras décadas do século XX, o Centro Oeste Brasileiro começou a receber intensa onda migratória, principalmente de paulistas e mineiros, sendo os mineiros, em grande maioria. Os migrantes foram para o sertão abrir estradas e ferrovias, com a onda migratória aumentando bastante partir da década de 1950, durante a construção de Brasília.
          Com a presença de migrantes de várias regiões brasileiras, o dialeto sertanejo passou a receber influências de dialetos de outras regiões. 
          Como os migrantes em sua maioria eram paulistas e mineiros, os dialetos desses dois estados influenciaram bastante na formação do dialeto Sertanejo, com as características desses dois dialetos, principalmente do Montanhês mineiro. 
          Boa parte de palavras pertencentes ao dialeto Montanhês, como por exemplo o Uai e o Trem, foram incorporadas ao dialeto do Sertão, graças ao grande fluxo migratório de mineiros à região Centro Oeste do Brasil, principalmente no Estado de Goiás.
          O dialeto sertanejo é bastante caracterizado em Goiânia, não apenas em seu estilo próprio de falar, mas na música, sendo a cidade referência na música do sertão no Brasil, a chamada Música Sertaneja.
           O Montanhês não tem nada a ver com o dialeto sertanejo, é o contrário, é o dialeto Sertanejo que tem a ver com o dialeto Montanhês, devido a enorme presença de migrantes mineiros à região, a partir de meados século XX. 
          Nosso dialeto não é Sertanejo, é Montanhês.
Influência de outros dialetos no Montanhês
          A influência de outros dialetos em Minas Gerais se limita às regiões mineiras que fazem divisas com estados do Sudeste, Centro Oeste e Nordeste.
          Como exemplo, estão as cidades na divisa com o Rio de Janeiro, que recebe a influência do sotaque carioca.
          Em cidades do Triângulo Mineiro, do Sul e Sudoeste de Minas, na divisa com o estado de São Paulo, nosso dialeto recebe influência do dialeto Caipira
          Tem ainda as cidades da região Noroeste de Minas, na divisa com Goiás, que recebe influência do dialeto Sertanejo e do Norte de Minas, na divisa com a Bahia, a influência do sotaque baiano.
          Ao mesmo tempo, tanto as cidades paulistas, goianas, baianas e fluminenses, que influenciam em nosso dialeto, recebem igualmente influências do dialeto Montanhês.
          Essas influências de outros dialetos ficam nas cidades de divisas e mesmo assim, passam a ser incorporados na pronúncia do dialeto mineiro, mas sem predominar no contexto geral.
          Mineiro não abandona o uai, o trem, o sô nunca e nem seu jeito charmoso e atraente de falar, seja onde for.
          O dialeto mineiro foi eleito pela plataforma de relacionamentos Happn em 2021, como o mais atraente do Brasil. A votação foi feita entre os seguidores da plataforma.
Características do sotaque Montanhês
          O dialeto Montanhês tem como característica o ritmo acentuado, em muitos casos, interrogativos e exclamativos, como exemplo:
- Né não sô?"
- Cê vai ou num vai?
- Tem base um trem desse não uai!
- Genducéu!
- Arreda es´trem prá lá!
- Dêxa di bobiça sô!
- Num faço idea mess!
- Pôe us trem na gibêra!
- Nó, tô cuma gastura danada!
- Para de encasquetar cum es´trem!
- Vô centá um trem nocê!
- Cê tá me remedando?
- Ataia logo essa prosa!
          É comum no Montanhês o uso reduzido de palavras como exemplo:
- Você - Cê
- Você está bom? - Cê tá bão?
- Quero apenas um pouco - Mi dá só um tiquim
- Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – Nó
- Minha Nossa – Nuu
- Ônibus – Ons
- Até logo mais – Inté
- É bem longe – Né não! É logo ali ó!
- É longe – Que nada sô! É pertim
- Senhor e Senhora – Sô e Sá
- Levanta pra cima – Sunga pra riba
- Onde estou, pra onde vou? – Oncotô, pronconvô?
- Reduza ou encurta – Ataia
- Para você – Procê
-Bom dia, boa tarde ou boa noite - Bão
          Para susto, medo, dúvida, exclamação, interrogação, resposta, espanto e mais um pouco, a expressão é uma só: "uai!".
          Para comer, falar, apontar, querer algo, mostrar algo, comprar alguma coisa, para apontar onde dói, não ter palavras no momento, usar alguma coisa e outras tantas, é usada apenas uma palavra: "trem".
Dialeto e erros na expressão
          Com o êxodo rural para grandes cidades mineiras e de outros estados, o dialeto Montanhês passou a fazer parte do dia a dia dessas cidades.
          O dialeto Montanhês saiu do interior para as grandes cidades e se popularizou, graças ao grande fluxo migratório do interior para a capital e cidades de grande porte.
          A questão é que não era mais chamado de dialeto Montanhês e sim, caipira e sertanejo. No século passado, os que vinham do interior para as cidades grandes, eram caracterizados como caipiras, em muitos casos, por preconceito, devido a simplicidade e baixa escolaridade.
          Isso porque a falta de acesso à escola, era comum no século XX, principalmente na zona rural, onde concentrava a maior parte da população das cidades. A pouca leitura fazia com que o povo que vivia na roça, tive pouco domínio da pronúncia das palavras e da escrita correta.
Dialeto não é falar errado  
