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quinta-feira, 10 de março de 2016

A rota romântica do Vale do Charme mineiro

(Por Arnaldo Silva) Entre montanhas, ar puro, nascentes de águas cristalinas, cachoeiras e paisagens maravilhosas, está o Vale do Charme, uma rota cheia de belezas naturais, construções coloniais e história.
          É uma rota romântica formada por Brumadinho, Belo Vale, Bonfim e Moeda. A região é ideal para quem quer viver longe da agitação das grandes cidades, ou pelos menos, passar alguns dias nas requintadas pousadas da região e apreciar uma das melhores cozinhas de Minas Gerais e paisagens deslumbrantes.(na foto acima do Elpídio Justino de Andrade mostra a estrada Nair Drumond, vista do Topo do Mundo)
          Não são apenas em belezas naturais e na culinária que a rota romântica do Vale do Charme se destaca. Tem história, fazendas centenárias, igrejas do período barroco e museus, artes, artesanatos, tradições, folclore e festivais, presentes nas quatro cidades que compõe o Vale.
          Brumadinho a 55 km de BH se destaca pela sua extensão territorial, pelos seus inúmeros atrativos como voos de balão e parapente, além do Inhotim, o maior museu de arte contemporânea do mundo e pelos charmosos distritos de Piedade do Paraopeba, destacando a Matriz de Nossa Senhora da Piedade, de 1713, cujo altar é ornado com uma imagem de madeira, trazida de Portugal em 1731 (na foto acima, do Barbosa) e Casa Branca.
Gastronomia especial
          Se está de dieta, esqueça, pelo menos enquanto estiver em Brumadinho. (foto acima, do Barbosa, de um restaurante em Casa Branca) Restaurantes em Brumadinho você encontrará dos mais simples ao mais requintados, mas com algo em comum: a maravilhosa cozinha mineira, tradicional. Não dá para resistir aquele torresmin no tropeiro, muito menos aquele docindileite feito no fogão a lenha e tacho de cobre, broa de milho, pamonha, café com rapadura. E o franguin com quiabo e angu? Ninguém resiste, nem se quiser.
Passeio rural
          Quem for às cidades da região pode desfrutar dos passeios pelas fazendas centenárias e pequenos povoados. Belo Vale, Bonfim, Moeda e Brumadinho possuem construções históricas, fazendas do século 18 como a Fazenda Boa Esperança em Belo Vale (na foto acima de Thelmo Lins), que pertenceu ao Barão do Paraopeba. Em Belo Vale está também o Museu do Escravo, o maior do gênero na América Latina, retratando toda a história do período da Escravidão no Brasil, com instrumentos usados no castigo dos escravos e documentos de grande valor histórico.
          Na bela Bonfim, você pode conhecer o Carnaval a Cavalo (na foto acima de Alisson Gontijo). É uma tradição de quase dois séculos, que revive as batalhas entre Mouros e Cristãos na Idade Média. Só que hoje as armas não são arcos, espadas e flechas e sim, confetes e serpentinas. Um carnaval diferente, gostoso de ver e participar.
          Já em Moeda, você pode visitar São Caetano da Moeda ou Moeda Velha (na foto acima Evaldo Itor). Esse povoado abrigou uma antiga fábrica clandestina de moedas, por volta de 1720, no século 18. O ouro era fundido mas não era arrecado um centavo sequer para a Coroa Portuguesa. Hoje, da fábrica clandestina, restaram ruínas, um dos atrativos do Vale do Charme. O povo de São Caetano é simples, muito hospitaleiro. Em agosto, mês da festa de São Caetano, todos os moradores se envolvem na organização e participação na festa, que recebe visitantes da região.
Pra quem não sabe, Moeda e Belo Vale, principalmente, são grandes produtoras de mexericas. A Festa da Mexerica de Belo Vale é muito famosa na região. 
          Uma boa dica para conhecer em Brumadinho é o Templo budista Chagdud Gonpa Dawa Drolma em Casa Branca, distrito de Brumadinho. (na foto acima do Barbosa) Um lugar para quem gosta do silêncio, da paz e do sossego.
 Em todas as cidades do Vale do Charme você encontrará alambiques que produzem a famosa cachaça mineira e claro, restaurante com a mais genuína e gostosa comida caseira mineira.
O Topo do Mundo
          Caso sua escolha seja curtir as belezas naturais, a dica é o Topo do Mundo, na Serra da Moeda, a 1400 metros de altitude. A vista é linda e trilheiros (foto acima de John Brandão/Im Memoriam) são presenças constantes na Serra, bem como os amantes de voo livre. Mesmo que você não se arrisque a voar, pode assistir. Mas se quiser, pode voar de parapente sentado numa cadeirinha. Isso porque no local tem instrutor, com experiência, que te acompanhará nesta aventura fantástica que pode durar por quase uma hora, dependendo do tempo. (foto abaixo de Andréa Gomes)
          Aos domingos, quando o tempo está bom, tem também na Serra o sobrevoo de balão com duração de 1 hora mais ou menos.
Instituto Inhotim
          São 97 hectares de pura arte, com os mais diversos temas, dos mais variados artistas, sem contar a beleza da paisagem do local, inspirada nos projetos paisagísticos de Burle Marx (1909-1994). Possui restaurantes e lanchonetes para atender os visitantes. (foto acima de Thelmo Lins) É a maior atração de Brumadinho e um dos lugares mais visitados por turistas que vem a Minas Gerais. Estamos falando do Inhotim, o maior museu de arte contemporânea do mundo.
          Tudo no Inhotim são arte e beleza. São cinco lagos ornamentais e 4,5 espécies de plantas. Os criadores do Instituto trouxeram também plantas exóticas, de outros países. Com certeza eles gostam muito de palmeiras. O Inhotim possui a maior coleção de palmeiras do mundo. São 1300 espécies de palmeiras plantadas.
Entre a espécie mais interessante, estão as palmeiras de Madagascar ou palmeira azul, de origem africana.(foto acima de Sérgio Mourão/@encantosdeminas)
          Uma caminhada pelo Inhotim é agradável, mas se preferir tem carrinhos usados em campos de golfe à disposição dos visitantes. Muito verde, espaço para descanso e conversas. Até os bancos são obras de artes. São 98 bancos feitos com troncos pelo designer gaúcho Hugo França. 
          As obras de arte do Instituto contam com talentos nacionais de artistas como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Adriana Varejão, dentre outros. Obras de artistas internacionais também estão presentes no Inhotim como do norte-americano Doug Aitken que reproduz os sons emitidos no fundo da terra. Isso mesmo! É a obra que mais impressiona. São seis microfones geológicos, instalados no fim de um cano a 202 metros de profundidade. A região é de mineração, portanto, dependendo da atividade nas redondezas, os barulhos são ensurdecedores ou discretos.
O Rola Moça
          A melhor época de passeios pela rota romântica do Vale do Charme é no inverno onde geralmente acontece festivais culturais e gastronômicos. A região conta com diversas pousadas, seja das mais simples às mais sofisticadas, mas aconchegantes com lareiras, vinhos e vistas maravilhosas, que possibilitam momentos de puro relaxamento e romantismo. Em Brumadinho estão as principais pousadas da região onde você pode também contemplar a Serra do Rola Moça. (na foto acima de John Brandão/Im Memoriam) A vista é um espetáculo! Todos os dias sai ônibus da rodoviária de Belo Horizonte para Brumadinho e cidades da rota romântica do Vale do Charme.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Aiuruoca: o refúgio dos dias quentes do verão

