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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Conheça o distrito de Tomaz Gonzaga

(Por Arnaldo Silva) Boa parte dos povoados, vilas, distritos e até cidades mineiras, tiveram origem nas paradas dos tropeiros, pelos rincões de Minas. Vários povoados da Região Central Mineira serviram de base de apoio para os tropeiros que cruzavam Minas Gerais, a caminho de Diamantina e sul da Bahia.
          Numa dessas paradas de tropeiros, surgiu o povoado de Tomaz Gonzaga, hoje distrito de Curvelo MG, importante cidade mineira, distante 168 km de Belo Horizonte. O município de Curvelo faz divisa com Cordisburgo, Corinto, Felixlândia, Inimutaba, Morro do Garça, Papagaios, Paraopeba, Pompéu, Presidente Juscelino, Santana de Pirapama e Santo Hipólito. (na foto acima do Leandro Leal a detalhes do casario da vila)
          O distrito é uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. A região é de terras férteis, com vários cursos d´água e fica no meio do Estado de Minas Gerais, por isso atraiu muita gente que veio à região para investir em fazendas. 
A origem
         Sua origem data de 1706 com a chegada de Martinho Afonso de Melo, que veio para a região lidar com gado e lavoura, adquirindo uma fazenda às margens do córrego do Papagaio, posteriormente vendendo a fazenda, Antônio Francisco da Silva. (na foto acima do Leandro Leal a Matriz de São João Batista e o casario da vila em seu entorno)
         Naquela época, as fazendas prosperavam rápido, casarões e igrejas eram construídas com a chegada de pessoas vindas de várias regiões para trabalhar e comprar terras. No final do século 18, o distrito era um dos mais importantes da região. Sua arquitetura, tradição e história conta boa parte da era colonial brasileira.
          Em 1714 a fazenda já era um povoado e passou a se chamar Papagaio até 1882, quando o povoado já em franco desenvolvimento, foi elevado pela Lei nº 2.905 a Freguesia de Nossa Senhora do Livramento do Papagaio.
         Em 1732, era construída a Capela de Nossa Senhora do Livramento, um dos marcos do povoamento da região. No entorno da capela, surgiram as primeiras casas da Vila. (fotografias acima do Leandro Leal)
          Em 1906, o nome do vilarejo foi alterado para Silva Jardim. Foi em 1931, que passou a se chamar Tomaz Gonzaga, em homenagem ao poeta Inconfidente Tomaz Antônio Gonzaga. O motivo do porque da homenagem ao Inconfidente, autor dos versos para Marília de Dirceu, ainda é desconhecido.
A parada de tropeiros a ponto turístico
         Antes parada de tropeiros, hoje é parada para descanso e refúgio para quem busca sossego, tranquilidade e vivência com a natureza e simplicidade, bem como para quem quer conhecer um pouco da história do Brasil Colonial.
         O casario da vila é bem preservado, o povo é simples, hospitaleiro e recebe muito bem os visitantes. As ruas são calmas, tranquilas. Um local para quem gosta do sossego e de qualidade de vida. (o casario da vila, na fotografia acima de César Rocha e abaixo de Leandro Leal)
          O distrito de Tomaz Gonzaga está a 51 km de distância da sede, Curvelo, via BR-135, numa gostosa viagem em estrada de terra, pelas veredas do sertão mineiro. A região que faz parte do famoso circuito Guimarães Rosa, famoso escritor, nascido em Cordisburgo, distante apenas 45 km de Curvelo. 

A festa do Divino Espírito Santo em Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A Festa do Divino Espírito Santo é, depois da Semana Santa, uma das maiores festas religiosas de Minas Gerais, sendo também uma das mais antigas tradições folclóricas e religiosas brasileiras, comemorada e preservada em Minas Gerais da mesma forma que na época do Brasil Colonial e Imperial. (fotografia abaixo de Giselle Oliveira)
          A festa chegou ao Brasil no século 17, nos primórdios da colonização do Brasil. Segundo o ritual, uma pessoa era escolhida como imperador do Divino, passando a ter as bênçãos do Espírito Santo, tornando-se pura e bondosa como uma criança, distribuindo alimentos, soltando presos políticos, trazendo fartura, paz e perdão ao mundo. Após a Proclamação da Independência, em 1822, Dom Pedro I, ao invés do título de Rei, como era normal na época, optou pelo título de Imperador, por orientação de José Bonifácio de Andrada, justamente inspirado no significado e na forte popularidade que o Imperador do Divino despertava em todo povo brasileiro. 