          Dialeto é uma coisa, falar errado, por falta de oportunidade de estudo, é outra. Como é de conhecimento de todos, uma das características do dialeto mineiro é encurtar palavras, justamente pelo jeito suave e rápido do mineiro falar.
          Tem expressões populares, tidas como pertencentes ao nosso dialeto, que são meramente expressões usadas por quem tem ou tinha pouco ou nenhum estudo, gerando expressões e pronúncias erradas do português.
          Dialeto surge com a formação de um povo, de uma cultura. Envolve tradições, folclore, religiosidade, simplicidade e estilo de vida. Surge e se desenvolve com o passar do tempo. No caso do dialeto Montanhês, desenvolveu-se desde o século XVIII, há mais de 300 anos.
          Em nosso dialeto não tem as expressões como beraba, berlândia, gizdifora, patiminas, manhaçu e nem Belzonte.
          Não falamos fui fondo, nóis vai, nem nóis tá, nóis fiquemo, nóis foi e nem outras tantas expressões que não passam de erros de pronúncia e gramática.
          É jeito errado de falar e não jeito regional de falar. Não é dialeto, é erro mesmo, seja por desconhecimento, baixa escolaridade ou modismo.
          As palavras e expressões do dialeto Montanhês, sempre esteve presente no folclore e na música regional de Minas Gerais e passou a ser mais difundido com a popularização das redes sociais, não com o nome original, o Montanhês, mas “mineirês”.
Onde surgiu esse tal mineirês?
          Sinceramente não sei. A palavra faz parte do cotidiano mineiro há muito tempo. Quem criou e porque, não consegui saber.
          Pelo que entendi, é a junção do gentílico do estado mineiro, com a palavra português. Mineir (mineiro) + ês (português) = "mineirês". 
          A ideia faz crer que nosso dialeto seria um idioma próprio. Todos os países tem seus idiomas oficiais e seus dialetos. Dialeto é simplesmente uma variedade do idioma oficial. Dialeto não é idioma.
          O idioma do povo mineiro o Português, o nosso dialeto é o Montanhês. Simples assim.
A popularização do tal “mineirês”
          Com a popularização da internet, a palavra “mineirês” começou a ser difundida e a ser conhecida como o dialeto mineiro, mesmo sem nunca ter sido.
          Cada hora é um tal “dicionário mineirês” que aparece, mas em sua maioria, com pouquíssimas expressões do nosso dialeto original, o Montanhês.
          São palavras que não passam de réplicas do erro de grafia e pronúncia do português e muitas até, são expressões novas, criadas graças a criatividade de nosso povo. 
          São palavras simplesmente inventadas e caracterizadas por figuras e imagens de pessoas simples, de roupas surradas, chapéu de palha, que vivem no interior e na roça, falando errado. É um completa falta de noção do que é dialeto e de nossas origens. Até mesmo a forma com que o mineiro é retratado é irreal pois mostra somente o povo interiorano, como se dialeto ou sotaque fosse algo restrito a uma camada da sociedade ou exclusiva do povo que vive no interior e na roça. 
          Dialeto não tem classe social. Pode ser falado por quem vive na roça, na cidade grande. Por quem tem só o ensino fundamental, médio ou universitário. Seja rico, classe média ou pobre.
Orgulho do nosso dialeto 
          Não temos que ter vergonha de nossas origens, de nossa história, da formação de nossa cultura e folclore e muito menos do nosso dialeto. Temos que valorizar o que é nosso, valorizar as nossas origens, o nosso jeito de ser e de falar.
          Dialeto não tem nada a ver com classe social ou nível de estudo. Tem a ver com a cultura, religiosidade, folclore, saberes, sabores e jeito de ser e viver um povo. Simples assim.
          Esse tal “mineirês” virou moda e fez escola pelo Brasil, incentivando a criação de outros nomes, juntando gentílicos com o português dos estados. Assim, começou a surgir o “goianês”, o “baianês”, etc.
Dialeto não é modismo, piada e nem brincadeira de internet
          Dialetos tem origens seculares surgidos com o tempo, durante a formação de cidades, estados e regiões.
          Dialeto simboliza a história, a cultura, o folclore, os ofícios, a religiosidade e tradições de uma região.
          Não é brincadeira, modismo ou para virar piada em memes. Dialeto é coisa séria, é para ser estudado, compreendido e respeitado, por que é fruto da história de um povo.
          Em sua origem, o dialeto do povo mineiro, é o Montanhês. Tem origem secular. Foi formado ao longo de quase 300 anos. Montanhês tem a ver com nossas montanhas, com a nossa riqueza, com as nossas belezas, com nossa cultura, com nossa música, com nossa mineiridade.
          Somos de Minas Gerais, somos mineiros, somos brasileiros. Nossa língua é a Portuguesa, nosso dialeto é o Montanhês!
          Somos mineiros e não falamos esse tal de "mineirês". Somos mineiros e nossa língua é a Portuguesa e nosso dialeto é o Montanhês. 
(Aviso legal:  reprodução não permitida sem autorização formal de Arnaldo Silva)
As imagens que ilustram a matéria fazem parte da arte em porcelanas e canecas esmaltadas da Thalyta Moreira/@amoreira_loja

