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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

13 distritos mineiros que vão fazer você se apaixonar – Parte VI

(Por Arnaldo Silva) Esta é a quinta parte com 13 pacatos e charmosos distritos de Minas Gerais. Já foram feitas as partes 1, 2, 3, 4, 5, e essa é a sexta parte. Em Minas Gerais, segundo dados da Fundação João Pinheiro, são atualmente 1.816 distritos e 853 cidades, além de mais centenas de vilas e pequenos povoados. Não dá para postar tantos distritos de uma vez só, por isso optamos por dividir a matéria em partes. Conheça 13 acolhedores, pacatos, charmosos e apaixonantes distritos mineiros.
01 – Tabuleiro do Mato Dentro
          É distrito da cidade histórica de Conceição do Mato Dentro MG, a 167 km de Belo Horizonte, na Serra do Espinhaço. O distrito está distante 20 km da sede.
          Tabuleiro é uma joia colonial do Espinhaço. É uma típica vila mineira, casario colonial charmoso, uma igreja típica do Barroco Mineiro, erguida no alto de uma colina, campo de futebol, tradicionais vendas, botecos e mercearias. Na pitoresca vila colonial vivem mais de 1250 pessoas. É um povo simples, acolhedor, hospitaleiro e muito bom de prosa. (foto acima de Marselha Rufino)
          Pra quem não sabe, o distrito recebeu no século XIX algumas famílias de imigrantes alemães que vieram para a trabalhar na siderurgia, já que a região contava com várias de minério de ferro. Uma dessas famílias era a Utsch, especialistas sem siderurgia. Trabalhavam numa siderúrgica fundada em 1822, na região onde é hoje o distrito de Cubas, que tem esse nome devida a medida, “cuba”, usada para pedir o ferro e o aço. 
          O porque Tabuleiro tem esse nome é incerto, apenas história oral, contada pelo povo. Segundo uma dessas histórias, o nome é em alusão a aparência das serras que lembram um tabuleiro. Outros dizem ser referência ao tabuleiro utilizados no século XIX e XX usados pelos moradores da região no transporte de mercadorias até a cidade de Conceição do Mato Dentro. Há ainda a versão que tabuleiro surgiu com os canteiros de plantações da época de sua origem, que tinham o formato de um tabuleiro. (fotografia acima do @gustavosimoes.art)
          A base econômica do distrito é a agricultura familiar, mas devido a Cachoeira do Tabuleiro e os parques ambientais, é o turismo que movimenta a economia do distrito, principalmente nas lojinhas de artesanato, botecos, restaurantes e pousadas locais que atendem todos os gostos e bolsos. Toda a comunidade do distrito, seja na área urbana da vila ou rural, estão inseridas no contexto do turismo.
          Tabuleiro é o distrito mais conhecido e visitado de Conceição do Mato Dentro devido a Cachoeira do Tabuleiro, a maior cachoeira de Minas, com 273 metros de queda, o equivalente a um prédio de 91 andares. É a terceira maior cachoeira do Brasil. O poço formado por suas águas tem cerca de 20 metros de profundidade, rodeado por blocos de pedras e também, com muitas pedras submersos. Pra completa toda essa beleza no entorno da cachoeira existem belíssimos jardins naturais com orquídeas, sempre-vivas e bromélias gigantes.
          A cachoeira está na área do Parque Natural Municipal do Tabuleiro e no Parque Estadual da Serra do Intendente, ambos pertencentes ao distrito de Tabuleiro. (fotos acima de Nacip Gômez)
          É tão impactante e linda que foi eleita com 40 mil votos em concurso realizado pelo Instituto Estrada Real, órgão ligado à Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), como uma das 7 maravilhas da Estrada Real.
02 - Furquim
          Com origens nos primeiros anos do século XVIII, o distrito foi criado oficialmente em 16 de fevereiro de 1718. É histórico de Mariana, na Região Central, distante 28 km da sede e a 120 km de Belo Horizonte.
          O distrito é formado ainda pelos subdistritos de Goiabeiras, Cuiabá, Constantino, Gurujanga, Curvanca, Margarida Viana, Paraíso, Pedras e Crasto. No distrito e subdistritos, vivem cerca de 2 mil pessoas. (fotos de Leandro Leal)
          Seus moradores vivem da Agricultura Familiar, com destaque para a produção artesanal de doces caseiros como a goiabada e doce de leite, cachaça de alambique, queijos, quitandas, cultivo de hortaliças diversas e pequenas lavouras, como de milho.
          O artesanato é outra forte atividade em Furquim com destaque para confecção de tapetes de pita; flores e balaios de palha; esteiras e peneiras de taquaras de bambu; chicotes, cabrestos e bolsas de couro; bordados e crochês; pintura em tecidos; artesanato feito com pedra sabão como esculturas, panelas e arte decorativa; e também, artesanato em madeira como móveis rústicos, gamelas, colheres de pau e pilões.
Origem de Furquim
          Seu nome tem origem em Antônio Furquim da Luz, sertanista que fundou o Arraial dos Furquim nos primeiros anos do século XVIII. Foi Antônio Furquim o descobridor de minas de ouro na região, tornando-a um efervescente centro de mineração.
          Como todo arraial do interior mineiro, tinha como centro de fé uma igreja ou capela. Em Furquim, a fé no Bom Jesus do Monte. Uma pequena capela foi erguida 1704, começou a ser ampliada a partir de 1745, tendo sido concluída no século XIX.
          Uma obra setecentista rica em detalhes das ornamentações, talhas pinturas do estilo Joanino. Conta com belíssimos acervos sacros, que contribuíram com a igreja ao longo de sua construção renomados arquitetos, construções e artistas da época como Francisco Xavier Carneiro, Francisco Machado Luz, José Pereira Arouca. Sua importância para a história do Brasil Colônia é tão grande que a Igreja foi tombada em 1949 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
          Em 1745, é instalado nas proximidade da capela o Cruzeiro Patriarcal, hoje um das principais atrações turísticas da Vila Colonial Barroca de Furquim. Além disso, em Furquim a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e os Dozes Passos da Via Sacra, são outros atrativos, juntamente com seu preservado e charmoso casario colonial. (fotos acima de Leandro Leal)
          Furquim preserva sua história, seu passado e suas características há três séculos. Uma vila colonial, tipicamente mineiro com casario colonial, simplicidade e requinte em suas construções, principalmente nos adornos e talhas de seus casarões e igrejas históricas.
Atrativos de Furquim
          A Matriz e o Cruzeiro do século XVIII são marcos da história de Furquim, bem como sua antiga estação ferroviária, reformada e preservada. Inaugurada em 28/08/1926, a estação fazia parte do ramal Ponte Nova. Ligava Furquim a estação Miguel Burnier em Ouro Preto MG, na época, capital da província de Minas, até Ponte Nova. Reformada, funciona atualmente na antiga estação um Centro Cultural.
          Além disso, Furquim tem como atrativos o encontro das águas do Ribeirão do Carmo com o Rio Gualaxo do Sul, a Cachoeira de Rosa, no subdistrito de Pedras, a Cachoeira do Jadir e a Cachoeira do Pedro, no subdistrito de Cuiabá. Tem ainda a Pedra do Urubu, o Rio do Coito e o Rio Gualaxo como atrativos naturais e a Ponte dos Macacos, a Fonte da Gameleira.
          Furquim conta com boa estrutura urbana para atender os turistas como pousadas, botecos e restaurante com comida típica, pequeno comércio onde o visitante encontra os produtos locais como queijos, doce e artesanato, além de poder acompanhar as tradicionais festas religiosas como Semana Santa, Corpus Christi, o Dia do Padroeiro, a Festa de virada de ano e do Furquiense ausente, em 1° de janeiro, Mês de Maria, Festa da Virgem do Carmelo em 16 de julho, Festas Juninas, dentre outras.
03 - Porto dos Mendes
          Porto dos Mendes é distrito de Campo Belo, município da região Oeste de Minas, distante 226 km de Belo Horizonte. O distrito, está na divisa de Campo Belo com Nepomuceno e por isso conta com dois portos, um em cada cidade. Isso porque Porto dos Mendes é banhado pelo Lago de Furnas e a travessia é feita e barcos e balsas. 
          São dois portos. O porto “De Cá” como chamam o porto do lado de Campo Belo e o porto “De Lá”, como é mais chamado o porto de Nepomuceno, embora seu nome antigo seja Porto Sapecado. Mas é mais fácil falar “porto de lá” e “porto de cá”. (na foto acima do Daniel Souto)
          Além dos dois portos, as atividades de pesca e náutica, as balsas transportam carros, ônibus e tudo que puder sobre as águas do Lago. Porto dos Mendes é um dos mais importantes atrativos distritos de Campo Belo, não apenas pelo Lago de Furnas, mas por sua história e origem.
          Porto dos Mendes surgiu de um povoado formado no século XVIII, com o nome de Vila São Sebastião de Porto dos Mendes. Em 9 de agosto de 1864 foi elevado a distrito, passando a ser apenas chamado de Porto dos Mendes.
          É uma charmosa, pacata e atraente vila mineira, formada por pessoas igualmente pacatas, acolhedores e hospitaleiros. Tem ainda como destaque a Igreja de São Sebastião, construída em meados do século XVIII, o Cruzeiro no alto da serra, matas nativas, trilhas ecológicas e belas cachoeiras. (foto acima de Daniel Souto)
          Lugar com boa estrutura para receber turistas, conta com bons restaurantes, bares e pousadas, tanto em Campo Belo e Nepomuceno, quanto na própria vila. Lugar ideal para passeios em família, pesca esportiva, passeios de barcos e ainda para quem gosta de viajar pelos encantos da simplicidade das vilas coloniais mineiras.
04 - Chacrinha dos Pretos
          É distrito de Belo Vale, no Vale do Paraopeba, distante 82 km de BH.
          A comunidade da Chacrinha dos Pretos tem origem no século XVIII, há mais de 180 anos. Foi formada entre as fazendas Chácara e Santa Cecília, que pertenceu ao Coronel José de Paula Peixoto, influente fazendeiro que tinha o apelido do valor sua fortuna, “Milhão e Meio”. (fotos acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
          Por influência de sua esposa, a qual amava muito, não seguia os padrões no trato com os escravizados na época. Tratava-os bem. Após sua morte, sua esposa alforriou todos os escravos da fazenda. Além isso, como herdou toda a propriedade de seu falecido esposo, colocou em testamento os escravos que alforriou como seus herdeiros diretos. Após a morte da viúva do coronel “Milhão e Meio”, os escravos alforriados assumiram a posse legal da fazenda, de acordo com a vontade da viúva do coronel “Milhão e Meio”.
          A área da antiga fazenda e onde foi formado o quilombo da Chacrinha dos Pretos, formam um sítio arqueológico de grande valor histórico para a cidade e região por ter sido o início da formação do Quilombo. É um bem tombado como Patrimônio Cultural e Material de Belo Vale MG, através do Decreto N° 1240/2011, devido sua grande importância para a história da comunidade quilombola da região. (fotos acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
          Além disso, Chacrinha dos Pretos é uma comunidade quilombola certificada pela Fundação Cultural Palmares. Isso garante que os moradores de Chacrinha dos Pretos tem origem em comum e tem como base a preservação dos valores de seus antepassados, bem como a preservação de suas práticas culturais, além de preservarem a identidade cultural e histórica da comunidade.
          Os moradores atuais, descendentes os quilombolas que formaram a comunidade, realizam manifestações culturais, religiosas e folclóricas no sítio arqueológico, onde começou o quilombo. Isso por ser um lugar de uma riqueza histórica e cultural impressionante, bem como a história da formação do quilombo que se formou na fazenda, totalmente diferente da origem dos quilombos na época.
