Arquivo do blog

Tecnologia do Blogger.

Mostrando postagens com marcador Artigos e Reportagens. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artigos e Reportagens. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Culinária mineira é eleita a melhor do Brasil

(Por Arnaldo Silva) Com sede em Zagreb, na Croácia, a plataforma gastronômica TasteAtlas, um dos maiores guias de viagens e gastronomia do mundo, divulgou recentemente o ranking das melhores culinárias do Brasil e do mundo. No ranking brasileiro, a cozinha mineira ficou em primeiro lugar e a cozinha baiana em segundo.
          Entre as 100 melhores cozinhas regionais do mundo, a culinária mineira ficou em 30° lugar com pontuação de 4,36 e a culinária baiana, em 43° lugar, com pontuação de 4,18. No ranking mundial, apenas a culinária mineira e baiana entram par a das 100 melhores do mundo, eleitas pela plataforma. (na foto acima, pratos do Restaurante Jeitinho Mineiro/@restaurantejeitinhomineirosrj, em Santa Rita de Jacutinga MG)
          A pontuação mínima é 0,5 e a máxima, 5. Na apuração das notas, são feitas as médias que determinam a posição de cada prato e culinária regional, de acordo com os critérios definidos pelo site, como ingredientes, modos de preparo, dentre outras categorias.
          A votação é promovida pela plataforma entre seus milhares de seguidores em todo o mundo, em sua maioria ligados a área gastronômica. As cozinhas regionais que figuram no ranking do site, passam a ser considerados ótimos destinos de viagens e turismo para 2024. (na imagem acima, feita pelo site TasteAtlas/Divulgação, o ranking completo das 100 melhores cozinhas do mundo)
Pratos mineiros e baianos em destaque
         O feijão-tropeiro, tutu de feijão, vaca atolada, biscoito de polvilho e o pão de queijo, além do queijo Canastra, catupiry e pratos feitos com jabuticaba, foram os destaques da cozinha mineira, na avaliação do TasteAtlas.
          Em segundo lugar no ranking nacional e em 43° lugar no ranking mundial, a culinária baiana teve como destaque, na avaliação da TasteAltas, o vatapá, moqueca baiana, bobó de camarão, acarajé, quindim e pimenta malagueta.
Cozinha italiana nas primeiras colocações
          A culinária regional da Itália marcou presença nas primeiras colocações no ranking mundial. Entre os pratos apontados como de destaque na culinária italiana, destacaram-se o macarrão à carbonara, lasanha à bolonhesa e a pizza margherita. 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Quando os avós se vão, as portas da casa se fecham.

(Por Arnaldo Silva) Quando vivos, a casa de nossos avós é cheia de crianças, de quitandas, de filhos, tios, pais, irmãos, irmãs, primos, netos, afilhados… De comadres e compadres, de vizinhos, de alegria, de vida e união.
          Natal, ano novo, dia das mães e dia dos pais, aniversário da avó, do avó, das bodas e dos dias de fazeção de quitandas e pamonha, tudo era motivo para encontro de toda família, mesmo com alguns morando distantes. A mesa era grande e farta. Cabia todo mundo! (foto acima de Luís Leite em Sacramento MG)
          Fogão a lenha, com a fumaça saindo da chaminé, era sinal de comida gostosa sendo feita. Muita gente da comunidade no fim de semana, sinal que era dia da reza do terço, de moda de viola e cantoria.
          Visitar a casa dos avós é só alegria, mas quando eles se vão, a alegria dá lugar a tristeza. Os móveis são retirados, vendidos ou doados. As plantas levadas ou deixadas sem cuidados. O pomar vai envelhecendo e morrendo. As flores murcham. Os pássaros que cantavam livres, se vão também. As portas se fecham e deixam lá o passado.
          A casa é abandonada, entregue aos cuidados do tempo e com o tempo, esquecida. A outrora alegria e união do passado, ficou por entre as paredes em ruínas, por trás da tristeza de ver o abandono.
          Não tem mais avós, não tem mais reunião de família, nem passeios na roça, leite no curral, fogão com a lenha trepidando no fogo, queijo e linguiça maturando na tábua sobre o fogão a lenha, prosas a beira do fogão, moda de viola. Não tem mais biscoitos, mais bolos, mais carne na lata, mais doces, mais causos, mais alegrias, mais vida.
          Os avós se vão e levam consigo doces momentos de uma família unida em torno deles, na casa dos avós.
          Fechada a porta, fecha-se um passado, uma vida inteira. Fecha-se histórias e momentos que não mais se repetirão. Ao fechar a porta, fecha-se junto doces momentos que não mais retornarão.
          Não tem mais a casa dos avós para passarmos as férias, os feriados, aniversários, o natal e o ano novo. Hoje, almoçar aos domingos fora, é em restaurante. Não tem mais o encontro de primos, irmãos, comadres, compadres, tios e vizinhos na casa dos avós. Não tem mais fogão a lenha aceso. Nem “bença vó, bença vô”. Não ouviremos mais “Deus te abençoe meu filho”.
          Ao andar pelas estradas, comunidades, cidades, as casas dos avós estão abandonadas e ignoradas pelos filhos, os herdeiros. Nela, não querem morar. Nem reformar. Construção antiga, base, assoalho, móveis, em madeira, muito caro. Preferem deixar lá, aos cuidados do tempo, e com o tempo, derrubam e fazem outra casa, um prédio, ou mesmo, derrubam para dar mais pasto para o gado.
          Poucos reformam, preservam o mobiliário, as fotos e tentam manter os laços, a tradição e as lembranças na casa dos avós, e assim, criam novas emoções, lembranças e histórias, mantendo a vida na casa e as emoções em seus corações. (foto acima de Elvira Nascimento em Marliéria MG)
          Infelizmente, é o que aconteceu com minha família. Meus avós se foram, os filhos que antes se reuniam em torno dos pais, não se interessaram pelo casarão. Jogaram fora os “móveis velhos” e deixaram o tempo levar tudo.
          Ficaram em minha mente e coração, os doces momentos da casa de meus avós, que vivi e estão até hoje em meu coração. No lugar onde estava a casa, o curral, o pomar e o jardim, tem pasto para gado. Não tem mais vida, não tem mais casa, não tem mais avós.
          Fecharam as portas da casa, não abriram mais e tudo se foi. Ficam as lembranças daquele tempo, que não mais hão de voltar.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Mercearia Paraopeba: a mais antiga do Brasil

(Por Arnaldo Silva) As vendas, mercearias e armazéns antigos, tinham como hábitos, anotar e em seus cadernos, os fiados feitos aos fregueses. Guardavam com carinho esses cadernos, que são hoje, relíquias históricas. Em um desses cadernos, registros nos levam ao ano de 1884 e estão bem conservados, mesmo após tantos anos. Esse caderno está na Mercearia Paraopeba.
          Típica venda mineira, onde você encontra de tudo e mais um pouco. Se não encontrar, é porque ainda não vou inventado.

