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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

A Fazenda Boa Esperança em Belo Vale

(Por Arnaldo Silva) A cidade de Belo Vale fica a 80 km de Belo Horizonte. Foi um dos primeiros arraiais fundados em Minas Gerais. Sua história inicia por volta de 1681 com a chegada dos Bandeirantes e a descoberta de ouro em 1700, nas roças de Matias Cardoso, hoje distrito de Roças Novas. A partir dessa época o arraial foi se desenvolvendo e surgindo fazendas e casarios no estilo colonial, presentes até hoje na área urbana da cidade.
           Uma dessas construções é a Fazenda Boa Esperança, uma das mais espetaculares fazendas de Minas Gerais, já na zona rural do município, menos de 5 km distante do centro da cidade. A sede da fazenda conta com um imponente casarão, cuja construção teve início entre os anos de 1760 e 1780, sendo concluída no início do século 19. Pertenceu à família Monteiro de Barros, sendo herdada por Romualdo José Monteiro de Barros –1773-1855 e Francisca constância Leocádia da Fonseca, respectivamente Barão e Baronesa do Paraopeba. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          A Fazenda Boa Esperança era o centro produtivo da região formado por um completo de outras fazendas, também pertencentes à família do Barão do Paraopeba. A produção da Fazenda Boa Esperança não se limitava a produtos agrícolas. Eram produzidos também fios, roupas e ferramentas, o que garantia o abastecimento de toda a região do Vale do Paraopeba e ainda de Barbacena e Ouro Preto.  
          Para dar conta de tamanha produção, um grande número de escravos trabalhava na fazenda nos séculos 18 e 19. Os escravos deixaram descendentes e boa parte de seus descendentes vivem no município formando as comunidades de Boa Morte e Chacrinha dos Pretos.
          A fazenda e seu casarão tiveram grande importância econômica para a região no século 18 e 19. São 24 cômodos, 45 portas com a varanda de fundo medindo 36 metros de comprimento por 2,5 de largura. Nessa fazenda, o Imperador Dom Pedro II se hospedou. Além da beleza do casarão, com seus detalhes bem trabalhados, outra obra prima chama a atenção dos visitantes construída bem ao lado da varanda do casarão. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Trata-se de uma singela capela, mas mostrando o poderio econômico dos proprietários na época. É de uma riqueza em detalhes incríveis. Pelo fato das fazendas serem distantes das cidades e dificuldades de se locomoverem até as igrejas, era comum os fazendeiros construírem pequenas ermidas em suas propriedades para praticarem sua fé. 
          Em 1974, a Fazenda Boa Esperança foi adquirida pelo Governo mineiro, sendo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico de Minas Gerais (Iepha) como Patrimônio de Minas Gerais em 1975 com o objetivo de preservar a história e o modo de vida das sociedades rurais no período colonial brasileiro, representado em uma das mais imponentes e importantes fazendas do Brasil. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Sua primeira reforma foi entre 1976 a 1979. Uma segunda restauração foi feita em 1998 e por fim, novamente restaurada entre 2017 e 2018, sendo entregue totalmente restaurada em meados de 2019. Esta última restauração permite hoje receber os visitantes de Minas, do Brasil e do exterior com uma ótima estrutura, oferecendo atrativos, além da riqueza de sua imponente arquitetura. 
          Em declaração ao Jornal O Estado de Minas, por ocasião da inauguração da reforma da Fazenda Boa Esperança, a presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha MG), na época, Michele Arroyo, frisou que com o restauro “As pessoas poderão conhecer os modos de vida naquela época, detalhes da edificação, o pomar, ocupação do território, a forma de alimentação e outras questões do dia a dia.”
          A propriedade conta hoje com 318 hectares com paisagens deslumbrantes que chama a atenção, tendo sido inclusive a fazenda, cenário do filme “O vinho de rosas” da cineasta mineira Eva Cataldo e tema do livro escrito pelo jornalista Tarcísio Martins em 2007. A obra tem o nome da fazenda e além da história, tem fotos antigas da Boa Esperança. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
Horário de funcionamento
- Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado, Domingo, Feriado: 06:00 às 11:00hs
- Pontos de referência: partindo do centro de Belo Vale siga as orientações das placas indicativas. A fazenda está situada há 5 km do centro da cidade.
- A entrada é gratuita e não há restaurante no local, somente na cidade o que é muito bom já que Belo Vale é uma bela cidade com um preservado casario, uma excelente culinária. 
          Além disso, o visitante poderá conhecer, em Belo Vale o mais completo museu sobre a Escravidão na América Latina, o Museu do Escravo, bem no centro da cidade. 

