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sábado, 23 de novembro de 2019

A história e origem da Folia de Reis

(Por Arnaldo Silva) Antecedendo o Natal, as casas e cidades começam a decorar pinheiros com pisca-piscas, bolas e outros enfeites. Monta-se ainda os tradicionais presépios. Após o natal, grupos de Folia de Reis saem às ruas, visitam casas, cantam e abençoam as famílias. No dia 6 de janeiro termina a festa. Os presépios são desmontados no dia seguinte, sete de janeiro, bem como todas as ornamentações usadas no período, que ficam guardadas para a festa seguinte.
Os três Reis Magos
          Essa prática encena o nascimento de Jesus, a fuga de José e Maria para o Egito e a chegada dos Três Reis Magos, Melquior, Gaspar e Baltazar, que chegaram até o local, orientados por uma estrela, segundo consta no capítulo 2, do Evangelho de Mateus. (na foto acima de Luís Leite, Folia de Reis em Guaranésia MG)
          Não existem relatos bíblicos e nem confirmação histórica dos nomes dos três Reis Magos, que para muitos nem eram reis e muito menos magos, mas sim, astrônomos que estudavam as estrelas. Os nomes são baseados apenas em tradição oral.
          A chegada dos Três Reis Magos à manjedoura trouxe, além do ouro, mirra e incenso como presentes, a boa notícia de que o perigo tinha cessado e que podiam voltar. Com a visita, Maria e José se tranquilizaram, sentindo-se seguros para retornar. 
          No dia seguinte, sete de janeiro, arrumaram suas coisas e voltaram para sua terra. (na foto de Alexa Silva, Terno de Folia de Reis em Jaboticatubas MG)
          Por esse motivo que depois do dia de Santos Reis, seis de janeiro, os presépios e ornamentações das cidades são desfeitos.
          Simboliza o ato de Maria em guardar seus pertences e deixar a manjedoura, voltando para sua casa. 
A origem das encenações de Santos Reis
          A encenação dessa passagem bíblica iniciou-se na Idade Média, em 1164, na cidade de Colônia, na Alemanha, devido aos supostos restos mortais dos Três Reis Magos estarem sepultados na Catedral de Colônia. Segundo a crença, os restos mortais dos Três Reis Magos estavam em Constantinopla, na Turquia e foi doado pela Rainha Helena, por volta do início do século V, à cidade Milão, na Itália e por fim, levados para a cidade de Colônia, como despojos de guerra do lendário Frederico Barba-Ruiva. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, foliões em Diamantina MG, com figurinos criados pelo artista plástico Marcelo Brant)
          Com os supostos restos mortais dos Reis Magos presentes na igreja de Colônia, foram criados encenações e representações que simbolizasse essa passagem bíblica na cidade. Assim aos longos dos anos,  foram surgindo vestimentas e cantorias que representavam essa passagem. 
A árvore de Natal e o Papai Noel
          A típica árvore europeia, o pinheiro, passou a ser decorada nessa época com bolas, que simbolizavam o sol e posteriormente, com presentes, tendo tempos depois à figura do lendário Papai Noel, incorporada à festa. 
          O bom velhinho que distribuía presentes no dia atribuído ao nascimento de Jesus foi inspirado em São Nicolau, que em vida foi um bispo Católico da cidade de Mira, onde atualmente é a Turquia.
          Nicolau era bondoso e no dia de seu aniversário, seis de janeiro, saia pelas ruas da cidade distribuindo presentes para as crianças carentes. 
          Esse personagem foi incorporado ao evento católico, com a data de seu aniversário sendo comemorada não mais no dia 6 de janeiro, mas no dia 25 de dezembro. 
          Lembrando que no dia 25 de dezembro os egípcios realizavam a Festa do Sol Invencível, evento este incorporado a cultura pagã romana e por fim, adotada pela Igreja Católica com o objetivo de atrair os pagãos para sua fé. 
          O sol que nasce é luz, associaram o nascimento de Jesus ao mundo como a luz de Deus e assim surgiu a tradição do nascimento de Jesus neste dia, mesmo com a ciência da Igreja que não há registro algum da data de nascimento de Jesus.
A origem dos presépios
          Outra criação que se incorporou a essa tradição foram os presépios, criado em Greccia, na Itália, por São Francisco de Assis em 1223, que retratou o nascimento de Jesus na manjedoura, usando pequenas imagens com os respectivos personagens e cenário envolvidos. (na foto acima de Thelmo Lins, presépio montado em Santa Luzia MG)
          Todos esses acontecimentos serviram como base para a identidade mundial dos festejos natalinos entre 24 de dezembro e 6 de janeiro. 
As Folias de Reis no Brasil
          No Brasil é Folia de Reis tradição que chegou ao Brasil pelos portugueses, no século XVIII, embora em outros países do mundo sejam outros nomes. 
          Em Portugal, a festa é conhecida como Reisado, no Brasil, adaptações aos cânticos foram feitas por José de Anchieta e Manuel de Nóbrega, que adaptaram à realidade brasileira “O Auto dos Reis Magos” uma peça de autoria de Gil Vicente, escrita em 1503 e publicada em 1510, para o Dia de Reis.
          Baseado nesse auto, as tradições musicais e populares do nosso povo foram adaptadas, gerando assim uma cultura popular brasileira, com raízes e identidade, promovendo a interação entre negros, índios e brancos.
Cânticos e instrumentos
         Essa interação multirracial gerou cânticos, com palavras incompreensíveis para muitos. Isso porque, frases e palavras dos cânticos eram traduzidos para dialetos africanos, tupi-guarani e mesclando ao português. Os ritmos também eram diferentes dos entoados nos cânticos do Reisado português, já que os instrumentos indígenas e principalmente africanos, produziam sons fortes, graças aos batidos dos tambores. (foto acima de Amauri Lima em São João Batista do Glória MG)
          Tempos depois, instrumentos usados pelos brancos, como, violão, rabeca, flauta, sanfona, viola, cavaquinho, triângulos pandeiro, reco-reco, dentro outros, passaram a fazer parte dos instrumentos dos Ternos de Folias de Reis, porque os Ternos passaram a contar com a presença cada fez maior dos brancos nos grupos de foliões. Uma mistura de sons e vozes diferentes, fortalecendo assim a identidade regional dessa festa.
          Além da cantoria e instrumentos musicais, vestimentas diferentes das tradicionais vestes europeias foram incorporadas à festa, bem como a decoração das casas e igrejas nos dias da festa, dando características regionais à tradição.(foto abaixo de Vania Pereira em São Tomé das Letras MG)
          Das canções e estilo de cantar e tocar da tradição Medieval original, que foram preservadas e respeitadas na íntegra pelos Ternos de Santos Reis, está canção de chegada. Nessa canção o líder (ou capitão) pede permissão ao dono da casa para entrar. A outra canção é a da despedida, onde, cantando, a folia agradece as doações e a acolhida. Os outros cantos são criações de acordo com a cultura e folclore regional.
Os ternos de Folia de Reis
          Após o dia de Natal os Ternos de Folia de Reis, vestidos à rigor, com roupas coloridas, saem às ruas dançando, cantando e encenando, mantendo viva a tradição milenar da Igreja Católica em todo o mundo.
          São vários grupos presentes nas cidades, todos formados somente por homens. Mulheres não participam dos Ternos de Folia de Reis, porque os Três Reis Magos não levaram consigo suas esposas, por isso a ausência de mulheres nos ternos. Se cada folião levasse sua mulher, mudaria o sentido da encenação da tradição bíblica.