          É uma das mais antigas e famosas vendas do Brasil. Já foi tema de reportagens de jornais como O Tempo, O Estado de Minas, O Estado de São Paulo, dentre outros tantos jornais impressos de Minas Gerais e do Brasil. O Armazém Paraopeba foi tema ainda de reportagens do Jornal Nacional e Globo Rural, da Rede Globo, além de reportagens feitas pela Rádio CBN, Jornal da Alterosa (SBT), Jornal Minas (Rede Minas), além de uma emissora de TV da Austrália, com reportagem exibida para mais de 30 países.
         A tradicional Mercearia fica num antigo casarão, desde o século XIX, do mesmo jeito, passando de pai para filho, bem como a freguesia, que são fiéis há gerações. É uma típica venda mineira, com duas portas na entrada, abarrotadas de produtos pendurados e colocados onde tiver lugar, até mesmo no chão. 
          Por dentro do armazém é assim também, tudo abarrotado de coisas penduradas, colocadas em prateleiras ou mesmo no chão, sem qualquer ordem. Mas com certeza, o dono encontra tudo, rapidinho. O dono é Roney de Almeida, mais conhecido como Roninho, que herdou o armazém do pai, que herdou do seu avô.
          A herança não foi apenas material, mas no carisma, simpatia, simplicidade e amor ao ofício, herdado de gerações. Os fregueses sabem que ao entrar na venda, não estarão comprando apenas alguns itens para sua casa, mas voltando no passado, revivendo emoções de seus pais e avós. Se perdem em meio a tantas emoções, que leva todos a uma poética viagem no tempo da mais pura mineiridade.
          No Armazém Paraopeba você encontra de tudo mesmo, desde sabão feito de torresmo e cinzas, panelas, brinquedos, doces, queijos, banha de porco na garrafa, ferramentas, alho, batata, esmaltados, ovos e por aí vai. A lista é enorme.
          Além da caderneta, outra tradição antiga preservada até os dias de hoje na Mercearia Paraopeba é a prática do escambo. Na época de origem da venda, o dinheiro era uma moeda de pouca circulação, restrita a poucas pessoas. A forma das pessoas comprarem o que necessitavam, era fazer trocas por produtos de valor similar, por exemplo, queijo por doce, carne por querosene, queijo por sal, requeijão por açúcar, etc.
          E em pleno século XXI, essa prática resiste e é uma das bases do Armazém Paraopeba, desde sua origem. A maioria dos alimentos vendidos no Armazém vem de pequenos produtores, que levam outros produtos como pagamento, à sua escolha e de valor similar.
          É tão pitoresco e gostoso o lugar, que ao entrar dentro, não dá vontade de sair mais. Ficar na venda, ouvindo as histórias dos fregueses, que entram e que saem, proseando e ouvindo as prosas, vendo as pessoas comprarem café moído na hora e cerais no quilo, embrulhado em papel e levarem para casa miudezas. Isso nos dá um sentimento de nostalgia, de estarmos voltando no tempo. (todas as fotos acima foram fornecida pelo João da Mercearia Paraopeba)
Onde fica?
          O Armazém Paraopeba fica no Centro Histórico de Itabirito, cidade distante apenas 57 km de Belo Horizonte e 50 km de Ouro Preto, pela Rodovia dos Inconfidentes. Está bem em frente à Igreja de São Sebastião. Itabirito surgiu no início do século XVIII. O povoado que deu origem a Itabirito hoje foi elevado a distrito em 1752, subordinado a Ouro Preto MG. Em 1923 passou a se chamar apenas Itabirito e elevada a cidade em 10 de setembro de 1925. A cidade conta atualmente com 54 mil habitantes. (na foto acima do Thelmo Lins, detalhe do Centro Histórico de Itabirito MG)
           Dentre suas relíquias históricas, se destaca a Mercearia Paraopeba, um dos lugares mais visitados por turistas que vem à Itabirito.O contato pode ser feito pelo fone; 31 99864-5021.

sábado, 28 de outubro de 2023

Estrada Real é oficializada como Monumento Nacional

(Por Arnaldo Silva) Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, inicia-se a abertura da Estrada Real, iniciando em Ouro Preto em Minas, terminando no porto de Paraty/RJ, onde o ouro de Minas era despachado para Portugal. De Ouro Preto a Paraty, a extensão era de 700 km. Era a estrada oficial da Coroa Portuguesa e exclusiva para o transporte de cargas, alimentos, metais e pedras preciosas.
          Ao longo dos anos e descobertas de novas Minas, o caminho original foi sendo ampliado e ligado a outros cominhos como o Caminho do Sabarabuçu, em Sabará MG, o Caminho dos Diamantes, em Diamantina MG e o caminho Novo, que ligava a Estrada Real até a cidade do Rio de Janeiro. (na foto acima de Ane Souz, o marco da Estrada Real em Glaura, distrito de Ouro Preto MG)
          Dos 700 km originais, o trajeto passou para 1630 km de extensão, entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, em sua imensa maioria, cortando cidades, vales, montanhas e rios do território mineiro.
          Ao longo de todo o percurso da Estrada Real, cidades e povoados foram surgindo, nos deixando uma riqueza cultural, arquitetônica, tradições folclóricas e gastronômicas riquíssimas, além de impactantes e belíssimas paisagens com cachoeiras, montanhas, matas nativas. É atualmente a principal via terrestre histórica e turística do Brasil. (na imagem acima, o mapa do trajeto da Estrada Real. Criação e arte de: Instituto Estrada Real)
          São 183 localidades, entre cidades e distritos formados ao longo da existência da Estrada Real. Desse total, 162 estão em Minas Gerais. Entre os 183 municípios da Estrada Real, Ouro Preto (MG), Diamantina (MG), São João del Rey (MG), São Lourenço (MG), Juiz de Fora (MG), Paraíba do Sul (RJ), Três Rios (RJ), Petrópolis (RJ), Magé (RJ), Cruzeiro (SP), Guaratinguetá (SP), Cunha (SP) e Paraty (RJ), era na época, as principais rotas da Estrada Real. Hoje são importantes centros históricos e de turismo no Brasil.
Monumento Nacional
          Reconhecendo esse valor e importância do trajeto da Estrada Real para a história de Minas, a principal via terrestre para escoação da produção mineral mineira durante a colonização, tornou-se Monumento Nacional através da Lei Federal 14.698 de 2023, sancionada pelo presidente da República e publicada no Diário Oficial da União (DOU).
          A lei sancionada pelo presidente da República teve origem no PL 1.854/2021, do deputado Reginaldo Lopes/MG, aprovado em decisão terminativa pela Comissão de Educação (CE), tendo como relator da matéria o senador mineiro Carlos Viana.
          A Lei reconhece a grandeza da Estrada Real, dando assim mais visibilidade às riquezas turísticas ao caminho aberto durante a colonização portuguesa, visando com isso a preservação de parte da história de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Os três falares de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Em Minas Gerais são 20 milhões de mineiros vivendo em 853 municípios, 1712 distritos e milhares de pequenos povoados, distribuídos em 13 regiões geográficas e 70 regiões intermediárias. É a segunda maior população do Brasil e quarto maior estado brasileiro em extensão territorial, com uma área total de 586.513,983 km².
          Além disso, 54% do território mineiro é formado pelo bioma Cerrado, na porção centro ocidental mineira, 40% pelo bioma Mata Atlântica, na porção oriental e 6% pelo bioma Caatinga, no extremo Norte do Estado, na divisa com a Bahia. (nas fotos o carreiro registrado por Lúís Leite em Desemboque, no Triângulo Mineiro, o Geraizeiro registrado por Eduardo Gomes e o Montanhês na Região Central, de Arnaldo Silva)
          O grande número de regiões, extensão territorial, biomas, origens e formações diferentes dos povos regionais mineiros, são responsáveis pelas diferenças regionais presentes na gastronomia, cultura, religiosidade, jeito de vestir, nas tradições religiosas e folclóricas e principalmente no modo de falar.
          Não temos um dialeto em Minas e sim três dialetos. O mais falado, em 50% do território mineiro é o Montanhês. Esse dialeto é falado na Região Central, Centro-Oeste, Campo das Vertentes, Zona da Mata e Leste de Minas. Outro dialeto presente em Minas é o Caipira, falado em 33% do Estado especificamente nas regiões Sul, Sudoeste, Oeste, Noroeste e Triângulo Mineiro. E em 17% do território mineiro, no Norte de Minas e parte do Vale do Jequitinhonha e Noroeste, o dialeto falado é o Geraizeiro.
          No mapa linguístico acima, do estado de Minas Gerais, estão os três falares de Minas Gerais e sua distribuição territorial, segundo o trabalho: Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG), da Universidade Federal de Juiz de Fora MG, de 1977.
Diferença entre sotaque e dialeto
          Sotaque é a característica própria de um linguajar de região específica com a substituição de letras que modifiquem a fonética de uma palavra e frase como por exemplo o “X” do modo de falar do carioca. Dialeto é a forma como a língua oficial de uma determinada região é falada, tendo como base a assimilação de outras línguas e uso de palavras e letras diversas, não específicas, gerando pronúncias fonéticas variadas.
          O modo de falar do mineiro é dialeto e não sotaque. Isso porque o falar mineiro é uma mistura de palavras da língua oficial com línguas nativas e também introduzidas. No caso de Minas Gerais, de línguas faladas na região da Costa da Mina, na África e entre povos indígenas, com a língua portuguesa, com o regionalismo da região do Minho, em Portugal. Por isso os falares mineiros serem diferentes, exatamente pela origem dos povos que os formaram serem diferentes, devido as regiões geográficas específicas de cada um desses povos.
          Outras regiões brasileiras receberam portugueses e africanos de outras regiões de seus próprias, com cultura, dialeto e tradições diferentes. Entre os povos indígenas, há línguas, dialetos, cultura, culinária, rituais diferentes de outras tribos, devido a diferentes etnias indígenas.
          Isso explica a diversidade das culturas, arquiteturas, religiosidades, músicas, folclores, vestimentas, dialetos, tradições e gastronomias diferentes entre os Estados Brasil, devido aos diversos povos de regiões diferentes do Brasil, da Europa e África, com etnias indígenas diferentes.          
Conhecendo os falares de Minas Gerais
O falar Geraizeiro