sábado, 28 de setembro de 2019

Em Minas, o nosso pão é de queijo

(Por Arnaldo Silva) Não se sabe ao certo a origem dessa quitanda mineira. Acredita-se que sua origem é do século XVIII e começou na região da Serra da Canastra, Sudoeste de Minas. Há quem diga que a origem é na região do Serro, na Serra do Espinhaço. A única certeza é que o pão de queijo é criação genuinamente mineira.
          A invenção dessa quitanda foi mais por necessidade, já que comida à época era bastante escassa, numa terra ainda em povoamento. Não existia trigo no Brasil à época da Colonização e trazer de Portugal ficava muito caro e demorava muito para chegar. Numa região em povoamento, a necessidade de comida era urgente. A mandioca era um tubérculo nativo do nosso país bastante apreciado pelo índios. (na foto acima de Luciana Albano de Ibiá MG)
          Os escravos passaram a comer mandioca cozida e a partir de então foram criando novos alimentos e ingredientes a base de mandioca, como a farinha. Ralavam a mandioca bem fininha e peneiravam. Torravam a farinha também às vezes. As escravas, nas cozinhas das fazendas, começaram a amassar a mandioca, até que ficasse com textura de goma. Colocavam para ressecar ao sol. Desidratada virava um pó branco. Descobriram que sem fermentar, o sabor era meio adocicado. Fermentado, o sabor era azedo. Assim, das senzalas e cozinhas dos casarões, pelas mãos das escravas, no século XVIII, surgiu o polvilho doce e azedo.
          Os portugueses que aqui viviam, careciam de uma alimentação melhor. Necessitavam de pão e outros alimentos que consumiam na Europa. Mas para fazer o pão, não tinha trigo aqui à época. Da necessidade de se fazer pão, o polvilho começou a ser usado como substituto do trigo e dai foi se desenvolvendo o nosso próprio pão. Diferente do que era comido na Europa, mas era pão. Não tinha trigo, tinha polvilho e para melhorar o sabor, acrescentavam queijo. (foto acima da Sônia Fraga)
          Daí surgiu o nosso pão de queijo e também o biscoito de queijo. Antes um ingrediente não muito nobre, hoje é finíssimo, encontrado em todos os supermercados do nosso país e do mundo. Polvilho doce não é fermentado. Polvilho azedo é fermentado. Ai a diferença entre um e outro.
          Foi então, da necessidade urgente de comida, que surgiu boa parte de nossas receitas, como o nosso pão de queijo, hoje popularíssimo, apreciado por todos. Mas foi somente a partir da década de 1950 que o Pão de Queijo começou a ser conhecido em todo o Brasil e hoje é famoso até no mundo. 
Receita original de Pão de Queijo
INGREDIENTES

. 500 gramas de Queijo meia cura Canastra, bem amarelinho
. 1 kg de polvilho azedo
. 4 ovos caipiras de verdade
. 1 copo americano de gordura de porco
. 1 copo americano de água
. 1 copo americano de leite integral morno
. 1 pitada de sal
MODO DE PREPARO
- Ferva a água com a gordura de porco
- Em uma bacia, coloque todo o polvilho e vá despejando aos poucos a água com a gordura fervida e misturando com uma colher até esfriar.
- Coloque os ovos, um a um e comece a mexer com as mãos, despejando o leite morno aos poucos e sovando ao mesmo tempo.
- Acrescente agora o queijo ralado e continue sovando até a massa ficar lisa e desgrudando das mãos.
- Unte as mãos com gordura ou óleo de cozinha e faça os moldes dos pãezinhos não muito pequenos e nem grandes.
- Leve para assar em forno pré-aquecido a 200ºC por aproximadamente 20 minutos ou até que fiquem dourados.
Na foto acima, o pão de queijo feito pela Luciana Albano de Ibiá MG

