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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Mar de Espanha de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Carinhosamente chamada de “Mar de Minas” e “Maresp”, Mar de Espanha conta hoje com cerca de 13 mil habitantes. Está a 358 km de Belo Horizonte e a 60 km de Juiz de Fora MG. Faz divisa com os municípios de Além Paraíba, Chiador, Guarará, Pequeri, Santana do Deserto, Santo Antônio do Aventureiro, Senador Cortes e Maripá de Minas. Quem nasce em Mar de Espanha é “mar-de-espanhense”. 
          Mar de Espanha é uma típica cidade do interior mineiro. Pacata, atraente, charmosa, povo hospitaleiro e acolhedor. É uma cidade histórica da Zona da Mata Mineira. (na foto acima de Marley Mello, capela de N. S. Aparecida a caminho do distrito de Saudade em Mar de Espanha MG)
          Nos séculos XVIII e XIX, as terras férteis da Zona da Mata atraíram um grande número de aventureiros e gente disposta a investir na produção agrícola, já que a extração mineral começou a dar sinais de decadência, ainda no século XVIII. Uma das atividades que começou a ganhar impulso na região naquela época foi a cafeeira. O café transformou a região numa das mais ricas regiões do Brasil, nos tempos da Colônia. 
          Várias fazendas de café foram sendo formadas nessa época e muitos povoados, que deram origem a várias cidades. Entre esses povoados, surgiu Mar de Espanha. (na foto acima de Marley Mello, vista parcial da cidade)
          A cidade teve origem em uma pequena rancharia, formada por poucas casas, já que o local eram ponto de passagem de viajantes e tropeiros, que cortavam a região, a caminho de São João Nepomuceno. Na rancharia, os viajantes eram atendidos, descansavam, se alimentavam e seguiam seu caminho.
          Com o passar dos anos, com a riqueza gerada pelo café, casas e sobrados começaram a ser construídos e a pequena rancharia, passou a ser povoado, com o nome de Arraial do Cágado.
          Em 1815, o arraial foi elevado à Vila e a distrito em 10 de setembro de 1851, quando adotou o nome de Mar de Espanha, um nome popular na região, nessa época. A sabedoria popular diz que o nome foi dado por dois irmãos espanhóis, que chegaram ao Brasil no início do século XIX, se estabelecendo na região.
          Os irmãos construíram um pequeno porto, onde faziam travessia de balsa sobre o Rio Paraíba, próximo a foz do Rio Paraibuna. Transportavam alimentos, carros de bois, gado, pessoas, tudo. O leito do rio tinha uma extensão bem larga e a vista, lembrava aos espanhóis, o mar, de seu país, a Espanha. 
          A saudade e as lembranças do país de origem, fez os espanhóis chamar o lugar de “El mar d´Spaña”, Mar de Espanha. Com o passar do tempo, o topônimo passou a ser usado como nome de uma fazenda e quando o arraial foi elevado a distrito, decidiu-se pela mudança do nome Arraial do Cágado, para Mar de Espanha, permanecendo este nome até os dias de hoje.
          Nessa época, o distrito era subordinado a São João Nepomuceno e o arraial contava com cerca de 2 mil habitantes. A riqueza gerada pelo café, propiciava uma vida econômica ativa no distrito que contava com um comércio variado, vida social ativa, várias ruas com casarões e sobrados suntuosos, construídos pelos barões do café. Muitos desses casarões, tanto na área urbana, quanto na rural, estão presentes ainda hoje em Mar de Espanha. E muito bem conservados e cuidados. Em 27 de junho de 1859, Mar de Espanha deixa de ser distrito para ser uma cidade emancipada.
          A data da elevação de Mar de Espanha à distrito, 10 de setembro de 1851, é considerada como data da fundação oficial do município, sendo o aniversário da cidade comemorada neste dia. 
          Mar de Espanha (na foto acima de Marley Mello) teve sua origem na agricultura, mas sua economia hoje é bastante diversificada, tanto na agricultura, com destaque hoje para a pecuária leiteira e seus derivados, quanto em outros setores industriais, como a mineração. Conta um comércio variado que atende bem a população, pousadas e hotéis charmosos e aconchegantes, boa qualidade de vida, produção artesanal de doces e quitandas, restaurantes com comidas típicas e uma boa rede de prestação de serviços. 
          Outro destaque em Mar de Espanha (na foto acima do Marley Mello) é o turismo, já que a cidade faz parte da história dos tempos dos “barões do café”, tendo sido de grande importância para a região desde sua fundação.
          O município é dotado de uma riqueza natural imensa e belezas singelas que impressionam. Nascentes, córregos, rios que em seu percurso forma belas cachoeiras como a Cachoeira do Pedro Duim, da Bocaina, Estevão Pinto e Fumaça, as mais procuradas. 
          Além da beleza e imponência das fazendas de grande importância para o município, como a Fazenda Calambau, a Fazenda Vista Alegre, a Fazenda São Sebastião, o Sítio das Estrelas, o Sítio Harmonia, muitas delas do tempo dos Barões do Café. Pelas fazendas e comunidades rurais, podem ser vistas singelas casas de colonos, belíssimos casarões e charmosas capelas.
          A cidade preserva em sua arquitetura (foto acima do Marley Mello), a beleza e o charme das construções coloniais dos séculos XVIII e XIX, além das construções clássicas e ecléticas do século XX. 
