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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

16 quitandas que não podem faltar no café mineiro

(Por Arnaldo Silva) Já viajei por todo o Brasil e no exterior, experimentei diversos tipos de cafés, mas confesso, nenhum é igual ao café de Minas Gerais. Pode ser a mesa mais requintada do mais luxuoso restaurante que não se compara ao mais simples café que o mineiro toma todos os dias. São tantas delícias que não tenho receio algum de dizer que o café do mineiro está entre os melhores do mundo.
          Um dos fatores que colaboram com essa visão não só minha, mas por todos aqueles que apreciam uma boa culinária, é a vocação do povo mineiro para preparar quitandas e pratos. (foto acima de Marluce Ferreira de Ipatinga MG)
          Essa vocação vem desde os tempos do Brasil Colônia. Por isso temos uma das cozinhas mais diversificadas do mundo. São tantos pratos que não dá para listar todos, só alguns.Essas 16 delicias mineiras não podem faltar de jeito nenhum no nosso café da manhã, da tarde ou a qualquer hora que a gente queira comer algo gostos demais. As delicias citadas abaixo, estão presentes no nosso café, não tudo de uma vez, mas sempre presentes em nossas mesas. Vamos lá.
01 - Café no coador de flanela
          Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil e o nosso café é sempre premiado, não só no país, mas no mundo, sendo considerado o melhor do Brasil e um dos melhores do mundo. (foto acima do Edson Artesão de Tiradentes MG) E bebemos café, e como bebemos. Um cafezinho não falta mesmo, ainda aquele coado em coador de pano, a beira do fogão a lenha. Esse é tradicional.
02 - Pão de Queijo
          Essa é a identidade de Minas Gerais, uma das nossas mais famosas quitandas mineiras, presente sempre em nossa mesa. (foto acima de Nilza Leonel de Vargem Bonita) E aqui em Minas, o pão de queijo é de babar. Imagina saborear um pão de queijo com um delicioso café das montanhas mineiras? 
03 - Queijo Mineiro
          Esse não falta, dá vida, gosto e sabor a tantas outras quitandas mineiras que não dá para descrever quantas. (foto acima de Maria Mineira de São Roque de Minas) Mas é gostoso mesmo com café. Seja o popular queijo Minas Frescal, o Canastra, Queijo D´Alagoa, da Serra do Salitre, do Campo das Vertentes, do Triângulo Mineiro ou de Araxá, queijo é bom demais, e mineiro que não come queijo de Minas, sente falta porque queijo corre em nossas veias.
04 - Pãozinho de sal 
          Não é uma iguaria mineira, mas o popular pão francês, que para nós é pãozinho de sal, está presente nas mesas do Brasil inteiro. Pãozinho de sal, com manteiga, café e leite. É o básico da manhã. E nós mineiros, como todo o brasileiro, adoramos esse básico delicioso!
05 - Bolo de fubá
          Esse bolo tem 300 anos de tradição em Minas. Era assado numa panela no fogão a lenha, com uma chapa cheia de brasa por cima. Mesmo com todas as facilidades de hoje em dia, o mineiro não abre mão de sua tradição. Até hoje o bolo de fubá é feito como há séculos atrás. (foto acima da Amarília Teixeira Couto de BH)
          No lugar do fermento, bicarbonato, ovos caipira, fubá de moinho, açúcar e outros segredos. Não se usa farinha de trigo, como hoje, só fubá mesmo. O cheiro desse bolo exala pela casa toda. Ninguém resiste. Mas o bolo de fubá de hoje também é ótimo e nunca falta em nossa mesa. 
06 - Biscoito de queijo
          Ah mas esse biscoito, junto com o pão de queijo não pode faltar no nosso café! Que biscoito bom é esse viu, feito em Minas, no forno a lenha, é pura covardia para o paladar.
 07 - Rosquinhas
          Nas casas mineiras tem o dia de fazeção de quitandas, geralmente às sextas-feiras. Fazemos de tudo e dura para a semana toda. (foto acima do Edson Borges de Felício dos Santos)  As roscas e rosquinhas não podem faltar nunca. Tem rosca de tudo que você possa imaginar e com café meu amigo, você se esbalda. Ninguém consegue comer uma, quer comer todas as rosquinhas que estiver no tabuleiro. 
