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quinta-feira, 25 de julho de 2024

Em Barbacena está uma réplica de abadia medieval de 1060

(Por Arnaldo Silva) A Igreja de São Miguel, inaugurada em 2017 em Barbacena MG, Campo das Vertentes a 169 km de Belo Horizonte, é uma réplica fiel da Abazzia de Sant`Egídio, construção medieval datada de 1060, localizada na vila medieval de Fontanella na cidade de Sotto il Monte, Norte da Itália, na Itália.
          A Abazzia medieval foi edificada a Sant´Egídio ou Abadia de Santo Egídio, o padroeiro dos eremitas, santo católico também chamado de São Egídio e São Gil, é uma das mais antigas da Itália. Egídio nasceu em 650 d. C em Atenas, na Grécia, falecendo em 710 d. C, sendo sepultado na Abadia de Saint-Gilles, um mosteiro em Saint-Gilles, sul da França. Após sua santificação, se tornou bastante popular na Itália, França e na Escócia.
          Filho de família cristã, rica e nobre, após a morte de seus pais, decidiu dedicar-se integralmente a Deus. Distribuiu seus bens entre pobres e doentes, optando em viver como um eremita, longe da cidade, em grutas e cavernas, dedicando-se a oração, jejuns e sacrifícios. A Egídio, foi atribuído muito sabedoria e dons da cura e milagres.
A Igreja de São Miguel Arcanjo
          A réplica da Abazzia de Sant´Egídio foi construída na Fazenda São Miguel Arcanjo, sede da Sociedade São Miguel Arcanjo, fundada em Barbacena no ano 1998 pelo italiano Marco Roberto Bertoli.
          A igreja construída por Bertoli é dedicada a São Miguel Arcanjo e não a Santo Egídio. Isso porque Bertoli é fervoroso devoto de São Miguel Arcanjo. O projeto arquitetônico, materiais usados, detalhes, ornamentação, bem como as técnicas de construção, são idênticos à abadia medieval italiana de Santo Egídio.
Porque uma réplica de uma igreja medieval em Minas?
          Construir uma igreja com as mesmas características da Idade Média em Minas Gerais surgiu da fé de Marco Roberto Bertoli, atendendo pedido de seu pai para que construísse uma igreja. Há anos, bastante adoentado, o pai pediu a seu filho que construísse uma igreja. Atendendo pedido do pai, Bertoli decidiu construir na cidade de Barbacena, uma igreja idêntica à Abadia de São Egídio, na Itália. (na acima de Wagner Rocha, a Igreja de São Miguel Arcanjo em Barbacena MG)
          O italiano nasceu de uma família muito religiosa. Seus pais ajudavam financeiramente padres europeus em suas missões pelo Brasil. Aos 21 anos, Bertoli abriu mão do conforto de sua vida na Itália e mesmo não dominando o português, decidiu deixar seu país e vir para o Brasil com o objetivo de ajudar o próximo através da caridade.
          Inicialmente, foi para Fortaleza, no Ceará. Em uma viagem de ônibus para São Paulo, o coletivo teve que parar em Juiz de Fora MG, na Zona da Mata, o ônibus teve que parar por problemas mecânicos. Observando bem a região, se encantou e aqui decidiu lançar seu projeto social e construir a igreja, atendendo ao pedido de seu pai e cumprir sua promessa de construí-la.
          Não foi fácil para Bertoli. Bateu de porta em porta pedindo ajuda a empresários e voluntários, até conseguir ajuda do estado, que cedeu um antigo imóvel em Antônio Carlos, no Campo das Vertentes, onde deu início a construção do seu projeto.
          Devoto do arcanjo São Miguel, Bertoli teve certeza de que estava no lugar certo ao decidir comprar um pedaço de terra para ampliar o projeto social. Conseguiu comprar a fazenda São Miguel Arcanjo, na vizinha cidade de Barbacena. O contrato de compra foi assinado no dia 29 de setembro. Em 2001 teve início a construção da nova sede em Barbacena MG, tendo sido construídos em dois anos 12.000 m² de edificações distribuídos em uma fazenda de 320 hectares. Por esse motivo, em 2003, as antigas instalações da sociedade em Antônio Carlos foram desativadas.
          Bertoli acredita que o fato de ter adquirido a fazenda que leva o nome de seu santo de devoção, não foi nenhuma coincidência. “Sabe em qual data do contrato (de compra do imóvel) foi assinado? Em 29 de setembro, dia de São Miguel. Sabe como a fazenda se chamava? São Miguel. Você acha que é coincidência?”, constatou na época o italiano.
Uma igreja da Idade Média no século XXI
          Construir uma igreja hoje é um projeto bastante difícil, devido o alto custo e detalhes arquitetônicos que requer muita mão de obra, conhecimento e mãos talentosas. Imagina construir uma igreja usando as mesmas técnicas e totalmente em pedras, da mesma forma como eram as construções do ano de 1060? Com certeza um desafio dos mais difíceis. Para se ter uma ideia, só de pedras para construir a réplica da abadia foram 200 caminhões. (na foto acima do Wagner Rocha, os fundos da Igreja de São Miguel Arcanjo)
          Era tão difícil que até mesmo especialista em construção, na época, julgavam ser impossível reproduzir uma igreja medieval utilizando matéria similar e técnicas milenares em sua construção, justamente para manter a fidelidade do projeto original.
          Mesmo com opiniões contrárias, persistente e entusiasmado com seu projeto, Bertoli rodou o Brasil e o mundo em busca de recursos para seu projeto. Foi à Itália em busca do projeto original da Abazzia de Saint´Egídio, conseguindo junto a um um arquiteto do Vaticano.
          Para começar a tirar seu projeto do papel, o italiano montou em Barbacena, uma escola de lapidação de pedras, utilizando as técnicas medievais da época da construção da Abazzia de Saint´Egídio, justamente para igreja fosse uma reprodução fiel da obra medieval.
          As obras para a construção do templo tiveram início em 2007 e foram concluídas em 2017, quando foi inaugurada. Foram 10 anos de muita persistência e comprometimento com a promessa que havia feito a seu pai. E conseguiu, apesar de os especialistas julgarem ser impossível! “Deus me deu o dom da ignorância, pois se eu soubesse o quanto seria difícil construí-la, dificilmente teria começado”, afirma Bertoli.
Simbologia medieval nos detalhes da igreja
          Igrejas dedicadas a Santo Egídio, tanto em nossa época e em séculos anteriores existem em alguns países da Europa, em construções de acordo com a arquitetura local e época em que foram edificadas. A Abazzia de Sant´Egídio na Itália segue o estilo arquitetônico medieval romano e este estilo e toda a simbologia desta igreja foi fielmente reproduzido na Igreja de São Miguel Arcanjo, em Barbacena.
          “Toda igreja neste estilo tem uma característica que é a seguinte: a pouca luz que entra no ambiente ilumina (a imagem) de Jesus Cristo. Por isso, a porta é voltada para a nascente do sol”, explicou Bertoli. (na foto acima do Wagner Rocha, o interior da Igreja de São Miguel Arcanjo)