          Em sua arquitetura urbana, Mar de Espanha conta com vários monumentos históricos como a antiga estação ferroviária Estevão Pinto (na foto acima do Marley Mello) prédio do Fórum da Comarca, a sede da Prefeitura, o Santuário de Nossa Senhora das Mercês, a segunda igreja erguida na Zona da Mata, a Igreja de Santa Efigênia e seu mirante, o prédio da Cadeira Pública, o Clube Recreativo, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o prédio onde funcionava o matadouro municipal, a Igreja de Santo Antônio.
          Tem ainda as charmosas ruas históricas com seus antigos casarões (na foto acima de Márcia Valle), bem com o Parque Ecológico Doutor José Francisco Schettino, o Horto Florestal, o Sítio Arqueológico na Comunidade do Córrego da Areia, com pinturas rupestres datadas de 10.000 anos, o Vale da Minerva, o Monte Altíssimo, dentre outras belezas naturais e arquitetônicas. 
          Mar de Espanha se destaca ainda na religiosidade, cultura, artesanato e preservação das tradições populares, em destaque para a Festa da Padroeira e o Carnaval. No interior do Santuário de Nossa Senhora das Mercês (na foto de Márcia Valle), encontra-se um pequeno fragmento da ossada de Luiz Orione (1872-1940). Foi doada pelo Vaticano à cidade, por ter sido a única cidade mineira visitada pelo sacerdote italiano, da ordem dos Salesianos, na década de 1920. Beatificado em 1980, Luiz Orione foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 2004. Hoje é São Luiz Orione. A cidade guarda com orgulho a relíquia do Santo, em seu santuário.
          Mar de Espanha é uma cidade acolhedora, de povo simples, que recebe os visitantes de braços abertos e tem muita história para contar e muitas belezas para te mostrar.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Queijo maturado no vinho tinto

(Por Arnaldo Silva) Em nosso portal, já ensinamos a curar queijo no café e também, curar queijo na cachaça, com jabuticaba. Agora a combinação perfeita. Você vai aprender a curar um queijo no vinho tinto suave.
          Queijos e vinhos formam um par perfeito, combinam em tudo. Maturar queijo no vinho, é unir o útil ao agradável. O processo é bem simples e o resultado final, excelente, delicioso, perfeito.
Você vai precisar de um queijo e uma garrafa de vinho tinto suave, de sua preferência e uma bacia.
          Você vai escolher o seu queijo preferido, desde que seja fresco, mas não muito mole, de uns 3 dias de maturação, apenas e um vinho tinto de sua preferência.
          Na maturação, usamos o Queijo Artesanal de Alagoa MG, do Sul de Minas, da Fazenda Bela Vista, premiado no Mondial du Fromage, na França em 2019. Queijo fino, de massa leve e densa, com sabor meio picante. O queijo é de primeira.
          O vinho pode ser qualquer um de sua preferência. Eu gosto muito no meu dia a dia do vinho Modestus Syrah, da Vinícola Stela Valentino, de Andradas MG, Sul de Minas. Vinho fino, com uma cor rubi intensa, com o delicioso aroma de uva sobressaindo.
1 - Você vai pegar o queijo de sua preferência e colocá-lo numa bacia.
2 - Em seguida, despeje toda a garrafa do vinho tinto de sua preferência, até cobrir todo o queijo.
3 - Cubra a bacia com uma tela de pano, apenas para evitar que entre insetos.
4 - Coloque a bacia com o queijo e vinho cobertos em um lugar mais escuro, em temperatura ambiente e deixe descansando por 2 dias.
Nesse tempo, o queijo irá absorver o sabor do vinho e terá a coloração roxa na parte exterior. De um dia para o outro, vire o queijo para que absorva por igual o sabor do vinho.
5 - Depois dos 2 dias, retire da bacia, seque, coloque o queijo numa queijeira de madeira, com telas, pincele o queijo com azeite de oliva e deixe curando por 2 ou mais dias, em temperatura ambiente. Quanto mais tempo ele maturar, melhor ficará o sabor do queijo. Após dois dias ou curando, sirva.
          Desde início do processo, até o último dia da cura, perceberá que formará no queijo uma casca fina, de cor roxa, com um forte aroma do vinho.
          Partindo o queijo com uma faca, como podem ver na minha mão, perceberá uma massa firme, com a coloração tendendo para o amarelo claro, levemente picante e sabor de vinho e queijo misturados, com tendência para sentir mais o aroma e gosto do vinho, que do queijo.
          Prontinho, agora é só degustar o queijo.
          O vinho que sobrou, você pode usá-lo como vinagre, já que em contato com o ambiente aberto durante a maturação, começará a oxidar-se. Para isso, coloque-o de volta na garrafa, com um pouco de alecrim ou tomilho frescos, tampe com uma a boca da garrava e deixe-a em um local escuro e arejado por alguns dias e já pode usá-lo. 
(as fotos dessa edição são dos queijos feitos na Fazenda Bela Vista, em Alagoa MG. O contato do produtor é pelo instagram: @fazendabelavistaalagoamg)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A melhor cidade de Minas para se viver. Saiba qual é.

(Por Arnaldo Silva) A Origem de Nova Lima, cidade que faz divisa com a região Centro Sul de Belo Horizonte, data do início do século XVIII, com a descoberta de várias minas de ouro na região. Por isso, seu primeiro nome foi Congonhas das Minas de Ouro. 
          Em 1748 o povoado que se formou na região das minas foi elevado a freguesia, depois a distrito, de Sabará, em 1836, com o nome de Congonhas de Sabará e por fim, a cidade emancipada em 5 de fevereiro de 1891, passando a chamar-se Villa Nova de Lima e por fim, Nova Lima, a partir de 1923. 
