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quinta-feira, 11 de junho de 2020

A arte das ceramistas de Coqueiro Campo

(Por Arnaldo Silva) Coqueiro Campo e Campo do Buriti, são dois distritos unidos, mas separados por uma rua. De um lado, Campo do Buriti, distrito de Turmalina. Do outro lado da rua, Coqueiro Campo, distrito de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha. O que une os dois distritos é o talento das mulheres artesãs, que transformam o barro do Valer do Jequitinhonha em arte. 
São cerca de mil moradores nos dois distritos que levam uma vida pacata, calma e tranquila, pelas calmas ruas do charmoso lugar. Povo bom, trabalhador, atenciosos e muito hospitaleiros. De Campo Alegre, distrito e Turmalina MG, vieram também algumas mulheres para trabalharem na arte da cerâmica, somando à comunidade. 
 A economia das famílias gira em torno de pequenos comércios, atividades agrícolas e do artesanato, praticamente executado por mulheres, enquanto os homens trabalham nas atividades agrárias ou outros serviços nas cidades sedes ou mesmo, indo para outras cidades para trabalhos diversos e temporários. 
São 44 mulheres ceramistas, que se organizam na AACC – Associação dos Artesãos de Coqueiro Campo, fundada em 1994, com sede em Campo do Buriti. Nas dependências da Associação, são expostos os trabalhos em cerâmica das artesãs. A união das artesãs em uma associação fortaleceu o trabalho na comunidade, valorizou a arte e ampliou o mercado para a comercialização das peças, que antes eram vendidas basicamente na região, hoje, em todo o Brasil. 
Os trabalhos das ceramistas são expostos constantemente em exposições e feiras pelo Brasil como na UFMG, Feneart em Olinda, em espaços culturais de Belo Horizonte, dentre outras exposições no Estado e no país. 
Um trabalho dignificante, que impressiona pelos detalhes e criatividade das artesãs que herdaram a arte de transformar o barro em arte de suas mães, que herdaram de suas avós, bisavós, trisavós. Arte passada de geração a geração e continua com as mulheres ensinando suas filhas a arte em cerâmica. As técnicas usadas pelas ceramistas são as mesmas usadas por seus antepassados, tudo da mesma forma como antigamente. 
Além do talento e criatividade, o preparo do barro requer dedicação e vontade de trabalhar, o que não falta ao povo do Vale do Jequitinhonha. A terra é buscada no barreiro, é socada e peneirada, por fim, umedecida. As peças são moldadas, passadas a óleo e por fim queimadas. Esse é o trabalho mais pesado, geralmente, feito com a ajuda dos homens. 
Por fim, entra o trabalho das mulheres, onde trabalham as peças, pintam e fazem os desenhos artísticos, totalmente manuais. São peças únicas, de acordo com a tonalidade do barro, pode variar do branco ao marrom avermelhado. Do barro saem moringas, bonecas, pratos, pires, galinhas, farinheiros, vasos para flores, travessas, potes, figuras de animais, etc.
A arte das ceramistas de Coqueiro Campo é a identidade local. É o testemunho da luta e coragem de mulheres que buscaram no barro a expressão de suas vidas, seus sentimentos, sua alma. Em cada peça, as artesãs colocam sua história. Uma história que vem de gerações, em sua maioria contada com muita dor, dificuldades e sofrimentos, mas também, uma história de superação, de força de vontade, de expressão de suas vidas, seus sentimentos, seus sonhos e de seus talentos. 
As ceramistas de Coqueiro Branco mostram que a arte e a herança cultural secular podem se tornar propulsores do desenvolvimento de uma comunidade, mas também delas próprias, por sustentarem suas famílias com seu trabalho e serem felizes preservando a tradição familiar de gerações, fazendo o que mais gostam. 
O trabalho das ceramistas de Coqueiro Campo é acima de tudo, um ato de amor à arte, à cultura e preservação dos saberes de seu povo e de sua valorização como cidadãs, mulheres e trabalhadoras. 
O interessado em adquirir as peças, pode ir ao distrito ou mesmo, encomendar pelas redes sociais Facebook (artesaoscoqueirocampo), Instagram (@artesascoqueirocampo) ou pelo Whatsapp: (33)991258188. 
Texto produzido por Arnaldo Silva, com informações e fotos enviadas pela Valdirene da AACC