08 - João Deitado
          Muitos chamam de Pau-a-pique ,Mata-homem, Curisco, Broinha-de-roça e Cubu. (foto acima de Luci Silva de Desterro de Entre Rios MG) É mais popular como João-deitado. É um bolo com moldes feito à mão, em forma de pau, enrolado na folha de bananeira e assado. Tem origens no início do século XVIII, em Congonhas MG. No café da manhã e da tarde na roça, está sempre presente nas cozinhas mineiras. O sabor, o cheiro, o aroma suave e gostinho de saudade da cada da avó, são bons demais.
09 - Bolo de pamonha
          A pamonha é uma sobremesa, mas também faz parte do nosso café. Tem a tradicional, cozida na palha e em forma de bolo. O gosto é o mesmo, só que ao invés de ser cozida é assada, com a folha do milho na forma para bolo. Experimentem que vão gostar demais!
10 - Requeijão 
          Eu não gosto desse requeijão que vem em copo, sem gosto. Nasci de uma família com forte tradição culinária. Produziam queijos e requeijão. Por isso sei a diferença. Requeijão caseiro, da roça, não tem igual. Seja o escuro ou o tradicional, cremoso ou de corte, no café, misturado ao pão ou biscoito, não dá para resistir.
11 - Bolo de cenoura
          Esse é antigo também e sempre está presente em nossas mesas. Hoje acrescentaram a calda de chocolate à receita tradicional. Ficou mais gostoso. Quem resiste a um bolo desses numa mesa de café? 
12 - Bolinho de chuva
          Esse bolinho tem gosto de casa de avó, das tardes chuvosas na cozinha ouvindo as histórias que a mãe ou avo contavam, enquanto os bolinhos fervilhavam na panela de gordura sobre o fogão. Isso é bom, mas é bom mesmo. Não pode nunca faltar no nosso café. 
13 - Biscoito de polvilho
          Espirra? Mas é bom viu principalmente crocante e com café. Seja o doce ou salgado, esse biscoito nunca deixa de fazer parte de nosso café. Eu adoro esse biscoito frito salgado. Gosto também do biscoito de polvilho assado. Como o frito espirra muito óleo quente, o assado é o mais se faz. Mas o biscoito frito salgado, dá até água na boca. 
14 - Biscoito chapelão
          Esse biscoito é muito popular na região central mineira, é fácil de fazer e gostoso demais. Um só pra mim é pouco. Um biscoito desses ocupa uma forma de bolo inteira. Está vendo como eu gosto desse biscoito. Como dois ou três de chapelão sem problema algum.
15 - Broinha de fubá de canjica 
          Esse fubá é especial, quase ninguém conhece. (foto acima de Maria Mineira de São Roque de Minas) O popular é o fubá mimoso, mas o fubá de canjica é outra coisa. Vocês nem imaginam o quanto é deliciosa uma broinha de fubá de canjica no café. Só fazendo e experimentando mesmo. 
16 - Broa de milho
          Milho tem por todo o território mineiro e não só mingau de milho verde, pamonha e suco que fazemos com o milho. Fazemos broa de milho. Essa é a minha preferida e encerro com ela. Fazemos toda semana em casa. Sempre presente em nosso café. Café numa mesa farta é bom demais mas sinceramente, eu prefiro pegar uma caneca, ir para o curral, tirar o leite da vaca e beber na hora, quentinho. Isso que é café bom, gostoso. Levo também, bolo e biscoito. Ai né, é bom demais da conta mesmo!

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O Santuário do Caraça, os lobos e o tombo do Imperador

(Por Arnaldo Silva) O Santuário do Caraça é hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural, com conservação de âmbito federal, através da Portaria do IBAMA, nº 32, de 20 de março de 1994. Dos 11.233 hectares da área, 10.187,89 hectares são áreas de preservação permanente, graças ao empenho da Província Brasileira da Congregação da Missão, instalada no local desde o século XVIII, proprietária e mantenedora da área. O objetivo com a criação da reserva é proteger o valioso patrimônio natural do Santuário do Caraça.
          A área é uma transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado. Possui uma flora abundante, córregos e belas cachoeiras, sem contar a rica fauna local, com a presença de 79 espécies de mamíferos como o lobo-guará, onças, jaguatiricas, além de anta e outros animais nativos. (foto acima do Peterson Bruschi)
          No Santuário existe um maciço rochoso que lembra um rosto humano. Os antigos chamavam o rosto de caraça, uma grande cara. Por existir desde o século 18, a Província Brasileira da Congregação da Missão, com a presença de religiosos, a construção de um dos primeiros colégios do Brasil e um santuário religioso, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, construído entre 1876 e 1883, sendo a primeira igreja em estilo neogótico do Brasil, passou a ser chamado de Santuário do Caraça. (Fotografia acima do Josiano Melo)
          Com a criação da Reserva, o nome tradicional e popular prevaleceu, sendo este nome reconhecido oficialmente em quatro de março de 2005, com título concedido pelo Arcebispo de Mariana na época, Dom Luciano Mendes. 
