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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O Pão de Fubá: origem e receita tradicional

(Por Arnaldo Silva) O uso do milho para se fazer pães em Minas Gerais tem origens no século XVIII, no início do Ciclo do Ouro. A falta de trigo na Colônia, fez com que os portugueses improvisassem pão, usando o milho consumido pelos indígenas, em especial o fubá, para fazer pães. O fubá substituiu a farinha de trigo.
          Usando o método de panificação português, surgiu um pão fofinho, amarelinho e com um cheiro inconfundível. Não apenas pão, mas bolos, broas, pãezinhos, roscas e biscoitos feitas com fubá.
          O fubá substituiu o trigo até meados do século XIX, quando o Brasil passou a importar mais o produto e ainda produzir trigo em pequena escala, principalmente na região Sul do País, com a chegada dos imigrantes europeus.
          Com o aumento da produção de trigo nacional e maior importação deste produto, a farinha de trigo passou a ser mais usada que o fubá, principalmente na produção de pães, reinando hoje absoluto, o pão francês.
          Mesmo assim, o tradicional Pão de Fubá continuou presente nas mesas mineiras, só que recebeu o acréscimo do trigo, para dar mais liga. Não só o pão, mas todas as quitandas feitas com fubá, se mantiveram presentes até os dias de hoje , sendo este ingrediente um dos mais importantes na gastronomia mineira.
Vamos aprender a fazer o tradicional Pão de Fubá:
INGREDIENTES
. 500 gramas de fubá 
. 2 xícaras (chá) de farinha de trigo + ou -
. 2 xícaras (chá) de leite morno ou água morna
. 1/2 xícara (chá) de óleo
. 3 colheres (café) de sal ou a gosto
. 3 ovos
. 1/2 xícara (chá) de açúcar
. 30 gramas (2 saquinhos) de fermento biológico para pão
MODO DE PREPARO
- Bata no liquidificador o leite morno ou a água morna, o óleo, o sal, os ovos, o açúcar e o fermento.
- Acrescente o fubá aos poucos e deixe batendo até que todos os ingredientes estejam bem diluídos
- Despeje o conteúdo numa vasilha e vá colocando a farinha de trigo aos poucos, mexendo com uma colher
- Quando começar a engrossar, comece a sovar com as mãos, até ao ponto de desgrudar. Se ficar muito mole, acrescente mais um pouco de farinha de trigo
- Não exagere na farinha. A massa não pode ficar dura demais, tem que simplesmente não grudar nas mãos.
- Coloque a massa em uma gamela e sove, até que a massa fique lisa e também homogênea.
- Faça uma bola com a massa, cubra com um pano e deixe por 60 minutos.
- Faça os moldes dos pães e coloque em fôrma untada com óleo e farinha de trigo.

- Cubra novamente e deixe descansando por mais 30 minutos.
- Após esse tempo, espalhe um pouco de fubá sobre a massa e leve ao forno pré-aquecido a 180ºC e deixe assando por mais ou menos 30 minutos ou até começar a dourar.
Fotos de @arnaldosilva_oficial

Biscoito Tareco: origem e receita tradicional

(Por Arnaldo Silva) O Tareco é uma guloseima tradicional em Minas Gerais e no Nordeste do Brasil, principalmente em Pernambuco, onde acredita-se que a iguaria tenha surgido e se espalhado por todo o Nordeste. Em algumas regiões da Bahia o tareco é conhecido por biscoito Paciência.
          O tareco mineiro e nordestino não tem nada a ver um com o outro, nem na aparência e nem no sabor. Em comum, apenas que as duas guloseimas são biscoitos.
          Feito com farinha de trigo, ovos e açúcar, o tareco nordestino tem a massa mole, os moldes são feitos pingados, em formato de disco fino tipo bolachas, redondinhos. É torrado na chapa. É literalmente o significado original da palavra tareco, que é "pão de ló fatiado".
          Já o tareco mineiro, não. É diferente. A começar pela massa, que leva queijo e leite. Além disso é firme e homogênea e sovada até dar o ponto de enrolar. Os moldes são feitos em formato de biscoito retangular ou triangular, achatado e o biscoito é assado no forno.
          Aprenda a fazer biscoito tareco mineiro.
INGREDIENTES
. 1 kg de farinha de trigo
. 6 ovos
. 3 copos americanos de açúcar
. 1 copo americano de manteiga derretida
. 1 colher (chá) bem cheia de fermento em pó químico 
. 1 copo americano de leite (+ ou -)
. 3 copos americanos de queijo Minas meia cura ralado
. 1 colher (chá) de sal
MODO DE FAZER
- Em uma vasilha, coloque os ovos, o leite e bata com o açúcar.
- Em seguida, coloque a manteiga e misture bem
- Agora, vá acrescentando aos poucos a farinha de trigo, o queijo e o fermento e sove até que a massa fique bem firme e homogênea.
- Cubra a vasilha com um pano de prato e deixe descansando por 30 minutos.
- Depois desse tempo, pegue um punhado de massa com as mãos, dê uma achatada e corte em formato retangular, quadrado ou triangular.
- Pincele gema de ovo por cima, pulverize açúcar cristal e leve para assar em forno pré-aquecido a 200ºC por mais ou menos 30 minutos ou até que fiquem dourados.
A receita é da Dirce Richard de Abaeté MG, com o bordado e fotografias feitos pela Neusa de Faria de Paracatu MG