          É um dialeto falado em 17% do território mineiro.
          O termo Geraizeiro é usado desde o século XIX. Refere-se ao povo mineiro que vive do Cerrado com sua história e cultura ligadas a esse bioma, bem como ao seu modo próprio de falar. É uma região que compreende todo o Norte de Minas e boa parte do Noroeste Mineiro e Vale do Jequitinhonha, estendendo-se até a área de transição do Cerrado para a Caatinga, na divisa com a Bahia. (fotos acima de Edson Borges de Felício dos Santos MG)
          São os nativos dos Gerais, que é o sinônimo de Cerrado. É um povo formado por homens e mulheres do Cerrado e com ligações familiares e históricas com este bioma. Por esse motivo, são chamados de Guardiões do Cerrado. É o povo que preserva a identidade cultural e histórica dos geraizeiros do norte mineiro.
          Os Geraizeiros, que tem o sangue dos Gerais nas veias, não destroem a vegetação nativa, ao contrário, a respeita. Criam o gado solto, não retiram da natureza o que não podem tirar e quando tiram, respeitam os limites da terra e seus ciclos. Quando colhem os frutos do Cerrado, catam apenas os frutos já maduros, que caíram no chão. Não arrancam a fruta ainda verde no pé.
          Retiram o mel silvestre, colhem ervas e raízes medicinais, espalham sementes dos frutos do Cerrado, ajudando na propagação e preservação da flora dos Gerais, bem como preservam e vivem em harmonia com a fauna nativa.
          Originalmente, o Geraizeiro é um povo formado por povoadores vindos de São Paulo e da parte norte da Região Central Mineira, com povos indígenas habitantes da região e africanos, que constituem a maioria da origem dos Geraizeiros. Em sua origem, viviam nas partes altas e baixas da região, geralmente às margens de córregos e rios. Com o crescimento da região, a cultura, linguajar e influência dos primeiros geraizeiros foram se expandindo, passando o termo a ser usado para definir o dialeto, culinária, cultura e estilo de vida norte mineiro.
          Os Geraizeiros tradicionais vivem da pesca, da agricultura e dos frutos do Cerrado. Vivem do trabalho e comem do que plantam. Em suas terras cultivam arroz, feijão, mandioca, cana, amendoim, dentre outras culturas, além dos frutos nativos.
          É um povo com identidade própria, tanto no linguajar, quanto no estilo de vida e culinária, que ao longo dos anos, foi se aprimorando em um estilo de cozinha, com base nos frutos do Cerrado e peixes de água doce, mesclando a tradição culinária dos povoadores paulistas, mineiros, indígenas e africanos, à vida e cultura do Cerrado e Caatinga.
          Os Geraizeiros são chamados ainda de catrumanos, e de baianeiros, pelo jeito de falar um pouco parecido com o falar baiano, embora o dialeto Geraizeiro seja mais próximo do dialeto Montanhês, do que o do falar baiano, baseiam-se na proximidade da região com a Bahia e com algumas palavras do falar baianos incorporados ao dialeto Geraizeiro..
          A partir de 2007, foi agregado à Constituição de 1988, a definição de povos tradicionais, além dos povos indígenas e quilombolas, outros povos, que preservam o modo de vida tradicional desde suas origens. Entre os vários povos inseridos neste quesito, está o povo dos Gerais, o Geraizeiro. Desde 2011, comemora-se em Minas Gerais o Dia dos Gerais, especificamente na cidade de Matias Cardoso, no Norte de Minas, por ser a primeira povoação criada em Minas Gerais em 1660, bem a matriz da cidade, dedicada a Nossa Senhora da Conceição erguida em 1664.
O falar Caipira
          É um dialeto falado em 33% do território mineiro.
          O dialeto falado no Triângulo Mineiro, Noroeste, Oeste, Sul e Sudeste de Minas é o dialeto Caipira, além de influência do dialeto Montanhês. Essa região mineira está na área de influência da Paulistânia Caipira, uma área geográfica e cultural com origens em São Paulo no século XVI e expandida por uma imensa área territorial brasileira pelos tropeiros e bandeirantes paulistas ao longo do século XVII e XVIII. (fotografia acima de Marlon Arantes em Aiuruoca MG, Sul de Minas)
          A influência da Paulistânia Caipira está presente em partes de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. A Paulistânia Caipira não se limita apenas ao dialeto, mas também no modo de vida, na culinária, na vestimenta, nas danças, nos instrumentos musicais e na música.
          Como o assunto é o falar caipira, vamos nos ater a isso. O dialeto caipira é uma variante dialetal da língua tupi antiga, com o português arcaico. O arcaísmo é quando uma palavra ou expressão deixou de ser usada em uma determinada língua. Desde o descobrimento do Brasil, palavras da língua portuguesa vem sendo modificadas em constantes revisões ortográficas, algumas até deixando de existir ou mudando sua escrita, consequentemente mudando a fonética, devido a exclusão de letras e acentos.
          A própria palavra caipira é uma corruptela da palavra tupi “caapora” que significa “morador do mato”. São as pessoas ou grupos que viviam longe das grandes cidades em pequenos povoados. É estilo de vida e falar do povo do interior, da área de influência da Paulistânia.
          Palavras faladas nos séculos XVII, XVIII, XIX e início do século XX são hoje arcaicas, mas ainda presentes no dialeto Caipira. Boa parte das palavras do dialeto Caipira, tidas hoje como erros ortográficos e de pronúncias, nada mais são do que a preservação do português antigo e medieval da mesma forma que era falado e pronunciado no português arcaico. O que era correto escrever e pronunciar no português antigo, é hoje escrita e pronuncia errada.
          É o caso por exemplo de algumas palavras arcaicas que hoje tem a fonética e grafia diferente do português medieval, como exemplo fruta. No português medieval era escrita e pronunciada “fruita”. Outra palavra é escutar, escrita e pronunciada “escuita”, no português medieval. O “i” foi excluído em uma das várias revisões ortográficas da língua portuguesa, mas continuaram sendo faladas na área da Paulistânia Caipira. Ou seja, o dialeto Caipira preservou a escrita a fonética do português antigo.
           Outro exemplo da preservação da forma arcaica da fonética e escrita do português no dialeto Caipira é o uso do “R” retroflexo, ou seja, pronunciado duplamente com fonética arrastada “rr”, além da substituição da letra L pelo” r”.
          A forma fonética do uso constante do “erre” e a troca do L pelo “r”, muda a escrita e a fonética da palavra. Como exemplo: almoço, fica “armoço”, blusa fica “brusa”, calça, fica “carça”, flauta fica “frauta”, anel fica “aner”, alvo fica arvo, Cláudio fica “cráudio”, pastel fica “paster”, globo fica “grobo”, chiclete fica “chicrete”, claro fica "craro", etc. Na gramática atual é erro sim, mas na história e formação fonética do dialeto Caipira, não. É a preservação de uma tradição, de uma forma de falar histórica, da fonética, expressão e grafia do português medieval e tupi antigo.
          Em algumas metásteses caipira, o erro não é acrescentado e sim, mudado de posição. Eram faladas e até hoje continuam sendo faladas com o R trocado de posição na palavra como perfume (prefurme), agradeço (agardeço), percisar (precidar), etc.
          No dialeto caipira, as pronúncias vogais são predominantemente tônicas. Quando uma vogal tem a uma sílaba átoma, mais fraca, é trocada por uma sílaba tônica, com fonética alongada, mais forte como tábua que fica tauba, estátua, que fica estauta, etc.
          Outra característica do dialeto Caipira é a substituição das letras LH quando antecedem a vogal “a”. Nesse casa, as duas letras são substituídas pela vogal “i”. Por exemplo, telha, fica “teia”, trabalhar, fica “trabaiá”, tulha fica “tuia”. Quando o R é no final de uma palavra que antecede uma vogal, o “r” é simplesmente excluído. Por exemplo: comer, fica “comê”, engolir, fica “engoli”, bater fica “batê, gemer fica “gemê”, suprir fica “supri.
          Além disso, singular e plural no dialeto caipira são ausentes, sem concordância verbal alguma. No dialeto Caipira, plural e singular compõem uma mesma frase. Por exemplo, as colheres, no dialeto caipira é escrita e pronunciada “as colher”, nas mesas, é “nas mesa”, etc. É erro ortográfico, hoje sim, claro, mas faz parte da fonética e expressão do dialeto Caipira tradicional, arcaico. É comum quem vive na influência da Paulistânia Caipira pronunciar “as casa”, “as mulhé” “as carne”, “as pessoa”, etc.
          São pronunciadas naturalmente, devido o dialeto ser uma cultura transmitida por gerações e falado pelo povo da região da influência caipira, no caso das regiões mineiras, desde o século XVIII.
          O dialeto Caipira é simplesmente a preservação das características fonéticas da língua portuguesa medieval falada no Brasil em tempos antigos.
O falar Montanhês
          É o dialeto falado em 50% do território mineiro.
          Também chamado de falar mineiro, o Montanhês é o dialeto original de Minas Gerais surgido no século XVIII, durante o Ciclo do Ouro. (fotografia acima de Elvira Nascimento em Catas Altas MG, Região Central)
          É formado pela influência linguística regional dos povos que deram origem ao povo mineiro. O português, em sua maioria, da antiga região portuguesa do Minho, na época uma região de mineração, dai a maioria dos portugueses que vieram para Minas serem dessa região, porque já atuavam nessa atividade.
          O africano, em sua maioria da região Costa da Mina no Continente africano, hoje formada pela Nigéria, Gana, Togo e Benin. Era uma antiga região mineradora, ou seja, os habitantes dessa região africana já trabalhavam na exploração mineral e tinha experiência na escavação de minas. Por esse motivo, foram os escolhidos para o trabalho nas minas mineiras. E ainda povos indígenas de diferentes etnias que viviam em território mineiro por ao menos 12 mil anos, com seus idiomas, cultura e tradições de acordo com as comunidades indígenas existentes na época, foram o tripé da origem do povo mineiro e seu modo de falar.
          Africanos e portugueses que vieram para o Brasil, não vieram de um único lugar em seus países e sim de vários lugares e regiões local com tradições e culturas diferentes, se espalhando pelo Brasil, de acordo com os interesses dos colonizadores portugueses.
          Cada região, tanto de Portugal e da África, possui línguas, dialetos, sotaques e tradições diferentes, embora mesmo sendo em um único país, como Portugal, que é formado pelas regiões do Alentejo, Madeira, Norte, Centro, Lisboa e Algarve. Entre os africanos, a mesma coisa. Países com regiões e dialetos diferentes, além de costumes, tradições e religiosidades diferentes, bem como os povos indígenas, por serem povos formados por várias etnias com variações em suas línguas, costumes, culinária, etc.
          Esses povos, com suas tradições, culturas regionais e dialetos se espalharam pelo Brasil. Por isso as diferenças regionais do Brasil.
          Em relação a Minas, durante o Ciclo do Ouro, além dos paulistas, vieram ainda brasileiros de outras regiões brasileiras como do Nordeste e Sul do país, principalmente do Rio Grande do Sul, para trabalharem na mineração.
          O nome original era Montanhês, isso desde o final do século XVIII. Era como eram chamados os habitantes da região Central, onde se concentrava e ainda concentra, maior parte da exploração mineral do Estado.
          Por ser uma região montanhosa e seus habitantes viverem em povoados no sopé das montanhas ou no topo das serras e morros, eram chamados de Montanhês. O povo mineiro era conhecido como Montanhês antes de existir Minas Gerais como capitania, província e estado. Bem antes mesmo de existir o gentílico “mineiro”.
          O povo montanhês trabalhava nas minas de extração mineral. Eram mineiros, como profissão. Quem não trabalhava nas minas, exercia atividades, que de alguma forma estava ligada a mineração, portanto, eram chamados de mineiros também. Por isso o jeito de falar Montanhês passou a ser chamado também de falar do mineiro, literalmente, os trabalhadores das minas de ouro.
          O jeito Montanhês de falar começou no final do século XVII, com a chegada de bandeirantes e formação de povoados. No século XVIII passou a receber a influência dos portugueses que chegaram da região do Minho, dos africanos e brasileiros de outras regiões que vieram em massa para Minas. No século XIX, recebeu a influência de povos de outros países como dos ingleses, que vieram em grande número para Minas Gerais a partir de 1825.
          O falar Montanhês ou Mineiro, é diferente dialeto Caipira e do dialeto Geraizeiro, embora o esses dois dialetos tenham influência do Montanhês, o falar do mineiro Montanhês é bastante diferente, não apenas em relação aos outros dois falados no Estado mas também no Brasil. É um dialeto único e longe de se limitar apenas ao uai, sô e trem. É bastante abrangente e amplo.
          O Montanhês tem como característica principal o ritmo forte, pronuncias rápidas de uma frase, com fonéticas acentuadas e abertas, que podem ser em tons de afirmação, exclamação ou interrogação. Outra característica do Montanhês é encurtar ao máximo uma palavra e principalmente uma frase, além de fazer catira (trocar) entre vogais.
          Como exemplo a vogal E pelo I ou o O pelo U ou até excluindo palavras na pronúncia. Como exemplo: esporte que se pronuncia “sporti”, estranho, que é pronunciado “strain” e por aí vai. Ao pronunciar uma palavra, já no diminutivo, que termine com as letras HO, são suprimidas de imediato. Por exemplo? pãozinho, fica “pãozin”, Paulinho fica “paulin”, pouquinho, fica “pouquin”, passarinho fica “passarin”, todinho fica “todin”, baixinho fica “baixin”etc.
          Palavras no aumentativo raramente são usadas no dialeto Montanhês, pela simples tendência do próprio estilo em falar rápido, cortando palavras e as diminuindo. É raro uma expressão ou frase pronunciada no dialeto Montanhês sem diminutivos.
          No Montanhês, os hiatos podem ter vogais repetidas e faladas longamente como exemplo: pavio que passa a ser “pavii”, frio que passa a ser “frii”, navio passa a ser “navii”.
          Nesse dialeto, certas palavras pronunciadas bem rápido, perdem mais que a metade das letras. Usa-se a primeira letra e mais uma ou duas e ai sai a palavra e todo mineiro entende. Por exemplo, ônibus fica “ons”; senhora fica “sá”; senhor fica “sô”. Outras palavras, são literalmente pronunciadas pela metade. Como exemplo: desce fica “des”; você fica “ocêfica” ou “cêfica”; pra você fica “procê”.
          Uma frase inteira pode ser diminuída e entendida perfeitamente, pelo menos pelo povo mineiro. Como exemplo: Espere, ouça-me um pouco por favor, ficaria assim: “ Péra, só mais um cadim viu!” Ou: Venha até a mim senhor!, seria assim: “vem cá sô!”.
          Pode ser também uma palavra, meia frase ou frase inteira para não dramatizar tais questões como ao se referir a um lugar muito longe, fala-se assim somente para animar: “Né longe não sô, é logo ali ó, cê chega rapidin!”
          Palavras que terminem em TE e DE são palatalizadas, com o E na fonética de “i”. Como exemplo: horizonte fica “horizonti”, visconde fica “viscondi” com pronuncia bem forte no “I”. No caso de Belo Horizonte, a pronuncia fica “belorizonti” ou ainda, “belzonti”.
          Se for hoje à Belo Horizonte, não ouvirá essa pronúncia e sim Belo Horizonte ou no máximo “belorizonti”, “Beagá” ou “BH”. “Belzonti” era mais pronunciado pelo Montanhês da região Central, nos anos 1960 e 1970.
          Não era erro de português e sim, estilo de pronunciar palavras na característica própria do dialeto Montanhês. Os nomes compostos, sejam de pessoas, cidades ou lugares, sofriam drásticas perdas de letras para facilitar a pronúncia de forma rápida. E é assim até hoje, desde a origem do dialeto Montanhês no século XVII.
          O Montanhês nos permite falar uma frase, um texto ou mesmo escrever um dicionário ou um livro totalmente nesse dialeto, sem problemas, de tão amplo e abrangente que é.
Somos montanheses, caipiras e geraizeiros
          São esses os 3 falares do mineiro. Dialetos que conservam o português arcaico, com expressões da língua africana e indígena. São dialetos que vão além do linguajar. Falar no Montanhês, Caipira e Geraizeiro, é preservar a história de uma região, a cultura, as tradições, a música, a vestimenta, a dança, o folclore e sua própria origem. (fotografia acima de Arnaldo Silva em Moema MG, Centro-Oeste de Minas)
          Por esse motivo, somos mineiros, falamos e vivenciamos o estilo Montanhês com orgulho. Somos mineiros e falamos e vivenciamos o estilo Caipira com orgulho. Somos mineiros, falamos e vivenciamentos o estilo Geraizeiro com orgulho.
Somos de Minas Gerais com muito orgulho. Somos de um Minas que são muitas. A Minas Gerais de todos os mineiros.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

