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segunda-feira, 24 de abril de 2023

Trem do Sertão

(Por Marina Alves/Lagoa da Prata MG) E não é o Trem do Sertão? Entre fumaças e brumas, a hora de embarcar em viagem inusitada: um passeio atravessando os distantes dias, os anos, o tempo...
          Manobra o Trem do Sertão! Envolto em nebulosa purpurina que se mescla ao céu coalhado de nuvens, ele se recorta ao sol da manhã, banhado em luz cristalina que radia detrás da grande figueira. Ao fundo, os fornos das caieiras apregoam tempos que esbarram nos idos de 1950.
          Saltando de um conto antigo, a estação se entrincheira à beira da lagoa. Ao rés-da-plataforma, os trilhos se desenham em duras e brilhantes paralelas que levam a tantos destinos: serpentes de ferro que corcoveiam sob as bênçãos da rosa dos ventos, desbravando sortes e caminhos.
          Na travessa do telhado, o pêndulo de bronze adverte desavisados: hora de partida, maria-fumaça em movimento. De súbito, a vida para sob o clique mágico de quem flagra o belo nos desvãos de qualquer hora. A chapa batida num repente, de repente, nem queria, mas pegou gentes desprevenidas a boiar coincidentes num dia qualquer... Seria dia de semana? Talvez domingo? Ah, se alguém pudesse se lembrar, se alguém se atrevesse a contar!
          Porte elegante, o homem de bota e chapéu espicha-se em sombra no concreto rústico, alegorias do sol nascedouro. Sem nem sentir, sem nem premeditar, imortalizou-se nos umbrais do tempo. Perdido nas brumas da história, o escuso cavalheiro em secretos anonimatos virou lenda no retrato sem pose nem ensaio... Mas quanta beleza e mistério guardou para a posteridade nas entrelinhas das outras gentes que viriam.
          À parte, o Trem do Sertão com seus ilustres passageiros, maquinistas, foguistas, apitos e vagões, certamente seguiu moroso, cortando ventos e pontes e matas e encostas de outras eras que não voltam mais.
Texto baseado no icônico registro do fotógrafo Câncio de Oliveira, feita em 1950 na antiga Estação de Lagoa da Prata MG. Câncio era natural de Santo Antônio do Monte MG, faleceu em 2020, aos 95 anos. Fez várias fotos icônicas e marcantes de Minas Gerais, como esta de Lagoa da Prata, de sua cidade e de outras cidades mineiras, além de Belo Horizonte, cidade para onde se mudou em em 1941.

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