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Conheça o Jacarandá de Minas

(Por Arnaldo Silva) Das cerca de 100 espécies de Jacarandás existentes no mundo, o Jacarandá Cuspidifolia, popularmente chamado de Caroba ou Jacarandá-de-Minas, se destaca no Estado por ser nativo de Minas Gerais. É uma espécie genuinamente mineira, predominante em campos abertos do Cerrado Mineiro, com expansão para outras regiões como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. O bioma Cerrado ocupa 57% do território mineiro. 41% do bioma Mata Atlântica e os outros 2% do bioma Caatinga e áreas de transição.
          O Jacarandá Cuspidifolia é uma espécie rústica, como a maioria das espécies do Cerrado são. A espécie cresce rápido no Cerrado e lento em outras regiões, de Mata Atlântica por exemplo. Não se adapta bem a solos encharcados, mas no Cerrado mineiro, pega bem fácil e com crescimento rápido, uma média de 1 a 2 metros por ano. 
          A planta não possui raízes agressivas, suas raízes não crescem para os lados, sendo uma árvore ideal para arborização urbana, já que suas raízes não danificam calçadas e não prejudicam a fiação elétrica, por ter galhos espaçados. Sua altura é entre 8 a 10 metros, na fase adulta. 
          A árvore acima tem mais de 100 anos e fotografei em Bom Despacho MG, Centro Oeste de Minas. Por seu porte e beleza, foi preservada por gerações. Nesta cidade, também tem espécies de Jacarandá Mimoso, bem como, conheço a planta, pelas viagens que faço por Minas Gerais e vários estados do Brasil.
Diferenças entre Cuspidifolia  e o Mimosifolia
          O Jacarandá Caroba Cuspidifolia é muito semelhante ao Jacarandá mimoso (Jacarandá mimosifolia), planta nativa do Norte da Argentina e Bolívia, muito usada na ornamentação urbana no Brasil e vários países do mundo. Embora sejam parecidas, tem suas diferenças.
          O Cuspidifolia atinge na fase adulta no máximo 10 metros de altura, já o mimosifolia, 15 metros.
          Outra diferença é no tronco. No mimoso, o tronco tem o tom cinza claro e liso. Já no Cuspidifolia o tronco é bem rústico, casca áspera, acinzentada e escamosa, típico das espécies do Cerrado.
          Os frutos do Cuspidifolia, em forma de cápsulas, são ocráceas, na cor dourada. Já do Mimosofilia, já é crasso, apresentando uma densa espessura.
          O Mimosifolia apresenta floração na presença de folhas. Tem folhas e flores ao mesmo tempo, embora, em algumas regiões, há perda total de folhas e ocupação total de flores durante a florada, dependendo da adaptação da planta, já que não é nativa. O normal, durante sua florada de setembro são folhas e flores ao mesmo tempo. Como podem ver na foto acima, folhas e flores na cor violeta do Jacarandá Mimoso.
          As folhas do Mimoso caindo por completo ou se mantendo em parte, pode variar de ano para ano. Em Minas Gerais, a florada ocorre junto com as folhas, que não caem totalmente.
          As folhas do Cuspidifolia são menores em relação às folhas do Mimosifolia e tem a ponta mais alongada, terminando no que a botânica chama de "cuspidado", que seria o termo usado para designar o ápice ou a ponta de uma forma curta, dai a origem do nome "cuspidifolia".
          Já o Cuspidifolia floresce sem as folhas, que caem totalmente entre agosto e setembro. A espécie fica sem uma única folha sequer e assim surgem as flores no início da primavera, formando uma copa mais densa, que o jacarandá mimoso. 
          As flores do Cuspidifolia tem a coloração violeta intenso, enquanto o Mimosifolia, a coloração azul-anil, mais suave.
Características do Jacarandá Cuspidifolia
Nome popular: Jacarandá-de-Minas, Jacarandá-preto, Caroba, Caroba-branca.
Folhas: Imparipinadas, 20 a 50 cm, foliolos 1 cm.
Fruto: Seus frutos são em formato de cápsula, 5 a 7 cm que se abre na primavera, liberando sementes que são disseminadas pelo vento e germinam facilmente.

