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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

João Alves: o artesão que preserva a tradição da arte em barro

(Por Arnaldo Silva) Um dos grandes artesãos de Minas Gerais. Suas obras impressionam e emocionam pela simplicidade história que cada peça conta. Isso porque o artista transfere para o barro a sua experiência e vivência, dando assim vida, emoção e história às peças, mas também a história da vida cotidiana do povo simples, do trabalhador e da religiosidade inocente do nosso povo.
          Não são apenas contornos humanos moldados no barro. São peças que expressam as emoções e sentimentos do artesão em cada cena que retrata em sua arte. É a beleza do artista que transfere para a arte o seus sentimento, amor, conhecimento e sensibilidade. (fotos acima de autoria de Thelmo Lins)
          Não são simples obras moldadas à mão e sim, obras moldadas com o coração. E para o nosso coração se dirige. Impossível não se emocionar com a riqueza expressada na história que cada peça retrata.
Quem é o artesão?
          O artesão que falamos é João Alves. Nascido em 24 de junho de 1964, em Tingui, comunidade rural de Rio Pardo de Minas, no Norte de Minas, a 732 km de Belo Horizonte, João Alves é o caçula de uma família de quatro irmãos. Seu pai, Aldemar Alves Martins (“Seu” Dena) e Braulina Alves (Dona Bróla), já falecidos, vieram para a cidade vizinha de Taiobeiras em busca de uma vida melhor, quando João Alves tinha apenas 5 anos. (fotografia acima de autoria de Lori Figueró - Acervo de João Alves, fornecida pelo artista)
          De família muito humilde, seu pai trabalhava na olaria Piuna, de propriedade do conhecido João da Cruz Santos, o João Lozim. Sua mãe era ceramista. Era João Alves que levava o almoço todos os dias para seu pai. João Alves cresceu nesse meio, do barro, numa região que a terra sustentava famílias, não só pelas olarias, mas sim pelo artesanato em barro, uma das mais antigas tradições do Norte de Minas.
Artista autodidata
          Foi no ano de 1972 que o talento de João Alves começou a despertar. Em suas idas a olaria para levar o almoço para seu pai, João brincava com o barro na olaria, enquanto seu pai almoçava. Era uma diversão de criança. Fazia cavalinhos e cachorrinhos.
          Como a fé estava presente no dia a dia do povo, começou a moldar, no barro, elementos da tradição e fé religiosa. Isso despertou em João Alves sua vocação. Era um artista autodidata. Suas mãos tinham habilidades para moldar o cotidiano, a fé, tradições e a vida do povo de sua cidade e do Norte de Minas. (imagens acima de autorias não informadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Como vivia em uma região onde a vida era dura e fé e confiança do povo do sertão eram característica do povo, João Alves começou a se inspirar em sua própria história, nas histórias de seus antepassados e das pessoas que convivia.
A religiosidade e fé com inspiração
          A fé, os sentimentos, sofrimentos e a religiosidade do povo, junto com a simplicidade, o cotidiano de suas vidas no cuidado com os filhos, nas atividades da roça, no descascar do milho, do trabalho no pilão, nos momentos de fé, no andor que levava os santos nas procissões, no cozinhar no fogão a lenha. São essas cenas que João Alves retrata em suas obras. (imagens acima de autorias não informadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Cercado pela beleza da riqueza cultural do Norte de Minas e se inspirando na fé, simplicidade, jeito de se vestir e as manifestações religiosas do Norte de Minas, João Alves começou a moldar suas peças retratando o cotidiano do povo simples, dos ofícios e modo de vida e do dia a dia de suas vidas, tendo como inspiração a cultura afro-brasileira e o cotidiano de seus parentes, o povo da roça, fogão a lenha, em sua mãe que benzia, sua avó, que fiava, as festas e manifestações de fé do povo de sua comunidade.
Suas primeiras obras
          Desde cedo, suas habilidades na arte de moldar o barro impressionavam tanto que começou a chamar atenção dos vizinhos que logo começaram a adquirir as peças para decorarem oratórios e presépios, uma forte tradição em Minas Gerais. Aos 8 anos, João Alves moldava os 3 reis magos, os animais, anjos, José e Maria, personagens presentes no nascimento do menino Jesus.
          Com o tempo João Alves foi crescendo e aprimorando sua técnica com o artista buscando outros temas para moldar suas peças, sempre inspirando na simplicidade e cotidiano do povo de sua cidade e também na história que os mais velhos lhe contava.
