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domingo, 12 de janeiro de 2020

O paraíso do queijo, azeite, vinho, café e doces

(Por Arnaldo Silva) Queijo, vinho, azeite, café e doces, transforma Minas Gerais no paraíso gastronômico do Brasil. Nossa culinária é uma das mais diversificadas do mundo. Referência em todo o Brasil, a cozinha mineira é saborosa e atrai paladares de todo de todos os cantos do país. (na foto abaixo, de Rinaldo Almeida, Fazenda de Azeite em Maria da Fé MG)
          Não só montanhas, estâncias hidrominerais, cachoeiras e arquitetura colonial que atraem turistas. A nossa culinária, com as centenas de festivais gastronômicos por todo o Estado, fomenta a economia e turismo no Estado. 
          São mais de 300 anos de pura tradição e história. Além dos nossos saborosos e inigualáveis pratos, Minas Gerais sempre se destacou na produção de queijos e café de altíssima qualidade, se destacando no mundo inteiro. Recentemente, vinhos e azeites produzidos em Minas Gerais estão cada dia mais presentes nas mesas dos mineiros e também do brasileiro. 
O paraíso dos queijos
          Que o queijo mineiro é o melhor do Brasil isso todos sabem desde o século 18. De uns anos para cá os queijos mineiros vem recebendo premiações constantes, não só nacionais, mas internacionais, como aconteceu no Mondial du Fromage, a “Copa do Mundo dos queijos” realizada na França ano passado. Das 56 medalhas conquistadas por queijos brasileiros, 50 foram para queijos mineiros. (na foto acima, queijaria da Granparma, na Fazenda Malhada, em Cachoeira de Minas, Sul do Estado e na foto abaixo, do Luís Leite, a Fazenda Caxambu, em Sacramento, no Triângulo Mineiro, que produz um dos mais premiados queijos do Brasil, inclusive no Mondial Du Fromage)
          Os queijos premiados de Minas estão presentes em várias cidades, por todas as regiões mineiras podendo, ser encontrado em Araxá, Serra do Salitre e Sacramento no Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro; São Roque de Minas, Medeiros, Delfinópolis, Bambuí, Vargem Bonita, Tapiraí e Piumhi na Serra da Canastra; Barbacena no Campo das Vertentes; Alagoa, Aiuruoca e Cruzília no Sul de Minas; Datas, Serro e Diamantina no Jequitinhonha. Além de experimentar os deliciosos queijos, o turista pode desfrutar das belezas arquitetônicas e naturais dessas cidades, todas com belíssimos atrativos culturais, arquitetônicos e naturais, bem como bons restaurantes, hotéis e pousadas. 
O paraíso do leite
          Minas é o maior produtor de leite do Brasil, segundo dados do IBGE, divulgados em 2019, Minas lidera a produção nacional de leite, com 9,8 bilhões de litros de leite por ano, seguido de Paraná com 4,4 bilhões e em terceiro, Rio Grande do Sul com 4,2 bilhões. (foto acima Eramos Pereira/Epamig) Boa parte desse leite vai para a produção de queijos. Minas é o maior produtor de queijos do Brasil e o sexto maior produtor de queijos do mundo e também de doces, principalmente doce de leite.
O paraíso dos doces
          Por todos os municípios mineiros, você encontra doces caseiros e industriais. Os mais famosos doces de leite do Estado são: Doce Viçosa, de Viçosa e Ubari, de Ubá, Sabores do Grama, de Santo Antônio do Grama, na Zona da Mata, Reserva de Minas, de Machado, Ercila de Itanhandu, Tatitânia, Boreal de Rio Pomba, Majestic de Alfenas no Sul do Estado, Nevada de Carmópolis de Minas, no Oeste do Estado; Rancho Paraíso de Itaguara e Doces Antunes, de Moeda MG (na foto acima, doce de leite caseiro feito pela Regina Kátia/@reginasfarm)
          Tiradentes no Campo das Vertentes (na foto acima de César Reis) e Araxá no Alto Paranaíba se destacam na produção de doces diversos em Minas Gerais. A primeira é uma das mais belas cidades históricas do Brasil. 
          Já Araxá (na foto acima de Celso Flávio), famosa por seu queijo, pelas cervejas artesanais, por sua famosa culinária, por suas águas radioativas, pelo Grande Hotel, pela história de Dona Beja e suas belezas naturais. 
O paraíso do azeite
          Outro destaque mineiro é o azeite e suas fazendas produtores. (foto acima de Eramos Pereira/Epamig) Há mais de 70 anos, pesquisadores da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) em Maria da Fé, no Sul de Minas, vêm trabalhando no desenvolvimento do cultivo de oliveiras em Minas Gerais, obtendo resultados impressionantes. Nossos azeites vêm conquistando mercados e premiações nacionais e internacionais, sendo comparados aos tradicionais azeites gregos, portugueses e italianos pela qualidade e baixa acidez. 
          As cidades com destaque na produção de azeites no Estado estão concentradas na região Sul de Minas, precisamente na Serra da Mantiqueira. São belíssimas e acolhedoras cidades, muitas delas pacatas e pitorescas, destaques também no turismo ecológico e gastronômico. Cidades como Andradas e Poços de Caldas, tem azeites premiados, bem como Alagoa, Aiuruoca (na foto acima de Marlon Arantes), Delfim Moreira, Cristina, Maria da Fé e Itanhandu. 
          Minas Gerais também é pioneira na produção de azeite de abacate, produzido pela empresa Paraíso Verde, com produção centrada em São Sebastião do Paraíso, no Sudoeste do Estado. 