          Lima é em homenagem a Augusto de Lima, poeta, professor jurista, jornalista magistrado e político mineiro, natural de Nova Lima/MG, nascido em 5 de abril de 1859, falecido no Rio de Janeiro/RJ, em 22 de abril de 1934. 
A melhor cidade de Minas para se viver
          Atualmente, Nova Lima conta com 11.697 mil habitantes. (fotografia acima de Júlio de Freitas, com destaque para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, ao centro) Por estar na divisa com uma das regiões mais ricas de Belo Horizonte, a Centro Sul, Nova Lima vem atraindo a cada dia, moradores de alta renda da capital, para a cidade.
          Entre os 853 municípios mineiros, Nova Lima é a cidade de maior IDH-M (índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios), segundo dados da ONU. É atualmente a melhor cidade de Minas Gerais para se viver, devido ao seu alto índice de IDH-M, 0,813 e sua excelente estrutura urbana, social e econômica. 
          Segundo dados divulgados pela Fundação Getúlio Vargas em 2019, tendo como base declaração de Importo de Renda de 2018, junto à Receita Federal, em Nova Lima (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade) está a maior concentração de ricos do Brasil, com uma renda média mensal de R$6.253,03. A segunda colocada foi Santana de Parnaíba (SP) com R$ 5.384,77. A terceira foi Aporé (GO) com R$ 5.233,93. A quarta foi São Caetano do Sul (SP) com R$ 4.565,34 e a quinta colocada no ranking nacional, foi Niterói (RJ) com uma renda média mensal de R$4.186,51.
Atividade econômica
          Desde sua fundação, Nova Lima se destaca na área econômica em Minas Gerais, principalmente pela exploração mineral, de minerais como o ouro, e atualmente, em maior escala, de minério de ferro. Algumas minas de ouro antigas continuam ativas no município, como a de Morro Velho, da Mostarda e do Rio de Peixe.            A cidade conta ainda com um variado parque industrial, sendo ainda, Nova Lima, uma cidade turística, com belezas naturais preservadas, arquitetura charmosa em suas construções que vai do colonial, barroco mineiro, colonial inglesa à arte decor. 
Distritos e a tradição cervejeira
          Conta ainda com o charme de distritos pitorescos e coloniais como a Vila Colonial de São Sebastião das Águas Claras, a popular, Macacos, famosa pela arquitetura preservada de seu casario colonial, por sua dedicada a São Sebastião (na foto de Andréia Gomes), pelas pousadas e restaurantes típicos, suas belas cachoeiras e paisagens exuberantes e trilhas. Tem ainda o distrito de Honório Bicalho, o bairro Jardim Canadá, onde estão concentradas as principais cervejarias de Minas Gerais, já que Nova Lima é um dos maiores polos cervejeiros do país.
          A tradição cervejeira de Nova Lima não é recente. Desde o século XIX, Nova Lima vem se destacando na produção de cerveja artesanal. Tudo começou quando o imigrante italiano, Fioravante Eugênio Armani, se estabeleceu na cidade nessa época e abriu uma unidade da Cervejaria Gabels, no distrito de Honório Bicalho. A Gabels foi a primeira cervejaria artesanal puro malte de Minas Gerais. (na foto abaixo do Júlio de Freitas, o Rio das Velhas em Honório Bicalho)
          Hoje, a cerveja artesanal é uma das maiores tradições do município, contando inclusive com Selo do Polo da Cervejaria Artesanal, para as cervejarias que atendam os requisitos de qualidade e das leis sanitárias vigentes. A qualidade das cervejas nova-limenses, feitas com ingredientes diferenciados e estilos criativos, vem conquistando o paladar dos amantes da bebida e reconhecimento em Minas, no Brasil e internacionalmente, através de diversas premiações de seus rótulos. Um dos marcos do polo cervejeiro de Nova Lima é a Uaiktoberfest, que reúne cervejeiros e cervejarias de todo o país, na cidade, no mês de outubro. O evento conta com figurinos em trajes típicos germânicos, shows musicais, gastronomia mineira, presença das principais cervejarias do país, além de apresentar as novidades do polo cervejeiro de Nova Lima.
Tradição gastronômica
          Nova Lima se destaca ainda na Gastronomia, desde os tempos do Brasil Colônia e ainda contou com forte influência inglesa em sua cultura, história, desenvolvimento e gastronomia. 
          A influência britânica em Nova Lima teve início no século XIX, quando a Anglo Gold, multinacional inglesa, adquiriu a Mina de Morro Velho, em 1834, transferindo a filial da empresa, em São João Del Rei, para Nova Lima, com direção em Londres, capital do Reino Unido. 
          Os ingleses tinham muita experiência na extração mineral com conhecimentos, técnicas e maquinário industrial, inexistentes naqueles tempos. Em terras mineiras, deixaram um pouco de sua cultura, da sua rica arquitetura, presente na cidade, e principalmente no bairro Quintas.
Outras Atrações de Nova Lima
          Nova Lima é uma cidade muito bem cuidada, elegante, acolhedora e com uma arquitetura variada nos estilos colonial inglês, barroco mineiro, neoclássico, art décor, eclética, modernista e contemporânea. Esses estilos variados presentes em sua arquitetura chama a atenção pela riqueza, beleza e qualidade dos detalhes e entalhes. (fotografia acima de Júlio de Prestes)
          A Rua do Zigue-zague (na foto de Cássia Almeida) é muito interessante. Foi construída por volta de 1894 em forma de Z, ligando a parte baixa da cidade à parte alta, onde estava sendo construído um novo bairro, sendo essa subida o único acesso para o Largo da Matriz. Para chegar material de construção à parte alta, o transporte era feito em lombos de mulas e burros, e mesmo para quem subia a pé, era um sacrifício muito grande. A forma encontrada, para aliviar, tanto o peso da carga nos animais e facilitar a subida das pessoas, foi fazer uma escadaria em Z, fazendo com que a subida fosse menos cansativa, tanto para as pessoas, quanto para os animais. É um dos símbolos da cidade e uma das grandes referências em Minas na preocupação com a mobilidade humana, bem como no respeito aos animais. 