          Com mais de 200 anos de tradição em Minas Gerais, a cidade histórica de Diamantina (na foto acima de Giselle Oliveira), no Alto Jequitinhonha, a 292 km de Belo Horizonte, revive todos os anos a tradição da Festa do Imperador do Divino Espírito Santo. É a perfeita comunhão da fé com a preservação das tradições do Brasil Colônia e Imperial, vividas durante os três dias de duração da festa, que acontece geralmente no mês de junho. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          Pelas ruas de Diamantina o cortejo representando a Família Imperial, vestidos da mesma forma que à época do Brasil Colônia, representando o luxo e glórias de nossa história passada.
          A corte imperial é acompanhada por grupos de Congado e Pastorinhas, simbolizando a escolta do Imperador até a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Pelo caminho, o cortejo é reverenciado fogos de artifícios, palmas, sons de chocalhos e atabaques dos populares e pelos tambores da banda da Polícia Militar. (foto acima e abaixo de Giselle Oliveira)
           Quem conhece a Festa do Divino do Espírito Santo, em Diamantina, se impressiona com o extremo zelo de seu povo com a festa. Nenhum detalhe passa despercebido, principalmente na vestimenta, penteados e joias. Tudo revivido da mesma forma que nos tempos glamoroso da Coroa Portuguesa e do Império Brasileiro. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          É sem dúvida a mais autêntica e genuína manifestação folclórica e religiosa do Estado de Minas Gerais, devido a sua amplitude, simbologia e participação popular. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A Casa dos Inconfidentes e o tesouro de Tiradentes

(Por Arnaldo Silva) A história do que é o hoje o Museu Casa dos Inconfidentes é cercada de mistérios, e se não fosse a intervenção das autoridades, este importante imóvel, que pertenceu ao Inconfidente Álvares Maciel, por pouco não foi destruído por completo. 
No decorrer da matéria vou te apresentar as dependências internas e externas da Casa dos Inconfidentes para você conhecer o rico acervo desse museu, o único de todos os museus na cidade administrado exclusivamente pela Prefeitura Municipal. 
Para começarmos a entender a história, vamos voltar aos tempos da Inconfidência Mineira. Naquele tempo a perseguição da Coroa Portuguesa aos Inconfidentes e a todo movimento contra a Cora, eram reprimidos com violência e condenações que em sua maioria, terminava com morte na forca. E ainda, os bens dos condenados eram confiscados sem nenhuma pena. A maioria dos Inconfidentes eram pessoas ricas e para não terem seus bens confiscados, caso fossem pegos, não viam alternativa, a não ser esconder sua riqueza, como moedas de ouro e outros bens valiosos. A forma com que faziam isso era bem simples. Enterravam, faziam um mapa, com dizerem e códigos e escondiam esse mapa em lugar que poderiam encontrar ou indicar alguém para procura-lo. Se escapassem, retornavam e desenterravam os tesouros. Mas em sua maioria não era assim, morriam ou eram degradados e os tesouros enterrados se perdiam no tempo, instigando o imaginário popular, com histórias fantásticas e também horripilantes. 
Essa busca por supostos tesouros enterrados mobilizou muita gente ao longo dos séculos. Em várias cidades onde existia ouro em abundância nos séculos 18 e 19, existem relatos de tesouros enterrados. Em Ouro Preto também, além de histórias de fantasmas e escravos que assombram algumas ruas e casarões da cidade. Isso faz parte do imaginário popular.
No caso da Casa dos Inconfidentes, não é diferente. Você vai conhecer "estórias" recheadas de mistérios, assombrações e ganância.