          Além disso a igreja de São Miguel possui 12 colunas, seis de cada lado e 80 cm para cada uma. No meio de cada uma das 12 colunas tem um crucifico simbolizando os 12 apóstolos. Cada coluna conta com uma peça decorativa na parte superior, chamada de capitel, em cada, temos um papiro (uma planta que cuja folha era muito usada no antigo Egito, para escrita de textos). Na idade média, escritas em papiros simbolizavam a transcrição da sabedoria. Na parte inferior das colunas tem ainda folhas de acanto que simbolizavam os espinhos da vida. Segundo Bertoli, essa simbologia nas estruturas significa que “somente tem sabedoria quem vive os espinhos da vida”.
          Os templos medievais são repletos de simbologias, muitas das vezes carregadas de superstições perpetuadas durante séculos. Na Abazzia italiana de Saint´Egídio não foi diferente e todos esses detalhes foram reproduzidos em sua fidelidade.
          Por fora, florestas de eucalipto mostram a simplicidade da construção em Barbacena, toda em pedras lapidadas no estilo medieval. Diferente das igrejas atuais, onde as janelas são enormes, as construções medievais tinham janelas muito pequenas. Isso devido a Idade Média ter sido um período muito sombrio de nossa história, com guerras e invasões constantes. Por esse motivo as portas das construções era bastante reforçadas, na maioria em madeira e ferro fundido.
          As janelas das construções e igrejas medievais eram minúsculas e colocas em posições bem altas. Em caso de invasão de inimigos, rapidamente se trancavam dentro dessas construções para se protegerem de ataques e invasores. Por esse motivo, as construções milenares eram verdadeiras fortalezas.
          A preocupação com a segurança na época medieval podem ser percebidos nos detalhes das portas, fechaduras e tachos de ferro forjado, bem trabalhados, reforçam o cuidado com segurança e proteção do templo que existia na Idade Média. Esses detalhes não foram ignorados na Igreja de São Miguel Arcanjo de Barbacena e foram fielmente reproduzidos.
          No interior da igreja, os fiéis ficam à sombra enquanto raios de luz natural da parte da manhã e da tarde, penetram a igreja pelos oráculo das pequenas janelas. Pela manhã, os raios da luz do dia ilumina ilumina a imagem de Jesus, no lado posto da parede. Já a luz do sol da tarde, entra por uma fissura, ao meio, e ilumina parte do altar, onde está a simbologia do Deus-pai e ainda a imagem de Jesus, que se encontra no Ostensório, em cima do altar, sustentado por quatro redondas que representam os quatro cantos do mundo.
          A luz natural sobre a imagem de Cristo, simboliza a luz de Jesus, que é a essência da fé e os fiéis que estão à sombra, recebem essa luz, vinda do céu. O efeito da luz do sol que ilumina o altar penetram por 3 janelas e chegam até o o altar, simboliza a luz da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
          Outra simbologia no interior da igreja são os três degraus de acesso à fonte batismal. Pode parecer apenas números mas simboliza a sexta, o sábado e domingo, os três dias que antecederam a ressurreição de Jesus. Na vida do cristão, essa simbologia quer dizer que no batismo, ele nasce para uma nova vida, em Cristo.
Pinturas interiores
          Com o objetivo de oferecer cultura e fé aos frequentadores da comunidade, no interior da igreja de São Miguel foram feitas quatro cópias de pinturas religiosas europeias de séculos diferentes, que não fazem parte da ornamentação interna da Abazzia de Saint´Egídio, da Idade Média e sim pinturas presentes em igrejas da Europa feitas nos séculos XVIII, XIX e início do século XX. (na foto acima do Wagner Rocha, podemos ver as 4 pinturas reproduzidas: duas no centro do altar e outras duas, de cada lado do altar)
          As obras são: Imaculada Conceição, assinada em 1767 por Gianbattista Tiepolo; A divina pastora, de Illiam Adolphe Bouguereau (1893); São Miguel Arcanjo, de Loverini (1891) e Jesus Misericordioso, de Eugênio Kazimirowski (1934). Isso permite ao visitante conhecer, além da arquitetura medieval, a arte sacra europeia dos séculos XVIII, XIX e início do século XX, permitindo assim enriquecer mais ainda o conhecimento sobre a cultura e religiosidade dos europeus. A reprodução dessas pinturas europeias tem a assinatura dos artistas plásticos Sérgio Prata e Franciscano Marcelo dos Santos.
A Sociedade São Miguel Arcanjo
A Fazenda São Miguel, é o resultado de um projeto de assistência social criada com o objetivo de acolher e amparar em tempo integral, crianças e adolescentes entre 3 a 18 anos, que vivem em situação de vulnerabilidade social. No momento, são assistidos pela entidade cerca de 430 crianças e adolescentes. O espaço conta ainda com um espaço para abrigar idosos, atualmente com 13 senhores e senhoras.
          Além de manter serviços regulares de educação, esporte, cultura, lazer e acolhimento, o espaço tem ainda como objetivo “resgatar as perspectivas de vida e amenizar traumas, a fim de alcançar a maturidade espiritual, a integridade moral, a competência e responsabilidade profissional” segundo disse Bertoli, durante inauguração da igreja, em 2017.
          A metodologia de ensino, estrutura da creche e escola de ensino médio e fundamental, tem a parceria com o Colégio São Francisco de Assis. O ensino e estrutura são de alto nível, seguindo a metodologia das melhores escolas brasileiras.
          As crianças e adolescentes estudam em tempo integral. Muitos deles vivem na própria comunidade, que funciona como se fosse uma pequena cidade e com ótima estrutura como com creche, escola de ensino médio e fundamental, cineteatro, laboratório de informática, biblioteca, refeitórios, quadras poliesportivas, ginásio profissional de ginástica olímpica, salas de TV, artesanato, e galpões destinados a atividades profissionalizantes agrícolas, zootécnicas e também de música. Conta também com atendimento médico, fonoaudiológico e odontológico feitos por voluntários, realizados gratuitamente.
          Os recursos para manter as atividades da Sociedade São Miguel vem de doações individuais e de parcerias com empresas e empresários da Itália e do Brasil.
Visita à Igreja de São Miguel Arcanjo
          Igreja de São Miguel Arcanjo está aberta à visitação aos domingos de 14 h às 17 h.
          Para mais informações, ver fotos da fazenda e do trabalho realizado pela Sociedade São Miguel Arcanjo, bem como doações e outras informações, podem ser obtidas através do site da entidade: sociedadesaomiguel.org.br ou Instagram da entidade: @sociedadesaomiguelarcanjo