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O charme, requinte e a arte das Aldravas

(Por Arnaldo Silva) Aldrava é um objeto hoje pouco conhecido e pouco visto, já que foi substituído ao longo do tempo pela campainha e interfone. Também chamadas de aldrabas, são aqueles charmosos batedores que ficam nas portas dos velhos casarões de nossas cidades históricas.
          Feito em ferro, metal ou em bronze, tem o formato de argola ou mesmo, alguns acompanhados de detalhes artísticos. São fixadas por parafusos às portas e batentes das casas. (imagens acima de César Reis, de aldravas em Tiradentes MG)
          A aldrava tem a função usada por visitas para chamar o dono da casa. Basta fazer movimento batendo com a argola na madeira da porta, que fará um barulho, alertando o dono da casa quando alguém chegasse. Servia ainda para trancar as portas por fora. (na fotografia acima de Arnaldo Silva/@arnaldosilva_oficial, uma aldrava com fechadura, fotografada numa rua em Ouro Preto MG. O saquinho pendurado acima é de pão, deixado pelo padeiro)
Origem Greco-Romana
          Tem origem na Grécia e Roma, na Idade Média. Foi por séculos, um prático sistema de anunciar a chegada de alguém.
          Aldrava ou aldraba vem do Árabe Ad-Dabbã, que significa ferrolho. Foi desenhada para ser tranca e também, para bater na porta. O próprio dicionário da língua portuguesa define aldrava como: “Peça de ferro, com que se bate às portas, a que se prende, para chamar”. (Na imagem acima de César Reis, uma aldrava em Tiradentes MG)
As primeiras aldravas
          Em sua origem eram bem rústicas, em formato de argola simples e sem detalhes. Foi no período neoclássico que as aldravas começaram a serem feitas em ferro fundido, recebendo ainda detalhes artísticos, feitos pelas mãos de renomados artistas europeus. (na foto acima, aldrava em estilo rural, na porta da casa da Regina Kátia na Flórida/USA)
          De rústicas, as peças ganharam detalhes artísticos, inicialmente inspirados na arte egípcia. Com isso, as aldravas ganharam formas de flores, animais, seres da mitologia, mãos e cabeças de homens e mulheres, medusas e esfinges. (na imagem acima, aldrava em estilo rural na porta da casa de Regina Kátia/@reginasfarm)
          Coube aos artistas italianos e espanhóis dar mais charme, glamour, beleza e requinte às aldravas, transformando-as em magníficas e impressionantes obras de arte, presentes até hoje nas cidades turísticas da Itália e Espanha, bem como em toda a Europa. 
Na América Latina e Brasil
          As aldravas foram introduzidas na América Latina pelos colonizadores espanhóis e no Brasil, pelos portugueses, decorando casarões coloniais construídos nesse período, principalmente nas cidades históricas mineiras. (fotografia acima de César Reis em Tiradentes)
          Em cidades como Diamantina, Mariana, Paracatu, Congonhas, Ouro Preto, Serro, Sabará, Caeté, etc., as aldravas podem ser vistas ao andar pelas ruas dessas cidades.
Esquecidas no século XX
          Os portugueses introduziram em Minas Gerais e no Brasil, seu estilo arquitetônico, com os casarões construídos rente às calçadas. As aldravas, bem trabalhadas, com ricos detalhes artísticos, estavam sempre presentes nas residências da fidalguia e também, da população em geral. (na foto acima de Arnaldo Silva/@arnaldosilva_oficial, aldrava na porta de um dos quartos da Casa dos Contos em Ouro Preto MG e ainda em Ouro Preto, duas aldravas com fechadura, fotografada pelo Alexandre Pastre)
          A mudança no estilo arquitetônico e posição das casas mudaram a partir do século XX. Hoje, as casas não são mais construídas rente aos passeios. As portas das casas, passaram a ser substituídas por portas em metal e as casas separadas da calçada por muros e varandões.
          No lugar das aldravas, graças à popularização da eletricidade, surgiram as campainhas e interfones modernos. Com isso, a peça ficou no passado e até o nome aldrava, passou a ser desconhecido pela maioria.
          Mesmo quem tem ou já viu aldrava, não sabia que o nome da charmosa peça é Aldrava.
Ainda existem
          As aldravas são até os dias de hoje fabricadas por empresas de fundição. As aldravas mais antigas e bem trabalhadas artisticamente, podem ser encontradas em antiquários.
          Aldrava hoje é um objeto decorativo, que dá mais charme e nostalgia à uma casa, principalmente se esta for em estilo colonial e barroco.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Receita da broa de queijo com goiabada