O paraíso vinhos
         A terra da cachaça, também produz vinhos e de qualidade. Aliás, vinho foi a primeira bebida a ser produzida em Minas Gerais. A bebida foi introduzida em nossas terras pelos portugueses no século 18. Com a descoberta de diamantes na região, consideráveis números de portugueses vieram para a região de Diamantina (na foto acima de Giselle Oliveira). Importar a bebida da Europa naquela época era bem difícil, a solução foi plantar uva e produzir vinhos. Diamantina com seus mais de 1280 metros de altitude se tornou propícia para a produção de vinhos finos, de excelente qualidade.
          Os vinhos de altitude de Diamantina são finos e de alta qualidade (na foto acima alguns dos rótulos de vinhos diamantinenses - Foto Avodaj/Divulgação), como o vinho Quinta D´Alva, Vindiminas, Diamante das Minas, Vesperata, dentre outros rótulos produzidos pelas seis vinícolas existentes no município atualmente. Além da beleza arquitetônica da cidade patrimônio cultural da humanidade, o turista poderá desfrutar da excelente culinária e artesanato local, típicos de Minas Gerais. 
          Tradicionalmente, o Sul de Minas se destaca na produção de vinhos. (na foto acima, Vinícola Fidêncio em Bueno Brandão MG) Introduzida na região por imigrantes italianos, a bebida vem crescendo em produção e qualidade, sendo essa qualidade reconhecida em diversas premiações, nacionais, quanto internacionais, como a recente premiação internacional, conquista em Londres, pelo Vinho Maria Maria de Três Pontas. Andradas, Andrelândia, Cordislândia e Caldas são outras cidades que se destacam na produção de vinhos finos de qualidade. Caldas, por sinal, é uma das mais antigas cidades do Sul de Minas, estância hidromineral, conta com uma riquíssima culinária, sendo destaque, a famosa Festa do Biscoito, que acontece sempre nos fins de semana no mês de julho. 
O paraíso do vinho, licor e cerveja
          Na região central de Minas, a 120 km de Belo Horizonte, a histórica cidade de Santana dos Montes (na foto acima do César Reis), produz cerveja artesanal e vinho de qualidade, em suas fazendas centenárias. Destaque para o vinho Dos Montes, produzido na Fazenda Guarará, com uvas cultivadas na própria fazenda. 
          Em Sabará, cidade histórica pertinho de BH e Catas Altas (na foto acima de Thiago Andrade/@thiagotba82), outra cidade história, a 120 km da capital, na Serra do Espinhaço, é produzida o famoso vinho de jabuticaba, tinto suave, de mesa e seco. O festival de vinho de Catas Altas, que acontece sempre em maio, é um dos mais importantes e tradicionais festivais gastronômicos mineiros. 
          Outra bebida famosa em Minas, produzida em todas as cidades mineiras é o licor. Em Itaipé, no Vale do Mucuri é bebida é uma das mais tradicionais no Estado. São licores de todos os sabores, com destaque para os produzidos com frutos nativos de Minas Gerais. 
O paraíso do café
           E agora a mais famosa bebida mineira: o café. (fotografia acima de Chico do Vale) Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil. Nosso Estado sozinho produz sozinho mais de 50% de todo o café nacional e por esse motivo, nossos cafés são os mais premiados do Brasil, bem como reconhecido como um dos melhores cafés do mundo. 
          As cidades produtoras de café que se destacam em Minas Gerais são: Cristina, Campos Gerais, Três Pontas, Muzambinho, Conceição das Pedras, Paraisópolis, Jesuânia, Lambari, Dom Viçoso, Pedralva, Carmo de Minas e Guaxupé no Sul de Minas.
          Diamantina, Montes Claros, Buritizeiro, Presidente Kubistchek, Medina, Ladainha, Pedra Azul, Nanuque, Felício dos Santos, Salinas, Turmalina, Teófilo Otoni, Serro, Gouveia, Santa Maria do Salto, Malacacheta,  Angelândia, Mutum, Carangola e Inhapim no Vale do Jequitinhonha, Mucuri, Vale do Rio Doce e Norte de Minas. (na foto acima do Sérgio Mourão, cafezal em Angelândia MG)
          Patrocínio, Monte Carmelo, Araguari, Patos de Minas, Campos Altos, Serra do Salitre, São Gotardo, Araxá e Carmo do Paranaíba no Alto Paranaíba/Triângulo Mineiro.
          Unaí no Noroeste de Minas, é um dos grandes destaques na produção de cafés de qualidade, bem como os tradicionais cafés da Zona da Mata Mineira, destacando os cafés produzidos em Ervália, Viçosa, Manhumirim, Muriaé, Araponga, Alto Jequitibá, Espera Feliz e Alto Caparaó, cidades tradicionais na produção de café, com premiações nacionais e internacionais. 
