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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

De Aiuruoca para o mundo: a arte da Cutelaria

(Por Arnaldo Silva) Cutelaria é uma arte. Quem trabalha com a cutelaria é tem o ofício de cuteleiro. É a arte de fabricar instrumentos e utensílios metálicos de perfuração e de corte como facas, espadas, machados, facões, punhais, canivetes, navalhas, etc. Para ser um cuteleiro, exige-se muito esforço e principalmente, habilidade na arte de trabalhar o metal, que dará origem ao instrumento ou utensílio a ser fabricado. 
          Diferente dos instrumentos e utensílios, como facas de cozinhas, feitos em série, por indústrias, a cutelaria é um trabalho totalmente artesanal e manual em sua origem, por isso, os cuteleiros, são considerados artesãos. Cada instrumento feito pelos cutelaria, são únicos. Eles transformam o metal em pura arte. Arte essa enriquecida com detalhes e pinturas artesanais em madeira, o que faz desses instrumentos artigos de luxo. 
          O Brasil se destaca nessa arte e conta com excelentes cuteleiros. Em Minas Gerais, um dos destaques vem da cidade de Aiuruoca, no Sul de Minas. É o artesão cuteleiro Marcelo Moreira Arantes. 
          Com 40 anos, Marcelo Arantes é cuteleiro profissional fulltime. Iniciou-se na cutelaria apenas como hobby, após encontrar uma revista Magnum de março de 1995. Nesta revista, leu uma matéria de Luiz Villa sobre como fazer sua primeira faca. A beleza da arte despertou seu interesse e seguindo as informações na matéria, começou a fazer sua primeira faca. Nada comparada as de hoje em dia, porém foi uma paixão em trabalhar as propriedades do aço.
          Feita a primeira, veio a vontade de fazer a segunda, terceira e aí não parou mais, porém sempre intercalando com outros serviços, como restaurações, marcenaria e por final ourives em São Paulo. 
          Com vontade de voltar à sua terra natal, Aiuruoca, e exercer seu ofício em sua cidade, perto de sua família, tomou a decisão de se dedicar a cutelaria como profissão. Com apoio de irmãos, pais e amigos, se dedicou, passou apertos, construiu suas ferramentas para que pudesse melhorar cada dia mais a arte, criou a M. ARANTES - Exclusive Handmade Knives. Em 2018, após receber uma oferta de um amigo metalúrgico para se profissionalizar, procurou o Master Smith pela ABS - American Blade Smith, Dionatam Franco, para o curso iniciante profissional de cutelaria, onde aprendeu técnicas de forjamento, tratamentos térmicos, ética profissional, acabamentos milimétricos e perfeitos, fazendo assim facas com qualidade superior para o mercado Nacional e Internacional. 
          Construindo facas em aços inoxidáveis e carbono, sejam de caça, campo, cozinha, churrasco e personalizadas de acordo com cliente, inclusive, com o nome do próprio, como na foto acima. A M. ARANTES abriu um mercado de admiradores da arte da cutelaria. 
          Com peças nos EUA, França entre outros países, suas facas de cozinha alcançaram grandes nomes da Culinária, como o Chef Francês Patrick Martin (diretor do Le Cordon Bleu no Brasil), Chef francês Olivier Cozan (grande incentivador da carreira) Chef Fernanda Ribeiro (São Paulo), como também conquistou o Repórter e apresentador da TV Band Marcio Campos, construiu uma faca especial para a Presidência da República, que traz as cores da Bandeira Nacional, representando nosso Brasil. 
          Marcelo lembra que o mais importante é que toda faca seja construída com dedicação e perfeição, seja uma faca simples ou complexa, seja para uma pessoa famosa ou para uma pessoa simples, todos clientes devem ser tratados igualmente, com respeito, compromisso, educação, responsabilidade, atenção e ética. “O cliente feliz é minha satisfação”. 
          No dia 13 de dezembro de 2020, recebeu a confirmação da participação no livro “Legado do aço” (Legacy of Steel), que será lançado em 2021, um dos maiores e mais completo livro da cutelaria mundial, onde contará com grandes nomes na cutelaria nacional e internacional.
(As informações e fotografias para essa reportagem foram fornecidas por Marlon Moreira Arantes, de Aiuruoca MG)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A arte Decoupage em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Uma técnica de artesanato de origem Europeia, vem ganhando adeptos e se popularizando em Minas Gerais. É a Decoupage (découpage, uma derivação do verbo découper), que significa, recortar. Embora a escrita e pronúncia sejam francesas, a arte Decouipage surgiu entre os artesãos de Florença, na Itália, no século XVIII. 
          Devido à falta de recursos para decorarem suas casas ou reformarem seus móveis, surgiu a ideia entre os moradores florentinos, de cobrir as mobílias e objetos de suas casas, com desenhos em papel, com o objetivo de dar mais vida ao ambiente em que viviam. 
          A partir dessa ideia, artistas e artesãos de Florença, começaram a aprimorar a técnica de recortes e colagens. Assim surgiu a arte denominada de “Estilo Florentino”, posteriormente chamada de Decoupage. 
          A técnica foi largamente usada pelos artesãos locais que usavam reproduções de obras de arte famosas, reproduzindo obras com cenas bíblicas, inicialmente e posteriormente, já no século XX, obras diversas da arte italiana. Reproduziam as famosas obras de arte em móveis em madeira e ferro, utensílios domésticos como pratos, objetos em vidros e talheres, ferramentas e utensílios de uso dos trabalhadores do campo e da cidade, sendo essa a essência da arte, que prevalece até os dias de hoje.
          Diferente da arte de origem austríaca, Bauernmalerei, que usa a pintura à mão, diretamente nos objetos, a Decoupage usa recortes de revistas, tecidos e outros tipos de papel colados. Os recortes cobrem as superfícies dos objetos, onde a arte será aplicada, recebendo pintura, feita com pincéis e tintas comuns ou já próprias hoje para a arte, disponíveis em papelarias e lojas de produtos para artesanatos. 
          A técnica requer um gasto mínimo. Precisa-se de cola, pincel, stencil ou guardanapos, tinta, recortes de gravuras de jornais e revistas. Nas papelarias e lojas de produtos para artesanato podem ser encontrados materiais próprios para executar essa arte como papéis o papel Decoupage, colas, pincéis, tintas, guardanapos, etc.
          Consiste em lixar a peça que será decorada; pintar com tinta a peça na cor de fundo desejada e após secagem, outra camada de tinta; passar cola sobre o local que receberá a figura, recortar o papel Decoupage; passar cola sobre o local que receberá o papel ou as letras; fixar bem para evitar bolhas e por fim, após secagem, passar verniz sobre a camada. Outros detalhes em palavras e pinturas vai de acordo com a criatividade e talento do artista. 
          Como citei no início, essa arte vem ganhando adeptos e se popularizando em Minas, com vários artesãos se destacando nessa arte. Entre esses artesãos, está Beatriz do Lino Mar, a Bia do Lino ou Beatriz do Lino, da cidade de Bocaiuva, no Norte de Minas, na foto acima. 
          Vocês vão entender melhor sobre a arte Decoupage, com quem entende. Segundo a artesã, é uma arte que pode ser feita em vidros, madeiras, plásticos, tecidos e ferragens. 
          A artesã diz que prefere de fazer sua arte em ferragens e objetos rurais, domésticos e móveis em MDF. “Comecei por um acaso, em um latão antigo de leite que encontrei no meio das sucatas do meu falecido pai que trabalhava como ferreiro. Depois fiz um curso rápido em uma caixa de MDF, em uma loja de matérias para artesanato. Passei a usar a técnica em ferragens, e daí tomei gosto e prazer nesta técnica, já que não pinto a mão livre”, conta a artesã.
          Bia do Lino diz ainda que a Decoupage “é uma técnica muito usada também em sabonetes, ótima opção para ofertar como lembrancinhas”, mas diz que o trabalho que mais tem pedidos sãos os feitos em ferragens e instrumentos e utensílios de uso rural, embora considere a arte nesses instrumentos mais difícil, porque são materiais pesados, maiores e o trabalho, é mais demorado.
          No trabalho em latão ou em enxadas, o fundamental é lixar bem a superfície e em seguida, passar primer, um produto encontrado em casas de materiais para artesanato. A artesã usa a tinta PVA e a Suvinil branca, porque segundo ensina, é necessária uma primeira mão de tinta branca e uma segunda mão, de tinta de outra cor, combinando com a imagem a ser desenhada. 
          Hoje, encontrar os materiais básicos para fazer a arte é mais fácil, já que estão disponíveis em papelarias, como o guardanapo e o papel decoupage. “As imagens, ou desenhos, ou estampas, uso guardanapos, como se vê nas enxadas, que é realmente um guardanapo”, mostra a artesã na foto acima. A artista usa ainda o stencil, uma lâmina vazada, encontrada em papelarias e lojas de produtos para artesanato em vários modelos, em alguns de seus trabalhos.
          Segundo Bia, ao usar o guardanapo, “deve-se retirar as duas películas brancas e descarta-las e usar apenas a terceira, já que são três películas. Usa-se a que tem a estampa, ou imagem." 
          Já o papel Decoupage, a artesã prefere usá-lo nos latões, porque, segundo ela, é melhor por ser “mais grosso que o guardanapo, e em folha única. Pode se usar também o papel scrapbook, que é mais grosso. Para colar, Bia do Lino diz preferir a cola branca, própria para Decoupage, vendida em papelarias e lojas de produtos para artesanato. 
          Detalhando mais a técnica, Beatriz dá a dica: logo após colar qualquer um destes papéis, sobre o objeto trabalhado, antes que a cola venha secar, deve se colocar um plástico sobre o papel e alisar suavemente por cima, de dentro para fora, para retirada de possíveis bolhas e o papel ficar esticado e bem colado. Pode usar uma bucha de pano por exemplo, para alisar o plástico, recomenda a artesã. 
          Após a secagem, aplica-se a Goma Laca, produto encontrado em casa de materiais para artesanato, em toda a extensão do papel, aplicando em seguida, após a goma estiver seca, verniz fosco ou o que dá brilho. Todos encontrados em casas de materiais para artesanato e em papelarias. 
          A artesã trabalha em sua própria residência, em Bocaiuva MG. “Não tenho ateliê, trabalho no quintal de casa, ou dentro de espaço de uma construção que há anos venho tentando terminar. Neste período de isolamento, dediquei mais a esta tarefa." 
          Antes de se dedicar à arte Decoupage, Beatriz do Lino era comerciária. Hoje, apaixonada por sua arte, se dedica por completo ao artesanato e cuidados com a família. “Amo o que faço, faço com amor. É tanto que procuro meus trabalhos de arte, nos momentos de paz de espírito.” Em momentos de paz e harmonia espiritual, o resultado é outro, garante a artesã. 
          Além disso, Bia do Lino exalta sua cidade: “Moro em Bocaiúva MG, terra do Senhor do Bonfim, dos catopés, ou como muitos conhecem por congadas, e a poucos anos, venho desenvolvendo, aperfeiçoando e aprendendo cada dia um pouco desta técnica de decoupage.”
          Encerrando a matéria, Beatriz do Lino Mar se diz agradecida a Deus e a todos que apreciam e valorizam seus trabalhos, que não são poucos, são muitos e a cada dia, o trabalho da artesã mineira vem sendo requisitado em todo o país. O contato com a artesã pode ser feito telefone (38) 997269546.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O Presépio do Pipiripau