segunda-feira, 8 de julho de 2024

Saiba o motivo de igrejas próximas uma das outras em Minas

(Por Arnaldo Silva) Quem vem às cidades históricas mineiras se deslumbra com a riqueza arquitetônica dos casarões e principalmente, pela suntuosidade e imponência das igrejas mineiras.
          Minas Gerais, no auge de sua povoação, no século XVIII, não foi construída pelas mãos de engenheiros e arquitetos e sim, pelas mãos de artistas, artesãos, escultores e mestre nas artes que fizeram escola e até hoje são reverenciados, como mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e seu pai, Manuel Francisco Lisboa, Joaquim José da Natividade, Valentim da Fonseca e Silva, Manoel da Costa Ataíde, José Soares de Araújo, Silvestre de Almeida Lopes, dentre outros outros tantos talentos mineiros e estabelecidos em nossas terras. (na fotografia acima de Nacip Gômez as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo em Mariana MG) 
          Minas não foi construída, foi esculpida por artista e pintada à mão. Isso explica a riqueza e beleza das construções. Mesmo assim, por desconhecimento da história das origens mineiras, principalmente do pensamento e da conjuntura social do século XVIII, simplesmente, analisam o que veem pela conjuntura social atual e pensamento do século XXI. Com isso ficam sem entender porque tantas igrejas em cidades pequenas e até próximas umas das outras, com indagações carregadas de críticas até. Sempre indagam o porque a Igreja Católica construía tantas igrejas e com tanto ouro e suntuosidade e qual era a necessidade de terem igrejas tão próximas umas das outras.
          A questão é que não foi a Igreja Católica a construtora das igrejas mineiras durante o Ciclo do Ouro e sim, as Irmandades.
O Ciclo do Ouro e as Irmandades
          A descoberta do ouro em Minas Gerais, fez surgir vilas e cidades, formada por diferentes povos, que vieram para a então capitania. Vieram de todos os cantos do Brasil e também, do mundo. Foram esses povos, que deram origem a formação social, política, arquitetônica, cultural e gastronômica de Minas Gerais.
          Foi este um período que começou a surgir em Minas Gerais as irmandades e confrarias. Com origem na Europa, eram associações formadas por homens de diversas camadas sociais, ricos ou pobres, que tinham ideais e objetivos comuns, além da devoção a um santo católico, que era a base para o surgimento das irmandades e confrarias. (na foto acima de Peterson Bruschi, o Altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, igreja de Ouro Preto construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
Confraria, Irmandade e Ordem Terceira
          