05 - Padre Pinto (Caxambu)
          É distrito do município de Rio Piracicaba, no Médio Piracicaba, distante 127 km de Belo Horizonte. O distrito conta com cerca de 1500 moradores e está a 5 km da BR-381, a 14 km do centro de Rio Piracicaba e possui uma boa estrutura urbana.
          É um lugar simples, pacato, sossegado, com povo acolhedor e bastante hospitaleiro, que se orgulha de sua comunidade, de preservar suas festas tradicionais, principalmente religiosas e ainda, valorizam e respeitam a memória de seus antepassados, principalmente os de origem africana. O distrito tem raízes históricas no tempo da Mineração e Escravidão. (fotografia acima do Duva Brunelli)
          Durante o ano ocorrem eventos populares, folclóricos e religiosos em Padre Pinto, com destaque para a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a tradicional Congada. Além disso, no mês de maio, acontece a tradicional Festa do Boi Fogueira, uma tradicional festa folclórica com danças e cantigas de roda.
          Seu nome de origem era Caxambu, passando a se chamar Padre pinto, em homenagem ao padre Manoel Fernandes Pinto Coelho, a partir de 8 de agosto de 1927. Mesmo alterando o nome, Caxambu é o nome mais popular, devido existir no distrito a Comunidade Quilombola Caxambu.
          Uma charmosa vila, com um casario antigo em estilo colonial, eclético e moderno, povo simples, acolhedor e de fé. Além de igreja católica, construída em 1911, em Padre Pinto existem duas igrejas evangélicas. Seus moradores vivem da agricultura familiar. (foto acima de Duva Brunelli)
          Sua antiga usina elétrica, é hoje patrimônio tombado de Rio Piracicaba. Além disso, Padre Pinto é um dos distritos de grande importância cultural para a cidade por sua história e tradições populares, oriundas do tempo da Escravidão.
          Por sua origem africana, a comunidade Caxambu, em Padre Pinto é área reconhecida pela Fundação Palmares como comunidade Quilombola. O Quilombo de Caxambu, que significa, na língua africana que para alguns historiadores a junção dos vocábulos cacha (tambor) e mumbu (música). Mas há outros historiadores que afirmaram que seu significado seria a junção dos vocábulos de caa (mato), xa (ver), umbu riacho, sendo então mato que vê o riacho.
A família Alcântara de Caxambu
          É em Caxambu (Padre Pinto) que vive a Família Alcântara, que forma o coral Família Alcântara. Fundado há mais de meio século, o coral já está na quarta geração da família.
          A Família Alcântara, bem como todos que vivem no Quilombo, é formada por descendentes de escravos trazidos de Angola, por volta de 1760 para trabalharem nas fazendas da região.
          A história da Família Alcântara, bem como o coral é conhecida e reconhecida em Minas, no Brasil e também no mundo. O coral tem discos gravados, já fizeram várias apresentações em várias cidades e festivais e também em programas de TVs, entre eles do programa de Jô Soares, na Rede Globo, além de terem sido tema de documentário produzido e exibido pela TV Rede Minas.
06 - Bom Jesus do Vermelho
          Bom Jesus do Vermelho é distrito subordinado a Santa Rita do Ibitipoca, município distante 70 km de Barbacena e a 241 km de Belo Horizonte, nos limites territoriais com Ibertioga, Piedade do Rio Grande, Santana do Garambéu, Lima Duarte, Bias Fortes e Antônio Carlos, no Campo das Vertentes com a Zona da Mata. O acesso é pela MG-135 E MG-338. (foto acima de André Duarte)
          Bom Jesus do Vermelho é uma pequena vila típica do interior mineiro, com uma singela igreja, praça, um casario colonial bem cuidado, destacando as velhas e antigas vendas, como a Venda Salles, como podem ver nas fotos acima do André Duarte, a Venda, a Igreja e o casario visto da entrada da vila.
          Seu povo é simples, hospitaleiro, valorizam suas tradições folclóricas, religiosas e a tradição mineira dos tempos dos tropeiros e boiadeiros, presente nas cantorias da tradicional música caipira mineira, além da culinária mineira, principalmente as quitandas, sempre presente nas cozinhas mineiras e nas rodas de viola e sanfona, que sempre acontece nas casas e quintais da Vila.
          Lugar calmo e tranquilo, onde todos se conhecem. Na charmosa e pequena vila, vivem pouco mais de 1000 pessoas. Sua economia se baseia em pequenos comércios, na agricultura familiar e no turismo, já que a Santa Rita do Ibitipoca e seus distritos estão na área do Parque Estadual do Ibitipoca. Por esse motivo, restaurantes, bares e pousadas se encontra com facilidade no distrito, em Santa Rita e redondezas.
          Além disso, Bom Jesus do Vermelho oferece a seus moradores e visitantes um convívio pelo com a natureza, com trilhas diversas, cachoeiras, montanhas e as belíssimas paisagens paisagens do Parque do Ibitipoca, como por exemplo a Janela do Céu, principal atração do Parque, situado nas terras do município de Santa Rita, no qual faz parte Bom Jesus do Vermelho.
          Uma época boa para visitar Bom Jesus do Vermelho é julho, quando acontece a tradicional festa do Bom Jesus, com shows com bandas e artistas locais e regionais, barracas com comidas típicas, celebrações religiosas, dentre outras atrações.
07- Coco
          Coco é uma típica e tradicional Vila Colonial Mineira, distrito de Moeda MG, no Vale do Paraopeba, distante 60 km de Belo Horizonte.
           O casario colonial, típico do período barroco é um dos atrativos do distrito, suas belezas naturais nativas como matas nativas, trilhas, cachoeiras, bem como a Igreja do Sagrada Coração de Jesus. É uma igreja simples, mas com talhas, entalhes, forros e ornamentos requintados, típicos da arte sacra da século XIX e XX. (fotografia acima de Evaldo Itor Fernandes, o casario e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus)
          Tanto a Igreja, quando a formação do povoado, tem origens no século, segundos os moradores mais antigos. Seu povo tem orgulho de sua comunidade, de sua igreja e recebem muito bem os visitantes, como todo bom mineiro. A principal atividade econômica de Coco é agricultura familiar, turismo e pequenos comércios. 
08 – Betânia
          É distrito da de Pedra do Indaiá, no Oeste de Minas, distante 174 km de BH. Em Betânia vivem cerca de 700 pessoas. Está situado no KM 145 a MG-050, entre Divinópolis e Formiga MG.
          É uma pequena vila, que tem como base econômica a extração de pedras que são trabalhadas para serem usadas em calçamento, mistura em concreto e outros usos. Por esse motivo, a vila é pavimentada e conta com uma boa estrutura, poluição zero e um povo muito hospitaleiro e gentil. (fotografia de Maurício Soares)
09 – Córrego do Nhonhepe
          É distrito da cidade de Tarumirim, distante 344 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. Um típico povoado mineiro, com um povo simples, acolhedor e hospitaleiro que vive a agricultura familiar. Um lugar calmo, pacato, tranquilo, um casario no estilo colonial bem simples e aconchegante.
          Segundo Romário e Priscila/@viagens_por_minas, que nos forneceu as fotos  informações, Nhonhepe é lugar de gente de boa prosa, e tem como referência a tradicional Venda do Djalma, na ativa desde 1973. É aquela charmosa venda que ao mesmo tempo é boteco, lugar de contato social da vila e onde você encontra de tudo e mais um pouco. É mais que um ponto de encontro dos moradores da vila, é um lugar para rever os amigos, fazer amigos, prosear bastante e vivenciar o dia a dia de uma típica venda do interior.
          Atrás do balcão está o Sr. Djalma, sempre simpático e que adora uma boa prosa e os fregueses, também, bons de prosa e fazem amizades bem fácil. É um lugar em que todos são de casa.
10 - Porto Alegre 
          Porto Alegre é distrito de Moeda MG, Vale do Paraopeba, distante 60 km de BH. Tem origem no início do século XVIII, quando chegou à região, as bandeiras lideradas por Fernão Dias Paes Leme. Aportaram em um pequeno arraial onde viviam algumas poucas pessoas que trabalhavam na agricultura, já que em sua origem, desde o final do século XVII, o Vale do Paraopeba era uma região de produção de alimentos, devido à qualidade de suas terras. Eram pessoas simples, muito alegres e receptivas.
          O pequeno vilarejo ficava no encontro das águas do Ribeirão da Barra com o Rio Paraopeba. Esse encontro de águas formava um porto era usado ancorar embarcações que fazia a travessia do rio, levando e trazendo alimentos, além de pessoas. Por isso o nome dado ao lugar, Porto Alegre.
          Seu crescimento foi devagar, em torno da igreja do seu padroeiro, o Senhor Bom Jesus. Inclusive, a Igreja do Senhor Bom Jesus de Porto Alegre é um dos seus principais atrativos, bem como a beleza e o charme do seu casario colonial, suas belezas naturais e belas cachoeiras, além claro, da alegria de seu povo, que faz jus ao nome do lugar. (fotos acima de Evaldo Itor Fernandes)
11 – Conceição de Minas
          É distrito do município de Dionísio, distante 189 km de Belo Horizonte, na Região do Vale do Rio Doce, compondo o Colar Metropolitano do Vale do Aço, nos limites territoriais com os municípios de São Domingos do Prata, Timóteo, Marliéria, São José do Goiabal.
          Conceição de Minas é uma pequena e pacata vila, onde vivem pouco mais de 1000 pessoas. Foi elevado a distrito em 30 de dezembro de 1962. O acesso é pela BR-381, com entrada pelo entroncamento da BR-381 em Dionísio e mais 30 km em rodovia pavimentada.
          Seus moradores vivem da agricultura família e pequenos comércios.
          A vila é sossegada e bem tranquila. Conta boa estrutura para seus moradores com igreja, pracinha, academia ao ar livre, ruas calçadas com bloquetes, um simples mas charmoso casario. É um lugar gostoso de se viver.
12 – Baixa Verde
          É distrito de Dionísio MG a 189 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. Em Baixa Verde vivem cerca de 3 mil pessoas que vivem de pequenos comércios, da agropecuária, da extração de madeira e de carvão vegetal, além do artesanato feito com fios, pinturas e trabalhos no estilo Barroco, que contribui para a movimentação da economia local.
          O distrito conta com uma boa estrutura urbana com escola de ensino fundamental e médio, Unidade Básica de Saúde, Agência dos Correios, abastecimento de água e coleta de esgoto, igrejas e praças. Enfim, é uma charmosa e atraente vila interiorana, com casario típico, povo hospitaleiro, que valoriza suas tradições e religiosidade. (foto acima de Duva Brunelli)
          Em Baixa Verde, matas nativas de Mata Atlântica bem preservadas, são atrativos, bem como dezenas de lagoas naturais, além da beleza do Rio Mumbaça.
13 – Conceição de Tronqueiras
          É distrito de Coroaci, no Vale do Rio Doce, distante 306 km de Belo Horizonte. Faz limite territorial com Sardoá, Peçanha, Governador Valadares, Nacip Raydan, Marilac e Virgolândia.
          É uma pequena e pacata vila, típica do interior mineiro com praça, matriz, festividades religiosas, um casario bem cuidado. (fotografia acima de Duva Brunelli)
          Seu povo é muito religioso, acolhedor, hospitaleiro e adoram uma boa prosa. Além disso, Conceição de Tronqueiras conta com uma boa estrutura urbana para seu moradores que vivem basicamente de pequenos comércios e agricultura familiar.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Receita da broa João-deitado do Cerrado

