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quinta-feira, 12 de outubro de 2023

João Alves: o artesão que preserva a tradição da arte em barro

(Por Arnaldo Silva) Um dos grandes artesãos de Minas Gerais. Suas obras impressionam e emocionam pela simplicidade história que cada peça conta. Isso porque o artista transfere para o barro a sua experiência e vivência, dando assim vida, emoção e história às peças, mas também a história da vida cotidiana do povo simples, do trabalhador e da religiosidade inocente do nosso povo.
          Não são apenas contornos humanos moldados no barro. São peças que expressam as emoções e sentimentos do artesão em cada cena que retrata em sua arte. É a beleza do artista que transfere para a arte o seus sentimento, amor, conhecimento e sensibilidade. (fotos acima de autoria de Thelmo Lins)
          Não são simples obras moldadas à mão e sim, obras moldadas com o coração. E para o nosso coração se dirige. Impossível não se emocionar com a riqueza expressada na história que cada peça retrata.
Quem é o artesão?
          O artesão que falamos é João Alves. Nascido em 24 de junho de 1964, em Tingui, comunidade rural de Rio Pardo de Minas, no Norte de Minas, a 732 km de Belo Horizonte, João Alves é o caçula de uma família de quatro irmãos. Seu pai, Aldemar Alves Martins (“Seu” Dena) e Braulina Alves (Dona Bróla), já falecidos, vieram para a cidade vizinha de Taiobeiras em busca de uma vida melhor, quando João Alves tinha apenas 5 anos. (fotografia acima de autoria de Lori Figueró - Acervo de João Alves, fornecida pelo artista)
          De família muito humilde, seu pai trabalhava na olaria Piuna, de propriedade do conhecido João da Cruz Santos, o João Lozim. Sua mãe era ceramista. Era João Alves que levava o almoço todos os dias para seu pai. João Alves cresceu nesse meio, do barro, numa região que a terra sustentava famílias, não só pelas olarias, mas sim pelo artesanato em barro, uma das mais antigas tradições do Norte de Minas.
Artista autodidata
          Foi no ano de 1972 que o talento de João Alves começou a despertar. Em suas idas a olaria para levar o almoço para seu pai, João brincava com o barro na olaria, enquanto seu pai almoçava. Era uma diversão de criança. Fazia cavalinhos e cachorrinhos.
          Como a fé estava presente no dia a dia do povo, começou a moldar, no barro, elementos da tradição e fé religiosa. Isso despertou em João Alves sua vocação. Era um artista autodidata. Suas mãos tinham habilidades para moldar o cotidiano, a fé, tradições e a vida do povo de sua cidade e do Norte de Minas. (imagens acima de autorias não informadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Como vivia em uma região onde a vida era dura e fé e confiança do povo do sertão eram característica do povo, João Alves começou a se inspirar em sua própria história, nas histórias de seus antepassados e das pessoas que convivia.
A religiosidade e fé com inspiração
          A fé, os sentimentos, sofrimentos e a religiosidade do povo, junto com a simplicidade, o cotidiano de suas vidas no cuidado com os filhos, nas atividades da roça, no descascar do milho, do trabalho no pilão, nos momentos de fé, no andor que levava os santos nas procissões, no cozinhar no fogão a lenha. São essas cenas que João Alves retrata em suas obras. (imagens acima de autorias não informadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Cercado pela beleza da riqueza cultural do Norte de Minas e se inspirando na fé, simplicidade, jeito de se vestir e as manifestações religiosas do Norte de Minas, João Alves começou a moldar suas peças retratando o cotidiano do povo simples, dos ofícios e modo de vida e do dia a dia de suas vidas, tendo como inspiração a cultura afro-brasileira e o cotidiano de seus parentes, o povo da roça, fogão a lenha, em sua mãe que benzia, sua avó, que fiava, as festas e manifestações de fé do povo de sua comunidade.
Suas primeiras obras
          Desde cedo, suas habilidades na arte de moldar o barro impressionavam tanto que começou a chamar atenção dos vizinhos que logo começaram a adquirir as peças para decorarem oratórios e presépios, uma forte tradição em Minas Gerais. Aos 8 anos, João Alves moldava os 3 reis magos, os animais, anjos, José e Maria, personagens presentes no nascimento do menino Jesus.
          Com o tempo João Alves foi crescendo e aprimorando sua técnica com o artista buscando outros temas para moldar suas peças, sempre inspirando na simplicidade e cotidiano do povo de sua cidade e também na história que os mais velhos lhe contava.