          Cada terno é formado por personagens que representam os três reis magos, palhaços, coro de cantores e músicos, mestre ou embaixador, bandeireiro ou alferes da bandeira, o mestre ou embaixador. 
          Todos se vestem com roupas coloridas e usam máscaras, de acordo com os figurinos definido pelos membros dos Ternos de Santos Reis, respeitando a tradição da encenação. 
          No cortejo pelas ruas e visitas às casas, são acompanhados por músicos tocando e cantando, enquanto são recitados louvores e bênçãos na casa dos festeiros, acompanhados de danças. 
          Os festeiros são os moradores que recebem os ternos em suas residências com o objetivo de preservar a tradição ou para pagar alguma promessa. São os festeiros que fazem a "tirada da bandeira” e arcam com as despesas do grupo com descanso e alimentação. 
          Os Ternos de Santos Reis caminham pelas ruas, visitando as casas e saudando os moradores com cânticos religiosos, lembrando o ato dos Reis Magos que saudaram o Menino Jesus.
          Os cânticos religiosos são pausados apenas durante as paradas para descanso, café da manhã, almoço ou jantares, quando os foliões e membros da corte dos Ternos, cantam músicas típicas regionais, como a moda de viola e dançam Catira e Cateretê, danças folclóricas tradicionais em Minas Gerais.
Uma das maiores festas populares do Brasil
          Ao contrário da tradição, onde os três Reis Magos levaram presentes, em Minas Gerais e no Brasil, são tradição os grupos de Folia de Reis receberem presentes dos festeiros e fieis. Os presentes são doados para as entidades filantrópicas locais ou mesmo para manutenção dos grupos de Folia de Reis. (foto acima de Luís Leite)
          Junto com Reinado de Nossa Senhora do Rosário, a Folia de Reis é o mais importante evento folclórico do Estado, tendo sido uma das primeiras manifestações folclóricas de Minas Gerais, incorporada ao folclore mineiro desde o século XVIII.
Patrimônio Imaterial de Minas Gerais
           A Folia de Reis é tão importante para a cultura, tradição e folclore mineiro que foi reconhecida como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais em 2017, pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico. (na foto acima de Vânia Pereira em São Tomé das Letras MG)
          Presente ainda nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Maranhão, Paraná, dentre outros, mas com predominância em Minas Gerais, devido estar no Estado mineiro as principais cidades do país, no período do Ciclo do Ouro. (na foto abaixo de Giselle Oliveira, folião em Diamantina MG, com figurino criado pelo artista plástico Marcelo Brant)       
          Nos 853 municípios e 1712 distritos do Estado de Minas Gerais a Folia de Reis está presente. Em algumas cidades mineiras a Folias de Reis é tão importante do ponto de vista social e cultural que são reconhecidas como Patrimônio Imaterial de alguns municípios entre eles Bom Despacho, Alterosa, Belmiro Braga, Betim, Casa Grande, João Pinheiro, Matias Barbosa, Nova Resende e Patos de Minas. Várias outras cidades mineiras estão em processo de elaboração de inventário para considerar a Folia de Reis como Patrimônios Imateriais Municipais.