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Receita de biscoito de polvilho frito

Uma das receitas mais antigas e tradicionais, presente no dia a dia do povo mineiro desde o século XIX.
INGREDIENTES
. 500 gramas de Polvilho azedo
. 2 ovos caipira
. 2 conchas de banha de porco
. 300 ml de água
. 1 colher de sopa de sal
MODO DE PREPARO
- Coloque em uma panela o óleo, água e sal e leve ao fogo, deixando ferver bem
- Coloque todo o polvilho em uma gamela e despeje a mistura fervida
- Comece a misturar com uma colher, acrescente os ovos e mexa.
- Quando esfriar, comece a sovar a massa com as mãos, até a massa ficar lisa e homogênea. Se a massa ficar mole, acrescente mais polvilho ou se ficar dura demais, um pouco mais de água.
- Agora comece a fazer os moldes dos biscoitinhos, pegando um punhado com as mãos e fazendo tipo trancinhas.
- Coloque bastante óleo em uma panela e antes de ficar quente, coloque os biscoitos.
- Na medida que o óleo for aquecendo muito, vá colocando mais óleo. Se ficar muito quente, vai estourar.
- Deixe fritando até dourarem, virando os biscoitos para que fritem por igual
Retire da panela, escorra e por fim, só matar a saudade do tempo de nossas avós, que preparavam com carinho esse biscoito para nós.
Fotografias de Luciana Albano de Ibiá MG

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Lamparina: o pastel doce de Nova Lima