Utilidades: Melífera e Ornamental
Própria para paisagismo. É adequada à arborização urbana. Suas raízes não danificam as calçadas e nem provocam danos à rede elétrica já que não é uma planta de grande porte e nem possuem raízes agressivas.
Época de floração e frutificação: Floresce no início da primavera, com duração de 30 dias. Caem as folhas, surgem as flores e os frutos que se abrem e suas sementes levadas ao vento. 

É também útil para plantio em áreas degradadas e recomposição de áreas de preservação permanentes. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Os encantos do Vale do Jequitinhonha

(Por Ernani Calazans/texto e fotos) O Vale do Jequitinhonha é dotado de exuberante beleza natural, cultural, artística e patrimonial com traços sobreviventes da cultura indígena, africana e influências da colonização europeia. (foto acima de campo nativo de lírios em Itinga MG)
          Contemplar as riquezas culturais do Vale do Jequitinhonha é comungar das ambiências, da historicidade dessa gente; é sentir o clima semiárido e se ver como parte do meio; é sentir o calor humano, é olhar a fé daquela senhorinha que se ajoelha todo santo dia para pedir bênçãos a Deus para que sua família não sofra com a falta de oportunidades; é sentir o calor do abraço da mãe que recebe seu filho depois de anos fora de casa, é sentir o acolhimento quando recebem em suas casas, visitantes para as festas tradicionais.
          Conhecer a cultura dessa gente é respeitar o tempo, o espaço e os anseios do povo desta região.
          As histórias estão no assoalho da madeira sujo de picumã- fumaça de fogão à lenha, a história está na roda de fiar jogada no paiol, a história está na gamela onde eram amassados quilos e mais quilos de goma escaldada para fazer biscoito; sim, a história está nas chaves e cadeados das portas grandes, está na imagem do padroeiro que protege as casas simplórias, porém aconchegante, que a família cuida com tanto zelo.
          Os relatos da vida cotidiana estampam os poemas trazidos neste livreto. Os poemas estão no humilde café na casa do homem do campo; os poemas estão nas mãos calejadas, na devoção e na dedicação do povo em manter viva a tradição herdada de seus antepassados. “A história somos todos nós”. 
Texto e fotografias de Ernani Calazans, artista plástico e professor no IFNMG em Araçuaí MG

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Aprendendo a amadurecer queijo

(Por Arnaldo Silva) A relação de mineiro com queijo vem de mais de 300 anos. Queijo não é apenas uma iguaria sobre a mesa. Para o mineiro, queijo é tradição, é raiz, é a fina identidade da nossa culinária. Pra quem produz queijo artesanal, aquele que vem de gerações é algo mais que isso. Faz parte da história de vida da família e sem exagero algum, faz parte da família.
     Meus pais, por exemplo, foram sustentadas com a venda de queijos que meus avós faziam, tradição passada por seus pais, meus bisavós e por ai vai. Por isso o queijo faz parte de nossas raízes e de nossas famílias. O queijo sustentou e ainda sustenta famílias e movimenta a economia das cidades mineiras.
 
     Seja qual tipo de queijo for. Aliás, é bom que saibam que Queijo de Minas não é apenas o queijo branco, chamado frescal. Esse é apenas mais um dos vários tipos de queijos que temos em Minas Gerais, de acordo com o tremruá (terroir, no francês) que é a característica de cada queijo, de acordo com sua região geográfica. Nenhum queijo é igual, cada um tem o seu tremruá próprio. Os maturados mais famosos são o Queijo Canastra, Queijo do Serro, o Araxá e o da Serra do Salitre, identificado com uma casca resinosa nas cores preta, amarela e vermelha. (na foto acima, queijos Canastra do Mestre Queijeiro Roberto Soares de São Roque de Minas)
          