(Por Arnaldo Silva) Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1984, o Presépio do Pipiripau, é um dos mais belos patrimônios de Minas Gerais. A obra reflete uma das mais tradicionais manifestações religiosas do povo mineiro: a montagem de presépios entre o natal e o dia de Santos Reis, em 6 de janeiro. 
          O presépio começou a ser construído a partir de 1906, por Raimundo Machado de Azevedo, quando ele tinha apenas 12 anos. Sua família vivia na Colônia Américo Werneck, numa região com o nome de Pipiripau, atualmente o bairro do Instituto Agronômico de Belo Horizonte. (fotografia acima de Eliane Torino)
          A família de Raimundo era muito religiosa e um de seus prazeres, era observar os presépios que as famílias montavam no fim de ano. Eram peças simples, sem movimento, mas tudo feito com muito carinho e fé. Inspirando-se nos presépios que via, Raimundo decidiu fazer seu próprio presépio.
          A vida naquela época não era fácil e a família era muito pobre, mas isso não foi empecilho para a realização de seu objetivo. Aos poucos, Raimundo, foi colecionando peças e conseguiu, em 1922, fazer um curso de formas de gesso, com um escultor português, que conheceu na empresa em que estava trabalhando, a Gravatá.
          A partir dai começou a fazer mais peças, além de criar os personagens bíblicos e a encenação da vida de Jesus, inseriu o cotidiano da vida do povo mineiro em seu presépio, em peças que se movem. Para a época, era algo diferente, uma inovação.
          A história do presépio que se movia, começou a se popularizar e todos sabiam que ficava na região do Pipiripau, onde Raimundo morava. Todos da capital e região metropolitana iam até o Pipiripau, conhecer o presépio, que passou a ser chamado pelo povo de Presépio do Pipiripau. Assim se popularizou o nome do presépio criado pelo Raimundo.
           O presépio retrata as 45 cenas da vida de Jesus Cristo, desde seu nascimento, até seu sofrimento na cruz. São 580 peças que forma todo o conjunto da magnífica obra, que retrata ainda, em movimento, o cotidiano da vida no interior mineiro.
          Raimundo passou anos montando e cuidando do seu presépio e sem querer, acabou por criar uma das mais magníficas obras da cultura popular mineira.
          O Presépio do Pipiripau encontra-se desde 1976, no Museu de História Natural da UFMG. Em 2012 o presépio começou a ser restaurado, bem como as instalações do local, concluindo toda a obra de restauro das peças e das instalações onde encontra-se o presépio, em 2017. 
          O Museu do Pipiripau é aberto à visitação todos os dias com cessões das 10h às 12hs e das 13h às 17hs; sábados e domingos das 10h às 17hs, (fotografia acima de Eliane Torino) localizado na Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Bairro Santa Inês, em Belo Horizonte. Cobra-se ingresso. Verifique os valores e condições para visitas pelo telefone: (31) 3409-7650.