(Por Arnaldo Silva) Lamparina é o nome de um pastel doce feito com massa folheada e coco, tradicional na cidade de Nova Lima MG a 35 km de Belo Horizonte. A guloseima foi inspirada na receita do Pastel de Belém, tradicional pastel de origem portuguesa. Foi apenas inspirado, não é igual. Quem conhece os dois pasteis percebe diferenças facilmente. Mas o Lamparina de Nova Lima é um doce maravilhoso, de sabor inigualável. Que nos perdoem nossos patrícios, é bem melhor.
          O pastel Lamparina de Nova Lima tem origens em meados do século XIX. Naqueles tempos, não existia energia elétrica na cidade e a lamparina era a única forma de iluminar as casas e pousadas à noite. 
          Segundo a tradição popular, para iluminar a noite em uma pousada da cidade, os hóspedes quando iam para seus quartos dormir, recebiam o pastel doce num prato e uma lamparina já acesa, num pavio molhado com azeite, para iluminar o quarto. Assim, passaram a chamar o doce de lamparina e o nome se popularizou assim.
          O quitute é tão importante para a cidade mineira que foi reconhecido como Patrimônio Imaterial de Nova Lima MG, registrado em 2016.
          A Lamparina chamou a atenção do Imperador Dom Pedro II, que experimentou a iguaria em visita à cidade em 1881. Dom Pedro II gostou demais do doce. Por esse motivo, passou a partir de então, a se popularizar não só na região, mas em Minas e na Corte, no Rio de Janeiro. (na foto acima do Júlio de Freitas/@julio_defreitas, o pastel Lamparina)
Veja como fazer o Pastel doce Lamparina 
Utensílios: Forminhas e rolo para pastel
          Esse pastel é diferente do comum, é assado em forminhas, tipo para empadas. 
Ingredientes para a massa
. 800 gramas de farinha de trigo
. 1 colher (chá) de sal
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. 3 ovos inteiros
. 2 colheres (sopa) bem cheias de banha de porco
. 1 copo (requeijão) de água
Recheio
. 3 cocos ralados
. 400 gramas de açúcar
. 1 noz-moscada ralada
. 400 gramas de manteiga
.9 gemas
Para folhar a massa
. 400 gramas de banha de porco
. 200 gramas de farinha de trigo misturada com 2 colheres de sopa de fermento
Modo de preparo
- Coloque numa vasilha a farinha, o sal e o fermento e misture tudo
- Em seguida, faça um buraco no meio e coloque os ovos e a banha.
- Despeje devagar a água e mexa apenas com as pontas do dedo, sem sovar. A massa não pode ser sovada.
- Mexa bem até que fique uma massa homogênea. Após isso, cubra e deixe descansando por 1 hora.
Enquanto a massa descansa, comece a preparar o recheio
- Pegue o coco, o açúcar e uma parte da noz-moscada e coloque numa vasilha. Misture e coloque a manteiga. Mexa bem até que os ingredientes fiquem bem incorporados.
- Em seguida, coloque as gemas de ovos e misture bem com uma colher. Reserve
Agora vamos folhear a massa que já descansou
- Pegue um pouco da mistura de farinha de trigo com fermento e espalhe sobre uma bancada e no rolo.
- Coloque a massa sobre a bancada e passe o rolo até que fique uma massa mais fina.
- Em seguida, passe a banha sobre a massa e salpique mais a mistura de farinha de trigo com fermento.
- Vire a massa, passe a banha e salpique mais farinha de trigo com fermento.
- Cubra e deixe descansando por mais 10 minutos.
- Pegue as forminhas, unte com manteiga e coloque-as todas sobre a bancada, lado a lado.
- Agora pegue a massa e coloque-a sobre as forminhas.
- Com ajuda de uma tesoura, vá cortando a massa, tirando os excessos de massa nas laterais.
- Aperte com o dedo a massa na forminha e com uma colher, vá colocando o recheio em cada forminha.
- Pré-aqueça o forno a 180 graus e leve as forminhas para assar por uns 40 minutos ou até que comecem a dourar.
- Antes de servir, se preferir, pulverize açúcar sobre as lamparinas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O bolo Queca de Nova Lima

(Por Arnaldo Silva) O bolo Queca de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, tem forte influência na culinária inglesa. Surgiu em meados do século XIX, quando ingleses passar a explorar a mina de Morro Velho na cidade.
          Por sentirem falta da culinária inglesa, passaram a fazer os principais pratos da cozinha britânica em nossas terras, tendo apoio das cozinheiras locais, que adaptavam as receitas típicas inglesas ao jeito mineiro de cozinhar. (na foto acima de Maria Aparecida Satim, o Bolo Queca)
           Além disso, tiveram que adaptar os ingredientes existentes em Minas Gerais para substituir os ingredientes usados nas receitas inglesas como frutas europeias, por exemplo, difíceis de serem encontradas na época, no Brasil.
          Os ingleses deixaram na cidade grande contribuição na economia, cultura, desenvolvimento e também na gastronomia de Nova Lima.
O bolo Queca
          Ema das grandes contribuições gastronômica dos ingleses para Nova Lima. Uma das receitas mais populares de Nova Lima é a Queca, uma das grandes contribuições dos ingleses para a gastronomia típica da cidade
          É um bolo que as nova-limenses, que trabalhavam nas casas dos ingleses aprenderam a fazer. Elas adaptaram uma tradicional receita inglesa, ensinada por suas patroas, aos nossos ingredientes substituindo por exemplo as frutas europeias, pelas frutas tropicais que existiam na região.
          As cozinheiras gostaram muito do resultado final e sabor do bolo, até então, diferente dos bolos que existiam em nossas terras. As patroas também gostaram do resultado final do bolo. 
          Além de fazer a Queca para os ingleses, passaram a fazer para seus familiares. Era tão bom que a guloseima passou a se popularizar entre os moradores de Nova Lima e de outras cidades da vizinhança. O bolo Queca caiu no gosto de todos.
A origem do Queca
          Na verdade, o nome original do bolo era Cake English, que traduzindo, significa: bolo inglês. As patroas, falavam um português com forte sotaque, e as nova-limenses da época, que trabalhavam para os ingleses, não entendiam muito o que as patroas e patrões falavam. Da palavra Cake (pronuncia-se "keik",), entendiam “queca”, assim escreviam e assim pronunciavam, ficando assim o nome. (na foto acima de Júlio de Freitas/@julio_defreitas, o Bolo Queca, entre o queijo e o pão de queijo)
          É um bolo muito comum na época de natal, típico da Inglaterra, feito com frutas cristalizadas, castanhas, nozes, passas, ameixas e cerejas. A fôrma para fazer esse bolo era também diferente, até então inexistente no Brasil, que é a fôrma pequena e bem retangular, chamada de fôrma para bolo inglês, muito comum hoje e fácil de encontrar.
          Assim surgiu a “Queca”, um bolo mineiro, originário de Nova Lima, com inspiração no English Christmas Cake. É um bolo tradicional, encontrado nas confeitarias e padarias da cidade, principalmente na época do Natal e além disso, já vindo bem embrulhado, no capricho. (na foto acima da Maria Aparecida Satim, o bolo Queca)
Receita do bolo Queca
Ingredientes