sábado, 16 de maio de 2020

O artista que pinta em enxadas

José Roberto de Paula, artisticamente conhecido como Zezim, nasceu no pequeno vilarejo de Cachoeirinha distrito de Ibertioga MG.
          O mais velho de quatro irmãos, teve sua infância e adolescência na roça de milho, feijão e cana de açúcar. Seus pais são agricultores e educaram as crianças com muita simplicidade e amor. Mas garotinho Zezé, como era chamado pelos familiares e pelo Antônio Francisco de Assis, era diferente.
          Antônio Francisco, apelidado de Candonga foi de muita importância no seguimento artístico de Zezim, este homem desenhava com carvão nas tábuas do paiol da casa da avó de Zezim, depois com seu afiado canivete esculpia o desenho feito na tábua, o menino observava aquilo, tinha imensa vontade de aprender aquela arte praticada por Candonga, grande contador de história para as crianças em volta de uma fogueira quentinha de inverno.
          As fazendinhas de gravetos em cerca, os bois de sabugos, as latinhas de sardinhas e as rodinhas feitas com as chupetas de bebes, embalavam a mente fértil do pequeno e magrinho menino. Mas Candonga era essa figura de arte que o menino se espelhava.
          Aos 17 anos o jovem menino inicia seus estudos, após longos anos trabalhando com o seu pai na roça. Na companhia do padre Túlio, da Paróquia de Santo Antônio na cidade de Ibertioga, em 1991 inicia a 5ª série e com mais sete anos de estudo sairia de Ibertioga em direção a Andrelândia, onde ingressaria no convento franciscano. Mas em sua temporada em Ibertioga fez algumas aulas de técnicas de arte com o famoso pintor Lourival Vargas.
          No seminário em Andrelândia o jovem José Roberto continuou suas pinturas em grão de arroz e pequenas pedras. Permaneceu nesta cidade por um ano. Seu novo destino seria Caçapava cidade do Estado de São Paulo. Em Caçapava já noviço franciscano, o jovem foi proibido de pintar para viver intensamente a vocação franciscana na qual sentia se verdadeiramente chamado.
          Esse tempo de clausura só serviu para acordar o Zezim cujo nome foi criado pelo seminarista, na época, Ronaldo Trindade, hoje jornalista. Cada dia no Convento em Caçapava, Zezim guardava uma pedrinha para pintar quando saísse de lá. Seis meses depois estava em Barbacena, na UNIPAC, onde fez o curso de Letras por não ter a faculdade de artes visuais que era seu maior sonho.
          Produzindo a arte mini pinturas no grão de arroz, cabeça de alfinetes foi se tornando popular não só nos pequenos jornais da Universidade, mas também no jornal de sábado da cidade. Até a TV Panorama chegou para fazer uma matéria. Em uma exposição, na festa das rosas da cidade de Barbacena, encontra Alam, guia turístico de Juiz de Fora que fica encantado com a enxada pintada que estava na exposição.
          Essa peça Zezim não vendeu, alegava que aquela tinha sido sua primeira caneta, caneta que lhe trouxe uma graduação e que muito lhe ensinou sobre a vida. Alam entendeu isso e incentivou Zezim a pintar mais enxadas e fez-lhe duas encomendas de enxadas pintadas.
          Aqui nasce a febre pelas enxadas, e o melhor Zezim percebeu que a enxada seria suas telas para contarem as histórias da roça. Até hoje brinco, essa que aposentou muitos agricultores, depois de tanto trabalhar e não ganhar nada em troca, a não ser alguns dentes e a ferrugem que as destroem, não serão jogadas fora, ou vendidas por miseráveis centavos ao ferro velho, aquelas que eu encontrar ou ver, ganharam um lugar na parede, ou na mesa de pessoas que de fato reconhecem seu valor.

          Assim me tornei o pintor das enxadas que contam a historia dos agricultores e a vida da roça. Elas são folhas de um grande livro que escrevo com tinta a óleo, conto minhas lembranças de criança, a felicidade que vivi, as dores que senti, os sonhos que se tornaram realidade. Sou de Cachoeirinha, vivo em Barbacena, mas todo final de semana estou aqui no Chalezinho do Artista, criando e pintando. Contatos: Facebook: José Roberto Paula, WhatsApp: 32 999038719, Instagram: @ joserobertopaula. Fanpage:José Roberto Paula. Enxadas artísticas.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Campo de Gabirobas

(Por Marina Alves/Lagoa da Prata) Gabiroba, ou guabiroba? Eu gosto de “gabiroba”, mas pode ser “guabiroba” — ou vários outros nomes para a frutinha nativa dos nossos cerrados, que floresce de setembro a novembro, quando a gabirobeira se cobre de flores brancas e cheirosas. Vivi muito da minha infância correndo atrás das moitas apinhadas destes frutos maduros e docinhos.
          A gabiroba é uma fruta redondinha, de polpa suculenta, com muitas sementes. Seu nome, segundo li, vem do tupi-guarani wa'bi, "ao comer" e rob, "amargo” e tem um sabor de intrigante paladar. Quando verde, a casca é meio amarga e grossa, bem ruinzinha de provar, mas quando madura, é docinha feito ela só! É também fonte de alimento para insetos e pássaros, e concentra mais vitamina C que a acerola. (fotografia acima de Jad Vilela de Divinópolis MG)
          A gabiroba não é só uma deliciosa e nutritiva fruta do mato. Ela é também tema de muitas histórias de infância, sendo sua colheita pretexto para encontros e brincadeiras. Para quem viveu na roça, a gabiroba era um feliz e animado passatempo. Chegava o domingo e o povo chamava:         
 — Vamo caçá gabiroba, gente! — e estava pronto o passeio. Amigos e parentes se juntavam e saíam para passar o dia no cerrado, atrás das frutas. Os olhos ávidos por achar o pé mais carregadinho, não perdiam uma só moita pela frente. A gabiroba enche o pé! É uma festa dar de cara com o arbusto coberto de frutos maduros — puro mel na boca! Comer gabiroba no pé não é como comer uma banana ou chupar uma laranja. É totalmente diferente! Porque antes de tudo existe a aventura de “caçá-la”. E não são poucos os “causos” que começam assim: “Um dia, nóis fomo caçá gabiroba e...”. Certeza que vem causo bom! 
          Certa vez, perguntei a alguém de mais idade pelos “divertimentos” dos jovens de sua época. É claro que entre as rezas, os terços, as visitas, foi citada a caça à gabiroba. E pelos relatos, a busca pela frutinha era quase um evento. Ali se faziam amizades, começavam namoros, tratavam casamento, aconteciam fatos que viravam histórias. E muitos eram os casos de gente que, correndo atrás das gabirobeiras, se perdia na imensidão do cerrado. E que trabalhão encontrar os perdidos! E pasmem — havia até relatos de assombrações que apareciam para os mais desavisados e ambiciosos. Um perigo, uma coisa do outro mundo! Sem contar que tinha gente que acendia vela na intenção de colher boas e graúdas gabirobas. (foto acima de César Reis)
          E os concursos? Sim! Ao final do “tour rural” ganhava quem apresentasse a maior ou a menor gabiroba (só não sei qual era o prêmio. Talvez só mesmo o gosto de tirar uma onda: achei a maior! Achei a menor!) Cada coisa, hein? 
          Faz algum tempo, em visita ao lugar onde nasci, resolvi adentrar ao mato, à beira da velha estrada. Grata surpresa! Dei com um campo de gabirobas em temporada de colheita! Levar à boca os frutos maduros e doces foi como retornar no tempo, quando, junto com as primas, desbravava aqueles cerradões, à cata das gabirobeiras carregadas. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
        E provar das gabirobas no pé não foi apenas saborear uma frutinha de sabor inconfundível. Foi ter o poder de trazer a infância outra vez, pelas boas lembranças e pelo paladar!