Embora pareçam ser a mesma coisa, confraria, irmandade e Ordem Terceira, tem suas diferenças. As confrarias eram associações pias, informais, formadas pela união de grupo de pessoas leigas, com o objetivo de fazer caridade. Quando passavam a se constituir formalmente, como pessoas jurídicas, registradas e reguladas por estatutos, eram chamadas de irmandades. (na foto acima da Jane Bicalho, a rua e a escadaria de acesso a Capela de Santa Rita, no Serro MG, iniciada em 1728 e concluída em 1758 pela Irmandade do Rosário dos Pretos da Vila do Príncipe)
          Já as ordens terceiras eram instituições da Igreja Católica, formada por leigos. Eram muito ativas nos tempos do Brasil Colônia, em Minas. Para se fundar uma ordem terceira, os leigos dependiam de autorização dada por uma ordem primeira. Diferente das confrarias e irmandades, que aceitavam entre seus membros, diversos setores da sociedade, o ingresso à Ordem Terceira obedecia 
a critérios rigorosos e seletivos.
          Como exemplos o candidato a ingressar em uma Ordem Terceira tinha que ser rico, ter o sangue limpo, ou seja, seus membros não podiam ser negros, cristãos novos (judeus convertidos), ter origem de “raça duvidosa” ou com descendência de alguns desses povos, além de outras exigências.
          Menos seletivas, as irmandades e confrarias eram mais abertas, formadas por homens brancos, negros, pardos, mestiços e mamelucos, com profissões e classes sociais diferentes, seja rico ou seja pobre. Cada grupo com suas respectivas irmandades e devoção a seus santos, mas geralmente, membros de irmandades diferentes não se misturavam. Os relacionamentos sociais eram geralmente entre os próprios membros (na foto acima de Elvira Nascimento, a Igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina MG, construída pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis)
          Ser aceito e fazer parte de uma irmandade ou confraria, era primordial para o reconhecimento social dos homens no período colonial.
A Irmandade dos Homens Pretos
          Entre as irmandades formadas em Minas Gerais, as irmandades dos homens pretos, eram as mais ativas e atuantes. Isso devido à limitação impostas pelos brancos à fé dos escravos, bem como as discriminações, humilhações e preconceitos a que eram submetidos, constantemente. (na foto acima de Ane Souz, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, irmandade fundada por volta de 1717)
          A forma que encontraram para se unirem, com a permissão das autoridades, foi através das irmandades.
          Assim foram surgindo irmandades de homens pretos e pardos pelas cidades mineiras, com o objetivo de se protegerem e construírem suas próprias igrejas. Com isso, conseguiam se fortalecer, protegerem-se uns aos outros, além de preservarem suas tradições, cultura e fé, mantendo ainda a unidade dos homens que formavam a irmandade. 
          As irmandades dos homens pretos nutria grande afeição por Nossa Senhora das Mercês, São Benedito e em especial, Santa Efigênia e principalmente por Nossa Senhora do Rosário.
          A predileção dos escravos pela santa católica se deu devido ao seu rosário, semelhante ao “rosário de ifá”, usados pelos sacerdotes africanos. (na foto abaixo de Ane Souz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, irmandade fundada em 1715)
A expulsão das Ordens Religiosas em Minas 
          A maioria das igrejas mineiras, durante o Ciclo do Ouro, foram construídas por irmandades e confrarias religiosas. As irmandades foram se formando durante o período da mineração do ouro, devido os desentendimentos entre a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa.
          No início do século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, a Coroa Portuguesa proibiu as ordens primeiras da Igreja Católica de atuarem e de existirem em Minas Gerais, bem como, limitava a circulação de religiosos, nas cidades onde existia mineração. (na fotografia acima de Ane Souz igrejas da cidade do Serro MG)
          O objetivo era manter bem longe de Minas Gerais, principalmente das cidades onde eram extraídos ouro e diamantes, o clero regular. Afastando e expulsando as ordens religiosas de Minas Gerais, a Coroa Portuguesa visava controlar o contrabando, bem como se prevenia de possíveis complicações futuras, pelo fato das ordens religiosas não se submeterem à normas da administração portuguesa e sim, à normas internas da Igreja Católica. 
          Além disso, muitos religiosos e ordens  se envolviam em rebeliões de contestação da atuação da Coroa Portuguesa, sendo vistos como desestabilizadores e incentivadores de revoltas populares. 
O papel das Irmandades na religiosidade mineira
          Expulsar as ordens religiosas foi uma medida drástica. Para evitar descontentamento entre os mineiros, a saída que a Coroa Portuguesa encontrou foi a de incentivar a criação das irmandades, ordens terceiras e confrarias, formadas por leigos. Assim, as manifestações de fé do povo mineiro, continuavam e as regras e imposições da Coroa Portuguesa, respeitadas. Cabia então às irmandades construírem os templos, zelar pelas igrejas, organizar os serviços religiosos, além de construírem e manterem seus cemitérios.
          Mesmo com o impedimento da presença das ordens religiosas da Igreja Católica em Minas Gerais, a administração portuguesa permitia a presença de padres, designados pelos bispos da Bahia e Rio de Janeiro, estados onde não haviam as restrições impostas aos clérigos. Com a expulsão das ordens religiosas de Minas Gerais, era o Arcebispado desses dois estados, os responsáveis por designar padres e orientar as atividades religiosas na Capitania das Minas Gerais. (na fotografia acima de Ane Souz, o interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto MG)
          Os padres que eram designados pelo Arcebispado, tinham que obter licença do governo português na colônia e seguir rígidas regras para atuarem em na Capitania de Minas Gerais. Teoricamente, a atuação desses padres se limitava à ministração dos cultos e serviços dos sacramentos. Quem construía, dirigia, preparava as cerimônias dentro e fora dos templos, dava manutenção e administrava as finanças das igrejas, eram as irmandades e não a Igreja Católica.
O papel social das Irmandades 
          Assim foram surgindo as irmandades e confrarias pelas cidades mineiras, com o objetivo de unir homens em prol de seus ideais comuns, defendendo seus interesses e a devoção em seus santos, dedicando a eles, as igrejas e capelas que construíam. (na foto acima da Elvira Nascimento, a Igreja de São Pedro dos Clérigos e abaixo as igrejas do Carmo e de São Francisco de Assis, em Mariana MG)
          As atuações das irmandades eram vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, já que esses movimentos, tinham total controle sobre a construção de seus templos, contratação de arquitetos, pintores para ornamentação e decoração de suas igrejas. Eram as irmandades que decidiam como seriam construídas as igrejas, que tipo de adornos e ornamentações que teriam, mobiliário, peças sacras, tudo. Isso eximia o Estado de subsidiar e manter os templos, já que o custo das obras, bem como sua ornamentação e pinturas, ficava por conta dos membros das irmandades. 
          Outro fator importante para o apoio às irmandades pelo Estado, era o serviço de apoio e assistência social que estas prestavam aos seus membros e seus familiares. Além disso, ajudavam os que não eram membros das irmandades, mas tinham devoção a seus santos, mantendo assim afinidades com as irmandades.
          Todos os membros das irmandades tinham por obrigação, ajudarem uns aos outros em tudo que necessitassem. Quando ficavam doentes e necessitavam de ajuda, lá estava os irmãos e confrades para ajudarem. Eram ajudados quando passavam por problemas financeiros e quando eram presos, contavam com assistência jurídica. 
          As viúvas dos membros das irmandades não ficavam desamparadas e as irmandades, ajudavam financeiramente as viúvas e filhos, caso necessitassem. Davam ainda apoio às famílias com velório e sepultamento dignos, além de apoio e conforto espiritual.
          Essas atividades sociais eram importantíssimas paras as irmandades e vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, que assim se sentia desobrigada de prestar assistência social à população.
          Mesmo assim, a atuação das irmandades era controlada pelo governo português, que exigia que cada irmandade criada, tivesse seu estatuto próprio, com normas que regulava as atividades dos membros da irmandade e registradas nos órgãos de controles e fiscalização da Coroa na região. 
          O estatuto teria que ser registrado e aprovado por uma entidade criada pela administração portuguesa, chamada de Mesa de Consciência e Ordens. Nos estatutos das irmandades, constava suas obrigações jurídicas de acordo com as leis vigentes da época, regulamentação da conduta moral, ética, religiosa, política, familiar e social de seus membros.
          A formação das irmandades e suas atividades, eram acompanhadas e orientadas, pelo Arcebispado da Bahia e Rio de Janeiro, que acompanhava a formação das irmandades em Minas, bem como na orientação de suas atividades religiosas. Recebendo essa aprovação das autoridades, passavam a serem reconhecidas pela Coroa Portuguesa. Caso houvesse necessidade de mudança nos estatutos, as irmandades teriam que comunicar às autoridades, encaminhar as mudanças e aguardar a aprovação. (na foto acima da Ane Souz, o altar da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, no bairro Padre Faria em Ouro Preto MG)
          Por isso a existência de tantas irmandades e confrarias em Minas Gerais e claro, de igrejas. Quanto mais irmandades existia numa cidade, mais igrejas eram construídas.
Quanto mais irmandades, mais igrejas
          Em Ouro Preto, por exemplo, durante o Ciclo do Ouro, existiam 29 irmandades. Cada igreja ou capela ouro-pretana, nessa época, foi construída por uma irmandade diferente. E assim foi por todas as cidades mineiras, surgidas durante o Ciclo do Ouro, como Sabará, Serro, Mariana, Tiradentes, São João Del Rei, Diamantina, etc. (na foto acima do Thelmo Lins, o altar da Igreja do Pilar em São João Del Rei MG, iniciada em 1721 pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
          E era cada um na sua, cada irmão em sua irmandade, cada confrade em sua confraria. 
          As irmandades não viam a carência religiosa da sua cidade em si, mas sim os seus próprios interesses. Sua atuação religiosa e social era restrita a seus membros e devotos dos santos de suas respectivas igrejas. Não se incomodavam e nem se importavam em construir seus templos, próximos a outras igrejas. 
          Isso porque suas igrejas não eram para a cidade, e sim, para a própria irmandade. Inclusive, as sedes das irmandades eram dentro das igrejas, em salões localizados nos fundos. Cada irmandade construía sua igreja, mesmo que à frente, na rua do lado ou atrás da sua igreja, exista outra. Isso era totalmente irrelevante para as irmandades, ordens terceiras e confrarias.
          Por isso que nas cidades históricas mineiras, erguidas nesse período, existem tantas igrejas e todas, bem próximas.
Irmandades, vaidades e poder financeiro
          Havia inclusive disputas de poderio econômico entre irmandades. Notadamente visível na Praça Minas Gerais em Mariana, manifestação clara da disputa de poderio econômico e de poder, entre duas irmandades: a Ordem Franciscana e a Terceira Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Essa disputa resultou na construção de duas igrejas, uma em frente a outra, dedicadas à São Francisco de Assis, construída em 1763 e à Nossa Senhora do Carmo, construída em 1784. (na foto acima do Peterson Brushi)
          A construção de igrejas pelas irmandades, ultrapassava os sentimentos de fé e devoção. Era mostra clara de disputa de poder, com explícita demonstração de poderio econômico. Para conquistar poder ou manter o poder em mãos, as irmandades investiam fortunas em ornamentos em ouro, madeiras nobres, luxo e riqueza. 
          A riqueza estampada nas igrejas mineiras dos séculos XVIII e XIX, eram mostras claras da vaidade e poderio econômico dos mais ricos membros das irmandades e nem tanto da fé e religiosidade.
          O luxo excêntrico e riqueza das ornamentações das igrejas do período colonial em Minas Gerais, saiam dos bolsos dos membros das irmandades e não dos cofres da Igreja Católica.          
          Quanto mais ricos eram os membros das irmandades, mais investiam em seus templos. Quanto mais ouro e ornamentos tinham as igrejas, mais prestigio, fama, poder econômico e social, tinham a irmandades e seus membros.
A volta das Ordens Religiosas à Minas Gerais
          Com o fim da riqueza gerada pelo ouro, finalizou também a proibição da presença das ordens religiosas oficiais, que voltaram a se instalar em Minas Gerais, passando a administrar as igrejas e cemitérios e demais obras sociais, bem como reformar e construir novos templos. (na foto acima do César Reis, o reluzente brilho do ouro do Altar-mor da Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes MG, construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1710)
          As irmandades, confrarias e ordens terceiras continuaram a existir e muitas delas são ativas até os dias de hoje, principalmente nas cidades históricas mineiras. Dão apoio, como entidade leigas, às ordens religiosas e ajudam nos trabalhos das igrejas, que passaram a serem administradas diretamente pelas ordens oficiais católicas, após o fim do Ciclo do Ouro e autorização das ordens religiosas de voltarem a atuar em Minas Gerais. 