(Por Arnaldo Silva) São pouco mais de seis mil habitantes, cidade pequena, charmosa, tradicional, rica em cultura e suas tradições são valorizadas por seu povo.
A foto acima que ilustra a capa dessa matéria foi feita de um ângulo que faz parecer ser um grande lago, mas no real, é um pequeno laguinho que fica na aconchegante Pousada Canto das Bromélias. Não é um lagão, uma lagoa, nem uma piscina, mas sim um pequenino laguinho de água corrente. É tão pequeno que não dá nem para nadar, tem apenas alguns metros quadrados de comprimento e uns 60 cm de profundidade. A água nem chega aos joelhos A vantagem é poder contemplar, sentado no laguinho, a beleza do Pico do Papagaio, ao fundo.(Foto: Arquivo Pousada Canto das Bromélias/Divulgação)
          Cidade que valoriza sua identidade cultural, formada desde o século XVII. Religioso, aos domingos de manhã, o povo vai à missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, datada de 1726, uma relíquia de nossa história. Após a missa, a praça e o coreto, viram pontos de conversas e bate papo em família. E não faltam ainda os pipoqueiros, vendedores de algodão doce e cachorro- quente. Coisas antigas em outros estados, mas atuais em Minas Gerais.(foto acima de Gilberto Furriel)
          Essa mesma praça (na foto acima de Thelmo Lins) serve de encontro da juventude à noite, que se encontram nos bares ou nos embalos musicais ao som de forrós, música sertaneja e shows diversos que acontecem na praça, principalmente em datas especiais como carnaval, aniversário da cidade, festas religiosas, etc. Mesmo para quem não curte as agitadas noites na praça, pode ficar nos bares e restaurantes da cidade, saboreando a excelente gastronomia local, tipicamente mineira, regada a azeite fabricado na própria cidade e ainda, o famoso queijo Prato. (na foto abaixo de Élvio Rocha, o queijo Mantiqueira da Serra - Foto enviada por Marlon Arantes)
          Produzir queijos de qualidade é tradição na cidade e região, principalmente com a chegada de imigrantes dinamarqueses no início do século XX, que introduziram seus conhecimentos sobre laticínios na cultura local, principalmente na produção de queijos. Pelas mãos dos dinamarqueses, surgiu o queijo Prato, um tipo de queijo macio, de massa prensada, com coloração amarela, sabor suave e textura semelhante à do queijo Danbo, tradicional da Dinamarca. 
          Pra quem não é muito chegado à agitação, tem como opção os Vales do Matutu e dos Garcias. Quem quer um contato pleno com a natureza, esses lugares são formidáveis, destino preferido de amantes da natureza e místicos. Belíssimas cachoeiras e pousadas aconchegantes, charmosas e com vistas espetaculares. (na foto acima de Jerez Costa, vista para o Pico do Papagaio da Pousada Cantos da Bromélias) A cidade tem mais de 80 cachoeiras simplesmente incríveis e paradisíacas!
          Estamos falando de Aiuruoca (na foto acima de Marlon Arantes), no Sul de Minas Gerais, um dos destinos turísticos que mais cresce em Minas Gerais, pelo clima bem interiorano da cidade, com características tipicamente mineiras, pela qualidade de suas pousadas e restaurantes, por suas belezas naturais, boa estrutura para receber os turistas e pela proximidade dos grandes centros urbanos. Aiuruoca está a 320 km do Rio de Janeiro (RJ), 350 km de São Paulo (SP) e 410 km de Belo Horizonte (MG). A temperatura média anual em Aiuruoca é de 20 °C, sendo 32 °C no mês mais quente e 3 °C no mês mais frio.
Nos meses mais quentes, em pleno verão, o frescor das montanhas e as mais de 80 cachoeiras são os refúgios para quem quer se refrescar. Já nos meses mais frios, tem as pousadas, aconchegantes, confortáveis e preparadas para garantir ao visitante, todo o conforto possível.
          Por sua imensidão de montanhas, a região tem o significativo nome de Montanhas Mágicas da Serra da Mantiqueira. A montanha que mais atrai os visitantes, que pode ser vida de vários ângulos da cidade e de outras cidades vizinha s é a do Pico do Papagaio. A 2100 metros de altitude, o majestoso pico está na Serra do Papagaio, inserido na área de 30 mil hectares do Parque Estadual da Serra do Papagaio, abrangendo o território de cinco municípios, preservando nascentes, cachoeiras, matas nativas, fauna e flora da Mata Atlântica. (na foto acima de Marlon Arantes, a Cachoeira dos Garcias)