sábado, 16 de novembro de 2019

Monte Verde: o charme da Europa em Minas

(Por Arnaldo Silva) Uma vila com mais de 6 mil habitantes, arquitetura em estilo europeu, paisagens e clima típicos da Letônia, um dos países bálticos, na Europa. Estamos falando de Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas. Uma pequena vila, que mais parece um presépio. A "Letônia Mineira".
          Letônia é um país do Nordeste da Europa, bem no limite do Leste Europeu com o Mar Báltico. Juntamente com a Lituânia e Estônia, formam os Países Bálticos. Foi da Letônia que vieram os fundadores de Monte Verde, no início do século XX.
          A própria característica, história e arquitetura letã, de Monte Verde, faz da mimosa e romântica vila mineira, um cantinho da Europa em Minas Gerais.(fotografia acima de Nelson Pacheco)
A origem da Vila
          A origem de Monte Verde tem como pioneiro o imigrante letão Sr. Verner Grinberg (1910-2006) que chegou ao Brasil com a família, quando tinha apenas 3 anos de idade, se estabelecendo inicialmente no interior paulista.
          Verner ficou sabendo que em Minas existia um lugar, cujas paisagens e clima, tinham semelhanças com seu país, a Letônia. Foi para a região conhecê-la, por volta de 1938 e realmente comprovou as semelhanças. Gostou tanto que adquiriu uma fazenda na região, na parte mais alta, a 1534 metros de altitude, acima do nível do mar.
          Com a ajuda da família e outros letões que o acompanharam, começou a formar uma pequena comunidade de letões em sua fazenda que foram chegando com o passar dos tempos, dando origem assim ao que é hoje Monte Verde. (fotografia acima e abaixo de Anthony Cardoso/@anthonyckn)
          A partir de 1950 os Grinberg começaram a vender pequenos terrenos de sua fazenda, iniciando a formação de um povoado com a a abertura de ruas e construção de casas, cuja arquitetura foi inspirada na bela arquitetura europeia da Letônia. É a partir deste ano, 1950, que Monte Verde deixou de ser uma fazenda, para ser uma Vila, hoje um dos principais pontos turísticos do Brasil e um dos destinos mais indicados para turismo, devido a qualidade de sua estrutura urbana e hospitalidade de seu povo. 
          Monte Verde é ainda a localidade de maior altitude de Minas Gerais, como citado acima, a 1554 metros de altitude. Só perde para Campos do Jordão SP, que está a 1628 metros de altitude, a maior do Brasil. (fotografia acima e abaixo de Ricardo Cozzo)
          E assim surgiu uma das mais importantes vilas mineiras, hoje distrito de Camanducaia MG, no Sul de Minas. Um lugar charmoso, pitoresco, tranquilo em meio a vasta natureza e paisagens que lembram as pequenas vilas Europeias. Um lugar charmoso, elegante, acolhedor e simplesmente, único no Brasil. 
Suíça ou Letônia Mineira?
          Monte Verde é a Letônia mineira! Não é "Suíça mineira" e nem brasileira e sim, "Letônia mineira" porque seus fundadores são letões e a arquitetura, clima e paisagens, tem semelhanças com a terra natal dos pioneiros, a Letônia e não com a Suíça. Além disso, seus fundadores são letões e não há registro de nenhum suíço na origem da formação de Monte Verde. Por isso, carinhosamente é a nossa "Letônia mineira", pela origem, arquitetura, cultura e semelhança com o país báltico.
Baixíssimas temperaturas
          As baixas temperaturas na região também ajudam já que Monte Verde está a 1554 metros de altitude, sendo o ponto mais alto de Minas Gerais e o segundo do Brasil. Por isso que o inverno no distrito é rigoroso, geralmente abaixo de zero grau, com frequentes geadas. (na foto acima de Ricardo Cozzo, termômetro de Monte Verde registrando -3°C.)