O paraíso é aqui, em Minas Gerais
          Vindo às Minas Gerais, curta nossas belezas naturais como rios, cachoeiras e montanhas, como a Pedra do Pedrão, em Pedralva, no Sul de Minas, (na foto acima de Rinaldo Almeida). Se delicie com a qualidade das águas das estâncias hidrominerais. Vivencie nossa história, com a beleza de nossa arquitetura colonial. Volte ao passado, andando de Maria Fumaça, aventure-se pelas trilhas e montanhas mineiras, mas conheça nossos vinhos, licores, cafés, queijos, e azeites. (na foto abaixo de Giseli Jorge, terreiro de café em Andradas MG, Sul de Minas)
          As fazendas produtivas de azeites, queijos, doces, vinhos e cafés, em sua maioria, recebem visitantes para conhecerem e degustarem seus vinhos, azeites, queijos e cafés. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Campo de Gabirobas

(Por Marina Alves/Lagoa da Prata) Gabiroba, ou guabiroba? Eu gosto de “gabiroba”, mas pode ser “guabiroba” — ou vários outros nomes para a frutinha nativa dos nossos cerrados, que floresce de setembro a novembro, quando a gabirobeira se cobre de flores brancas e cheirosas. Vivi muito da minha infância correndo atrás das moitas apinhadas destes frutos maduros e docinhos.
          A gabiroba é uma fruta redondinha, de polpa suculenta, com muitas sementes. Seu nome, segundo li, vem do tupi-guarani wa'bi, "ao comer" e rob, "amargo” e tem um sabor de intrigante paladar. Quando verde, a casca é meio amarga e grossa, bem ruinzinha de provar, mas quando madura, é docinha feito ela só! É também fonte de alimento para insetos e pássaros, e concentra mais vitamina C que a acerola. (fotografia acima de Jad Vilela de Divinópolis MG)
          A gabiroba não é só uma deliciosa e nutritiva fruta do mato. Ela é também tema de muitas histórias de infância, sendo sua colheita pretexto para encontros e brincadeiras. Para quem viveu na roça, a gabiroba era um feliz e animado passatempo. Chegava o domingo e o povo chamava:         
 — Vamo caçá gabiroba, gente! — e estava pronto o passeio. Amigos e parentes se juntavam e saíam para passar o dia no cerrado, atrás das frutas. Os olhos ávidos por achar o pé mais carregadinho, não perdiam uma só moita pela frente. A gabiroba enche o pé! É uma festa dar de cara com o arbusto coberto de frutos maduros — puro mel na boca! Comer gabiroba no pé não é como comer uma banana ou chupar uma laranja. É totalmente diferente! Porque antes de tudo existe a aventura de “caçá-la”. E não são poucos os “causos” que começam assim: “Um dia, nóis fomo caçá gabiroba e...”. Certeza que vem causo bom! 
          Certa vez, perguntei a alguém de mais idade pelos “divertimentos” dos jovens de sua época. É claro que entre as rezas, os terços, as visitas, foi citada a caça à gabiroba. E pelos relatos, a busca pela frutinha era quase um evento. Ali se faziam amizades, começavam namoros, tratavam casamento, aconteciam fatos que viravam histórias. E muitos eram os casos de gente que, correndo atrás das gabirobeiras, se perdia na imensidão do cerrado. E que trabalhão encontrar os perdidos! E pasmem — havia até relatos de assombrações que apareciam para os mais desavisados e ambiciosos. Um perigo, uma coisa do outro mundo! Sem contar que tinha gente que acendia vela na intenção de colher boas e graúdas gabirobas. (foto acima de César Reis)
          E os concursos? Sim! Ao final do “tour rural” ganhava quem apresentasse a maior ou a menor gabiroba (só não sei qual era o prêmio. Talvez só mesmo o gosto de tirar uma onda: achei a maior! Achei a menor!) Cada coisa, hein? 
          Faz algum tempo, em visita ao lugar onde nasci, resolvi adentrar ao mato, à beira da velha estrada. Grata surpresa! Dei com um campo de gabirobas em temporada de colheita! Levar à boca os frutos maduros e doces foi como retornar no tempo, quando, junto com as primas, desbravava aqueles cerradões, à cata das gabirobeiras carregadas. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
        E provar das gabirobas no pé não foi apenas saborear uma frutinha de sabor inconfundível. Foi ter o poder de trazer a infância outra vez, pelas boas lembranças e pelo paladar!

domingo, 5 de janeiro de 2020

12 principais folguedos folclóricos em Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) A palavra folclore vem do inglês, folk-lore, significa a expressão oriunda do povo expressos em causos, lendas, canções, costumes, que são preservadas ao longo dos séculos, se transformando em tradição, dando identidade a uma comunidade, uma cidade, uma estado ou um país. Por sua vocação de preservar e conservar suas tradições, Minas Gerais é o mais rico estado brasileiro em tradição e identidade cultural, com sua riqueza e variedades cultural e costumes. Os folguedos populares são uma dessas tradições preservadas e vivas em Minas Gerais. (foto  abaixo, grupo de Pastorinhas em Jaboticatubas, fotografado por Thelmo Lins)
          Algumas manifestações folclórica mineiras, como a Folia de Reis e as Pastorinhas, tem como origem as tradições de Portugal, introduzidas no Estado no período do Brasil Colônia, com influência da cultura indígena e africana. Outras manifestações foram surgindo ao longo dos tempos, como o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, nascido nas senzalas de Ouro Preto com os escravos, numa mistura da religiosidade católica, com as crenças africanas.  (na foto abaixo, de Elvira Nascimento, a Dança das Fitas em Ipaneminha, distrito de Ipatinga MG)
          A festa popularizou-se e democratizou-se entre todas as camadas da população mineira,  sendo hoje uma das maiores manifestações religiosas e folclóricas de Minas Gerais.
          A presença dos portugueses, introduzindo no estado sua cultura, religiosidade, arquitetura, artesanato, não recebeu influência ou adaptação apenas nos folguedos, mas também no artesanato, na música típica, na medicina popular, nas lendas criadas que acabaram fazendo parte do nosso folclore como o Caboclo D´água de Barra Longa, o Bicho da Carneira de Pedra Azul, a Loira do Bonfim de Belo Horizonte, dentre outras tantas lendas e claro, na nossa culinária culinária. 
