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sábado, 16 de dezembro de 2023

A influência tropeira no vocabulário mineiro

(Por Arnaldo Silva) As tropas que cruzaram o Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil entre os séculos XVII até o início do século XX foram as responsáveis pelo surgimento de povoados, cidades e mais que isso, transportavam as riquezas de um país recém-colonizado, principalmente de Minas Gerais, durante os áureos anos do Ciclo do Ouro. 
           Além disso, foram os tropeiros que garantiram o abastecimento das regiões de mineração, trazendo alimentos, mercadorias e utensílios diversos para os povoados e cidades mineradoras. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Eram meses embrenhando nas matas densas, usando as picadas indígenas e abrindo outros caminhos no braço e na potência da força dos carros de bois.
Como se vestiam
          São retratados nos desenhos e pinturas da época montados em imponentes cavalos e vestes elegantes, mas viviam uma realidade bem diferente. Andavam dias e até meses pelas matas, enfrentando intempéries diversas. A maioria andava descalça, tinham barbas e cabelos longos e suas roupas eram velhas e surradas.
          Os donos e os principais líderes das tropas montavam em seus burros sobre um pelego, uma manta feita com couro de carneiro, que servia para amaciar o assento. Vestiam calça larga e camisa de manga comprida, de pareio, que no linguajar tropeiro eram roupas combinando. (na arte acima e abaixo, feitas pelo Felipe Oliveira da Paulistânia Tradicional/@paulistaniatradicional, uma mostra real de como eram as vestimentas de homens e mulheres tropeiras no século XIX).
          Além disso, usavam uma russilhona, que eram botas de couro cru, cm cano longo, chapéu de com bordas reguláveis e barbelas, poncho de couro, uma muladeira ou guaiaca, que é um cinto largo, de couro cru, com bolsas para guardar dinheiro, revolver, facão e outras coisas.
Burros, mulas, jumentos e bestas
          Não tropeavam montados em cavalos e sim, em burros, animais mais fáceis de montar, mais dóceis e mais resistentes às intempéries. As cargas eram transportadas nos lombos de mulas, asnos, jumentos e bestas, animais de baixa estatura, dóceis e bem resistentes. Quando em caso de cargas pesadas, como metais preciosos, usavam carros de bois. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Além disso, eram os tropeiros que traziam e levavam as principais notícias do pais, além de difundirem tradições e sua própria cultura, costumes, modos e palavreados por onde passavam. Muitas dessas expressões e palavras são comuns hoje em dia e até mesmo, tidas como integrantes dos dialetos e sotaques regionais.
Exemplos de palavras e expressões tropeiras
          Com certeza já viu alguém ser chamado de adjetivos como burro, besta, asno, jumento ou mula. Chamar alguém de burro é o mesmo que dizer que a pessoa tem pouca inteligência e de besta, é quando a pessoa é boba ou tola. De jumento e asno é quando a pessoa é bruta e mal-educada. De mula, quando a pessoa é bastante teimosa e não sai do lugar. (acima, imagem obtida através da IA, usando como base desenho de tropeiro do século XIX, por Felipe Oliveira/@paulistaniacaipira)
          Associar o comportamento dos animais ao de algumas pessoas, chamando-as de burra, jumento, asno, mula ou besta, tem origem nos tropeiros.
          O animal burro é tido como de inteligência inferior à do cavalo, o animal besta tem um comportamento bem ingênuo, o jumento e o asno ficam agressivos sem mais nem menos, pulam e dão coices aleatoriamente. A mula, é por si mesma, teimosa e quando está bem cansada e com excesso de peso, empaca e ninguém tira ela do lugar. Por isso a associação às pessoas que demonstravam no comportamento essas características, no entender dos tropeiros.
          Na pequenas propriedades do interior, cavalos, bois e vacas tem nome e são chamadas pelos nomes pelos seus tutores. E ainda, entendem quando são chamadas e obedecem. Esse costume comum hoje era hábito dos tropeiros que davam nome a seus animais e os chamavam pelo nome.