As 40 cidades mais ricas de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) As riquezas de cidades, estados e país, tem como base o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de toda a produção comercial, de prestação de serviços, agrícola e industrial de cada cidade, estado e do país.
          Como exemplo, numa montadora de veículos, soma-se tudo que foi utilizado na produção industrial como pneus, motor, peças, aço, fiação, acessórios diversos e também o custo da energia usada, salário dos colabores, etc. Resumindo, é toda cadeia produtiva onde gira o dinheiro. (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade, o portal de Extrema, o oitavo maior PIB de Minas)
          É o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o responsável por medir o PIB de cada cidade, dos estados e do Brasil. (na foto acima do @dronemoc, Montes Claros, o décimo maior PIB de Minas)
          Conhecer as riquezas produzidas no país é importante para conhecer o crescimento econômico ou mesmo sua estagnação e redução, além de permitir comparações com outras cidades, estados e regiões, para definições de políticas públicas e analisar carências econômicas regionais. (na foto acima de @dronemoc, Uberlândia, o segundo maior PIB de Minas)
          A medição é feita trimestralmente e a cada ano, são divulgados os PIB´s totais de cada cidade, estado e país. O PIB total de Minas Gerais, em 2022, foi estimado em R$ 924,5 bilhões de reais. Já o PIB do Brasil em R$9,9 trilhões. (na foto acima de @dronemoc, Belo Horizonte, o maior PIB de Minas)