sexta-feira, 24 de maio de 2024

A ligação de Minas Gerais com a Ordem dos Cavaleiros Templários

Pela primeira vez em 906 anos, a Ordem dos Cavaleiros Templários tem um Grão-Mestre brasileiro
          Membro do Gran Priorato Templário do Brasil, Cavalaria Espiritual São João Batista, com sede em Carangola, Minas Gerais, o Prior do Sul do Brasil Magnus Officialis Sidení Moratelli trouxe para nós um pouco da história da Ordem dos Cavaleiros Templários. (na foto acima, templo da Ordem Templária em Carangola MG)
          A história da Ordem se divide em três fases: 1ª Fase – 1095 a 1314 – Do nascimento a supressão; a 2ª Fase – 1315 a 1803 – A fase oculta da Ordem e a 3ª Fase – 1804 aos dias de hoje – O neotemplarismo – Ordo Supremus Militaris Hierosolmilitane – Magnum Magisterium (OSMTH-MM).
O nascimento da Ordem dos Cavaleiros Templários
As cruzadas - No ano de 1095, por todos os lados da Europa, se divulgou a mensagem do Papa Urbano II convocando os cristãos para uma cruzada a Terra Santa. No ano seguinte, reuniram-se em Constantinopla vários nobres. Depois de três anos de investidas militares, Jerusalém foi conquistada pelos cruzados em 15/07/1099, sob o comando Godofredo de Bulhões, que se estabeleceu no local que fora atribuído ao “Santo Sepulcro”. Godofredo de Bulhão, foi sucedido por seu irmão, que tomou o título de Rei de Jerusalém – Balduíno I e foi sucedido pelo seu filho Balduíno II. Após a tomada de Jerusalém e a consolidação do Reino Cristão, os nobres europeus que empreenderam na conquista militar, retornaram à Europa, permanecendo em Jerusalém apenas um grupo de 300 cavaleiros. (na imagem acima, festa de São João Batista em Carangola MG)
Nove cavaleiros fundam a Ordem Templária
          Em 1118, um grupo de cavaleiros liderados por Hugo de Payens e Geoffroy de Saint Omer, fundaram uma nova Ordem Religiosa, destinada a Proteção dos Peregrinos. Originalmente conhecida por “Pobres Cavaleiros de Cristo”. Apesar da história assegurar que eles eram nove, só se conhece o nome de oito deles. Hugo de Payens, Godofredo de Saint-Omer, Arcambaldo de Saint-Aignan, Payan de Montdidier, Godofredo Bissot, Hugo Rigaldo e dois registrados apenas pelos nomes de Rossal ou Ronaldo e Gondemaro. O nome do nono Cavaleiro permanece desconhecido. No entanto, existe uma vertente espiritual da Ordem que acredita que o nono cavaleiro era o Mestre Espiritual Oculto. (na foto, Prior do Sul  Sideni Moratelli (com a espada) com Irmãos do Sul)
Obediência a Igreja e ao Papa
          Com a Bula “Omni datum optimum”, de 29 de março de 1139, o Papa Inocêncio II, sujeitou os Templários à autoridade direta do Papa e concedeu-lhes isenções e privilégios que fizeram da Ordem uma estrutura autônoma, com concreta possibilidade de se assegurar uma base econômica forte, de forma a financiar as atividades militares na Terra Santa e na Península Ibérica. (Prioresa de Minas Gerais Maria Aparecida Santana e membros do Priorado de Minas)
          Sucessivamente a Bula “Milites Templi” de 1144, o Papa Celestino II concedeu novos privilégios à Ordem, solicitando doações a favor da causa da Ordem. Dessa forma, os Templários podiam recolher doações diretamente a seus fundos.
O comércio Internacional
          Os Templários foram os primeiros banqueiros da Europa. Desde o princípio, os Templários eram uma organização internacional, embora seus objetivos estivessem na Terra Santa, seu sustento vinha da Europa, onde possuíam terras, recolhiam impostos (dízimos) e recebiam doações. Organizavam feiras e mercados, onde comercializavam sua produção, e com isso construíram uma formidável frota mercante, capaz de transportar peregrinos, soldados e suprimentos, entre a Espanha, França, Itália, Grécia e Alémar. A maioria dos produtos que os templários importavam, tais como, cavalos, ferro e trigo, vinha pelo mar. (na foto, desfile Templário em Portugal)
Declínio e subpressão da Ordem dos Cavaleiros Templários
A queda de Jerusalém - No ano de 1187, mais precisamente, no dia 04 de julho, Saladino avançou pelas terras da Galileia e, nos Cornos de Hattin, travou uma das batalhas mais importantes da idade média, contra o exército cristão, formado pelas tropas do francês Guy de Lusignan, o rei consorte de Jerusalém, o príncipe da Galileia Raimundo de Trípoli e Geraldo de Rideford à frente dos Templários. Estima-se que havia cerca de 60 mil homens – entre cavaleiros, soldados desmontados e mercenários muçulmanos – no exército Cristão; já as forças de Saladino, possuíam cerca de 70 mil guerreiros.
           A estratégia adotada por Guy de Lusignan, contrariando o sugerido por Raimundo, era a de lançar um ataque imediato e pontual, contanto com o apoio dos Templários. O resultado não poderia ser diferente, dada a arrogância de Guy de Lusignan, a derrota foi violenta tendo como consequência: o Rei feito prisioneiro, Raimundo fugitivo, Reinaldo de Chântillon, que combatera em campo, decapitado por Saladino. 
          Após esta batalha, os muçulmanos seguiram para Jerusalém e, depois de um cerco de duas semanas, conquistaram a cidade. Já de posse de Jerusalém (tomada em outubro de 1187), Saladino poupou a vida de Guy, enquanto Raimundo escapou da batalha com sucesso. O pior aconteceu aos Templários, sendo todos mortos em campo, exceto o Mestre, que pouco após foi colocado em liberdade, sob suspeita de que este tivesse se convertido à religião muçulmana para sobreviver.
A inveja de um rei endividado
          Em 1305, o rei da França Filipe IV, “O Belo” resolveu obter o controle dos templários para impedir a ascensão da ordem no poder da Igreja Católica. O rei era primo de Jacques de Molay, Grão-Mestre que ele acabaria mandando para a fogueira em 1.314, o delfim Carlos, era afilhado de Jacques. Mesmo sendo seu amigo, o rei de França tentou juntar a ordem dos Templários e a dos Hospitalários, pois sentiu que as duas formavam uma grande potência econômica e sabia que a Ordem dos Templários possuía várias propriedades e outros tipos de riqueza. Ambicionando a riqueza templária, o rei Filipe IV tentou se filiar à ordem sem obter o esperado sucesso. Com isso, decidiu instaurar uma abnegada perseguição religiosa acusando os integrantes dessa Ordem de praticarem rituais e difundirem crenças afastadas dos dogmas previstos pela Santa Sé. Pressionando o papa Clemente V, o rei da França conseguiu materializar um processo jurídico em que os templários seriam julgados pelos crimes que supostamente cometiam. (na porta do templo em Carangola MG)
O pergaminhos de Chinon
