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terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Costumes e cultura dos geraizeiros do Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) Geraizeiro é como é chamado o povo do Norte de Minas, parte do Noroeste e extremo do Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia. 
          O povo geraizeiro foi formado às margens do Rio São Francisco, com influência da cultura caipira e nordestina, em seus modos, costumes, vestimentas, cultura, religiosidade e linguajar. Foi essa região e o estilo de vida do geraizeiro que inspirou Guimarães Rosa a escrever o clássico “Grande sertão: veredas” (fotografia acima arquivo Prefeitura de Chapada Gaúcha MG/Divulgação, instrumentos musicais usados pelos geraizeiros)
A presença bandeirante no Norte de Minas
          O povo geraizeiro é mais antigo que os mineiros das outras regiões do Estado, por ter sido essa regia a primeira em Minas a ter incursões e povoação de bandeirantes, vindos da Bahia. A presença bandeirante, vindos diretamente de São Paulo, ocorreu a partir de 1673, no século XVII, com Fernão Dias Paes Leme e ampliada a partir do século XVIII, com o aumento da exploração mineral e busca de novas minas de ouro e diamantes em Minas. 
          Isso gerou um grande aumento da incursão de aventureiros, tropeiros e bandeirantes paulistas vindos de São Paulo pelo Sul de Minas, com o objetivo de exploração do ouro e pelo Norte de Minas, de bandeirantes paulistas vindos da Bahia. Os bandeirantes que vieram da Bahia, se dedicavam mais a agropecuária, atuando na formação de pastagens, criação de gado e produção de alimentos e carne de sol para abastecer a capital, na época, Salvador..
          Essas duas frentes bandeirantes se expandiram pelo Estado, se encontrando na parte baixa do Vale São Francisco, originando assim o povo geraizeiro.
Matias Cardoso, o primeiro bandeirante
          O primeiro bandeirante a fundar uma povoação em Minas, foi Matias Cardoso. Chegou a Minas subindo o Rio São Francisco, a partir da Bahia. Fundou várias fazendas de criação de gado que trazia da Bahia e produção de alimentos. Muitas dessas fazendas às margens do Rio São Francisco, deram origem posteriormente a povoados, distritos, como Brejo do Amparo e até cidades, como Januária e São Romão, formadas às margens do Rio São Francisco. Em uma de suas paradas, fixou-se as margens do Rio São Francisco e fundou, por volta de 1660, a primeira povoação mineira, que é hoje a cidade de Matias Cardoso MG, no extremo Norte de Minas, na divisa com a Bahia.
A formação do povo geraizeiro
          A primeira influência na formação do geraizeiro foi bandeirante paulista, dos povos indígenas que habitavam a região, da cultura nordestina e posteriormente, dos geralistas da região Central, Sul de Minas e do Triângulo Mineiro, regiões de forte influência e tradição caipira. Em termos genéticos, o geraizeiro é um povo mestiço, com traços físicos e costumes próprios, que os diferenciam dos mineiros de outras regiões do Estado. (foto acima de autoria de Lester Scalon - enviada pelo Guia Elson Barbosa de Chapada Gaúcha MG)
Geralista e geraizeiro
          Geralista era como os habitantes da Capitania das Minas Gerais. eram chamados, antes de de ser oficializado o gentílico “mineiro”, devido a imensa maioria dos habitantes das Gerais trabalharem na mineração. Gerais passou a ser ainda a designação do bioma Cerrado norte mineiro por ser uma região de transição entre o bioma Cerrado com a Caatinga, no oeste baiano. Quem vivia nessa região, de vegetação e paisagens gerais, era chamado de geraizeiro. (na foto acima da Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha MG, comunidade de geraizeiros)
          Os geraizeiros são conhecidos também por “agricultores do planalto” e “guardiões do Cerrado”. As comunidade de geraizeiros tradicionais, existentes há gerações, são reconhecidas como sendo “povos de origem”, como os quilombolas, ribeirinhos, etc, embora hoje o termo “geraizeiro” se refira a todos os habitantes do Norte de Minas. Conhecem o Cerrado e suas variações, como a palma da mão.
O geraizeiro de origem
          O geraizeiro tradicional é essencialmente caipira em sua genealogia, costumes, estilo de vida, modo de vestir, na musicalidade, na religiosidade em sua culinária que tem como base pratos feitos a base dos frutos do Cerrado, como o pequi, araticum e buritis, na foto acima do Manoel Freitas.
          É um povo resistente, que se adaptou e se formou no Cerrado e Caatinga, ao longo de mais de 300 anos e aprendeu a viver em harmonia com esses biomas e com comunidade.
          Criaram seu estilo próprio de vida e culinária. Comem do que plantam. Cultivam lavouras de milho, feijão, mandioca, frutas e verduras para subsistência própria. O que sobra é comercializado em feiras e comunidades vizinhas, ao natural ou beneficiados.
          Tradicionalmente, são avessos a cercas, a monocultura e a propriedade privada. Vivem em comunidades, sem muros ou cercas em suas casas.
Vaqueiros e o canto do aboio
          Exercem atividades em comunidades com trabalhos idênticos ao sertanejo nordestino. Lidam com o gado, cortam e preparam carne de sol. São vaqueiros tradicionais. Para se protegerem da vegetação, animais peçonhentos e o sol forte da região, usam gibão de couro, chapéu e perneiras, como seus antepassados. (na foto acima do Tom Alves/@tomalves.fotografia, um típico vaqueiro em ação)
           Conduzem o gado no aboio, que é um canto grave tradicional nordestino, entoado, sem palavras. Esse canto surgiu pela necessidade de acalmar o gado e controlá-lo, já que o gado é criado solto pelos geraizeiros. O som cadenciado, prolongado e macio do aboio ecoa ao longe e o gado obedece. No aboio, a dura lida no trato com o gado, se torna poesia. É uma cultura que emociona.
          O geraizeiro conta suas histórias no ritmo do aboio, cantado, cadenciado, macio, mas nesse caso, usando palavras ao contar suas histórias e dos seus companheiros. (foto acima da Prefeitura de Chapada Gaúcha MG_
          É um povo tradicional, de origem, vivendo a gerações na mesma terra que seus pais, avós, bisavós, trisavós e tetravós viveram, desde a época dos bandeirantes, conservando sua cultura, costumes, tradições, religiosidade, culinária, dialeto, enfim, os guardiões do Cerrado conservam a essência de suas origens.
          Como todo sertanejo, o geraizeiro é ante de tudo, um povo forte e resistente!

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