A parte mais interessante do casarão do Inconfidente Álvares Maciel começa mesmo na década de 1940. Nesse tempo, o casarão estava completamente abandonado e em ruínas. Nele vivia um mendigo, conhecido por Zé Canivete. Vivia de esmolas que conseguia durante o dia andando pela cidade. À noite, ia para o casarão para dormir. 
Numa fria noite de inverno, sem lenha para acender uma fogueira para se aquecer, Zé Canivete pegou um machado e rachou uma porta de madeira maciça e bem grossa ao meio. Ao ver a porta rachada, levou um susto enorme. De dentro da porta havia várias moedas de ouro que o deixou completamente atônito. Zé Canivete não tinha estudo e ao invés de mendigar, passou a comprar comida, cigarros e bebidas com as moedas de ouro que encontrou na porta. Ficou totalmente alucinado com a situação que enlouqueceu por completo. 
Anos depois, a Prefeitura de Ouro Preto assumiu o controle do imóvel, reformando-o por inteiro. Após essa reforma, o imóvel passou a ser usado como residência de uma rica família. O casarão era enorme e para mantê-lo em ordem e organizado, necessitava de vários empregados. Assim foi feito. Vários empregados foram contratados pela família para cuidar e zelar do casarão. Entre esses empregados, uma cozinheira de nome Petronília e sua filha de uns 10 anos terão participação importante nessa história.
Foi numa tarde tranquila que a menina brincava de casinha com outra criança da família no porão do casarão. E como criança é criativa, viram um pequeno pedaço de pau fincado numa viga de sustentação do casarão e resolveram pegar esse tronco para servir de mesinha. Fizeram um esforço muito grande para tirar o tronco até conseguirem. AS meninas perceberam que ficou um buraco na viga e a curiosidade de criança instigou a menina a olhar melhor. No buraco tinha um papel envelhecido, enrolado a pedaços de carvão e cascas de arroz. Essa era uma técnica bem antiga para evitar que os escritos perecessem pela umidade. 
Ao desenrolar o papel, viram que tinha vários desenhos e algumas palavras. A menina pegou o papel e foi pra cozinha mostrar para sua mãe, Petronília. Ela tinha pouca leitura, mas entendeu ser o mapa da indicação de um tesouro e foi correndo mostrar o papel para seu patrão. Este pegou o papel e como tinha cultura, conhecimento e estudo, leu e entendeu muito bem o que era. Pelas características do papel, da forma que foi encontrado e protegido da umidade, concluiu que o documento era autêntico. Petronília estava certa. Era o mapa de um tesouro. O homem deu pulos de alegria, além de dar balas e biscoitos para as meninas, como agradecimento. 
Claro, debruçou sobre o mapa para tentar localizar o tesouro e concluiu que o tesouro estava próximo a uma antiga mina de ouro, já exaurida, na parte lateral da casa. Foi explorada no tempo da escravidão. Na entrada tinha um portão de ferro. Escavada pelos escravos, suas paredes tiveram reboco de adobe, uma mistura de barro com estrume de gado. Dentro da mina havia uma mesa e banquinhos de pedra e alguns objetos de uso dos escravos na época, como vasilhas e outros utensílios. 
O patrão sabia que o imóvel era da Prefeitura e diante de uma provável fortuna, decidiu manter em segredo o mapa e mobilizou todos da casa para ajudarem na busca do tesouro e claro, prevalecendo à lei do silêncio. Ninguém podia saber de nada. Para evitar suspeitas, as buscas pelo tesouro eram feitas à noite. 
Arriscaram na investidas, mesmo sabendo do risco em entrar numa mina abandonada, geralmente habitada por cobras e outros bichos peçonhentos. Tinha ainda o imaginário popular, que acreditavam que as almas dos escravos maltratados e que morriam nas minas, ficavam a atormentar e a perambular pelas dependências das minas, arrastando correntes, fazendo barulhos e assombrando as pessoas. Vale lembrar que naquela época não existia energia elétrica e entrar numa mina dessas à noite, com lampião, era para quem tinha muita coragem. Mas ali tinha um tesouro e pelo vil metal, não tem cobra e nem fantasma que impeça o homem de encontra-lo. 
Sabendo disso, o patrão chamou um benzedor e antes de entrarem na mina, rezavam e se benziam muito. Assim se sentiam mais protegidos. 