          Minas Gerais é uma impressionante mistura das culturas portuguesas, africanas e indígenas, manifestadas ao longo dos séculos, sendo determinantes para a formação de nossa identidade cultural. 
Os mais populares folguedos em Minas Gerais:
01 - Congado
          É uma das maiores manifestações folclórica e religiosas de Minas Gerais. No período da Escravidão, ss escravos eram proibidos de frequentar igrejas e também de manifestarem suas crenças de origens africanas. Por isso buscaram uma forma de expressar sua fé e sentimentos, sem serem proibidos. Assim surgiu o sincretismo religioso, que é a mistura das crenças africanas, com a crença católica. (foto acima, de Alisson Gontijo do Reinado em Perdigão MG e abaixo de Arnaldo Silva em Bom Despacho MG)
         Como os escravos tinham simpatia por Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Nossa Senhora das Mercês e Santa Efigênia, começaram a sair às ruas usando roupas enfeitadas e tocando seus instrumentos de som, de origem africana, cantando músicas que lembravam suas origens, bem como seus sofrimentos como escravos, reverenciando esses santos. Com o passar dos anos, a festa foi se tornando popular, se democratizando, ganhando novos instrumentos musicais, cânticos novos e ornamentos nas vestimentas, passando a ser reconhecida pela Igreja Católica. 
          Durante a festa, os grupos de tradição negra, como Moçambique, Catopés, Congo, Marujada, Caboclos, Marinheiros, Vilão e Candombe, se reúnem para preservar a tradição, sua dança e música, unindo a outros cortes formados por pessoas que por algum motivo, geralmente para pagar promessas, formam cortes de Reinado. A festa que começou com os negros, é hoje a festa de todos, sejam brancos ou negros, participando, reverenciando Nossa Senhora do Rosário e perpetuando em Minas Gerais, nos quase três séculos desse folguedo popular, uma das mais importantes festas populares do Brasil. 
02 - Catira
     Muito popular em Minas Gerais, principalmente nas Regiões Central e Triângulo Mineiro, a catira é uma dança marcada pela batida dos pés e mãos de um grupo, formado por seis a 10 componentes, organizados em fileiras opostas. 
          Uma dupla de violeiros canta e toca modas de viola, dando ritmo aos passos. (foto acima de Gislene Ras, da dupla de violeiros do Grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG) É
           uma dança tipicamente interiorana, praticada por pessoas que vivem no meio rural. A própria vestimenta dos catireiros como, botas, calças jeans, camisa listrada, chapéus, já caracteriza a dança como sertaneja. Antes dançada apenas por homens, hoje conta com a presença de mulheres e crianças em grupos de catiras e até dançando em conjunto com homens. (foto abaixo, de Gislene Ras, grupo de Catira Pedro Pedrinho de Martinho Campos/Bom Despacho MG)
     Sua origem é incerta, mas a acredita-se que tenha vindo da Europa ou da Oceania, introduzida em Minas pelos imigrantes europeus, no século 19. Há também quem afirme que a origem da catira seja indígena, adaptada pelos boiadeiros que iam tocando gado pelos rincões do nosso sertão. Os peões boiadeiros imitavam as danças indígenas e perceberam que com suas botas pesadas e duras, faziam barulhos interessantes nos assoalhos dos ranchos. 
     Assim foram adaptando a dança, com o bater dos pés e mãos, originando a catira, um dos mais importantes folguedos de nosso folclore. Por não ter origem certa, a dança de catira é chamada de dança híbrida.
     Na região Central de Minas, catira, no mineirês, significa trocar alguma coisa. Vamos catirar ou vamos dar uma catirada, pode ser dançar catira ou fazer uma troca de algum objeto por outro. 
03 - Folia de Reis ou Reisado
          É um dos mais antigos folguedos europeus, introduzido no Brasil pelos portugueses e tradição preservada há séculos em todas as cidades mineiras e também do Brasil, sendo conhecido em outros estados por Reisado. A festa começa na véspera do natal e se encerra no dia 6 de janeiro, dia dedicado aos Santos Reis. (na foto acima de de Amauri Lima, terno de foliões em São João Batista do Glória) 
          As companhias de Folias de Reis vão de casa em casa e conta com o mestre à frente, responsável pela cantoria e coordenação do grupo, auxiliado pelo contramestre, que é o responsável por recolher as doações, podendo também substituí-lo em alguma necessidade. Tem ainda a figura do embaixador, o responsável por pedir licença para entrar nas casas e cita profecias bíblicas sobre o nascimento de Jesus aos moradores.
          Carregam estandartes, flâmulas, tocam instrumentos, cantam e dançam usando vestimentas coloridas e máscaras. Essa formação não é padrão, podendo ocorrer diferenças de acordo com a região, como por exemplo, a presença de membros das companhias simbolizando os três reis magos. 
04 - Pastorinhas
          Um folguedo de origem portuguesa presente em Minas Gerais. São grupos de moças e meninas que saem vestidas como as pastoras portuguesas, visitando os presépios de casa em casa, cantando músicas de louvou ao Menino Jesus e Nossa Senhora. Em Minas Gerais a festa é popular (foto acima de Thelmo Lins com as Pastorinhas de Jaboticatubas MG), mas os grupos não são formados apenas por meninas e moças, como na tradicional festa portuguesa.