          O Santuário do Caraça fica em Catas Altas a 120 km de Belo Horizonte. É um dos mais famosos e procurados destinos de turismo ecológico e religioso em Minas. Todos os anos, cerca de 70 mil pessoas, de Minas, do Brasil e de vários países do mundo, visitam o Caraça, O lugar é excepcionalmente maravilhoso, numa comunhão perfeita entre a religiosidade e a natureza. Não é à toa que é chamado de “paraíso”. (fotografia acima de Alexandre Pastre)
          Por sua importância cultural, histórica e ambiental para Minas Gerais e o Brasil, existe uma campanha para tornar o Santuário do Caraça patrimônio cultural da humanidade, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 
Dom Pedro II, o tombo e o jantar com lobos
          Recebido pelos alunos e padres, em visita ao Santuário em 1881, extasiado com tanta beleza, o Imperador Dom Pedro II, fez questão de deixar escrita essa frase: “Só a visita ao Caraça paga a viagem a Minas”. 
          Saudado em nove línguas pelos alunos, Dom Pedro II foi muito gentil com todos, fazendo questão de agradecer a saudação e receptividade que teve, presenteando o santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens com um vitral de cinco metros, retratando Jesus no templo entre os doutores. O vitral é um dos mais fotografados pelos turistas que vem ao Santuário do Caraça, bem como a pedra onde o Imperador escorregou e caiu ao chão. 
Estão lá gravados na pedra o dia e ano do escorregão do Imperador. (fotografia acima do Josiano Melo)
          Hoje, a vantagem de estar no Caraça é que você tem tudo num só lugar. Igreja, museu, natureza, restaurante e também, pousada. Tudo isso em cerca de 12 mil hectares de paisagens espetaculares e momentos marcantes de fé e a presença dos lobos na hora do jantar.
          A presença do lobo-guará no adro do Santuário do Caraça é uma imagem impactante, linda e impressionante. (na foto acima de autoria de André Laine)
          A história do lobo que come nas mãos dos padres corre o mundo e quem vai ao Caraça, não perde a oportunidade de presenciar essa impressionante cena.           
          Já é praticamente um ritual. Há mais de 35 anos, sempre na hora do jantar, os lobos aparecem para receber pedaços de carne oferecidos pelos padres. Isso na presença de turistas que ficam completamente extasiados e até perplexo com a cena. Muitos se emocionam. 
Como chegar ao Santuário do Caraça:
          Saindo de Belo Horizonte, siga pela BR 381 sentido Santa Bárbara e Catas Altas. Chegando no trevo de Santa Bárbara, observe a placa de sinalização. Não entrará na cidade mas aconselho a entrar e conhecer já que Santa Bárbara é uma cidade histórica linda, mesmo que por alguns minutos, vale a pena conhecer. (fotografia acima Marselha Rufino)
          Mas se não quiser entrar na cidade a partir de Santa Bárbara, seguir as placas de sinalização que são muitas e a estrada é asfaltada e em boas condições de tráfego. Os telefones do Santuário do Caraça, para informações sobre hospedagem e visitas ao Santuário são:(31) 3942-1656 (31) 98978-3180 (WhatsApp)

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Conheça o distrito de Tomás Gonzaga

(Por Arnaldo Silva) Boa parte dos povoados, vilas, distritos e até cidades mineiras, tiveram origem nas paradas dos tropeiros, pelos rincões de Minas. Vários povoados da Região Central Mineira serviram de base de apoio para os tropeiros que cruzavam Minas Gerais, a caminho de Diamantina e sul da Bahia.
          Numa dessas paradas de tropeiros, surgiu o povoado de Tomás Gonzaga, hoje distrito de Curvelo MG, importante cidade mineira, distante 168 km de Belo Horizonte. O município de Curvelo faz divisa com Cordisburgo, Corinto, Felixlândia, Inimutaba, Morro do Garça, Papagaios, Paraopeba, Pompéu, Presidente Juscelino, Santana de Pirapama e Santo Hipólito. (na foto acima de Leandro Leal detalhes do casario da vila)
          O distrito é uma das mais antigas povoações de Minas Gerais. A região é de terras férteis, com vários cursos d´água e fica no meio do Estado de Minas Gerais, por isso atraiu muita gente que veio à região para investir em fazendas. 