          Além disso, nas residências de Monte Verde encontramos sempre lareiras e a fumaça saindo pelas chaminés dá mais ainda um charme europeu à vila mineira, principalmente nos dias de geada, onde tudo fica branquinho e as lareiras aquecendo o interior das casas. (na foto acima de Ricardo Cozzo, vista parcial de Monte Verde)
Estrutura urbana
          Monte Verde tem hoje uma excelente estrutura para receber turistas. A colhedora e aconchegante Monte verde, conta com mais de 150 hotéis e pousadas, com preços variados, que atendem a todos os gostos e bolsos. (fotografia acima e abaixo de Dener Ribeiro)
          Em Monte Verde encontra-se ainda, dezenas de lojas, artesanato, cervejarias artesanais, queijarias, cachaçarias, fábricas de chocolates e restaurantes diversos, com culinária mineira, brasileira e europeia, além de um setor de serviços ótimos e comércio bem variado. (na foto abaixo, a Chocolateria Montanhês da Mônica Milev)
Como chegar
De São Paulo a Monte Verde: siga pela Via Dutra m direção a Guarulhos (SP) e acesse a Rodovia Fernão Dias na altura do km 13 até Camanducaia.
Partindo de Campinas (SP): o trajeto começa pela Rodovia D. Pedro I em direção a Jacareí (SP); depois entre à esquerda na Rodovia Fernão Dias, no sentido Belo Horizonte, até chegar a Camanducaia.
Saindo do Rio de Janeiro (RJ): siga pela Via Dutra 
até Jacareí (SP), entre na Rodovia D. Pedro I e, em Atibaia (SP), entre à direita na Rodovia Fernão Dias, continuando até Camanducaia. 
De Belo Horizonte (MG) para Monte Verde: saída pela Avenida Amazonas, sentido São Paulo, até Camanducaia pela BR 381.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Conheça Pintos Negreiros

(Por Arnaldo Silva) Pintos Negreiros é um charmoso e pitoresco distrito de Maria da Fé, no Sul de Minas Gerais criado por Lei em 1953. A charmosa Vila faz divisa com os municípios de Cristina, Dom Viçosa, Virgínia, Delfim Moreira e Itajubá.
          Encravado na Serra da Mantiqueira, a Vila conta com pouco mais de 1600 moradores que vivem nos bairros Negreiros, Alto da Serra, Pedreira, Canto dos Amaros, Canto dos Carneiros, Canto dos Caetanos, Mendanha, Caetés, Coli e Boa Vista da Barra. A atividade econômica principal do distrito é a agropecuários e pequenos comércios. (fotografia acima de Carlos Henrique Silva e abaixo de Cássia Almeida)
          Outra atividade que vem crescendo no distrito é o turismo rural como o surgimento de pousadas, trilhas e oportunidades que o distrito oferece aos visitantes de conhecer as belezas da Serra da Mantiqueira, num lugar charmoso, tranquilo, pitoresco, com um povo muito simples e hospitaleiro. Como em toda região da Mantiqueira, belezas naturais também estão presentes em Pintos Negreiros como cachoeiras paradisíacas, ótima trilha com cerca de 51 km de extensão que atraem ciclistas e motociclistas de várias regiões. Para os adeptos de rapel e escaladas, a dica são as pedreiras. 
          Vale ressaltar que Pintos Negreiros é considerada pelos trilheiros como um dos melhores lugares do país para a prática de mountaim bike. (Fotografia acima Cássia Almeida)
          A religiosidade é marcante entre os moradores de Pintos Negreiros. A fé católica é predominante, sendo que sua principal igreja faz parte da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, na sede, Maria da Fé MG. No bairro Boa Vista da Barra há mais uma igreja católica e no distrito tem ainda uma igreja da Assembleia de Deus. (fotografia acima e abaixo da Cássia Almeida)
          O acesso ao distrito é por estrada de terra, bem conservada. Saindo de Maria da Fé, são 25 km. De Dom Viçoso até Pintos Negreiros são 10 km. Outra opção é por Delfim Moreira e Virgínia, também em estrada de terra, porém não estão em boas condições. A que está em melhores condições de tráfego é esta acima, saindo de Maria da Fé MG. 