          Temos ainda provérbios tropeiros associados a estes animais presentes no linguajar mineiro até os dias de hoje, principalmente no interior, como exemplos: “quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”; “larga de cê besta sô”; “deu com os burros n´água”; “desembestou de vez”; “besta-quadrada” (quando a besta ficava bastante agressiva, seria uma besta, matematicamente elevada ao quadrado); “larga de cê burro sô”, ficou emburrado”; cê é teimoso como uma mula”;
          E quando o tropeiro queria apressar a mula, dizia: “se manda, (o nome da mula), que a ferradura guenta, uai!”. E quando a colocação da ferradura era bem-feita, falavam: “mula bem ferrada, vale por duas, uai”!, referindo-se ao bom serviço na colocação da ferradura que não soltava no trajeto, evitando assim o atraso nas tropas; “ ficou emburrado” (parado, sem ação).
          Tem mais, muitos mais. “Picar a mula”, “discutir com teimoso é perda de tempo”; “pelo jeito de andar da besta, se conhece o montador”; “tô com o burro na sombra”, etc.
          Não é só isso, tem mais, muito mais mesmo. Não apenas em provérbios ou expressões, mas também palavras usadas pelos tropeiros, estão hoje presentes no nosso vocabulário, faladas sem saber sua origem e até significado.
          Como exemplo, ao descer de um animal, o mineiro fala “vou apear”. “Bago” são os testículos dos animais. Para chamar a boiada, usavam o berrante, feito com o chifre do boi, prática tropeira. Quando um animal tinha feridas no corpo, era bicheira. Nos cascos, era broca.
          Um embornal era sacola usada para levar caldeirão de comida e cabaças com água e café. Uma bruaca era uma sacola grande de couro que usavam para transportar utensílios de uma comitiva.
          Por falar em comitiva, é também uma palavra de origem tropeira, que é um grupo formado por peões de boiadeiros, capataz, chaveiros, culatreiro, ponteiro, meeiros e cozinheiro. Além de condutores de boiadas, os peões de boiadeiros eram amansadores de burros.
Herança tropeira
          A herança dos costumes e modos dos tropeiros deixadas ao longo de mais de 300 anos, são extensas e não dá para enumerar todas, mas com certeza, fazem parte do dia a dia dos estados brasileiros onde tiveram a presença de tropas, nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e início do século XX.
          A presença da cultura caipira bandeirante e principalmente tropeira, influenciou nos costumes, modos, tradições, religiosidade e identidade mineira, devido a presença maciça e constante de tropeiros e bandeirantes, vindos de norte a sul, de leste a oeste do Brasil, durante o Ciclo do Ouro.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Mercearia Paraopeba: a mais antiga do Brasil

(Por Arnaldo Silva) As vendas, mercearias e armazéns antigos, tinham como hábitos, anotar e em seus cadernos, os fiados feitos aos fregueses. Guardavam com carinho esses cadernos, que são hoje, relíquias históricas. Em um desses cadernos, registros nos levam ao ano de 1884 e estão bem conservados, mesmo após tantos anos. Esse caderno está na Mercearia Paraopeba.
          Típica venda mineira, onde você encontra de tudo e mais um pouco. Se não encontrar, é porque ainda não vou inventado.

          É uma das mais antigas e famosas vendas do Brasil. Já foi tema de reportagens de jornais como O Tempo, O Estado de Minas, O Estado de São Paulo, dentre outros tantos jornais impressos de Minas Gerais e do Brasil. O Armazém Paraopeba foi tema ainda de reportagens do Jornal Nacional e Globo Rural, da Rede Globo, além de reportagens feitas pela Rádio CBN, Jornal da Alterosa (SBT), Jornal Minas (Rede Minas), além de uma emissora de TV da Austrália, com reportagem exibida para mais de 30 países.
         A tradicional Mercearia fica num antigo casarão, desde o século XIX, do mesmo jeito, passando de pai para filho, bem como a freguesia, que são fiéis há gerações. É uma típica venda mineira, com duas portas na entrada, abarrotadas de produtos pendurados e colocados onde tiver lugar, até mesmo no chão. 
          Por dentro do armazém é assim também, tudo abarrotado de coisas penduradas, colocadas em prateleiras ou mesmo no chão, sem qualquer ordem. Mas com certeza, o dono encontra tudo, rapidinho. O dono é Roney de Almeida, mais conhecido como Roninho, que herdou o armazém do pai, que herdou do seu avô.
          A herança não foi apenas material, mas no carisma, simpatia, simplicidade e amor ao ofício, herdado de gerações. Os fregueses sabem que ao entrar na venda, não estarão comprando apenas alguns itens para sua casa, mas voltando no passado, revivendo emoções de seus pais e avós. Se perdem em meio a tantas emoções, que leva todos a uma poética viagem no tempo da mais pura mineiridade.