sábado, 11 de julho de 2020

Tradição mineira: das Congadas à Festa do Rosário

(Por Arnaldo Silva) Uma tradição secular que mistura fé, cultura, arte, folclore e história. É a Congada ou Reinado de Nossa Senhora do Rosário, manifestação folclórica com origem e raiz em Minas Gerais. As Congadas unem grupos de Moçambique, Catopé, Congo, Marujada, Caboclos, Vilão e Candombe, na coroação de um rei Congo. 
          O início da festa começa com o levantamento dos mastros em honra a Santa Efigênia, São Benedito, Nossa Senhora das Mercês e Nossa Senhora do Rosário. Após o levantamento dos mastros, é iniciada a festa, com os cortes saindo pelas ruas das cidades, dançando, tocando instrumentos e entoando cantos, de acordo com a origem de cada corte, orientados por um "capitão”. (na foto acima, de Giselle Oliveira a Festa do Rosário em Curralinho, distrito de Diamantina MG)
          É uma das mais ricas manifestações populares do folclore mineiro, ocorrendo em todas as cidades mineiras entre julho e outubro. Em algumas cidades, a festa acontece junto com a Folia de Reis, em janeiro, como em Ouro Preto.
          Tradição que saiu das senzalas para ser hoje uma das mais democráticas festas populares, com a presença de negros, brancos, mulatos, índios, ricos e pobres, com o objetivo comum de manifestar sua fé em Nossa Senhora do Rosário e preservar a tradição de seus antepassados. (Na foto acima, de Ane Souz, no interior da Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto)
A origem das Congadas 
          Para entender a história da Congada vamos voltar no tempo, começando pela Idade Média, passando pela África até chegarmos às colônias portuguesas e a consolidação da festa em Minas e no Brasil. (na foto abaixo de Arnaldo silva, dançador de Reinado em Bom Despacho MG)
          Os cantos e músicas originais entoados pelos cortes recriam a coroação de um rei Congo. O Congo era região africana que ficava no Sudoeste da África, fundada por Ntinu Wene, no século 13, hoje formada pelo Noroeste de Angola, Cabinda, a parte centro-sul do Gabão e pela parte ocidental da República Democrática do Congo.
          Durante o reinado de Ntinu Wene, seus súditos tinham o costume de dançar, cantar e rezar em cortejos pelas ruas dos vilarejos e povoados da região, em sinal de reconhecimento e agradecimento ao rei e seus governantes locais. 
          Foi dessa região que vieram a maioria dos seres humanos sequestrados e trazidos para o Brasil para serem escravizados. Já em terras da Colônia, procuram uma forma de reviverem os tempos em que viviam livres na África, recriando instrumentos usados nos cortejos, danças e cânticos. 
          Por sua origem ser do Congo, aqui foi sendo chamada de Congada ou Congado e assim é o nome. O que mudou foram os cânticos, que a passaram a ser de lamentos e sofrimentos por estarem longe de seu povo e pelos sofrimentos que a escravidão lhes causava.
          Por isso o nome Congada ou Congado da festa e Reinado, que simboliza a coração de um rei. Essa festa não tem nada a ver com outra festa, com nome parecido, o Reisado. Isso porque Reisado é o nome de uma festa portuguesa que acontece entre 24 de dezembro, se estendendo até 6 de janeiro. É o nome dado a festa de Santos Reis em Portugal. Aqui no Brasil essa festa tem nome de Folia de Reis. O Reinado saiu da senzala e o Reisado, dos casarões da fidalguia portuguesa na Idade Média. São festas populares diferentes, que não tem nada a ver uma com a outra. (na foto de Nacip Gômez, a Festa do Rosário em Conceição do Mato Dentro MG)
          Coroar um rei Congo era a forma que os escravos encontraram de relembrar suas tradições e religião. Com isso misturaram ensinos cristãos passados pelos padres às suas, dando origem ao sincretismo religioso, associado os santos católicos, com divindades africanas.
A origem da devoção à Nossa Senhora do Rosário
          A devoção a Nossa Senhora do Rosário surgiu na Europa por volta de 1200, quando Domingos de Gusmão, Santo Católico que deu origem a Ordem dos Dominicanos, criou o Rosário, da forma que conhecemos hoje. O Santo Rosário da Mãe de Deus, desde o século XIII, na Europa, era usado como arma para converter os hereges ao catolicismo. 