E assim foi. Foram dias e dias de escavação, tirando toneladas de terra até faltar pouquinho, alguns metros para chegar ao ponto onde o mapa indicava haver o tesouro. Só que um dos empregados da casa, vendo aquilo tudo e pelo visto não achou correta a atitude do patrão de esconder da Prefeitura a existência do tesouro numa propriedade que era do município. Resolveu então procurar o prefeito da cidade e contou tudo.
Ao saber do fato, o prefeito ficou irritadíssimo por ter confiado um imóvel à família. Resolveu verificar a situação. À noite, subiu até o Morro da Forca e com o uso de um binóculo avistou a Casa dos Inconfidentes e realmente comprovou que estavam retirando terra de uma antiga mina e concluiu que o empregado falou a verdade.

 No dia seguinte, bem pela manhã, estava lá o prefeito bravo com a família e não foi sozinho. Foi acompanhado de autoridades policiais. E não teve muita conversa não. 
O prefeito deu 24 horas para que a família saísse do imóvel da Prefeitura. Em meio à confusão e bate boca, a esposa revoltada com tudo que estava acontecendo, pegou o mapa escondido e botou fogo. Eles saíram do imóvel, com o sonho de riqueza frustrados, mas sem o mapa, ninguém encontrava o tesouro. E não encontraram mesmo, tentaram, mas sem o mapa, não encontraram nada, só terra. E a história acabou sendo esquecida com o tempo. 
Anos depois, a Prefeitura cedeu o imóvel à outra família, dessa vez pequena Tinham apenas um filho. Antigamente os filhos tinham que ir ás vendas para comprar o que os pais mandavam. Como o casarão era um pouco afastado do centro da cidade, era uma boa caminhada e o menino não gostava muito disso. Mesmo assim tinha quer ir. A mãe pediu para que ele fosse à venda comprar algumas coisas para ela. Já era noite e mesmo com o clarão da lua cheia, o menino não quis ir, por medo, mas teve que ceder diante da insistência da mãe. O pai estava no trabalho e só tinha ele então para ir. 
O menino foi comprar as coisas e o marido ainda não tinha chegado. Ela ficou sozinha, naquele enorme casarão. Nesse momento começou a sentir um calafrio, ao ouvir passos fortes de botas pisando no assoalho de madeira. Ela estava de costas e sentia os passos mais fortes, se aproximando por trás. Já trêmula, arrisca a olhar para trás e vê um homem vestido com o uniforme dos alferes, com casaca e espada na cintura. 
O homem olhou pra ela fixamente. A mulher tentou se mexer, encostou-se à parede e foi devagar tentando sair da sala, se apoiando na parede. Ao andar, deixava rastros molhadas na parede. O medo foi tanto que ela urinou. Mas não conseguia fazer nada. Ficou paralisada. Nem gritar conseguia. Até porque não tinha ninguém na casa, não ia adiantar nada. 
Depois de olhá-la fixamente, o homem falou mais ou menos assim: “Aqui nessa casa, há mais de 200 anos, enterrei um tesouro e não consigo ter sossego até hoje. Fica ali, na lateral da casa, numa mina abandonada. Tire esse tesouro da mina para eu ter sossego.”
Mesmo em pânico e colada na parede, conseguiu coragem para abrir a boca e meio gaguejando de medo, perguntou:
- Quem é o senhor? E ele responde:
- “Minha senhora, meu nome é Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes”. 
Ao ouvir isso, nem urina a mulher tinha mais, ficou verde, trêmula e caiu desmaiada no assoalho da sala. 
Quando o filho e o marido chegaram a casa, encontraram a mulher desmaiada e desacordada. Tentaram reanima-la até que ela voltou a si. Meio atordoada, demonstrando desequilíbrio e medo ainda, conseguiu falar o que viu. Ganhou foi uma boa risada dos dois. Não acreditaram em nada. Levaram ela para o quarto para que se acalmasse. 