domingo, 5 de janeiro de 2020

Os principais folguedos folclóricos em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) A palavra folclore vem do inglês, folk-lore, significa a expressão oriunda do povo expressos em causos, lendas, canções, costumes, que são preservadas ao longo dos séculos, se transformando em tradição, dando identidade a uma comunidade, uma cidade, uma estado ou um país. Por sua vocação de preservar e conservar suas tradições, Minas Gerais é o mais rico estado brasileiro em tradição e identidade cultural, com sua riqueza e variedades cultural e costumes. Os folguedos populares são uma dessas tradições preservadas e vivas em Minas Gerais. (foto  abaixo, grupo de Pastorinhas em Jaboticatubas, fotografado por Thelmo Lins)
     Algumas manifestações folclórica mineiras, como a Folia de Reis e as Pastorinhas, tem como origem as tradições de Portugal, introduzidas no Estado no período do Brasil Colônia, com influência da cultura indígena e africana. Outras manifestações foram surgindo ao longo dos tempos, como o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, nascido nas senzalas de Ouro Preto com os escravos, numa mistura da religiosidade católica, com as crenças africanas. A festa se popularizou e se democratizou,  sendo hoje uma das maiores manifestações religiosas e folclóricas de Minas Gerais. (na foto abaixo, de Elvira Nascimento, a Dança das Fitas em Ipaneminha, ditrito de Ipatinga MG)
     A presença dos portugueses, introduzindo no estado sua cultura, religiosidade, arquitetura, artesanato, não recebeu influência ou adaptação apenas nos folguedos, mas também no artesanato, na música típica, na medicina popular, nas lendas criadas que acabaram fazendo parte do nosso folclore como o Caboclo D´água de Barra Longa, o Bicho da Carneira de Pedra Azul, a Loira do Bonfim de Belo Horizonte, dentre outras tantas lendas e claro, na nossa culinária culinária. Minas Gerais é uma impressionante mistura das culturas portuguesas, africanas e indígenas, manifestadas ao longo dos séculos, sendo determinantes para a formação de nossa identidade cultural. 
Os mais populares folguedos em Minas Gerais:
Congado
     É uma das maiores manifestações folclórica e religiosas de Minas Gerais. No período da Escravidão, ss escravos eram proibidos de frequentar igrejas e também de manifestarem suas crenças de origens africanas. Por isso buscaram uma forma de expressar sua fé e sentimentos, sem serem proibidos. Assim surgiu o sincretismo religioso, que é a mistura das crenças africanas, com a crença católica. (foto acima, de Alisson Gontijo do Reinado em Perdigão MG e abaixo de Arnaldo Silva em Bom Despacho MG)
    Como os escravos tinham simpatia por Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Nossa Senhora das Mercês e Santa Efigênia, começaram a sair às ruas usando roupas enfeitadas e tocando seus instrumentos de som, de origem africana, cantando músicas que lembravam suas origens, bem como seus sofrimentos como escravos, reverenciando esses santos. Com o passar dos anos, a festa foi se tornando popular, se democratizando, ganhando novos instrumentos musicais, cânticos novos e ornamentos nas vestimentas, passando a ser reconhecida pela Igreja Católica. 
     Durante a festa, os grupos de tradição negra, como Moçambique, Catopés, Congo, Marujada, Caboclos, Marinheiros, Vilão e Candombe, se reúnem para preservar a tradição, sua dança e música, unindo a outros cortes formados por pessoas que por algum motivo, geralmente para pagar promessas, formam cortes de Reinado. A festa que começou com os negros, é hoje a festa de todos, sejam brancos ou negros, participando, reverenciando Nossa Senhora do Rosário e perpetuando em Minas Gerais, nos quase três séculos desse folguedo popular, uma das mais importantes festas populares do Brasil. 
Catira
     Muito popular em Minas Gerais, principalmente nas Regiões Central e Triângulo Mineiro, a catira é uma dança marcada pela batida dos pés e mãos de um grupo, formado por seis a 10 componentes, organizados em fileiras opostas. 
     Uma dupla de violeiros canta e toca modas de viola, dando ritmo aos passos. (foto acima de Gislene Ras, da dupla de violeiros do Grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG) É uma dança tipicamente interiorana, praticada por pessoas que vivem no meio rural. A própria vestimenta dos catireiros como, botas, calças jeans, camisa listrada, chapéus, já caracteriza a dança como sertaneja. Antes dançada apenas por homens, hoje conta com a presença de mulheres e crianças em grupos de catiras e até dançando em conjunto com homens. (foto abaixo, de Gislene Ras, grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG)
     Sua origem é incerta, mas a acredita-se que tenha vindo da Europa ou da Oceania, introduzida em Minas pelos imigrantes europeus, no século 19. Há também quem afirme que a origem da catira seja indígena, adaptada pelos boiadeiros que iam tocando gado pelos rincões do nosso sertão. Os peões boiadeiros imitavam as danças indígenas e perceberam que com suas botas pesadas e duras, faziam barulhos interessantes nos assoalhos dos ranchos. Assim foram adaptando a dança, com o bater dos pés e mãos, originando a catira, um dos mais importantes folguedos de nosso folclore. Por não ter origem certa, a dança de catira é chamada de dança híbrida.
     Na região Central de Minas, catira, no mineirês, significa trocar alguma coisa. Vamos catirar ou vamos dar uma catirada, pode ser dançar catira ou fazer uma troca de algum objeto por outro. 
Folia de Reis ou Reisado
     É um dos mais antigos folguedos europeus, introduzido no Brasil pelos portugueses e tradição preservada há séculos em todas as cidades mineiras e também do Brasil, sendo conhecido em outros estados por Reisado. A festa começa na véspera do natal e se encerra no dia 6 de janeiro, dia dedicado aos Santos Reis. (na foto acima de Luis Leite em Guaranésia MG) As companhias de Folias de Reis vão de casa em casa e conta com o mestre à frente, responsável pela cantoria e coordenação do grupo, auxiliado pelo contramestre, que é o responsável por recolher as doações, podendo também substituí-lo em alguma necessidade. Tem ainda a figura do embaixador, o responsável por pedir licença para entrar nas casas e cita profecias bíblicas sobre o nascimento de Jesus aos moradores.
     Carregam estandartes, flâmulas, tocam instrumentos, cantam e dançam usando vestimentas coloridas e máscaras. Essa formação não é padrão, podendo ocorrer diferenças de acordo com a região, como por exemplo, a presença de membros das companhias simbolizando os três reis magos. 
Pastorinhas
     Um folguedo de origem portuguesa presente em Minas Gerais. São grupos de moças e meninas que saem vestidas como as pastoras portuguesas, visitando os presépios de casa em casa, cantando músicas de louvou ao Menino Jesus e Nossa Senhora. Em Minas Gerais a festa é popular (foto acima de Thelmo Lins com as Pastorinhas de Jaboticatubas MG), mas os grupos não são formados apenas por meninas e moças, como na tradicional festa portuguesa. Mulheres e senhoras também fazem parte do grupo de pastorinhas, visitando as casas, cantando, dançando e pedindo contribuição para ajudar no natal de crianças carentes da comunidade em que vivem.  