          No Armazém Paraopeba você encontra de tudo mesmo, desde sabão feito de torresmo e cinzas, panelas, brinquedos, doces, queijos, banha de porco na garrafa, ferramentas, alho, batata, esmaltados, ovos e por aí vai. A lista é enorme.
          Além da caderneta, outra tradição antiga preservada até os dias de hoje na Mercearia Paraopeba é a prática do escambo. Na época de origem da venda, o dinheiro era uma moeda de pouca circulação, restrita a poucas pessoas. A forma das pessoas comprarem o que necessitavam, era fazer trocas por produtos de valor similar, por exemplo, queijo por doce, carne por querosene, queijo por sal, requeijão por açúcar, etc.
          E em pleno século XXI, essa prática resiste e é uma das bases do Armazém Paraopeba, desde sua origem. A maioria dos alimentos vendidos no Armazém vem de pequenos produtores, que levam outros produtos como pagamento, à sua escolha e de valor similar.
          É tão pitoresco e gostoso o lugar, que ao entrar dentro, não dá vontade de sair mais. Ficar na venda, ouvindo as histórias dos fregueses, que entram e que saem, proseando e ouvindo as prosas, vendo as pessoas comprarem café moído na hora e cerais no quilo, embrulhado em papel e levarem para casa miudezas. Isso nos dá um sentimento de nostalgia, de estarmos voltando no tempo. (todas as fotos acima foram fornecida pelo João da Mercearia Paraopeba)
Onde fica?
          O Armazém Paraopeba fica no Centro Histórico de Itabirito, cidade distante apenas 57 km de Belo Horizonte e 50 km de Ouro Preto, pela Rodovia dos Inconfidentes. Está bem em frente à Igreja de São Sebastião. Itabirito surgiu no início do século XVIII. O povoado que deu origem a Itabirito hoje foi elevado a distrito em 1752, subordinado a Ouro Preto MG. Em 1923 passou a se chamar apenas Itabirito e elevada a cidade em 10 de setembro de 1925. A cidade conta atualmente com 54 mil habitantes. (na foto acima do Thelmo Lins, detalhe do Centro Histórico de Itabirito MG)
           Dentre suas relíquias históricas, se destaca a Mercearia Paraopeba, um dos lugares mais visitados por turistas que vem à Itabirito.O contato pode ser feito pelo fone; 31 99864-5021.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Costumes e cultura dos geraizeiros do sertão do Norte de Minas

(Por Arnaldo Silva) Geraizeiro é como é chamado o povo do Norte de Minas, parte do Noroeste e extremo do Vale do Jequitinhonha, na divisa com a Bahia. 
          O povo geraizeiro foi formado às margens do Rio São Francisco, com influência da cultura caipira e nordestina, em seus modos, costumes, vestimentas, cultura, religiosidade e linguajar. Foi essa região e o estilo de vida do geraizeiro que inspirou Guimarães Rosa a escrever o clássico “Grande sertão: veredas” (fotografia acima arquivo Prefeitura de Chapada Gaúcha MG/Divulgação, instrumentos musicais usados pelos geraizeiros)
A presença bandeirante no Norte de Minas
          O povo geraizeiro é mais antigo que os mineiros das outras regiões do Estado, por ter sido essa regia a primeira em Minas a ter incursões e povoação de bandeirantes, vindos da Bahia. A presença bandeirante, vindos diretamente de São Paulo, ocorreu a partir de 1673, no século XVII, com Fernão Dias Paes Leme e ampliada a partir do século XVIII, com o aumento da exploração mineral e busca de novas minas de ouro e diamantes em Minas. 
          Isso gerou um grande aumento da incursão de aventureiros, tropeiros e bandeirantes paulistas vindos de São Paulo pelo Sul de Minas, com o objetivo de exploração do ouro e pelo Norte de Minas, de bandeirantes paulistas vindos da Bahia. Os bandeirantes que vieram da Bahia, se dedicavam mais a agropecuária, atuando na formação de pastagens, criação de gado e produção de alimentos e carne de sol para abastecer a capital, na época, Salvador..
          Essas duas frentes bandeirantes se expandiram pelo Estado, se encontrando na parte baixa do Vale São Francisco, originando assim o povo geraizeiro.