. 1 quilo de farinha de trigo
. 9 ovos
. 1 colher (sopa) bem cheia de banha de porco
. 250 gramas de manteiga em temperatura ambiente
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. 1/2 noz-moscada ralada
. 1 colher (chá) de canela em pó
. 1 colher (chá) de erva doce
. 1 colher (chá) de cravo moído
. 1 colher (chá) de sal
. 250 gramas de frutas diversas cristalizadas
. 150 gramas de passas pretas sem sementes
. 150 gramas de passas brancas sem sementes
. 150 gramas de ameixas pretas sem caroço e já picadinhas
. 150 gramas de nozes picadinhas
. 150 gramas de cerejas picadinhas
. 1 dose e meia de conhaque
. 1 pitada de bicarbonato de sódio dissolvido no suco de um limão
Para a calda: 500 gramas de açúcar e 3 copos de água
Preparando o bolo Queca
- Coloque o açúcar numa panela, derreta e vá aos poucos despejando a água fria, deixando no fogo e mexendo, até ficar uma calda densa. Reserve
- Numa vasilha, coloque as passas pretas e brancas, despeje o conhaque e deixe de molho.
- Numa bacia coloque as frutas cristalizadas, a ameixa, as passas, as nozes, as castanhas e as cerejas (deixe um pouco de nozes, castanhas e cerejas para decorar o bolo) e misture tudo. Reserve
- Em outra vasilha, coloque os ovos, a manteiga e a banha e bata com uma colher.
- Despeje a calda de açúcar e bata novamente.
- Acrescente agora o restante da farinha, o fermento em pó, o sal, a noz moscada, a canela, a erva doce e o cravo.
Misture tudo com a ajuda de uma colher de pau e adicione em seguida o conhaque molho com as passas.
- Bata bem a massa com a colher até ficar firme e homogênea.
- Coloque na massa as frutas cristalizadas e misture, com as mãos.
Acrescente agora o limão com o bicarbonato misturado e misture a massa novamente, com as mãos.
- Ligue o forno em 180°C e na prateleira mais baixa do forno, coloque água e deixe o forno ligado por 15 minutos, antes de colocar as fôrmas com as Quecas
- Unte as 4 fôrmas com manteiga e farinha ou use papel manteiga e despeje a massa nas fôrmas, mas sem encher muito porque crescerão.
- Espalhe um pouco de nozes, castanhas e cerejas por cima das Quecas e leve para assar por mais ou menos 60 minutos.
- Faça o teste do palito. Caso esteja no ponto, desligue e reque por cima, um pouco de conhaque. Espere esfriar e sirva.
- Caso queira, guarde as Quecas, embrulhadas com papel filme e coloque-as em potes fechados. Assim elas preservarão o sabor por 3 dias.
          O modo tradicional de fazer a Queca foi reconhecido como Patrimônio Imaterial de Nova Lima em 2012 e reconhecido ainda como bem "relevante de interesse cultural" pelo Estado de Minas Gerais.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Vinho de jabuticaba ou fermentado de jabuticaba?