Boi de Reis (ou Boi de Janeiro, Bumba-Meu-Boi etc.)
      A origem desse folguedo é dos teatros medievais na Idade Média, na Península Ibérica. Seria uma mistura da Folia de Reis com o Bumba-Meu-Boi, iniciando no dia de Santos Reis, 6 de janeiro, se estendendo até o dia de São Brás, em 3 de fevereiro. Usando trajes coloridos e máscaras, cantam e dançam visitando as casas e principalmente fazendas. Muito comum na região Norte de Minas,  caracteriza-se  pela representação da captura de um boi, que neste folguedo representa a fartura. Na encenação, o boi morre e por fim ressuscita. Sua ressurreição é acompanhada de muita alegria, dança e cantoria. É um dos mais populares folguedos de nosso interior,  cujos nomes e elementos que compõem a cena, podem variar de acordo com as diferenças regionais. (na foto acima de Pingo Sales, Bois de Reis em Januária MG)
Festa do Divino
     Consagrada ao Divino Espírito Santo, é um dos mais antigos folguedos portugueses, introduzido em Minas nos tempo dos Brasil Colônia. A tradição é preservada em Minas Gerais há mais de 300 anos, principalmente em Diamantina MG, Alto Jequitinhonha, onde a festa é chamada também de Festa do Império. Durante a festa em Diamantina, é eleito um Imperador, no caso o próximo festeiro. A côrte, com o Imperador e Imperatriz, sai pelas ruas da cidade histórica em cortejo acompanhado por grupos folclóricos e populares. A Festa do Divino Espírito Santo ou Festa do Imperador, é tão importante para  cidade que foi declarada Patrimônio Imaterial de Diamantina, junto com a receita do tradicional bolo de arroz, servido durante a festa.  (na foto acima de Projeto Acervo Diamantina - Fragmentos Visuais da Cidade no Século XXI, festa do Divino em Diamantina MG)
Cavalhada
     Presente em todas as regiões mineiras, a Cavalhada é uma herança das tradições da Cavalaria Medieval. Representa as sangrentas batalhas travadas entre cristãos e mouros na Idade Média. Nesse folguedo, os cavalos são decorados com finos tecidos bordados e cheios de babados. As cores predominantes usadas são o azul e o vermelho, representando os cristão e mouros. Acontece ao ar livre e durante a festa são eleitos reis, rainhas, príncipes e princesas, embaixadores, capitães e tenentes, nobres, damas, cavaleiros e lacaios, todos ricamente vestidos e portando espadas, pistolas e lanças, fazendo manobras com os cavalhos, simbolizando a cena medieval. (foto acima de Ane Souz da Cavalhada em Amarantina, distrito de Ouro Preto MG)
Mulinha de ouro
     Mulinha de Ouro é um folguedo popular na região do Médio e Baixo São Francisco. É a dança de um animal, geralmente uma mula, mas também usa-se a representação de boi, que dança e faz coreografias no meio do povo. (foto acima de Themo Lins em Pedra Azul MG)
Dança de São Gonçalo
    Tradicional em Portugal desde o século XIII onde era conhecida também por Dança das Regateiras, porque só participavam as mulheres que queriam se casar, a Dança de São Gonçalo foi introduzida no Estado pelos portugueses, passando a fazer parte do nosso folclore, mas com características próprias. A dança é realizada no dia da morte do santo (10/01/1259) e em outras épocas também, caso as devotas consigam alguma graça ou façam alguma promessa durante o ano. Assim sendo, juntam o grupo para dançar e rezar, pedindo ou agradecendo pela graça.  Em Minas, a Dança de São Gonçalo é muito comum no Norte do Estado e Jequitinhonha.       Os grupos festeiros de São Gonçalo são formados apenas por mulheres, todas vestidas de branco que fazem coreografias segurando um arco de madeira, enfeitado com plumas brancas. As mulheres dançam e cantam em honra ao santo, podendo ter ao centro a figura de um homem, também vestido de branco, que simboliza São Gonçalo. (na foto acima, de Pingo Sales, Dança de São Gonçalo em Januária MG)
Quadrilha
     É um dos mais populares folguedos no Brasil, também chamada de quadrilha caipira e quadrilha matuta. De origem européia a festa homenageia São João Batista, Santo Antônio e São Pedro, em junho.  As festas de junho surgiram das coutry-dances inglesas medievais no século XIII, ainda no período da Guerra dos 100 anos, entre Inglaterra e França, a dança acabou sendo incorporada e adaptada ao estilo francês expandida para outras partes da Europa, entre eles Portugal, que trouxeram a tradição européia para o Brasil nos tempos do Brasil Colônia. 
Os passos da dança que para os franceses chama-se "contredance" são todos falados em francês, "abrasileirado" como quadrille (quadrilha), Alavantú (en avant tous), Anarriê (en arrière), Changê (changer/changez), Cumprimento ‘vis-à-vis’, Otrefoá (autre fois), Balancê (balancer), Returnê (returner), Tur (tour).
      A diferença é que no Brasil a "Contredance" francesa recebeu uma mistura de cores, sabores e estilos de todas as regiões do Brasil, de acordo com suas diferenças culturais. Outra diferença é a música. A música brasileira, a encenação do casório e as coreografias, são bem mais animadas. 
     É sem dúvida uma das mais aguardadas festas populares do Brasil e que marca a infância de muita gente. 
     Quem nunca fez parte das quadrilhas das escolas? Se vestiu de caipira, pintou o rosto e ensaiava na hora do recreio? Mas as festas juninas hoje vão além das escolas. São verdadeiros espetáculos, principalmente em Belo Horizonte, com o tradicional Arraiá de Belô, no forró de Curvelo na região Central de Minas, em Ingaí no Campo das Vertentes com a maior fogueira de São João (na foto acima de Gilson Nogueira), em Cachoeira de Minas no Sul do Estado com a maior fogueira de São Pedro, em Mesquita no Vale do Jequitinhonha e em todo o Vale do Mucuri, destacando as cidades de Pavão e Teófilo Otoni.
Caxambu
     Caxambu, na língua africana é o tambor maior e principal usado nas manifestações afro-brasileiras. Em Minas Gerais, é o nome dado a uma cidade do Sul de Minas e a uma dança de origem africana, também conhecida por Jongo, em alguns estados. Essa dança foi introduzida no Brasil e em Minas Gerais pelos negros bantos, sequestrados na África e vendidos no Brasil como escravos. No Brasil, a dança se popularizou, principalmente nas senzalas das fazendas de café de Minas e do Rio de Janeiro, tendo tido grande influência na formação do samba carioca, bem como da nossa cultura em si. Nessa dança, homens e mulheres formam pares e dançam, enquanto outros tocam instrumentos de percussão. As mulheres usam vestidos longos, coloridos, rendados e fazem movimentos charmosos com o corpo e vestidos. Os homens acompanham, com evoluções mais fortes. 
Maneiro o pau
     Também chamada de Mineiro-pau, é uma dança muito popular na Zona da Mata Mineira, com a participação de várias pessoas, enfileiradas, lado a lado, de frente para o outro, dançando segurando um ou dois bastões, de forma ritmada, com várias batidas, dependendo das evoluções do grupo. 