          Nesse lugar, está o Matutu, um dos mais enigmáticos e esplêndidos lugares de Minas Gerais. Está apenas 17 km do Centro de Aiuruoca. Pelo caminho paisagens de impactar, como o maciço rochoso do Pico do Papagaio (na foto acima de Marlon Arantes)  e a Cabeça do Leão, uma rocha fabulosa. 
          Plantações de eucaliptos gigantes nos fazem pequenos diante de tão enormes que são. (foto acima de Thelmo Lins)  Dependendo da luz do dia, a luz do sol muda os tons das paisagens, podendo ficar verde ao amanhecer ou alaranjado com o chegar do crepúsculo. (como podem ver na foto abaixo de Jerez Costa)
          É no Matutu que estão as mais belas pousadas de Aiuruoca e a beleza do artesanato, culinária local e a riqueza cultural que pessoas que vem de vários lugares do Brasil e até do mundo, para conhecer o Matutu ou mesmo viverem em comunidade. No Matutu, tem a Comunidade do Santo Daime, praticantes de Yogas, místicos ou mesmo, pessoas que querem simplesmente viver num lugar rodeado por montanhas, cachoeiras, matas de araucárias e muito sossego. 
          Já no Matutu, o que impressiona são as belezas em redor, principalmente as cachoeiras. A região era habitada por índios, sendo estes que batizaram o lugar com esse nome. Na língua tupi-guarani, Matutu significa “cabeceiras sagradas”, devido a grande quantidade de nascentes que descem das cabeceiras das montanhas, alimentando córregos, riachos e rios da região. Hoje, cerca de 300 pessoas vivem no lugar. 
          Um charmoso casarão (na foto acima de Thelmo Lins), estilo colonial, onde funciona a Associação Amigos do Matutu, é o ponto de referência e informações, contando ainda com guias especializados para acompanhar os turistas. O visitante pode ainda experimentar um delicioso café colonial mineiro e conhecer o artesanato e os produtos caseiros da comunidade e região.(foto abaixo de Marlon Arantes)
          Tanto para adquirir peças de artesanato, como as quitandas preparadas no Matutu, tem que chegar cedo. A comunidade é rural, levantam cedo e não fica o dia inteiro nas lojas, já que muitos conciliam seus trabalhos na lida do dia com a loja. Ou seja, as lojas ficam abertas até a hora que fecha. Isso pode ser a qualquer hora do dia. Depois das 17 horas é muito difícil encontrar lojas abertas. 
          Quem vier em grupos, melhor agendar visitas às lojas de artesanatos e quitandas. Independentemente das dificuldades para encontrar as lojas abertas, vale a pena. As quitandas são deliciosas, feitas com muito amor, talento e criatividade. São receitas guardadas há gerações, preparadas por mãos talentosas. O artesanato do Matutu é original, precioso e encantador, mostrando o talento e criatividade dos artesãos do Vale, como prismas de luz e móveis rústicos como cadeiras e portões feitos com a madeira de candeias secas. Esses móveis são únicos e característicos do Vale. Uma arte que só existe no Matutu. 
          Indo a região, o mais correto seria o turista reservar com antecedência sua vaga nas pousadas do Matutu ou da cidade. O fluxo de turistas é muito grande, principalmente em alta temporada e dias de eventos na região. A maioria das pousadas tem sites e reservas online, que podem ser conferidas nas pesquisas feitas na rede.
          O grande prazer de quem vai ao Matutu é conhecer as cachoeiras. Algumas com acesso fácil, outras nem tanto. Tem que passar por trilhas, numa boa caminhada, mas que faz bem, pela beleza das paisagens pelo caminho, ar puro e por caminhar ser uma prática saudável. Chegando às cachoeiras, é só relaxar e tomar aquele banho nos poços formado pelas quedas das águas geladas que descem das montanhas sagradas de Aiuruoca. Uma das cachoeiras mais procuradas é a Cachoeira do Fundo. Pra chegar até essa cachoeira, são quase duas horas de caminhada. Mas vale a pena. A cachoeira é um espetáculo de beleza, com água limpa e cristalina. 
          Quem tem bom preparo físico e gosta de aventuras e contemplar a natureza, um passeio interessante é subir até o Pico do Papagaio.  É um passeio longo, mas vale a pena. A vista do alto é de tirar o fôlego, de impressionar! Outra dica é subir até a Cabeça do Leão, numa subida mais curta, próximo ao casarão do Matutu, podendo ser feita a cavalo. Chegando ao topo, é só descansar sobre as pedras, admirar a beleza da Mata Atlântica e claro, relaxar nas águas que formam o Poço das Fadas (na foto acima do Thelmo Lins).
          Próximo à cidade o turista tem como opção um passeio para conhecer a Fazenda Olibi (foto acima arquivo Olibi/Divulgação), num bate-e-volta. Uma fazenda que produz azeite artesanal de qualidade, recebendo visitantes que conhecem os olivais, o processo de colheita e produção do azeite, bem como as inciativas de preservação ambiental. A fazenda integra a olivicultura com programas de reflorestamento da Mata Atlântica e ajuda no resgate de aves vítimas de maus tratos e tráfico de animais silvestres, dando abrigo, proteção e cuidando das aves.
          Na cidade (foto acima de Gilberto Furriel), o turista pode andar pelas ruas calçadas com paralelepípedos e admirar os belos casarões centenários, os resquícios da época do Ciclo do Ouro, onde Aiuruoca e cidades da região também fizeram parte, bem como conhecer seus belos templos religiosos e claro, comprar o famoso queijo produzido na cidade, bem como outros produtos caseiros feitos em Aiuruoca. Mas o queijo de Aiuruoca não pode deixar de comprar. Não é um simples queijo que estará comprando. E sim, o queijo de Aiuruoca. (na foto abaixo enviada pelo Marlon Arantes, de Elvio Rocha, o queijo Mantiqueira da Serra)
          Bem pertinho da cidade, tem o Vale dos Garcias, cerca de 10 km apenas. Nesse vale tem uma das mais belas cachoeiras da região, a Cachoeira dos Garcias. Uma queda de 25 metros, que forma um poço extenso, com água limpa, bem cristalina e gelada. Em Aiuruoca fica difícil saber o que fazer. Ficar na cidade, conhecer suas belezas arquitetônicas e gastronômicas, ir para o Vale do Matutu ou para o Vale dos Garcias. 
          Nos dias de Carnaval, acontece na cidade o "Degusta Aiuruoca", cujo objetivo de promover e divulgar a culinária local. (foto acima de Monica Rodrigues). O evento é realizado na Praça Monsenhor Nagel, no Centro Os produtores da região, expõem seus produtos em barracas para degustação dos visitantes, como doces, geleias, cervejas artesanais, cachaças, azeites, queijos, trutas, cogumelos, frutas orgânicas, comida vegana, mel, etc. O "Degusta Aiuruoca" é o dia todo e á noite tem shows com artistas e bandas locais. (fotos e arte abaixo de Marlon Arantes)
           Quer uma dica? Vá a tudo que vai valer a pena! Aiuruoca é show!
          Quer fugir do estresse da cidade grande? Venha para Aiuruoca!
          Quer passar o inverno num lugar bem frio com temperaturas próximas a zero grau, com direito a geada? Venha para Aiuruoca!
          Quer fugir do calor, do verão intenso? Venha para Aiuruoca, o refúgio dos dias quentes do verão! Suas montanhas mágicas e mais de 80 cachoeiras paradisíacas te esperam.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Relembre as cantigas infantis de roda e de ninar