(Por Arnaldo Silva) Se o vinho não for feito com uva, não é vinho e sim fermentado. Isso é fato e é lei.
          Toda bebida obtida através da fermentação alcóolica do mosto de frutas, é popularmente chamado de vinho. Assim, além do vinho da uva, bebidas alcoólicas obtidas através da fermentação do mosto da jabuticaba, maçã, morango, jamelão, amora, banana, laranja, pera e outras frutas, tem a denominação popular de vinhos.
          Segundo a tradição europeia, a origem da palavra vinho, vem de videira. Desde a antiguidade, vinho sempre foi associado à uva e por isso, nenhuma outra bebida, de mosto fermentado, que não seja de uva, não é considera, vinho. Inclusive, essa questão, consta em lei no Brasil.
          É a Lei N 7.678 de 8 de novembro de 1988. Um dos artigos dessa lei é bem claro sobre a questão. No Artigo 3º da Lei diz: “Vinho é a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto simples de uva sã, fresca e madura”. Parágrafo único. “A denominação vinho é privativa do produto a que se refere este artigo, sendo vedada sua utilização para produtos obtidos de quaisquer outras matérias-primas”.
          Segundo entendimentos de juristas, de acordo com a Lei citada acima, somente pode ser considerado vinho, a bebida alcóolica fermentada a partir do mosto da uva. Nenhuma outra bebida, fermentada, que não seja com uva, não pode ser denominada, vinho.
Sabará e Catas Altas
          Em Minas Gerais é tradição a produção de fermentado de jabuticaba, desde o século XIX, principalmente em Sabará a 20 km de Belo Horizonte (na foto acima de Thelmo Lins)  e Catas Altas MG, na Região Central, a 120 km da Capital (na foto abaixo da Elvira Nascimento), duas cidades históricas, com origens no século XVIII.
          Isso porque a fruta, nativa da Mata Atlântica, é abundante em Minas Gerais. É uma tradição secular a produção fermentado de jabuticaba nessas duas cidades em especial.
          A bebida secular feita com o mosto da jabuticaba é tradição centenária nessas duas cidades, anteriormente chamada de vinho. Nomenclatura que mudou, nos rótulos pelo menos, devido a questões legais, embora ainda seja popular chamar fermentado de jabuticaba, vinho.
          Esse é o motivo que não citamos a bebida fermentada de jabuticaba, como vinho.
          Os produtores da bebida fermentada de jabuticaba e suas entidades representativas, têm consciência disso e estão buscando nomenclatura própria para a bebida, de acordo com a tradição e identidade que a secular bebida tradicional dos mineiros tem com as cidades produtoras.
          
Isso por que a bebida é uma tradição que nasceu nos pomares de nossas cidades, onde os pés de jabuticabas, principalmente da espécie jabuticaba-sabará (Myrciaria cauliflora) estão presentes.
O fermentado de jabuticaba
          É uma bebida leve, saudável e saborosa que agrada em muito o paladar dos mineiros. A produção dessa bebida sobrevive até os dias de hoje, passadas de geração para geração, como exemplo na cidade de Catas Altas MG, onde o vinho de uva e o fermentado de jabuticaba são produzidos desde meados do século XIX.
          Como por exemplo, a geração de Jesuína Pereira de Souza, da Adega Aluar em Catas Altas MG. Dona Jesuína produz vinhos de uva bordô (na foto acima da Karla Jardim/@tripcatasaltas), fermentado de jabuticaba e licores, desde 1968, ensinada por sua mãe, quando tinha apenas 12 anos. Até hoje, produz as bebidas de modo artesanal, bem como a maioria dos produtores de vinhos e fermentados de jabuticaba, da cidade. 
          O modo artesanal de fazer vinhos de uva, jabuticaba e licores, é tão tradicional e importante para Catas Altas que foi tombado pela Prefeitura Municipal em 2011, e declarado como Patrimônio Imaterial de Catas Altas, através do Decreto n 1221/2011. 
          Além disso, todos os anos, em maio, Catas Altas realiza um dos maiores festivais gastronômicos do Brasil em praça pública, a Festa do Vinho de Catas Altas MG, com mostras de vinhos de uvas e fermentados das várias adegas da cidade e região.