          A Lagoa dos Ingleses é um dos mais belos cartões postais da cidade. É uma lagoa artificial, criada em 1932 para ser uma barragem de armazenamento de água de chuva, para gerar energia para mina de Morro Velho, que é a concessionária do uso das águas da represa. Com o passar do tempo, a lagoa passou a ser usada para prática de esportes e em seu entorno, já que a região está na divisa com a zona sul da capital, começaram a surgir construções, prédios e o residencial Alphaville. Hoje a lagoa é um dos mais belos lugares de Nova Lima, muito procurada por turistas e praticantes de esportes náuticos, tanto de Nova Lima, quanto de Belo Horizonte. (foto acima de John Brandão/@fotografo_aventureiro)
          A art décor, um movimento que surgiu na Europa no início do século XX, está presente em dezenas de construções na região Central da cidade, em destaque para o Teatro Municipal Manoel Franzen de Lima (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade), projetado pelo arquiteto italiano Raffaello Berti, em 1939, inaugurado em 1943. São 3 pavimentos, com capacidade para 800 pessoas.
          Outro destaque em sua arquitetura é o prédio da Câmara Municipal e Biblioteca Municipal. Construído em estilo neoclássico, predominante na Europa no século XVIII. Os edifícios tem traços greco-romanos, com colunas e arcos. 
          Os ingleses construíram suas casas no estilo da Era Vitoriana, quando Vitória, era a Rainha da Inglaterra. (na foto acima do Júlio de Freitas, a Igreja Anglicana de Nova Lima) Uma das características desse estilo era o uso de madeira nas construções como vigas, telhados e assoalhos, bem como paredes pintadas com cores diferentes para a época, como o cobre, vermelho, marrom e o dourado, que para os ingleses significava a riqueza. Além disso, o uso excessivo de adornos, objetos e móveis em madeira muito bem talhados, era uma de suas principais características. 
          O estilo arquitetônico da Era Vitoriana, na Inglaterra, pode ser visto em Nova Lima, no bairro Quintas (foto acima de construção em estilo vitoriano, de autoria de Elpídio Justino de Andrade), onde boa parte dos ingleses optaram por viver, quando aqui vieram a partir de 1834, para explorar a Minas de Morro Velho. Usavam as madeiras da região para fazerem as bases de suas casas, bem como os assoalhos, as sacadas e varandas em treliças. As casas eram cercadas com cercas vivas. Os ingleses não faziam muros. O bairro é um exemplo típico da arquitetura colonial inglesa. Algumas das construções do século XIX do bairro, se transformaram em cartões postais da como a Casa Grande, que sedia o Centro de Memória da Anglo Gold, o Clube das Quintas, a Sede da Companhia Independente da PMMG, dentre outros casarões. 
          Além da tradicional arquitetura eclética, colonial barroca, colonial inglesa, neoclássica e art décor, a cidade tem vários traços modernos em sua arquitetura urbana, bem nítidos no bairro Vila da Serra, como a Torre Alta Vila com 103 metros de altura, que conta com restaurante e mirante, de onde tem uma ampla vista de Belo Horizonte e Nova Lima, além do Edifício Concórdia, o maior arranha-céu de Minas Gerais (na fotografia acima de Júlio de Freitas/@julio_defreitas). 
          A cidade conta ainda com restaurantes e bares requintados e tradicionais, com pratos de várias cozinhas do mundo, além da mineira, casas de shows, shoppings, prédios e casas moderníssimas, formando uma mescla de estilo de épocas diferentes, atrativos a todos os gostos. (na fotografia acima do Marley Mello, o Vila da Serra, um dos mais charmosos bairro de Nova Lima, na divisa com BH)
          Além das atrações citadas acima, em Nova Lima o visitante tem ainda como atração a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Santo Antônio (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade) a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, o Estádio Castor Cinfuentes, o Parque Ecológico Rego dos Carrapatos, o Concordia Corporate.
          O Bicame é outro atrativo histórico. Trata-se de um aqueduto feito para levar água até a Mina de Morro Velho. Foi projetada pelo inglês George Chalmers, (Falmouth, 1857 - Golders Green Crematorium, Londres, 1928), um minerador e empreendedor britânico, radicado no Brasil, superintendente da Mina de Morro Velho, na época. George Chalmers teve participação na ornamentação interna da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar (na foto da Andréia Gomes), erguida no século XVIII, doando obras do Mestre Barroco Mineiro, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que ornamentam altar-mor, o coro, o batistério e as laterais do altar. É uma igreja de grande valor artístico e cultural não só para Nova Lima, mas para Minas Gerais.
          Nova Lima é uma cidade acolhedora, com um povo hospitaleiro e muito gentil. A conta com uma ótima rede hoteleira e gastronômica, além de várias opções de lazer, naturais, com seus parques, matas, trilhas, montanhas, cachoeiras e belezas naturais diversas, além de atrativos culturais, religiosos e folclóricos durante o ano todo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O plantio de uvas no Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) Desde que uvas foram introduzidas no Brasil, a crença de que essa fruta se adaptava somente a clima frio, propícia para as regiões do Sul do Brasil, Chile e Argentina, se tornou quase que uma verdade absoluta durante décadas. Mas, sempre ao longo da história tem um “mas”, alguém duvidou dessa máxima e resolveu plantar uva no Norte de Minas Gerais, região de clima seco, árido e com grande escassez de água e de intensos dias de sol e calor.