          Foi na cidade alemã de Colônia, em 1408, que surgiu a primeira irmandade de Nossa Senhora do Rosário (irmandade, também chamada de confraria, é uma associação formada por pessoas ligadas por objetivos e interesses comuns). A devoção a Nossa Senhora do Rosário se propagou na Europa e levada pelos portugueses para suas colônias na África e no Brasil. (na foto acima, de Giselle Oliveira, a Festa do Rosário de Curralinho, distrito de Diamantina MG)
A devoção à Nossa Senhora do Rosário no Brasil
          A devoção ao Rosário foi adotada por senhores e escravos, mas nesse caso, os negros viam na fé a Nossa Senhora do Rosário, uma forma de praticarem suas crenças religiosas, sem serem molestados por seus senhores, bem como aliviar um pouco os sofrimentos infligidos pelos brancos. 
          Os seres humanos que foram sequestrados da África e trazidos para o Brasil, mesmo com crenças diferentes, passaram a devotar Nossa Senhora do Rosário que tornou se a protetora dos negros, graças a uma tradição oral. Não há registros da veracidade da história oral passada de geração para geração, mas conta-se que a Mãe de Jesus foi vista sobre as águas do mar por caboclos, que devotavam à santa. Rezaram e cantaram para que ela viesse ao encontro deles, o que não ocorreu. Marujos, devotos, fizeram o mesmo, mas a santa ficou quieta onde estava. (fotografia acima Sueli Santos em Dores do Indaiá MG)
          Foi ai que os escravos, avistando a santa, se aproximaram da praia, cantaram cânticos em seu louvor. A santa se agradou dos cânticos e da manifestação autêntica de fé dos negros e se aproximou. Entenderam que Maria, mãe de Jesus, Nossa Senhora do Rosário, olhava por eles. 
          Por isso, de acordo com a crença popular, a santa passou a ser a protetora dos negros. O fato narrado, segundo a tradição oral, aconteceu no final de julho, sendo o motivo que os festejos de Nossa Senhora do Rosário se iniciar nesse mês, se estendendo até outubro pelas cidades mineiras, que escolhem a data da festa entre esse período. 
          A Igreja Católica instituiu o dia 7 de outubro como o Dia de Nossa Senhora do Rosário, data que geralmente se encerra o período das Congadas em Minas Gerais. 
As irmandades e o sincretismo religioso
          Ainda no tempo da Escravidão, uma norma da Igreja Católica permitia a presença de negros, mulatos e forros até o limite da torre principal das igrejas, ou seja, não podiam passar da porta. E ainda, a fé demonstrando pelos negros não era bem vista pela Igreja, devido à incorporação de palavras, rituais, cantos e danças africanas, totalmente diferentes os rituais católicos. (na imagem acima da Sueli Santos, a Festa do Rosário em Dores do Indaiá MG)
          Para manterem sua fé, os negros se organizaram em irmandades próprias, com o objetivo de preservarem suas tradições e religiosidade. Assim nascia as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e Pardos. 
          As igrejas construídas a partir de então, dedicadas à santa, tinha o nome de Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, bem como a festa passou a ser chamada de Reinado de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. (foto abaixo de Sueli Santos em Dores do Indaiá MG)
          Os africanos foram inseridos nas festas promovidas pela coroa. Assim, incorporaram suas músicas e danças que, para os portugueses, eram consideradas exóticas. Era a forma que encontraram de se inserir na sociedade colonial e preservar seus ritos e costumes, sob a aparência das festas religiosas cristãs. 
          Porém, eram impedidos de praticarem seus ritos nos momentos livres, pois havia receio por parte da elite de que gerasse desobediência. Foram incorporados aos costumes religiosos portugueses s e práticas das irmandades leigas dos escravos, como, por exemplo, o hábito de rezar em conjunto, a condução dos ritos por um sacerdote e a promoção de festas e procissões. 
          É nesse contexto que se revela ter sido de grande importância à criação das irmandades, um dos primeiros passos para afirmação da identidade negra na colônia.
          Havia irmandades leigas que cultuavam os santos, as devoções pessoais e a promoção de procissões e festas, que conduziam a vida na colônia no âmbito da religião católica. Alguns chegando a acumular patrimônio através de legados, anuidade, presentes e doações para o santo de devoção. Homens negros eram eleitos como reis das irmandades desde o século XVI, em Portugal, ligados aos oragos (padroeiros) de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, Santo Elesbão e São Benedito. 
Costumes africanos e a fé nos santos católicos
          Os negros que chegavam à colônia ouviam esses relatos dos feitios dos santos, passando a ter simpatias por alguns por alguns desses santos, além de Nossa Senhora do Rosário, como por exemplo, São Benedito e Santa Efigênia, identificado por eles como divindades africanas, homenageando-os com construções de igrejas, com o trabalho e dinheiro de alforriados e escravizados. (na foto abaixo, de Sueli Santos, momento de oração de reinadeiro em Dores do Indaiá MG)
          Os escravos mantiveram o costume de formar comunidades e eleger reis e rainhas responsáveis pela direção dos cultos, sendo estes com a missão de manter a unidade do seu povo, numa luta muito difícil devido à prática de dominação e subjugação dos brancos. Aprenderam, então, a recriar suas raízes africanas nas Américas, através do sincretismo religioso. 
          A partir disto, formaram laços fundamentais de afinidades étnicas, adotando posturas que reproduziam seus costumes africanos, sem despertar muito a ira dos senhores de escravos. 
          Um desses laços foi à criação a introdução do culto a Nossa Senhora do Rosário nas festas do Congado, tendo como origem, Ouro Preto, com a criação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de Santa Efigênia, igreja que se encontra no bairro do Alto da Cruz, construída pela Irmandade. (na foto acima da Giselle Oliveira, Festa do Rosário no Serro MG)
Instrumentos e toques
          Em janeiro, por ocasião do Reisado ou Folia de Reis e em outubro, na Festa de Nossa Senhora do Rosário, acontecia a coroação de Chico Rei, também da rainha Conga e sua corte, eu se vestiam com trajes coloridos, com muita dança, longas ladainhas e cantorias, ao som de instrumentos como o caxambu, pandeiro, marimbas e canzás, que lembravam os grilhões que os acorrentavam, além de cânticos de lamentos e tristezas, pelos sofrimentos e angústias que os senhores de escravos lhes causavam. Eram toques e cantos de sofrimentos, mas também de esperanças de que um dia, tudo acabaria.
A histórica de Chico Rei
          Vale ressaltar que o ritual de coroação presentes na festa, não é a coração de Nossa Senhora do Rosário e sim de Chico Rei. Simboliza o reinado de Chico Rei e não de Nossa Senhora do Rosário. 