          De acordo com o PIB das cidades mineiras, divulgados pelo IBGE em 2023, destacamos 40 cidades mineiras de maior PIB, sou seja, as 40 cidades mais ricas do Estado, de acordo com seu PIB.
POSIÇÃO/MUNICÍPIO         PIB
1 - Belo Horizonte                                      R$ 97.509.893,34
2 - Uberlândia                                            R$ 37.631.536,84
3 - Contagem                                              R$ 29.558.093,79
4 - Betim                                                     R$ 26.185.005,42
5 - Uberaba                                                R$ 17.190.844,76
6 - Juiz de Fora                                          R$ 16.868.839,89
7 - Nova Lima                                            R$ 12.211.281,71
8 - Extrema                                                 R$ 11.496.520,91
9 - Ipatinga                                                 R$ 11.147.694,00
10 - Montes Claros                                   R$ 9.686.454,28
11 - Sete Lagoas                                       R$ 9.250.195,08
12 - Pouso Alegre                                     R$ 8.140.164,45
13 - Poços de Caldas                                R$ 7.993.118,37
14 - Divinópolis                                         R$ 7.051.417,35
15 - Itabira                                                 R$ 6.790.476,63
16 - Governador Valadares                      R$ 6.725.398,01
17 - Itabirito                                              R$ 6.653.271,97
18 - Varginha                                            R$ 6.255.980,72
19 - Araxá                                                 R$ 6.094.234,12
20 - Araguari                                           R$ 5.927.562,15
21 - Paracatu                                           R$ 5.560.256,34
22 - Patos de Minas                                R$ 5.400.256,10
23 - Ouro Branco                                     R$ 4.576.805,29
24 - Santa Luzia                                       R$ 4.520.293,82
25 - Ribeirão das Neves                          R$ 4.430.121,63
26 - Conceição do Mato Dentro             R$ 4.189.049,62
27 - Ouro Preto                                        R$ 3.751.175,96
28 - Itaúna                                                R$ 3.707.354,39
29 - Timóteo                                            R$ 3.640.419,22
30 - Ituiutaba                                           R$ 3.587.216,51
31 - Pará de Minas                                 R$ 3.384.015,71
32 - João Monlevade                             R$ 3.335.338,40
33 - Unaí                                                  R$ 3.323.472,16
34 - Ubá                                                   R$ 3.299.470,82
35 - Patrocínio                                        R$ 3.290.863,80
37 - Mariana                                            R$ 3.266.047,66
36 - Itajubá                                              R$ 3.290.802,69
38 - Barbacena                                       R$ 3.175.493,76
39 - Sabará                                             R$ 3.153.825,83
40 - Congonhas                                     R$ 2.989.103,48