A broa João-deitado, Cobu ou Bolo Pau-a-pique, tem cheiro saudade e gosto de infância. É uma das mais saborosas quitandas de Minas.
INGREDIENTES
. 1 litro de coalhada dissolvida em 700 ml de leite integral
. 1 quilo de fubá de canjica
. 500 gramas de farinha de trigo
. 250 gramas de manteiga derretida
. 1 concha rasa de banha de porco derretida
. 500 gramas de açúcar demerara
1 colher de sopa de fermento em pó dissolvido em 1 colher de sopa de leite integral em temperatura ambiente
4 ovos batidos ligeiramente batidos
. Sal a gosto
. Cravo moído e canela em pó a gosto
. Folhas de bananeira cortadas no formato 15x15 centímetros
MODO DE PREPARO
- Coloque em uma vasilha o fubá de canjica, a manteiga e a banha já derretidas. Misture bem
- Acrescente a farinha de trigo, o açúcar, o sal, o fermento em pó dissolvido no leite e mexa bem.
- Adicione os ovos e mexa novamente.
- Aos poucos, coloque a coalhada, mexendo até a massa ficar lisa e homogênea.
- Espalhe a canela, o cravo e misture.
- Peque as folhas da bananeira e com uma colher, vá pegando a massa e espalhando sobre as a folha.
- Enrole cada folha e amarre as laterais com um barbante ou linha da própria palha da bananeira.
- Leve para assar em forno a gás pré-aquecido a 250°C e deixe assando por 40 minutos
Retire do forno e sirva com um bom café e se quiser melhorar mais ainda o sabor, passe melado de cana ou com uma geleia de sua preferência que ficará ótima!
Fotos da broa da @merceariaparaopeba em Itabirito MG