          No Sul de Minas, região com clima parecido com o do Sul do país, a plantação de uvas existe desde o início do século passado, introduzidas por imigrantes italianos como em Andradas, considerada a terra do vinho em Minas. (nas fotos acima fornecidas pelo Ernani Calazans, parreiras de uvas e vinhos da Vinícola Vale do Gongo em Grão Mogol MG) Uvas e vinhos de qualidade se destacam também em Três Pontas e Caldas, também no Sul de Minas.
          Já no Norte do Estado, a qualidade da uva impressiona, destacando as plantações em Pirapora com uma crescente produção de vinhos de qualidade no clima quente e árido Norte Mineiro (na foto acima de Sérgio Mourão).
          No município de Jaíba, onde está o projeto de Irrigação do Jaíba, considerado o maior projeto de irrigação da América Latina, uvas das variedades de mesa Niágara, Benitaka, Vitória, Isabel e Núbia são cultivadas com sucesso. São mais doces que as mesmas variedades plantadas em climas frios. (fotografia acima de Ernani Calazans na Vinícola Vale do Gongo em Grão Mogol MG)
          O que faz as uvas do Norte de Minas serem mais doces que as de clima frio são exatamente o clima quente da região. Em Jaíba, a temperatura média anual é de 24,2 graus, com mínima de 14,8 graus e máxima de 34 graus.
          Mesmo com o clima quente, a produtividade das variedades de uva de mesa são as mesmas das de clima frio. A diferença é que o plantio de uvas em clima quente requer maior investimento em irrigação, devido à escassez de chuvas. Em Jaíba, o sistema de irrigação das plantações de uvas é feito por gotejamento. Por outro lado, graças à intensa luz do sol da região, as frutas apresentam um sabor melhor, devido à proporção maior de açúcar natural na fruta (brix). (fotografia acima e abaixo de Maria Mineira)
          O sol e calor do Norte Mineiro faz com que as pragas que costumam atacar os parreirais em climas frios são menores, reduzindo assim o uso de defensivos agrícolas, oferecendo ao consumidor um produto com menos riscos à saúde. 
          Outra vantagem é que com o investimento em novas tecnologias, as plantações produzem a fruta praticamente o ano todo, diferente das variedades plantadas em climas frios, que são colhidas apenas na safra, que vai de dezembro a março. Isso faz com que as frutas da região Norte de Minas tenham melhor valor de mercado na entressafra. (foto abaixo de Sérgio Mourão em Pirapora MG)
          Após a colheita, as uvas saem da região já devidamente embalada e transportada em caminhões refrigerados, direto para o mercado consumidor de várias cidades e regiões brasileiras como Belo Horizonte, Triângulo Mineiro, Goiânia, São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto e outras cidades do interior paulista.

Queijo maturado no café

(Por Arnaldo Silva) Queijo com café é bom demais, agora, imagina queijo maturado no café? Essa é a técnica que o meu amigo Eudes Cerrado de Uberlândia aprendeu, me passou a receita e as fotos do queijo que maturou nesse processo e divido com vocês. O processo é bem simples.
Primeiro você vai fazer um café, sem açúcar, coado, no coador de pano de preferência. Escolha um café de qualidade.
- Espere o café esfriar. 
- Quando estiver frio, coloque o café num saco plástico resistente e coloque um queijo inteiro, de sua preferência, fresco ou meia cura (o queijo não pode estar duro e nem estar soltando soro).
- Amarre bem o saco para não vazar e coloque na geladeira por 5 dias.
- Nesse período, vire o queijo 2 vezes ao dia.
- Depois desse período, retire o queijo, coloque-o para secar ao natural, virando-o duas vezes ao dia entre 10 e 15 dias.
- Se quiser uma casca mais dura, pode deixar por mais tempo.
- Comer com a casca fica ótimo.
- Se quiser, pode tirar a casca e comer a parte branca.
É bem simples a técnica e o queijo fica saboroso.
Fotos e Receita de Eudes Cerrado - Uberlândia MG

sábado, 5 de dezembro de 2020

Maringá MG: a vila turística mineira

(Por Arnaldo Silva) Maringá é um pitoresco, acolhedor, charmoso e simplesmente apaixonante distrito mineiro, com características arquitetônicas das charmosas vilas italianas. Quem conhece, planeja logo voltar. É um lugar único e singular, bem no extremo sul de Minas Gerais. 
         Maringá MG é distrito de Bocaina de Minas, município mineiro distante 380 km de Belo Horizonte e faz divisas com os municípios de Aiuruoca, Alagoa, Carvalhos, Itamonte, Liberdade e Passa Vinte em Minas Gerais e Itatiaia e Resende, cidade fluminense onde está o distrito de Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro. (fotografia acima de Fabrício Cândido)
          Em Visconde de Mauá, distrito de Resende RJ, existe uma outra vila com o nome de Maringá. É a Maringá RJ.
          As duas “Maringás” são separadas apenas por uma ponte, sobre o Rio Preto (na foto acima da Luciana Silva), já que Bocaina de Minas, onde está Maringá MG e Resende, onde está o distrito de Visconde de Mauá e a Vila Maringá RJ, fazem divisa. (fotografia acima e abaixo da ponte sobre o Rio Preto, em Maringá MG)
          São apenas alguns metros que separam as duas vilas, que ficam entre as margens deste rio. Quem vem a Maringá de Minas, claro, vai à Maringá RJ. É literalmente logo ali, num pulinho só.