A origem
         Sua origem data de 1706 com a chegada de Martinho Afonso de Melo, que veio para a região lidar com gado e lavoura, adquirindo uma fazenda às margens do córrego do Papagaio, posteriormente vendendo a fazenda, Antônio Francisco da Silva. (na foto acima do Leandro Leal a Matriz de São João Batista e o casario da vila em seu entorno)
         Naquela época, as fazendas prosperavam rápido, casarões e igrejas eram construídas com a chegada de pessoas vindas de várias regiões para trabalhar e comprar terras. No final do século 18, o distrito era um dos mais importantes da região. Sua arquitetura, tradição e história conta boa parte da era colonial brasileira.
          Em 1714 a fazenda já era um povoado e passou a se chamar Papagaio até 1882, quando o povoado já em franco desenvolvimento, foi elevado pela Lei nº 2.905 a Freguesia de Nossa Senhora do Livramento do Papagaio.
         Em 1732, era construída a Capela de Nossa Senhora do Livramento, um dos marcos do povoamento da região. No entorno da capela, surgiram as primeiras casas da Vila. (fotografias acima do Leandro Leal)
          Em 1906, o nome do vilarejo foi alterado para Silva Jardim. Foi em 1931, que passou a se chamar Tomás Gonzaga, em homenagem ao poeta Inconfidente Tomáz Antônio Gonzaga. O motivo do porque da homenagem ao Inconfidente, autor dos versos para Marília de Dirceu, ainda é desconhecido.
A parada de tropeiros a ponto turístico
         Antes parada de tropeiros, hoje é parada para descanso e refúgio para quem busca sossego, tranquilidade e vivência com a natureza e simplicidade, bem como para quem quer conhecer um pouco da história do Brasil Colonial.
         O casario da vila é bem preservado, o povo é simples, hospitaleiro e recebe muito bem os visitantes. As ruas são calmas, tranquilas. Um local para quem gosta do sossego e de qualidade de vida. (o casario da vila, na fotografia acima de César Rocha e abaixo de Rodrigo Firmo/@praondevou)
          O distrito de Tomás Gonzaga está a 51 km de distância da sede, Curvelo, via BR-135, numa gostosa viagem em estrada de terra, pelas veredas do sertão mineiro. A região que faz parte do famoso circuito Guimarães Rosa, famoso escritor, nascido em Cordisburgo, distante apenas 45 km de Curvelo. 

A festa do Divino Espírito Santo em Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A Festa do Divino Espírito Santo é, depois da Semana Santa, uma das maiores festas religiosas de Minas Gerais, sendo também uma das mais antigas tradições folclóricas e religiosas brasileiras, comemorada e preservada em Minas Gerais da mesma forma que na época do Brasil Colonial e Imperial. (fotografia abaixo de Giselle Oliveira)
          A festa chegou ao Brasil no século 17, nos primórdios da colonização do Brasil. Segundo o ritual, uma pessoa era escolhida como imperador do Divino, passando a ter as bênçãos do Espírito Santo, tornando-se pura e bondosa como uma criança, distribuindo alimentos, soltando presos políticos, trazendo fartura, paz e perdão ao mundo. Após a Proclamação da Independência, em 1822, Dom Pedro I, ao invés do título de Rei, como era normal na época, optou pelo título de Imperador, por orientação de José Bonifácio de Andrada, justamente inspirado no significado e na forte popularidade que o Imperador do Divino despertava em todo povo brasileiro. 
          Com mais de 200 anos de tradição em Minas Gerais, a cidade histórica de Diamantina (na foto acima de Giselle Oliveira), no Alto Jequitinhonha, a 292 km de Belo Horizonte, revive todos os anos a tradição da Festa do Imperador do Divino Espírito Santo. É a perfeita comunhão da fé com a preservação das tradições do Brasil Colônia e Imperial, vividas durante os três dias de duração da festa, que acontece geralmente no mês de junho. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          Pelas ruas de Diamantina o cortejo representando a Família Imperial, vestidos da mesma forma que à época do Brasil Colônia, representando o luxo e glórias de nossa história passada.