          Chico Rei foi um personagem lendário. Surgiu num tempo em que feitos dos negros não eram registrados e nem documentados pelos brancos. A história sobre Chico Rei é tradição oral preservada e repassada por gerações, sem nenhum registro documental da veracidade. (na foto abaixo de Arnaldo Silva, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto MG)
          Segundo a tradição, um dos reis do Congo, de nome Galanga, foi capturado com todo o seu povo por tribos inimigas e vendido aos portugueses. No navio negreiro, foi batizado e recebeu o nome de Francisco, chamado de Chico. 
          Durante a travessia do Atlântico, ocorreu uma grande tempestade e para acalmar as águas, os marinheiros jogaram o rei Chico, sua mulher e filho ao mar. Mas o mar se acalmou e assim os marinhos tiraram os três do mar. O navio chegou ao Brasil, por volta de 1740. Chico, sua esposa e filho foram vendidos e enviados para Vila Rica, hoje Ouro Preto. 
          Em Vila Rica, Chico trabalhava muito, juntava ouro e foi tanto que conseguiu comprar a sua própria liberdade, do seu filho e de sua esposa, além de comprar a alforria, foi comprando ao longo das economias que fazia, a liberdade de mais de 200 escravos. A partir desse fato, os escravos libertados por Chico passaram trata-lo como rei e ainda, trabalhavam na construção da igreja de Santa Efigênia. Assim começou a história de Chico, coroado e reverenciado como rei, sendo essa coroação parte do ritual da Festa do Congado.
          Assim, segundo a tradição popular, surgiu a coroação de um rei, tradição que é preservada até os dias de hoje, onde um rei Congo 
é escolhido e coroado durante a festa.
          Para o povo ouro-pretano, principalmente os descendentes dos escravos, é uma das mais importantes celebrações da cidade, revivida em sua forma original, presentes em manifestações com os vários grupos da cidade na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e principalmente na Igreja de Santa Efigênia. (na foto abaixo de Elvira Nascimnto, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em Ouro Preto MG)
A vitória da resistência
          Hoje o Reinado de Nossa Senhora do Rosário é uma festa popular, com a participação de negros e brancos e com as portas das igrejas abertas. Para chegar ao ponto que estamos hoje, não foi fácil.
Preconceito, discriminação, perseguição pela tradição ter sua origem em tradições religiosas africanas, as portas eram das igrejas eram fechadas, ficando a festa restrita à periferia, movimentos quilombolas e a comunidades Afrodescendentes. A perseguição era tanta que chegou a ser proibida pela Igreja Católica durante o Estado Novo (1930/1945) no Governo de Getúlio Vargas;
A situação começou há mudar um pouco na década de 1940, com adesão de membros da elite à Festa do Rosário, demonstrando apreço pelos cortes, o colorido, os cantos, a dança, bem como toda a simbologia da festa.
Somente na década de 1960 e 1970 a festa começou a se popularizar entre os brancos, que além de apreciarem a festa, passaram a se integrar aos cortes. A fé em Nossa Senhora do Rosário unia brancos e negros. Com isso, aos poucos as portas das igrejas começaram a se abrir para a Festa do Congado tendo sido introduzido na festa, a celebração da Missa Conga, celebrada pelos padres.
          Com a presença dos brancos nos cortes, foram surgindo novas músicas, instrumentos musicais comuns passaram ser usados pelos cortes como sanfona, viola, pandeiro, violão, dentro outros, bem como a alguns cânticos novos foram inseridos, além de elementos que não existiam na festa original, como a representação da princesa Isabel e sua corte. (na  foto acima do Nacip Gômez, o interior da Igreja do Rosário em Conceição do Mato Dentro MG)
          Após a popularização da festa e com o crescente número de brancos participando dos cortes, as igrejas de Nossa Senhora do Rosário, que terminava com “dos homens pretos” foi retirado, tendo sido mantido apenas por tradição, nas cidades históricas. 
          A diferença hoje é que os cortes de origem negra preservam as tradições nas vestimentas, nos instrumentos e cânticos de seus antepassados. 
          Já nos cortes com predominância branca, foram inseridos cânticos novos, coreografias próprias e acrescentados outros instrumentos musicais, diferentes os usados na tradição africana. Independentemente da origem dos cortes, a festa de Nossa Senhora do Rosário hoje é a festa de todos os homens e mulheres que devotam o Rosário, independentemente de sua origem, etnia ou classe social.
A festa de um povo, que virou, festa do povo
          A Congada saiu das senzalas, rompeu os grilhões da escravidão. Foi para as ruas, para o coração dos quilombos e para a periferia. Venceu o preconceito, inserindo-se em todas as camadas sociais. Entrou para dentro das igrejas, democratizou-se. Antes era festa de um povo. Hoje é festa do povo! 

          É a mais popular e mais importante festa folclórica de Minas Gerais. Manifestação pura e espontânea da religiosidade de nosso povo e da arte popular. Cada corte de reinadeiro, com seus cânticos, coreografias, instrumentos musicais e tradições, colorem as cidades e emocionam com sua fé em Nossa Senhora do Rosário, em São Benedito, em Santa Efigênia, em Nossa Senhora das Mercês e em Nossa Senhora Aparecida. (foto acima de Peterson Bruschi/@guiapeterson, o interior da Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto MG)
          Hoje, a Congada e mais conhecida como a Festa de Nossa Senhora do Rosário, unindo brancos e negros em prol da fé, da cultura e da tradição, relembrando um tenebroso e vergonhoso período de nossa história, a escravidão.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