Os vinhos finos de altitude de Diamantina

(Por Arnaldo Silva) A paisagem lembra a italiana Toscana, sem exageros. Variedades diferentes uvas estão presentes nos vinhedos, entre elas muscat, sauvignon, merlot, tempranillo, syrah usadas na produção dos vinhos em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, a 300 km de Belo Horizonte. (acima alguns rótulos de vinhos diamantinenses e abaixo, vinhedo da Quinta Campo Alegre - Imagens enviadas pelas Avodaj/Divulgação)
     Isso mesmo, vinho no Vale do Jequitinhonha e na terra dos diamantes, de Chica da Silva, da seresta, de JK. Diamantina da música, da arquitetura, dos tapetes arraiolos e nosso patrimônio Cultural da Humanidade produz vinho, sim, de excelente qualidade. 
     Mas isso é recente? Não, não é. Diamantina foi uma das primeiras cidades a produzir vinhos no Brasil e em toda a América. Os vinhos já existiam em Diamantina bem antes da chegada dos imigrantes europeus, principalmente italianos, que para cá vieram no final do século 19 e começaram a produzir vinhos, principalmente na região Sul do país. (na foto abaixo Quinta da Matriculada - Imagem enviada pela Avodaj/Divulgação)
     Vinhedos em Diamantina existem desde o século 18, há mais de 200 anos. A cidade também se destaca na produção de cafés e oliveiras, culturas favorecidas por sua altitude, 1280 metros acima do nível do mar e temperaturas amenas, em média 18ºC. Diamantina é uma das cidades mais frias de Minas Gerais, com um inverno bem rigoroso e seco. Clima propício para a produção de uvas. 
     Os vinhos de Diamantina eram tão importantes para Minas e para todo o Brasil que na cidade existia uma estação enológica, fundada no início do século XX e desmontada pelo Governo Militar na década de 1970, bem como foi extinta a estrada de ferro. Mandaram a estação para Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O objetivo era tirar da memória do povo, Juscelino Kubistchek e sua terra (foto acima/Arquivo). Tudo que lembrava JK era evitado naquela época pelo Governo Militar. 
Hoje vinhedos vêm crescendo ano a ano no município, embora em produção pequena, ainda artesanal. Mas vamos voltar a dois séculos para entender a vocação dos diamantinenses para a produção de vinhos. (na foto acima, rua das uvas Syriah e abaixo, vinho La Blanca da Quinta do Campo Alegre - Imagem enviada pela Avodaj/Divulgação)
     Tudo começou no século XVIII, quando Diamantina ainda se chamava Arraial do Tijuco e era a maior produtora de diamantes do mundo, naquela época. Tanta riqueza atraiu os nobres portugueses, que vieram para o Brasil com suas famílias em busca da riqueza que as pedras preciosas mineiras propiciavam. Com a chegada dos portugueses, veio também seus costumes, entre eles, o de beber vinhos. (foto abaixo de Elvira Nascimento)
     Como trazer vinhos da Europa nos tempos do Brasil Colônia era muito difícil e quando conseguiam trazer, demoravam meses para chega, a urgência de se produzir a bebida em nossas terras começou a ganhar força, pela necessidade dos portugueses em ter a bebida e ainda para as celebrações religiosas, já que não tinha vinho nem para os padres celebrarem as missas. 
     Foi assim, pela necessidade, que começou nessa época o plantio de sementes de uvas, vindas de Portugal no antigo Arraial do Tijuco e região. A altitude e temperaturas amenas foram os fatores primordiais para a proliferação das videiras no município, bem como a produção de vinhos. 
     Os vinhos produzidos em Diamantina eram comercializados na cidade e também em parte da Região do Vale do Jequitinhonha e Norte do Estado, levada por tropeiros. Os principais clientes eram os padres e os fidalgos da época.
     A cidade que produzia diamantes foi uma das primeiras a produzir vinhos no Brasil e na América. Vinhos finos e de qualidade que agradou os exigentes paladares dos portugueses. 
     No final do século 19 e início do século 20, a produção de vinhos em Diamantina teve um rápido crescimento, levando o Governo do Estado a criar no município uma estação enológica, que existiu na cidade até a década de 1970. Com a crise de 1929, a produção de vinhos na região sofreu uma queda enorme, se limitando a poucas famílias, basicamente produziam para consumo próprio ou para algumas vendas. Nas décadas seguintes, começou a retomada da produção, ainda bem artesanal, sofrendo novo revés quando da transferência da estação enológica da cidade, na década de 1970. O motivo da transferência foi citado acima. 