          Mulheres e senhoras também fazem parte do grupo de pastorinhas, visitando as casas, cantando, dançando e pedindo contribuição para ajudar no natal de crianças carentes da comunidade em que vivem.  
05 - Boi de Reis ou Boi de Janeiro
A origem desse folguedo é dos teatros medievais na Idade Média, na Península Ibérica. Seria uma mistura da Folia de Reis com o Bumba-Meu-Boi, iniciando no dia de Santos Reis, 6 de janeiro, se estendendo até o dia de São Brás, em 3 de fevereiro. Usando trajes coloridos e máscaras, cantam e dançam visitando as casas e principalmente fazendas. Muito comum na região Norte de Minas, caracteriza-se pela representação da captura de um boi, que neste folguedo representa a fartura. (na foto acima de Pingo Sales, Bois de Reis em Januária MG)
          Na encenação, o boi morre e por fim ressuscita. Sua ressurreição é acompanhada de muita alegria, dança e cantoria. É um dos mais populares folguedos de nosso interior,  cujos nomes e elementos que compõem a cena, podem variar de acordo com as diferenças regionais.
06 - Festa do Divino
          Consagrada ao Divino Espírito Santo, é um dos mais antigos folguedos portugueses, introduzido em Minas nos tempo dos Brasil Colônia. A tradição é preservada em Minas Gerais há mais de 300 anos, principalmente em Diamantina MG, Alto Jequitinhonha, onde a festa é chamada também de Festa do Império. Durante a festa em Diamantina, é eleito um Imperador, no caso o próximo festeiro. (na foto acima de Projeto Acervo Diamantina - Fragmentos Visuais da Cidade no Século XXI, festa do Divino em Diamantina MG)
          A côrte, com o Imperador e Imperatriz, sai pelas ruas da cidade histórica em cortejo acompanhado por grupos folclóricos e populares. A Festa do Divino Espírito Santo ou Festa do Imperador, é tão importante para  cidade que foi declarada Patrimônio Imaterial de Diamantina, junto com a receita do tradicional bolo de arroz, servido durante a festa.  
07 - Cavalhada
          Presente em todas as regiões mineiras, a Cavalhada é uma herança das tradições da Cavalaria Medieval. Representa as sangrentas batalhas travadas entre cristãos e mouros na Idade Média. Nesse folguedo, os cavalos são decorados com finos tecidos bordados e cheios de babados. (foto acima de Ane Souz da Cavalhada em Amarantina, distrito de Ouro Preto MG)
     As cores predominantes usadas são o azul e o vermelho, representando os cristão e mouros. Acontece ao ar livre e durante a festa são eleitos reis, rainhas, príncipes e princesas, embaixadores, capitães e tenentes, nobres, damas, cavaleiros e lacaios, todos ricamente vestidos e portando espadas, pistolas e lanças, fazendo manobras com os cavalhos, simbolizando a cena medieval. 
08 - Mulinha de ouro
          Mulinha de Ouro é um folguedo popular na região do Médio e Baixo São Francisco. É a dança de um animal, geralmente uma mula, mas também usa-se a representação de boi, que dança e faz coreografias no meio do povo. (foto acima de Themo Lins em Pedra Azul MG)
09 - Dança de São Gonçalo
         Tradicional em Portugal desde o século XIII onde era conhecida também por Dança das Regateiras, porque só participavam as mulheres que queriam se casar, a Dança de São Gonçalo foi introduzida no Estado pelos portugueses, passando a fazer parte do nosso folclore, mas com características próprias. A dança é realizada no dia da morte do santo (10/01/1259) e em outras épocas também, caso as devotas consigam alguma graça ou façam alguma promessa durante o ano. Assim sendo, juntam o grupo para dançar e rezar, pedindo ou agradecendo pela graça.  Em Minas, a Dança de São Gonçalo é muito comum no Norte do Estado e Jequitinhonha.       Os grupos festeiros de São Gonçalo são formados apenas por mulheres, todas vestidas de branco que fazem coreografias segurando um arco de madeira, enfeitado com plumas brancas. As mulheres dançam e cantam em honra ao santo, podendo ter ao centro a figura de um homem, também vestido de branco, que simboliza São Gonçalo. (na foto acima, de Pingo Sales, Dança de São Gonçalo em Januária MG)
10 - Quadrilha
          É um dos mais populares folguedos no Brasil, também chamada de quadrilha caipira e quadrilha matuta. De origem européia a festa homenageia São João Batista, Santo Antônio e São Pedro, em junho. As festas de junho surgiram das coutry-dances inglesas medievais no século XIII, ainda no período da Guerra dos 100 anos, entre Inglaterra e França, a dança acabou sendo incorporada e adaptada ao estilo francês expandida para outras partes da Europa, entre eles Portugal, que trouxeram a tradição européia para o Brasil nos tempos do Brasil Colônia. (fotografia acima de Ane Souz)
          Os passos da dança que para os franceses chama-se "contredance" são todos falados em francês, "abrasileirado" como quadrille (quadrilha), Alavantú (en avant tous), Anarriê (en arrière), Changê (changer/changez), Cumprimento ‘vis-à-vis’, Otrefoá (autre fois), Balancê (balancer), Returnê (returner), Tur (tour).
           A diferença é que no Brasil a "Contredance" francesa recebeu uma mistura de cores, sabores e estilos de todas as regiões do Brasil, de acordo com suas diferenças culturais. Outra diferença é a música. A música brasileira, a encenação do casório e as coreografias, são bem mais animadas. 