A arte em cerâmica de Salinas

(Arnaldo Silva) Salinas, cidade, do Norte de Minas, é conhecida no mundo inteiro por sua cachaça de qualidade, e reconhecida como a Capital da Cachaça no Brasil, oficializada pela Lei Federal nº 13.773, publicada no Diário Oficial da União em 19/12/2018. Em Salinas está o Museu da Cachaça, instalado no antigo aeroporto da cidade. O museu possui oito salas com um amplo acervo de garrafas e um moinho montado a partir de temas como sociedade do açúcar, engenhos antigos e atuais, plantação, colheita e moagem da cana, além de contar a história da cachaça no município.
          Além da cachaça e do seu tradicional Festival Internacional da Cachaça, Salinas tem um casario charmoso e eclético e é tradicional na produção de requeijão e carne de sol. O que pouca gente sabe é que do seu solo, é retirado a argila, base para um dos mais valiosos artesanatos de Minas Gerais, feitos pelas mãos de artesãs que vivem no aconchegante distrito de Ferreirópolis, com acesso pelo km 25 da rodovia Salinas/Taiobeiras. 
          A região de Salinas está no semiárido mineiro e os períodos de seca são prolongados, o que faz com que muitos deixem a região, em busca de trabalho, deixando suas famílias ou os que ficam, encontravam muitas dificuldades de manter suas atividades agropecuárias, atividade principal de seus moradores. Essa realidade começou a mudar a partir de 1993, com a criação do Conselho Comunitário de Ferreirópolis. 
          A entidade hoje conta com 260 associados que exercem atividades diversas, seja na agropecuária, plantando milho, feijão, tirando leite para a produção de requeijão e também no artesanato. Na sede do Conselho, os associados tem orientação sobre projetos como Minha Casa Minha Vida, Pronaf e Garantia da Safra. Realiza ainda todos os anos a Festa dos Amigos, com a maior fogueira de São João da Região, evento que atrai milhares de pessoas, não só da região, mas de todo o país, que vem que ao distrito participar da festa. 
          O Conselho conta ainda com a participação das esposas dos lavradores, que se uniram à entidade com o objetivo de saírem da ociosidade e ajudarem no orçamento familiar. A opção foi pelo artesanato em cerâmica, uma tradição familiar antiga, mas praticada por poucos da vila, até então. O que as mulheres de Ferreirópolis fizeram foi resgatar uma antiga tradição do distrito, tradição presentes por gerações. 
          Na região encontra-se com facilidade argila, aproveitando ainda o talento passado de mãe para filhas, as mulheres colocaram literalmente as mãos na massa e colocaram em prática as técnicas na arte de fazer peças em cerâmicas. Com o passar do tempo, foram aprimorando os conhecimentos e criando novas peças, com isso dando identidade cultural aos seus trabalhos, únicos, inconfundíveis e especiais. 
          Começaram a participar de feiras e exposições de artesanato em Minas Gerais e outras regiões do país, o que fez o artesanato de Ferreirópolis ser mais conhecido, bem como a atuação das artesãs nas redes sociais, fazendo com que seus trabalhos tornassem conhecidos em todo o país, possibilitando realizar vendas online com o envio das peças por sedex.
          Na comunidade, são sete artesãs, com destaque para Maria Cláudia de Matos Miranda, que com muito entusiasmo, procura divulgar os trabalhos e atividades do Conselho, as tradições de sua comunidade e seu próprio trabalho, feito com muita maestria. 
          Cláudia Miranda trabalha com artesanato desde criança, ofício ensinado por sua mãe, bordadeira. Professora, formada em faculdade, mas sabia que tinha no sangue a herança da arte mineira. Nas horas de folga, se dedicava ao artesanato. 
          A partir de 2001, mudou- para a vizinha cidade de Taiobeiras, de forte tradição na arte em cerâmicas, tendo sido de grande importância para seu aprendizado. Conheceu artesãos famosos viajando pelo Brasil, participando de feiras, eventos e exposições de arte, o que muito enriqueceu seus conhecimentos.
          Retornando a sua terra natal, já como educadora aposentada, se dedica de corpo e alma ao artesanato. Segundo Cláudia Miranda, "a arte de criar é muito prazerosa”. Para a artesã, “a arte é o fruto do mais puro sentimento do ser humano.
          Suas peças foram catalogadas pelo SEBRAE, motivo de orgulho para a artista que divide suas experiências e conhecimentos com as artesãs de sua comunidade, procurando ajudar. “Após ter-me aposentado como educadora, pretendo continuar desenvolvendo projetos sociais junto às comunidades menos favorecidas, tendo em vista que já tive cinco projetos elaborados por mim e aprovados na área cultural, enquanto presidente da Associação dos Artesãos de Taiobeiras/MG” informa a artesã que atualmente é sócia do Conselho Comunitário de Ferreirópolis, atuando na entidade desde 2014, quando ministrou um curso de modelagem de argila.
          A Artesã pode ser contatada pelo pelo whatsapp 3899417463, pelo E-mail : claudiamirandamatos@hotmail.com, ou pelo Instagram @claudiamirandamatos.
(as informações e fotos dos trabalhos das artesãs de Ferreirópolis foram repassadas pela Cláudia Miranda)