Vou tentar explicar sobre isso para que entendam e conheçam as diferenças de cada queijo, seu sabor, textura, aroma e modo de amadurecê-lo. Queijo é igual vinho, quanto mais velho melhor, por isso se harmonizam tanto. Como diz aqui em Minas, queijo é igual à vida, quanto mais se vive, melhor é. Isso mesmo, quanto mais tempo maturado, mais valorizado e mais saboroso é o queijo. (foto acima queijo do Rancho 4R em São Roque de Minas, feito pelo Mestre Queijeiro Roberto Soares)
     Pra isso que a cura do queijo é importante. O processo de cura é simplesmente retirar os líquidos como água, soro e gordura de um queijo fresco, de modo que ele envelheça. É pegar aquele queijo branquinho, fresquinho e envelhecê-lo. Ou seja, mudar toda a característica do queijo como peso, aroma, cor e sabor. 
     Na maturação, uma camada de bolor e fermento aparece em torno do queijo. Isso faz com que o queijo perca umidade e com o tempo, tamanho. 
     É na maturação que o queijo desenvolve suas características próprias, dependendo da região e do clima, pode tornar-se macio, mais picante e até um pouco adocicado. Quanto mais tempo maturando acredite, mais personalidade terá o queijo. É personalidade única, nunca existirá um queijo igual ao outro. A maturação define a personalidade de cada queijo. Quanto mais velho o queijo ficar, mais saboroso ficará e mais nutritivo também.
     Um queijo pode curar por 30, 60, 90, 120, 180, 365 dias e por até dois anos. (na foto acima do Lucas Rodrigues, Queijo Canastra do Dinho em Piumhi MG com 1 ano de maturação) Quanto mais tempo maturado, mais saboroso é e mais valorizado no mercado também. Nesta foto abaixo, de Sônia Fraga, em São Roque de Minas, com queijos Canastra, maturados por um ano. O preço não é esse mais, está um pouco defasado já que a foto é do ano passado. (na foto abaixo, tradicional queijo com resina da Serra do Salitre, da Fazenda Pavão, produzido pela família do "Seu" João Melo)
      Curar queijo não é um bicho de sete cabeças e nem requer técnicas industriais, ao contrário, é artesanal e feita do mesmo jeito desde a invenção do queijo, há milhares de anos. Em Minas, a técnica da cura artesanal tem quase 300 anos. (na foto abaixo da Nilza Leonel, o Queijo Turvo Grande, de Materlândia, Região Queijeira do Serro MG
     A técnica é simples. Primeiro você vai comprar um queijo fresco de sua preferência.
     Como curar é secar, deixe o seu queijo num lugar arejado, abrigado da luz e da umidade, numa tábua de cozinha. Isso porque tábua absorve bem a umidade. Existem em lojas especializadas, como “casas do fazendeiro”, caixas próprias para maturação. São feitas de madeira e tem telas em redor, que impedem a passagem de insetos e permite a ventilação. São baratas, vale a pena comprar uma caixa dessas. Se não conseguir comprar, use então uma tábua de cozinha e cubra o queijo com uma tela que impeça a entrada de insetos, mas da ventilação. (na foto abaixo, queijos do Roberto Soares de São Roque de Minas)
     Feito isso, vire o queijo a cada dois dias. Durante o processo uma camada de mofo branco surgirá na casca do queijo. É esse é o início do desenvolvimento da personalidade do queijo. 
     Perceberá que a cada dia o seu queijo ficará mais seco e sua personalidade se desenvolvendo como cor, casca mais dura, sabor, picância, etc., de acordo com as características de produção e fatores climáticos da sua região. A cura se dará pelo tempo que julgar melhor. Meus queijos curam por 30 dias.     
     Vale lembrar que queijo curado não deve ir para geladeira, isso porque receberá muita umidade. Esta umidade modificará toda característica adquirida pelo queijo na maturação.
Queijo com furo e queijo sem furo 