          A corte imperial é acompanhada por grupos de Congado e Pastorinhas, simbolizando a escolta do Imperador até a Igreja de Nossa Senhora do Amparo. Pelo caminho, o cortejo é reverenciado fogos de artifícios, palmas, sons de chocalhos e atabaques dos populares e pelos tambores da banda da Polícia Militar. (foto acima e abaixo de Giselle Oliveira)
           Quem conhece a Festa do Divino do Espírito Santo, em Diamantina, se impressiona com o extremo zelo de seu povo com a festa. Nenhum detalhe passa despercebido, principalmente na vestimenta, penteados e joias. Tudo revivido da mesma forma que nos tempos glamoroso da Coroa Portuguesa e do Império Brasileiro. (foto abaixo de Giselle Oliveira)
          É sem dúvida a mais autêntica e genuína manifestação folclórica e religiosa do Estado de Minas Gerais, devido a sua amplitude, simbologia e participação popular. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

A Casa dos Inconfidentes e o tesouro de Tiradentes

(Por Arnaldo Silva) A história do que é o hoje o Museu Casa dos Inconfidentes é cercada de mistérios, e se não fosse a intervenção das autoridades, este importante imóvel, que pertenceu ao Inconfidente Álvares Maciel, por pouco não foi destruído por completo. 
No decorrer da matéria vou te apresentar as dependências internas e externas da Casa dos Inconfidentes para você conhecer o rico acervo desse museu, o único de todos os museus na cidade administrado exclusivamente pela Prefeitura Municipal. 
Para começarmos a entender a história, vamos voltar aos tempos da Inconfidência Mineira. Naquele tempo a perseguição da Coroa Portuguesa aos Inconfidentes e a todo movimento contra a Cora, eram reprimidos com violência e condenações que em sua maioria, terminava com morte na forca. E ainda, os bens dos condenados eram confiscados sem nenhuma pena. A maioria dos Inconfidentes eram pessoas ricas e para não terem seus bens confiscados, caso fossem pegos, não viam alternativa, a não ser esconder sua riqueza, como moedas de ouro e outros bens valiosos. A forma com que faziam isso era bem simples. Enterravam, faziam um mapa, com dizerem e códigos e escondiam esse mapa em lugar que poderiam encontrar ou indicar alguém para procura-lo. Se escapassem, retornavam e desenterravam os tesouros. Mas em sua maioria não era assim, morriam ou eram degradados e os tesouros enterrados se perdiam no tempo, instigando o imaginário popular, com histórias fantásticas e também horripilantes. 
Essa busca por supostos tesouros enterrados mobilizou muita gente ao longo dos séculos. Em várias cidades onde existia ouro em abundância nos séculos 18 e 19, existem relatos de tesouros enterrados. Em Ouro Preto também, além de histórias de fantasmas e escravos que assombram algumas ruas e casarões da cidade. Isso faz parte do imaginário popular.
No caso da Casa dos Inconfidentes, não é diferente. Você vai conhecer "estórias" recheadas de mistérios, assombrações e ganância.
A parte mais interessante do casarão do Inconfidente Álvares Maciel começa mesmo na década de 1940. Nesse tempo, o casarão estava completamente abandonado e em ruínas. Nele vivia um mendigo, conhecido por Zé Canivete. Vivia de esmolas que conseguia durante o dia andando pela cidade. À noite, ia para o casarão para dormir. 
Numa fria noite de inverno, sem lenha para acender uma fogueira para se aquecer, Zé Canivete pegou um machado e rachou uma porta de madeira maciça e bem grossa ao meio. Ao ver a porta rachada, levou um susto enorme. De dentro da porta havia várias moedas de ouro que o deixou completamente atônito. Zé Canivete não tinha estudo e ao invés de mendigar, passou a comprar comida, cigarros e bebidas com as moedas de ouro que encontrou na porta. Ficou totalmente alucinado com a situação que enlouqueceu por completo. 
Anos depois, a Prefeitura de Ouro Preto assumiu o controle do imóvel, reformando-o por inteiro. Após essa reforma, o imóvel passou a ser usado como residência de uma rica família. O casarão era enorme e para mantê-lo em ordem e organizado, necessitava de vários empregados. Assim foi feito. Vários empregados foram contratados pela família para cuidar e zelar do casarão. Entre esses empregados, uma cozinheira de nome Petronília e sua filha de uns 10 anos terão participação importante nessa história.