 INGREDIENTES
. 600 gramas de fubá mimoso
. 500 gramas de goiabada cascão cortada em fatias pequenas
. 500 gramas de Queijo Minas cortado em fatias de finas
. 1 copo (americano) de farinha de trigo
. 2 copos (americano) de açúcar
. 3 ovos caipira
. 3 colheres de gordura de porco ou de manteiga
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. 1 pitada de sal
. Coalhada ou se não tiver, leite integral, o suficiente para que a massa não fique dura e nem muito mole
(um pouco de farinha de trigo para empanar o queijo e a goiabada)
MODO DE PREPARO
- Coloque todos os ingredientes, exceto a coalhada, a goiabada e o queijo, no liquidificador.
- Ligue e vá colocando aos poucos o leite. A massa não pode ficar muito dura e nem muito mole. Vá dosando a coalhada.
- Unte uma fôrma retangular ou redonda, com furo no meio, com manteiga e farinha de trigo e despeje a metade da massa.
- Coloque um pouco de farinha de trigo num prato e passe as fatias de goiabada e de queijo como se fosse a milanesa e vá colocando sobre a massa. Empanar é muito importante porque a massa é mole e tanto o queijo, quanto a goiabada irão afundar e queimar em baixo. Empanando, o queijo e a goiabada não afundarão.
- Coloque sobre a massa as fatias em forma de damas, intercaladas. Queijo, depois goiabada, uma do lado da outra, sem apertá-las.
- Feito isso, cubra com a outra metade da massa.
- Leve ao forno pré-aquecido a 180° C por cerca de 50 minutos ou até que esteja dourada por cima.
- 5 minutos antes de  desligar o forno, espalhe um pouco de queijo ralado por cima.
- Está pronta a broa. Agora é esperar esfriar, cortar e servir com aquele delicioso café, que só mineiro sabe fazer.
(A broa que ilustra a receita, foi preparada na roça, em Santos Dumont MG, por Fabrício Cândido)

sábado, 29 de janeiro de 2022

Monte Verde entre as 10 mais acolhedoras do mundo!

(Por Arnaldo Silva) A hospitalidade do povo mineiro é uma das maiores identidades do estado e um dos destaques dos turistas que vem à Minas Gerais. Em algumas cidades mineiras, o jeito acolhedor e hospitaleiro de ser do povo mineiro chama a atenção, se destaca mais.
          É o caso de Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas. Fundada no início do século XX, por imigrantes vindos da Letônia, um pequeno país situado no Mar Báltico, entre Letônia e Lituânia, no Leste Europeu. (fotografia acima de Thamires Manfrim/@gotogetherbr)
          Monte Verde personaliza o estilo hospitaleiro e acolhedor do povo mineiro, reconhecida em todo o mundo, sem exagero algum.
          Isso porque, pela segunda vez, o charmoso “cantinho da Europa” em Minas, figura novamente na lista dos 10 lugares mais acolhedores eaconchegantes do mundo, eleita pela plataforma Booking.com. A eleição é anual e visa homenagear as cidades de todo o mundo, tendo como base a hospitalidade e estrutura para acomodações das cidades de todo o mundo.
          Monte Verde foi muito bem avaliada pelo seu estilo romântico, suas belezas naturais, com seus belos mirantes que proporcionam vistas espetaculares, sua estrutura de hospedagem e ótima gastronomia, quesitos muito bem avaliados por casais, viajantes e amantes da natureza e montanhismo. (fotografia acima de Thamires Manfrim/@gotogetherbr)
          Em 2020, Monte Verde foi eleita, pela mesma plataforma, um dos mais destinos mais acolhedores do mundo, ficando em nono lugar no ranking geral, recebendo por isso o prêmio Traveller Review 2020.
          Em janeiro de 2022, a plataforma elegeu as cidades mais acolhedoras do mundo, com base em análises feitas por mais de 230 milhões de usuários da plataforma, ao longo de 2021, em todo o mundo. Acomodações, gastronomia e atendimento, além da estrutura turística das cidades e diversidade de sua flora e fauna, foram as bases para a definição do ranking da entidade.
          No ranking geral da Booking.com, Monte Verde voltou a figurar entre as cidades mais hospitaleiras do mundo, ficando dessa vez na sexta posição.
          Na avaliação dos seguidores da plataforma, Monte Verde se destacou pelo atendimento, sua estrutura urbana, suas charmosas e românticas acomodações, muitas delas, aos pés de montanhas, além de sua gastronomia diversificada, com pratos típicos de Minas Gerais e da culinária europeia e suas belezas naturais, com destaque para a diversidade de pássaros que habitam a localidade. (fotografia acima de Thamires Manfrim/@gotogetherbr)
          O seleto grupo das 10 cidades mais acolhedoras do mundo, recebem o prêmio Traveller Review Awards 2022, da plataforma.
          Veja o ranking das 10 cidades mais acolhedoras do mundo, de acordo com a posição eleita pela plataforma Booking.com
          Entre as 10 cidades mais acolhedoras do mundo, apenas uma está nas Américas, é brasileira, é de Minas Gerais, é Monte Verde, a vila mais acolhedora do mundo.
As 10 cidades mais acolhedoras do mundo, segundo a Booking.com são:
1. Matera – Itália
2. Bled – Eslovênia
3. Taitung City, em Taiwan
4. Nafplio – Grécia
5. Toledo – Espanha
6. Monte Verde – Brasil (na foto acima de Thamires Manfrim/@gotogetherbr)
7. Bruges – Bélgica
8. Nusa Lembongan, Indonésia
9. Ponta Delga – Açores
10. Hoi An, Vietnã
       