As cantigas de roda e ninar fazem parte do conjunto de histórias, lendas e superstições de nosso povo. As mães cantavam e incentivam os filhos a cantar e brincar com outras crianças da rua.
          Ouvir as cantigas cantadas por pais, pelas tias, professoras ou mesmo amigos, acalentava o coração e propiciavam sensações de alegrias. Favorecia os laços de família e fortalecia os laços de amizade, pela grande vantagem de estar num ambiente coletivo ou no aconchego do berço ou no colo da mãe. (imagem ilustrativa acima de arte feita com papel de jornal pela artesã Márcia Rodrigues de Felício dos Santos MG)

          Quem teve o privilégio de viver nos tempos da cantigas de ninar e brincadeiras de roda, vai relembrar com nostalgias os versos abaixo. São versos populares, cantados nas brincadeiras de ruas, no recreio da escola e em casa, brincando com os irmãos e amigos. 
Pintura do artista plástico Gildásio Jardim de Padre Paraíso MG
- Domingo
Hoje é domingo
Pede cachimbo
O cachimbo é de barro
Que bate no jarro
O jarro é de ouro
Que bate no touro
O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco
E cai no buraco
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo!
- Escravos de Jó
Os escravos de Jó
Jogavam caxangá
Tira, põe,
Deixa o zabelê ficar
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá
Guerreiros com guerreiros
Fazem ziguezigue zá.
- Eu entrei na roda
Ai, eu entrei na roda
Ai, eu não sei como se dança
Ai, eu entrei na “rodadança”
Ai, eu não sei dançar
Sete e sete são quatorze, com mais sete, vinte e um
Tenho sete namorados só posso casar com um
Namorei um garotinho do colégio militar
O diabo do garoto, só queria me beijar
Todo mundo se admira da macaca fazer renda
Eu já vi uma perua ser caixeira de uma venda.
- Fui ao Tororó
Fui no Tororó beber água não achei
Achei linda Morena
Que no Tororó deixei
Aproveita minha gente
Que uma noite não é nada
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada
Oh! Dona Maria,
Oh! Mariazinha, entra nesta roda
Ou ficarás sozinha!