          O chamado Pergaminho de Chinon é um documento histórico, originalmente publicado no século XVII, na obra "A Vida dos Papas de Avignon". Este documento obteve destaque em nossos dias, graças à descoberta pela Dr.ª Barbara Frale. Sabe-se agora que o Papa Clemente V absolvera secretamente o último Grão-mestre, Jacques de Molay, e os demais líderes dos Templários, em 1308, das acusações feitas pela Santa Inquisição. A tradução do texto original feita pelo Comendador Templário, Grã-Cruz, Coadjutor Magistral da OSMTH Magnum Magisterium, Padre Manuel Lopes Botelho, sacerdote da Diocese de Évora, em seu contexto contempla a absolvição dos julgados no ano de 1308, nos dias 17, 19 e 20 do mês de agosto: Frei Jacques de Molay – Grão-Mestre universal de toda a ordem militar do templo, os frades Raybaud de Caron, preceptor das terras ultramarinas; Hugo de Paraud, da França, Geoffroy de Gonneville, de Pictávia e Aqutânia, e Geoffroy de Charney da Normandia. (n foto, o Gran Prior Fernando Bacellar com o Cardeal do Rio de Janeiro Dom Orani, o Capelão da OSMTH Magnum Mafisterium Padre Geraldo e um membro da Ordem de Cristo)
O neotemplarismo
          Carta de Transmissão “Larmenius” - A "Carta de Transmissão" é um manuscrito latino codificado supostamente criado por Fr. Jean-Marc Larmenius em fevereiro de 1324, detalhando a transferência da liderança dos Cavaleiros Templários para Larmenius após a morte de Jacques de Molay. A ela também foi anexada uma lista de 22 grão-mestres sucessivos dos Cavaleiros Templários depois de Molay, terminando em 1804, o nome de Bernard-Raymond FabréPalaprat aparecendo em último lugar na lista, que revelou a existência da Carta em 1804. O documento está escrito em um suposto antigo Codex dos Cavaleiros Templários. (na foto, Dom Albino Neves com o Mestre Robert na Church Templi - Londres)
Ressurgimento da Ordem - Em 4 de novembro de 1804, Fabré Palaprat refundou a Ordem do Templo e revelou a existência da Carta Larmenius ou "Carta de Transmissão". Dentre os feitos do Fabré Palaprat, destaca-se a fundação de uma Igreja Joanita, moldada pelo evangélho de João. Tal fato o levou a prisão. A Regência da Ordem do Templo foi em um estágio seguinte passado para Joséphin Péladan, posteriormente se fundindo com outros grupos ocultistas liderados por Papus, finalmente sendo legalmente incorporado por um grupo belga conhecido como “Ordre Souverain et Militaire du Temple de Jérusalem, OSMTJ”. Atualmente reconhecida como “Ordo Supremus Militaris Templi Hierosolymitani” (OSMTH)
          “Association Belge des Chevaliers de I´Ordre Souverain et Militaire du Temple de Jerusalém – (OSMTH). Em 1933, em Lovaina, o Grande Priorado da Bélgica restaurou o Magistério da Ordem, entregando a regência nas mãos de Théodore Covias, e no ano seguinte (1934) Covias transmite os seus poderes para Émile-Isaac Clément Vanderberg, na qualidade de Regente e Guardião da Ordem.
Sucessão Portuguesa - Em novembro de 1942, durante a ocupação da Bélgica por parte dos alemães, Vanderberg (de origem judaica) considerou oportuno transferir os arquivos do Templo para a cidade do Porto, em Portugal, país neutro em relação a guerra, confiando ao Conde António Campelo Pinto de Sousa Fontes, então regente do Grão Priorado de Portugal, que tomando para si o mandato como Grão-Mestre de todos os Templários. Em 1947, António Campelo Pinto de Sousa Fontes, designou seu sucessor, Fernando Campelo Pinto Pereira de Sousa Fontes, seu filho. E com a morte do pai, Fernando tomou para si o título de Principe Regente. (reunião em Portugal e abaixo reunião na Itália)
          Nesse ambiente controverso, muitos dos Grãos Priorados Internacionais, se auto proclamaram independentes, gerando assim, diversas ramas neotemplárias. Em 2001, a Ordem foi credenciada pelo Conselho Econômico Social das Nações Unidas como uma Organização Não Governamental. Tal reconhecimento, colocou um fim nas pretensões de outras ramas neotemplárias de reivindicarem o título de OSMTJ ou OSMTH.
52º Grão Mestre Templário - Em cerimônia realizada no dia 18 de agosto de 2018, na capela de Fradelos, na cidade do Porto em Portugal, foi aberta a Carta Testamento da OSMTH Magnum Magisterium, onde o então falecido Grão-Mestre Don Fernando de Sousa Fontes, fundamentado no Artigo 11 do Estatuto nomeou como seu sucessor Dom Albino Neves (na foto acima) e outros seis membros da Ordem para formar o Alto escalão. O Grão-Mestre Don Fernando de Sousa Fontes deixou as seguintes nomeações:
• Grão-Mestre: Dom Albino Neves (Brasil)
• Princesa Regente: Maria Suzana Pinto de Fontes (Espanha/Portugal)
• Coadjutor Magistral Geral: Padre Manuel Lópes Botelho (Portugal)
• Legado Magistral Geral: Alexey Andreyev (Rússia)
• Conselheiro Magistral Geral: Nenad Davidovic (Sérvia)
• Inspetor Magistral Geral: Patrick Jouve (França)
• Maria da Glória: Mestre de Cerimônias Magistral Geral (Portugal)
          Em 21 de Agosto de 2022, na Cidade de Castelo de Vide em Portugal, o 52º Grão Mestre – Dom Albino Neves, por decreto magistral cria oito cargos de auxiliares do Grão-mestre denominados de “Audiutor Magnus Magister Scriptor”, escolhidos pela relevância de serviços prestados a OSMTH Magnum Magistérium. Os nomeados para o cargos de “Audiutor Magnus Magister Scriptor”, terão a prerrogativa aconselhar o Grão-Mestre de escolher o novo Grão-Mestre em até 60 dias da vacância do cargo. Nesse período de 60 dias de vacância, assumirá temporariamente o cargo de GrãoMestre o “Audiutor Magnus Magister Scriptor” mais velho. Nesse mesmo evento em Castelo de Vide, foram nomeados: Victor Manuel Chacopino – Grão Prior da Espanha; Nenad Davidovic – Grande Conselheiro General Magistral; Marco Pirillo - Grande Chanceler General Magistral (Itália); Fernando Alves Bacellar – Grão Prior do Brasil; Pe. Manuel Lopes Botelho – Coadjutor General Magistral; Franz Charles – Grão Prior da Bélgica.
          Nesse mesmo evento em Castelo de Vide, Franz Charles – Grão Prior da Bélgica, entregou ao Grão-Mestre Dom Albino Neves, a caneta que pertenceu Émile-Isaac Clément Vanderberg, ratificando assim, da sucessão Belga para a sucessão Portuguesa e por fim, reconhecendo o atual 52º Grão Mestre.
          Em sua visita à Itália em 2019, Dom Albino Neves nomeou como Grande Chanceler Geral Magistral o Cavaleiro Gran Cruz Marco Pirillo que tem conduzido de forma exemplar a tarefa a ele confiada, seja firmando acordos ou na fundação da “International Templar Academy Foundation”, reconhecida pelo Governo de Washington, EUA, tendo o Grão-Mestre sido nomeado como seu presidente honorário.
          Dom Albino Neves já assinou dezenas de acordos entre a OSMTH Magnum Magisterium e Ordem similares, inclusive com a Ordem de São Jorge, acordo que havia sido rompido há 707 anos. Também inaugurou em Portugal o Museu Templário e solicitou a digitalização de mais de 450 mil fichas de filiação da Ordem, presentes em 77 Países do mundo. (na foto acima, o complexo dos templários em Carangola MG visto de cima)
Conheça melhor o Gran Priorato Templário do Brasil visitando o site www.granprioratotemplario.com.br
Contato com a Ordem Templária no Brasil: granprior.brasil@gmail.com