          Sua primeira peça, fora da temática religiosa, foi inspirada em sua avó, fiando algodão. A partir desta obra, começou a fazer outras peças retratando o dia a dia do povo, contando suas histórias através da arte em barro. Foi a partir daí que seu trabalho começou as expressivas e impactantes formas, caracterizando seu estilo próprio, com as peças tendo vida, história e expressando seus sentimentos. (imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          O artista contou com o apoio de sua esposa, que aprendeu a manusear o barro para, com seu marido, se dedicar a arte que se tornou a fonte de renda da família.
Talento reconhecido
          Com o tempo, o talento de João Alves se expande para a região, além do artista participar de feiras, eventos e exposições. Isso despertou interesse de amantes da arte mineira, fazendo com que o interesse pela aquisição dos trabalhos de João Alves crescesse substancialmente, fazendo com que seu trabalho se expandisse e se tornasse conhecido em Minas Gerais e no Brasil.(imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          A arte que começou como uma brincadeira de criança, foi se aprimorando para a modelagem de peças para decoração de presépios e aprimorando com o tempo, ganhando novas formas e impressionando pela essência natural e simples as peças transmitem
          Isso porque o barro moldado por João Alves, conta histórias, retrata o dia a dia do povo geraizeiro e sertanejo, retrata a simplicidade da fé e religiosidade do povo do Cerrado.
A transformação da argila em cerâmica e arte
          Cada peça, leva em média 20 dias para ficar pronta. É um processo totalmente artesanal. Primeiro extrai-se a argila, deixa secar por 3 dias. Depois disso, a argila é socada no pilão e peneirada. Por fim, é amassada em uma gamela de madeira e deixada em descanso por 2 dias. (imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Somente após esse processo que começa a modelagem das peças e secagem ao natural. Esse processo dura duas semanas. Por fim, a peça é colocada no forno a lenha e queimada por 12 horas. Esse é o processo da transformação da argila em cerâmica. Após todo esse processo, o artista dá o acabamento e a pintura das peças.
Premiações
           A perfeição e simplicidade de suas obras, tornaram João Alves conhecido e premiado, não apenas em Minas, mas no Brasil e com reconhecimento no exterior.
          João Alves foi premiado em 2005 com o quarto lugar no prêmio da Unesco de Artesanato da América Latina e Caribe. Unesco é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. É uma agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) com sede em Paris, capital francesa. 
          A entidade tem como objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo através da educação, ciências naturais, humanas, sociais, além da comunicação e informação. Daí a importância dessa premiação a João Alves. 
          Foi a partir dessa premiação em 2005, que o talento de João Alves se expandiu para todo o país, além de sua participação em exposições, feiras e eventos culturais por todo o Brasil.
          Durante a 5ª Edição do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, realizado no Rio de Janeiro em 2022, João Alves entrou para a lista dos 100 melhores artesãos do Brasil, tendo sido eleito entre 1.208 artesãos de todas as regiões do país que participaram dessa edição. (imagem acima fornecida por João Alves)
          A premiação tem caráter técnico-científico e tem como objetivo promover as melhores práticas artesanais do Brasil, tendo como base a qualidade técnica, estética, inovação, melhoria contínua do desenvolvimento da arte e experiência comercial.
          Com a premiação, os 100 escolhidos ganham reconhecimento nacional, além do direito de usar o selo Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato.
Obras únicas
          O talento de João Alves e os detalhes expressivos nos moldes de suas peças, são marcas de um talento refinado e envolvente que encanta, impressiona e emociona. São obras únicas, carregadas de sentimentos e histórias reais. (imagens acima de autoria do fotógrafo Lori Figueiró - Fornecidas por João Alves)
          Não só isso, sua origem, sua trajetória e sua paixão e perseverança é um exemplo para as novas gerações. De uma simples brincadeira de criança, surgiu um dos grandes nomes da arte em barro do Brasil. Fruto de seu amor e dedicação à arte de moldar a história de seu povo no barro.
          O contato com o artesão João Alves pode ser feito através do WhatsApp 38-9103-0054.
(Nota: As fotos fazem parte do acervo do artesão João Alves, que nos forneceu as imagens para ilustrar a reportagem, sem contudo precisar a autoria individual das imagens. Caso autores das imagens que não tenha a autoria citada, nos informe para que os créditos autorais sejam citados.) 

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