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A venda do Cecé em Jaboticatubas

(Por Alexa Silva) Essa é uma típica venda mineira, também conhecida como armazém, fica em na histórica e tradicional cidade de Jaboticatubas MG, a 60 km de Belo Horizonte, na Serra do Cipó. Como toda vendinha do interior, tem de tudo...
          Café moído na hora, ovos caipira, fubá de moinho d'água, leite, queijo, rapadura, cerveja gelada, tira gosto, pinga, biscoitos caseiros, bolos, frutas, xampu, Presto-barba, soda cáustica, refrigerante, suco, vassoura, rodo, absorvente, água mineral, balde, fumo de rolo, galinha caipira, toucinho fresco, vela, papel higiênico, arroz, sal, açúcar, pão... Bem assim, tudo junto e misturado.
  
          Ahhh!!! Tava esquecendo o principal, tem Seu Cecé, dona Lia, e Nonô. Com atendimento maravilhoso, prosa boa, simplicidade, aconchego... Tudo tão lindo, tão simples, tudo tão Minas!
Texto e fotos da Venda do Cecé em Jaboticatubas de autoria de Alexa Silva/@alexa.r.silva

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Sabão de cinzas: tradição, origem e como fazer decoada

(Por Arnaldo Silva) Lembramos com romantismo e saudosismo os velhos tempos na roça que nossos pais e avós viveram. A vida era mais tranquila, as famílias trabalhavam na roça, plantavam para comer. 
          Quase ninguém tinha dinheiro, mas não faltava nada. Plantavam e colhiam. Criavam galinhas e porcos. Tinha ovos, carne e gordura sempre. Roupas eram feitas na roda de fiar, com o algodão colhido que eles mesmos plantavam. (foto acima de @merceariaparaopeba em Itabirito MG)
           Não havia luz elétrica, usavam lamparina para iluminar a casa à noite. Na beira do fogão muita prosa, cachaça feita no alambique da comunidade e muitas quitandas. Tudo iluminado à luz de lamparina.
          Eram simples e a vida era simples. Mas não era fácil. A vida era dura, o trabalho era pesado. Começava antes do sol amanhecer e do galo cantar e encerrava depois que o sol se punha. Mas era um estilo de vida que deixou saudades, pela pureza e pela nostalgia. (foto acima do Igor Messias em Santana do Pirapama MG)
          Comparando com a realidade atual, não hesitamos em dizer que, mesmo sendo uma vida difícil, era melhor que a que temos hoje. E éramos mais humanos e as famílias mais unidades.
          Nossos pais e avós nos deixaram coisas boas desse tempo. Muitas delas estão em nossa memória e vida, mas outras foram esquecidas devido a modernidade. Uma dessas preciosidades esquecidas é o Sabão de Cinzas, também chamado de Sabão Decoada que é o processo de coar as impurezas da cinza antes de ser dissolvida na água.
O Sabão feito de Cinzas
          Passaram gerações e esse sabão acabou sendo esquecido e ao saber que existia, muita gente estranha existir um sabão feito com cinzas. Naqueles tempos difíceis, as famílias tinham que usar técnicas bem rústicas para manterem a higiene da casa e de si próprios. Sabonete e sabão, como conhecemos, existia, mas fora da alcance da maioria do povo que vivia no interior. Se não tinha como comprar sabão, faziam, aproveitando ingredientes bem fáceis e sem custo algum. (na foto acima, sabão de cinzas da @merceariaparaopeba em Itabirito MG)
          A cinza do fogão a lenha, água de cisterna e a gordura de porco, após o uso em várias frituras e já não estava mais boa para novas frituras.
          Não leva nenhum produto químico, como soda cáustica e nem precisa. Isso porque a cinza é rica em sais como o carbonato de potássio e o carbonato de sódio. Que dissolvida na água, exerce a mesma função da soda cáustica, com a vantagem de ser natural.
          Além disso, na cinza estão concentradas propriedades que tem a função de purificar e branquear. E o povo antigo sabia disso. Tanto é que as roupas claras encardidas, eram colocadas de molho com o sabão que faziam, com uma trouxinha amarrada com cinzas. No dia seguinte enxaguavam e colocavam para secar. A roupa ficava branquinha.
          A cinza é fácil de diluir em água porque concentra substâncias alcalinas, que são solúveis. Por isso mesmo, é usada desde tempos antigos para fazer sabão.
          Antigo que eu falo é antigo mesmo, não é nos tempos de nossos avós não. Há registros de sabão feito de cinzas há 2.800 anos antes de Cristo. Surgiu no oriente médio, na Babilônia. A arte de fazer sabão de cinzas passou a ser difundida na Europa pelos gauleses 600 anos a. C e principalmente durante o Império Romano.
Como fazer o Sabão de Cinzas
          O primeiro passo é preparar a decoada, que é mistura da água com cinza, misturada na gordura e aquecida no fogo até aprumar, ficando numa consistência bem grossa.
          Então vamos aprender fazer o sabão?
Você vai precisar de:
• 2,5 quilos de cinza de madeira
• 5 quilos de gordura de porco
• 5 litros de água de nascente ou cisterna.
Embalagem. Antigamente não embalavam o sabão, mas hoje, caprichosamente, como podem ver na foto acima, na Mercearia Paraopeba em Itabirito MG, passamos a embalar o sabão na palha da bananeira. Fica mais charmoso e bem no estilo antigo. Capricho de mineiro mesmo.
Dicas importantes:
- Não use a cinza de madeira de eucalipto porque, hoje, é uma madeira modificada geneticamente e nem de madeira de árvores transgênicas. Use a cinza da madeira nativa natural.
- Faça o sabão somente com a água de cisterna ou nascente. Não use água de torneira porque contém muito cloro e o sabão não vai prestar.
- Não use de jeito nenhum óleo de cozinha que temos em casa, comprados em supermercados, já embalados. São feitos com químicos e produtos transgênicos. É banha de porco mesmo, nada de óleo de soja, girassol, granola, etc.
- O sabão de cinzas bom é o feito com água, cinza e gordura de porco, natural.
Modo de fazer
- Recolha as cinzas, passe em uma peneira e retire as impurezas e gravetos não queimados.
- Faça a decoada, dissolvendo a cinza na água. Misture bastante até as cinzas se dissolverem por completo.
- Coe novamente na peneira para retirar o restante de cinza e impurezas.
- Coe também a gordura para retirar restos de alimento.
- Em um tacho, coloque a gordura. Quando estiver derretida, acrescente aos poucos a decoada e deixe fervendo por umas 2 horas. O sabão ficará na cor cinza escura.
- Demora, mas sempre dê uma olhada e mexa de vez em quando.
- Quando perceber que está adquirindo uma consistência bem firme, está chegando no ponto e mexa devagar, mas sem parar.
- Nesse ponto, mexa mais rápido até engrossar bem.
- Desligue o fogo e continue batendo até ficar uma massa dura.
- Deixe esfriar e em seguida pegue um punhado do sabão e comece a embolar, fazendo bolinhas.
- Enrole na palha da bananeira e amarre, como vê na foto acima da Mercearia Paraopeba/@merceariaparaopeba em Itabirito MG.
Prontinho. Está pronto um sabão ecologicamente correto que não afeta o meio ambiente.
Uma tradição ecologicamente correta
          Nossos avós diziam que esse sabão ajudava no tratamento de doenças de pele como as brotoejas, perebas, piolho, coceira, etc. Limpava mesmo a pele e ainda, deixava o cabelo lisinho, além de ajudar a combater a seborreia, prevenir cravos e espinhas.
          Mesmo sendo antigo, o sabão de cinzas continua a ser feito nos quintais das casas de nosso interior, como em Itabirito MG, encontrado na Mercearia Paraopeba e em várias outras cidades mineiras.
          Sabão de cinzas é tradição e sabedoria que ficou no passado, mas presente na vida de muitas famílias hoje que não dispensa esse sabão, usando-o na lavagem de utensílios domésticos, de roupas e também para tomar banho. Ah, e ainda usam a bucha vegetal, que é esfoleante natural e ajuda em muito na limpeza da pele.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Receita de Rosquinha tradicional de fubá