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Jequitibá: a pequena joia do interior mineiro

(Por Arnaldo Silva) Com cerca de 6 mil habitantes, Jequitibá reúne todas as principais características do interior mineiro, numa só cidade. Pequena, pacata, charmosa em sua arquitetura colonial e eclética, acolhedora, bem cuidada, rica em cultura e folclore e ainda, com um povo simples e hospitaleiro. Jequitibá é uma joia no coração da Região Central da Zona Metalúrgica mineira, distante apenas 112 km de Belo Horizonte.
          Jequitibá faz divisa com os municípios de Sete Lagoas, Baldim, Funilândia, Araçaí, Cordisburgo e Santana do Pirapama. O acesso à cidade é bem fácil e com várias opções rodoviárias que pode ser pela BR-040, MG-238, MG-010, MG-010, MG-323 e MG 238. (fotografia acima de Nacip Gômez)
Origem de Jequitibá
          O município encontra-se numa região de terras férteis, povoada desde o final do século XVII, quando da chegada à Minas Gerais de entradas e bandeiras, em busca de ouro. O grupo, formado por bandeirantes, negros e índios escravos, liderados por Borba Gato, fixou-se às margens de uma lagoa, que recebia as águas do Ribeirão Jequitibá.
          Os primeiros moradores da localidade trouxeram a fé no Santíssimo Sacramento. Por volta de 1788, uma pequena capela, foi edificada e o povoado cresceu em torno da capela. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          Como o povoado foi se formando às margens do Ribeirão Jequitibá, o local passou a ser conhecido como Santíssimo Sacramento de Jequitibá.
          O nome do ribeirão, tem origem na Carinjana estreclensis, árvore da família lecythidaceae, espécie conhecida popularmente por Jequitibá branco, comum na região. Planta nativa da Mata Atlântica, pode chegar até 50 metros de altura, sendo muito resistente. Sua madeira é nobre e a espécie um dos símbolos de nossa flora.
          Já no século XIX, com o fim do Ciclo do Ouro, os que ficaram na região trabalhavam na terra, na produção de alimentos para a região.
          O pequeno povoado cresceu, foi elevado a freguesia em 2 de maio 1856, com o nome de Santíssimo Sacramento da Barra do Jequitibá, subordinado a Santa Luzia MG. Em 1891, a freguesia é elevada a distrito, subordinado a Sete Lagoas.
          Finalmente, em 27 de dezembro de 1948, ser elevado a cidade, desmembrando de Sete Lagoas em 1º de janeiro de 1949, com o nome abreviado para Jequitibá.
Folclore e atrativos urbanos de Jequitibá
- A capital mineira do folclore
          O município possui riquezas naturais e arquitetônicas de grande relevância. Faz parte, juntamente com Baldim, Capim Branco, Cordisburgo, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Sete Lagoas, do Circuito Turístico das Grutas.
          Jequitibá é uma união de povos em sua formação. Portugueses, índios, negros e pessoas que vieram de várias localidades do Brasil. Essa diversidade, é hoje responsável pela identidade gastronômica, social e folclórica da cidade.
          O folclore de Jequitibá é um dos mais variados e ricos de Minas Gerais. É uma das poucas cidades brasileiras onde se encontra variadas manifestações folclóricas. A tradição e folclore regional é tão forte em Jequitibá, que a cidade é, desde 1979, a principal referência folclórica de Minas, sendo considerada a Capital Mineira do Folclore. 
- Culinária típica
          Em Jequitibá, o visitante encontra uma cidade organizada, com boa estrutura urbana, um pequeno e variado comércio, além de bares, lanchonetes, padarias, pousadas e restaurantes com comida típicas. (fotografia acima de Thelmo Lins)

          Entre esses pratos típicos da cidade, estão os feitos com Cansanção, uma planta muito comum na região, que lembra a urtiga, em aparência. Além de ser rica em nutrientes, é uma planta medicinal. Usada em saladas, como refogados e no preparo de carnes, como na costelinha de porco.
- A Lagoa Pedro Saturnino e a Ilha do Castelinho
          Como atrativo urbano, o destaque é para a belíssima Lagoa Pedro Saturnino. Os casarões coloniais e construções ecléticas do século XX, refletidos na lagoa, dão mais beleza ao seu conjunto arquitetônico. (fotografia acima de Thelmo Lins)