Matias Cardoso, o primeiro bandeirante
          O primeiro bandeirante a fundar uma povoação em Minas, foi Matias Cardoso. Chegou a Minas subindo o Rio São Francisco, a partir da Bahia. Fundou várias fazendas de criação de gado que trazia da Bahia e produção de alimentos. Muitas dessas fazendas às margens do Rio São Francisco, deram origem posteriormente a povoados, distritos, como Brejo do Amparo e até cidades, como Januária e São Romão, formadas às margens do Rio São Francisco. Em uma de suas paradas, fixou-se as margens do Rio São Francisco e fundou, por volta de 1660, a primeira povoação mineira, que é hoje a cidade de Matias Cardoso MG, no extremo Norte de Minas, na divisa com a Bahia.
A formação do povo geraizeiro
          A primeira influência na formação do geraizeiro foi bandeirante paulista, dos povos indígenas que habitavam a região, da cultura nordestina e posteriormente, dos geralistas da região Central, Sul de Minas e do Triângulo Mineiro, regiões de forte influência e tradição caipira. Em termos genéticos, o geraizeiro é um povo mestiço, com traços físicos e costumes próprios, que os diferenciam dos mineiros de outras regiões do Estado. (foto acima de autoria de Lester Scalon - enviada pelo Guia Elson Barbosa de Chapada Gaúcha MG)
Geralista e geraizeiro
          Geralista era como os habitantes da Capitania das Minas Gerais. eram chamados, antes de de ser oficializado o gentílico “mineiro”, devido a imensa maioria dos habitantes das Gerais trabalharem na mineração. Gerais passou a ser ainda a designação do bioma Cerrado norte mineiro por ser uma região de transição entre o bioma Cerrado com a Caatinga, no oeste baiano. Quem vivia nessa região, de vegetação e paisagens gerais, era chamado de geraizeiro. (na foto acima da Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha MG, comunidade de geraizeiros)
          Os geraizeiros são conhecidos também por “agricultores do planalto” e “guardiões do Cerrado”. As comunidade de geraizeiros tradicionais, existentes há gerações, são reconhecidas como sendo “povos de origem”, como os quilombolas, ribeirinhos, etc, embora hoje o termo “geraizeiro” se refira a todos os habitantes do Norte de Minas. Conhecem o Cerrado e suas variações, como a palma da mão.
O geraizeiro de origem
          O geraizeiro tradicional é essencialmente caipira em sua genealogia, costumes, estilo de vida, modo de vestir, na musicalidade, na religiosidade em sua culinária que tem como base pratos feitos a base dos frutos do Cerrado, como o pequi, araticum e buritis, na foto acima do Manoel Freitas.
          É um povo resistente, que se adaptou e se formou no Cerrado e Caatinga, ao longo de mais de 300 anos e aprendeu a viver em harmonia com esses biomas e com comunidade.
          Criaram seu estilo próprio de vida e culinária. Comem do que plantam. Cultivam lavouras de milho, feijão, mandioca, frutas e verduras para subsistência própria. O que sobra é comercializado em feiras e comunidades vizinhas, ao natural ou beneficiados.
          Tradicionalmente, são avessos a cercas, a monocultura e a propriedade privada. Vivem em comunidades, sem muros ou cercas em suas casas.
Vaqueiros e o canto do aboio
          Exercem atividades em comunidades com trabalhos idênticos ao sertanejo nordestino. Lidam com o gado, cortam e preparam carne de sol. São vaqueiros tradicionais. Para se protegerem da vegetação, animais peçonhentos e o sol forte da região, usam gibão de couro, chapéu e perneiras, como seus antepassados. (na foto acima do Tom Alves/@tomalves.fotografia, um típico vaqueiro em ação)
           Conduzem o gado no aboio, que é um canto grave tradicional nordestino, entoado, sem palavras. Esse canto surgiu pela necessidade de acalmar o gado e controlá-lo, já que o gado é criado solto pelos geraizeiros. O som cadenciado, prolongado e macio do aboio ecoa ao longe e o gado obedece. No aboio, a dura lida no trato com o gado, se torna poesia. É uma cultura que emociona.
          O geraizeiro conta suas histórias no ritmo do aboio, cantado, cadenciado, macio, mas nesse caso, usando palavras ao contar suas histórias e dos seus companheiros. (foto acima da Prefeitura de Chapada Gaúcha MG_
          É um povo tradicional, de origem, vivendo a gerações na mesma terra que seus pais, avós, bisavós, trisavós e tetravós viveram, desde a época dos bandeirantes, conservando sua cultura, costumes, tradições, religiosidade, culinária, dialeto, enfim, os guardiões do Cerrado conservam a essência de suas origens.