         Maringá MG surpreende por sua arquitetura singular, atraente e charmosa, com traços arquitetônicos europeus, com seus restaurantes e bares servindo os mais finos pratos mineiros e em especial, da cozinha italiana, além da riqueza impressionante do artesanato expostas nas diversas lojas da Vila. (fotografia acima de Fabrício Cândido)
          Sem contar suas belezas naturais, já que Bocaina de Minas, a sede e Maringá de Minas, seu distrito, estão na Serra da Mantiqueira, a 1210 metros de altitude (na foto acima do Paulo Santos). São belíssimas e convidativas paisagem, rios, cascatas e cachoeiras que formam poços de águas cristalinas e geladas. 
          A própria vila é dotada de um romântico e charmoso casario, além de boa estrutura para passeios e práticas esportivas ao ar livre, como passeios de quadriciclos, da prática de boia cross sobre as águas do Rio Preto e outras atividades esportivas em meio a natureza. (fotografia acima de Fabrício Cândido)
          Tem ainda as pousadas atraentes e aconchegantes e a culinária típica mineira, mas também, variada como pizzarias, churrascarias e restaurantes com pratos diversos como truta e outros peixes de água doce. (fotografia acima de Luciana Silva)
          O artesanato em Maringá de Minas é variado e rico em detalhes, como podem ver na foto acima da Luciana Silva, uma das várias lojas de artesanatos da vila.
          Sem contar charmosas chocolaterias, onde são feitos deliciosos chocolates finos, saborosos e de dar água na boca. (foto acima de Luciana Silva). Tem ainda a Casa das Velas, parada obrigatória para os visitantes. São velas únicas, especiais, feitas artesanalmente
Como chegar a Maringá de Minas
          Para chegar até Maringá de Minas, saindo de Belo Horizonte, o caminho é pela BR-040, com cerca de 440 km de estrada. Da Rodoviária de Belo Horizonte sai ônibus diariamente às 20 horas com previsão de chegada entre 4hs e 5hs da manhã, pela Viação Transnorte. (fotografia acima de Luciana Silva)
          A partir de Bocaina de Minas, a viagem até Maringá de Minas tem cerca de 40 km de distância. Na cidade o visitante pode obter informações e os serviços de guias de turismo para chegar até a Vila e conhecer o Parque do Itatiaia.
Bocaina de Minas 
          Maringá de Minas tem o calor da hospitalidade mineira e o charme das bucólicas vilas italianas, bem como conheça também a acolhedora cidade de Bocaina de Minas (na foto acima do Jerez Costa, a Matriz de Nossa Senhora do Rosário).
          Em Bocaina de Minas se concentra boa parte do Parque Nacional do Itatiaia, além de ser uma cidade charmosa, acolhedora, com um artesanato e culinária riquíssimas, além de inúmeras paisagens naturais, bem como as belezas do Itatiaia.
          Pra quem não sabe, 60% da área total do Parque Nacional do Itatiaia (na foto acima do Paulo Santos) pertence a Minas Gerais, concentrados basicamente em Bocaina de Minas, Itamonte e Alagoa MG. Os outros 40% da área do parque estão nas cidades fluminenses de Itatiaia e Resende RJ.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Alagoa e a história da centenária receita de seu queijo

(Por Arnaldo Silva) Alagoa é uma cidade charmosa, elegante, tradicional, aconchegante e de um povo gentil e hospitaleiro. São pouco mais de 2800 mil habitantes, que vivem do pequeno comércio, da prestação de serviços, da pequena indústria como laticínios, produção de azeite de oliva e queijarias artesanais, além da agropecuária. 
Conheça Alagoa          
          O município fica no Sul de Minas, a 1132 metros de altitude, no alto da Serra da Mantiqueira. Faz divisa com os municípios de Itamonte, Aiuruoca, Baependi e Bocaina de Minas, estando distante 420 km da capital. Para chegar à cidade, a opção é pela estrada que vem de Itamonte ou por Aiuruoca. (foto abaixo enviada pelo Osvaldo Filho do Queijo D´Alagoa)
          Embora seja um dos menores municípios de Minas, em número de habitantes, Alagoa é uma das mais antigas povoações mineiras, tendo sua história iniciada em 1710, no século XVII, com a chegada de bandeirantes em busca de ouro. Quando os bandeirantes chegaram à região, encontraram uma enorme lagoa com cerca de 3 km de extensão e ainda, em seu leito, tinha o tão procurado metal, o ouro. A lagoa não tinha nome, era chamada apenas de “a lagoa”.
          A busca desenfreada pela retirada do ouro foi tão intensa, que da lagoa nada existe. Sobrou apenas o nome pela qual era chamada, “a lagoa” que passou a ser o da cidade, juntando o “a” com “lagoa, ficando, Alagoa, elevada à cidade emancipada em 28 de dezembro de 1962. (foto abaixo enviada pelo Rafael Faria, da queijaria Sítio do Morro)
Uma típica cidade mineira
          A cidade preserva a religiosidade, a cultura, a gastronomia, história e tradições de Minas. Seus moradores tem hábitos tipicamente mineiros. Todos se conhecem e boa parte, tem algum tipo de parentesco. Visita que chega vai logo pra cozinha, tomar café, comer pão de queijo e biscoitos assados no forno do fogão a lenha, tomar aquele café coado em coador de pano e claro, comer queijo.