Receitas de bolo de fubá caipira e pão de queijo roceiro

(Por Arnaldo Silva) Duas receitas tradicionais e de roça, assada no forno de barro, nos quintais mineiros. Bolo de fubá e Pão de Queijo, deliciosas quitandas que nunca estão ausentes das mesas mineiras.
          As quitandas foram feitas e fotografadas pela Belchiolina da Pousada Arca da Aliança em São José do Barreiro, distrito de São Roque de Minas. Foram assadas tradicionalmente no forno de barro, mas como a maioria não tem forno de barro em casa, asse em forno a gás, que fica bom também.
Receita de bolo de fubá caipira
INGREDIENTES

. 3 xícaras (chá) de fubá mimoso
. 1 xícara (chá) de farinha de trigo
. 1 1/2 xícara (chá) de açúcar
. 6 ovos (separe a clara da gema)
. 1 vidro de leite de coco
. 1 xícara (chá) de manteiga em temperatura ambiente
. 1 colher (sopa) de fermento químico em pó
. Erva doce a gosto
MODO DE PREPARO
- Coloque na vasilha da batedeira as gemas, a manteiga e o açúcar e misture com uma colher
- Acrescente o leite de coco e misture novamente.
- Acrescente a farinha de trigo, mexa e agora o fubá.
- Agora ligue a batedeira e bata bem até ficar uma massa homogênea
- Desligue, acrescente agora as claras em neve, a erva doce, o fermento em pó e mexa com uma colher.
- Unte uma fôrma com manteiga e polvilhe fubá e leve ao forno pré-aquecido (180ºC) e deixe assando por cerca de 35 minutos ou até dourar.
- Espere esfriar um pouco, desenforme e sirva acompanhada de um bom café.
Receita de Pão de Queijo Roceiro
INGREDIENTES
. 1 prato (esmaltado) fundo e bem cheiro de polvilho azedo
. 1 xícara (café) de fubá mimoso
. 1 xícara (chá) de leite integral
. 1 prato esmaltado (raso) de Queijo Minas fresco ralado
. 1 colher (sobremesa) de sal
. 2 ovos
. 1 concha de banha de porco
MODO DE PREPARO
- Ferva o leite com a banha e misture com o fubá. Mexa bem com uma colher para não empelotar.
- Acrescente o polvilho a essa mistura e vá escaldando e misturando bem. Espere esfriar.
- Acrescente o queijo, o sal e os ovos e comece a amassar, amolecendo a massa com o leite, pingado aos poucos.
- Faça os moldes, coloque-os numa fôrma untada com óleo ou manteiga e leve para assar a 180°C por 40 minutos ou até que dourem.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

Receita de Iaiá com Ioiô e tempero mineiro

(Por Arnaldo Silva) Receita mineira no século XVIII, consumida pelos escravos nas senzalas. Com certeza, você vai dizer que nunca ouviu falar. Isso porque é praticamente desconhecida da maioria dos mineiros, já que é uma das mais antigas receitas da nossa culinária. 
          Iaiá é a carne de vaca picadinha e o Ioiô é o angu, uma iguaria criada pelos índios, bem antes da chegada dos espanhóis e portugueses à América, já que o milho e seus derivados já eram consumidos pelos indígenas há pelo menos 2 mil anos. 
          Iaiá era uma palavra que os escravos usavam para se referir às meninas moças.
          O Ioiô é um brinquedo antigo, surgido no ano 500 a.C, portando milenar. Não é palavra africana, tem origem incerta, mas acredita-se que seja na Grécia antiga, na China ou Filipinas. O brinquedo foi trazido de Portugal no século XVIII e o nome se popularizou, principalmente entre os escravos. A mistura do Iaiá, a carne de vaca, com o angu, o Ioiô, passou a ser chamado de Ioiô pelos escravos foi mais combinar os nomes.
          São nomes de pratos que se perderam ao longo do tempo e esquecidos até, mas estão presentes até hoje em nossas mesas, mesmo que não seja feito da forma original, do século XVIII. 
          Para fazer a autêntica comida mineira, o tempero tem que ser mineiro.
Receita do Tempero Mineiro
Ingredientes para o tempero mineiro
. 250 gramas de alho
. 5 cebolas grandes
. 1 molho de cebolinha e outro de salsinha
. 2 pimentões verde
. 2 quilos de sal
Modo de preparo do tempero mineiro
- Pique em pequenos pedacinhos os pimentões, o alho, a cebola, a cebolinha e salsinha.
- Coloque tudo no liquidificador, bata e vá despejando sal até que fique uma massa grossa e firme.
          Prontinho, já pode usá-lo na receita do Iaiá com Ioiô, mas não é tudo não gente, é a quantidade que está na receita abaixo. Lógico que vai sobrar muito tempero pra você usar em outros pratos que fizer.
A receita do Iaiá com Ioiô
          Agora que já sabemos fazer o tempero mineiro, vamos à receita do Iaiá com Ioiô:
INGREDIENTES 
. 1 quilo de Iaiá (é carne de vaca)
. 2 colheres (sopa) bem cheias de fubá (o fubá, quando engrossado na água, vira angu, que é o ioiô)
. 1 molho de mostarda ou se preferir, cebolinha
. Tempero mineiro a gosto
. 2 colheres (sopa) de banha
MODO DE PREPARO
- Pique a Iaiá em pedaços bem pequenos
- Em uma panela, coloque o óleo, o tempero mineiro, mexa e em seguida, toda a Iaiá.
- Coloque água o suficiente para cobrir a carne e deixe cozinhando até ficar bem cozida.
- Quando a carne estiver bem cozida, espere esfriar 
- Assim que estiver esfriado, acrescente o fubá.
- Mexa até o fubá dissolver bem e deixe no fogo até ferver
- Espere esfriar, enquanto isso, refogue a mostarda.
- Coloque a mostarda por cima ou se preferir, a cebolinha e sirva quente.
          Esse prato é quente, portanto, é ótimo para dias frios.
          Usei panela de pressão em pedra sabão para cozinhar a Iaiá e fiz todo o prato na panela de pressão mesmo. Fotos autorais de Arnaldo Silva.
       