          Sua primeira peça, fora da temática religiosa, foi inspirada em sua avó, fiando algodão. A partir desta obra, começou a fazer outras peças retratando o dia a dia do povo, contando suas histórias através da arte em barro. Foi a partir daí que seu trabalho começou as expressivas e impactantes formas, caracterizando seu estilo próprio, com as peças tendo vida, história e expressando seus sentimentos. (imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          O artista contou com o apoio de sua esposa, que aprendeu a manusear o barro para, com seu marido, se dedicar a arte que se tornou a fonte de renda da família.
Talento reconhecido
          Com o tempo, o talento de João Alves se expande para a região, além do artista participar de feiras, eventos e exposições. Isso despertou interesse de amantes da arte mineira, fazendo com que o interesse pela aquisição dos trabalhos de João Alves crescesse substancialmente, fazendo com que seu trabalho se expandisse e se tornasse conhecido em Minas Gerais e no Brasil.(imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          A arte que começou como uma brincadeira de criança, foi se aprimorando para a modelagem de peças para decoração de presépios e aprimorando com o tempo, ganhando novas formas e impressionando pela essência natural e simples as peças transmitem
          Isso porque o barro moldado por João Alves, conta histórias, retrata o dia a dia do povo geraizeiro e sertanejo, retrata a simplicidade da fé e religiosidade do povo do Cerrado.
A transformação da argila em cerâmica e arte
          Cada peça, leva em média 20 dias para ficar pronta. É um processo totalmente artesanal. Primeiro extrai-se a argila, deixa secar por 3 dias. Depois disso, a argila é socada no pilão e peneirada. Por fim, é amassada em uma gamela de madeira e deixada em descanso por 2 dias. (imagens acima sem autorias identificadas. Fotos fornecidas por João Alves)
          Somente após esse processo que começa a modelagem das peças e secagem ao natural. Esse processo dura duas semanas. Por fim, a peça é colocada no forno a lenha e queimada por 12 horas. Esse é o processo da transformação da argila em cerâmica. Após todo esse processo, o artista dá o acabamento e a pintura das peças.
Premiações
           A perfeição e simplicidade de suas obras, tornaram João Alves conhecido e premiado, não apenas em Minas, mas no Brasil e com reconhecimento no exterior.
          João Alves foi premiado em 2005 com o quarto lugar no prêmio da Unesco de Artesanato da América Latina e Caribe. Unesco é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. É uma agência especializada da Organização das Nações Unidas (ONU) com sede em Paris, capital francesa. 
          A entidade tem como objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo através da educação, ciências naturais, humanas, sociais, além da comunicação e informação. Daí a importância dessa premiação a João Alves. 
          Foi a partir dessa premiação em 2005, que o talento de João Alves se expandiu para todo o país, além de sua participação em exposições, feiras e eventos culturais por todo o Brasil.
          Durante a 5ª Edição do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, realizado no Rio de Janeiro em 2022, João Alves entrou para a lista dos 100 melhores artesãos do Brasil, tendo sido eleito entre 1.208 artesãos de todas as regiões do país que participaram dessa edição. (imagem acima fornecida por João Alves)
          A premiação tem caráter técnico-científico e tem como objetivo promover as melhores práticas artesanais do Brasil, tendo como base a qualidade técnica, estética, inovação, melhoria contínua do desenvolvimento da arte e experiência comercial.
          Com a premiação, os 100 escolhidos ganham reconhecimento nacional, além do direito de usar o selo Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato.
Obras únicas
          O talento de João Alves e os detalhes expressivos nos moldes de suas peças, são marcas de um talento refinado e envolvente que encanta, impressiona e emociona. São obras únicas, carregadas de sentimentos e histórias reais. (imagens acima de autoria do fotógrafo Lori Figueiró - Fornecidas por João Alves)
          Não só isso, sua origem, sua trajetória e sua paixão e perseverança é um exemplo para as novas gerações. De uma simples brincadeira de criança, surgiu um dos grandes nomes da arte em barro do Brasil. Fruto de seu amor e dedicação à arte de moldar a história de seu povo no barro.
          O contato com o artesão João Alves pode ser feito através do WhatsApp 38-9103-0054.
(Nota: As fotos fazem parte do acervo do artesão João Alves, que nos forneceu as imagens para ilustrar a reportagem, sem contudo precisar a autoria individual das imagens. Caso autores das imagens que não tenha a autoria citada, nos informe para que os créditos autorais sejam citados.) 