terça-feira, 16 de abril de 2024

A cidade que mudou de nome por causa de Santa Catarina SC

(Por Arnaldo Silva) Natércia, no Sul de Minas, conta atualmente com 4.691 habitantes, segundo Censo do IBGE. Cidade pequena, pacata, charmosa e acolhedora, está a 387 km da capital, fazendo limites territoriais com Heliodora, Lambari, Jesuânia, Conceição das Pedras, Pedralva, Santa Rita do Sapucaí e Careaçu.
          Seu relevo é montanhoso, com belíssimas paisagens naturais nativas, rios e cachoeiras como a cachoeira da Usina, com 45 metros de queda, ótimos atrativos para um convívio maior com a natureza prática de caminhadas e esportes radicais como rapel. (fotografia acima de José Valmei)
Origens
          O que é hoje a cidade de Natércia, tem origens no arraial de Descoberto da Pedra Branca, seu primeiro nome, em 1741. Dois anos depois, em 28/02/1743, passa a se chamar Arraial de Santa Catarina da Pedra Branca, tendo como padroeira, Santa Catarina de Alexandria. Elevado a freguesia em 11/07/1822 por Alvará de 09/05/1822 e a vila/distrito em 14/09/1891, por Lei Estadual n° 2 de 14/09/1891, subordinado a Santa Rita de Sapucaí MG.
          Na data de elevação à freguesia, 11/07/1822, a Igreja de Santa Catarina foi elevada a Paróquia e a partir desta data, a freguesia/vila, passou a se chamar Santa Catarina, posteriormente, elevada à cidade emancipada pela Lei Estadual nº 843, de 07-09-1923.
          Tanto a freguesia, vila e cidade se desenvolveram a 3 km do primitivo Arraial de Santa Catarina da Pedra Branca. A elevação de sua igreja a Paróquia em 11/07/1822 e sua elevação a vila, em 7/09/1923, são datas comemorativas da cidade.
De Santa Catarina MG para Natércia MG
          No século passado, encomendas e cartas levavam semanas e até meses para chegar aos destinatários. O envio era basicamente feito por trens, já que até o anos 1970, o transporte por terra e em trens, era predominante. As longas distâncias e o tempo para chegar ao destinatário, ocasionava extravios ou desvios de correspondências. (fotografia de Éder Paulo Dias)
          É o caso de Santa Catarina MG. Muitas correspondências enviadas a destinatários na cidade, acabavam indo parar no estado de Santa Catarina, o que gerava enormes transtornos. Para por fim a essa questão, os vereadores de Santa Catarina MG se mobilizaram junto ao poder municipal, Assembleia Legislativa e Governo do Estado de Minas Gerais para mudar o nome da cidade, que foi feito através da Lei nº 1039, de 12-12-1953.
          Com a aprovação dessa lei, Santa Catarina MG teve o nome alterado para Natércia MG, nome escolhido pelos políticos locais, com a alteração do nome aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores.
Por que Natércia?
          Natércia é um anagrama de Caterina, em alusão aos versos de Luís Vaz de Camões (1524 – 1580), português e Renascentista, é considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa de todos os tempos, tido inclusive como o “pai da língua portuguesa”. Camões nutria um forte amor por Caterina de Ataíde, uma linda jovem de olhos azuis, filha de um nobre português e membro da administração da corte real.
          Sua beleza impressionava tanto Camões que Caterina de Ataíde foi imortalizada em diversos de seus sonetos. Um desses sonetos, tem o nome de Natércia. Sua amada havia morrido ainda jovem, vítima de uma grave e fulminante doença. O poeta nunca escondera as saudades e o amor ardente que nutria por sua amada Caterina.
          Camões à época era um jovem irrequieto, aventureiro e demonstrava muita valentia. Por esses motivos, sempre se metia em confusões por onde passava e por várias vezes, foi parar em prisões.
Em uma de suas viagens, se envolveu em problemas na Índia, tendo sido capturado na China e enviado à Índia de navio para ser julgado. Foi nessa viagem de volta à Índia que escreveu o soneto Natércia.
          Para não identificarem o nome da amada, Camões misturou as sílabas de CATERINA, dando nome ao poema de NA-TER-CIA. 
          Na escolha do novo nome para a cidade, foi feita a sugestão de Natércia, com explicações do seu significado. Autoridades da cidade, à época, optaram pela troca do nome Santa Catarina MG para Natércia MG, com a alteração aprovada por projeto de lei, embora o nome escolhido não tenha tido total apoio dos moradores da cidade.
          O anagrama é uma linda poesia de amor, além de fazer alusão à padroeira da cidade, Santa Catarina de Alexandria.
Atrativos de Natércia
          Além da Paróquia de Santa Catarina de Alexandria, Natércia tem como outros atrativos a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída no século XIX, com belíssimas obras de arte em seu interior e outras belas igrejas. (na foto acima do Leonardo Souza/jleonardo_souza_srs, a Paróquia de Santa Catarina de Alexandria)
          Além disso, tem o Mirante do Cruzeiro, com uma vista panorâmica espetacular da cidade, as cachoeiras do Salto e sua impressionante queda, trilhas como a Trilha da Pedra do Cruzeiro e estradas rurais que levam a outras cachoeiras como a Cachoeira da Usina na vizinha Conceição das Pedras. Sem contar a possibilidade de praticar esportes aquáticos no Rio Sapucaí, como a canoagem ou mesmo, relaxar às margens do rio e praticar pesca esportiva em seus rios e represas. (foto acima de José Valmei)
          Pra quem prefere um programa familiar, tem o Parque Municipal, um lugar com boa estrutura para diversão, ideal para o dia com a família e fazer piqueniques.
          Para os amantes da cultura que queiram conhecer mais a fundo a história da cidade, Natércia conta com Museu Histórico e a Casa da Cultura, além de preservar suas festas tradicionais como a de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Catarina de Alexandria, a padroeira, em 25 de novembro, dentre outras festividades. Tem ainda a oportunidade de visitar fazendas históricas, com construções do período colonial, já que algumas são abertas a visitação.
          E como toda tradicional cidade mineira, a culinária de Natércia é bastante tipicamente mineira e rica em sabores, com destaque para o feijão-tropeiro, o frango com quiabo e a tradicional broa de milho. (na foto acima de José Valmei, a Paróquia de Santa Catarina de Alexandria)
          Natércia conta ainda com uma boa estrutura urbana, um variado comércio, bares, restaurantes, padarias e lanchonetes, além pequenos hotéis e pousadas aconchegantes, ruas e praça arborizadas, um charmoso e atraente casario. (foto acima de Fernando Campanella)
          Além disso, a calma e tranquilidade de Natércia, é por si só um convite ao sossego, bem como a hospitalidade de seu povo, muito gentil e acolhedor. Inclua Natércia em seu roteiro de cidades para conhecer. Irá se encantar com sua história, cultura, turismo, tradições e belezas naturais e rurais.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Por que o mineiro chama carne de mistura?

(Por Arnaldo Silva) Esse termo surgiu na época que as tropas cortavam o sertão mineiro levando e trazendo mercadorias, no século XVIII. Nas paradas para pouso e alimentação, preparavam as refeições sem carne, por ser muito difícil de se obter nas viagens, além de ser difícil de levar, devido as dificuldades de armazená-la na época.
          Hoje, com a migração do povo do homem do campo para as cidades, as expressões antigas acabaram sendo esquecidas ou pouco faladas e até mudada em seu sentido original. Ou seja, mistura no século XVIII era o acréscimo de carne, hoje no século XXI, é tudo que é misturado ao popular arroz com feijão. Apenas em algumas regiões mineiras, mistura é carne.
          Na Região Central Minera, Oeste, Centro-Oeste, Triângulo Mineiro e Sul de Minas, a influência tropeira, nos modos, costumes, hábitos e linguajar ainda é muito forte, principalmente na formação dos sotaques regionais. Nessas regiões, principalmente povoados rurais, mistura é usada no lugar de carne, bem como outras dezenas de palavras do linguajar tropeiro, hoje incorporados ao dialeto mineiro.
          O paulista do interior pronuncia também mistura ao invés de carne, devido a origem tropeira e bandeirante desse Estado, responsável pela expansão, através das tropas e bandeiras, dos costumes, tradições, modos e hábitos tropeiros em Minas.
          A comida era a base de feijão, farinha, hortaliças nativas, toucinho, além de ovos, que era mais fácil de encontrar. Esse prato passou a ser conhecido no século XVIII, em Congonhas do Norte MG, por “feijão-ferrado”. (na foto acima do Judson Nani, um prato com mistura (frango) e abaixo do Edson Borges, o feijão-ferrado com toucinho, sem mistura)
          Quando tinha carne, era toucinho carnudo ou charque fritado no toucinho e por fim, misturado ao feijão, farinha, ovos, hortaliças, com o torresmo. Assim, quando a carne era misturada ao feijão-ferrado ou em qualquer outro prato, era chamada de mistura.
          Com o tempo, o feijão ferrado, com a mistura, passou a ser o prato mais consumido pelos tropeiros em Minas, que passou a ser chamado de feijão-tropeiro.
          Para os tropeiros, ovos não era considerado mistura e nem verdura, somente carne. É assim hoje. Comida de mineiro tem que ter mistura. (na foto acima do Judson Nani, um prato sem mistura)
          Até hoje, nas casas mineiras, sempre se pergunta qual será a mistura do almoço ou jantar. Ou seja, que tipo de carne será misturada à comida. Ou mesmo, se for visitar uma família mineira para almoçar, irão te perguntar se gosta de mistura ou qual mistura prefere. Se não gostar de mistura, terá a opção de ovos, verduras e hortaliças, que embora possa parecer, não é mistura. Ao menos para o mineiro. (na foto acima do Edson Borges, um prato com mistura)
          Mistura para mineiro é carne de porco, boi ou de galinha no prato do almoço ou jantar.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Como as mulheres se vestiam no século XIX