          Como todo sertanejo, o geraizeiro é ante de tudo, um povo forte e resistente!

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Conheça Cachoeira do Campo

(Por Arnaldo Silva) Não pense que Cachoeira do Campo seja um pequeno e pacato distrito interiorano. Longe disso! São mais de 15 mil habitantes no distrito ouro-pretano, maior até que muitas cidades brasileiras.
          Cachoeira do Campo se desenvolveu graças a indústria, principalmente da mineração. Possui um comercio variado, um setor de serviços eficiente, rodoviária, indústria moveleira, um rico e eclético artesanato, em especial feitos em pedra sabão. (na foto acima de Arnaldo Silva, o Centro Histórico do distrito e abaixo, o tradicional artesanato em pedra sabão)
          Conta ainda com uma gastronomia diversificada com queijaria, alambique, cervejaria, festivais gastronômicos como a Festa da Jabuticaba, diversos bares, restaurantes, hotéis e pousadas de ótima qualidade. Enfim, Cachoeira do Campo conta com boa estrutura urbana e oferece boa qualidade de vida a seus moradores e visitantes.
          Cachoeira do Campo é um dos berços da história da origem de Minas Gerais. Suas ruas e becos contam, um pouco da história de Minas Gerais, preservada em seus casarões, pontes e templos do início do século XVIII e XIX. (na foto acima de Arnaldo Silva, o Centro Histórico do distrito)
         Os principais atrativos históricos de Cachoeira do Campo são: a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré (na foto acima de Peterson Bruschi, a riqueza do interior da Matriz), uma joia da primeira fase do Barroco Mineiro, conhecido por Nacional Português; o antigo Palácio do Governador, antiga residência oficial dos governadores da província de Minas, a tricentenária Ponte do Palácio e o Colégio Dom Bosco, locais que foram palco importantes episódios da História do Brasil, como a Guerra dos Emboabas, a Sedição de Felipe dos Santos, articulações dos inconfidentes, dentre outros.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Como as mulheres se vestiam no século XIX

(Por Arnaldo Silva) Saber como era a vida das mulheres, não só mineiras, como brasileiras em geral, no século XIX e anteriores, é uma curiosidade que todos temos. Como no século XIX a fotografia era rara no Brasil, embora existisse, era restrita a poucos. A base para nossa imaginação eram as gravuras feitas por artistas plásticos da época que hoje ilustram livros de história.
          Com base em gravuras existentes nesses livros e pinturas de artistas entre 1800 a 1860, é possível hoje refazê-las usando a IA. Foi assim, usando informações iconográficas disponíveis em livros de histórias e gravuras que retratam a vestimenta feminina dessa época, que Felipe Oliveira, editor da Paulistânia Caipira/@paulistaiacaipira, fez as imagens que ilustram essa matéria. Não é a reprodução 100% exata de como eram as feições e vestimentas das mulheres naquela época, já que pinturas não são reproduções exatas das feições e dos lugares pintados em tela. Mas as imagens em IA são bem próximas da realidade, além de nos permitir entender como as mulheres se vestiam, seus hábitos e costumes nos anos de 1800-1860.
          Nessa época, a cultura, a música, a vestimenta, as tradições, o linguajar, os modos e costumes tinham fortes influências da cultura bandeirante e tropeira. Minas Gerais, juntamente com Mato Grosso, Goiás, parte do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande Sul, fazia parte parte da área de abrangência e influência cultural da Paulistânia Caipira, expandida pelos bandeirantes e tropeiros por toda essa região. Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, foi o Estado que mais recebeu bandeirantes e tropeiros paulista, por isso, recebeu uma grande influência da cultura caipira, não apenas na música, linguajar, mas na vestimenta, modos e costumes.
          Os costumes e modos de vestir dos bandeirantes e tropeiros naquela época, são bastante parecidos entre mineiros e paulistas, principalmente na vestimenta das mulheres, com pouquíssimas diferenças. Tanto as mulheres paulistas, quanto mineiras, principalmente nas regiões Sul de Minas, Triângulo Mineiro, Centro-Oeste e Região Central, tinha modos, costumes e vestimentas que pouco se diferenciavam.
          Seguiam a tendência da moda da época, como acontece até os dias de hoje. Segue-se uma moda, um estilo. Antigamente era assim também.