- Marcha soldado
Marcha Soldado
Cabeça de Papel
Se não marchar direito
Vai preso pro quartel
O quartel pegou fogo
A polícia deu sinal
Acode, acode, acode
A bandeira nacional .
- Marinheiro só
Oi, marinheiro, marinheiro,
Marinheiro só
Quem te ensinou a navegar?
Marinheiro só
Foi o balanço do navio,
Marinheiro só
Foi o balanço do mar
Marinheiro só.
- Meu limão, meu limoeiro
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Uma vez, tindolelê,
Outra vez, tindolalá.
- Peixe vivo
Como pode o peixe vivo
Viver fora d'água fria?
Como pode o peixe vivo
Viver fora d'água fria?
Como poderei viver,
Como poderei viver,
Sem a tua, sem a tua,
Sem a tua companhia?
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Os pastores desta aldeia
Já me fazem zombaria
Por me ver assim chorando
Sem a tua, sem a tua companhia.
- A canoa virou
A canoa virou
Por deixá-la virar,
Foi por causa da Maria
Que não soube remar
Siriri pra cá,
Siriri pra lá,
Maria é velha
E quer casar
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar,
Eu tirava a Maria
Lá do fundo do mar.
- Atirei o pau no gato
Atirei o pau no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato deu
Miau!!!!!!
- Se esta rua fosse minha
Se esta rua,
Se esta rua fosse minha,
Eu mandava,
Eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas,
Com pedrinhas de diamantes,
Só pra ver, só pra ver
Meu bem passar
Nesta rua, nesta rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
Tu roubaste, tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque, é porque te quero bem
- Boi da cara preta
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta criança que tem medo de careta
Não , não , não
Não pega ele não
Ele é bonitinho, ele chora coitadinho.
- Cai cai balão
Cai cai balão, cai cai balão
Na rua do sabão
Não Cai não, não cai não, não cai não
Cai aqui na minha mão!
Cai cai balão, cai cai balão
Aqui na minha mão
Não vou lá, não vou lá, não vou lá
Tenho medo de apanhar!
- Capelinha de melão
Capelinha de Melão é de São João
É de Cravo é de Rosa é de Manjericão
São João está dormindo
Não acorda não!
Acordai, acordai, acordai, João!
- Ciranda, cirandinha
Ciranda, cirandinha,
Vamos todos cirandar,
Vamos dar a meia volta,
Volta e meia vamos dar
O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou,
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou.
- O cravo brigou com a rosa
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa, despedaçada
O cravo ficou doente
A rosa foi visitar
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
- Peixinho do mar
Quem me ensinou a nadar
Quem me ensinou a nadar
Foi, foi, marinheiro
Foi os peixinhos do mar.
- Pezinho
Ai bota aqui
Ai bota aqui o seu pezinho
Seu pezinho bem juntinho com o meu
E depois não vá dizer
Que você se arrependeu!
- Pirulito que bate bate
Pirulito que bate bate
Pirulito que já bateu
Quem gosta de mim é ela
Quem gosta dela sou eu
Pirulito que bate bate
Pirulito que já bateu
A menina que eu gostava
Não gostava como eu.
- Roda pião
O Pião entrou na roda, ó pião!
Roda pião, bambeia pião!
Sapateia no terreiro, ó pião!
Mostra a tua figura, ó pião!
Faça uma cortesia, ó pião!
Atira a tua fieira, ó pião!
Entrega o chapéu ao outro, ó pião!
- Samba Lelê
Samba Lelê está doente
Está com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
De umas dezoito lambadas
Samba, samba, Samba ô Lelê
Pisa na barra da saia ô Lalá
Ó Morena bonita,
Como é que se namora ?
Põe o lencinho no bolso
Deixa a pontinha de fora.

- Teresinha de Jesus
Teresinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Teresa deu a mão
Teresinha levantou-se
Levantou-se lá do chão
E sorrindo disse ao noivo
Eu te dou meu coração
Dá laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Da morena mais bonita
Quero um beijo e um abraço.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O que é quitanda para o mineiro?