          Casario colonial bem preservado, ruas calçadas com paralelepípedos. Os poucos carros que circulam em suas estreitas ruas, dividem espaço com as tradicionais charretes ou pessoas montadas em cavalo, pela cidade. Em Alagoa, os dias da semana parecem com os domingos. Dias calmos, sossegados, e tranquilos, rompidos apenas pelo barulho dos sinos da Matriz. (fotografia acima e abaixo de autoria de Marlon Arantes)
O italiano e o queijo de Alagoa
          Cidades assim, geralmente passam despercebidas, mas Alagoa é diferente, por um detalhe que a torna famosa e conhecida em Minas, no Brasil e no mundo inteiro: o seu queijo, cuja receita é preservada há mais de 100 anos. Um queijo especial, de sabor único, só encontrado no município e em nenhum outro lugar. 
          No final do século XIX e início do século XX, chegaram ao Brasil centenas de milhares de imigrantes europeus. Alguns desses imigrantes, em especial, dinamarqueses e italianos, vieram para o Sul de Minas.
          Entre esses imigrantes, chegou a Alagoa, Paschoal Poppa, com sua esposa Luiza Altomare Poppa. De origem familiar queijeira, o casal conhecia muito bem a arte de fazer queijos. Perceberam a semelhança do clima das montanhas da Mantiqueira, a qualidade da água e da terra, que permitia uma pastagem de qualidade, além da geologia e da altitude, com as terras italianas. Semelhanças essas que, aliada aos conhecimentos dos italianos sobre a produção de queijos e vontade de, literalmente, pôr a mão na massa, são fatores primordiais para se produzir queijos de qualidade.
          Poppa começou a desenvolver sua receita, inspirada no queijo Parmesão, de Parma, na Itália. Embora tenha percebido semelhanças com o clima italiano, há uma grande diferença entre semelhança e ser igual. Isso porque, em se tratando de queijos, o que define a qualidade, aparência, cor, textura e sabor dos queijos, além da pastagem, manejo de gado, clima e qualidade da água, são as bactérias benéficas presentes no leite e os fungos que se formam durante a maturação e não propriamente dito, uma receita. (na foto abaixo, enviada pelo produtor Renato, a Fazenda Bela Vista, onde se produz o queijo Bela Vista)
O queijo de Alagoa não é Parmesão
          Queijo é um alimento vivo e cada região tem bactérias e fungos lácteos próprios, sendo formados de acordo com as características climáticas da região, bem como a qualidade e manejo do gado. Não é receita que dá textura, cor, característica, aparência e sabor aos queijos e sim bactérias e fungos, formadas durante o preparado e maturação dos queijos.
          Por esse motivo que o queijo feito em Alagoa é o Queijo de Alagoa, com identidade, peculiaridade, com características únicas e próprias, porque as bactérias e fungos presentes nesse queijo, são características de Alagoa, presentes nesta região somente e em nenhuma outra região, por isso é queijo é único.
          Com sua receita, Poppa começou com uma pequena queijaria. em sua propriedade. O negócio foi crescendo, o queijo foi caindo no gosto dos moradores da região. Em parceria como o produtor rural João Luís da Fonseca, construiu três laticínios no município, aumentando a produção e abrindo novos mercados na região, bem como tornando o queijo popular, atraindo o interesse de outros produtores em produzir queijos. Poppa passou sua receita para Gumercindo Ferreira Pinto, que ensinou a seus filhos, passando de pai para filho, de laticínio para laticínio, de família para família, até os dias de hoje. O mesmo aconteceu com outras famílias, que aprenderam a receita de Paschoal Poppa e começaram a fazer queijos e continuam até hoje.
          Aos poucos o Queijo Artesanal de Alagoa foi saindo das divisas alagoenses e alcançando outras cidades da região, inclusive cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, na divisa com Minas Gerais. No início, os queijos eram levados por tropeiros, em lombos de burros, cortando a Serra da Mantiqueira. (na foto abaixo, enviada pelo Renato, queijos da Fazenda Bela Vista)
          Assim surgia o Queijo Artesanal de Alagoa, um queijo único no mundo, com sabor inigualável. Hoje, o Queijo Artesanal de Alagoa é a principal identidade gastronômica da cidade.
Conhecendo o "tremruá" do queijo Alagoa
          Experimentei o Queijo Artesanal de Alagoa e constatei que ele tem um nível maior de umami. Esse nome tem origem japonesa e significa delicioso, saboroso. É o chamado “quinto sabor”, que alguns alimentos especiais, proporcionam e nos fazem descobrir. Alimentos umami se caracterizam por dar água na boca, além de salivar, ao olhar. É aquele alimento que colocamos na boca e demoramos um pouco para engolir, para aproveitar mais o sabor e querer comer mais.
          No caso do Queijo Artesanal de Alagoa, um sabor a mais, diferente e único que desperta o quinto sabor (umami) das pessoas, agradando e aguçando os mais exigentes paladares.
          Seu sabor único e inigualável e seu terroir próprio, são os motivos de tanto sucesso. Terroir (pronuncia-se “terruá) é uma palavra francesa que define um conjunto de características próprias do produto de um determinado lugar, que faz com que a produção local seja única. Em Minas pronunciamos “Trem-ruá”, nominação dada pelo Mestre Queijeiro Túlio Madureira, do Serro MG. 
          No caso de Alagoa, é a combinação das montanhas, pastagens, clima, água, solo, manejo do gado e evidentemente, bactérias e fungos, que resultam no “trem-ruá” próprio e único do Queijo Artesanal de Alagoa. (na foto acima enviada pelo Rafael Faria, Queijo Artesanal de Alagoa Sítio do Morro)
Queijo único
          A centenária receita é guardada com carinho pelos alagoense. A mesma receita pode ser feita em outras cidades, outras regiões com leite de qualidade, mas nunca vai ser igual ao queijo feito em Alagoa, como citei acima, devido às bactérias e fungos, presentes nas regiões, no caso de Alagoa, são bactérias e fungos naturais da região.
          Tem como levar uma receita para outra região ou mesmo fazer a mesma receita em outro país, mas levar fungos e bactérias junto com a receita, é impossível. Pode fazer a mesma receita, seguindo tudo à risca, mas a ausência das bactérias e fungos que caracterizam o queijo, fará que o sabor, textura e até a cor, sejam diferentes, pode até lembrar ou parecer, mas igual, com certeza, nunca será. É isso que define o terroir ou o nosso trem-ruá.
          Das queijarias de Alagoa, dezenas de produtores preservam a tradição da produção de queijo em família e a receita original e centenária do Queijo Artesanal de Alagoa. Mesmo com as atuais exigências legais e sanitárias, dos maquinários modernos usados para fazer os queijos hoje, do trabalho que dá fazer, aguardar a maturação e comercializar os queijos, continuam a produzir um queijo de altíssima qualidade, mantendo o sabor único, tradicional e original dos queijos, desde 1920.
          Ainda tem as famílias alagoenses que produzem seus queijos da forma tradicional, exatamente como no século passado, totalmente artesanal. (na foto abaixo do Jerez Costa, o Queijo D´Alagoa, do produtor Osvaldo Filho)
Como é feito o Queijo Alagoa?
          O começo da produção do queijo artesanal começa já na pastagem. Tem que ser capim de qualidade, bem como a água, tem que ser limpa e pura, preferencialmente, água vinda direto da mina. Pastagem e água de má qualidade, interferem no sabor do leite, e como consequência, no sabor do queijo.
          O queijo é feito com leite cru, fervido no fogão a lenha. O fermento sai da própria produção que sobra do produto. Os vasilhames usados para produzir o fermento não são lavados com detergentes, para não alterar o ácido e prejudicar a formação do fermento, que é feito num dia e usado no dia seguinte.
          Em seguida o queijo é colocado em gamelas bem limpas, de madeira de pinho, ótimas para conservar melhor o queijo, além de fazer com que a massa absorva a cor da madeira, dando ao queijo uma cor amarela, e ainda, ajuda na maturação. Resumidamente, esse é o processo de produção do Queijo Artesanal de Alagoa.
Queijo premiado dentro e fora do Brasil
          O queijo está presente na vida do povo mineiro desde o século XVIII. É uma das principais identidades de Minas Gerais e Alagoa tornou-se uma das principais regiões queijeiras do Estado, justamente pela qualidade de seus queijos, reconhecida e premiados em nível estadual, nacional e internacional. 
          Destaques para os queijos da Fazenda Bela Vista, do produtor Renato, medalha de ouro no último concurso internacional do Mondial Du Fromage, a copa do mundo dos queijos, realizado na França em 2019, além do Queijo D´Alagoa, do produtor Osvaldo Filho, medalhas de prata e bronze, no mesmo concurso. O mesmo queijo, do Osvaldinho, como é conhecido, foi eleito o Queijo do Ano em 2018, em São Paulo. (na foto acima, enviada pelo Osvaldo Filho, o Queijo D´Alagoa, marcando presença em París/França)
          Outros produtores do município, vem entrando no mundo dos queijos artesanais mineiros e se destacando pela qualidade e sabor, como o queijo artesanal Sítio do Morro, da família do produtor Rafael Faria.
Região queijeira reconhecida
          O Queijo Artesanal de Alagoa é tão especial e importante para Minas que a região foi identificada e reconhecida pelo Governo de Minas Gerais, através do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER/MG), órgãos ligados à Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa/MG), como região produtora de queijo artesanal, através das portarias 1985 e 1986, anunciada em junho de 2019.
          Nesse mesmo dia, além do reconhecimento como região produtora de “Queijo Artesanal de Alagoa”, foram reconhecidas as cidades de Aiuruoca, Baependi, Bocaina de Minas Carvalhos, Itamonte, Liberdade, Itanhandu, Passa Quatro e Pouso Alto, no Sul de Minas, como produtoras de “Queijo Artesanal Mantiqueira de Minas”.
          Tanto o Queijo Artesanal de Alagoa, bem como o “Queijo Artesanal Mantiqueira de Minas”, tem características, peculiaridades e identidades próprias, que os diferem do Queijo Minas Artesanal (QMA), produzidos nas atuais 7 regiões queijeiras mineiras que são: Canastra, Cerrado, Serra do Salitre, Araxá, Triângulo Mineiro, Campo das Vertentes e Serro. Os queijos das regiões QMA são produzidos com o pingo, ao contrário dos queijos da região queijeira de Alagoa e da Serra da Mantiqueira de Minas, que utilizam fermento natural, além de aquecer o leite durante o processo de produção. A similaridade é que todas essas regiões, usam o leite cru na produção dos queijos. 
          Segundo dados de 2019, da Emater/MG, em Alagoa existem 139 queijarias artesanais, com uma produção anual de 58,4 mil toneladas de queijo, sendo vendidos na região, presentes ainda em pontos de vendas e algumas queijarias, como a Queijo D´Alagoa (na foto acima enviada pelo Osvaldo Filho, se destaca pela venda de seus queijos em loja física e online, com entrega pelos correios.

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