(Por Arnaldo Silva) Uma joia da rica culinária mineira e com sabor de história, é a Rosquinha de Fubá, quitanda mineira presente nas mesas dos mineiros desde os tempos dos Barões do Café, no século XIX. Por ser bem fácil de fazer e muito saborosa, nunca faltava nas mesas mineiras.
Receita tradicional da Rosquinha de Fubá
INGREDIENTES
. 2 xícaras de fubá de moinho fino
. 1 xícara (chá) de amido de milho
. 1 copo (americano) de leite
. 1 ½ xícara (chá) de açúcar
. 1 gema de ovo
. 150 gramas de manteiga
. 1 colher (sopa) de erva-doce
. 1 colher (sopa) de fermento em pó químico
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha, coloque o açúcar, o amido, o fubá, a erva-doce, o fermento e misture.
- Acrescente o leite, a gema, a manteiga e misture bastante com as mãos até ficar uma massa bem firme, desgrudando das mãos.
- Se a massa ficar muito dura, acrescente leite.
- Agora, pegue um punhado da massa, enrole nas mãos, faça tiras e junte as pontas, fazendo o formato anelar.
- Se preferir, outro molde, faça bolinhas com as mãos e achate-a.
- Coloque as rosquinhas em forma já untada com manteiga e leve para assar em forno preaquecido a 180 °C e deixe assando até ficarem douradas
          Por fim, faça um café e sirva que é bom demais da conta!
Fotos da rosquinha da Mercearia Paraopeba/@merceariaparaopeba em Itabirito MG

Broinha de milho: origem e receita tradicional

(Por Arnaldo Silva) Muita gente pensa que todas as nossas receitas saíram de uma senzala, de uma taba indígena ou foram trazidas pelas sinhazinhas portuguesas. Nem todas, como por exemplo, as broas de fubá, tradicionais em Minas Gerais desde o século XIX.
          Broa não tem origens nos escravos, na sabedoria indígena e muito menos na cozinha portuguesa. As broas têm origem nos imigrantes alemães. Não tem origem na Alemanha, foi criada pelos alemães já no Brasil mesmo. Justiça e reconhecimento sejam feitos, foram os alemães, que chegaram ao Brasil a partir de 1824 e a Minas Gerais, a partir de 1859, que deram origem às broas tão populares e tradicionais em Minas.
          Os alemães adoram pão, em especial o tradicional Deustsches Brot, Pão Alemão, na tradução para o português. Esse pão tem como ingrediente principal a farinha de centeio. Como no século XIX não existia centeio e nem farinha de trigo cultivado no Brasil e importar naquela época não era fácil, tiveram que adaptar a receita original do Brot alemão aos ingredientes locais. No caso, a farinha de centeio foi substituída pela farinha do milho, o fubá de moinho.
          Assim surgiu o Brot, um pão alemão adaptado, assado em formas ou em formato de bolinhas achatadas. Levava ainda o açúcar de engenho, chamado mascavo e erva-doce. O fubá, o açúcar e erva-doce eram bem fáceis de encontrar em Minas.
          A palavra brot se popularizou em Minas com o nome “amineirado” de broa e broinhas. E assim é até os dias de hoje.
          Broa é a quitanda mineira que tem como ingrediente principal o fubá, não leva trigo ou centeio.
          Quando o trigo começou a chegar no Brasil e a se popularizar, esse ingrediente passou ser incorporado às broas ou mesmo, passou a ser mais usado que o fubá. Só que já não se chamava mais broa e sim, bolo.
          Para os alemães passou a ser Mischbrot, ou seja, pão misto. Para os mineiros, simplesmente bolo. Em Minas Gerais, tudo que tem trigo como ingrediente principal é bolo ou bolinho. Quando é o fubá o principal ingrediente, é broa ou broinha
          Então vamos aprender a receita tradicional da Broinha de Milho:
INGREDIENTES
. 500 gramas de fubá de moinho de milho amarelo
. 1 ½ xícara (chá) de açúcar
. 2 ovos
. 3 colheres (sopa) de manteiga
. 1 xícara (chá) de leite
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. Erva-doce a gosto
. 1 pitada de sal
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha, coloque os ovos, a manteiga, o leite, a erva-doce, o sal e o fermento em pó e misture bem.
- Vá despejando aos poucos o fubá e misturado com as mãos até ficar na consistência firme, no ponto de enrolar.
- Pegue um punhado de massa com as mãos e faça os moldes enrolando. Para evitar que as broinhas trinquem muito, coloque o punhado da massa em uma cuinha de cuité ou em xícara de chá e chacoalhe até moldá-la.
- Coloque as broinhas em uma forma untada com manteiga e pulverizada com fubá e coloque uma a uma ao lado da outra, dando distância de 1 cm.
- Leve para assar em forno preaquecido a 180°C graus por 30 minutos ou até que as beiradas comecem a ficar escuras.
          Enfim está pronta a broinha de milho. Agora é só passar o café!
Fotografias da broinha de milho da Mercearia Paraopeba em Itabirito MG