          É sem dúvida uma das mais aguardadas festas populares do Brasil e que marca a infância de muita gente. (foto acima de Ane Souz em Ouro Preto MG)
          Quem nunca fez parte das quadrilhas das escolas? Se vestiu de caipira, pintou o rosto e ensaiava na hora do recreio? Mas as festas juninas hoje vão além das escolas. São verdadeiros espetáculos, principalmente em Belo Horizonte, com o tradicional Arraiá de Belô, no forró de Curvelo na região Central de Minas, em Ingaí no Campo das Vertentes com a maior fogueira de São João, em Cachoeira de Minas no Sul do Estado com a maior fogueira de São Pedro, em Mesquita no Vale do Jequitinhonha e em todo o Vale do Mucuri, destacando as cidades de Pavão e Teófilo Otoni.
11 - Mineiro o pau
          É uma dança muito popular na Zona da Mata Mineira, com a participação de várias pessoas, enfileiradas, lado a lado, de frente para o outro, dançando segurando um ou dois bastões, de forma ritmada, com várias batidas, dependendo das evoluções do grupo. (fotos acima de Robson Silva de Cataguarino, distrito de Cataguases MG)
12 - Caxambu
          Caxambu, na língua africana é o tambor maior e principal usado nas manifestações afro-brasileiras. Em Minas Gerais, é o nome dado a uma cidade do Sul de Minas e a uma dança de origem africana, também conhecida por Jongo, em alguns estados. Essa dança foi introduzida no Brasil e em Minas Gerais pelos negros bantos, sequestrados na África e vendidos no Brasil como escravos. No Brasil, a dança se popularizou, principalmente nas senzalas das fazendas de café de Minas e do Rio de Janeiro, tendo tido grande influência na formação do samba carioca, bem como da nossa cultura em si. Nessa dança, homens e mulheres formam pares e dançam, enquanto outros tocam instrumentos de percussão. As mulheres usam vestidos longos, coloridos, rendados e fazem movimentos charmosos com o corpo e vestidos. Os homens acompanham, com evoluções mais fortes. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Cultura e turismo em Dores do Indaiá

(Por Arnaldo Silva) O povoamento na região começou em no início do século XVIII. De um pequeno povoado, surgiu um arraial, posteriormente vila em 1850 e por fim, município a partir de 8 de dezembro de 1885. Dores do Indaiá é um dos mais antigos, charmosos e pitorescos municípios mineiros, guardando relíquias de nossa história, bem como as riquezas das tradições religiosas e folclórica mineiras. (Fotografia de Geraldo Amarildo)
          A vida em Dores do Indaiá é calma e tranquila, com seus moradores desfrutando de uma cidade que oferece uma qualidade de vida muito boa. Foto acima e abaixo da Sueli Santos)
            Com 12.630 habitantes, segundo o IBGE, Dores do Indaiá, na Região Central, fica a 255 km de Belo Horizonte, a 36 km de Luz, 42 km de Abaeté, 27 km de Estrela do Indaiá, 26 km de Quartel Geral, 34 km de Serra da Saudade e a 90 km de Bom Despacho, cidades vizinhas.
          Para chegar à Dores do Indaiá, vindo de Belo Horizonte, o acesso se da através da rodovia BR-262 (partindo de Belo Horizonte ou do Triângulo Mineiro) e após a cidade de Luz, se dirigindo pela rodovia MG-176.  e pela rodovia BR-352 e em seguida se dirigindo pela rodovia MG-176, passando pelas cidades de Abaeté e Quartel Geral. (foto acima e abaixo da Sueli Santos)
          A economia gira em torno de atividades agropecuárias, onde o município realiza uma das maiores exposições agropecuárias da região, além de contar pequenos comércios, charmosas poucas, restaurantes com comida típica, produtos artesanais como queijos, doces e quitandas, direto da roça, além do turismo, já que Dores do Indaiá é uma cidade com origens no início do século XVIII. Surgiu com a formação de um pequeno arraial, que foi elevado a Vila em 1850 e por fim a cidade em 8 de outubro de 1885. 
          O município guarda relíquias dos tempos do Brasil Colônia como fazendas centenárias e casarões e igrejas em estilo neogótico, eclético e coloniais, presentes na Praça, nos prédios da Escola Estadual "Francisco Campos", da Escola Estadual "Dr° Zacarias", na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, além de construções contemporâneas como o Cristo do Alto da Capelinha e o Castelo Indaiá. (Foto acima e abaixo da Sueli Santos)
          A cidade preserva ainda sua rica tradição folclórica e religiosa, como as cavalhadas, festas juninas e a Festa de Nossa Senhora do Rosário, no mês de agosto, uma das mais antigas e famosas da região, que homenageia ainda, Nossa Senhora das Dores, São Benedito e Santa Efigênia. (foto abaixo da Sueli Santos)
Principais eventos culturais e sociais da cidade
Fevereiro: CarnaDores;
Abril: Semana Santa, Cavalgada Para o Campo do Bolado (Realizada pela Comitiva Oito Segundos);
Maio: Motofest;
Junho: Festa Junina Regional;
Julho: Exposição Agropecuária de Dores do Indaiá (Expodores);

Agosto: Festa do Rosário;
Outubro: Aniversário da cidade e a Festa Caboclos do Sertão;
Dezembro: Réveillon no Castelo Indaiá.