sábado, 23 de novembro de 2019

A história e origem da Folia de Reis

(Por Arnaldo Silva) Antecedendo o Natal, as casas e cidades começam a decorar pinheiros com pisca-piscas, bolas e outros enfeites. Monta-se ainda os tradicionais presépios. Após o natal, grupos de Folia de Reis saem às ruas, visitam casas, cantam e abençoam as famílias. No dia 6 de janeiro termina a festa. Os presépios são desmontados no dia seguinte, sete de janeiro, bem como todas as ornamentações usadas no período, que ficam guardadas para a festa seguinte.
Os três Reis Magos
          Essa prática encena o nascimento de Jesus, a fuga de José e Maria para o Egito e a chegada dos Três Reis Magos, Melquior, Gaspar e Baltazar, que chegaram até o local, orientados por uma estrela, segundo consta no capítulo 2, do Evangelho de Mateus. (na foto acima de Luís Leite, Folia de Reis em Guaranésia MG)
          Não existem relatos bíblicos e nem confirmação histórica dos nomes dos três Reis Magos, que para muitos nem eram reis e muito menos magos, mas sim, astrônomos que estudavam as estrelas. Os nomes são baseados apenas em tradição oral.
          A chegada dos Três Reis Magos à manjedoura trouxe, além do ouro, mirra e incenso como presentes, a boa notícia de que o perigo tinha cessado e que podiam voltar. Com a visita, Maria e José se tranquilizaram, sentindo-se seguros para retornar. 
          No dia seguinte, sete de janeiro, arrumaram suas coisas e voltaram para sua terra. (na foto de Alexa Silva, Terno de Folia de Reis em Jaboticatubas MG)
          Por esse motivo que depois do dia de Santos Reis, seis de janeiro, os presépios e ornamentações das cidades são desfeitos.
          Simboliza o ato de Maria em guardar seus pertences e deixar a manjedoura, voltando para sua casa. 
A origem das encenações de Santos Reis
          A encenação dessa passagem bíblica iniciou-se na Idade Média, em 1164, na cidade de Colônia, na Alemanha, devido aos supostos restos mortais dos Três Reis Magos estarem sepultados na Catedral de Colônia. Segundo a crença, os restos mortais dos Três Reis Magos estavam em Constantinopla, na Turquia e foi doado pela Rainha Helena, por volta do início do século V, à cidade Milão, na Itália e por fim, levados para a cidade de Colônia, como despojos de guerra do lendário Frederico Barba-Ruiva. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, foliões em Diamantina MG, com figurinos criados pelo artista plástico Marcelo Brant)
          Com os supostos restos mortais dos Reis Magos presentes na igreja de Colônia, foram criados encenações e representações que simbolizasse essa passagem bíblica na cidade. Assim aos longos dos anos,  foram surgindo vestimentas e cantorias que representavam essa passagem. 
A árvore de Natal e o Papai Noel
          A típica árvore europeia, o pinheiro, passou a ser decorada nessa época com bolas, que simbolizavam o sol e posteriormente, com presentes, tendo tempos depois à figura do lendário Papai Noel, incorporada à festa. 
          O bom velhinho que distribuía presentes no dia atribuído ao nascimento de Jesus foi inspirado em São Nicolau, que em vida foi um bispo Católico da cidade de Mira, onde atualmente é a Turquia.
          Nicolau era bondoso e no dia de seu aniversário, seis de janeiro, saia pelas ruas da cidade distribuindo presentes para as crianças carentes. 
          Esse personagem foi incorporado ao evento católico, com a data de seu aniversário sendo comemorada não mais no dia 6 de janeiro, mas no dia 25 de dezembro. 
          Lembrando que no dia 25 de dezembro os egípcios realizavam a Festa do Sol Invencível, evento este incorporado a cultura pagã romana e por fim, adotada pela Igreja Católica com o objetivo de atrair os pagãos para sua fé. 
          O sol que nasce é luz, associaram o nascimento de Jesus ao mundo como a luz de Deus e assim surgiu a tradição do nascimento de Jesus neste dia, mesmo com a ciência da Igreja que não há registro algum da data de nascimento de Jesus.
A origem dos presépios
          Outra criação que se incorporou a essa tradição foram os presépios, criado em Greccia, na Itália, por São Francisco de Assis em 1223, que retratou o nascimento de Jesus na manjedoura, usando pequenas imagens com os respectivos personagens e cenário envolvidos. (na foto acima de Thelmo Lins, presépio montado em Santa Luzia MG)
          Todos esses acontecimentos serviram como base para a identidade mundial dos festejos natalinos entre 24 de dezembro e 6 de janeiro. 
As Folias de Reis no Brasil
          No Brasil é Folia de Reis tradição que chegou ao Brasil pelos portugueses, no século XVIII, embora em outros países do mundo sejam outros nomes. 
          Em Portugal, a festa é conhecida como Reisado, no Brasil, adaptações aos cânticos foram feitas por José de Anchieta e Manuel de Nóbrega, que adaptaram à realidade brasileira “O Auto dos Reis Magos” uma peça de autoria de Gil Vicente, escrita em 1503 e publicada em 1510, para o Dia de Reis.
          Baseado nesse auto, as tradições musicais e populares do nosso povo foram adaptadas, gerando assim uma cultura popular brasileira, com raízes e identidade, promovendo a interação entre negros, índios e brancos.
Cânticos e instrumentos
         Essa interação multirracial gerou cânticos, com palavras incompreensíveis para muitos. Isso porque, frases e palavras dos cânticos eram traduzidos para dialetos africanos, tupi-guarani e mesclando ao português. Os ritmos também eram diferentes dos entoados nos cânticos do Reisado português, já que os instrumentos indígenas e principalmente africanos, produziam sons fortes, graças aos batidos dos tambores. (foto acima de Amauri Lima em São João Batista do Glória MG)
          Tempos depois, instrumentos usados pelos brancos, como, violão, rabeca, flauta, sanfona, viola, cavaquinho, triângulos pandeiro, reco-reco, dentro outros, passaram a fazer parte dos instrumentos dos Ternos de Folias de Reis, porque os Ternos passaram a contar com a presença cada fez maior dos brancos nos grupos de foliões. Uma mistura de sons e vozes diferentes, fortalecendo assim a identidade regional dessa festa.
          Além da cantoria e instrumentos musicais, vestimentas diferentes das tradicionais vestes europeias foram incorporadas à festa, bem como a decoração das casas e igrejas nos dias da festa, dando características regionais à tradição.(foto abaixo de Vania Pereira em São Tomé das Letras MG)
          Das canções e estilo de cantar e tocar da tradição Medieval original, que foram preservadas e respeitadas na íntegra pelos Ternos de Santos Reis, está canção de chegada. Nessa canção o líder (ou capitão) pede permissão ao dono da casa para entrar. A outra canção é a da despedida, onde, cantando, a folia agradece as doações e a acolhida. Os outros cantos são criações de acordo com a cultura e folclore regional.
Os ternos de Folia de Reis
          Após o dia de Natal os Ternos de Folia de Reis, vestidos à rigor, com roupas coloridas, saem às ruas dançando, cantando e encenando, mantendo viva a tradição milenar da Igreja Católica em todo o mundo.
          São vários grupos presentes nas cidades, todos formados somente por homens. Mulheres não participam dos Ternos de Folia de Reis, porque os Três Reis Magos não levaram consigo suas esposas, por isso a ausência de mulheres nos ternos. Se cada folião levasse sua mulher, mudaria o sentido da encenação da tradição bíblica.