          Em 1978, foi construído na lagoa a Ilha do Castelinho, desde essa época, um cartão postal da cidade e um dos pontos de encontro e entretenimento dos jequitibaenses.
- Capela do Rosário
          Como em toda cidade mineira, a religiosidade é um dos pilares da identidade cultural de Jequitibá. Destaque para a Capela de Nossa Senhora do Rosário, datada de 1887, onde se concentram os cortes de Reinado, Congadas e Folias do Divino nos dias de festas, com enorme participação popular. (fotografia acima de Thelmo Lins)

          Durante os dias de festas, são realizados leilões, apresentações folclóricas e ainda, barracas com comidas típicas da cidade, além de mostras de artesanato feitos por artesão locais.
- A Matriz do Santíssimo Sacramento
          Embora a Igreja do Rosário, seja um importante ponto turístico e religioso de Jequitibá, a matriz da cidade, é desde suas origens no século XVIII, a Igreja do Santíssimo Sacramento de Jequitibá (na foto acima e abaixo do Thelmo Lins).
          Erguida em 1788 e recebendo modificações, ao longo do século XIX, devido ao crescimento do povoado é a referência religiosa da cidade. Mesmo com as reformas que recebeu ao longo de sua história, sua essência foi preservada, bem como sua riqueza arquitetônico, nítidos em seus detalhes tanto exterior.

          Sua riqueza pode ser facilmente percebida em seu exterior e principalmente, em seu interior, como as belas talhas em madeira, ornamentações, retábulos, imagens esculpidas em tamanho natural, assoalho de madeira de aroeira vermelha e a beleza singular e única de seu altar-mor, dedicado ao Deus Vivo, o protetor da cidade. É protetor e não padroeiro, como são geralmente os santos, porque o Divino é o próprio Deus Vivo.
          É uma das mais belas arquiteturas do barroco mineiro. A Matriz é um bem tombado pelo IEPHA/MG como patrimônio histórico mineiro, desde 1979.
- O cemitério dos escravos
          Ainda nos tempos do Brasil Colônia, 10 anos após a construção da Igreja do Santíssimo Sacramento de Jequitibá, em 1798, foi construído o Cemitério, inicialmente para serem enterrados os escravos. No início do século XX, o cemitério passou a ser usado pela população em geral. Hoje é um patrimônio histórico e turístico da cidade. (fotografia acima de Thelmo Lins)

Atrativos naturais de Jequitibá
          Dotada de belezas naturais espetaculares como grutas e rochas do grupo Bambuí, montanhas, rios, matas nativas, uma fauna e flora diversificada, Jequitibá é um destino muito procurado pelos amantes da natureza da prática de esportes radicais como mountain bike caminhadas, trekking e também cavalgadas.
          Embora esteja numa propriedade particular, uma enorme cratera, aberta naturalmente, conhecida como “Buraco do Inferno” é um importante bem natural de Jequitibá. É tão profunda a cratera que não dá para ver o fundo.
          Além de ser bastante procurada por amantes da natureza, ufólogos são sempre vistos na região. Isso porque, notícias de aparecimento de Ovnis, são bastante comuns na região, atraindo curiosos e pesquisadores do tema.
Principais eventos de Jequitibá
          Por ser uma cidade de forte manifestação folclórica, em Jequitibá acontecem vários eventos, de janeiro a dezembro. (foto abaixo de Sérgio Mourão/@sergio-mourao)
 
- Cavalgadas 
          As cavalgadas estão sempre presentes na cidade, que praticamente triplica nos dias de cavalgadas, recebendo cerca de 15 mil visitantes para participarem de uma das mais tradicionais cavalgadas do Brasil.
- Festival de Folclore
          No início de setembro, acontece o tradicional Festival de Folclore. Durante os dias de eventos, diversos grupos folclóricos, mostram a diversidade do folclore mineiro, em cantos, danças e manifestações da mais pura e genuína raiz folclórica mineira.
          O festival tem início com desfile de todos os grupos folclórico, para na sequência, se apresentarem pelas ruas e praças de Jequitibá.
          Toda a cidade passa a ser um palco a céu aberto de manifestações folclóricas. É um show de cores vibrantes, alegria, fé, danças e cantorias, das tradições mineiras preservadas há séculos.
          São grupos que fazem apresentações de danças e cânticos folclóricos diversos, Congadas, Dança do Serrador, Folia do Divino, Reinado, de Santos Reis, Boi da Manta, Contradança, Fim de Capina, Dança da Vara, Incelência para Chuva, Encomendação das Almas, Batuque, Pastorinhas, Dança do Tear, Cantiga de Roda, entre outros.
- Festa de Nossa Senhora do Rosário
          A Festa de Nossa Senhora do Rosário, acontece na cidade e nos 21 povoados de Jequitibá, entre agosto e outubro, de acordo com o calendário de cada comunidade.
- Jubileu do Santíssimo Sacramento
          Em julho, no 3ºdomingo do mês, acontece a Festa do Santíssimo Sacramento, protetor da cidade, com procissões, novenas e demonstração de fé. Na festa é adorado o Deus Vivo, simbolizado pela Hóstia Consagrada, que representa o Corpo de Cristo. (fotografia acima do Thelmo Lins, da Matriz)
          Jequitibá (acima uma rua da cidade, registrada pelo Thelmo Lins) é um convite para os apaixonados pela cultura e folclore mineiro vivenciarem e conhecerem as mais belas e genuínas manifestações de nossa cultura, além da beleza e charme da cidade, com seu casario colonial e seu povo acolhedor.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Romaria de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja

(Por Arnaldo Silva) Água Suja, Nossa Senhora da Abadia de Água Suja e por fim, Romaria, é um dos maiores destinos religiosos de Minas Gerais. A fé em Nossa Senhora da Abadia movimenta a pequena cidade do Triângulo Mineiro, bem como toda região, no mês de agosto, quando acontece a festa em louvor à assunção de Maria ao céu, segundo a crença Católica. (na fotografia abaixo do Carlos Magno Foureaux, o Santuário de N. S. da Abadia de Água Suja)
A cidade
          A cidade de Romaria fica no Triângulo Mineiro e conta atualmente com pouco mais de 3.500 habitantes. O município está a 490 km de Belo Horizonte, a 163 km de Araxá, a 87 km de Araguari e a 86 km de Uberlândia. Faz divisa com Estrela do Sul, Iraí de Minas e Monte Carmelo.
         Sua economia tem como base a agricultura, como do café e soja, a pecuária de corte e leiteira, a agricultura familiar, pequenas indústrias e o turismo religioso. A cidade conta com uma boa estrutura urbana, com acesso fácil às grandes cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, bem como um comércio variado, pousadas e restaurantes com culinária típica e um setor de serviços de bom nível. (na fotografia acima de Jorge Nelson, a Igreja de Nossa Senhora da Abadia)
O povoado de Água Suja
          A povoação do que é hoje a cidade de Romaria teve início a partir de 1867, no século XIX, com a descoberta de jazidas de diamantes no leito de um córrego, de águas barrentas, por isso chamado de Água Suja, afluente do Rio Bagagem.
          Com a descobertas de diamante no córrego de Água Suja, garimpeiros de Estrela do Sul, que trabalhavam na extração do mineral nessa cidade, se mudaram para o local para explorar as novas jazidas.
         Às margens desse córrego, foi formando um povoado que passou a ser conhecido pelo nome Água Suja, em alusão ao nome do córrego.
Elevação à cidade emancipada
          Em 19/07/1872, a vila de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja foi elevada a distrito, subordinado a Monte Carmelo. O distrito passou a ser um local de fé, peregrinação e romaria à Nossa Senhora da Abadia, passando a se chamar, a partir de 17/12/1938, de Romaria.
          Em 30 de dezembro de 1962, o distrito de Romaria é elevado por lei à cidade emancipada, instalado em 1 de março de 1963, mantendo o nome de Romaria. O aniversário e festejos de emancipação do município é comemorado em 1 de março.
A padroeira
          Nossa Senhora da Abadia, é padroeira da cidade e também, padroeira da Arquidiocese de Uberaba, na qual Romaria MG está subordinada
          A cidade é bem tranquila, pacata e seu povo simples, trabalhador, hospitaleiro e acolhedor. A cidade tem origem na devoção à Nossa Senhora da Abadia.
          A devoção à santa católica está presente em Minas Gerais, principalmente nas cidades do Triângulo Mineiro, Patos de Minas, no Alto Paranaíba e Martinho Campos e Iguatama, no Centro Oeste Mineiro, além do Mato Grosso do sul, Tocantins, São Paulo e Goiás, onde a tradição, presente desde os tempos do Império, se expandiu para Minas Gerais e São Paulo. (na fotografia acima do Deocleciano Mundim, dia de peregrinação no Santuário da Abadia em Romaria MG)
A origem do nome Nossa Senhora da Abadia
          É uma das várias denominações dadas ao longo da cristandade à Maria, mãe de Jesus. A devoção à Nossa Senhora da Abadia é milenar.
          Tem origem em Portugal, no século IX. A denominação tem origem na abadia do Mosteiro de Bouro, na região de portuguesa de Braga, no ano de 883.
          Uma abadia é uma comunidade de religiosos que tem como superior, um abade. Nesta abadia em Portugal a imagem de Mãe de Jesus era guardada e venerada, por isso o nome, Nossa Senhora da Abadia.
          A partir da imagem existente no Mosteiro de Bouro, a fé em Nossa Senhora da Abadia se expandiu por Portugal, surgindo templos e imagens da santa, semelhantes à original, da abadia.
          Na imagem, Nossa Senhora está em pé, vestida com túnica, ornada com flores, uma coroa de rainha na cabeça, segurando o Menino Jesus coroado, em seu colo e um cetro de rainha, com sua mão direita. É a simbologia do mistério da Assunção da Mãe de Jesus ao céu, que se deu, segundo a tradição da Igreja Católica, no dia 15 de agosto. (na fotografia acima do Jorge Nelson, fieis em oração no Santuário de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja em Romaria MG)
A origem da devoção em Minas Gerais
          Os garimpeiros que vieram de Estrela do Sul, tinham forte devoção à Nossa Senhora da Abadia, introduzido no Brasil pelos portugueses, durante o período imperial.
          Para agradecerem ou fazerem pedidos à santa, o santuário mais próximo na região era em Muquém, distrito de Niquelândia, em Goiás. A distância dificultava a peregrinação à ermida de Muquém, mesmo assim, os devotos de Nossa Senhora da Abadia participavam da romaria anual ao local.
Construção da capela
          Com o crescimento do povoado e a longa distância percorrida até Goiás para louvar à Nossa Senhora da Abadia, os moradores de Água Suja decidiram construir uma capela dedicada à santa de sua devoção.
          Conseguiram a autorização de Dom Joaquim Gonçalves, bispo de Goiás e em 1870, deram início a construção do pequeno templo com o altar tendo ao centro, a imagem de Nossa Senhora da Abadia, que veio de Portugal de navio pelas mãos de Custódia da Costa Guimarães, viajante português.
          Após desembarcar no porto do Rio de Janeiro, o viajante seguiu com a imagem no lombo de cavalos até Barra do Piraí/RJ, seguindo a viagem por trem. Onde não passava trem, fazia-se baldeação em carro de bois, até chegar seu destino, no Triângulo Mineiro. A chegada da imagem da santa à Água Suja, foi recebida com enorme entusiasmo pelos moradores locais, em seguida, consagrada e colocada no altar-mor da capela.
          Com o passar do tempo e crescimento do povoado, a pequena capela deu lugar a outra maior, mas mesmo assim, ainda pequena para o crescente número de fiéis, que a cada ano aumentava, em milhares.
Um novo santuário
          Isso porque peregrinos da região do Triângulo Mineiro e São Paulo, que iam à Muquém em Goiás pagar ou fazerem promessas, passaram a fazer romaria para Água Suja. Com o aumento da peregrinação, o local passou a ser chamado pelos peregrinos de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja em alusão ao nome do vilarejo. Eram tantos, que o santuário já não comportava a presença de tanta gente. (na fotografia acima do Jorge Nelson, o interior do Santuário de N. S. da Abadia de Água Suja em Romaria MG)
          O enorme crescimento do número de romeiros motivou o então vigário de Água Suja, Padre Eustáquio Van Lishout (natural de Aarle-Rixtel/Holanda em 3/11/1890 – falecido em Belo Horizonte em 30/08/1943 e beatificado em 15/06/2006) a construir um novo santuário, maior, mais espaçoso e em condições de atender o crescente número de romeiros. O novo templo foi iniciado em 1926 e concluído totalmente em 1975. (na foto acima do Carlos Magno Foureaux, foto da foto do Padre Eustáquio durante as obras da Igreja da Abadia)
          A grandiosa e imponente igreja idealizada pelo Padre Eustáquio foi erguida usando a pedra Tapiocanga, tradicional na região do Triângulo Mineiro, muito usada em construções e esculturas, devido sua facilidade em ser esculpida. 
          Esse tipo de pedra tem a coloração vermelha natural, devido à alta concentração de ferro em sua composição mineral. O Interior do santuário é revestido, mas no seu exterior, não. É a pedra em sua cor natural. Não tem pintura.
A Festa de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja
 