Eles não acreditaram, mas essa história chegou aos ouvidos do povo, bem como a história do mapa encontrado pela família que viveu no casarão antes. E sabe como é o povo né. Falou em dinheiro, aparece gente de todos os lados para tentar conseguir algum. Sempre foi assim. E foi só chegando gente com picaretas na mão para escavar e encontrar o tesouro do Tiradentes, numa escavação desenfreada, alucinada e louca. 
A situação chegou ao ponto de a Prefeitura e autoridades policiais ter que intervir de forma enérgica mesmo para retirar as pessoas de lá. Se não tivessem agido, com certeza um dos grandes patrimônios da cidade teria sido destruído por completo pela insanidade de pessoas, que acreditando ou não na história, dão uma de São Tomé, quer ver para crer. 
Mas o instinto de preservação do ouro-pretano falou mais alto. As autoridades agiram sempre com energia para evitar a destruição e preservação do patrimônio histórico da cidade. 
O casarão chegou a ser usado como alojamento para hóspedes da Prefeitura. Desde 2010 é Museu e totalmente administrado pela Prefeitura Municipal. Foi totalmente restaurado e é muito bem cuidado, preservando assim um pouco da história de Ouro Preto, da Inconfidência Mineira, contada em fatos, fotos, móveis, objetos domésticos, vestimentas, etc. Neste Museu, os s visitantes conhecem parte do cotidiano da vida de uma família ouro-pretana dos séculos XVIII e XIX.
Além disso, a direção do Museu Casa dos Inconfidentes promove diversas ações voltadas para a comunidade local e ações culturais com oficinas de arte e história, palestras, tardes culturais. 
O Museu Casa dos Inconfidentes fica à Rua Engenheiro Correa, s/nº, Vila Aparecida, Ouro Preto. Telefone: 3551-2739. Horário de Funcionamento: segunda a sábado, das 10h às 16h. 
(Texto de Arnaldo Silva, com fotografias de Ane Souz)

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Ora-pro-nobis: a planta que substitui a carne

(Por Arnaldo Silva) Muito popular nos quintais e nas cozinhas dos restaurantes de Minas Gerais, principalmente em Sabará MG, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a ora-pro-nóbis, palavra em latim que significa "orai por nós" enriquece os tradicionais pratos da cozinha mineira. 
A origem do nome
          Esse nome foi dado por acaso. Foi em Sabará, quando senhoras estavam colhendo as folhas da planta no quintal da paróquia do histórico distrito de Pompéu. Faziam uso da planta, mas não sabiam o nome. 
          O padre estava no altar rezando a oração em latim - O Ora-pro-nobis - e um garoto, sem tomar conhecimento da concentração do padre, começou a perguntar o nome da planta no quintal. 
          Irritado, o padre fez sinal para o garoto que estava rezando e repetiu "Ora-pro-nobis" seguidas vezes para o garoto. 
          Este sorriu para o padre, fez o sinal da cruz e saiu correndo e dizendo que o padre tinha dito que a planta se chamava Ora-pro-nobis.           
          Assim surgiu o nome a planta presente em todos os quintais e cozinhas do distrito de Sabará. Todos os anos, em maio, acontece o Festival do Ora-pro-nobis em Pompéu. (foto acima da folha normal, corta e já preparada, pelo Restaurante e Alambique Jotapê, de Pompéu/Sabará MG)  
Benefícios do Ora-pro-nobis         
          Pereskia aculeata, seu nome científico, é uma planta rica em nutrientes como vitaminas A, C e ferro, sendo popularmente chamada de "carne dos pobres" com a vantagem de não ter gordura saturada. É fácil de encontrar, barato e muito nutritiva. 100 gramas da folha da Ora-pro-nobis equivalem a 20 gramas de proteína, sendo ainda rica em propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Suas folhas possuem alto teor de fibras, que ajudam no bom funcionamento do intestino. Por ser rica em ferro, fortalece nosso sistema imunológico, além de ser uma grande aliada no combate a anemia, radicais livres e desnutrição. 
          É uma planta que se adapta bem a todo tipo de clima. Suas flores são lindas. Tem com flores rosadas e brancas. As com flores rosadas são usadas como cerca viva, por se alastrarem com facilidade e terem muitos espinhos. A de flor branca, é a usada na culinária e ainda tem menos espinhos em seu tronco, ficando assim mais fácil de colher as folhas e os caules, usados na culinária. 