A influência dos modos e costumes caipira
          A vestimenta das mulheres mineiras, paulistas, goianas, mato-grossenses, paranaenses, catarinenses e gaúchas, teve influência da cultura ibérica com costumes castelhanos, presentes no cotidiano e costumes paulistas. Este estilo foi introduzido pelos colonizadores portugueses em São Paulo, entre os séculos XVI e XVI. Foi nessa época que teve origem a cultura caipira, que abrange os costumes, tradições, cultura, música, estilo de vida, de se vestir, fala, comer. Enfim, que abrangia todo o cotidiano da região de influência paulista, nessa época.
          Esse estilo foi se expandindo pela área de influência da Paulistânia Caipira, na medida que bandeirantes e tropeiros foram adentrando pelas regiões Sul do Brasil, Centro-Oeste e Sudeste. O estado que recebeu maior influência foi Minas Gerais, devido a descoberta de ouro no final do século XVII. Como consequência, dezenas de milhares de pessoas começaram a chegar à Minas Gerais para trabalharem na mineração. Em sua maioria, paulistas, em busca da riqueza do ouro.
          Foi nessa época que aumentou a influência da cultura caipira em Minas, bem como todos os seus modos e costumes. Uma das dessas influências era no modo de vestir das mulheres mineiras. Esse tipo de vestimenta, bastante estranha aos olhos de hoje, era normal entre a meninas, moças e mulheres daquele tempo, não só em Minas, mas nas regiões da presença da influência da cultura caipira.
Vestimenta de influência Ibérica
          As mulheres dessa época trajavam sempre roupas relativamente escuras e sóbrias, acompanhada de um manto de lã feltrado e preto, chamado de baeta. Completava ainda a vestimenta um xale ou sua mantilha preta, véu e rendas nas mãos, igualmente escuras. Essa vestimenta envolvia todo o corpo da mulher.
          Esse modo de vestir das mulheres foi introduzido no processo civilizatório português em São Paulo, e estabelecendo-se definitivamente com a União Ibérica (que foi unificação da Coroa Portuguesa e Espanhola que regeu a política dessas nações entre 1580-1640). Esse modo de vestir, bem como vários outros costumes, teve então a influência mesclada dos estilos português e espanhol, introduzido no cotidiano paulista entre os séculos XVI e XVII e expandido para a área de influência das entradas e bandeiras paulistas.
          Inclusive, os trajes que cobrem a imagem original e as réplicas de Nossa Senhora Aparecida, baseiam-se nos costumes e modo de vestir das mulheres dessa época.
          Esse tipo de roupa era usado aos domingos, feriados religiosos e em dias de missa. Eram roupas bastante sóbrias e com ares bem sombrios. Todo em tom escuro, com xale ou mantilha preta, véu e rendas, também em tons escuros. Cobria o corpo todo, deixando apenas à mostra o rosto e mãos da mulher.
          No dia a dia, as vestimentas eram também sóbrias, sem muita extravagância, mas usando outras cores além do preto, como o vermelho, nos xales, rendas coloridas e chapéus com laços e flores. Muitas das mulheres não dispensavam o cachimbo.
Impressões de cientistas e pesquisadores estrangeiros 
          Saint-Hilaire, cientista francês que teve autorização da Coroa Portuguesa para viajar pelo Brasil estudando e pesquisando a fauna, flora e costumes do brasileiro, quando esteve em São Paulo, conheceu e descreveu esse modo de vestir, deixando esse relato:
          "Em São Paulo, as negras e mulatas, e em geral as mulheres do povo, aparecem nas igrejas com a cabeça e o corpo envoltos em pano preto. As mulheres de classe mais elevada põem na cabeça e nos ombros uma mantilha de casimira preta com que escondem quase inteiramente o rosto, mantilha esta debruada de larga renda da mesma cor"
          Muitas mulheres paulistas, em pleno século XIX, apegavam-se às vestimentas e às posturas do tempo dos bandeirantes, e mesmo quem havia convivido com as novidades da Corte imperial, permanecia fiel aos confortáveis costumes dos primeiros séculos de colonização. A Marquesa de Santos, quando voltou a São Paulo depois do período de convivência com Dom Pedro I, fazia o uso destas vestes.
          Isabel Burton, esposa do célebre viajante inglês Richard Burton, conheceu-a, na década de 1860, pouco antes de sua morte.