     Mesmo com todas as dificuldades, falta de capital para investir na melhoria dos vinhedos e no aumento da produção e qualidade maior dos vinhos, o diamantinense nunca deixou de produzir a bebida, mesmo que a produção tenha sido restrita a pequenas propriedades ou para consumo familiar. Os vinhedos sempre estiveram presentes nos campos diamantinenses e região.
     Já no início dos anos 2000, por iniciativa do vinicultor João Francisco Meira, da Vinícola Quinta Dalva, foram importados da França 4 mil mudas de 9 variedades de uvas diferentes, plantados entre 2003, 2004 e 2005. O pioneirismo do Chico, como prefere ser chamado, incentivou outros produtores a investirem no plantio de uvas e produção de vinhos finos. Assim, começou a retomada da produção de vinhos em maior escala no município começou a ganhar força, baseada na tradição, vocação e história da vitivinicultura diamantinense ao longo de 200 anos produzindo vinhos de qualidade reconhecida. (na foto abaixo, a vinícola Quinta Dalva)
     Segundo João Francisco Meira, isso se deve " as características da região (clima, relevo, solo, amplitude térmica, altitude, umidade do ar e regime de chuvas) são favoráveis à cultura da vinha. Em 2005, o Quinta D'Alva plantou 9 variedades de viníferas importadas da França, para selecionar as mais apropriadas para produção de vinhos de qualidade. Desde então buscamos selecionar as mais apropriadas para produção de vinhos de qualidade, já conseguindo sucesso com algumas castas tintas e brancas. Importante citar que o ciclo vegetativo é alterado por um inovador sistema de poda que estimula a brotação dos cachos no outono, para as uvas serem colhidas no inverno. A partir de 2016 estamos produzindo espumantes com métodos Chardonnay utilizando além da Champenoise as castas Pinot Noir e Pinot Meunier".
     Buscando unir os vitinicultores da região, com incentivo e participação do pioneiro, João Francisco Meira,  da Quinta Dalva, vitinicultores de Diamantina e Alto Jequitinhonha criaram a AVODAJ – Associação dos Vitivinicultores e Olivicultores  de Diamantina e Alto Jequitinhonha com o objetivo de resgatar uma das mais antigas tradições de Diamantina, que é a produção de vinhos finos de alta qualidade, bem como desenvolver na cidade e região o Enoturismo, hoje um dos principais segmentos de turismo no mundo. O turista vem à cidade, conhece os vinhedos, as vinícolas, o processo de produção e tem a oportunidade de adquirir vinhos diretos do produtor. 
     Assim, com o apoio e orientações dos órgãos governamentais, vitivinicultores começaram a trabalhar na produção de vinhos finos, utilizando cerca de 20 variedades de uvas, com mudas de procedência certificada e adaptadas ao clima da região. As variedades plantadas em Diamantina são: Tempranillo, Sauvingon Blanc, Tanat, Alvarinho, Marsane, Muscat, Chardonnay, Pinot Meunier, Carbenet Sauvingon, Gewurstraminer, Touriga Nacional, Barbera, Isabel Precoce, Petit Verdot, Riesling Itálico, Carbenet Franc, Malbec, Merlot, Pinot Noir e Syrah. O sucesso do plantio dessas variedades é graças ao sistema de dupla poda e safra de inverno, que proporciona entre os meses de maio e agosto frutos com boa acidez, antocianinas e teores de açúcar equilibrados.
     São mais de 52 mil vitiníferas plantadas. A técnica da dupla, desenvolvida no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). (Vinho Sauvingnon Blanc premiado da Quinta do Campo Alegre, junto com um Dom Leon Alvarez/imagem enviada pela Avodaj/Divulgação)Essa técnica consiste na inversão do ciclo da videira, alterando para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos finos. São aplicadas duas podas, uma para a formação de ramos, em setembro, e de produção, em janeiro e fevereiro.
     Com o uso da dupla poda, a produção de vinhos finos em Minas Gerais vem aumentando a cada ano, bem como aumentando o número de hectares de áreas com videiras plantadas, beneficiando o viticultor que é aquele responsável pela plantação, cultivo e colheita da uva, bem como o vinicultor, que é o recebe as uvas e a transforma em vinho. 