A origem do popular arroz com ovo

(Por Arnaldo Silva) Quem nunca comeu arroz com ovo? Na hora de não ter quase nada para comer ou falta de tempo para fazer, nada como preparar um arroz e fritar um ovo. É barato, apenas uma porção de arroz e um ovo. É fácil de fazer e rapidinho está pronto um dos mais populares pratos que existe. No mais puro mineirês é “roscovo”, que muita gente brinca dizendo que é comida russa. Mineiro gosta e todo brasileiro também. É tão popular que até parece que sua origem é brasileira. 
          Lamento dizer que não é. Arroz com ovo é um dos mais populares pratos chilenos. Sua origem é do Chile e se popularizou no continente e está presente no Caribe, Argentina, Brasil, dentre outros países latinos. (na foto acima do Édson Borges, o arroz com ovo mais incrementado e abaixo, da Sueli Santos, o tradicional)
          É tão popular que é considerado um dos mais apreciados pratos da América do Sul, no mesmo nível dos populares pratos latinos e brasileiros, como a feijoada, feijão tropeiro, vatapá, virado, arroz com pequi, cuscuz, frango com quiabo, etc. 
          Um prato humilde, bem simples, está presente hoje na mesa de todas as classes sociais. Dificilmente alguém pode dizer que nunca comeu arroz com ovo. 
         Em Minas Gerais, nos anos 1980, esse prato foi inspiração para o surgimento de um novo prato mineiro, popularíssimo, principalmente em Belo Horizonte. Além da porção de arroz e do ovo frito, ganhou uma rodela de tomate e um pedaço de linguiça. Criação do Bar e Restaurante Palhares em Belo Horizonte, sendo “batizado” de kaol, hoje conta com arroz, ovo, torresmo, farofa, couve refogada e molho . Vinha acompanhado de uma dose de cachaça mineira também. O kaol, antes simples, restrito às camadas mais populares pelo seu baixo custo, é hoje prato fino, presente em todas as classes sociais. (na foto acima, o kaol que eu mesmo preparei em casa)
          Mas, o tradicional e popular arroz com ovo, estará sempre presente em nossas mesas. Na hora do aperto lá está ele. E é ótimo, pra mim, delicioso! 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Eira, beira e tribeira: o mito da divisão social pelo telhado

(Por Arnaldo Silva) Quem não tem eira e nem beira é o tipo que não tem onde cair morto. Essa expressão é bem antiga. Tem origens em Portugal, na Idade Média. Ao contrário do que costumamos ouvir, ver vídeos e ler em artigos afirmando que essa expressão “nem eira e nem beira”, e tem gente que acrescenta até “tribeira”, era a forma de divisão social entre pobres e ricos. 
          Na expressão original, Medieval, nunca foi esse o significado de “nem eira e nem beira”. Aliás, essa expressão de divisão social entre pobres e ricos se limitar a simples adornos em telhados é invenção brasileira, difundida por Guias de Turismo pelo Brasil afora. (na foto acima de Nacip Gomêz, detalhes no telhado de uma construção colonial em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto MG)
          Quem for para nossas cidades históricas e fazendas centenárias, se atente aos suntuosos palacetes, sobrados e casarões, com suas portas e janelas enormes, bem pintados, cômodos espaçosos e todos mobiliados com moveis entalhados artisticamente em madeiras nobres e até importadas da Europa. Isso porque seus proprietários tinham dinheiro, fazendas de gado e culturas diversas, minas de ouro e outras propriedades. Por isso tinham condições de construírem casarões, sobrados, palacetes e casas grandes de fazendas. (na fotografia acima do César Reis, uma rua da cidade histórica de Tiradentes com seu belo casario colonial com as ditas eira, beira e até tribeira)
          Agora, compare as construções dos ricaços medievais e coloniais, com as moradias dos colonos, trabalhadores e escravizados, ou seja, dos pobres em geral que trabalhavam para esses ricaços. Obviamente, não serão simples adornos nos telhados que dirá quem é pobre e quem rico. (na foto acima de@arnaldosilva_oficial, uma rua em São Bartolomeu, distrito colonial de Ouro Preto. Percebe-se a simplicidade das construções, suas portas e janelas, mas as casas tem as ditas eira, beira e tribeira no telhado)
Ostentação visível
          A ostentação dos ricaços do Brasil Colonial e Imperial eram visíveis, como, por exemplo, na quantidade de portas, janelas e cômodos dos casarões e sobrados. Quanto mais portas e principalmente, quanto mais janelas tinha um casarão, mais rico e poderoso era seu proprietário. Isso é fato. Compare as portas e janelas dos casarões coloniais com as casas simples do povo, do Brasil Colônia e Imperial.
          São construções suntuosas, imponentes e luxuosas com dezenas de portas e janelas, com nítida demonstração de riqueza, ostentação e poder para a época. Alguns tinham centenas de janelas como o casarão da Fazenda Santa Clara em Santa Rita de Jacutinga MG (na foto acima do Rildo Silveira)
          Essa imponente construção possui 365 janelas, uma para cada dia do ano, 54 quartos, 12 salões e 3 cozinhas, além de capela, torre com mirante, senzala e masmorra. Todos os cômodos mobiliados com os mais requintados e artisticamente bem entalhados móveis da época.
O que é eira e beira
          Para entendermos melhor essa expressão, temos que entender o que era uma eira e uma beira. A expressão sem eira e nem beira tem origem em Portugal, se popularizando no Brasil com a chegada em massa de portugueses.          