(Por Arnaldo Silva) Quitanda é uma palavra muito pronunciada no Brasil, principalmente em Minas Gerais, embora o significado de quitanda para os mineiros seja diferente do restante do Brasil. Origem dessa palavra é africana e se escrevia “kitanda” com k, posteriormente modificada devido à atualização da língua portuguesa no século XX. 
          Literalmente kitanda, no dialeto quimbundo, é um tabuleiro onde se coloca alimentos para a venda, geralmente por vendedores ambulantes ou em feiras livres. Em algumas partes do interior do Brasil, quitanda ou quitandeira, era uma pequena mercearia onde se vendia além de gêneros alimentícios, produtos de limpeza, fumo, higiene, carvão, etc. Para nós mineiros, esse tipo de mercearia chama-se venda e existe até hoje em algumas regiões mineiras como esta ai abaixo, que eu, Arnaldo Silva, fiz na zona rural de Bom Despacho MG. (fotografia acima de Marluce Ferreira de Ipatinga MG)
          Quitanda também tem significado diferente para o mineiro. Para nós mineiros, quitanda é simplesmente tudo que é feito em casa e servido com café, como queijos, broas, sequilhos, biscoitos, bolos, além dos produtos que saiam dos quintais para as panelas dos fogões à lenha como doce de leite, goiabada, doce de mamão, compotas, etc. Essas quitandas eram colocadas em tabuleiros ou mesas da cozinha para a merenda das famílias e também quando chegavam visitas. Fazer quitandas é uma das mais antigas tradições mineiras. Saiu das senzalas, graças ao gênio culinário das escravas.(na foto acima do Brunno Estevão, quitandas preparadas pela dona Ercilene Zan Fava de Pedra Dourada MG)
Quitandeiras em Vila Rica, hoje Ouro Preto MG, na tela do artista plástico Jean Baptiste Debret (1768-1848)
          A tradição das quitandeiras mineiras começou a partir de 1716, em Vila Rica, hoje Ouro Preto. As escravas e escravos, além de prepararem as quitandas para seus senhores, faziam também para vender pelas ruas de Vila Rica. Colocavam as quitandas no tabuleiro e saiam pelas ruas com os tabuleiros na cabeça, vendendo as quitandas. Alguns senhores de escravos mantinham pequenas vendas na Vila onde as quitandas ficavam à venda o dia todo. O dinheiro das vendas não ficava com os escravos, a não ser com os que eram forros. Havia também casos de escravos e escravas forras que sustentavam suas famílias com a criação de pequenas vendas pelas vilas.
          Passam-se séculos, mas a tradição continua a mesma. Pelo interior de Minas Gerais, quitandeiras fazem biscoitos, bolos, broas, roscas, doces, queijos, etc. e vendem pelas ruas, em feiras livres ou montam pequenos negócios em suas casas para venderem seus produtos. (na foto abaixo do Edson Borges, algumas quitandas mineiras preparadas nos quintais de Felício dos Santos MG)
          E ainda, a tradição de preparar quitandas para família continua. Colocar sobre as mesas os melhores doces, queijos, biscoitos, bolos, roscas e broas eram uma forma de unir as famílias na hora do café da manhã e merenda da tarde, além de agradar as visitas, já que visitar amigos, parentes, comadres e compadres, era uma prática corriqueira entre mineiros, naqueles tempos. Dependendo das famílias, era visita todo dia.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

A origem do Uai em duas versões diferentes

(Por Arnaldo Silva) É a pergunta que todos fazem. A resposta vem logo: uai é uai, uai!
          Quando um mineiro diz Uai, significa que ele está demonstrando dúvida, surpresa, espanto, susto, impaciência, terror ou admiração. Mas como, quando e porque o mineiro passou a falar Uai, é uma incógnita.
          Explicações existem como a versão atribuída a Sílvio Carneiro e Dorália Galesso, num estudo encomendado pelo ex presidente Juscelino Kubistchek, relata que UAI são as iniciais de União, Amor e Independência. UAI seria uma senha (juntamente com as três batidas clássicas da Maçonaria) utilizada pelos integrantes da Inconfidência Mineira (quase exclusivamente composto por maçons) para que a porta do local de encontros secretos fosse aberta. Era uma maneira de se protegerem da polícia portuguesa.
          Há outra versão mais popular e convincente defendida desde os anos 70 e apresentado por um professor mineiro no 5ª Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, realizado na Universidade Federal de Ouro Preto em 2001.
          Segundo a tese, a expressão começou a surgir popularmente com a instalação da multinacional inglesa “Imperial Brazilian Mining Association” primeira empresa de capital estrangeiro a se instalar em Minas Gerais e investir no Brasil, adquirindo a mina de ouro de Gongo Soco, pertencente a João Baptista Ferreira de Souza Coutinho, o Barão de Catas Altas. Essa mina foi explorada entre os anos de 1824 até 1856. Durante esses anos, Congo Soco se transformou numa autêntica vila inglesa. Não se sabe ao certo a origem do nome Congo Soco. O local ainda existe e suas ruínas foram tombadas pelo Iepha/MG desde 1995. Fica no município de Barão de Cocais, a 76 quilômetros de Belo Horizonte.
          Voltando a tese do professor, ele afirma em seus estudos, com sua própria palavra que a expressão Uai “Pode ser atribuída ao convívio com esses e outros ingleses que residiram na província a utilização por parte dos mineiros da interjeição “Uai!” (que exprime surpresa e/ou espanto), a qual possui semelhanças fonéticas e semânticas com o vocábulo “Why” utilizado na língua inglesa com o mesmo sentido do nosso “por quê?”, ou como interjeição, assumindo, neste caso, o mesmo sentido do Uai mineiro. 
          Notemos que o Uai mineiro e o “Why” britânico possuem a mesma representação fonética; e notemos ainda que o Uai é a expressão da língua portuguesa falada no Brasil que mais se relaciona com a identidade mineira”. 
          Como os ingleses não entendiam o que os mineiros falavam e muitos menos os mineiros entendiam o que os ingleses falavam, algumas expressões passaram a serem ditas com freqüência pelos mineiros, na tentativa de se comunicar com os ingleses, por serem mais fáceis de pronunciar como Where (onde), Why (por quê) e Why So ( Por que então) O why passou a ser pronunciado como uai, o where de ué e o why só por uai sô. Era o que entendiam e conseguiam falar, daí essas palavras passaram a se popularizar na região.
          Os ingleses se foram e deixaram por aqui parte de seu vocabulário que passou a se difundir e ser muito falado, principalmente o Why So que virou o nosso tradicional Uai Sô.
          O certo é que não há uma constatação oficial da origem do nosso Uai. O que se tem são estudos e teses, feitas por professores e pesquisadores do assunto. O correto em afirmar é que o Uai é fato concreto, é parte de nossa cultura, de nosso vocabulário e é de Minas, é do mineiro.
          Convergências e divergências sobre o tema existirão sempre, já que é um assunto polêmico, mas todos concordam que a expressão Uai é patrimônio eterno de Minas, ah isso é! 