terça-feira, 6 de junho de 2023

As 10 cidades mais pobres de Minas

(Por Arnaldo Silva) Dados do Mapa da Riqueza do Brasil, feitos pelo Centro de politicas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Social), mostra os estados e municípios mais ricos do Brasil, do mais rico ao mais pobre município de cada estado.
          Em Minas Gerais, o estado com maior número de municípios do país, 853, as diferenças entre cidades ricas e pobres, são gritantes e altamente desiguais, como em todos os outros estados brasileiros.
          Segundo o Banco Mundial, o Brasil ocupa a nona posição no ranking mundial dos países desiguais no mundo. As desigualdades sociais se caracteriza por uma maior concentração de renda e riquezas nas mãos de uma pequena parcela, enquanto a absoluta maioria da população, vive em situação totalmente oposta e extremamente desigual.
          Isso se reflete nos municípios. Quando a renda da população é baixa, a arrecadação do município é também baixa, ocasionando poucos investimentos em melhoria das infraestruturas básicas como saúde, educação, moradia, emprego, saneamento básico, coleta de água e esgoto tratados., etc.
          A maioria desses municípios mineiros de menor renda, tem menos de 15 mil habitantes e tem na agricultura familiar e pequenos comércios a base de sua economia
          As regiões Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, concentra os municípios de menor renda. Já as outras regiões, principalmente Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Região Central, onde está o Quadrilátero Ferrífero, a Zona da Mata, Triângulo Mineiro, Vale do Rio Doce/Vale do Aço, Alto Paranaíba, Vale do Mucuri, Campo das Vertentes, Noroeste de Minas, Sul e Sudoeste de Minas, Oeste e Centro-Oeste de Minas, são as que tradicionalmente apresentam maior maior distribuição de renda.
          Para calcular a média de renda mensal per capita por pessoa, a base do cálculo foi a declaração do Imposto de Renda de 2021, declarado em 2022, gerados pela Receita Federal.
          Os dados foram divulgados no início de 2023. O valor total declarado do Imposto de Renda é dividido pelo número de habitantes do município, tendo assim a média de renda de cada morador. Além disso, serviu como base para o cálculo pesquisas e estudos normais que a Fundação Getúlio Vargas faz anualmente sobre pobreza e desigualdade social brasileira.
          Isso não significa que todo morador dessas cidades tenham essa renda mensal, já que uma parcela significativa da população é isenta de declaração de Imposto de Renda. Mas com certeza nos dá uma amostra clara do poder aquisitivo de cada brasileiro, bem como da desigualdade na distribuição de renda no país. (na foto acima do Duva Brunelli, coreto em Fruta de Leite)
          Para se ter ideia, basta comparar a renda média per capita da cidade mais rica de Minas Gerais, além de ser a cidade de maior concentração de riqueza por m² do Brasil, que é Nova Lima.
          A cidade da Grande Belo Horizonte conta com 111.697 habitantes, segundo o IBGE, em 2022. A renda perca pita, por morador de Nova Lima MG é de R$8.897,00, de acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, com base na declaração de Imposto de Renda à Receita Federal em 2021.
          Já a primeira cidade mineira no ranking das mais pobres, de acordo com os dados da pesquisa do Centro de politicas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Social) é a cidade de Verdelândia, no Norte de Minas. A renda média per capita, por pessoa de Verdelândia foi calculado em R$62,00. (na foto acima de @julio_defreitas, noturna de Nova Lima, a cidade mais rica de Minas, segundo a FGV e abaixo de Wesley Rodrigues a BR-401, em Verdelândia)
          Comparando-se com a renda per capita por pessoa de Nova Lima MG com a de Verdelândia, percebemos o tamanho da desigualdade social brasileira e mineira. É estratosférica!
Isso em Minas Gerais, um dos três estados mais ricos e industrializados da Federação.
          Dos 10 municípios mais pobres de Minas Gerais, um está no Vale do Jequitinhonha e os outros nove, no Norte de Minas. São cidades com menos de 15 mil habitantes com economia a base da agricultura familiar.
Segue a lista dos municípios mais pobres de Minas
- 1° - Verdelândia 
Renda média por pessoa de R$62,00
          Com 7.662 habitantes em 2022, está localizada na Região Norte de Minas, distante 570 km de Belo Horizonte. A produção agropecuária é sua base econômica, com destaque para a pecuária leiteira, de corte, cultivo de banana e agricultura familiar. Conta ainda com um pequeno comércio e pequenas empresas familiares.
- 2° - São João do Pacuí 
Renda média por pessoa de R$78,15
          A cidade fica no Norte de Minas, conta com 3.971 habitantes, em 2022, segundo o IBGE e está a 500 km distante de Belo Horizonte. A base de sua econômica é a agricultura familiar, pequenos comércios e empresas familiares. O turismo é outra fonte de renda, já que o município guarda tesouros arqueológicos pré-históricos em grutas e paredões.
- 3° - Monte Formoso 
Renda média por pessoa de R$81,28
          Distante 608 km de Belo Horizonte, Monte Formoso, com 4.3811 habitantes em 2022, segundo o IBGE, está situada no Vale do Jequitinhonha e é a única dessa região entre as 10 cidades mais pobres de Minas. Sua economia se baseia em pequenos comércios e na agricultura familiar.
- 4° - Cônego Marinho 
Renda média por pessoa de R$86,68
          Situada no Norte de Minas, a cidade conta com 7.237 habitantes, segundo o IBGE em 2022. Está a 634 km de Belo Horizonte. A base de sua economia é a agricultura familiar, a cachaça, pequenos comércios e o artesanato de barro.
- 5° - Matias Cardoso 
Renda média por pessoa de R$87,48
          Matias Cardoso, no extremo Norte de Minas, foi a primeira povoação surgida em Minas Gerais, em 1660 e também é onde foi erguida a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, entre 1670 e 1673, a primeira igreja de Minas Gerais. A cidade está a 683 km de Belo Horizonte. (na foto acima de Manoel Freitas, a Praça da Matriz de N. S. da Conceição, a primogênita de Minas)
          Com uma população de 8.895 habitantes, em 2022, segundo o IBGE, tem em sua economia o turismo, por sua história e ainda o artesanato, pequenos comércios, a agricultura familiar e a pesca, já que é banhada pelo Rio São Francisco.
- 6° - Fruta de Leite 
Renda média por pessoa de R$87,60
          Com 4.647 habitantes, em 2022, segundo o IBGE, Fruta de Leite é uma cidade do Norte de Minas, distante 613 km da capital. A cidade tem no setor de prestação de serviços, pequenos comércios e agropecuária, a base de sua economia. Seu curioso nome tem origem em um arbusto que produz uma frutinha tradicional na região, de sabor adocicado e da cor do leite, quando madura. Por isso o nome da fruta e da cidade.
- 7° - Pedras de Maria da Cruz 
Renda média por pessoa de R$86,66
          Em 2022, segundo o IBGE, Pedras de Maria da Cruz, no Norte de Minas, distante 568 km da capital, contava com 10.452 habitantes. A economia da cidade é essencialmente rural, com destaque para a agricultura familiar, pecuária leiteira e de corte, além de comércios familiares e setor de serviços, se destaca no turismo, que vem crescendo a cada ano.
          Um dos atrativos turístico do município é a capela da Imaculada Conceição, construída por uma personagem importante para a história da cidade, Maria da Cruz e seus escravos, no século XIX. Está localizada na parte baixa da cidade. Além disso, conta com outros atrativos como o Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, o Parque Estadual da Lagoa do Cajueiro e o Rio São Francisco.
- 8° - Pintópolis 
Renda média por pessoa de R$88,89
          A cidade fundada pela família de Germano Pinto, está situada no Norte de Minas, a 705 km distante de Belo Horizonte. Em Pintópolis vivem 7.084 habitantes, estimados pelo IBGE em 2022. Sua economia tem como base a pecuária de leite e de corte, agricultura de subsistência, extração de carvão vegetal e o turismo, já que o município está inserido na área do Parque Nacional Grande Sertão Vereadas.
- 9° - Mamonas 
Renda média por pessoa de R$89,02
          Na cidade do Norte de Minas vivem 5.997 pessoas, segundo dados estimados pelo IBGE, em 2022. Mamonas está a 683 km distante de Belo Horizonte, sendo considerada a Capital Mineira do Forró.
          No mês de junho, as festas juninas, em especial as festas de São João e as barraquinhas de Santo Antônio, movimentam a economia da cidade, atrai turistas de todas as regiões de Minas, além de receber turistas de todo o Brasil. O forró é umas das maiores identidades culturais da cidade. Além disso, sua economia tem ainda como base a agricultura familiar e também na cachaça, famosíssima na região.
- 10° - Santo Antônio do Retiro
Renda média por pessoa de R$90,29
          Segundo o IBGE, em 2022, Santo Antônio do Retiro, no Norte de Minas, contava com 6.629 habitantes. A base de sua economia é a agricultura, a pecuária de leite e corte, o setor de prestação de serviços e em menor escola, pequenas industrias e comércios.
          Além disso, o turismo ecológico vem crescendo devido as belas naturais exuberantes do município em especial Floresta Nacional Pequizeiros de São Joaquim, as reservas biológicas do Capão, Rucão, Palmital, Cana Brava e Da Mata e as espetaculares paisagens do Parque Ecológico Cultural Serra do Sucuruiu, formado por riquíssima fauna e flora, nascentes, rios, cachoeiras, sítios históricos e trilhas diversas.
Pobreza? Nem tanto.
          Como citado no início, a lista tem como base pesquisas sobre desigualdades sociais feitas pela Fundação Getúlio Vargas e declaração de Imposto de Renda, que dividindo com o número de habitantes, dá essa essa renda média. Mas isso não quer dizer que seja a essa a renda mensal de cada morador. (na foto acima do Manoel Freitas, o Rio São Francisco em Matias Cardoso MG, rio que leva água, vida, fertiliza a terra e gera renda e empregos no Norte de Minas)
          As 10 cidades citadas, embora não sejam ricas, de fato, não são pobres de fato, muito pelo contrário, tem suas riquezas, suas belezas, suas tradições, seu povo bom, hospitaleiro e trabalhador e claro, tem seus atrativos. 
          Carecem sim de mais investimentos do Governo para que possam melhorar a qualidade de vida de seus moradores e essas pesquisam tem essa função, orientar os governos estaduais e federal nas prioridades de investimentos e criação de políticas públicas de desenvolvimento social.
          
No site da Fundação Getúlio Vargas (https://cps.fgv.br/riqueza), estão disponíveis os dados completos do Mapa da Riqueza dos estados e de todos os municípios do Brasil.
          Temos reportagem anterior sobre as 15 melhores cidades de Minas para se viver, consideradas as mais ricas entre os 853 municípios mineiros.