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Receita de rosquinha de nata da Tia Rosa

(Por Arnaldo Silva) Receita da Tia Rosa de São Roque de Minas, de uma das mais deliciosas e tradicionais quitandas mineiras, desde o século XIX presente em nossas mesas. O ingrediente principal é a nata do leite cru. O leite é colocado em repouso por 12 horas e com uma escumadeira é retirar a gordura que fica na superfície do leite. Essa é a nata, a gordura do leite.
INGREDIENTES
. 500 gramas de nata
. 350 gramas de queijo Canastra meia cura ralado (segundo Tia Rosa, quanto mais queijo, mais macia ficam os biscoitos
. 1 kg de farinha de trigo + ou -
. 1 xícara (chá) de açúcar
. 1 pitada de sal
. 3 ovos
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. Manteiga para untar e pincelar, além de açúcar refinado (opcional)
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha adicione a nata, os ovos e o açúcar. Misture até dissolverem bem todos os ingredientes
- Em seguida coloque queijo ralado, o fermento e o sal
- Misture e vá colocando a farinha de trigo aos poucos.
- Comece a sova e sove bastante com as mãos e com força até que a massa esteja desgrudando mãos e no ponto de enrolar.
- Pegue um punhado da massa e faça os moldes da forma da forma que desejar e coloque as rosquinhas em fôrma untada com manteiga e enfarinhada.
- Leve ao forno pré-aquecido a 200ºC e deixe assando por 30 minutos ou até que fiquem douradas.
- Desligue e com as rosquinhas ainda quentes, passe manteiga nos biscoitos e espalhe um pouco de açúcar cristal
- Em seguida, retire e deixe esfriar fora do forno.
Agora é só servir com um delicioso café.
Se sobrar, guarde em potes tampados. Duram em média 10 dias, se bem conservados.
Receita fornecida pela Tia Rosa de São Roque de Minas, com fotos enviadas pela Nilza Leonel de Vargem Bonita

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Rio São Francisco: o Nilo brasileiro