           Em Portugal, uma eira é uma parte do terreno de uma propriedade rural nas aldeias portuguesas, geralmente em frente a Casa Grande, em terra batida, lajeada ou cimentada. Na eira, cereais e grãos eram esparramados no chão, limpados, secados, por fim, armazenados e vendidos para consumo. Em outras palavras, é o mesmo que um terreiro, onde costumeiramente são secados grãos de café, arroz, feijão, etc. (na imagem acima do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, temos uma eira ou seja, um terreiro de uma beira, para secagem de grãos, no caso, café)
          Para se ter uma eira, obviamente tem que ter uma beira. Em Portugal, uma beira era a divisão territorial desde a Idade Média até o século XVIII. As divisões em eiras foram substituídas posteriormente por comarcas e províncias. O país era dividido em seis beiras (Beira alta, Beira Baixa, Beira Litoral, Beira Interior e Beira Transmontana). Seria o equivalente a seis estados, hoje.
          Com a mudança para comarcas e províncias, beira continuou a existir, mas para definir extensões territoriais de cidades e aldeias portuguesas. No popular, eira passou a ser usada para definir os grandes donos de terras das cidades e aldeias portuguesas. Ou seja, quem possuía terras, com casa, bens e empregados, tinha uma beira.  Era o que chamamos hoje de grande produtor rural.
          Além disso, beira passou a ser o nome de uma extensão do telhado das casas que servia para proteger a casa da chuva, evitando infiltrações. Pelo menos essa beira, tanto pobre, quanto rico podia ter em suas moradas, já que são simples extensões de um telhado. As novas construções de hoje tem as beiras de fundo e laterais com calhas e a beira frontal, já nem existe, se transformou em varanda. (na imagem acima do Rildo Silveira, na Fazenda Santa Clara em Santa Rita de Jacutinga MG, podemos perceber a eira e beira no telhado. Tanto rico, quanto pobre, podiam ter esses detalhes no telhado)
          Portanto, quem tinha uma eira, que é um terreiro de secagem da produção da beira, uma propriedade rural, era rico, dono de casas, cavalos, gado, tinha vários empregados, etc.
          Como podem notar, a expressão portuguesa da Idade Média “fulano não tem eira e nem beira”, não tem nada a ver com adornos existentes nos telhados das casas do Brasil Colônia e Imperial. Essa expressão é portuguesa e não tem nada a ver com a explicação que são passadas por Guias e demais pessoas. Eira e beira nunca foi fator de divisão entre pobres e ricos. Essa “estória” que casa de rico tem eira, beira e tribeira e de pobre nem eira, nem beira e talvez uma tribeira, é só besteira.  
          Na real interpretação desse ditado popular, em Portugal, simplesmente significa que quem não tinha uma grande propriedade de terra e nem um terreiro para secagem de grãos, era pobre. Para ter eira e beira, obviamente, tinha que ser rico. Mas para ter fazer adornos decorativos no telhado, nem tanto.
Eira e beira e até tribeira no Brasil?      
          Há décadas que a “estória” que ricos construíam suas casas com eira, beira e tribeira e o pobre, sem eira e nem beira, apenas com tribeira, é contada, apresentada em vídeos, em artigos e reportagens como se fosse verdade e popularizou-se graças aos Guias de Turismo pelo Brasil. (na fotografia acima de Sueli Santos, um casarão colonial em Ouro Preto MG)
          Não é e nunca foi. Mesmo sem ter nenhum fundamento histórico e muito menos sentido, definir o status social de uma pessoa, baseado em simples adornos no telhado, é no mínimo questionável pelo mais simples leigo no assunto. 
          Existem dezenas ou até centenas de ditados populares em Minas Gerais, durante o Ciclo do Ouro, nos séculos XVIII e XIX e sempre ouvimos explicações dos Guias de Turismos sobre esses ditados. A ideia é mostrar como surgiram essas expressões. A maioria dos “guiados” desconhecem pouco a história, nem percebe que várias “explicações” dadas não tem lógica e nem fundamento histórico. Pior ainda, muitas dessas expressões já existiam em Portugal bem antes do descobrimento do Brasil.
          Tentam explicar o surgimento de expressões populares, superstições e senhas, com explicações duvidáveis, ao menos para quem não tem muita afinidade e pouco conhecimento de história. Além de não ter fundamento, criam outra que nem existem ou existiram.
          É a tal tribeira. Eira e beira sim, já mostrei acima, mas tribeira? Pesquisei em dicionários, livros de história e não encontrei essa palavra. Quem pode dizer o que é isso é só mesmo o inventor dessa palavra. A única definição que existe é a clássica dita pelos Guias de Turismo que tribeira seria a terceira camada mais alta, acima da eira e da beira. Mas na história real, essa palavra não era usada. Só mesmo quem criou essa palavra para explicar sua origem. (na imagem acima do Sérgio Mourão/@encantosdeminas, temos uma casa simples no Quilombo dos Bois, em Angelândia MG, com eira e beira e até com calha)
          Adornos em telhas para proteger a parede de infiltrações existiam e existem até hoje, sejam um, dois, três, quatro, cinco. Isso depende do projeto e do arquiteto. Só falta aparecer uma tetrabeira, uma pentabeira, hexabeira... Haja telhado! E lá vai eu inventando também. (na foto acima de Thelmo Lins, a sala da Fazenda União, do século XIX, em Belmiro Braga MG)
          Embora essa expressão falada no Brasil não tenha nada a ver com a expressão portuguesa original, quem não tem eira e nem beira significa hoje que é uma pessoa está é numa miséria danada ou na linha da pobreza mesmo. E nada a ver com adornos no telhado de casas.

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