          Isabel Burton conta que a marquesa, já idosa, se adaptara aos modos de sentar da velha São Paulo de Piratininga: “a última vez em que a vi, recebeu-me na intimidade de sua cozinha, onde sentava-se no chão, fumando, não um cigarro, mas um cachimbo”
          Visitando Guaratinguetá em 1822, Saint-Hilaire descreveu a vestimenta das mulheres: 
          "As mulheres pobres andam com as pernas e muitas vezes os pés nus, usam saia e camisa de algodão, e levam aos ombros uma capa ou um grande pedaço de pano azul ou preto, tendo à cabeça um pequeno chapéu de feltro em forma de prato"
          Além do cientista francês, outros ilustres pesquisadores e viajantes descreveram esse modo de vestir, como Carl Friedrich Gustav Seidler, um viajante suíço alemão, que em visita à São Paulo em 1825 fez essa análise sobre esse tipo de vestimenta:
          "...As senhoras e moças aqui se vestem de preto ou de cores variegadas, cada qual seguindo, quanto a cores, seu gosto pessoal e não os rigores da moda. Os povos meridionais(paulistas) sempre fizeram assim e é forçoso reconhecer que, nessa escolha, têm uma percepção segura. Veem-se as mulheres nas igrejas trajadas de modo belo e decente, com vestidos de seda preta, pesadamente ornados de vidrilhos ou com uma larga guarnição de encantadores babados.
          Não lhes falta o véu, flutuando como leve nuvem sobre as fartas madeixas e permitindo, como o leque, variadíssimos jogos. No teatro e nos bailes, aparecem com vestidos de gases policrômicos, cobertos de inúmeras flores e laçarotes de fitas, saiotes de cetim, corpete igual, bordado a ouro ou prata, rico diadema, flores e plumas nos cabelos em agradável combinação".

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Saiba como era a vida e costumes no século XIX

(Por Arnaldo Silva) Como era a vida de mineiros, paulistas, paranaenses, goianos, mato-grossenses e serranos do Sul do Brasil e outros povos que surgiram sobre a influência direta das incursões de bandeirantes paulistas e tropeiros?          
          Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e principalmente Minas Gerais, receberam forte influência da cultura e tradições caipiras da chamada Paulistânia Caipira. 
          A influência da Paulistânia Caipira pelas regiões sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil, teve início no século XVI e XVII, através das incursões de entradas e bandeiras pelos rincões brasileiros, e também de tropeiros, nos séculos XVIII, XIX e início do século XX.
A vida não era nada fácil
          Viagens longas em lombo de mulas e burros, dificuldades de alimentação, além de estarem em regiões de matas fechadas, numa terra ainda recém-habitada, viajando meses pelas picadas do nosso sertão, sem rumo ou destino certo, sem se voltariam.
          Homens e mulheres desbravando nosso sertão em busca de melhores condições de vida. Deixavam tudo para trás e se embrenhavam pelas trilhas e picadas abertas por povos indígenas.
          Andavam dias e até meses em lombos de mulas e burros ou mesmo a pé. Descalços, roupas sujas e rasgadas, barbas e cabelos longos. Não tinham comida e nem utensílios para prepará-las. Comiam do que encontravam na natureza pelo caminho, muitas das vezes, frutas e plantas tóxicas, além de enfrentarem pelo caminho ataques de indígenas hostis, onças, cobras e condições climáticas por eles desconhecidas.
Diferenças sociais
          Em lugares mais desenvolvidos, como as cidades que surgiram durante o Ciclo do Ouro em Minas Gerais, a situação era melhor, já que a riqueza que a extração mineral gerava, permitia melhores estruturas das cidades e condições de vida.
          Eram ruas calçadas em pedra, água vinda de chafarizes, casarões com mobiliário requintado, igrejas, comércio, mercados abastecidos constantemente por tropeiros que traziam e levavam cargas diariamente.
          Para a imensa maioria, formada por escravizados, alforriados e trabalhadores em geral, não era nada fácil a vida. Faziam suas casas em pau-a-pique e barro e viviam de forma bem precária.
Comiam com as mãos em cuias e cabaças
          Móveis e utensílios domésticos eram feitos por eles próprios, de forma rústica. Usavam cuias de cuité como pratos e colheres feitas com cavacos das próprias cuias.
          Esmaltados e talheres praticamente eram inexistentes nessa época. Poucas pessoas tinham acesso às panelas de ferro, pratos e talheres esmaltados. Eram itens que vinham da Europa, por isso, acessível a poucos.