     O projeto e iniciativas vêm dando certo e resgatando uma das maiores tradições de Diamantina, agora com a qualidade e tecnologia que possibilita colocar Diamantina na rota mundial dos produtores de vinhos de alta qualidade, inclusive, reconhecida nacionalmente por especialistas e apreciadores de vinhos finos, de qualidade no Brasil. (na foto abaixo imagem do primeiro processo da vinificação na Vinícola Campo Alegre, com as uvas na mesa de seleção, indo para a desengaçadeira - Imagem enviada pela Avodaj/Divulgação))
Os vinhedos e rótulos existentes hoje em Diamantina, produzindo uvas de qualidade e vinhos finos são:
Vinhedo Quinta Dalva com o rótulo Quinta Dalva 
Vinhedo Campo Alegre com os rótulos Dom Léon Alvarez, La Blanca, La Campola, Al Tempo, Diamante das Minas 
Vinhedo da Quinta da Matriculada com o rótulo Vin de Minas (imagem de Ricardo Maciel/Avodaj/Divulgação)
Vinhedo Sítio Vale dos Vinhedos com o rótulo Vesperata (imagem enviada pela Avodaj/Divulgação)
Vinhedo da Toca com o rótulo Andrade 
Vinhedo Santa Helena
Vinhedo Candeia Torta
Vinhedo Riacho das Varas
Vinhedo Fazenda do Sapê
Vinhedo Sítio das Lajes
Vinhedo Sítio Vale dos Vinhedos 

Vinhedo Fazenda Candeias com os rótulos Theo e Ethos (na foto ao lado enviada pela Avodaj/Divulgação)
     Atualmente a região conta com 13 produtores cadastrados na AVODAJ – Associação dos Vitivinicultores e Olivicultores
de Diamantina e Alto Jequitinhonha. Desses, apenas seis estão produzindo vinhos para comercialização que são:
Quinta D’Alva: João Francisco: 31-99731 8255

Quinta do Campo Alegre: Istagran - @quintadocampoalegre ; Luiz Felipe: 33-99176 6156 e Luciana: 38-99195 0402
Quinta da Matriculada: Daniel: 38-98837 4110
Sítio Vale dos Vinhedos: Eduardo: 38-98822 4968
Fazenda Candeias: Manoel: 38-98808 2460
Fazenda da Toca: Douglas: 38-98808 3945

Em breve os vinhos de Diamantina chamarão a atenção, não só dos mineiros mas dos brasileiros em geral, por sua qualidade e terroir. As terras altas diamantinenses serão consideradas grandes produtoras de vinhos finos no país, fazendo da região um dos grandes pólos do enoturismo brasileiro. 
Grappa: bebida para dias frios
     Além dos vinhos finos, em Diamantina também se produz a Grappa, uma bebida alcoólica de origem italiana e portuguesa. É feita a partir do bagaço da uva e seu teor alcoólico varia entre 37,5% a 60%, aromatizada com a erva arruda. A bebida foi criada na Idade Média com o objetivo de evitar o desperdício. São aproveitados além das cascas, os engaços e sementes da uva. O sabor, bem como o do vinho, depende do tipo e qualidade da uva e dos processos de destilação de cada produtor. Por seu alto teor alcoólico, a bebida caiu no gosto dos europeus e é até hoje muito apreciada, principalmente no rigoroso inverno europeu. 
     Em Diamantina a Grappa é produzida pela Quinta Dalva e em breve pela vinícola Campo Alegre. A grappa da Quinta Dalva chama atenção pela excelente qualidade. Uma ótima bebida para aliviar o frio das geladas noites diamantinense no inverno. 
     Vindo á Diamantina (foto acima de Elvira Nascimento), vivencie a música, a cultura, as tradições, a religiosidade, a beleza de sua arquitetura colonial, do seu artesanato e aprecie um bom vinho das quintas diamantinenses! Venha para Diamantina. Aqui temos história e bons vinhos. 
(Reportagem de Arnaldo Silva com fotos de Elvira Nascimento. Fotos das vinícolas e vinhos, cedidas por João Francisco Meira e Avodaj)