     Outro detalhe que intriga muita gente e sobre os furos no interior do queijo. (foto acima do queijo Roça da Cidade de São Roque de Minas) A dúvida é: por que alguns queijos tem tantos furos e outros nenhum ou quase nenhum? A maioria dos queijos industrializados tem massa firme, bem composta. Já os queijos artesanais não, ao longo da maturação vai apresentando muitos furos em sua massa. Isso acontece porque durante a ordenha manual estão presentes nos currais, latões e baldes, pequenas partículas de feno e alguns outros materiais presentes no ar se misturam ao leite. (foto abaixo queijos feitos pelo Roberto Soares de São Roque de Minas)
     Essas partículas são tão minúsculas que não são percebidas. Essas partículas agem durante a maturação do queijo, enfraquecendo a estrutura da coalhada, acumulando gás bacteriano e assim formando os buracos nos queijos. Essas bactérias, benéficas, dão sabor e status ao queijo. Um dos mais famosos queijos do mundo que é todo cheio de furinhos, é o famoso queijo Suíço. Já com os queijos industrializados esse processo não acontece devido a todo processo industrial que o leite passa, por isso a massa desses queijos são bem densas e uniformes, praticamente sem nenhum furinho.   
     É só isso. Simples não. Eu faço queijos ou compro queijos frescos de regiões diferentes para curar, assim tenho essa delícia com aroma, sabor, cores e texturas diferentes em casa. Vale a pena curar seu próprio queijo. 
Como escolher queijo
     Mas se a correria do dia a dia te impede de curar seu queijo, compre um queijo curado, mas preste atenção nessas dicas para comprar um queijo Mineiro legítimo e de qualidade, observando essas características abaixo. Isso porque existem queijos que se passam por originais sem o serem. Aprenda a identificar os principais queijos mineiros:
     Se for comprar um queijo do Serro preste atenção em sua casca. (na foto acima de Túlio Madureira) Nos mercados que vendem queijos, algumas amostras cortadas ficam expostas. O queijo do Serro tem a casca fina e bem rígida e sua massa é bem compacta.
      Já o Canastra (na foto acima do Queijo Roça da Cidade) tem o aroma suave. Se o queijo estiver com a casca rachada e pontos de mofo em tons avermelhados, não compre. O mofo do Canastra é branco e sua casca tem o tom amarelo bem firme. 
     O queijo Araxá (na foto acima de Luis Leite) apresenta uma tonalidade amarelo claro, com casca bem lisa, sem nenhuma fissura. A massa é bem compacta e sem furinhos no interior. 
     O Queijo da Serra do Salitre se caracteriza por uma cobertura de resina, podendo ser preta, vermelha ou mesmo, amarela. Essa resina protege o queijo e quanto mais maturado for esse queijo, mais intenso será seu sabor. A massa é compacta e bem firme. 
          Pra encerrar nossa matéria sobre maturação, você vai entender a linguagem do queijeiro.(foto acima de Queijo D´Alagoa/Divulgação) É comum quem é mestre em queijos falar meia cura, afinação, mofo branco, queijo azul, curado, etc. Quem não é do ramo, fica perdido em meio a tantas palavras, mas pra não te deixar boiando em palavras, está aqui para entender a linguagem dos queijeiros:
Meia cura: Nome pelo qual são conhecidos os típicos queijos de Minas, que maturam de 12 a 30 dias (depende do produtor e do tamanho da peça).
Afinação: Palavra que vem do francês affinage: maturar um queijo até que atinja o ponto ótimo e adequado ao gosto ‘do dono’.
Mofo branco: Categoria que abarca todos os queijos que formam aquela capa branca aveludada – um fungo benigno, que se forma de dentro para fora.
Azul: São os queijos inoculados com um bolor que cresce dentro da massa – como o stilton, o gorgonzola e o roquefort.
Curado: Maduro. Pode ter sido amadurecido por até dois anos. É naturalmente mais seco e quebradiço, e mais salgado também.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Cidades mineiras no topo do turismo no Brasil