Foi numa tarde tranquila que a menina brincava de casinha com outra criança da família no porão do casarão. E como criança é criativa, viram um pequeno pedaço de pau fincado numa viga de sustentação do casarão e resolveram pegar esse tronco para servir de mesinha. Fizeram um esforço muito grande para tirar o tronco até conseguirem. AS meninas perceberam que ficou um buraco na viga e a curiosidade de criança instigou a menina a olhar melhor. No buraco tinha um papel envelhecido, enrolado a pedaços de carvão e cascas de arroz. Essa era uma técnica bem antiga para evitar que os escritos perecessem pela umidade. 
Ao desenrolar o papel, viram que tinha vários desenhos e algumas palavras. A menina pegou o papel e foi pra cozinha mostrar para sua mãe, Petronília. Ela tinha pouca leitura, mas entendeu ser o mapa da indicação de um tesouro e foi correndo mostrar o papel para seu patrão. Este pegou o papel e como tinha cultura, conhecimento e estudo, leu e entendeu muito bem o que era. Pelas características do papel, da forma que foi encontrado e protegido da umidade, concluiu que o documento era autêntico. Petronília estava certa. Era o mapa de um tesouro. O homem deu pulos de alegria, além de dar balas e biscoitos para as meninas, como agradecimento. 
Claro, debruçou sobre o mapa para tentar localizar o tesouro e concluiu que o tesouro estava próximo a uma antiga mina de ouro, já exaurida, na parte lateral da casa. Foi explorada no tempo da escravidão. Na entrada tinha um portão de ferro. Escavada pelos escravos, suas paredes tiveram reboco de adobe, uma mistura de barro com estrume de gado. Dentro da mina havia uma mesa e banquinhos de pedra e alguns objetos de uso dos escravos na época, como vasilhas e outros utensílios. 
O patrão sabia que o imóvel era da Prefeitura e diante de uma provável fortuna, decidiu manter em segredo o mapa e mobilizou todos da casa para ajudarem na busca do tesouro e claro, prevalecendo à lei do silêncio. Ninguém podia saber de nada. Para evitar suspeitas, as buscas pelo tesouro eram feitas à noite. 
Arriscaram na investidas, mesmo sabendo do risco em entrar numa mina abandonada, geralmente habitada por cobras e outros bichos peçonhentos. Tinha ainda o imaginário popular, que acreditavam que as almas dos escravos maltratados e que morriam nas minas, ficavam a atormentar e a perambular pelas dependências das minas, arrastando correntes, fazendo barulhos e assombrando as pessoas. Vale lembrar que naquela época não existia energia elétrica e entrar numa mina dessas à noite, com lampião, era para quem tinha muita coragem. Mas ali tinha um tesouro e pelo vil metal, não tem cobra e nem fantasma que impeça o homem de encontra-lo. 
Sabendo disso, o patrão chamou um benzedor e antes de entrarem na mina, rezavam e se benziam muito. Assim se sentiam mais protegidos. 
E assim foi. Foram dias e dias de escavação, tirando toneladas de terra até faltar pouquinho, alguns metros para chegar ao ponto onde o mapa indicava haver o tesouro. Só que um dos empregados da casa, vendo aquilo tudo e pelo visto não achou correta a atitude do patrão de esconder da Prefeitura a existência do tesouro numa propriedade que era do município. Resolveu então procurar o prefeito da cidade e contou tudo.
Ao saber do fato, o prefeito ficou irritadíssimo por ter confiado um imóvel à família. Resolveu verificar a situação. À noite, subiu até o Morro da Forca e com o uso de um binóculo avistou a Casa dos Inconfidentes e realmente comprovou que estavam retirando terra de uma antiga mina e concluiu que o empregado falou a verdade.

 No dia seguinte, bem pela manhã, estava lá o prefeito bravo com a família e não foi sozinho. Foi acompanhado de autoridades policiais. E não teve muita conversa não. 
O prefeito deu 24 horas para que a família saísse do imóvel da Prefeitura. Em meio à confusão e bate boca, a esposa revoltada com tudo que estava acontecendo, pegou o mapa escondido e botou fogo. Eles saíram do imóvel, com o sonho de riqueza frustrados, mas sem o mapa, ninguém encontrava o tesouro. E não encontraram mesmo, tentaram, mas sem o mapa, não encontraram nada, só terra. E a história acabou sendo esquecida com o tempo. 