          Resumindo: a origem do Uai tanto faz, isso porque para nós mineiro uai é uai, sô e pronto! Definido e explicado.
(A imagem ilustrativa é trabalho em canecas da artesão Thalyta Moreira/@amoreira_loja, de Divinópolis/MG)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A história da Fazenda Santa Clara

 (Por Arnaldo Silva) A Fazenda Santa Clara fica em Santa Rita de Jacutinga, charmosa cidade da Zona da Mata, com cerca de 5 mil habitantes que faz divisa com os municípios de Rio Preto, Bom Jardim de Minas, Passa Vinte. É a maior atração turística do município que fica apenas 140 km de Juiz de Fora,190 km do Rio de Janeiro e 380 km de Belo Horizonte.
História da Fazenda Santa Clara
          A história da fazenda começou no final do final do século XVIII, quando o fazendeiro e minerador, Luiz Fortes de Bustamante e Sá, natural de São João Del Rei, foi agraciado com o cargo de guarda-mor do registro de Rio Preto. Um guarda-mor era um oficial nomeado pela Coroa Portuguesa, tendo como função proteger o Rei, comandar sua guarda pessoal e cuidar de seus bens em sua ausência. Mas Luiz desistiu do cargo, sendo substituído pelo seu irmão, Francisco Dionísio Fortes de Bustamante, que mudou com a esposa e filhos para a região, por volta de 1800.
          Em 1824, Francisco Tereziano Fortes de Bustamante, filho de Dionísio Francisco, recebeu do governo imperial uma sesmaria de terras e nestas terras, ergueu a Fazenda Santa Clara. 
          A construção teve início em 1805, levou 15 anos para ser construída e totalmente concluída, com decoração, entalhes e detalhes em 1856. Após sua morte, sua esposa, a viscondessa de Monte Verde, dona Maria Tereza de Souza Fortes, assumiu a fazenda, que depois de falecida, deixou a fazenda para seu irmão, Carlos Teodoro de Souza Fortes, já que a viscondessa não teve filhos. 
          Com o fim da escravidão, pela enorme estrutura da fazenda, bem como a manutenção do casarão, as dificuldades para pagar mão de obra e manter toda a estrutura da propriedade eram grandes. As dívidas aumentavam, até a fazenda ser hipotecada, estando em posse de um banco por 20 anos até ir a leilão, tendo sido arrematada pelo Comendador Modesto Leal e vendida em 1924 para o Coronel João Honório, sendo a Santa Clara, hoje, propriedade de seus descendentes.  
Uma das maiores construções rurais da América Latina 
          Ao todo, a Fazenda Santa Clara tem 6 mil m² de área construída, com 365 janelas, uma para cada dia do ano, 54 quartos, 12 salões, 3 cozinhas, 2 terreiros de café, uma capela, um mirante, senzala, masmorra, etc. 
          É considerada uma das maiores construções rurais da América Latina. Trabalho de construção feito por escravos, erguida em vigas de madeira e pau-a-pique, com decoração e ornamentação interna, totalmente com mobiliário, requintado, luxuoso, trabalhado em madeira bruta, feitos pelos melhores marceneiros e artistas da época.
          No entorno da fazenda um enorme terreiro de café, chama a atenção por sua dimensão, além da masmorra, construída de forma que impedisse qualquer tipo de fuga de escravos. 
          Mesmo assim, foi construído um mirante, que permitia ver toda a movimentação no entorno da fazenda, num ângulo de 360º graus, permitindo uma vigilância melhor da fazenda. Um detalhe interessante que neste mirante, construído no topo do casarão, foi instalado um relógio alemão, datado de 1840, em perfeito funcionamento até hoje. 
          É tradição no Brasil criar-se lendas e superstições, em torno de casarões antigos, com estórias que envolvem fantasmas arrastando correntes, tesouros escondidos, assombração, etc. Evidentemente, que a Fazenda Santa Clara não escapa dessas lendas, ainda mais por sua história, que envolve luxo, riqueza,  escravidão e sofrimento. Na tradição popular, tem muita estória. 
Castigos e masmorra
          Não se sabe ao certo quantos escravos trabalhavam na fazenda Santa Clara. Acredita-se que desde sua fundação, até o fim da escravidão, tenha sido usado na fazenda a mão de obra de cerca de  3 mil seres humanos escravizados. Esse grande número de seres humanos forçados a trabalhar como escravos, se explica pela enorme produção cafeeira da fazenda, exigindo muita mão de obra e com cercas de 14 horas de trabalho por dia. 
          Além de usar mão de obra escravizada, outro negócio paralelo ao café, aumentava em muito a riqueza dos proprietários. Era a comercialização de escravos para outros fazendeiros da região. 