(Por Arnaldo Silva) Saber como era a vida das mulheres, não só mineiras, como brasileiras em geral, no século XIX e anteriores, é uma curiosidade que todos temos. Como no século XIX a fotografia era rara no Brasil, embora existisse, era restrita a poucos. A base para nossa imaginação eram as gravuras feitas por artistas plásticos da época que hoje ilustram livros de história.
          Com base em gravuras existentes nesses livros e pinturas de artistas entre 1800 a 1860, é possível hoje refazê-las usando a IA. Foi assim, usando informações iconográficas disponíveis em livros de histórias e gravuras que retratam a vestimenta feminina dessa época, que Felipe Oliveira, editor da Paulistânia Caipira/@paulistaiacaipira, fez as imagens que ilustram essa matéria. Não é a reprodução 100% exata de como eram as feições e vestimentas das mulheres naquela época, já que pinturas não são reproduções exatas das feições e dos lugares pintados em tela. Mas as imagens em IA são bem próximas da realidade, além de nos permitir entender como as mulheres se vestiam, seus hábitos e costumes nos anos de 1800-1860.
          Nessa época, a cultura, a música, a vestimenta, as tradições, o linguajar, os modos e costumes tinham fortes influências da cultura bandeirante e tropeira. Minas Gerais, juntamente com Mato Grosso, Goiás, parte do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul, fazia parte parte da área de abrangência e influência cultural da Paulistânia Caipira, expandida pelos bandeirantes e tropeiros por toda essa região. Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, foi o Estado que mais recebeu bandeirantes e tropeiros paulista, por isso, recebeu uma grande influência da cultura caipira, não apenas na música, linguajar, mas na vestimenta, modos e costumes.
          Os costumes e modos de vestir dos bandeirantes e tropeiros naquela época, são bastante parecidos entre mineiros e paulistas, principalmente na vestimenta das mulheres, com pouquíssimas diferenças. Tanto as mulheres paulistas, quanto mineiras, principalmente nas regiões Sul de Minas, Triângulo Mineiro, Centro-Oeste e Região Central, tinha modos, costumes e vestimentas que pouco se diferenciavam.
          Seguiam a tendência da moda da época, como acontece até os dias de hoje. Segue-se uma moda, um estilo. Antigamente era assim também.
A influência dos modos e costumes caipira
          A vestimenta das mulheres mineiras, paulistas, goianas, mato-grossenses, paranaenses, catarinenses e gaúchas, teve influência da cultura ibérica com costumes castelhanos, presentes no cotidiano e costumes paulistas. Este estilo foi introduzido pelos colonizadores portugueses em São Paulo, entre os séculos XVI e XVI. Foi nessa época que teve origem a cultura caipira, que abrange os costumes, tradições, cultura, música, estilo de vida, de se vestir, fala, comer. Enfim, que abrangia todo o cotidiano da região de influência paulista, nessa época.
          Esse estilo foi se expandindo pela área de influência da Paulistânia Caipira, na medida que bandeirantes e tropeiros foram adentrando pelas regiões Sul do Brasil, Centro-Oeste e Sudeste. O estado que recebeu maior influência foi Minas Gerais, devido a descoberta de ouro no final do século XVII. Como consequência, dezenas de milhares de pessoas começaram a chegar à Minas Gerais para trabalharem na mineração. Em sua maioria, paulistas, em busca da riqueza do ouro.
          Foi nessa época que aumentou a influência da cultura caipira em Minas, bem como todos os seus modos e costumes. Uma das dessas influências era no modo de vestir das mulheres mineiras. Esse tipo de vestimenta, bastante estranha aos olhos de hoje, era normal entre a meninas, moças e mulheres daquele tempo, não só em Minas, mas nas regiões da presença da influência da cultura caipira.
Vestimenta de influência Ibérica
          As mulheres dessa época trajavam sempre roupas relativamente escuras e sóbrias, acompanhada de um manto de lã feltrado e preto, chamado de baeta. Completava ainda a vestimenta um xale ou sua mantilha preta, véu e rendas nas mãos, igualmente escuras. Essa vestimenta envolvia todo o corpo da mulher.
          Esse modo de vestir das mulheres foi introduzido no processo civilizatório português em São Paulo, e estabelecendo-se definitivamente com a União Ibérica (que foi unificação da Coroa Portuguesa e Espanhola que regeu a política dessas nações entre 1580-1640). Esse modo de vestir, bem como vários outros costumes, teve então a influência mesclada dos estilos português e espanhol, introduzido no cotidiano paulista entre os séculos XVI e XVII e expandido para a área de influência das entradas e bandeiras paulistas.
          Inclusive, os trajes que cobrem a imagem original e as réplicas de Nossa Senhora Aparecida, baseiam-se nos costumes e modo de vestir das mulheres dessa época.
          Esse tipo de roupa era usado aos domingos, feriados religiosos e em dias de missa. Eram roupas bastante sóbrias e com ares bem sombrios. Todo em tom escuro, com xale ou mantilha preta, véu e rendas, também em tons escuros. Cobria o corpo todo, deixando apenas à mostra o rosto e mãos da mulher.
          No dia a dia, as vestimentas eram também sóbrias, sem muita extravagância, mas usando outras cores além do preto, como o vermelho, nos xales, rendas coloridas e chapéus com laços e flores. Muitas das mulheres não dispensavam o cachimbo.
Impressões de cientistas e pesquisadores estrangeiros 
          Saint-Hilaire, cientista francês que teve autorização da Coroa Portuguesa para viajar pelo Brasil estudando e pesquisando a fauna, flora e costumes do brasileiro, quando esteve em São Paulo, conheceu e descreveu esse modo de vestir, deixando esse relato:
          "Em São Paulo, as negras e mulatas, e em geral as mulheres do povo, aparecem nas igrejas com a cabeça e o corpo envoltos em pano preto. As mulheres de classe mais elevada põem na cabeça e nos ombros uma mantilha de casimira preta com que escondem quase inteiramente o rosto, mantilha esta debruada de larga renda da mesma cor"
          Muitas mulheres paulistas, em pleno século XIX, apegavam-se às vestimentas e às posturas do tempo dos bandeirantes, e mesmo quem havia convivido com as novidades da Corte imperial, permanecia fiel aos confortáveis costumes dos primeiros séculos de colonização. A Marquesa de Santos, quando voltou a São Paulo depois do período de convivência com Dom Pedro I, fazia o uso destas vestes.
          Isabel Burton, esposa do célebre viajante inglês Richard Burton, conheceu-a, na década de 1860, pouco antes de sua morte.
          Isabel Burton conta que a marquesa, já idosa, se adaptara aos modos de sentar da velha São Paulo de Piratininga: “a última vez em que a vi, recebeu-me na intimidade de sua cozinha, onde sentava-se no chão, fumando, não um cigarro, mas um cachimbo”
          Visitando Guaratinguetá em 1822, Saint-Hilaire descreveu a vestimenta das mulheres: 
          "As mulheres pobres andam com as pernas e muitas vezes os pés nus, usam saia e camisa de algodão, e levam aos ombros uma capa ou um grande pedaço de pano azul ou preto, tendo à cabeça um pequeno chapéu de feltro em forma de prato"
          Além do cientista francês, outros ilustres pesquisadores e viajantes descreveram esse modo de vestir, como Carl Friedrich Gustav Seidler, um viajante suíço alemão, que em visita à São Paulo em 1825 fez essa análise sobre esse tipo de vestimenta:
          "...As senhoras e moças aqui se vestem de preto ou de cores variegadas, cada qual seguindo, quanto a cores, seu gosto pessoal e não os rigores da moda. Os povos meridionais(paulistas) sempre fizeram assim e é forçoso reconhecer que, nessa escolha, têm uma percepção segura. Veem-se as mulheres nas igrejas trajadas de modo belo e decente, com vestidos de seda preta, pesadamente ornados de vidrilhos ou com uma larga guarnição de encantadores babados.
          Não lhes falta o véu, flutuando como leve nuvem sobre as fartas madeixas e permitindo, como o leque, variadíssimos jogos. No teatro e nos bailes, aparecem com vestidos de gases policrômicos, cobertos de inúmeras flores e laçarotes de fitas, saiotes de cetim, corpete igual, bordado a ouro ou prata, rico diadema, flores e plumas nos cabelos em agradável combinação".

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