terça-feira, 30 de maio de 2023

Alemães em Bom Despacho MG: os imigrantes da colônia

(Por Arnaldo Silva) A partir do início do século XX, a Alemanha já era um dos países mais industrializados do mundo. Os alemães detinham conhecimentos de ponta e mãos de obra especializada em metalurgia, siderurgia, fundição, hidrelétricas, ferrovias, engenharia, dentre outros segmentos industriais, além de práticas modernas de agricultura.
          Nesta mesma época, Minas Gerais, bem como o Brasil estava começando a engatinhar na industrialização. Sem domínio no conhecimento e sem mão de obra qualificada, os empresários e produtores rurais da época buscavam atrair europeus, principalmente ingleses e alemães para o Brasil, em parceria com os governos estaduais. Na foto acima, colonos em dia de festa na Colônia Davi Campista. Imagem cedida pelo William Araújo/Bar do Tonhão e tratada e colorizada por Rogério Salgado)
          Com esse objetivo, o país abriu suas portas para os imigrantes alemães, principalmente nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, após a guerra e nos anos que antecederam a Segunda Guerra.
          Diante da queda do poder aquisitivo causado pelos conflitos que assolava a Europa, centenas de milhares de famílias de praticamente, principalmente da Alemanha, não viram outra opção senão deixarem sua terra natal. Vieram para as Américas e o Brasil foi um dos principais destinos, principalmente de italianos e alemães.
Para onde iam?
          Minas Gerais começou a receber um grande número de imigrantes alemães, a partir de 1900. Chegavam de navios no Porto de Santos ou no porto de Ilha das Flores no Rio de Janeiro, passavam por uma quarentena e em seguida, eram encaminhados às colônias já existentes, de acordo com os critérios de cada estado. No caso de Minas Gerais, para a capital, recém-fundada, a Zona da Mata, Sul de Minas e Vale do Mucuri.
          Os imigrantes não escolhiam seus destinos, até porque não conheciam praticamente nada do Brasil. Eram escolhidos de acordo com suas qualificações profissionais e necessidades de cada estado. A imagem acima fornecida pelo William Araújo/Bar do Tonhão e tratada por Rogério Salgado, mostra as filhas filhas de colonos alemães de Bom Despacho.
Por que para Bom Despacho?
          Artur Bernardes, na época presidente do Estado de Minas (governador de 1918 a 1922), percebeu a necessidade de expandir a indústria para outras o Centro-Oeste Mineiro e também implantar o sistema de desenvolvimento das pequenas propriedades na Europa, implantado com sucesso no Sul do país. 
          Com esse objetivo, foram criadas duas colônias agrícolas na cidade de Bom Despacho, no Centro-Oeste de Minas, em 1921 e 1922. Embora a maioria dos imigrantes que vieram para Bom Despacho trabalhassem no setor industrial, tinham origem agrária e conhecimentos em técnicas agrícolas passados por seus antepassados. Isso bastava para o Governo.
           A partir de 1910 começou a ser construída a Estrada de Ferro Paracatu, entrando em operação em 1922. Bom Despacho contava na época com uma grande oficina ferroviária, vila operária e escritório. Acredita-se que nessa época, existia cerca de 5 mil pessoas trabalhando em Bom Despacho na ferrovia.
          Nesta mesma época, projetos para a instalação de uma companhia têxtil, usina hidrelétrica e siderúrgica começou a se desenvolver na cidade. Foi nesse cenário que a imigração alemã se fez necessária.
          Eram os alemães os detentores de conhecimentos e tecnologias nessas áreas, por isso a opção de Artur Bernardes em criar colônias de imigrantes alemães na cidade. 
          Na imagem acima, que fiz em Lagoa da Prata a 50 km de Bom Despacho, mostra uma ponte da linha férrea sobre o Rio São Francisco. Construída para ligar Lagoa da Prata a Luz,  foi feita sob medida e para isso, um engenheiro alemão veio à cidade apenas para fazer as medidas. Foi toda feita na Alemanha e trazida de navio até o porto do Rio de Janeiro, de lá de trem até Lagoa da Prata e seguiu em carros de bois até esse local, para ser montada. Tem 75 metros de extensão e 3,5 metros de largura. A obra contou com mão de obra local e também de colonos alemães que viviam em Bom Despacho, tinham experiência nessa área. Foi inaugurada em 1925.
Recebiam tudo de graça?
          Saindo de uma Europa arrasada pela Primeira Guerra Mundial e mergulhada numa crise econômica sem precedentes, os imigrantes chegavam com poucos pertences ou até mesmo, somente com a roupa do corpo.
          O governo sabia disso e tudo era planejado. Sabiam quantas famílias viriam, o número de pessoas de cada família e se preparavam para recebê-los, construindo nas futuras colônias, toda estrutura básica necessária. Cada família recebia uma gleba com uma casa com mobiliário básico, ferramentas, vasilhames domésticos e até roupas e alimentos.
          No caso de Bom Despacho, nas duas colônias criadas, o Governo construiu casas no estilo colonial mineiro, não no estilo enxaimel alemão ou mesmo, reformando casas que já existiam na propriedade e construindo outras para abrigar as famílias. Acima, uma foto de casa de colono alemão na Colônia Davi Campista, nova e atrás, outra casa, já antiga, colorizada por Rogério Salgado.
          A Colônia contava com um casarão sede onde residia a família responsável pelo contato direto com o Governo e comunidade local, além de ficarem responsáveis por recolher uma parte do que era produzido na colônia para o Governo.
          Isso porque tudo o que recebiam não era de graça, tinham que pagar. Cada família assinava um termo se comprometendo a dar 20% de toda sua produção agrícola para o Governo, para pagar a gleba que recebiam. Quando a colônia concluísse o pagamento, era emancipada e os colonos se tornavam donos definitivos dos terrenos.
          Além disso, os colonos construíam igrejas ou pelo menos um espaço reservado para celebrações dos cultos luteranos e um cemitério para enterrar seus mortos. Em cada colônia tinha uma escola mista, criadas na época pelo próprio Governo, através do decreto n°5.652 de 24 de maio de 1921.
          As reuniões e confraternizações da colônia era no terreiro do casarão sede. Era comum as famílias da colônia se reunirem. Levarem em cestos pratos típicos alemães e colocavam tudo em mesas improvisadas. Todos comiam, dançavam, cantava músicas típicas da Alemanha.
          Era o café colonial, uma criação alemã para encontros da comunidade e matarem saudades das tradições e culinária alemã. Por isso o nome, café colonial, por ter origem nos colonos.
Visita de pastores luteranos
          Entre 1920 a 1946, as duas colônias bom-despachenses recebiam visitas de vários pastores luteranos de Belo Horizonte e Juiz de Fora MG. Não havia pastores nas colônias de Bom Despacho, mas os alemães conservavam sua religiosidade fazendo cultos semanais nos casarões sede das colônias
          A Igreja Luterana tem origem na Reforma Protestante, movimento religioso liderado pelo ex monge alemão, Martinho Lutero no século XVI. Em suas 95 teses, fixadas na porta de uma igreja Católica na Alemanha, Lutero protestava contra os abusos do clero católico, principalmente na venda de indulgências e controle total da sociedade. O luteranismo defende a salvação pela fé e seus seguidores são chamados de protestantes ou luteranos.
Despedida de Artur Bernardes
          Em 1922, Artur Bernardes foi eleito presidente da República. Em seu discurso de despedida como governador, em 14/6/1922, citou as colônias criadas em seu governo, deixando essa mensagem: "Deixo assim fundadas mais quatro grandes colônias, Álvaro da Silveira, David Campista, Bueno Brandão e Francisco Sá, situadas em pontos perfeitamente salubres e favorecidas pela proximidade de estradas de ferro (...) As casas, em todas essas colônias, são construídas de tijolos, assoalhadas e dotadas de instalações sanitárias, de conformidade com o plano adotado pela Diretoria de Higiene e Profilaxia, que, além disso, mantém em Álvaro da Silveira um posto médico para combater as verminoses e o impaludismo"
A Colônia Álvaro da Silveira
          A primeira colônia criada por Artur Bernardes foi a Colônia Álvaro da Silveira. O nome é em homenagem a Álvaro Astolfo da Silveira, engenheiro, professor, um dos fundadores da Escola de Engenharia de Belo Horizonte em 1912, membro da Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e da Academia Mineira de Letras.
          A colônia foi criada através do decreto n°5297 de 14 de fevereiro de 1920, emancipada também através de decreto sob o n° 10.148 de 5 de dezembro de 1931. 14 de fevereiro de 1920 é o marco histórico do início da presença alemã em Bom Despacho MG.
          A colônia ficava em terras da fazenda Capão a 13 km de Bom Despacho, entre as duas margens do Rio Lambari, entre Bom Despacho e Leandro Ferreira, na época, distrito de Pitangui MG.
          Nessa época, estava em contrição a estação Álvaro da Silveira, concluída em 1921, com a linha de trem seguindo até a estação da sede, Bom Despacho. 
          Alguns km após a estação, uma ponte férrea sobre o Rio Lambari, ligava os municípios de Bom Despacho a Leandro Ferreira, bem como os imigrantes que viviam na outra margem do Rio Lambari, no outro lado da ponte. Na foto acima podem ver a ponte férrea sobre o Rio Lambari. Fotografei do lado de Bom Despacho, onde ficava a maior parte da colônia. Atravessando a ponte, já é Leandro Ferreira, onde ficava algumas famílias de colonos. 