sábado, 9 de setembro de 2023

A cidade de Ponte Nova e o Cemitério dos Escravos

(Por Arnaldo Silva) A cidade de Ponte Nova, na Zona da Mata, tem origens no século XVIII, surgindo como povoamento em 12 de dezembro de 1770, às margens do rio Piranga. Com seu crescimento, foi elevada a freguesia, vila e por fim à cidade emancipada em 30 de outubro de 1866. É uma cidade de grande valor histórico e cultural para Minas Gerais.
          Está a 180 km de Belo Horizonte e faz limites territoriais com Santa Cruz do Escalvado, Urucânia, Oratórios, Amparo da Serra, Teixeiras, Guaraciaba, Acaiaca, Barra Longa e Rio Doce. Segundo último Censo do IBGE, Ponte Nova conta com 57.776 habitantes. (fotografia acima e abaixo de Fabinho Augusto, a vista parcial de Ponte Nova)
          Cidade com boa estrutura urbana, com bons hotéis, pousadas e restaurantes com comida típica, conta com um comércio bem variado, um bom setor de serviços e facilidades de acesso, já que a cidade é corta por várias rodovias estaduais como a MG-066, MG-262, MG-326, MG-329, e também pela BR-120.
          Sua economia tem como base o comércio, setor de serviços, pequenas e médias indústrias que atuam em diversos ramos industriais como alimentício, têxtil, automobilístico, farmacêutico, eletrônico, dentro outros. Outro setor econômico de grande importância para a cidade é a agropecuária com destaque para a agricultura familiar, suinocultura, pecuária leiteira e de corte.
          Município de terras férteis, é banhado pelo rio Piranga e conta com vários pontos turísticos naturais com matas nativas, córregos e rios que formam cachoeiras de águas cristalinas.
          Ponte Nova faz parte do Circuito Turístico Montanhas e Fé, além de ser integrante do Programa de Regionalização do Turismo do Estado de Minas Gerais. Por sua origem histórica, Ponte Nova está ainda na área de influência da Estrada Real e da Rota Imperial, a antiga Estrada São Pedro de Alcântara. (na foto acima do Fabinho Augusto, ponte férrea sobre o rio Piranga em Ponte Nova)
          Além disso, a cidade se destaca em Minas pela sua culinária típica, principalmente seus doces caseiros e belos casarões rurais centenários. (fotografias acima de Fabinho Augusto)
          Ponte Nova conta com vários atrativos naturais e urbanos como a belíssima Matriz de São Sebastião com seus belíssimos casarões em seu entorno (na foto acima do Fabinho Augusto).
          Além disso, na parte central da cidade, podemos admirar belas construções do início do século XX, em estilo eclético (na foto acima de Fabinho Augusto). 
          Tem ainda as praças Getúlio Vargas e Dom Helvécio, o Parque Passa Cinco, a Capela Dom Bosco, a Praça das Palmeiras, o Pesque e Pague Sombrio, o Esporte Clube Palmeirense, a Igreja de São Pedro, o Clube AABB, a Rodoviária, o Rio Piranga, a Capela Vau Açu, a Pista de skate, a Cachoeira do Vau Açu, a Casa da Família Monte, a Estação Ferroviária, a Cachoeira da Sesmaria, o Mirante Alto do C.D.I., o Cemitério dos Escravos e o Parque Ecológico Municipal Tancredo Neves, na foto abaixo do Sérgio Mourão/@encantosdeminas.
          Sem contar as festividades culturais e religiosas durante o ano como Semana Santa, Corpus Christi, Festa do Rosário, Folia de Reis, Festas Juninas, Carnaval e os festejos de aniversário da cidade.
O Cemitério dos Escravos de Ponte Nova
          Construído no início do século XIX, o Cemitério dos Escravos está localizado em terras da Fazenda da Urtiga, que pertenceu a Manoel Ignácio, o Barão do Pontal. Natural do Minho, em Portugal, Manoel Ignácio nasceu em 1781, vindo para o Brasil em 1806.
          Atuando como produtor rural e comerciante na região de Ponte Nova, era muito influente e proprietário de um grande número de escravos. Em 1841, recebeu o título de Barão pelo Imperador Dom Pedro II. Em homenagem à sua propriedade, que ficava em um pontal às margens do rio Piranga, passou a ser chamado, por vontade próprio de Barão do Pontal. Faleceu e foi sepultado em seu cemitério particular, em sua própria fazenda. (na foto acima do Duva Brunelli, as proximidades do Cemitério dos Escravos)
          Em sua propriedade, foi criado um cemitério para sepultamentos de seus escravos, devido à sociedade à época não permitir sepultamentos de negros em cemitérios de brancos.
          É um cemitério com características bem simples, com cerca de 800 m², cercado por um muro de pedras e estruturas em cantaria, que são blocos de rochas talhadas em ferramentas rústicas, pelos próprios escravos, além de uma cruz de madeira ao centro. (nas fotos acima e abaixo do Duva Brunelli, a murada externa do Cemitério dos Escravos)
          Os escravos eram enterrados neste cemitério até a abolição da Escravidão no Brasil, em 1888. A partir desse ano, os negros passaram a ser sepultados nos cemitérios dos distritos de Pontal e Chopotó, pertencentes a Ponte Nova.
          O Cemitério dos Escravos da Fazenda Urtiga é hoje uma parte da história da Escravidão no Brasil. É um bem tombado como patrimônio do município e um dos pontos de visitação.
          Embora pareça estranho um cemitério como bem tombado e atrativo de uma cidade não é um local de contemplação e sim, reflexão. Mas não uma reflexão sobre a vida e a morte, mas sim, sobre a vida de quem lá está sepultado. (foto acima e abaixo do Duva Brunelli, o interior do cemitério)
          Eram seres humanos retirados à força de suas terras e famílias na África, e trazidos para o Brasil para trabalharem como escravos. Vítimas de sofrimentos e humilhações diversas, levaram para a sepultura as marcas de mais de 400 anos de escravidão no Brasil.
          Marcas que nos levam a não esquecê-los e atender suas últimas vontades que era de manter vivas suas memórias e histórias. Vontades essas que os próprios escravos deixaram em vestígios encontrados no entorno de suas sepulturas.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Os três falares de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Em Minas Gerais são 20 milhões de mineiros vivendo em 853 municípios, 1712 distritos e milhares de pequenos povoados, distribuídos em 13 regiões geográficas e 70 regiões intermediárias. É a segunda maior população do Brasil e quarto maior estado brasileiro em extensão territorial, com uma área total de 586.513,983 km².
          Além disso, 54% do território mineiro é formado pelo bioma Cerrado, na porção centro ocidental mineira, 40% pelo bioma Mata Atlântica, na porção oriental e 6% pelo bioma Caatinga, no extremo Norte do Estado, na divisa com a Bahia. (nas fotos o carreiro registrado por Lúís Leite em Desemboque, no Triângulo Mineiro, o Geraizeiro registrado por Eduardo Gomes e o Montanhês na Região Central, de Arnaldo Silva)
          O grande número de regiões, extensão territorial, biomas, origens e formações diferentes dos povos regionais mineiros, são responsáveis pelas diferenças regionais presentes na gastronomia, cultura, religiosidade, jeito de vestir, nas tradições religiosas e folclóricas e principalmente no modo de falar.
          Não temos um dialeto em Minas e sim três dialetos. O mais falado, em 50% do território mineiro é o Montanhês. Esse dialeto é falado na Região Central, Centro-Oeste, Campo das Vertentes, Zona da Mata e Leste de Minas. Outro dialeto presente em Minas é o Caipira, falado em 33% do Estado especificamente nas regiões Sul, Sudoeste, Oeste, Noroeste e Triângulo Mineiro. E em 17% do território mineiro, no Norte de Minas e parte do Vale do Jequitinhonha e Noroeste, o dialeto falado é o Geraizeiro.
          No mapa linguístico acima, do estado de Minas Gerais, estão os três falares de Minas Gerais e sua distribuição territorial, segundo o trabalho: Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG), da Universidade Federal de Juiz de Fora MG, de 1977.
Diferença entre sotaque e dialeto
          Sotaque é a característica própria de um linguajar de região específica com a substituição de letras que modifiquem a fonética de uma palavra e frase como por exemplo o “X” do modo de falar do carioca. Dialeto é a forma como a língua oficial de uma determinada região é falada, tendo como base a assimilação de outras línguas e uso de palavras e letras diversas, não específicas, gerando pronúncias fonéticas variadas.
          O modo de falar do mineiro é dialeto e não sotaque. Isso porque o falar mineiro é uma mistura de palavras da língua oficial com línguas nativas e também introduzidas. No caso de Minas Gerais, de línguas faladas na região da Costa da Mina, na África e entre povos indígenas, com a língua portuguesa, com o regionalismo da região do Minho, em Portugal. Por isso os falares mineiros serem diferentes, exatamente pela origem dos povos que os formaram serem diferentes, devido as regiões geográficas específicas de cada um desses povos.
          Outras regiões brasileiras receberam portugueses e africanos de outras regiões de seus próprias, com cultura, dialeto e tradições diferentes. Entre os povos indígenas, há línguas, dialetos, cultura, culinária, rituais diferentes de outras tribos, devido a diferentes etnias indígenas.
          Isso explica a diversidade das culturas, arquiteturas, religiosidades, músicas, folclores, vestimentas, dialetos, tradições e gastronomias diferentes entre os Estados Brasil, devido aos diversos povos de regiões diferentes do Brasil, da Europa e África, com etnias indígenas diferentes.          
Conhecendo os falares de Minas Gerais
O falar Geraizeiro