          Cada terno é formado por personagens que representam os três reis magos, palhaços, coro de cantores e músicos, mestre ou embaixador, bandeireiro ou alferes da bandeira, o mestre ou embaixador. 
          Todos se vestem com roupas coloridas e usam máscaras, de acordo com os figurinos definido pelos membros dos Ternos de Santos Reis, respeitando a tradição da encenação. 
          No cortejo pelas ruas e visitas às casas, são acompanhados por músicos tocando e cantando, enquanto são recitados louvores e bênçãos na casa dos festeiros, acompanhados de danças. 
          Os festeiros são os moradores que recebem os ternos em suas residências com o objetivo de preservar a tradição ou para pagar alguma promessa. São os festeiros que fazem a "tirada da bandeira” e arcam com as despesas do grupo com descanso e alimentação. 
          Os Ternos de Santos Reis caminham pelas ruas, visitando as casas e saudando os moradores com cânticos religiosos, lembrando o ato dos Reis Magos que saudaram o Menino Jesus.
          Os cânticos religiosos são pausados apenas durante as paradas para descanso, café da manhã, almoço ou jantares, quando os foliões e membros da corte dos Ternos, cantam músicas típicas regionais, como a moda de viola e dançam Catira e Cateretê, danças folclóricas tradicionais em Minas Gerais.
Uma das maiores festas populares do Brasil
          Ao contrário da tradição, onde os três Reis Magos levaram presentes, em Minas Gerais e no Brasil, são tradição os grupos de Folia de Reis receberem presentes dos festeiros e fieis. Os presentes são doados para as entidades filantrópicas locais ou mesmo para manutenção dos grupos de Folia de Reis. (foto acima de Luís Leite)
          Junto com Reinado de Nossa Senhora do Rosário, a Folia de Reis é o mais importante evento folclórico do Estado, tendo sido uma das primeiras manifestações folclóricas de Minas Gerais, incorporada ao folclore mineiro desde o século XVIII.
Patrimônio Imaterial de Minas Gerais
           A Folia de Reis é tão importante para a cultura, tradição e folclore mineiro que foi reconhecida como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais em 2017, pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico. (na foto acima de Vânia Pereira em São Tomé das Letras MG)
          Presente ainda nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Maranhão, Paraná, dentre outros, mas com predominância em Minas Gerais, devido estar no Estado mineiro as principais cidades do país, no período do Ciclo do Ouro. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, folião em Diamantina MG, com figurino criado pelo artista plástico Marcelo Brant)       
          Nos 853 municípios e 1712 distritos do Estado de Minas Gerais a Folia de Reis está presente. Em algumas cidades mineiras a Folias de Reis é tão importante do ponto de vista social e cultural que são reconhecidas como Patrimônio Imaterial de alguns municípios entre eles Bom Despacho, Alterosa, Belmiro Braga, Betim, Casa Grande, João Pinheiro, Matias Barbosa, Nova Resende e Patos de Minas. Várias outras cidades mineiras estão em processo de elaboração de inventário para considerar a Folia de Reis como Patrimônios Imateriais Municipais.