          A área da colônia era de 4.289 hectares divididos em 179 glebas, sendo 102 ocupadas de imediato pelas famílias e 72 reservadas para futuras famílias que poderiam chegar. 328 hectares eram usados para a agricultura. Plantavam milho, arroz, feijão, mandioca, cana-de-açúcar, café, algodão e hortaliças. 72 hectares eram destinados para a pecuária leiteira e de corte. Outra parte de matas nativas, área de estradas de rodagem.
          Na colônia foram construídas 182 casas definitivas e mais 15 provisórias, para abrigar os imigrantes, o que daria 197 casas. Mas nem todas foram ocupadas de imediato, já que algumas famílias foram chegando ao longo dos anos, principalmente a partir da década de 1930, com o iminente início da Segunda Guerra Mundial.
          Com muito trabalho, os alemães foram melhoraram a infraestrutura da colônia, construindo engenhos, olarias, adquirindo veículos, animais de tração, melhorando as casas e o mobiliário. Como plantavam algodão, faziam também suas próprias roupas. Andavam sempre bem vestidos e elegantes como podem ver na imagem acima restaurada e colorizada pelo Rogério Salgado, o casal Erhardt Hanke e Eva Müller, em 1928, se preparando para irem a um casamento em Bom Despacho de cavalo. Foto do acervo pessoal do filho do casal, Fred Hanke.
Quantos colonos vieram para Álvaro da Silveira?
          Não há registros exato de todas as famílias de colonos de Álvaro da Silveira e nem de quantos membros cada família continha. Quando chegaram, foram entregues 102 glebas às famílias, mas não isso não significa que tenha sido uma gleba para cada uma das famílias, já que famílias maiores ou com mais condições, adquiriram mais glebas.
          Em 1929, foram contados 75 famílias na colônia, com 444 pessoas. Com o passar dos anos, imigrantes foram falecendo, outros formando novas famílias, tendo filhos.
Como se chamavam?
          Com base nos registros de nascimentos, casamentos e óbitos nos cartórios de Bom Despacho e Leandro Ferreira, os sobrenomes de famílias de colonos que viviam em Álvaro da Silveira eram: Anuth, Bartels, Bergerhoff, Bergmann, Berkert, Bobbia, Bokermann, Darge, Darmstädter, Denecke, Egen, Ehlert, Engemann, Escher, Fahner, Falkenburg, Frei Fronzeck, Fröseler, Gendorf, Gimpel, Gölz, Gottschalg, Gurgel, Guy, Hammerich, Hanke, Henrig, Honeker, HungerIsliker, Patria, Jensen, Jung, Kargl, Kling, Klitske, Knischewski, Kohnert, Korell, Koslowski, Köster, Krawzyk, Kresse, Kunert, Kunzler, Ledandeck, Ludgen, Ludwig, Lütkenhaus, Mangels, Mossler, Motskus, Müler, Müllerchen, Niegetrat, Nowasyk, Overlander, Paniz, Primus, Rabe, Reiferscheid, Richter, Roedel, Schierm, Schmidt, Steinbreche,r Tegeler, Tentz, Wagner, Walder, Weiser, Weller, Widmer, Winterink e Zuber.
          Essas famílias eram de predominância alemã, mas na Colônia Álvaro da Silveira havia famílias vindas da Holanda, Áustria e Suíça.
O fim da colônia
          Quando quitavam seus débitos com o Governo algumas famílias que viviam nesta colônia começaram a vender suas glebas e deixaram a colônia, indo para Bom Despacho ou mesmo outras cidades do Brasil. Após a Segunda Guerra, uma boa parte retornou para a Alemanha.
          Em suas casas passaram a viver trabalhadores de fazendas ou mesmo, os que compravam as glebas dos alemães. A sede da fazenda foi demolida, restando hoje apenas os alicerces no meio do mato. A última família alemã a deixar a colônia foi a família Primus. Ou seja, onde era a antiga colônia, não existe mais nenhuma família de colonos.
          O cemitério dos alemães já não tem mais cerca e foi tomado pelo mato, se misturando ao pasto para o gado. A estação e o armazém ainda estão de pé, mas em ruínas, como podem ver na foto acima, devido a depredação, já que é um local onde tem muitos pescadores e muita gente frequenta para passeios ou descanso na praia fluvial do Rio Lambari. Os trilhos não existem, apenas a ponte que passava o trem.
          A história dos imigrantes alemães em Álvaro da Silveira se encerrou assim de forma melancólica. Na imagem acima podemos ver onde era a colônia. A história dos colonos foi coberta pelo mato e praticamente esquecida com o passar dos anos.
          Antes cheio de vida e de gente que trabalhava muito, deu lugar ao nada, ao vazio, ao silêncio, ao abandono. Restou apenas as sepulturas dos alemães para contar história e as ruínas do antigo armazém. Uma história desconhecida, até mesmo para quem é de Bom Despacho.
A Colônia Davi Campista
          A segunda colônia de alemães criada em Bom Despacho foi a Colônia Davi Campista. Eram inicialmente 274 imigrantes, em sua maioria, alemães. Na colônia foram construídas 50 moradias, recebê-los, além do casarão sede, uma construção do século XIX, que já existia na propriedade.
O casarão sede
          As paredes eram calhadas em branco e portas e janelas pintadas em verde. Toda sua estrutura, vigas, escadarias, pisos, portas e janelas são em madeira maciça. Ao longo do XX passou por reformas no telhado e troca das paredes. A parte superior em pau-a-pique deu lugar a tijolos de cerâmica e na inferior, a parede em pau-a-pique foi substituída por concreto, como podem ver na fotografia abaixo, de como está hoje. Na foto acima, a mesma foto nas cores originais, colorizada pelo Rogério Salgado.
          O casarão foi construído no início do século XIX. É um dos patrimônios da cidade. Construção típica mineira, com cômodos enormes, possui dois andares, em pau-a-pique. Na parte superior ficava os quartos, banheiros e sala de circulação. Na parte inferior, cozinha ampla e uma salão enorme. Em redor do casarão, pomar, as ruínas da usina geradora de energia elétrica para o casarão, na foto acima, curral, um barracão de dispensa com forno de barro e uma tulha, como podem ver na foto abaixo.
Qual o nome dos colonos?
          Segundo registros de casamentos, óbitos e nascimentos nos cartórios de Bom Despacho, podemos encontrar sobrenomes de algumas das famílias da Colônia Davi Campista: Berger, Bock, Brack, Breitenbaum, Brulhardt, Butschkau, Eckert, Eppenstein, Evers, Feistel, Fischer, Gerards Hahn, Janson, Karst, Kaulich, Katthagen, Kettrup, Klein, Klezewsky, Klimaschevski, Korell, Lotze, Michalski, Peifer, Polatschek, Reimer, Röppe, Schneidereit, Seidler, Westermann, Zellin.
          Não são todos, mas a maioria. Entre as famílias que viviam na Colônia Davi Campista, tinha também famílias vindas da Hungria, Polônia, Áustria e Suíça, com predominância de alemães..
A Colônia
          O nome da colônia homenageia o diplomata e político brasileiro David Morethson Campista. Foi criada em 5 de fevereiro de 1921, pelo decreto n° 5.560 de 5 de fevereiro de 1921 e emancipada pelo decreto n° 2.264 em 26 de julho de 1946. A colônia foi instalada em terras da fazenda Cachoeira do Picão, a 5 km do perímetro urbano da cidade e ocupava uma área de 1.320 hectares.
Cemitério
          Como em Álvaro da Silveira, a Colônia Davi Campista contava com um cemitério, construído pelos próprios alemães. Em igualdade está o abandono e o mato que toma conta do local, esquecido pelo poder público. A única diferença entre o cemitério de Álvaro da Silveira, é que o da Colônia Davi Campista está cercado por muros de placas de concreto e na frente um portão em ferro fundido e um pórtico, onde está escrito: “Imigrantes da Colônia”, como podem ver na foto acima.
          Nesse cemitério estão sepultados 21 colonos, sendo alguns da Colônia Álvaro da Silveira. Nas sepulturas encontramos cruzes com o nome de cada um e alguns túmulos revestidos com cerâmicas e circulado por tijolos, como podem ver acima e abaixo.
          Sãos esses os sobrenomes dos colonos sepultados no cemitério da Colônia: Berger, Brack, Kettrup, Klezewsky, Kohnert, Korell, Michalski, Primus, Schneidereit, Seidler, Westermann, Zellin.
Legado para a história
          Enquanto na Colônia Álvaro da Silveira, restam apenas para contar a história dos colonos alemães em Bom Despacho um cemitério tomado pelo mato e as ruínas do antigo armazém, na Colônia Davi Campista, boa parte da presença dos imigrantes alemães em Bom Despacho ainda está preservada
          Netos e bisnetos diretos dos imigrantes alemães ainda vivem em Bom Despacho e alguns mantém as propriedades de suas famílias, preservando um pouco da história de seus antepassados.
          O casarão que foi sede da Colônia Davi Campista está de pé e o proprietário atual está restaurando o imóvel, preservando assim um acervo histórico de Bom Despacho.
          As ruínas da pequena usina hidrelétrica do casarão ainda existe, a tulha, o fogão a lenha e o de barro, o pomar com árvores frutíferas centenárias, o terreiro em frente ao casarão onde eram realizados os cafés coloniais e festividades também. As antigas casas dos colonos foram reformadas ou reconstruídas pelos novos proprietários. Mesmos reformados ou reconstruídas, contam um pouco da história dos imigrantes alemães em Bom Despacho.
          Não só isso, na cidade, alguns colonos dão nome a ruas e uma praça, que eu mesmo idealizei, chamada de Praça Germânica, situada no bairro São Vicente, mas ainda não urbanizada.
          Os alemães que vieram para Bom Despacho tem a gratidão do povo bom-despachense pela contribuição que deram para o desenvolvimento da agricultura e indústria da cidade bem como uma enorme contribuição social. Foto acima do Wesley Rodrigues.
          Os alemães fazem parte da história de Bom Despacho, cidade com origens no século XVIII, com quase 300 anos de existência.

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

Facebook

Postagens populares

Seguidores