          É um dialeto falado em 17% do território mineiro.
          O termo Geraizeiro é usado desde o século XIX. Refere-se ao povo mineiro que vive do Cerrado com sua história e cultura ligadas a esse bioma, bem como ao seu modo próprio de falar. É uma região que compreende todo o Norte de Minas e boa parte do Noroeste Mineiro e Vale do Jequitinhonha, estendendo-se até a área de transição do Cerrado para a Caatinga, na divisa com a Bahia. (fotos acima de Edson Borges de Felício dos Santos MG)
          São os nativos dos Gerais, que é o sinônimo de Cerrado. É um povo formado por homens e mulheres do Cerrado e com ligações familiares e históricas com este bioma. Por esse motivo, são chamados de Guardiões do Cerrado. É o povo que preserva a identidade cultural e histórica dos geraizeiros do norte mineiro.
          Os Geraizeiros, que tem o sangue dos Gerais nas veias, não destroem a vegetação nativa, ao contrário, a respeita. Criam o gado solto, não retiram da natureza o que não podem tirar e quando tiram, respeitam os limites da terra e seus ciclos. Quando colhem os frutos do Cerrado, catam apenas os frutos já maduros, que caíram no chão. Não arrancam a fruta ainda verde no pé.
          Retiram o mel silvestre, colhem ervas e raízes medicinais, espalham sementes dos frutos do Cerrado, ajudando na propagação e preservação da flora dos Gerais, bem como preservam e vivem em harmonia com a fauna nativa.
          Originalmente, o Geraizeiro é um povo formado por povoadores vindos de São Paulo e da parte norte da Região Central Mineira, com povos indígenas habitantes da região e africanos, que constituem a maioria da origem dos Geraizeiros. Em sua origem, viviam nas partes altas e baixas da região, geralmente às margens de córregos e rios. Com o crescimento da região, a cultura, linguajar e influência dos primeiros geraizeiros foram se expandindo, passando o termo a ser usado para definir o dialeto, culinária, cultura e estilo de vida norte mineiro.
          Os Geraizeiros tradicionais vivem da pesca, da agricultura e dos frutos do Cerrado. Vivem do trabalho e comem do que plantam. Em suas terras cultivam arroz, feijão, mandioca, cana, amendoim, dentre outras culturas, além dos frutos nativos.
          É um povo com identidade própria, tanto no linguajar, quanto no estilo de vida e culinária, que ao longo dos anos, foi se aprimorando em um estilo de cozinha, com base nos frutos do Cerrado e peixes de água doce, mesclando a tradição culinária dos povoadores paulistas, mineiros, indígenas e africanos, à vida e cultura do Cerrado e Caatinga.
          Os Geraizeiros são chamados ainda de catrumanos, e de baianeiros, pelo jeito de falar um pouco parecido com o falar baiano, embora o dialeto Geraizeiro seja mais próximo do dialeto Montanhês, do que o do falar baiano, baseiam-se na proximidade da região com a Bahia e com algumas palavras do falar baianos incorporados ao dialeto Geraizeiro..
          A partir de 2007, foi agregado à Constituição de 1988, a definição de povos tradicionais, além dos povos indígenas e quilombolas, outros povos, que preservam o modo de vida tradicional desde suas origens. Entre os vários povos inseridos neste quesito, está o povo dos Gerais, o Geraizeiro. Desde 2011, comemora-se em Minas Gerais o Dia dos Gerais, especificamente na cidade de Matias Cardoso, no Norte de Minas, por ser a primeira povoação criada em Minas Gerais em 1660, bem a matriz da cidade, dedicada a Nossa Senhora da Conceição erguida em 1664.
O falar Caipira
          É um dialeto falado em 33% do território mineiro.
          O dialeto falado no Triângulo Mineiro, Noroeste, Oeste, Sul e Sudeste de Minas é o dialeto Caipira, além de influência do dialeto Montanhês. Essa região mineira está na área de influência da Paulistânia Caipira, uma área geográfica e cultural com origens em São Paulo no século XVI e expandida por uma imensa área territorial brasileira pelos tropeiros e bandeirantes paulistas ao longo do século XVII e XVIII. (fotografia acima de Marlon Arantes em Aiuruoca MG, Sul de Minas)
          A influência da Paulistânia Caipira está presente em partes de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. A Paulistânia Caipira não se limita apenas ao dialeto, mas também no modo de vida, na culinária, na vestimenta, nas danças, nos instrumentos musicais e na música.
          Como o assunto é o falar caipira, vamos nos ater a isso. O dialeto caipira é uma variante dialetal da língua tupi antiga, com o português arcaico. O arcaísmo é quando uma palavra ou expressão deixou de ser usada em uma determinada língua. Desde o descobrimento do Brasil, palavras da língua portuguesa vem sendo modificadas em constantes revisões ortográficas, algumas até deixando de existir ou mudando sua escrita, consequentemente mudando a fonética, devido a exclusão de letras e acentos.
          A própria palavra caipira é uma corruptela da palavra tupi “caapora” que significa “morador do mato”. São as pessoas ou grupos que viviam longe das grandes cidades em pequenos povoados. É estilo de vida e falar do povo do interior, da área de influência da Paulistânia.
          Palavras faladas nos séculos XVII, XVIII, XIX e início do século XX são hoje arcaicas, mas ainda presentes no dialeto Caipira. Boa parte das palavras do dialeto Caipira, tidas hoje como erros ortográficos e de pronúncias, nada mais são do que a preservação do português antigo e medieval da mesma forma que era falado e pronunciado no português arcaico. O que era correto escrever e pronunciar no português antigo, é hoje escrita e pronuncia errada.
          É o caso por exemplo de algumas palavras arcaicas que hoje tem a fonética e grafia diferente do português medieval, como exemplo fruta. No português medieval era escrita e pronunciada “fruita”. Outra palavra é escutar, escrita e pronunciada “escuita”, no português medieval. O “i” foi excluído em uma das várias revisões ortográficas da língua portuguesa, mas continuaram sendo faladas na área da Paulistânia Caipira. Ou seja, o dialeto Caipira preservou a escrita a fonética do português antigo.
           Outro exemplo da preservação da forma arcaica da fonética e escrita do português no dialeto Caipira é o uso do “R” retroflexo, ou seja, pronunciado duplamente com fonética arrastada “rr”, além da substituição da letra L pelo” r”.
          A forma fonética do uso constante do “erre” e a troca do L pelo “r”, muda a escrita e a fonética da palavra. Como exemplo: almoço, fica “armoço”, blusa fica “brusa”, calça, fica “carça”, flauta fica “frauta”, anel fica “aner”, alvo fica arvo, Cláudio fica “cráudio”, pastel fica “paster”, globo fica “grobo”, chiclete fica “chicrete”, claro fica "craro", etc. Na gramática atual é erro sim, mas na história e formação fonética do dialeto Caipira, não. É a preservação de uma tradição, de uma forma de falar histórica, da fonética, expressão e grafia do português medieval e tupi antigo.
          Em algumas metásteses caipira, o erro não é acrescentado e sim, mudado de posição. Eram faladas e até hoje continuam sendo faladas com o R trocado de posição na palavra como perfume (prefurme), agradeço (agardeço), percisar (precidar), etc.
          No dialeto caipira, as pronúncias vogais são predominantemente tônicas. Quando uma vogal tem a uma sílaba átoma, mais fraca, é trocada por uma sílaba tônica, com fonética alongada, mais forte como tábua que fica tauba, estátua, que fica estauta, etc.
          Outra característica do dialeto Caipira é a substituição das letras LH quando antecedem a vogal “a”. Nesse casa, as duas letras são substituídas pela vogal “i”. Por exemplo, telha, fica “teia”, trabalhar, fica “trabaiá”, tulha fica “tuia”. Quando o R é no final de uma palavra que antecede uma vogal, o “r” é simplesmente excluído. Por exemplo: comer, fica “comê”, engolir, fica “engoli”, bater fica “batê, gemer fica “gemê”, suprir fica “supri.
          Além disso, singular e plural no dialeto caipira são ausentes, sem concordância verbal alguma. No dialeto Caipira, plural e singular compõem uma mesma frase. Por exemplo, as colheres, no dialeto caipira é escrita e pronunciada “as colher”, nas mesas, é “nas mesa”, etc. É erro ortográfico, hoje sim, claro, mas faz parte da fonética e expressão do dialeto Caipira tradicional, arcaico. É comum quem vive na influência da Paulistânia Caipira pronunciar “as casa”, “as mulhé” “as carne”, “as pessoa”, etc.