(Por Arnaldo Silva) De acordo com a categorização feita pelo Ministério do Turismo, que identifica o desempenho dos municípios que constam no Mapa do Turismo Brasileiro, Tiradentes e Monte Verde, Belo Horizonte, Uberlândia e Poços de Caldas (na foto abaixo do Luis Leite, a Rodoviária de Poços de Caldas).
          Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas, tem como origem imigrantes vindos da Letônia, que deixaram em Minas um pouco da Europa, na cultura, culinária e arquitetura, combinados com o clima frio da região, que lembra muito as paisagens europeias. (na foto abaixo, de Ricardo Cozzo, vista parcial de Monte Verde)
          Já Tiradentes, é uma das mais ricas cidades na arte barroca no Brasil, além de sua excelente estrutura para receber os turista. Tiradentes e Monte Verde chegaram ao topo do turismo nacional, na classificação A em 2018. (na foto abaixo da Elvira Nascimento, Tiradentes MG)

          Em 2019, foi a vez de Poços de Caldas, no Sul de Minas, Belo 
Horizonte e Uberlândia, serem alçadas a categoria A. O objetivo dessa categorização dos municípios é valorizar o setor e facilitar o direcionamento de investimentos.
          A classificação do desempenho do turismo nas cidades brasileiras são divididas em letras que vão de A a E, levando-se em conta o número de empregos gerados, estabelecimentos formais de hospedagem, arrecadação de impostos federais, e estimativas de fluxo de turismo domésticos e internacional. 
          Os municípios que estão na letra A, estão no topo. Essa classificação serve como base para os municípios pleitearem verbas federais de incentivos ao turismo, destinada proporcionalmente aos municípios classificados entre as letras A e D.
              Dos 853 municípios mineiros, 471 estão classificados, segundo dados do Ministério do Turismo, além de Tiradentes, está o cantinho da Europa em Minas, a charmosa e atraente Monte Verde (na foto acima de Ricardo Cozzo). Em 2019, Belo Horizonte, Poços de Caldas, no Sul de Minas e Uberlândia, no Triângulo Mineiro subiram para a categoria A.
          Belo Horizonte, (na foto acima de Elvira Nascimento), dispensa comentários, é a Capital de Minas, com uma excelente rede gastronômica e hoteleira, dezenas de parques, praças, teatros, monumentos, igrejas e arquitetura variada. É uma das principais cidades do mundo. 
           Poços de Caldas, (na foto acima de Luis Leite, o portal de entrada da cidade), é uma das mais importantes estâncias hidrominerais de Minas Gerais. Cidade charmosa, arborizada, com ótimas opções de turismo, hospedagem e gastronomia. Além das suas águas sulfurosas, minerais, radioativas e medicinais, é uma cidade muito procurada por turistas em busca de saúde, sossego, cultura e bem estar.
          Uberlândia, (na foto acima da Cris Ferreira), dispensa comentários. A maior cidade do interior mineiro e uma das maiores do Brasil, é uma das mais desenvolvidas e ricas cidades do país, com ótima estrutura para o turismo, principalmente o turismo de negócios.