Anos depois, a Prefeitura cedeu o imóvel à outra família, dessa vez pequena Tinham apenas um filho. Antigamente os filhos tinham que ir ás vendas para comprar o que os pais mandavam. Como o casarão era um pouco afastado do centro da cidade, era uma boa caminhada e o menino não gostava muito disso. Mesmo assim tinha quer ir. A mãe pediu para que ele fosse à venda comprar algumas coisas para ela. Já era noite e mesmo com o clarão da lua cheia, o menino não quis ir, por medo, mas teve que ceder diante da insistência da mãe. O pai estava no trabalho e só tinha ele então para ir. 
O menino foi comprar as coisas e o marido ainda não tinha chegado. Ela ficou sozinha, naquele enorme casarão. Nesse momento começou a sentir um calafrio, ao ouvir passos fortes de botas pisando no assoalho de madeira. Ela estava de costas e sentia os passos mais fortes, se aproximando por trás. Já trêmula, arrisca a olhar para trás e vê um homem vestido com o uniforme dos alferes, com casaca e espada na cintura. 
O homem olhou pra ela fixamente. A mulher tentou se mexer, encostou-se à parede e foi devagar tentando sair da sala, se apoiando na parede. Ao andar, deixava rastros molhadas na parede. O medo foi tanto que ela urinou. Mas não conseguia fazer nada. Ficou paralisada. Nem gritar conseguia. Até porque não tinha ninguém na casa, não ia adiantar nada. 
Depois de olhá-la fixamente, o homem falou mais ou menos assim: “Aqui nessa casa, há mais de 200 anos, enterrei um tesouro e não consigo ter sossego até hoje. Fica ali, na lateral da casa, numa mina abandonada. Tire esse tesouro da mina para eu ter sossego.”
Mesmo em pânico e colada na parede, conseguiu coragem para abrir a boca e meio gaguejando de medo, perguntou:
- Quem é o senhor? E ele responde:
- “Minha senhora, meu nome é Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes”. 
Ao ouvir isso, nem urina a mulher tinha mais, ficou verde, trêmula e caiu desmaiada no assoalho da sala. 
Quando o filho e o marido chegaram a casa, encontraram a mulher desmaiada e desacordada. Tentaram reanima-la até que ela voltou a si. Meio atordoada, demonstrando desequilíbrio e medo ainda, conseguiu falar o que viu. Ganhou foi uma boa risada dos dois. Não acreditaram em nada. Levaram ela para o quarto para que se acalmasse. 
Eles não acreditaram, mas essa história chegou aos ouvidos do povo, bem como a história do mapa encontrado pela família que viveu no casarão antes. E sabe como é o povo né. Falou em dinheiro, aparece gente de todos os lados para tentar conseguir algum. Sempre foi assim. E foi só chegando gente com picaretas na mão para escavar e encontrar o tesouro do Tiradentes, numa escavação desenfreada, alucinada e louca. 
A situação chegou ao ponto de a Prefeitura e autoridades policiais ter que intervir de forma enérgica mesmo para retirar as pessoas de lá. Se não tivessem agido, com certeza um dos grandes patrimônios da cidade teria sido destruído por completo pela insanidade de pessoas, que acreditando ou não na história, dão uma de São Tomé, quer ver para crer. 
Mas o instinto de preservação do ouro-pretano falou mais alto. As autoridades agiram sempre com energia para evitar a destruição e preservação do patrimônio histórico da cidade. 
O casarão chegou a ser usado como alojamento para hóspedes da Prefeitura. Desde 2010 é Museu e totalmente administrado pela Prefeitura Municipal. Foi totalmente restaurado e é muito bem cuidado, preservando assim um pouco da história de Ouro Preto, da Inconfidência Mineira, contada em fatos, fotos, móveis, objetos domésticos, vestimentas, etc. Neste Museu, os s visitantes conhecem parte do cotidiano da vida de uma família ouro-pretana dos séculos XVIII e XIX.
Além disso, a direção do Museu Casa dos Inconfidentes promove diversas ações voltadas para a comunidade local e ações culturais com oficinas de arte e história, palestras, tardes culturais. 
O Museu Casa dos Inconfidentes fica à Rua Engenheiro Correa, s/nº, Vila Aparecida, Ouro Preto. Telefone: 3551-2739. Horário de Funcionamento: segunda a sábado, das 10h às 16h. 
(Texto de Arnaldo Silva, com fotografias de Ane Souz)

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