quarta-feira, 17 de junho de 2020

A impressionante riqueza do Artesanato Mineiro

(Por Arnaldo Silva) O mineiro tem uma forte vocação para a culinária e para arte. Em nossas cidades, principalmente as históricas, os casarões, igrejas e teatros são verdadeiras obras de arte, com detalhes impressionantes nas fachadas e no seu interior. Mas a arte mineira não se resume à arquitetura e arte barroca. 
          Em Minas Gerais, a pedra sabão dá vida a uma infinidade de peças impressionantes, como a imagem abaixo do Arnaldo Silva, em Ouro Preto MG. O barro vira bonecas, casinhas, pratos, potes. A madeira se transforma em esculturas impressionantes. A prata vira finíssimas peças, bem como a pedra sabão que se transforma em utensílios domésticos e artesanato nas mãos dos nossos artesãos. Fibras vegetais e flores dão vidas a peças maravilhosas. Papel vira arte, o barro vira mini-casinhas. Sucatas de metal e ferro viram esculturas em tamanho natural como cavalos, bois, dragões, homens esculturas nas mãos do artista plástico Dito Leandro de Campos Altos no Alto Paranaíba.
          Em Botumirim, no Vale do Jequitinhonha, fibras naturais, juntando com a arte dos bordados, se transformam em mantas, almofadas, bonecas, bois, vacas, arranjos, etc., pelas mãos das artesãs e bordadeiras da cidade que fazem os pontos dos bordados contando a história das mulheres da região e cantigas de roda, como podemos ver na foto acima e abaixo de Manoel Freitas.
            O artesanato no Brasil tem nome e sobrenome: Minas Gerais. Nenhum outro estado brasileiro é tão rico em artes e artesanato como Minas Gerais. No Estado, o artesanato é responsável pela economia de várias cidades, sustenta e mantém famílias, gera empregos e renda. Em Minas são mais de 300 mil artesãos, que movimentam uma média de 2 bilhões de reais por ano, segundo dados governamentais. (na foto abaixo do Bezete Leite, o artesanato com fibra de bananeira de Coração de Jesus, no Norte de Minas)
           Nosso artesanato é único e tem identidade própria. Em qualquer lugar do mundo o artesanato mineiro é reconhecido, principalmente o artesanato em cerâmica do Vale do Jequitinhonha, presente em vários países do mundo. 
          A arte em flores de Diamantina, bem como o artesanato em palha e bucha vegetal de Bonfim (na foto acima de Sérgio Mourão), a arte em tecidos de Resende Costa, os bordados de Paracatu, a prataria feita em Tiradentes e São João Del Rei são únicas, bem como as obras feitas com madeira bruta de Bichinho (na foto abaixo de Arnaldo Silva). São valores e saberes passados por gerações, que solidificaram a vocação do povo mineiro para o artesanato, uma arte feita em detalhes, que encanta e impressiona.
          Vocês conhecerão um pouco da arte mineira e nossos artistas. É só um pouco, o artesanato mineiro é muito vasto, presente em todas as cidades e distritos do Estado. Não dá parar mostrar todos, peço que entendam ausência de alguns artesanatos e cidades.
Artesanato com jornal da Márcia Rodrigues
          É uma arte singela, delicada e ecologicamente impressionante. Feita pela artesã Márcia Rodrigues, da cidade de Felício dos Santos, no Vale do Jequitinhonha. Márcia Rodrigues faz parte da Associação dos Artesãos de Felício dos Santos (Artfel) Trabalha com esse estilo de artesanato desde 2016, quando aprendeu o ofício em uma oficina de artes, organizada pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas (IDENE), ministrado pelo artista plástico Ronaldo Lima.
          A arte consiste em retratar flores, bicicletas, cestinhas, souplast usando papel de jornal, destacando as esculturas, conhecidas como bonecas africanas. A artesã aprendeu a técnica, mas procurou dar identidade própria aos conhecimentos adquiridos no curso, retratando a vida do povo do Vale do Jequitinhonha. O trabalho da artesã encanta, enche os olhos de emoção por retratar a simplicidade, a luta e dificuldades do povo do Vale. Hoje, Márcia Rodrigues é uma das principais artesãs de Minas Gerais. Seu trabalho pode ser visto no instagram: @rodriguesoliveiramarcia ou contato pelo whatsapp: 38 9 9807-8450
A arte em barro do Vale do Jequitinhonha
              O artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha, é uma das referências culturais de Minas Gerais. Do barro saem peças de alto valor cultural, como moringas, pratos, filtros, queijeiras, copos, canecas, panelas, bonecas. Do próprio barro, saem as tintas, usadas nas ornamentações das peças. São os vários pigmentos do barro, dissolvidos, que dão cor ao artesanato. Na pintura, são usadas penas de galinhas. Uma arte única, sem igual, passada de geração para geração. 
          Em 2018, o artesanato em barro do Vale do Jequitinhonha é reconhecido como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais. Feito em todas as cidades do Vale do Jequitinhonha, com destaque para o artesanato da foto acima, feito pela artesã Lilia Xavier, de Campo Alegre, distrito de Turmalina MG. Lilia está na terceira geração de artista da família. O contato da artesã é 38 99852-0991 e ainda envia para todo o Brasil.
A arte em barro de Salinas
          O artesanato em barro de Salinas, no Norte de Minas vem se destacando no Estado e no Brasil pelas mãos da artesã Maria Cláudia de Matos Miranda, mineira, que vive em Ferreirópolis, distritos de Salinas. Incentivada pela mãe, Cláudia Miranda trabalha com artesanato desde criança, inicialmente fazendo bordados, crochês e pinturas. Hoje, trabalha fazendo obras em argila. De suas mãos saem potes, panelas, bules, xícaras, travessas e uma infinidade de artes em flores e imagens sacras, em especial de São Francisco de Assis. O trabalho da artesã pode ser conhecido em seu instagram: @claudiamirandamatos
Pasmado e Pasmadinho
          Não é nenhuma dupla sertaneja nova. São dois distritos pertencentes a Itaobim e Itinga, no Vale do Jequitinhonha. Pasmado, distrito de Itaobim, cujo nome hoje é Vila Teixeira e Pasmadinho, distrito de Itinga. São comunidades onde vivem famílias humildes, que se dedicam à agricultura e principalmente ao artesanato. O casario do Pasmadinho é bem simples e todas as casas tem sua fachada pintada. Foi em 2015, por iniciativa do artista plástico Wederson, que veio de Belo Horizonte com o objetivo de colorir as casas das vila, dando mais beleza, alegria e cores vivas as casas do Pasmadinho. (foto acima e abaixo do José Ronaldo)
          A arte e os conhecimentos em cerâmicas vêm de gerações e preservada até os dias de hoje. O barro é retirado nas fazendas próximas e todo seu processo é artesanal, a começar pelo preparo do barro, feitio dos moldes, pintura e queima das peças. Tudo manual e feito nos quintais das artesãs.
          A região de Itinga se destaca pelas densas e impressionantes plantações de lírios nativos (na foto acima de Ernani Calazans), bem como a riqueza de suas terras, principalmente minério, turmalina e granito. Aproveitando essas riquezas minerais, aliado à criatividade dos artesãos locais, Pasmado e principalmente Pasmadinho, se destacam no cenário mineiro, na arte de fazer cerâmicas. Feitas basicamente por mulheres, as peças criadas pelas artesãs de Pasmadinho como cofrinhos, filtros, vasos, panelas, potes, utensílios domésticos, etc., são impressionantes pela beleza e qualidade. 
          A tonalidade  das cerâmicas do Pasmadinho se destaca por um marrom-vermelhado, diferente dos trabalhos em cerâmicas feitos em outras localidades do Vale do Jequitinhonha, graças ao talento das artesãs e as técnicas usadas no preparo do barro.
As porcelanas de Monte Sião
          As porcelanas de Minas são famosas e inconfundíveis. Nas cores azul e branca, foram inspiradas nos famosos azulejos portugueses.  (foto acima de Marcos Pieroni) Uma única fábrica no país faz esse tipo de porcelana fina desde 1959. Fica em Monte Sião, no Sul de Minas, fabricando todos os tipos de louças e bibelôs, somente nas cores azul e branca. 
          O processo de produção é totalmente artesanal. A argila é moída, em seguida os moldes são feitos e por fim, as peças são pintadas a mão, uma por uma, manualmente para irem para o forno a lenha. Cidade famosa pelo tricô e malhas, mas também pela beleza das porcelanas produzidas na cidade, que bela beleza, delicadeza e pinturas, faz muita gente pensarem que são porcelanas importadas e se surpreendem ao saber que é artesanato mineiro, feito em Minas Gerais. O site da fábrica é porcelanamontesião.com.br