          As cabaças eram secadas e transformadas em garrafas para armazenar água e café. A cabeça da cabaça, virava copo. Pratos eram feitos artesanalmente de barro. E quando não tinha pratos e nem colheres, usavam folhas de bananeiras e comiam com as mãos mesmo.
Como se vestiam?
          Quando conseguiam, fazia seus próprios sapatos, botas de cano longo e alpercatas, usando couro de boi. Mas a maioria andava descalça e vestiam trapos.
          Roupas eram feita por alfaiates, para quem tinha condições de encomendá-las. A maioria não tinha e quando tinha, era apenas uma ou duas peças apenas.
        Além disso, usavam roupas já bem gastas pelo tempo, por não terem condições de fazerem ou comprarem outras.
Lazer e diversão
          Mesmo com tanta dureza, se divertiam e se sentiam felizes. Na hora das refeições, tinha roda de viola, adoravam, cachimbos e cigarros de palha, além de apreciarem uma boa e longa prosa.
          Em dias de festas, como casamentos, aniversários, festas juninas ou religiosas, tinha muita cantoria, comida, cachaça, licor, quitandas e cantoria com a típica música caipira, presente em todas as regiões por onde os bandeirantes e tropeiro passavam.
          Viola e violão e as vezes, sanfona, estavam sempre nas bagagens de bandeirante e tropeiros, para cantarem e dançarem nas horas de folga e festas. (infelizmente a IA, não reproduz uma viola)
Foram os pioneiros
          Apesar da vida difícil, imaginando na visão de hoje, são esses que merecem nosso reconhecimento.
          Foram os pioneiros, abriram matas, construíram suas casas e comunidades no meio do mato. Preparam a terra, plantavam, criavam porcos, galinhas e gado.
          Estavam sujeitos a ataques de onças, lobos, animais peçonhentos, além de estarem sujeitos às doenças tropicais como machado guerreiro, malária, tétano, tifo, vermes, picadas de mosquitos, bichos do pé, tuberculose, lepra, etc. Qualquer doença, hoje curável, era fatal naquela época. Não existia remédios e muito menos médicos o suficiente para atender a população. Somente nas cidades e mesmo assim, restrito a fidalguia.
          O povo pobre contava com a sabedoria dos antigos, remédios caseiros e das benzedeiras, que eram sempre procuradas. 
Vida curta
          Nessa época, a expectativa de vida, devido a dificuldades de acesso ao conhecimento e tratamento médico, que era praticamente inexistente para a imensa maioria e condições de higiene inadequadas, era de 32 anos.
          As pessoas envelheciam cedo. Alguns viviam por muitos anos. Meu bisavó materno, pai de minha avó materna, morreu aos 32 anos, vítima de tétano. Já o meu bisavó materno, pai de meu avó materno, passou dos 100 anos. Dizem que morreu com 127 anos. Teve a sorte de não ter contraído nenhuma doença grave durante sua vida.
          As imagens que viram no decorrer dos parágrafos mostraram isso, mas também com beleza e romantismo, dando impressão de saudosismo e poesia no estilo de vida do mineiro e demais povos da influência da Paulistânia Caipira, entre 1800-1860, mas como puderam ver, a vida naquela época não era fácil mesmo e muito menos tão romântica como muitos acreditam que tenha sido. 
Como fizemos as imagens da matéria?
          Hoje, a IA e informações icnográficas disponíveis, nos permite ter ideia de como era a vida, costumes, vestimentas e alimentação do nosso povo entre 1800-1860.
          As imagens que veem no decorrer do texto foram feitas com pessoais reais e atuais, pelo Felipe Oliveira da Paulistânia Tradicional/@paulistâniatradicional, por meio da IA.
          Buscou-se reprodução dos costumes do século XIX (1800-1860), para que assim possamos mergulhar no tempo de nossos antepassados. A base usada para a reprodução das imagens e entender a realidade dos bandeirantes e tropeiros dessa época foi o livro No tempo dos Bandeirantes, Belmonte.
          Não são imagens 100% fiéis à realidade daquele tempo, mas bem próximas da realidade vivida pelos bandeirantes, tropeiros, aventureiros e viajantes que deixavam suas origens pra se aventurarem pelo interior do nosso sertão, do nosso Cerrado e da nossa Mata Atlântica, desbravando matas, enfrentando intempéries naturais, perigos diversos e fundando arraiais e povoados pelo caminho. Muitos desses arraiais e povoados são hoje cidades.

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