          A tradicional festa, realizada há mais de 150 anos, tem início no dia 6 de agosto e se estende até o dia 15. Nesse período, a cidade se mobiliza para organizar os festejos, preparando a igreja, para receber os fiéis, com decoração, barracas com produtos religiosos e culinária típica. (na fotografia acima do Deocleciano Mundim, fiéis concentrados em frente ao santuário de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja, em Romaria MG)
         As Congadas e Folia de Reis são também tradição na cidade, bem como a Cavalhada de São Benedito, que acontece em junho.
          Todos os anos, dezenas de milhares de fiéis comparecem à Romaria MG para celebrar, agradecer, pedir ou mesmo, participar da tradicional festa. Os romeiros vêm a pé, a cavalo, de bicicleta, carro, em carros de bois e de ônibus, de várias cidades mineiras e inclusive, de outros estados.
          É a maior festa católica do Triângulo Mineiro e uma das mais importantes de Minas Gerais. Durante os dias de festa, estima-se uma média de 40 a 50 mil peregrinos presentes, com esse número chegando a quadruplicar no último dia da festa, 15 de agosto. (na fotografia abaixo de Jorge Nelson, a entrada da cidade de Romaria)
          A Festa de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja em Romaria MG, é uma das maiores demonstrações da fé e religiosidade mineira. Uma tradição que nasceu no coração dos fiéis e se solidificou pela fé, coragem, persistência e gratidão, ao longo de mais de 150 anos.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores