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segunda-feira, 29 de maio de 2023

As colônias de imigrantes alemães em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Vivendo num continente instável politicamente, com guerras e conflitos constantes, além da instabilidade econômica que a Europa passava no século XIX e principalmente nas primeiras décadas do século XX, devido a Primeira e Segunda Guerra Mundial, o Brasil se tornou um local de refúgio e segurança para dezenas de milhares de famílias de vários países europeus, principalmente a Alemanha, país arrasado pela duas grandes guerras mundiais.
          A partir de 1824, no início do período Imperial de Dom Pedro I, imigrantes alemães começaram a desembarcar no Brasil, sendo assentados inicialmente em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, dando origem assim a primeira colônia alemã no Brasil.
          A partir da segunda metade do século XIX, começaram a vir imigrantes em maior número, devido o crescimento da economia brasileira e ainda com a iminência do fim do regime escravagista, havendo assim necessidade de mão de obra. (na foto acima a Cervejaria Kraemerbier, fabricante da cerveja Kraemerfass, fundada pela família Kraemer, instalada em Delfim Moreira, Sul de Minas. A família Kraemer tem origens na Normandia e viviam em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde produziam cervejas artesanais desde 1900, uma parte da família migrou-se Minas, na Serra da Mantiqueira, em Delfim Moreira. Foto: Cervejaria Kraemerbier/Divulgação)
          Mais ainda, devido política de modernização implantada pelo Imperador Dom Pedro II. Isso porque que o Brasil carecia de investimentos na sua iniciante indústria e abertura e construção de ferrovias. Uma das metas de Dom Pedro II era planejava ligar todas as províncias brasileiras por trilhos e estradas. Para isso, carecia de mão de obra qualificada.
          Baseado nessa visão, politicas de incentivos para facilitar a imigração, principalmente de ingleses e alemães para o Brasil eram de grande importância. Inglaterra e Alemanha eram os países mais desenvolvidos no século XIX e início do século XX. Alemães e ingleses dispunham da mais alta tecnologia na época na mineração, fundição, construção de locomotivas, trilhos, na metalurgia e siderurgia.
          Para o governo na época, a presença desses povos era de grande importância para o desenvolvimento agrário e principalmente industrial do Brasil, além de acelerar o povoamento de regiões brasileiras pouco ocupadas. (na foto acima do Wellington Diniz, fachada da Vila Germânica em Monte Verde, Sul de Minas)
          A concentração de imigrantes teve como prioridade o Sul do Brasil, devido essa região ter terras férteis e por ser a menos populosa do país na época, além de cidades do interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, no Sudeste, que careciam de povoamento imediato naqueles tempos.
A imigração alemã para Minas Gerais
          No século XVIII e XIX, o povoamento e crescimento de Minas Gerais foi rápido, devido o Ciclo do Ouro, que fez com que viessem para Minas um grande número de brasileiros de todas as regiões do país, em busca da riqueza que a mineração, principalmente o ouro, gerava. Mesmo com o fim do Ciclo do Ouro, iniciou-se o Ciclo do Café e a migração continuou.(na foto acima de Arnaldo Silva, detalhes da arquitetura alemã, do Roda D´Água, complexo formado por restaurante, posto de gasolina, fonte de água mineral, cafeteria e lanchonete na BR-262, km 382, em Juatuba MG, Centro-Oeste de Minas, fundado por Olga Ullmann.)
          As riquezas minerais, água e terras férteis em abundância, expansão da malha ferroviária, instalação de companhias têxteis e construção de usinas hidrelétrica, atraía famílias, inclusive os imigrantes que vieram para o Brasil no século XIX e seus descendentes. Entre es esses imigrantes, estavam os colonos alemães e italianos, que vieram em grande número para Minas Gerais.
Migração ou imigração alemã?
          Na verdade a formação de comunidades e colônias de alemães em Minas Gerais não se deu inicialmente por política do Governo, que incentiva a imigração, dava incentivos fiscais, terras, etc. 
          O que ocorreu foi uma migração dos imigrantes e seus descendentes que já viviam no Brasil, para Minas Gerais, como por exemplo italianos, dinamarqueses, letões e alemães que viviam em São Paulo, migraram-se para várias cidades mineiras, principalmente para o Sul de Minas, concentrando-se, em cidades como São Lourenço, Jacutinga, Monte Sião, Alagoa, Delfim Moreira, Poços de Caldas, Monte Verde, dentre outras tantas.
          A presença alemã em Minas, seja em colônias ou escolha individual de famílias, são marcadas principalmente pela culinária e características típicas de suas construções, como na foto acima, do Wagner Rocha em Barbacena no Campo das Vertentes, é uma mostra dos trações típicos da arquitetura alemã, presente em todas as regiões mineiras.
Zona da Mata e Vale do Mucuri
          Caso à parte foi na Zona da Mata e no Vale do Mucuri no século XIX, que recebeu grande fluxo de imigrantes alemães, graças a parceria de duas empresas privadas, a Companhia União e Indústria de Juiz de Fora MG e a Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri, com o Governo da Província de Minas.
          Essas empresas necessitavam de mão de obra especializada para a construção de ferrovias e rodovias nessas regiões. Como a Alemanha detinha tecnologia de ponta nessa área e boa parte dos alemães trabalhavam na indústria, a preferência foi para a imigração alemã. Com isso, colônias de alemães foram sendo criadas com a chegada de um grande número de imigrantes em Juiz de Fora, na Zona da Mata e Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri.
          Já a migração alemã em grande escala se deu a partir do século XIX e primeiros anos do século XX, com a constante chegada de alemães e seus descendentes em Minas Gerais que deixaram a região Sul do Brasil e do Espirito Santo, estado de maior concentração de imigrantes alemães do Sudeste. (Essa é parte de uma maquete de Lagoa Santa, na Grande BH no século XIX, fotografada pelo Thelmo Lins no Museu de Arte Natural de Belo Horizonte. Dá para perceber nas construções o estilo colonial mineiro com o europeu e de como eram as colônias em geral nessa época)
          Vieram para Minas Gerais, atraídos pelas ótimas condições de trabalho, principalmente na agricultura, extração de madeira, e construção de ferrovias.
Imigração alemã como política de Estado
          A partir de 1908 a imigração alemã passou a ser política de Estado em Minas Gerais. (na foto acima de Wilson Fortunato, a entrada de São Lourenço MG, Sul de Minas)
          Os governantes da época perceberam que Minas Gerais carecia de mão de obra especializada para a indústria, já que o estado estava ainda engatinhando na industrialização, sendo basicamente agrário e voltado para a mineração, mesmo assim, de forma bem rudimentar. 
          Minas Gerais precisava atrair indústrias, mas antes disso, precisa investir da ampliação de sua malha ferroviária, abertura de estradas, construção de usinas hidrelétricas e com isso, desenvolver a economia do Estado com a industrialização. 
          Não faltava vontade e nem recursos para isso. O que faltava era mão de obra especializada no setor industrial, engenharia civil e industrial.          
          A solução era atrair imigrantes da Europa, principalmente da Alemanha, país de tecnologia industrial avançada na época e com grande número de profissionais na área industrial disponíveis, devido as questões econômicas e sociais causadas por sequentes conflitos e crises econômicas no Velho Continente. (fotografia de André Daniel da entrada de Jacutinga MG, Sul de Minas)
          Com esse objetivo, foram criadas novas colônias de imigrantes alemães em regiões mineiras, vistas pelo governo da época com grande potencial para crescimento industrial e ferroviário, como a Região Metropolitana de Belo Horizonte, Região Central, Sul de Minas e Centro-Oeste, além de ampliar a presença alemã em cidades e regiões que já contavam com colônias como Sete Lagoas na Região Central, Juiz de Fora na Zona da Mata, Campo das Vertentes e Teófilo Otoni no Vale do Mucuri, vistas também com enorme potencial de crescimento industrial e expansão da malha ferroviária nessa região.
          Com base nessa política, a partir de 1852 começaram a chegar à Minas Gerais imigrantes e descendentes de alemães que já viviam no Brasil. Ao chegarem, eram encaminhados para as colônias novas criadas pelo governo e outros, para as colônias já existentes no estado.
As colônias alemãs em Minas Gerais
          A primeira colônia de imigrantes alemães criada em Minas Gerais foi Colônia Nova Filadélfia, fundada, por Teófilo Benedito Ottoni em 1852, na cidade que posteriormente levou seu nome, Teófilo Otoni MG. A segunda colônia agrícola foi a Colônia Saxônia, em 1853. Em 1923, foi fundada também na cidade a Colônia Francisco Sá. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, a Praça Germânica em Teófilo Otoni MG)
          Teófilo Benedito Ottoni era descendente de italianos, nascido na Vila do Príncipe, atual cidade do Serro MG, em 1807. Foi jornalista, comerciante, deputado provincial, senador, comerciante e empresário do ramo de comércio e navegação. Era proprietário da Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri, criada pra promover o desenvolvimento e colonização do Vale do Mucuri. O empresário foi um dos grandes incentivadores da imigração alemã para a região.
          A terceira colônia alemã fundada em Minas foi a Colônia Dom Pedro II, fundada em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 1858. Foi o empresário Mariano Procópio Ferreira Lage, proprietário da Companhia União e Indústria e um dos grandes incentivadores da vinda de imigrantes alemães para a cidade e região, que fundou a colônia. (na foto acima, a antiga estação ferroviária de Santa Rita de Jacutinga MG, Zona da Mata)
          A empresa foi responsável pela construção da Estrada de Rodagem União Indústria, que ligava Juiz de Fora a Petrópolis no Rio de Janeiro. Foi a primeira estrada pavimentada no Brasil, inaugurada por Dom Pedro II em 1861.
          Sete Lagoas, na Região Central, recebeu também imigrantes alemães, aumentando sua comunidade, formada em 1908, quando foi criada a colônia agrícola João Pinheiro.
          Ainda na Zona da Mata, foi fundada em 1910, na cidade de Astolfo Dutra, a Colônia Santa Maria. Nesse mesmo ano, era fundada em Ouro Fino, no Sul de Minas, a Colônia Inconfidência. Em 1913, a Colônia Guidoval era fundada em São Domingos no Prata, cidade do Médio Piracicaba, vizinha a João Monlevade.
          As últimas colônias de alemães criadas em Minas foram nas cidades de Pouso Alegre no Sul de Minas e em Bom Despacho, no Centro-Oeste Mineiro. Essas colônias de imigrantes alemães foram criadas por Artur Bernardes, presidente do Estado (Governador) de 1918 a 1922 e presidente da República de 1922 a 1926. (na foto acima de Arnaldo Silva, a arquitetura alemã do Posto Roda D´Água na BR-262, km 382, em Juatuba MG, Centro-Oeste de Minas, fundado por Olga Ullmann)
          Bom Despacho, cidade a 150 km de Belo Horizonte, foram criadas duas colônias de imigrantes alemães que contava ainda com famílias húngaros e austríacas. A maioria tinha experiência na área industrial, sendo um dos motivos para a criação as colônias na cidade.
          A primeira colônia criada por Artur Bernardes em Bom Despacho foi a de Álvaro da Silveira, formada próximo a ponte férrea sobre o Rio Lambari, na divisa com Leandro Ferreira, na época, distrito de Pitangui MG. Essa colônia foi criada no entorno da Estação e Armazém da Estrada de Ferro Paracatu, antes da ponte que separa as duas cidades e uma pequena dos colonos forma alojas na outra margem do rio, em Leandro Ferreira/Pitangui.
          No ano seguinte, em 1921, foi criada a Colônia Davi Campista, já nas proximidades do perímetro Urbano da cidade.
Em Pouso Alegre, foi criada no ano de 1924 a Colônia Padre José Bento.
          Os imigrantes recebiam glebas de terras férteis para agricultura e condições para trabalho, além de incentivos para trabalharem nas áreas industriais.
Importância da imigração alemã
          Os descendentes dos imigrantes alemães estão presentes em todas as regiões mineiras, seja em grande número ou menor. A maioria não vive mais em colônias e sim, inseridos na sociedade mineira e brasileira mas sempre deixam um pouco de suas origens na arquitetura, gastronomia, religiosidade, cultura e tradições, onde vivem. (na foto acima do Wilson Fortunato, construção em Sete Lagoas MG)
          A presença dos imigrantes, não só alemães, mas de todos os povos que vieram para o Brasil, foram de grande importância para o crescimento, desenvolvimento econômico e industrial do país.
Minas Gerais e o Brasil deve muito aos imigrantes e devemos reconhecer isso e valorizar a memória dos primeiros imigrantes que vieram para nosso Estado e pais, no século XIX e XX.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Pão de Queijo: 3ª melhor comida de café da manhã do mundo

(Por Arnaldo Silva) Numa eleição com 100 quitutes de café da manhã no mundo, o tradicional Pão de Queijo dos mineiros, iguaria feita com massa de polvilho escaldado, queijo e ovo, ficou na terceira posição com 4,7 de pontuação.
          Ficou atrás apenas do Komplet Lepinja, um pão com creme e ovo, tradicional da Sérvia, país europeu, que ficou na segunda colocação e do Roti Canai, um quitute da Malásia, na Ásia, que lembra muito uma panqueca, feito com massa folheada de farinha, ovos, água e gordura, que levou a primeira colocação atingindo 4,8 pontos. (na foto acima, o Pão de Queijo feito pela Marluce Ferreira de Ipatinga MG)
          A eleição das 100 melhores comidas de café da manhã do mundo foi promovida pela enciclopédia gastronômica Taste Atlas, especializada em avaliação de comidas típicas de todo o mundo. A pontuação máxima era 5, com votação feita por público ligado a gastronomia em todo o mundo, através do site da Taste Atlas (tasteatlas.com). A apuração foi em abril passado, com o resultado divulgado no início de maio de 2023.
Quarto melhor lanche do mundo
          A tradicional receita do Pão de Queijo levou ainda o 4° lugar como o melhor lanche do mundo. Além de muito apreciado no café da manhã, o pão de queijo acompanha recheios com molhos, carnes e frango desfiado, muito apreciados nos lanches da tarde.
O Pão de Queijo
O Pão de Queijo nasceu em Minas Gerais no século XVIII. É uma das mais genuínas comidas do Brasil. Surgiu da necessidade dos portugueses, terem pão, já que na colônia não existia trigo.
          Os índios consumiam a mandioca e com ela faziam farinha. Os negros escravos passaram a fazer o mesmo, ralavam a mandioca, mas também peneiravam os resíduos mais finos da farinha e deixavam secar ao sol. Dessa prática surgiu o polvilho. Ao molhar o polvilho em água quente com gordura, virava uma massa. Essa massa era dividida em punhados, enrolada nas mãos em forma de bola, e assada.
          Era sim que era feito o nosso pão de queijo original, polvilho, água e gordura, em sua origem, no século XVIII. No século XIX, o pão foi ganhando novos ingredientes como os ovos pouco tempo depois, leite e queijo, passando a ser o pão de queijo como conhecemos hoje.
          A tradicional iguaria mineira não se restringe hoje somente à Minas Gerais. Está presente desde o século XX nas mesas de todo o Brasil, popularizada quando Juscelino Kubitschek foi presidente do Brasil.
          Hoje o Pão de Queijo, nascido nas montanhas de Minas, é popular no mundo inteiro, sendo estando agora entre as 3 melhores comidas de café da manhã do planeta.

sexta-feira, 10 de março de 2023

Duas cidades mineiras entre os melhores destinos do país

Por Arnaldo Silva) O site de turismo Melhores Destinos (melhoresdestinos.com.br), o maior site de promoções e conteúdos de viagens do Brasil, divulgou a lista dos 10 melhores destinos brasileiros, escolhidos pelos leitores da plataforma.
          Já na sua 4ª edição, cerca de 15 mil leitores do MD participaram da votação para escolher os 10 melhores destinos de viagens do Brasil, e também do exterior, em 2022. Foram 90 destinos brasileiros citados na pesquisa com voto de cada leitor da plataforma no seu destino preferido, baseado nos critérios de custo-benefício, atrações, receptividade/simpatia, gastronomia e segurança. (na foto acima de Giselle Oliveira, Diamantina MG e abaixo do Deocleciano Mundim, Tiradentes MG)
          Os vencedores recebem uma estatueta com os símbolos que representam os objetivos do site Melhores Destinos, simbolizado por uma lupa, um avião, o marcador de destinos e no centro, um viajante.
          Confira abaixo lista dos 10 dos melhores destinos brasileiros, eleitos pelo site Melhores Destinos:
1° - Chapada Diamantina (Bahia)
2° - Alter do Chão (Santarém/Pará)
3° - Diamantina (Minas Gerais)
4° - Lençóis Maranhense (Maranhão)
5 ° - Jalapão (Tocantins)
6° - João Pessoa (Paraíba)
7° - Península de Maraú (Bahia)
8° - Pomerode (Santa Catarina)
9° - Tiradentes (Minas Gerais)
10°- Urubici (Santa Catarina) 
Duas cidades mineiras na lista
          Entre os 10 melhores destinos eleitos pela plataforma, entre 90 indicados, duas cidades mineiras figuram entre as 10 tops: Diamantina e Tiradentes.
Diamantina
          Pela primeira vez, Diamantina figura na lista do MD e alcançou a terceira colocação.
          A cidade histórica do Vale do Jequitinhonha, distante 290 km de Belo Horizonte e com 48 mil habitantes, é Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco, em 1999. (foto acima da Elvira Nascimento)
          Famosa por ser a terra do Casal João Fernandes de Oliveira e a ex escrava Chica da Silva, Juscelino Kubitschek e das Vesperatas, Diamantina se destaca no turismo nacional por sua arquitetura colonial preservadíssima, suas tradições religiosas, folclóricas e culturais preservadas desde a época do Império, além de sua riqueza gastronômica.
          A arquitetura do antigo Arraial do Tejuco impressiona pela riqueza nos detalhes e a impressionante beleza natural da região, como o paredão da Serra dos Cristais, que emoldura a cidade, principalmente no fim da tarde, quando os raios solares tornam o paredão mais impactante em sua beleza. (na foto acima da Giselle Oliveira, vista parcial de Diamantina MG)
          Além da beleza da cidade, os arredores diamantinenses encantam turistas e visitantes como a Vila de Biribiri, Curralinho, distrito que já foi cenário de filmes e novelas, como a segunda versão da novela Global Irmãos Coragem, suas cachoeiras como a dos Cristais e do Sentinela, dentre outras tantas belezas.
          Em Diamantina, o turista simplesmente volta no tempo e se sente personagem do século XVIII. A cidade é a história vida do Brasil Colônia e Brasil Imperial. Não só isso, no auge do Ciclo do Ouro e Diamante, no século XVIII, o Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, teve a maior lavra de diamantes do mundo. A riqueza dos diamantes permitiu construções coloniais suntuosas, ruas largas e igrejas que simplesmente impressionam pela riqueza dos detalhes, o dourado do ouro e o brilho reluzente dos diamantes em suas ornamentações. (na foto acima do Marcelo Melo, o paredão da Serra dos Cristais em Diamantina e abaixo de Elvira Nascimento, casario e Catedral Metropolitana da Paróquia de Santo Antônio da Sé)
          Por conta de seu acervo arquitetônico, cultural, religioso, histórico e preservação de suas tradições exatamente como nos tempos do Império, pela simpatia, carisma e hospitalidade de seu povo, Diamantina figura entre os 10 melhores destinos de turismo do Brasil.
          Nas notas por quesito, Diamantina obteve a média  8,688 sendo 8,0 no quesito Custo/benefício, 9,2 em atrações, 8,6 em Gastronomia, 9,1 em simpatia, 9,1 e segurança. 
Tiradentes
          Obviamente a pequena Tiradentes, com cerca de 8 mil habitantes e a 190 km distante da Capital e a 15 km de São João Del-Rei MG, nas Vertentes das Gerais, figura na lista. Foi surpresa zero.
          Um dos mais badalados destinos turísticos do Brasil, apontada em 2019 pela Revista Norte Americana de turismo “Departures” como a cidade mais bonita do Brasil se destaca no turismo nacional. Famosa em todo o país por seus festivais, arquitetura colonial preservadíssima e gastronomia. Tiradentes ficou no 9° lugar entre os 10 melhores destinos de viagens do site Melhores Destinos. (na foto acima do Nacip Gômez, Tiradentes MG)
          Um passeio pelas ruas, museus, igrejas e casarões de Tiradentes é voltar no tempo e se emocionar com a beleza e riqueza do Brasil Colonial, em destaque para a matriz de Santo Antônio, a mais rica em ouro de Minas Gerais e seu belíssimo órgão português, do século XVIII (na foto do Robson Gondim) e seu artesanato em madeira bruta, revelando o talento dos artesãos da cidade e região. Sem contar o passeio na famosa Maria Fumaça, os pratos típicos da culinária mineira e os finíssimos vinhos produzidos em Minas Gerais, no Brasil e no mundo, encontrados nas tabernas e restaurantes da cidade, além dos queijos, doces, quitandas e cervejas artesanais produzidos no município.
          A média de votação de Tiradentes avaliadas pelos leitores do MB foi de 8,554 sendo nos quesitos individuais 7,5 em custo/benefício, 8,5 em atrações, 8,7 em Gastronomia, 8,6 em Simpatia, 9,2 e Segurança 9,2.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A história da mártir e beata Isabel Cristina de Barbacena

(Por Arnaldo Silva) A Beata Isabel Cristina Mrad Campos é filha de José Mendes Campos e Helena Mrad Campos. Nascida em Barbacena, Campo das Vertentes, a 172 km de Belo Horizonte, em 29 de julho de 1962, faleceu em Juiz de Fora MG em 1° de setembro de 1982, aos 20 anos de idade.
          Desde 2001, a leiga católica tem o título de Serva de Deus, ano que a Arquidiocese de Mariana MG, deu início seu processo de beatificação, junto ao Vaticano. Em 2009 seus restos mortais foram exumados e levados para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena MG. (Mosaico de fotos do José Roberto de Paula, feito pelo Rogério Salgado, com a Capela, a foto tratada de Isabel Cristina, o quadro e imagem oficial da beata)
          Nesse mesmo ano, no dia do aniversário de sua morte, a fase arquidiocesana de seu processo de beatificação foi concluído e encaminhado à Congregação para a Causa dos Santos do Vaticano. Inclusive, no documento da Arquidiocese, consta todo processo de martírio da Isabel Cristina, sofrido nas mãos de seu algoz.
          Em 27 de outubro de 2020 o Papa Francisco deu parecer positivo, autorizando a promulgação do decreto de reconhecimento oficial das virtudes heroicas de Isabel Cristina in defensum castitatis (em defesa da castidade)
          40 anos após seu martírio, a cerimônia de promulgação da data de beatificação de Isabel Cristina foi autorizada pelo Papa Francisco. Isabel Cristina foi beatificada no dia 10 de dezembro de 2022, em Barbacena MG, sua terra natal. Em casos de martírios, a Santa Sé dispensa a comprovação de um milagre.
          Na beatificação, realizado no Parque de Exposições Senador Bias Fortes, o Papa Francisco foi representado pelo cardeal emérito da de Aparecida/SP, dom Raymundo Damasceno Assis. (fotografia acima de abaixo de @vertentesdasgeraisbq)
          Durante a beatificação, dom Raymundo leu a Carta Apostólica, com a inscrição de Isabel Cristina, entre os beatos, feita pelo Papa Francisco.
Isabel Cristina Mrad Campos
 
          A beata Isabel era uma jovem de estilo de vida normal. Estudava, brincava com as amigas, namorava, passeava, uma típica vida de moça de família do interior mineiro. Era católica e muito religiosa, como sua família. Participava ativamente dos movimentos da Igreja, como por exemplo, os organizados pela Sociedade São Vicente de Paulo. (na fotografia acima do José Roberto de Paula, a imagem da Beata Isabel, em seu antigo túmulo, no Santuário da Piedade. Imagem tratada pelo Rogério Salgado)
          Sonhando em ser médica pediatra, com o objetivo de ajudar crianças carentes, Isabel Cristina mudou-se para Juiz de Fora, na Zona da Mata, a 96 km de Barbacena, para preparar-se para o vestibular de medicina, no início dos anos 1980.
          No dia no dia 1° de setembro de 1982, morando em Juiz de Fora a apenas um mês, requisitou os serviços de Maurílio Almeida Oliveira, para montar os móveis no apartamento que morava com o irmão, Paulo Roberto Mrad Campos, no centro de Juiz de Fora.
Aproveitando da situação de estar sozinho com a moça no apartamento, tentou violentá-la. A jovem resistiu até a morte, lutando contra seu agressor com todas as forças.
          
Diante da resistência da jovem e sem conseguir consumar o ato, agrediu-a com uma cadeira na cabeça, em seguida amarrou, amordaçou e rasgou suas roupas. Mesmo assim, Isabel resistia como podia, sendo por fim atingida com 15 facadas, sendo duas facadas na região vaginal, morrendo de forma violenta, cruel, brutal e impiedosa, em 1° de setembro de 1982, aos 20 anos de idade. Seu algoz foi preso e condenado a 19 anos de prisão. Morreu em 2004.
A imagem oficial da Beata Isabel Cristina
          Isabel Cristina morreu virgem e nesse dia, usava um terço em forma de anel em um de seus dedos. Leiga, fervorosa e dedicada a sua fé, Isabel Cristina deixou um ensinamento importante para as gerações futuras: " é preciso resistir ao mal, custe o que custar". Ela resistiu na defesa de seus valores e de sua fé e isso lhe custou sua vida. (na foto acima e abaixo de @@vertentesdasgeraisbq , a imagem e o quadro oficial da Beata Isabel Cristina)
          No dia de sua beatificação, foi apresentado pela Igreja Católica, o quadro oficial com a imagem de Isabel Cristina
          A imagem oficial da beata, que poderá adornar altares de igrejas e residências, apresenta Isabel Cristina em vestido branco, segurando lírios e palmas com a mão direita, com sua mão esquerda sobre seu peito, evidenciando em seu dedo anelar, o anel-terço. Ao fundo da imagem da mártir, um jardim com 15 rosas brancas representando os 15 golpes de faca que recebeu e as flores tradicionais de Barbacena MG, sua terra natal, cidade conhecida nacionalmente como a Cidade das Rosas.
          Segundo monsenhor Danival Milagres, pároco da paróquia de Nossa Senhora da Piedade “O modo como defendeu sua dignidade motivada pelos valores da sua fé marca a importância deste momento”. Para o monsenhor, a beata Isabel Cristina era "uma jovem de fé e cultivava amor a Maria".
Santificada pelo povo
          A morte violenta de Isabel Cristina chocou e comoveu a toda sociedade mineira na época. Sua história de vida, martírio e sofrimento começou a atrair, muitos fiéis ao seu túmulo em Barbacena MG. (na fotografia acima de @vertentesdasgeraisbq, a missa com as relíquias da Beata Isabel Cristina na Capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria em Barbacena MG)
          
À Isabel Cristina começaram a ser atribuídas graças e milagres através de sua intercessão, o que atraiu e atraí até os dias de hoje, fiéis e devotos ao santuário, onde estavam os restos mortais da beata, para pedir graças e também agradecer as graças alcançadas. A Igreja Católica está confeccionando relíquias feitas com pedaços da roupa de Isabel que serão distribuídas às paróquias e aos fiéis que já conta com hino e oração oficial. 
          Além disso, Isabel seus restos mortais foram transladados para a capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria. Nessa capela, que fica nas proximidades do Santuário de N. S. da Piedade, está agora o túmulo com seus restos mortais. (na foto acima e abaixo do @vertentesdasgeraisbq, a cerimônia de translado dos restos mortais da Beata Isabel Cristina do Santuário da Piedade para a Capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria).
          Além disso, o local contará com um memorial com o acervo de vida da beata, com documentos e fotos, doados por sua família, como podemos ver nas fotos abaixo do José Roberto de Paula, com mosaico feito pelo Rogério Salgado.
          Após a cerimônia de beatificação, seus restos mortais, que estavam em túmulo no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, foram levados pelos fiéis em procissão até a capela dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, onde seu túmulo e restos mortais ficarão. A capela fica no entorno do santuário, na foto abaixo do @vertentesdasgeraisbq.
A Santificação
Após a beatificação, o próximo passo será a canonização, o que a tornará santa. Embora a beatificação seja o último passo para a santificação, trata-se de um processo longo, necessitando da comprovação de um milagre obtido através de intercessão de Isabel e confirmado pela Igreja Católica, após rigorosos estudos religiosos e científicos.
          Com a beatificação da mártir Isabel Cristina, Minas Gerais passa a ter 4 beatos: Padre Eustáquio, Nhá Chica e Padre Victor são beatificados pela Santa Sé. A santificação é feita através de reconhecimento e comprovação pela Santa Sé de um milagre obtido por intercessão do beato. Somente após da comprovação de um milagre, pela Igreja Católica, que o beato é reconhecido como santo.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Novo trem turístico entre Minas e São Paulo

(Por Arnaldo Silva) A Ferrovia Minas e Rio, inaugurada em 1884 pelo Imperador Dom Pedro II, terá parte dos 170 km recuperados e o trem voltará a circular pela histórica ferrovia, para fins de turismo. O trecho a ser recuperado e reativado, ligará a Estação Central de Cruzeiro no Leste de São Paulo à Estação Rufino de Almeida, na zona rural deste município, na divisa com Passa Quatro MG, Sul de Minas. O trecho inicial será de 6 km com projeção de ampliação do trecho entre Cruzeiro/SP e Passa Quatro MG. Entre as duas cidades são 34,5 km de distância.
          Atualmente, apenas 20 km dos 170 km originais da Ferrovia Minas e Rio estão em operação sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). Trata-se do trecho entre o km 24 ao 35, onde opera o Trem da Mantiqueira, em Passa Quatro MG e do km 80 ao 90 do Trem das Águas, entre São Lourenço MG a Soledade de Minas. Em São Sebastião do Rio Verde MG, projeto visa recuperar o trecho férreo que liga a cidade à São Lourenço MG. (na foto acima de Sérgio Mourão/@sergio.mourao, o Trem da Mantiqueira em Passa Quatro, sobre os trilhos da Ferrovia Minas e Rio)
          Os 170 km da ferrovia Minas e Rio ligava diretamente Cruzeiro/SP a Três Corações, no Sul de Minas. A Estrada de Ferro era ligada ao Rio de Janeiro por interconexão ferroviária através da Estrada de Ferro Central do Brasil, Estrada de Ferro Muzambinho e Viação Férrea Sapucaí.
A história da Ferrovia Minas e Rio
          A linha férrea Minas e Rio começou a ser construída em 1881 pela companhia inglesa Waring Brothers. Para a construção, foi criada uma empresa nacional, autorizada pelo Governo Imperial, através do decreto 7.734, de 21 de junho de 1880, com o nome de The Minas and Rio Railway.
          Três anos depois, em 14 de junho de 1884, a Estrada de Ferro Minas e Rio era inaugurada por Dom Pedro II. A viagem Imperial teve inicio na Estação de Passa Quatro MG. Os 135 km de ferrovia entre Passa Quatro MG a Três Corações MG, foram percorridos em 2h.35min a uma velocidade média de 52km/h, recorde para aquela época. (na foto acima, Estação de Cruzeiro SP em 1895. Fotografia de Marc Ferrez/Domínio Público)
          O projeto original da ferrovia iniciava numa estação do Rio de Janeiro, finalizando na Estação Rufino de Almeida, na Zona Rural de Cruzeiro/SP, na divisa com Passa Quatro MG. Em 3 de maio de 1881, foi aprovado uma modificação no traçado estendendo a linha até a Estação Central de  Cruzeiro SP.
          Mesmo a linha férrea passando a ter, a partir dessa época, a estação final na cidade de Cruzeiro SP, manteve-se até os dias de hoje o nome original da ferrovia: Minas e Rio. A recuperação da linha férrea.
Recuperação da linha e previsão de conclusão
         Sob a responsabilidade da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), o trabalho de restauração dos 34,5 km da Ferrovia Minas e Rio já está em andamento, iniciando com a recuperação dos trilhos para que o trem possa operar nos primeiros 6 km do trecho entre a Estação Central de Cruzeiro até a Estação Rufino de Almeida, na Zona rural.
         A conclusão e inauguração da primeira etapa está prevista inicialmente para 2024,podendo se estender para 2025.
         Futuramente, prevê-se a ampliação do trecho até Passa Quatro MG, no Sul de Minas, com o trem passando pelo Túnel da Mantiqueira, na divisa das duas cidades.
Dois trens turísticos na região
          Em Passa Quatro MG circula o Trem Turístico Serra da Mantiqueira, que sai da Estação de Passa Quatro fazendo o percurso até a Estação Coronel Fulgêncio, nas proximidades do Túnel da Mantiqueira. Essa é outra linha que continuará funcionando normalmente, da forma que está.
          O trem turístico que circulará entre Cruzeiro a Estação Rufino de Almeida em São Paulo, na divisa com Minas Gerais,  é outro trem e outro trajeto, embora na mesma região. Ganha o turismo, as cidades envolvidas e os turistas, que terão mais opções de passeios pela história da região e dos dois estados, lazer e cultura.         
A Revolução de 1932
          Essa região, onde operará o novo trem turístico é de grande importância histórica para mineiros e paulistas, por ter sido palco da Revolução de 1932.
          Os paulistas pretendiam, entre outros objetivos, depor Getúlio Vargas e instalar a Assembleia Nacional Constituinte. Com esse objetivo, embarcaram na Estação de Cruzeiro rumo a Três Corações MG e dessa cidade seguiriam em outro trem até o Rio de Janeiro, então capital do Brasil na época.
          Coube a Minas Gerais impedir a pretensão paulista. E conseguiram. A viagem das tropas paulistas foi curta, parou em Passa Quatro MG.
          Liderados pelo 7°Batalhão de Caçadores Mineiros, hoje 7° Batalhão da Polícia Militar, sediado em Bom Despacho MG, o 7°BCM era comandado pelo do Ten. Cel. Fulgêncio, morto em combate, impediu o avanço dos paulistas.
O Túnel da Mantiqueira
          Passa Quatro MG e o Túnel da Mantiqueira foram os campos de batalha dos mais violentos confrontos entre mineiros e paulistas. Iniciado em 9 de julho de 1932, encerrou-se 87 dias depois, após rendição dos paulistas. O acordo para encerrar o conflito foi assinado em Cruzeiro SP. Números oficiais apontam 934 mortos e outras centenas de feridos, de ambos os lados.
          O Túnel da Mantiqueira foi o palco das mais sangrentas batalhas desse conflito. Até hoje, marcas de tiros ainda podem ser vistos no túnel. Esse túnel, inaugurado por Dom Pedro II em 1884, fará parte do trajeto do novo trem. (na foto acima do Paulo Santos, o Túnel da Mantiqueira)
          Além das bucólicas e impressionantes paisagens da Serra da Mantiqueira, o novo trem turístico será de grande valor cultural e histórico para Minas Gerais e São Paulo.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Estudo afirma que café reduz risco de mortes

(Por Arnaldo Silva) Depois da água, o café é a segunda bebida mais consumida no mundo. Não tem como começar a manhã sem o tradicional cafezinho coado. O café seria incompleto. O café anima, alegra e causa bem estar.
          Segundo especialistas, a quantidade ideal de consumido de café, já que a bebida possui alta concentração de cafeína deve ser no máximo até 4,5 xícaras, por dia. Acima disso, superaria a quantidade máxima de 400 mg de cafeína, diária, recomendada. Como consequência o uso exagerado do café pode ocasionar insônias, ansiedade, gastrite, palpitações tremores, dores na cabeça, refluxo gastroesofágico, náuseas e até taquicardia.
          Usando de forma equilibrada e moderara, é ao contrário, o café faz bem e ainda pode reduzir de 16% a 29% a possibilidade de falecimento prematuro. 
          Ao menos é o que afirma um estudo publicado em 31 de maio de 2022, pela Annals of Internal Medicine, uma revista médica publicada pelo American College of Physicians. É uma das revistas médicas mais importantes e influentes do mundo.
O estudo foi feito com 171.616 mil pessoas, com idade entre 37 a 73 anos com média de 56 anos, entre 2009 e 2018 por especialistas do departamento de Epidemiologia da Southern Medical University na China.
          Para efeitos de análise, foi levando em conta a dieta alimentar, estilo de vida, etnia, gênero e outras questões demográficas das pessoas que fizeram parte da pesquisa. No início dos estudos, os participantes apresentaram problemas de saúde como câncer ou cardíacos.
          Os participantes foram divididos entre o grupo que bebia café sem açúcar, outro grupo com adoçante e outro com açúcar, variando a quantidade diária. O estudo foi analisado no final de 2018. Foram 9 anos de estudos de observação.
          Dos 171.616 participantes do estudo, ao final do estudo, constatou-se o óbito de 3.177 dos participantes. Nesse número, o índice de óbitos de quem tomava café, puro, com açúcar ou adoçante, foi muito menor que os que não faziam uso diário de café, com conclusão de que quem faz uso moderado e regular de café, tem menor chance de morte de quem não faz uso da bebia.
          Além disso, o índice de redução de mortes prematuras de quem bebia café sem açúcar, era bem maior que os que bebia café com açúcar.
          Quem bebia até 2,5 xícaras de café por dia tinha uma redução de 16%, na possibilidade de morte prematura e entre 3,5 a 4,5 xícaras de café por dia, o índice subia para 29%.
          O uso de adoçante na bebida não teve uma conclusão definitiva dos pesquisadores devido não apresentar muita influência nesse quesito.
          Além disso, os benefícios do café para a saúde é tema de estudos científicos. Pesquisas não conclusivas demonstram que o uso moderado da bebida ajuda na prevenção do mal de Parkison, do diabetes tipo II, na prevenção do câncer do fígado e outros males.
          Vale ressaltar que esses dados, bem como os estudos sobre os benefícios do café, são estudos de observação, sem conclusão definitiva. Isso porque o estilo de vida das pessoas não são os mesmos e análises concretas devem ter por base possíveis comorbidades e o estilo de vida que a pessoa leva como alimentação, prática de esportes, seus cuidados para com a saúde mental, etc.
          Por isso é bom ter cautela e fazer uso moderado do café como recomenda os próprios cientistas que é entre 3,5 a 4,5 xícaras por dia. Segundo pesquisa do Instituto Axxus, 45% dos brasileiros consomem em média 3 a 5 xícaras de café por dia.
          O estudo completo está disponível no site da revista American College of Physicians (acpjournals.org)
Foto ilustrativa Sitio Pé de Bréu do Ricardo Borges e Wildma Emediato em Alto Caparaó MG

sábado, 7 de maio de 2022

Tacho de cobre é liberado na produção de doces

(Por Arnaldo Silva) A arte de fazer doces é tradição em Minas Gerais desde o século XVIII. Os doces feitos em fogão a lenha, com enormes tachos de cobre e colheres pau, faz parte da vida de centenas de milhares de família mineiras.
          Nas cozinhas das fazendas e quintais mineiros, em fogão a lenha ou a gás, fazer doce é uma tradição que vem de gerações. Minas Gerais é o maior produtor de doces caseiros do Brasil, desde os tempos do Brasil Colônia. (fotografia acima de Arnaldo Silva)
          A partir de 2007, a tradição mineira, de fazer doces em tachos de cobre foi proibida e usar colher de pau também. A proibição teve como base decisão da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), que restringiu o uso desses utensílios na produção de doces.
          Por ser o maior produtor de doces do Brasil, a proibição do uso de tachos de cobre foi um duro golpe, não só na tradição mineira, mas na vida de milhares de produtores que dependem da iguaria para sobreviverem. O resultado foi a diminuição na produção de doces artesanais.
Argumentos da Anvisa
          Segundo argumentos da Anvisa, com o movimento da colher de pau, o cobre solta-se durante o cozimento, ao longo do uso. Com o longo tempo de cozimento e a forma de misturar usando a colher de pau, faz com que o metal se desprenda e se misture ao doce.
          Como consequência, o cobre presente no alimento pode causar danos neurológicos ao organismo, além de problemas no fígado, rins, sistema nervoso, ossos, além de provocar perda de glóbulos vermelhos, segundo a Anvisa.
          A recomendação da Anvisa virou lei em 2007, cumprida pelos órgãos sanitários mineiros, como a Vigilância Sanitária Estadual (Visa).
          Pela lei, os doceiros não podiam usar o tacho de cobre e se usar, tinham que revestir o tacho com outras substâncias que impedissem que o cobre se misturasse ao doce. O que era inviável para a maioria dos doceiros, devido o aumento do custo.
          Fazer doces em tacho de cobre, usando colher de pau é mais que tradição. Esses utensílios, com o leite e talento dos doceiros, formam um conjunto que dão cor, sabor e originalidade aos doces. Em tachos e colheres de inox, o metal mais recomendado atualmente na produção industrial, o sabor e a cor do doce não os mesmos. Perde-se com isso a tradição e a originalidade dos doces.
          A partir dessa época, os doceiros começaram a se unir, devido a controvérsias dos argumentos da Anvisa para recomendar a proibição dos tachos de cobre e colher de pau e comprovar que a lei é injusta. E conseguiram!
Contra-argumentos
          Além de fazer parte da tradição mineira, o cobre tem a preferência dos mineiros na produção doceira por ser mais barato que o inox e por ser uma excelente fonte de distribuição de calor, além de preservar o sabor e a cor original do doce.
          Isso porque o metal inativa as enzimas que modificam cor e sabor das frutas usadas na produção do doce. No tacho de inox é ao contrário, o doce perde a cor original, além do sabor não ser o natural. Por isso a opção pelo tacho de cobre.
          Além disso, o cobre é eficaz contra a proliferação de fungos, bactérias e de vírus, segundo afirmou a engenheira química, mestre em alimentos e doutora em Bioquímica, Amazile Biagioni Maia, durante audiência pública que discutia a proibição do tacho de cobre, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
          Ainda segundo a especialista, A FDA - Food and Drug Administration (agência americana que controla alimentos e medicamentos) o índice máximo de consumo diário de cobre é de 1 mg, isentando de risco até 10 vezes maior que esse número diário, afirmando que doces feitos em tachos de cobre não atingem esse limite diário.
Liberado o uso dos tachos
          Desde 3 de maio de 2001 que a lei de 2007 foi flexibilizada, permitindo o uso dos utensílios de cobre na produção de doces, sem revestimento, a critério das autoridades sanitárias municipais.
          Em 3/05/2022, em audiência na Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) foi confirmado pela própria Vigilância Sanitária Estadual (Visa) a liberação dos tachos de cobre e o uso da colher de pau na produção de doces mineiros, com recomendação do uso de boas práticas de higiene.
          O produtor de doces, segundo a Visa, deve manter o local da produção bem limpo e arejado, bem como todos os utensílios usados, higienizados corretamente.
          Visando conscientização sobre as boas práticas na produção de doces, os doceiros mineiros terão orientação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), para adequarem suas docerias às normas sanitárias.
           A liberação do tacho de cobre e o uso da colher de pau na produção d doces é uma vitória da tradição e da mineiridade. Com isso, os doceiros mineiros podem voltar a produzir seus doces da mesma forma que há 200 anos, no fogão a lenha, em tachos de cobre e usando colher de pau, mas de forma consciente, respeitando as normas sanitárias. (na foto acima de Arnaldo Silva, Dona Doquinha, tradicional doceira de São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto MG)
          É o resgate da originalidade da cozinha mineira e dos fazeres, sabores e saberes tradicionais das origens gastronômicas mineiras.

terça-feira, 12 de abril de 2022

Quintadas: O cheiro e o sabor de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Quitanda é uma palavra muito popular no Brasil. Sua origem é do dialeto africano “quimbundo” e passou a ser conhecida e usada no Brasil através dos escravos. A escrita original é Kitanda, com k, mas com as mudanças da língua portuguesa ao longo dos séculos, ficou quitanda com q. (fotografia abaixo de quitandas feitas por Lourdinha Vieira em Bom Despacho MG)
Definição de quitanda
          As escravas faziam bolos, biscoitos e doces, colocavam em um tabuleiro e ficavam nas esquinas das cidades, vendendo seus produtos, a mando de seus senhores.
          Alguns comerciantes portugueses, de pequenas mercearias e armazéns, as famosas vendas vendiam de tudo ou quase tudo. Inspirados nos tabuleiros das escravas, passaram a colocar tabuleiros com doces, queijos, bolos e biscoitos em suas vendas. 
          Com as guloseimas nos tabuleiros, as antigas vendas passaram a ser completas, a venderem de tudo. (na foto acima de Arnaldo Silva/@arnaldosilva_oficial, uma tradicional venda do século passado em Bom Despacho MG)
          É assim, para maior parte do Brasil, uma quitanda é um local onde se vende frutas, verduras, legumes, ovos, bolos, doces, queijos, etc. Apenas em um estado brasileiro, quitanda tem outro significado. É Minas Gerais. (fotografia abaixo de Edson Antônio em Tiradentes MG)
Quitanda para os mineiros
          Para os mineiros, quitanda são guloseimas feitas com polvilho, fubá ou farinha de trigo, como biscoitos, bolos, roscas, além de doces, feitos em casa. 
          Ou seja, quitanda, em Minas Gerais, é tudo que sai dos tachos, fogões e fornos das cozinhas mineiras. São servidas em tabuleiros ou potes e sempre acompanhadas de café. (fotografia acima e abaixo de Alexa Silva/@alexa.r.silva em Jaboticatubas MG)
          É assim desde o século XVIII, com as quitadas sempre presentes nas cozinhas mineiras, isso porque, quitandas foram feitas para acompanharem o café. 
          Quitanda e café é a combinação mais antiga de Minas Gerais. São dezenas de quitandas diferentes, com centenas de receitas diferentes. A maioria dessas receitas, passadas de geração para geração. São mais de 300 anos de tradição culinária mineira. (fotografia acima de Edson Santos em Felício dos Santos MG)
          Se formos definir Minas Gerais pelo cheiro e sabor, podemos dizer que o cheiro e o sabor de Minas, é o suave cheiro de uma quitanda assando. (na foto acima de Elvira Nascimento, biscoito de queijo assado no forno em Açucena MG)
          Já o som de Minas Gerais é o tilintar das chamas ardendo no fogão a lenha e fornos de barro, que sai das chaminés de nossas cozinhas. (fotografia acima de Luís Leite em Vargem Bonita MG)
          Seja um bolo de fubá ou uma broa, assando na brasa, um tabuleiro biscoito de queijo ou de pão de queijo assando, o tilintar das borbulhas do doce de leite ou de goiaba no tacho de cobre ou mesmo, os biscoitos fritando na frigideira no fogão a lenha. (na foto acima quitandas diversas feitas por Lourdinha Vieira em Bom Despacho MG)
          Quitanda é o cheiro, o sabor e o gostinho de Minas em nossa mesa. É a identidade gastronômica mineira e ainda responsável por transformar as cozinhas mineiras no principal lugar da casa. (fotografia acima de Alexa Silva/@alexa.r.silva em Jaboticatubas MG)
          A sala de visitas de mineiro é a cozinha. Nas autênticas cozinhas mineiras, tem quitandas caseiras.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Noiva do Cordeiro: a vila das mulheres

(Por Arnaldo Silva) Noiva do Cordeiro é distrito da cidade de Belo Vale, no Vale do Paraopeba. A cidade está a 82 km de Belo Horizonte e Noiva do Cordeiro a 17 km distante de Belo Vale.
História
          A história de Noiva do Cordeiro começa a partir de 1890, no século XIX, quando Maria Senhorinha de Lima, nascida em Casa Branca, distrito de Belo Vale, foi forçada por seu pai a casar-se com Arthur Pierre. Mas o grande amor de Maria Senhorinha era Francisco Fernandes, morador do distrito de Roças Novas.
          Mesmo casada, mantinha relacionamento com seu antigo amor. Quando se descobriu grávida de Chico Fernandes, como era chamado, decidiu abandonar seu casamento e viver com seu amante.
          O ato de Maria Senhorinha de Lima foi um escândalo na época, considerado uma afronta aos preceitos religiosos católicos. Era uma época de rígidas normas religiosas e sociais e de extremo preconceito para quem ousasse desafiar tais normas.
          Maria Senhorinha de Lima foi excomungada, bem como sua descendência até a quarta geração amaldiçoada, pelo padre Jacinto, da paróquia local. Sem contar a reação de sua família, que não escondeu a excomunhão de Senhorinha de Lima e a atitude do casal, fazendo questão de tornar o fato público. Isso gerou ações de extremo preconceito e hostilidades ao casal, por parte dos moradores da região.
          O casal optou em viver em Roças Novas, mas chegando ao local, foram hostilizados pelos moradores. Chico Fernandes tinha terreno, herdado de seu pai e para lá foi com Senhorinha.
O velho e o novo casarão
          Chico e Senhorinha passaram a viver de forma isolada, longe da sociedade, nas terras herdadas por Chico, no mesmo lugar que está hoje a comunidade de Noiva do Cordeiro.
          Construíram sua moradia e nesse local formaram uma família de 12 filhos.
          Os filhos de Chico e Senhorinha cresceram, formaram novas famílias. A comunidade crescia e o casarão também. Mesmo quem viesse de outras localidades, eram acolhidos e ficavam. Com o tempo, se transformaram em uma grande família, vivendo num só lugar.
          A antiga casa construída pelo casal já não comportava mais tanta gente. Um outro casarão foi construído, com dois pavimentos, mais cômodos, salas grandes, cozinha enorme e muitos quartos. Esse casarão é chamado pelos moradores de Noiva do Cordeiro de “Casa Mãe”. É nesse casarão que a comunidade se reúne e faz suas refeições. Além de ser a casa de várias famílias atualmente, foi a casa de praticamente toda a comunidade, em décadas passadas.
          A antiga casa que viveu o casal Chico e Senhorinha foi reformada e nela atualmente, vivem duas famílias. Além desta casa e da “Casa Mãe”, atualmente toda a comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por 85 casas.
          Francisco Fernandes e Maria Senhorinha de Lima foram sepultados no cemitério do distrito de Santana em Belo Vale MG, ao lado da Igreja de Santana.
Isolamento, preconceito e discriminação
          Mesmo vivendo isolados e distante da sociedade, o casal, bem como seus filhos, continuaram a serem vítimas de hostilidades, preconceitos e discriminações. As mulheres que viviam no casarão, eram tidas como prostitutas e adúlteras pela sociedade, e o lugar não era bem visto na região.
          A sociedade não perdoava o adultério de Senhorinha, além das consequências morais e sociais impostas pela excomunhão e maldição por 4 gerações, que o casal sofreu.
          Chico e Senhorinha e seus descendentes sofreram um violento lacre social, principalmente nas primeiras décadas do século XX. Fruto de uma sociedade que julga, condena e discrimina, tendo como base preceitos de puritanismo religioso e social.
          As mulheres de Noiva do Cordeiro eram difamadas, maltratadas e discriminadas pela sociedade e não conseguiam trabalho. Eram isoladas socialmente.
          A vida era dura naqueles tempos, muito difícil. O casarão abrigava todas a mulheres solteiras e não solteiras. As que tinham um companheiro, conheceram seu par na própria comunidade.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família e ao longo do tempo, outras pessoas foram acolhidas pela comunidade, a maioria tem algum tipo de parentesco entre si, mesmo que bem distante.
          Viver no casarão, compartilhar e dividir o que tinham, era a forma que encontraram para sobreviverem à solidão e o isolamento. No casarão, tudo era compartilhado e dividido entre todos.
          As mulheres trabalhavam duro na roça. Plantar e colher era a única forma que encontraram para sobreviverem à fome. Plantavam para comer, comia do que plantavam.
Porque Noiva do Cordeiro?
          Noiva do Cordeiro é um termo bíblico. O cordeiro simboliza Cristo e noiva, a Igreja. É o que tira o pecado do mundo. Soa contraditório uma comunidade ter sido formada a partir da excomunhão de Chico e Senhorinha de Lima, ter o nome religioso de Noiva do Cordeiro.
          A história do nome começa a partir da década de 1950, quando chega à comunidade, Anísio Pereira, pastor evangélico. O pastor ficou na comunidade, fundou uma igreja denominada Noiva do Cordeiro e por fim, casou-se com Delina Fernandes, nascida em 25 de agosto de 1944. Na época, Anísio Pereira tinha 43 anos e Delina, apenas 16. O casal teve 15 filhos.
          Pastor Anísio Pereira deu início a um processo de conversão de todos da comunidade e mudança radical no comportamento social e religioso das mulheres.
          Os cultos eram realizados no próprio casarão. A comunidade passou a ser conhecida por Noiva do Cordeiro.
          O porque que Anísio Pereira escolheu esse nome, é mistério, embora obviamente, a noiva de Cristo é a igreja. Ou seja, cada pessoa que se arrepende de seus pecados, aceita Jesus como seu salvador e se converte, passa a fazer parte da Igreja.
          Segundo a fé Cristã, é Jesus quem tira os pecados do mundo e salva o pecador. A noiva é a igreja se preparando para o casamento com o cordeiro, o Cristo, segundo a cristandade.
          Baseado em suas crenças, o pastor criou regras rígidas como orações diárias e longas, jejuns constantes e até castigos públicos. Proibiu ainda, entre outras coisas, bebidas alcoólicas, música, cigarros, cortar os cabelos e considerava um pecado gravíssimo o uso de qualquer tipo de contraceptivos. Dai a explicação para as famílias com grande número de filhos, nessa época.
          O fato de a comunidade ter uma igreja evangélica, aumentou mais ainda o preconceito da sociedade local, majoritariamente católica, contra as mulheres de Noiva do Cordeiro.
O fim da liderança de Anísio Pereira
          Por desconhecer ou não entender a vocação feminista e o espírito de luta das mulheres da comunidade, pastor Anísio foi perdendo força e influência. Tudo que elas faziam era considerado pecado, até que uma de suas filhas, Rosalee Fernandes Pereira, casada desde os 16 anos e aos 21, já com 3 filhas, decidiu contrariar as ordens do pai.
          Rosalee, escondida do pai e do próprio marido, liderou um grupo de mulheres da comunidade e se submeteram à cirurgia de laqueadura. Começa a partir desse ato o início do fim da liderança e domínio do pastor sobre a comunidade.
          Já idoso e desacreditado pela comunidade, pastor Anísio faleceu em 1995. Os dogmas e rígidos preceitos religiosos aplicados pelo pastor, foram sendo abandonados pela comunidade. Resta hoje apenas o nome, Noiva do Cordeiro, que permaneceu como nome da comunidade.
          Mesmo passando mais de um século após a fuga de Senhorinha e Chico, o preconceito e hostilidades da sociedade, continuaram. Se antes o casarão era mal falado e considerado abrigo de adúlteros e prostitutas, passou a ser chamado, após a morte do pastor Anísio de “morada do diabo”.
Delina Fernandes
          Com a morte de Anísio Pereira, sua viúva, Delina, assumiu a condição de líder da comunidade, bem como a propriedade do casarão e de toda a gleba, formada por 41 hectares.
          A comunidade, principalmente os jovens, começaram a experimentar o sabor da liberdade que nunca tiveram, como cortes diferentes no cabelo, roupas justas, maquiagens, além de experimentar o cigarro e o álcool. Tudo que era proibido, durante a vigência da liderança do pastor Anísio, começaram a experimentar.
          Delina assumiu a liderança da comunidade e buscou orientar os jovens, principalmente. Conseguiu conscientizá-los que o caminho que estavam indo não era o ideal, além de ser prejudicial à vida família, provocar atritos e dividir a comunidade.
          Fez questão de mostrar que, apesar da falta de liberdade nos anos de vida religiosa a que foram submetidos, a vida em comunidade, o amor ao próximo e a união, foram positivas para o fortalecimento de Noiva do Cordeiro. Que deviam ser livres sim, mas com responsabilidade
          Além disso, mostrou aos que excediam, que a comunidade podia aproveitar a liberdade que conquistaram e solidificar o amor, a união e o respeito que todos tinham entre si. Delina queria transformar a liberdade que passaram a ter em algo bom, para toda a comunidade. E conseguiu!
          Todos da comunidade são livres para viverem a vida conforme se sintam bem, mas longe de más companhias e das consequências do vício. Hoje, todos usam suas liberdades em prol da comunidade, da família, do respeito e união.
A Grande Mãe
          Delina, hoje com 77 anos, viveu, sentiu e presenciou todo o preconceito e discriminação sofridas por seus avós, pais, filhos e netos. As gerações mais novas, sabem da história de Noiva do Cordeiro e todo o sofrimento que as primeiras gerações passaram através da vida e memória de sua matriarca.
          Sua capacidade, equilíbrio, consciência, experiência, sabedoria e conhecimento da história de seus antepassados, fez de Delina, mestre, guru, líder e a “Grande Mãe” de Noiva do Cordeiro.
          Foi Delina a responsável pela união das mulheres de Noiva do Cordeiro. É a espinha dorsal da comunidade, a mãe de todos. Até mesmo quem não tem parentesco com Delina, a chama de mãe, tamanho o respeito e liderança da matriarca.
          Delina criou regras de convivência, comportamento e defesa das mulheres do povoado com base na união e respeito mútuo, sem imposições. “Todos são por um, e um é por todos”, essa era sua filosofia e a que rege a comunidade atualmente.
          Delina conseguiu unir todas as mulheres e homens da comunidade em torno de sua filosofia, formando com isso uma comunidade sólida e unida.
A união que fortalece
          Com o tempo, os papéis de todos começaram a serem definidos. As mulheres cuidavam dos afazeres do casarão e da lavoura e os homens buscaram trabalhos fora, para garantir a subsistência de suas famílias e comunidades. As mulheres foram cuidar das terras e os homens, partiram em busca de trabalhos na indústria de mineração e outros segmentos, em outras cidades.
          De todo o rigor imposto pelo pastor Anísio, Delina reconhece que o pastor ensinou à comunidade sobre o que é o amor e a importância da união de todos. Mas concluiu que não precisa passar fome, frio e fazer sacrifícios para se tornar filha de Deus. Por isso, continuou a reunir a comunidade e fortalecer a união de todos.
          Deus está presente no coração e vida das famílias de Noiva do Cordeiro, mas não em templos de paredes e sim em seus corações, que consideram morada de Deus.
          Creem e temem a Deus, respeitam a todas as doutrinas religiosas, mas não veem necessidade de uma religião, para ter fé em Deus, manifestar amor ao próximo e viver em harmonia. Vivem o amor em família, ao próximo e o respeito, pois acreditam ser que é a base da fé em Deus.
          São conscientes de sua história e da experiência de terem convivido, há mais de um século com preconceitos, difamações, calúnias, fofocas e humilhações. A dor depura a alma, fortalece o coração e o discernimento. Isso tudo se transforma em um aprendizado e experiência de vida, que passa de geração por geração.
Vila das mulheres
          Embora a comunidade de Noiva do Cordeiro seja formada por mulheres e homens, praticamente em proporções iguais. São 45% são mulheres, 40% homens e 15%, crianças. Mas o que mais se vê na comunidade são mulheres. Isso dá a impressão de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade só de mulheres.
          Os homens não são vistos sempre na comunidade, por um motivo muito simples. Não tem emprego na comunidade e para conseguir o sustento de suas famílias, tem que ir para outras cidades em busca de trabalho.
          Os homens de Noiva do Cordeiro trabalham em empresas de mineração da região e em outras cidades, como em Horizonte. Só retornam à comunidade nos fins de semana ou em dias de folga, para ficarem com suas famílias. Durante a semana, somente mulheres, crianças e adolescentes ficam em Noiva do Cordeiro.
Uma grande família
          A vida em Noiva do Cordeiro, é desde sua formação, em torno do casarão. A comunidade de Noiva do Cordeiro é formada por cerca de 420 pessoas. Atualmente, são cerca de 90 famílias, formando uma comunidade de cerca de 300 pessoas. Estima-se que mais ou menos 120 pessoas com origens na comunidade, vivam em outras cidades de Minas e até em outros estados.
          Como Noiva do Cordeiro foi formada por uma família, que ao longo do tempo acolheu outras pessoas que passaram a residir na comunidade, todos de Noiva do Cordeiro, de alguma forma, tem algum grau de parentesco, mesmo que bem distante.
Trabalho em comunidade
          O dia a dia de trabalho em Noiva do Cordeiro é muito bem organizado. Trabalharam em forma de mutirão. As mulheres exercem as funções de acordo com suas vocações.
          Quem gosta de cuidar da lavoura, vai para a lavoura. Quem gosta de cozinhar e arrumar a casa, exerce essas funções. Quem prefere educar as crianças na escola da vila, dá aulas. Quem prefere trabalhar na fábrica, com artesanato, vai fazer o que gosta.
          A vida é em comunidade, mas todas são donas de si e suas escolhas e gostos são respeitados. A ninguém é imposto nada.
          A exceção é pela faixa etária. Evita-se ao máximo pessoas de mais idade, seja homem ou mulher, exercer atividades na lavoura, que é um trabalho mais pesado. Os mais velhos fazem trabalhos mais leves, como por exemplo, na fábrica de confecções. 
          Caso os idosos da comunidade não tenham condições de trabalhar, ajudam com parte de suas aposentadorias quando alguém precisa comprar remédios, viajar para fazer consultas e outras necessidades. Todos se ajudam de alguma forma. Ninguém fica desamparado em nada na comunidade.
Mulheres belas e vistosas
          Jovens, entre 20 e 35 anos, as mulheres de Noiva do Cordeiro são belas e vistosas e não tem dia ruim para o trabalho. Seja com sol, chuva ou frio, seguem para o trabalho do dia a dia com um sorriso no rosto.
          É assim desde o começo. Vão para o trabalho juntas e retornam juntas. Colhem o que plantam, comem do que colhem.
Trabalho na roça e na fábrica
          O dia começa antes do amanhecer do sol com o tilintar das brasas no fogão a lenha do velho casarão. É o café da manhã sendo preparado. Após a refeição da manhã, seguem para o trabalho, todas juntas.
          O trabalho na roça e na comunidade é dividido e organizado em forma de cooperativa. Uma parte das mulheres ordenham, alimentam os porcos e cuidam das galinhas. Outras aram a terra, capinam e cortam lenha. Outras trabalham na lavoura, plantando arroz, feijão, milho, mexerica, café, mandioca e hortaliças em geral.
          Quando podem, os homens da comunidade também ajudam nos serviços da roça, como na capina.
          Outra parte fica na comunidade cuidando dos filhos, fazendo produtos de limpeza e outras na pequena fábrica de roupas, tapetes e colchas. Boa parte da matéria prima da fábrica vem de doação como retalhos, que possam ser reaproveitados na produção de roupas e adereços de acordo com a necessidade da comunidade e demanda comercial.
           As peças feitas na fábrica, tem hoje um bom mercado, mas o começo não foi fácil. Tentaram inicialmente vender a produção da fábrica em Belo Vale e comunidades rurais, mas as vendas eram pequenas.
          Mesmo assim, não desanimaram. Pegaram a produção da fábrica e foram para Belo Horizonte, oferecendo seus produtos de porta em porta.
          Hoje, uma parte da produção da fábrica é vendida na própria comunidade para turistas e visitantes, que sempre vem à Noiva do Cordeiro. Outra parte da produção é vendida em feiras e exposições de artesanato em várias cidades mineiras. Uma parte da produção agrícola fica na própria comunidade, outra parte, é vendida para a Ceasa de Belo Horizonte.
          As máquinas da pequena fábrica só param na época da colheita quando todas se juntam e vão para roça.
A comunidade de todos
          Com o dinheiro da venda da produção agrícola, da fábrica e juntando com o dinheiro que os homens da comunidade, doam, conseguem comprar sementes, bois, porcos, galinhas, ferramentas, além de ajudar em tratamentos médicos, reforma de casas, transporte dos moradores para outras localidades, caso necessitem, etc.
          Além disso, com esse dinheiro, compram matérias primas para a pequena fábrica e ainda, investem em melhorias na comunidade, além de manter as despesas da “Casa Mãe”, que são muito grandes.
          Todo o serviço comunitário é voltado para o sustento de todas as famílias da comunidade. Trabalham muito, mas não ao ponto de levantarem 4 da manhã e só retornarem no fim da tarde. Não são escravas do serviço. Isso porque trabalham em comunidade, em mutirão. Assim, o trabalho rende mais, é feito em menos tempo e se torna menos cansativo. Não trabalham para enriquecer e sim para terem o necessário e manter a qualidade de vida de todos da comunidade.
          Embora ninguém em Noiva do Cordeira seja rico, todos vivem na fartura, com conforto, segurança e tranquilidade.
          Em horas de folga, boa parte das mulheres da vila fazem pequenos trabalhos, como cigarro de palha, artesanato, ou seja, cada uma encontra uma forma de ganhar um dinheiro extra para comprar coisas pessoais como por exemplo, produtos de beleza, uma roupa nova, um celular melhor, fazer um passeio, etc.
          Quando alguém da comunidade quer algo e não tem condições financeiras para conseguir, todos ajudam, fazendo vaquinha.
          O foco da vida em Noiva do Cordeiro não é o dinheiro e sim no bem estar de todos e preservação vida em comunidade, da união, fraternidade, amor e respeito ao próximo.
          O trabalho em comunidade de Noiva do Cordeiro é um trabalho coletivo para o bem de todos, seguindo a filosofia da matriarca Delina: “Todos são por um, e um é por todos”
Lazer, diversão e o Sábado da Viola
          O maior lazer dos moradores de Noiva do Cordeiro é o prazer em estarem todos juntos, seja nas refeições, no trabalho da roça e nas horas de descanso. A maior diversão e alegria em Noiva do Cordeiro é o convívio saudável em família.
          Mulheres e homens da Vila, tem talentos natos para a música, artes cênicas e dança. Todos os sábados, no grande salão da Casa Mãe, acontece o sábado da Viola com a presença de toda a comunidade.
          São apresentações artísticas feitas pelos próprios moradores em apresentações solo, em duplas, como a dupla sertaneja Márcio e Maciel que compõem inspirados na história de Noiva do Cordeiro ou em grupos, como o grupo da Keyla Gaga (cover de Lady Gaga).
          Além disso, durante o Sábado da Viola, tem apresentações do grupo de teatro Quinta Geração, o Coral da Noiva e outras atividades culturais.
          É uma diversão para todas as idades e envolve toda a comunidade, além ser um momento de manifestação da união de Noiva do Cordeiro. Após as apresentações, alguns moradores sobem no palco para agradecer algo ou mesmo, se desculpar por algo que tenha feito.
          O Sábado do Viola é um momento de cultura, diversão e lazer, mas também de fortalecer a união, amizade e sentimento de amor e respeito que todos tem uns pelos outros.
O mundo e o Brasil descobre Noiva do Cordeiro
          No século XX, a história de Noiva do Cordeiro, era pouco conhecida em Minas e no Brasil. No século XXI, foi diferente.
          A epopeia de Noiva do Cordeiro despertou interesse da imprensa, com a comunidade e sua história se tornando conhecida, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
          O canal de televisão por assinaturas, GNT, foi o primeiro veículo de comunicação da documentar e tornar conhecida em todo o Brasil, a história de Noiva do Cordeiro. Mas foi no ano de 2014, que a epopeia de Noiva do Cordeiro ganhou os holofotes nacionais e internacionais, de forma mais contundente.
          De uma hora para outra, Noiva do Cordeiro virou notícia mundial através de reportagens de sites jornalísticos britânicos, alemães, americanos, turcos, tailandeses e chineses. Esses sites divulgaram matérias com um tema totalmente fora da realidade de Noiva do Cordeiro, apresentando a comunidade como terra de mulheres solteiras, para casamento.
          Nas reportagens dos sites de notícias estrangeiros, o vilarejo era mostrado como terra de mulheres solteiras em busca de casamentos. “Alerta aos solteiros: jovens de comunidade no Brasil estão em busca de homens’, era a manchete de um site. Em outro, a manchete era: “Cidade brasileira faz apelo aos solteiros.”. Até o Telegraph, de Londres entrou na história, com o título de sua matéria: “O vale das beldades brasileiras espera solteiros”.
          O erro das manchetes e reportagens, claro, causou enorme alvoroço na comunidade e perplexidade entre os mineiros.
          Além disso, as reportagens despertaram o interesse de vários homens solteiros de vários países do mundo, que acreditando na história, se interessaram em conhecer as mulheres solteiras de Noiva do Cordeiro. Foram vários homens, de vários países que vieram até Noiva do Cordeiro em busca de casamento.
          Com o tempo, a situação foi esclarecida através de informações corretas aos estrangeiros que apareceram na comunidade e à imprensa.
          Os estrangeiros e a imprensa de modo geral, conheceram melhor a história e a forma de vida das mulheres, bem como a história da comunidade. E ainda, que as mulheres da vila não estavam em busca de casamentos, e muito menos, desesperadas para casar, como mostravam às reportagens de jornais estrangeiros.
          O positivo nas matérias dos sites de notícias internacionais na comunidade foi o temor dos homens de Noiva do Cordeiro que não estavam levando muito a sério os namoros com as mulheres da comunidade. Trataram de assumir logo a relação, temendo perder suas namoradas para homens estrangeiros. O resultado foi o afloramento do amor entre os casais de Nova do Cordeiro e a solidificação de muitas uniões.
A epopeia de Noiva do Cordeiro na grande mídia
          Outro ponto positivo das reportagens internacionais foi que Noiva do Cordeiro se tornou conhecida não só no mundo, mas no Brasil e em Minas Gerais.
          A partir das reportagens internacionais, a imprensa brasileira se interessou mais à fundo Noiva do Cordeiro, bem como outros veículos de comunicação internacionais.
          Diversas emissoras de tv´s, jornais e revistas de Minas Gerais, do Brasil e de todo o mundo, já mostraram a história de Noiva do Cordeiro, bem como apresentadores de programas de TVs regionais e nacionais, além de Fernando Gabeira, que foi à Noiva do Cordeiro para fazer um documentário sobre a história da Comunidade, dentre outros tantos.
Estilo de vida únicos no mundo
          A presença de veículos de comunicação nacionais e internacionais, bem como de turistas brasileiros e de vários países do mundo, fez a comunidade entender que o estilo de vida da comunidade era diferente do restante do Brasil.
          Em Noiva do Cordeiro se vive em família, com foco no amor, na fraternidade, na solidariedade, na vida em comunidade e na busca de se tornarem pessoas melhores, a cada dia.
          É um ajudando o outro e todos trabalhando para todos. Perceberam com isso a diferença da vida na comunidade para o estilo de vida do restante do Brasil e do mundo. Não há a busca desenfreada por enriquecimento e individualidade, tradicional na sociedade capitalista que vivemos.
          Vivem de forma diferente e são felizes assim. Perceberam que eram diferentes e que a comunidade em que viviam era um lar familiar, um lugar onde são felizes e se sentem seguras.
          A forma de vida em Noiva do Cordeiro é única no Brasil. Foi um processo que surgiu naturalmente, ao longo de mais um século, para se protegerem da fome, do preconceito, da discriminação e solidão.
Exposição positiva
          Toda a exposição da mídia, ao longo dos últimos anos, foi muito importante para a comunidade, pois tiveram contato com a imprensa e pessoas de diferentes culturais, línguas e histórias de todo o mundo.
          Foi um aprendizado, que ajudou a comunidade a evoluir humanamente. Em Noiva do Cordeiro se valoriza o ser humano e não os bens materiais. Com tudo isso, aprenderam a dar mais valor ainda à comunidade e ao estilo de vida que viviam.
          É uma comunidade única no mundo. Todos são desapegados dos sonhos de consumo do capitalismo. Vivem o amor, a fraternidade, a amizade, o respeito ao próximo, a união entre todos e a vida em família.
Noiva do Cordeiro pelo mudo
          Foram inúmeros convites para cursos, palestras, estudos e viagens pelos Brasil e vários países do mundo. A convivência com pessoas de outras culturas foi muito importante para a comunidade, pelo conhecimento adquirido, pela maior evolução humana, principalmente, por entenderem o grande exemplo e valores humanos de Noiva do Cordeiro.
          Um fato importante a destacar é que mesmo com o convívio com outras culturas em viagens pelo Brasil e vários países do mundo, buscaram aprender e conhecer os estilos de vida diferentes do que vivem, com o objetivo de evoluírem humanamente. Em momento algum mostraram interesse em evolução material.
          As belas mulheres que cantam, dançam, interpretam, continuam na lida na roça, na fábrica, vivendo na comunidade e vivendo a vida em família, onde se sentem segura, protegidas e são felizes. Buscam sempre seguir o conselho da matriarca, Delina, que é sempre buscar ser melhor a cada dia.
Talento artístico para o mundo
          Com a exposição na mídia, o talento artístico da comunidade tornou-se conhecido com os grupos da comunidade, principalmente da banda de Keyla Gaga (a cover de Lady Gaga), se apresentando em eventos e mega eventos por Minas e outras cidades brasileiras, além da banda ser conhecida também em outros países, através de vídeos e reportagens diversas.
          Isso fez com que a comunidade e os artistas tivessem mais contato com a internet, entenderem sobre organização de shows, eventos, além de conhecerem as tendências musicais e outros idiomas. Foi um aprendizado profissional, que levou maior aprimoramento dos artistas de Noiva do Cordeiro.
          Com isso, os shows artísticos dos grupos de Noiva do Cordeiro, estão no mesmo nível dos grandes shows, de artistas famosos.
Estrutura para turistas
          Em Noiva do Cordeiro todo visitante e turista é bem-vindo e são recebidos com muito calor humano e alegria pela comunidade.
Não tem pousada e nem restaurante. Normalmente os turistas vem e voltam no mesmo dia. Caso alguém queira ficar, são recebidos nas casas das famílias da Vila, que preparam os quartos da casa, o café da manhã, bem como o almoço.
          Para atender às necessidades da comunidade, foi criada uma loja com produtos de beleza, bijuterias, calçados, etc. Isso evita que os moradores tenham que se deslocarem para a cidade grande para comprarem esses itens. O turista pode adquirir ainda os trabalhos feitos na fábrica, como tapetes, roupas e colchas.
Visão da sociedade atual
          Se no passado, Noiva do Cordeiro foi uma comunidade isolada, marginalizada e discriminada, devido ao amor de Chico Fernandes e Senhorinha, pela igreja evangélica instalada no local e pela opção da comunidade em não ter religião e nem frequentar igrejas, hoje é bem diferente.
          Noiva do Cordeiro é respeitada na cidade de Belo Vale, nos povoados e cidades das redondezas. As barreiras sociais que isolaram a comunidade, foram diminuindo ao longo do tempo, permitindo com isso uma convivência amigável e respeitosa com sociedade regional e a igreja, tanto católica, quanto evangélica.
Comunidade única
          Em termos gerais, a visão é de que Noiva do Cordeiro é uma comunidade única. Um jeito ideal e correto de viver em comunidade, sonhado por filósofos, intelectuais, por pacifistas, ambientalistas, enfim, por todos que buscam uma vida em sociedade harmoniosa, solidária, cooperativa, com respeito e união fraternal.
          Só que chegar a esse nível de convivência social, não é fácil. Não tem apenas que ter vontade, um grupo ou um sonho, mas uma opção pelo desprendimento de dogmas religiosos, de filosofias materialistas, do egoísmo, do consumismo desenfreado, da ganância pelo conforto material e do individualismo.
          Desprender disso tudo não é fácil e a maioria não está disposta a abrir mão do conforto individual, para viver uma vida coletiva. Por isso, vão à Noiva do Cordeiro, admiram a história, a forma como vivem em comunidade, o estilo de vida simples e desprendido de ambições materiais, mas param por aí. Optam por continuar a vida que levam.
          O estilo de vida da comunidade de Noiva do Cordeiro se formou ao longo de mais de um século, até ser o que é hoje. Pais dão exemplo de vida em comunidade, desprendimento e trabalho comunitário e os filhos aprendem. E assim segue o aprendizado e solidificação da vida em comunidade.
          O estágio atual atingido por Noiva do Cordeiro foi uma consequência gradual da união, respeito, amor ao próximo, aprendizado e evolução de todos da comunidade.
Melhor vila turística do mundo
          Melhor Vila Turística do Mundo é um concurso anual promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo do concurso é premiar pequenas comunidades alinhadas com 17 objetivos relativos ao desenvolvimento sustentável, definidos pela entidade. Entre esses objetivos destacam a preservação ambiental, preservação das tradições, da promoção da igualdade social e de gênero, produção agrícola sustentável, fome zero, consumo e produção responsáveis, etc.
          O concurso é anual e cada país pode indicar até 3 vilas. A indicação só pode ser feita pelo Ministério do Turismo. No caso, as prefeituras indicam suas vilas e a equipe do Ministério do Turismo analisa e escolhe três para concorrerem com as vilas do mundo.
          Noiva do Cordeiro preenche os quesitos para entrar para o seleto grupo das Melhores Vilas Turísticas do Mundo. Cabe a prefeitura de Belo Vale tomar a iniciativa junto ao Ministério do Turismo. Vale a dica.
Informações e fotografias fornecidas por Márcia Fernandes. Contato para informações sobre Noiva do Cordeiro, bem como agendamento de visitas: 31 99903-3531.
AVISO LEGAL: Proibida a reprodução sem prévia autorização do autor.

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