          São pronunciadas naturalmente, devido o dialeto ser uma cultura transmitida por gerações e falado pelo povo da região da influência caipira, no caso das regiões mineiras, desde o século XVIII.
          O dialeto Caipira é simplesmente a preservação das características fonéticas da língua portuguesa medieval falada no Brasil em tempos antigos.
O falar Montanhês
          É o dialeto falado em 50% do território mineiro.
          Também chamado de falar mineiro, o Montanhês é o dialeto original de Minas Gerais surgido no século XVIII, durante o Ciclo do Ouro. (fotografia acima de Elvira Nascimento em Catas Altas MG, Região Central)
          É formado pela influência linguística regional dos povos que deram origem ao povo mineiro. O português, em sua maioria, da antiga região portuguesa do Minho, na época uma região de mineração, dai a maioria dos portugueses que vieram para Minas serem dessa região, porque já atuavam nessa atividade.
          O africano, em sua maioria da região Costa da Mina no Continente africano, hoje formada pela Nigéria, Gana, Togo e Benin. Era uma antiga região mineradora, ou seja, os habitantes dessa região africana já trabalhavam na exploração mineral e tinha experiência na escavação de minas. Por esse motivo, foram os escolhidos para o trabalho nas minas mineiras. E ainda povos indígenas de diferentes etnias que viviam em território mineiro por ao menos 12 mil anos, com seus idiomas, cultura e tradições de acordo com as comunidades indígenas existentes na época, foram o tripé da origem do povo mineiro e seu modo de falar.
          Africanos e portugueses que vieram para o Brasil, não vieram de um único lugar em seus países e sim de vários lugares e regiões local com tradições e culturas diferentes, se espalhando pelo Brasil, de acordo com os interesses dos colonizadores portugueses.
          Cada região, tanto de Portugal e da África, possui línguas, dialetos, sotaques e tradições diferentes, embora mesmo sendo em um único país, como Portugal, que é formado pelas regiões do Alentejo, Madeira, Norte, Centro, Lisboa e Algarve. Entre os africanos, a mesma coisa. Países com regiões e dialetos diferentes, além de costumes, tradições e religiosidades diferentes, bem como os povos indígenas, por serem povos formados por várias etnias com variações em suas línguas, costumes, culinária, etc.
          Esses povos, com suas tradições, culturas regionais e dialetos se espalharam pelo Brasil. Por isso as diferenças regionais do Brasil.
          Em relação a Minas, durante o Ciclo do Ouro, além dos paulistas, vieram ainda brasileiros de outras regiões brasileiras como do Nordeste e Sul do país, principalmente do Rio Grande do Sul, para trabalharem na mineração.
          O nome original era Montanhês, isso desde o final do século XVIII. Era como eram chamados os habitantes da região Central, onde se concentrava e ainda concentra, maior parte da exploração mineral do Estado.
          Por ser uma região montanhosa e seus habitantes viverem em povoados no sopé das montanhas ou no topo das serras e morros, eram chamados de Montanhês. O povo mineiro era conhecido como Montanhês antes de existir Minas Gerais como capitania, província e estado. Bem antes mesmo de existir o gentílico “mineiro”.
          O povo montanhês trabalhava nas minas de extração mineral. Eram mineiros, como profissão. Quem não trabalhava nas minas, exercia atividades, que de alguma forma estava ligada a mineração, portanto, eram chamados de mineiros também. Por isso o jeito de falar Montanhês passou a ser chamado também de falar do mineiro, literalmente, os trabalhadores das minas de ouro.
          O jeito Montanhês de falar começou no final do século XVII, com a chegada de bandeirantes e formação de povoados. No século XVIII passou a receber a influência dos portugueses que chegaram da região do Minho, dos africanos e brasileiros de outras regiões que vieram em massa para Minas. No século XIX, recebeu a influência de povos de outros países como dos ingleses, que vieram em grande número para Minas Gerais a partir de 1825.
          O falar Montanhês ou Mineiro, é diferente dialeto Caipira e do dialeto Geraizeiro, embora o esses dois dialetos tenham influência do Montanhês, o falar do mineiro Montanhês é bastante diferente, não apenas em relação aos outros dois falados no Estado mas também no Brasil. É um dialeto único e longe de se limitar apenas ao uai, sô e trem. É bastante abrangente e amplo.
          O Montanhês tem como característica principal o ritmo forte, pronuncias rápidas de uma frase, com fonéticas acentuadas e abertas, que podem ser em tons de afirmação, exclamação ou interrogação. Outra característica do Montanhês é encurtar ao máximo uma palavra e principalmente uma frase, além de fazer catira (trocar) entre vogais.
          Como exemplo a vogal E pelo I ou o O pelo U ou até excluindo palavras na pronúncia. Como exemplo: esporte que se pronuncia “sporti”, estranho, que é pronunciado “strain” e por aí vai. Ao pronunciar uma palavra, já no diminutivo, que termine com as letras HO, são suprimidas de imediato. Por exemplo? pãozinho, fica “pãozin”, Paulinho fica “paulin”, pouquinho, fica “pouquin”, passarinho fica “passarin”, todinho fica “todin”, baixinho fica “baixin”etc.
          Palavras no aumentativo raramente são usadas no dialeto Montanhês, pela simples tendência do próprio estilo em falar rápido, cortando palavras e as diminuindo. É raro uma expressão ou frase pronunciada no dialeto Montanhês sem diminutivos.
          No Montanhês, os hiatos podem ter vogais repetidas e faladas longamente como exemplo: pavio que passa a ser “pavii”, frio que passa a ser “frii”, navio passa a ser “navii”.
          Nesse dialeto, certas palavras pronunciadas bem rápido, perdem mais que a metade das letras. Usa-se a primeira letra e mais uma ou duas e ai sai a palavra e todo mineiro entende. Por exemplo, ônibus fica “ons”; senhora fica “sá”; senhor fica “sô”. Outras palavras, são literalmente pronunciadas pela metade. Como exemplo: desce fica “des”; você fica “ocêfica” ou “cêfica”; pra você fica “procê”.
          Uma frase inteira pode ser diminuída e entendida perfeitamente, pelo menos pelo povo mineiro. Como exemplo: Espere, ouça-me um pouco por favor, ficaria assim: “ Péra, só mais um cadim viu!” Ou: Venha até a mim senhor!, seria assim: “vem cá sô!”.
          Pode ser também uma palavra, meia frase ou frase inteira para não dramatizar tais questões como ao se referir a um lugar muito longe, fala-se assim somente para animar: “Né longe não sô, é logo ali ó, cê chega rapidin!”
          Palavras que terminem em TE e DE são palatalizadas, com o E na fonética de “i”. Como exemplo: horizonte fica “horizonti”, visconde fica “viscondi” com pronuncia bem forte no “I”. No caso de Belo Horizonte, a pronuncia fica “belorizonti” ou ainda, “belzonti”.
          Se for hoje à Belo Horizonte, não ouvirá essa pronúncia e sim Belo Horizonte ou no máximo “belorizonti”, “Beagá” ou “BH”. “Belzonti” era mais pronunciado pelo Montanhês da região Central, nos anos 1960 e 1970.
          Não era erro de português e sim, estilo de pronunciar palavras na característica própria do dialeto Montanhês. Os nomes compostos, sejam de pessoas, cidades ou lugares, sofriam drásticas perdas de letras para facilitar a pronúncia de forma rápida. E é assim até hoje, desde a origem do dialeto Montanhês no século XVII.
          O Montanhês nos permite falar uma frase, um texto ou mesmo escrever um dicionário ou um livro totalmente nesse dialeto, sem problemas, de tão amplo e abrangente que é.
Somos montanheses, caipiras e geraizeiros
          São esses os 3 falares do mineiro. Dialetos que conservam o português arcaico, com expressões da língua africana e indígena. São dialetos que vão além do linguajar. Falar no Montanhês, Caipira e Geraizeiro, é preservar a história de uma região, a cultura, as tradições, a música, a vestimenta, a dança, o folclore e sua própria origem. (fotografia acima de Arnaldo Silva em Moema MG, Centro-Oeste de Minas)
          Por esse motivo, somos mineiros, falamos e vivenciamos o estilo Montanhês com orgulho. Somos mineiros e falamos e vivenciamos o estilo Caipira com orgulho. Somos mineiros, falamos e vivenciamentos o estilo Geraizeiro com orgulho.
Somos de Minas Gerais com muito orgulho. Somos de um Minas que são muitas. A Minas Gerais de todos os mineiros.

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