As belezas do Vale da Gurita em Delfinópolis

(Por Arnaldo Silva) Delfinópolis é uma encantadora e charmosa cidade, se destacando em Minas por suas belezas naturais, principalmente, cachoeiras. O município fica na Região Sudoeste de Minas Gerais, a 430 km de Belo Horizonte e faz limites territoriais com os municípios de Cássia, Ibiraci, Passos, Sacramento, São João Batista do Glória e São Roque de Minas. Segundo o IBGE, conta em 2022 com 8.393 habitantes. (na foto acima do Felipe Brazão/@fbimangensareas, a Cachoeira do Zé Carlinhos)
          Delfinópolis é um verdadeiro paraíso para o ecoturismo. É um presente de Deus para Minas Gerais. É uma cidade tranquila, pacata, rica em cultura e belezas naturais. A cidade é para quem quer descansar, curtir a natureza, cachoeiras e relaxar completamente. Município com muitas pousadas, restaurantes e atrativos turísticos sendo hoje uma rota crescente de trilheiros e admiradores da natureza.(na foto acima e abaixo, do Wallace Melo, capelas do Vale da Gurita)
          Faz parte do circuito turístico Nascentes das Gerais, tendo como principais atrações turísticas o Complexo do Claro, um conjunto de cachoeiras localizadas próximas ao centro da cidade, o Parque Nacional da Serra da Canastra, que ocupa boa parte de seu território, o Vale da Babilônia e o Vale da Gurita, pouco conhecido, mas um lugar onde estão concentradas paisagens e cachoeiras deslumbrantes. Todas as cachoeiras do Vale da Gurita podem ser visitadas num único só dia. 
          Além da beleza sem igual, o Vale do Gurita oferece uma ótima estrutura para o visitante com guias, pousadas e restaurantes da Dona Doca, da Cachoeira do Ouro, da Cachoeira do Melado e Lar da Serra. (fotos acima e abaixo do Wallace Melo)
          Pelas trilhas de Delfinópolis é difícil não encontrar uma cascata ou uma cachoeira. Não se sabe ao certo quantas são, mas está entre 150 a 200 cachoeiras. Pode ser considerada a cidade das cachoeiras. E como são belas essas cachoeiras. São impactantes!
Para conhecer a região de Delfinópolis, sugiro um 4x4 já que estradas são terras, passando por córregos e matas. Um carro comum terá dificuldades pelo caminho. Veículos com guias especializados são encontradas na cidade. Melhor usar esses serviços.
Mas vale a pena. São tantas paisagens e tantas cachoeiras que não dá para mostrar todas aqui, claro, por isso o foco é o Vale da Gurita, um lugar de gente pacata, simples, que fazem de tudo para agradar a todos e mostrar o melhor da Gurita, que são suas cachoeiras e culinária com restaurantes e pousadas e queijaria que produz um queijo de primeira.
E não é um queijo comum não. O queijo do Vale da Gurita, do produtor Arnaldo Ribeiro, ganhou medalha de prata no Mondial Du Fromage na França em 2017. Esse concurso internacional é considerado a copa do mundo dos queijos. No último concurso, em junho de 2019, o mesmo queijo foi premiado com a medalha super ouro. É hoje um dos melhores queijos do Brasil e do mundo, reconhecido internacionalmente. O queijo do Vale da Gurita tem um sabor suave e levemente picante. A qualidade do queijo vem de um conjunto de fatores como manejo do gado, pastagens de qualidade, clima e qualidade do leite do gado Caracu e Girolando. O leite desse gado tem maior teor de gordura, caracterizando o sabor diferente e especial do queijo. Na maturação, uma leve cor dourada predomina, com cobertura de mofo branco, que dá o sabor do queijo, considerado único. Só tem no Vale da Gurita. Por isso o queijo é especial e merecedor das medalhas em concursos nacionais e internacionais conquistadas.
Cachoeira do Zé Carlinhos 
          Agora vamos às cachoeiras. A mais interessante, em minha opinião, é a do Zé Carlinhos (na foto acima do Wallace Melo). Fica a 33 km do Centro de Delfinópolis, numa propriedade particular, com acesso aberto a visitantes, com pagamento de uma taxa por pessoa. A Cachoeira do Zé Carlinhos chama atenção pela beleza e perfeição da natureza. A queda é pequena, mas em seu entorno, as águas formam um poço circular, com bancos de areia rodeada por uma paisagem nativa impressionante.
Complexo da Maria Concebida
          Chamada de Fazenda das Águas Quentes é uma das mais visitadas da região, graças as suas águas quentes. (foto acima de Conceição Luz) A temperatura da água chega a 30º. Um convite ao relaxamento e sossego total, num lugar tranquilo e de muita paz. Fica a 22 km do Centro de Delfinópolis, em propriedade particular, com taxa de visitação por pessoa. 
Para chegar até o complexo, passará por essa ponte de tábuas, suspensa por cabos de aço, na foto acima do Wallace Melo.
A Cachoeira do Ouro
Esse complexo, distante 35 km do Centro da cidade, é formado por várias cachoeiras, com ótima estrutura para receber os visitantes, inclusive restaurante com comida caseira deliciosa. É o restaurante da Doca. Suas águas e todo o ambiente em redor, com pequenos poços, são propícios para hidromassagem natural e relaxamento. 
Por fim, um convite a todos para conhecerem Delfinópolis e toda sua beleza natural, cultural e gastronômica, principalmente o Vale da Gurita, um lugar único em Minas. (foto acima de Wallace Melo) Seus poucos moradores tem orgulho de viverem no Vale e nem pensam em sair de lá. O Vale da Gurita, além de belezas naturais, tem história e muita cultura, preservada há mais de século como a Folia de Reis e Folia das Almas,manifestadas entre dezembro e janeiro.
Como chegar: Chegando à cidade, o visitante deve procurar o Centro de Apoio ao Turista que fica na Av. Antenor Pereira de Morais, 330. O telefone é (35) 3525-1662.
Distâncias: De Capitólio até Delfinópolis são 126 km pela MG 050 e BR 464; São Paulo: 420 km pela BR 381 e até Perdões MG, pegando a MG 050; Belo Horizonte: 401 km pegando a BR 381, até Perdões, entrando na MG 050.

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