          Seres humanos eram comprados e revendidos, ou mesmo, os filhos e filhas dos escravizados, eram vendidos, movimentando um comércio lucrativo na fazenda. (Nas fotos acima, a senzala e masmorra, onde os escravos dormiam e alguns dos instrumentos usados para castigar os escravos).
A Fazenda ontem e hoje
          A fazenda Santa Clara, guarda mais de 200 anos de história e tradição, tendo sua fachada tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórica e Artístico Nacional (IPHAN), bem com está em análise pelo órgão, o tombamento de sua parte interna. Para manter a conservação e preservar a história da fazenda, o local é aberto a visitação, com visitas acompanhadas por guias, com cobrança de uma taxa por pessoa. Esse valor é usado para a manutenção e preservação de um dos patrimônios de Minas Gerais e do Brasil.   
          Além de toda sua história, um detalhe curioso, são as telhas que cobrem o teto. Percebe-se que os tamanhos e formatos não são padronizados, se diferem uns dos outros. Isso porque, foram usados como moldes, as coxas dos escravos. Alguns tinham as coxas mais grossas, outros mais finas e por isso aconteciam essas variações nos formatos. Não eram telhas padronizadas, como vemos hoje. Assim surgiu a famosa expressão popular " feito pelas coxas". 
          Todos os meses turistas de várias partes do Brasil e até do exterior, vem à Fazenda Santa Clara para conhecer o casarão e toda sua história, percorrendo todos os cômodos possíveis, os salões, a senzala, a masmorra, os mobiliários da época, ouvindo com atenção as histórias contadas pelos guias.
          No casarão, o visitante tem a oportunidade entrar dentro da senzala e masmorra e conhecer em detalhes como era a vida dos centenas de escravos da fazenda, bem como os instrumentos usados para castigos e o mirante, construído para vigiar os escravos e a fazenda. 
         No interior do casarão, o mobiliário chama a atenção pelo luxo e arte muito bem feitas. Um tapete persa de mais de 20 metros quadrados é um dos atrativos, numa sala luxuosíssima, rodeada por mobiliário requintado de época. Outro atrativo é um espelho todo coberto em ouro e vários móveis como cristaleiras, cadeiras, lustres e outros objetos de grande valor histórico e cultural, pela beleza e requinte como foram trabalhados. 
          Por essa rica história e construção exuberante, a fazenda Santa Clara foi cenário da novela "Terra  Nostra"em 1999 e também da minissérie "Abolição", ambas da Rede Globo. 
     Na Região da Zona da Mata, existiam dezenas de fazendas de café com um rico patrimônio arquitetônico e cultural. Muitas delas ainda preservadas, mas de boa parte dessas fazendas, sobraram poucas peças para contar sua história. Ao contrário da Fazenda Santa Clara, foram conservadas boa parte da história da fazenda, bem como sua arquitetura e mobiliário. Por isso sua importância para Minas Gerais, um patrimônio que deve ser preservado. 
          A conservação da Fazenda Santa Clara até os dias de hoje é de grande importância para entendermos a história e o estilo de vida das oligarquias da época, bem como sua visão cultural, politica, religiosa e social, além, claro, de como viviam os escravos, o comércio de seres humanos e a forma como eram tratados. 
          Estar na fazenda, entrar nos suntuosos aposentos da imponente construção, descer à senzala e masmorra, é uma aula de história viva. 
          Isso porque a fazenda foi umas das mais ativas na produção cafeeira na época, no auge do Ciclo do Café. São histórias de riqueza, luxo, poder, também por simbolizar os horrores praticados durante os tempos da escravidão. 
          Impressiona por sua beleza, ao mesmo tempo, causa calafrios pela dor e sofrimento causados aos escravos, somente em ver os instrumentos usados para castigos e pela forma com que viviam na senzala, já arrepia e comove. 
          A Fazenda Santa Clara é a face da história da riqueza e escravidão no Brasil e conhecê-la é aprofundar-se de corpo e alma na nossa história, em especial, do século  XIX, durante o período da riqueza e poder, gerados pelo café, cuja a fazenda é o reflexo de tudo isso.
COMO VISITAR A FAZENDA SANTA CLARA
Endereço: Estrada Santa Rita - Rio Preto Povoado João Honório, Santa Rita de Jacutinga MG
Horário visitas: Todos os dias de 8 às 17 horas com guia. Cobra-se para entrar. Verifique os valores
Telefones: (32) 3291-1400 - (24) 2442-5703

(Todas as fotos desta edição são de autoria de Rildo Silveira)

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