Monumentos históricos em Miniaturas 
          Em Belo Horizonte, a artesã Railda Alves dos Santos (foto acima em seu ateliê) faz réplicas de casarões, igrejas e monumentos históricos de Minas Gerais e do Brasil. As miniaturas são idênticas e totalmente artesanais, feitas com gesso odontológico e pintadas nas cores originais dos monumentos tombados pelo Patrimônio Histórico Brasileiro, que ela reproduz. A Railda está no instagram @solluartes e suas obras podem ser vistas também em seu site: solluartes.com.br 
          As peças são feitas para serem fixadas na parede (na foto acima de Arnaldo Silva), que dão vida, graça, charme e mais histórias às casas. 
Artesanato em flores da Serra do Espinhaço
          No Alto Jequitinhonha, em Presidente Kubistchek, o artesanato em flores de Sempre-vivas se destaca, tendo o ofício dos coletores de Sempre-vivas, reconhecido como Patrimônio Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). (fotos acima de Giselle Oliveira e abaixo de Fernando Campanella em Diamantina MG)
          Além do artesanato em flores, o Capim-dourado, muito comum na região, vem ganhando destaque no artesanato do Vale do Jequitinhonha. A planta tem brilho e cor únicos e impressiona por sua beleza dourada, que lembra o ouro reluzente. Do Capim-dourado são feitos luminárias, bijuterias, artigos de decoração, de acordo com a criatividade do artesão. Tanto o artesanato em flores e com Capim-dourado, são finíssimos e muito valorizados. São vendidos em todo o Brasil via internet, já que os artesãos estão organizados em cooperativas, que oferecem serviços de vendas online. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          O artesanato em flores pode ser adquirido também direto com os produtores, em sua cooperativa e em lojas na cidade e também em Diamantina, já que Presidente Kubistchek está apenas 50 km da famosa cidade histórica, terra de Chica da Silva, da seresta e de JK. Em Diamantina também são produzidos artesanato em flores e comercializadas em praça pública e em lojas diversas. 
A arte de Parísina Tameirão e Giselle Oliveira
          Por falar em Diamantina, na cidade encontramos a professora, artista plástica e bordadeira Parísina Éris Iliade Tameirão Ribeiro. O nome da artista é grego, mas é mineira de Diamantina, formada em Artes Visuais, Administração e Química Têxtil. Vem de uma família de artistas e desde criança se dedica a artes. Em suas obras gosta de contar histórias usando os tecidos, linhas, agulhas, aquarelas, telas, tintas e pincéis. Parísina expõe suas obras de arte (telas em naif, bordadas e pintadas) em exposições no Brasil e exterior. 
          Suas peças têm como destaque os bordados, marcadores de livros, quadrinhos, bonequinhas de panos, almofadas, entre outros. A artesã vende suas peças artesanais no Mercado Cultural de Diamantina, na loja da associação ASSART , em feiras pelo país e também pelas redes sociais.
          A arte de Parísina evoca a memória afetiva, brincadeiras de crianças, poesias, a mineiridade, as festas populares, o patrimônio material e imaterial. O trabalho da artista pode ser conhecido em seu Instagran:@ribeiroparisina ou pelo Facebok: Parísina Ribeiro. 
          Em Diamantina, a fotógrafa e artesã Giselle Oliveira, confecciona bonecas com cravo e canela, que servem como decoração, peso para papel e espantar traças. A artista ainda faz esculturas, pinta telas e trabalha com tear. O trabalho da artista pode ser conferido no Instagram: @giselleoliveira55
A arte de fazer tapetes Arraiolos
          Trata-se de um tapete feito com lã pura, tingida em cores diferentes, com tecido resistente, armado sobre uma tela. O tapete e os desenhos bordados são feitos à mão a partir de um ponto cruzado com os desenhos que variam de acordo com a criatividade do tapeceiro. É um dos mais finos tapetes do mundo e uma arte que expressa a tradição e cultura de um povo. (foto acima de Giselle Oliveira e abaixo, enviada pelas Dirce da Assart/Dimamantina)
          Em 1975, chegou à Diamantina, o casal português Milton D. Rosa e esposa, a convite do então arcebispo Dom Geraldo de Proensa Sigaud, O objetivo era ensinar os artesãos da cidade e região a fazer a tapetes Arraiolos, tradicional em Portugal desde o século XV e patrimônio cultural e imaterial do país lusitano.
          O projeto envolveu a região e trouxe vida nova ao artesanato local, transformando Diamantina numa das poucas cidades no mundo que confeccionam tapetes Arraiolos com reconhecimento de autenticidade e qualidade. O diferencial é que nossos artesãos colocam a vida, tradição, cultura e alma do povo mineiro em suas obras. Em Diamantina, são encontradas dezenas de artesãs em suas tapeçarias, que fazem tapetes Arraiolos, expostos em lojas ou mesmo, feitos sobre encomenda.
Artesanato em pedra sabão 
          Já na região Central, em Ouro Preto e Mariana, o destaque é para o artesanato em pedra sabão, rocha abundante na região. (fota cima de Arnaldo Silva em Ouro Preto) Dessa pedra são feitas panelas, utensílios domésticos e uma infinidade de peças como jarras, potes, estátuas, tabuleiros de xadrez, bijuterias, cinzeiros, potes, miniaturas de fogões, cozinhas, bichos, etc. 
Os bordados e a arte de tear
          A região Noroeste Mineira se destaca na arte dos bordados e no tingimento natural de fios dos tecidos. São uma tradição antiga, que vem dos antepassados dos moradores de Arinos, Buritis, Bonfinópolis de Minas, Uruana de Minas, Paracatu (na foto acima de Neusa de Faria) e Chapada Gaúcha. Nesse caso, estamos falando de uma tradição. Imagina só, é tudo manual, como antigamente. Colhem o algodão, retiram as sementes, desembaraçam as fibras, desfazem os nós e a partir daí vai para a roda de fiar. Isso mesmo, aquela roda que nossas avós usavam. Ainda existem em Minas, tradição preservada.
          Com a habilidade das fiandeiras, o algodão vai se transformando em linha, são enrolados em novelos para serem tingidos com pigmentos naturais extraídos das folhas e serragens de árvores diversas, como ipês e jatobás, por exemplo. Sendo pigmentos diferentes e o processo todo artesanal, as linhas surgem com tons de cores diferentes. É esse o toque sutil da beleza da arte de fiar. Foto acima e abaixo de Luci Silva em Desterro de Entre Rios MG, cidade da região Central que preserva a tradição do tear.)
          Passado esse processo, o passo seguinte é levar os novelos de linha para o tear. Ai o que conta não é apenas técnica e sim o talento, o conhecimento e a criatividade da artesã fiandeira. Desse talento surgem tapetes, cortinas, mantas, bolsas, redes, panos de prato, toalhas de mesa, etc. e desenhos feitos pelas bordadeiras que podem ser temas da cozinha, da roça, um ponto turístico da cidade, pessoas. Depende da criatividade da bordadeira.
Arte em tecidos
          Na região do Campo das Vertentes se destaca a tecelagem, em especial o artesanato em tecidos de Resende Costa (na foto acima de André Saliya), famoso e muito procurado por turistas que vem à cidade conhecer as peças em tecidos, feitos de forma totalmente artesanal. A cidade é pacata, com um charmoso casario e diversas lojas de artesanatos.
          Outro destaque na região é a extração do estanho em São João Del Rei (na foto acima do Aridelson Rezende). Esse metal extraído da natureza tem a coloração branco-prateada, é altamente cristalino, não se oxida facilmente e é resistente a corrosão. No artesanato, o estanho é usado na produção de castiçais, cálices, copos, vasos, dentre outros objetos. A beleza e requinte dessas peças são atrativos a mais para os turistas, que buscam artesanato fino e de qualidade na charmosa cidade histórica, a maior produtora de peças artesanais em estanho no Brasil, reconhecido internacionalmente.   
          Quando for decorar sua casa com artesanato ou mesmo presentear alguém com uma obra de arte, escolhas o artesanato mineiro. (na foto acima, de Giselle Oliveira, bordados de Diamantina MG) Valorize nossa terra, nossa arte, nossos artistas. Somos o celeiro da arte no Brasil e os trabalhos de nossos artesãos são reconhecidos em nível nacional e internacional. Vamos prestigiar o que é de casa, o que é feito em Minas. Valorize o artesanato de sua cidade e região. Valorize o que é feito em Minas Gerais!

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