domingo, 2 de junho de 2019

Conheça Minas nas Festas Juninas

(Por Arnaldo Silva) Se você é um daqueles que pensa que Festa Junina é tradição somente no Nordeste do Brasil, pode mudar de ideia. A tradicional festa de origem europeia é uma das maiores manifestações populares de Minas Gerais. Só perde para as festas do Reinado e Folia de Reis.
          Festa Junina em Minas tem um diferencial a mais: os elementos das raízes culturais mineira. Quando a festa chegou a Minas, no início do século 18, nos tempos do Brasil Colônia, a vida do nosso povo era basicamente rural. Sendo assim, as Festas Juninas se popularizaram nos terreiros das fazendas, em frente às igrejas e principalmente nos povoados.(na foto acima de Ane Souz, Festa Funina em Ouro Preto MG)
            Essa tradicional festa popular atrai centenas de milhares de pessoas em todos os municípios mineiros desde quando a festa foi introduzida no Brasil, ainda nos tempos do Brasil Colônia. A festa homenageia Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro e São Paulo (29 de junho). (foto abaixo de Eliane Torino, com detalhes das homenagens a São João)
         A essa festa foram incorporados a tradicional religiosidade do povo mineiro, que geralmente veem nas festas juninas uma época propícia para pagar promessas (principalmente a Santo Antônio, Santo Casamenteiro). Foi incorporado à forma original o nosso sotaque, nossa culinária, nossa cultura, música, instrumentos musicais e nossa vestimenta, destacando as calças remendadas, camisas xadrez, laços, chapéu de palha e vestidos coloridos. (na foto acima, o Arraiá do Zé Bagunça em Bueno Brandão MG, Sul de Minas. Foto: Prefeitura Municipal, enviada por Douglas Coltri)
          As Festas Juninas em Minas Gerais tem identidade própria, unindo a tradição original europeia, com o jeito de ser e vestir-se do povo mineiro. Além das que foram citadas acima, uma dessas práticas acrescentadas à festa foi a fogueira. Era comum e ainda é, nos terreiros de fazendas de Minas, principalmente em dias frios, fazerem fogueiras, colocar mandioca ou batata doce para assar. Em redor da fogueira tinha muita prosa, licor e cachaça, e claro, muita cantoria. Tinha uns que atreviam a dançar, aproveitando o calor das chamas. Essa prática mineira foi incorporada às Festas Juninas em Minas e expandida para todo o Brasil. 
          Algumas cidades de Minas levam tão a sério as fogueiras que surpreendem pelo tamanho. É o caso das cidades de Ingaí, no Campo das Vertentes (na foto ao lado de Gilson Nogueira) e Mesquita, no Vale do Rio Doce. Essas duas cidades tem forte tradição em festa junina, sendo destaque suas fogueiras de São João, que chegam a quase 40 metros de altura. Outra cidade, Cachoeira de Minas, no Sul do Estado, tem como destaque sua fogueira com cerca de 40 metros, dedicada a São Pedro. É a maior fogueira de São Pedro do Brasil.
          Continuando no Sul de Minas, em Bueno Brandão MG, acontece uma das maiores festas juninas de Minas Gerais. É o Arraiá do Zá Bagunça, que tem esse nome em homenagem a um morador da cidade, popularmente conhecido por Zé Bagunça que todos os anos realizava festa junina, para pagar promessa por uma graça alcançada. A vizinhança toda ajudava, doando um pouco para a festa que era muito animada, com rezas, comidas típicas e as tradições músicas juninas e claro, a das danças tradicionais do período. 
          A festa virou tradição e hoje está incorporada ao calendário festivo local, atraindo visitantes de toda a região, já que é uma das mais tradicionais festas do gênero, preservando as características originais da festa, realizada na Praça Virgílio de Melo Franco. Além das comidas típicas dos festejos juninos, tem as comidas típicas da cidade como o virado de frango, a canjiquinha, o caldo de feijão, a broa em folha de bananeira, etc. (a foto abaixo, da Prefeitura Municipal, enviada pelo Douglas Coltri, mostra o momento da tradicional dança)
          Por todas as cidades e povoados de Minas acontecem belíssimas apresentações de quadrilhas, com música, pipoca, quentão, canjica, pamonha, milho verde e nossos doces. A decoração também é adaptada à nossa cultura e religiosidade, com bandeiras, mastros, bem como a presença de pratos típicos de Minas e reza do terço. 
          No interior, ainda é comum famílias promoverem festas juninas e convidar a vizinhança. É para pagar promessa. Antes da festa propriamente dita, rezam o terço e em seguida todos desfrutam da comida, da música, da dança, das brincadeiras e da alegria que a festa proporciona.
          Por toda Minas você pode participar das Festas Juninas. Seja qual for o lugar que escolher, pode ter certeza, será muito bem vindo e muito bem recebido pelos mineiros. Venha comigo conhecer algumas cidades de Minas que promovem uma Festa Junina de deixar saudades. (na foto acima de Sérgio Mourão/ a fogueira de São João em Mesquita MG)