(Por Arnaldo Silva) O Rio São Francisco nasce Minas Gerais, a 1200 metros de altitude, na Serra da Canastra. Sua nascente geográfica está localizada em Medeiros, no Centro-Oeste do Estado, e sua nascente histórica, em São Roque de Minas. São Várias nascentes que formam a cabeceira do Rio São Francisco na Serra da Canastra.
          Do alto das montanhas mineiras, suas águas descem e percorrem 2.883 km por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoa, até desaguar no Oceano Atlântico, em sua foz entre os Municípios de Brejo Grande (SE) e Piaçabuçu (AL). Ao todo, a área hidrográfica da bacia do Rio São Francisco é de 641 km², além de 168 afluentes diretos, sendo 90 em sua margem esquerda e 78 na margem direita. (na foto acima do Wesley Rodrigues, travessia de balsa sobre o Rio São Francisco entre Itacarambi e Jaíba, no Norte de Minas)
As Regiões que formam o Rio São Francisco
          Os 2.883 km de extensão do Rio São Francisco está dividido em 4 regiões:
- Região do Alto São Francisco com 702 km de extensão, entre a nascente e a cidade de Pirapora MG.
- Região do Médio São Francisco com 1230 km de extensão. Essa é a parte navegável do Rio São Francisco, que vai de Pirapora até Remanso na Bahia.
- Região do Submédio São Francisco com 440 km de extensão de  Remanso na Bahia até Paulo Afonso, também na Bahia.
- Região do Baixo São Francisco por 214 km de extensão de Paulo Afonso até sua foz entre Alagoas e Sergipe.
Velho Chico – O Nilo Brasileiro
          Conhecido como Velho Chico e também de Nilo Brasileiro em alusão ao Rio Nilo, histórico rio que nasce no Nordeste da África, entre Ruanda e Etiópia, percorrendo várias países, desde a antiguidade, como o Egito, até desaguar no Mar Mediterrâneo. Suas águas irrigam, fertilizam terras em suas margens. (na foto acima de Wesley Rodrigues, o Rio São Francisco e o canal que leva água do rio para o Projeto Jaíba o maior projeto de irrigação da América do Sul, abrangendo mais de 100 mil hectares de irrigação, tornando as terras férteis, produzindo frutas e hortaliças para todo o Brasil)
          O mesmo papel tem o Rio São Francisco, devido suas águas irrigarem e fertilizarem as terras em suas margens, principalmente durante as cheias, por isso a comparação. O Rio da Integração Nacional é um dos mais importantes rios da América do Sul e um dos mais importantes do Brasil. (na foto acima de @arnaldosilva_oficial, cheia do Rio São Francisco em Luz MG, Alto São Francisco)
Do Ciclo do Ouro à agricultura e turismo
          Segundo o IBGE, o Rio São Francisco perpassa por 507 municípios, atravessando Minas Gerais do Centro-Oeste ao extremo Norte de Minas, entrando na Bahia, Pernambuco, Alagoa e Sergipe. O Velho Chico integra o Sudeste ao Nordeste. (na foto acima de Elpídio Justino de Andrade, o marco da nascente histórica do Rio São Francisco em São Roque de Minas)
          Boa parte dessas cidades banhadas pelo Rio São Francisco surgiram a partir de 1675, durante a descoberta de ouro em suas margens e nas de seus afluentes. A partir da descoberta do ouro, o rio passou a ser mais usado para transporte das mercadorias e do ouro extraído em suas margens bem como em seus principais afluentes o Rio das Velhas.
          A movimentação era intensa nesse período vindo a reduzir drasticamente no início do século XIX, com a decadência da extração mineral em Minas Gerais. A decadência da mineração reduziu o crescimento dos povoados e cidades mas fez surgiu novas atividades como o comércio pluvial, a agricultura de subsistência e o turismo.
A importância do Rio São Francisco
          Ao longo de todo o seu trecho, o Rio São Francisco sustenta boa parte da economia das cidades banhadas por suas águas, principalmente na região do semiárido mineiro e Nordeste, regiões com poucas chuvas, sendo o Rio São Francisco, um rio de grande valor econômico, além de ser a base da identidade social, gastronômica, cultural e folclórica dessas regiões, principalmente.
          Dezenas de milhares de famílias ribeirinhas vivem da pesca e das águas do Velho Chico que irrigam plantações de uvas de mesa para consumo e produção de vinhos, cultivo de frutas tropicais, hortaliças, legumes. (na foto acima de Lucas Du Rampa, barcos de pescadores no Rio São Francisco em Piumhi MG, Alto São Francisco)
          Além disso, cidades às margens do Rio São Francisco tem forte vocação para o turismo, já que suas margens forma belíssimas praias fluviais, gerando emprego e renda. (na foto acima do Márcio Pereira/@dronemoc, Praia Fluvial do Rio São Francisco em São Francisco MG, Norte de Minas)
          Durante décadas, Pirapora, no Norte de Minas, esteve ligada à cidade baiana de Juazeiro pelas águas do Rio São Francisco, com o famoso e histórico barco a Vapor Benjamim Guimarães, que levava mercadorias, além de fazer o transporte de passageiros. (na foto acima do Rhomário Magalhães, o Benjamim Guimarães em Pirapora MG, Norte de Minas)
          Ainda em funcionamento, mas em reformas, o velho Benjamim Guimarães retornará a navegar nas águas do Rio São Francisco mas apenas com passeios turísticos e ainda por curta distância.
          O barco, bem como o Rio São Francisco, são símbolos de Minas Gerais.

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