          Os nutrientes da planta enriquece e dão mais sabor à rica e saborosa culinária mineira. (fotografia acima de Beatriz do Lino em Bocaiuva MG)
Usos do Ora-pro-nobis
          As folhas são usadas em diversas receitas, especialmente em saladas, sorvetes, sopas, massas, pães, omeletes, tortas, refogados, sucos, enriquecendo o feijão e no preparo do tradicional prato mineiro, frango com ora-pro-nobis. 
          Pode ser desidratada para fazer farinha muito usada no combate a desnutrição e reforço na alimentação para quem opta por uma dieta sem carne. Para os veganos, é um excelente substituto da carne. (fotografia abaixo do Edson Borges em Felício dos Santos MG, da folha da Ora-pro-nobis já pronta para o preparo)
          Mas pra quem não tem nenhuma restrição à carnes a ora-pro-nobis dá um sabor especial a pratos deliciosos como escondidinho de frango com ora-pro-nobis, sopa de legumes, rabada com agrião e ora-pro-nobis, bolinho de feijão com recheio de ora-pro-nobis, canjiquinha com costelinha e ora-pro-nobis, suco verde, pão de ora-pro-nobis e os tradicionais frango caipira e costelinha de porco com ora-pro-nobis. Tem ainda sorvete feito com ora-pro-nobis.

terça-feira, 30 de julho de 2019

O Parque das Andorinhas em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Ouro Preto encanta os visitantes, por sua impressionante e muito bem preservada arquitetura, bem como seus eventos e atividades artísticas, culturais e gastronômicos. Mas a vida em Ouro Preto não se resume apenas na sua história urbana. No município de Ouro Preto podemos encontrar belezas de impactar, de tirar o fôlego. Uma dessas belezas é o Parque Municipal das Andorinhas. A reserva guarda tesouros da fauna e flora do Cerrado e Mata Atlântica. (fotografia acima e abaixo de Ane Souz)
          A beleza que você está vendo nessas fotos da matéria está à disposição de todos, num local de fácil acesso, com toda a infraestrutura para receber os visitantes. Fica perto do Centro Histórico. São apenas 5 km da Praça Tiradentes. São 557 hectares de área preservada, funcionando todos os dias, com entrada gratuita.
          Para chegar até o Parque das Andorinhas, saindo da Praça Tiradentes, siga pelo Morro da Queimada, na estrada para Mariana. Após o Hotel Solar das Lajes, suba a primeira rua à esquerda, em direção ao Hotel Fazenda Boa Vista, suba o morro, pegue a primeira rua à sua direita e após o cruzamento do Hotel Fazenda Boa Vista, basta seguir até a portaria do Parque. (fotografia acima de Ane Souz)
          Mas tem outro caminho que eu acho mais interessante, pela história do local. É o Morro São Sebastião. Você vai aproveitar e conhecer a Capela São Sebastião (na foto acima de Ane Souz), uma das primeiras de Ouro Preto. Para chegar até o morro, saindo da Praça Tiradentes, você pega a saída para Belo Horizonte, vire a primeira rua à direita, após a Escola de Minas, suba a Ladeira João de Paiva e passará pelo Mirante do Morro São Sebastião. 
          Aproveite, contemple a vista (foto acima de Arnaldo Silva). Perto do Mirante está a Praça São Sebastião, basta seguir pela primeira rua à direita, onde avistará o Templo Budista e mais à frente a Capela de São João. 
          Antes de seguir o caminho, visite a capela de São João (na foto acima de Ane Souz), que junto com a de São Sebastião, foi uma das primeiras a ser erguida na cidade. A partir daí, siga pela Avenida das Andorinhas, pegue a estrada de terra à sua esquerda e chegará a frente à portaria do Parque. 
          Dentro da Área de Preservação Ambiental (Apa) o visitante poderá contemplar e vivenciar contato pleno com a natureza, caminhar pelas trilhas, conhecer as cachoeiras, praticar esportes e descansar com família e fazer piqueniques. O lugar é seguro, tem guias orientando os visitantes e acompanhamento pelas trilhas entre 6 e 18 hs. 
          Dentro do Parque, o visitante conhecerá a Cachoeira das Andorinhas. Encontra-se no interior de uma formação rochosa, que lembra uma gruta (na foto acima de Ane Souz). Durante o verão, o local é habitado por andorinhas de coleira. Por isso o nome da cachoeira e o nome do parque. Pela presença de grande número de andorinhas no local, no verão. 
          Tem ainda a famosa Pedra do Jacaré (na foto acima de Ane Souz), que proporciona uma vista maravilhosa. A cachoeira Véu de Noiva, com seus 40 metros de queda, é uma das grandes atrações da área. (foto abaixo de Ane Souz)
          Andar pelo parque requer cuidados e ficar atentos à orientação dos guias já que os caminhos são pedregosos, com fendas abertas. Recomendam-se roupas e calçados adequados para caminhar pelas trilhas.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

A história da bicentenária Ponte Queimada sobre o Rio Doce

(Por Arnaldo Silva) Cruzando o Rio Doce, em 200 metros de extensão, entre os municípios de Pingo D´Água e Marliéria, a Ponte Queimada é uma das mais atrativas entradas para o Parque Estadual do Rio Doce, a maior reserva natural de Mata Atlântica de Minas Gerais. A própria ponte, bem, como a estrada, são atrativos turísticos da região, fazendo parte do conjunto paisagístico da área de conservação do Parque do Rio Doce. Sua importância é tão grande que projeto para tombamento da ponte foi apresentado pelo IPHAM em 2018.
          Não é certeza da data da construção da Estrada da Ponte, como é chamada e nem porque foi construída. Acredita-se que tenha sido construída em meados do século 18. Uma das hipóteses para sua construção foi a suspeita de ouro na região do Rio Doce. Como não foi encontrado o metal em grande abundância, passou a ser usada como caminho de viajantes para Ouro Preto e transporte de presos condenados para o presidio de Cuité, em Conselheiro Pena.
          Por esse motivo, a estrada passou a ser conhecida como Estrada do Degredo. Por volta de 1794, a ponte que foi queimada, já que todo seu corpo era de madeira. O motivo do incêndio não foi esclarecido até hoje. Pode ter sido praticado por presos, que se rebelaram e para facilitar a fuga, incendiaram a ponte. Ou pelos próprios policiais que faziam a escolta de presos, temendo emboscadas e ataques surpresas dos comparsas dos condenados. Outra versão diz que a ponte foi incendiada por indígenas para se defenderem dos forasteiros que chegavam à região em busca de ouro. 
          Tempos depois de ser incendiada, por sua importância para a região, foi recuperada e aproveitada como ligação entre Santana do Alfié e Quartel do Sacramento. Com o surgimento de usinas metalúrgicas na região no início do século 20, a necessidade de escoar mais rapidamente a produção se fez necessário. Em 1930 a ponte foi totalmente reconstruída e sua estrutura reforçada. Preservaram os vigamentos de ferro e o corpo de madeira. Concreto dão sustentação às bases e pilares tornando a ponte mais segura. Com o passar do tempo e desenvolvimento industrial da região, bem como surgimento de estradas e linhas férreas e pela estrada englobar uma grande área de reserva ambiental, a estrada da ponte foi ficando perdida no tempo, servindo apenas como ponto de monitoramento ambiental para o Parque do Rio Doce, por estar próximo a uma das entradas do Parque. 
          A estrada da Ponte Queimada foi usada por muito tempo de ligação entre Pingo D´Água e Córrego Novo a Marliéria e Timóteo. Hoje se usa a LMG-759, desde 2012 asfaltada, desafogando o tráfego na antiga estrada da Ponte Queimada, bem como reduzindo o fluxo de pessoas nas imediações da unidade de conservação.
           A estrada da Ponte Queimada faz parte do passado de Minas Gerais. Pela estrada da ponte, um pouco de nossa história pode ser contada. O que se sabe, é que é um das mais antigas travessias sobre o Rio Doce na região, de grande valor histórico para a região. (Por Arnaldo Silva, com fotografias de Elvira Nascimento)

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