          Belo Horizonte, por exemplo, realiza uma das maiores e melhores festas juninas do Brasil. O famoso Arraial de Belô cresce a cada ano e uma das referências em Minas Gerais em se tratando de Festa Junina. É uma festa e tanto que leva milhares de pessoas para a Praça da Estação, animada por artistas de renome nacional. Um dos destaques do Arraial de Belô é o concurso estadual e municipal de quadrilhas. 
          As Festas Juninas nas cidades da Região do Vale do Mucuri são verdadeiros espetáculos de tradição, danças, cores e sabores! Teófilo Otoni e Pavão são as cidades da região do Mucuri que mais se destacam na organização de Festas Juninas. Essas duas cidades promovem uma das melhores festas do gênero em Minas Gerais, com ampla participação popular. É um espetáculo que merece ser conhecido por todos. 
          Com certeza você já ouviu falar dos tradicionais forrós nordestinos, mas já pensou em conhecer o Forró de Curvelo? A cidade fica na Região Central de Minas e realiza um dos mais antigos e melhores forrós do país. O evento é tão tradicional que está que atrai cerca de 50 mil pessoas para a festa, vindos de todo o Brasil. É realizado sempre no mês de julho com shows, barracas, comidas típicas e muita gente bonita. (fotografia acima de Márcio Pereira/@dronemoc)
          No Triângulo Mineiro, uma festa imperdível acontece em Desemboque, distrito de Sacramento. O distrito é pequeno, com cerca de 30 moradores, mas no período das festas juninas, o distrito que é  um dos mais antigos de Minas, recebe gente de toda região para participar da Carreada de Bois e da queima da fogueira de São João.(na foto ao lado de Luis Leite)
          Uma ótima opção para curtir o melhor da tradição das Festas Juninas é a Junifest, em Itapeva, na Região Sul do Estado. Tem apresentação de bandas de forró e gincanas. Itanhandu, na mesma região é outra opção para os amantes da autêntica festa de São João, com barracas típicas e tudo que a festa proporciona. Além, Itanhandu é uma das mais belas cidades da Serra da Mantiqueira, com paisagens de tirar o fôlego. 
          Indo para o a região Central, gostoso é participar do Forró do Araçá, em Araçai, pequena e pacata cidade pertinho de Sete Lagoas. A festa é animada, com muito forró, apresentação de danças e comidas típicas.  Outra ótima opção na Região Central é na comunidade do Bonfim em São Gonçalo do Rio Preto onde acontece a tradicional marujada, em homenagem ao Senhor do Bonfim São João Batista. 
          Em Itabirito, pertinho de Ouro Preto as festas de junho e julho são marcantes com toda a tradição que merece e ainda, com destaque para as cervejarias artesanais da cidade e belezas naturais do município. É a Julifest, considerada a maior festa junina de Minas Gerais, com a presença estimada 100 mil pessoas durante os dias de festa. (na foto acima de Ane Souz, Festa Junina em Ouro Preto MG)
          Quem gosta da natureza e não abre mão das Festas Juninas, pode dar um pulo no arraial de Conceição do Ibitipoca, distrito de Lima Duarte, na Zona da Mata. O pitoresco e histórico distrito é a porta de entrada para o Parque do Ibitipoca, um dos mais belos santuários ecológicos de Minas Gerais. 
          Nesse período de Festa Junina, acontece em Conceição do Ibitipoca a Festa de São João, o Ibitilua, o Arraial da Alegria com fogueira, leilão de prendas, muito forró, cerveja artesanal e comidas típicas. Ainda para quem gosta de aliar natureza à festa junina tradicional, Alto Caparaó, também na Zona da Mata, é o caminho. O município é a porta de entrada para o Parque Nacional do Caparaó, onde está o Pico da Bandeira.
          E para os amantes da cultura e história, não tem nada não? Claro que tem. Ouro Preto, Diamantina (na foto acima e abaixo de Giselle Oliveira, decoração junina em Diamantina), Serro, Mariana, Sabará, dentre outras cidades históricas tem tradição forte na organização dos festejos juninos. Além de divertir muito, tem a opção da beleza dos casarões, igrejas e museus das cidades históricas. 
          Festa boa também é em Esmeraldas e Conselheiro Lafaiete, pertinho de Belo Horizonte. Em Patrocínio, no Alto Paranaíba, a atração da Festa Junina é a Corrida da Fogueira. Acontece há 70 anos, mas não é uma corrida sobre brasa, é uma corrida mesmo, por cerca de 10 km pelas ruas da cidade, com premiação para os primeiros colocados. Em Muriaé na Zona da Mata, também tem a Corrida da Fogueira.
          Outra festa junina de destaque é em Caratinga, no Vale do Rio Doce, famosa terra do Ziraldo e Menino Maluquinho. Danças, forró, comidas típicas, tudo que uma boa e autêntica Festa Junina tem. 

          Se eu for continuar não paro mais. Toda a cidade de Minas tem nas Festas Juninas umas de suas maiores manifestações culturais. Não dá para falar de todas. Mas essas são as dicas. Vale a pena viajar por Minas, conhecer a cultura e tradição do povo mineiro manifestas nas festas populares. 

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