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A charmosa Vila de Conceição do Ibitipoca

(Por Arnaldo Silva) Conceição do Ibitipoca é um distrito de Lima Duarte, na Zona da Mata Mineira. São aproximadamente 1500 habitantes na vila, vivendo da atividade turística, produção agropecuária e pequenos comércios. (foto abaixo do Raul Moura)
           A matriz da vila é em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, obra do Barroco Mineiro datado de 1768. “Ibitipoca” significa “montanha (ibytyra) estourada (pok)” segundo a língua tupi. Da junção do nome da padroeira com o termo tupi, surgiu Conceição do Ibitipoca. Além da Matriz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é outro marco da fé católica no distrito, construída pouco depois da Matriz por escravos, sua arquitetura é colonial, erguida em pau-a-pique.
          É uma das mais antigas, charmosas e encantadoras vilas mineiras e a porta de entrada para um dos mais belos santuários ecológicos do Brasil, o Parque do Ibitipoca. (foto acima deJohn Brandão/@fotografo_aventureiro) A povoação na região começou a no final do século XVII e início do século XVIII com a descoberta de ouro na região. Com o passar dos séculos, a vila manteve sua originalidade, tradições e principalmente sua variada e rica gastronomia serrana. Seus moradores tem um estilo de vida simples, são hospitaleiros e simplesmente, amam o lugar em que vivem.
           O Casario de Conceição do Ibitipoca, com suas cores vivas preserva os traços coloniais e suas ruas de pedras nos remetem ao passado. No entorno da bela Matriz de Nossa Senhora da Conceição os moradores se encontraram para prosear ou mesmo relaxar na tranquilidade do vilarejo, rodeado por montanhas e vasta natureza. (foto acima do John Brandão/@fotografo_aventureiro)
          Uma das preciosidades da Vila são sua gastronomia e ótimas opções de hospedagens. Cafés coloniais, doces, bistrôs, charmosos restaurantes, produção artesanal de queijos e cervejas são atrativos, bem como o tradicional Pão de Canela do Ibitipoca. O charme serrano de Conceição do Ibitipoca atrai muitos turistas no inverno, principalmente casais. As pousadas e hotéis oferecem a oportunidade casais vivenciarem a estação mais fria do ano em confortáveis chalés ou quartos, com direito a lareira, para aquecer as noites geladas do Ibitipoca. (foto acima do Raul Moura)
          Já na vila, durante o inverno acontecem festivais culturais variados de jazz, blues, forrós e outros. A noite é um atrativo à parte. Pelas ruas, aconchegantes e pitorescos bares e botecos são sempre um convite para um bom bate-papo com os amigos ou mesmo, momentos românticos entre casais. 
          Saindo um pouco de Conceição do Ibitipoca, nos arredores do distrito pequenos povoados que valem a pena conhecer como Vila dos Moreiras, Bom Jesus do Vermelho, Boa Vista e o Mogol. 
          O Mogol me encantou (foto acima de Márcia Valle). O lugar é um dos mais pitorescos que conheci até hoje. São poucas casas, mas seus moradores, cerca de 22, são amáveis, hospitaleiros e tem o maior carinho pelo lugar em que vivem. 
          Mogol surgiu no século XVIII. Seu casario tem traços coloniais, com detalhes do barroco mineiro. O que mais chama atenção no povoado é a sua igreja e o coreto ao fundo (na foto acima de Márcia Valle). Construída em estilo colonial, o pequeno templo é de uma simplicidade encantadora. Por dentro é uma aconchegante obra de arte com detalhes romanos, nas colunas, mourísticos nos arcos e colonial brasileiro. O piso é em cerâmica e o forro em saião. Possui dois altares em madeira na cor azul rei, com detalhes em branco, dedicados a três santos. O centro é dedicado a Nossa Senhora dos Remédios. De um lado encontra-se o altar de São Sebastião, e do lado, o altar de Nossa Senhora de Fátima.
          Vale a pena conhecer Mogol, uma típica vila mineira em detalhes e beleza. 

           Lima Duarte (na foto acima de Márcio Lucinda da Sauá Turismo) é uma linda cidade distante 297 km de Belo Horizonte. A cidade ponto de referência é Juiz de Fora MG. Conceição do Ibitipoca fica a 27 km da sede. De Conceição do Ibitipoca até a porta principal do Parque Estadual do Ibitipoca são 3 km, dá para ir a pé. Tanto em Lima Duarte como em Conceição, existem vários guias especializados que levam turistas para o Parque e distritos de Lima Duarte. 

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