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

13 distritos mineiros que vão fazer você se apaixonar – Parte VI

(Por Arnaldo Silva) Esta é a quinta parte com 13 pacatos e charmosos distritos de Minas Gerais. Já foram feitas as partes 1, 2, 3, 4, 5, e essa é a sexta parte. Em Minas Gerais, segundo dados da Fundação João Pinheiro, são atualmente 1.816 distritos e 853 cidades, além de mais centenas de vilas e pequenos povoados. Não dá para postar tantos distritos de uma vez só, por isso optamos por dividir a matéria em partes. Conheça 13 acolhedores, pacatos, charmosos e apaixonantes distritos mineiros.
01 – Tabuleiro do Mato Dentro
          É distrito da cidade histórica de Conceição do Mato Dentro MG, a 167 km de Belo Horizonte, na Serra do Espinhaço. O distrito está distante 20 km da sede.
          Tabuleiro é uma joia colonial do Espinhaço. É uma típica vila mineira, casario colonial charmoso, uma igreja típica do Barroco Mineiro, erguida no alto de uma colina, campo de futebol, tradicionais vendas, botecos e mercearias. Na pitoresca vila colonial vivem mais de 1250 pessoas. É um povo simples, acolhedor, hospitaleiro e muito bom de prosa. (foto acima de Marselha Rufino)
          Pra quem não sabe, o distrito recebeu no século XIX algumas famílias de imigrantes alemães que vieram para a trabalhar na siderurgia, já que a região contava com várias de minério de ferro. Uma dessas famílias era a Utsch, especialistas sem siderurgia. Trabalhavam numa siderúrgica fundada em 1822, na região onde é hoje o distrito de Cubas, que tem esse nome devida a medida, “cuba”, usada para pedir o ferro e o aço. 
          O porque Tabuleiro tem esse nome é incerto, apenas história oral, contada pelo povo. Segundo uma dessas histórias, o nome é em alusão a aparência das serras que lembram um tabuleiro. Outros dizem ser referência ao tabuleiro utilizados no século XIX e XX usados pelos moradores da região no transporte de mercadorias até a cidade de Conceição do Mato Dentro. Há ainda a versão que tabuleiro surgiu com os canteiros de plantações da época de sua origem, que tinham o formato de um tabuleiro. (fotografia acima do @gustavosimoes.art)
          A base econômica do distrito é a agricultura familiar, mas devido a Cachoeira do Tabuleiro e os parques ambientais, é o turismo que movimenta a economia do distrito, principalmente nas lojinhas de artesanato, botecos, restaurantes e pousadas locais que atendem todos os gostos e bolsos. Toda a comunidade do distrito, seja na área urbana da vila ou rural, estão inseridas no contexto do turismo.
          Tabuleiro é o distrito mais conhecido e visitado de Conceição do Mato Dentro devido a Cachoeira do Tabuleiro, a maior cachoeira de Minas, com 273 metros de queda, o equivalente a um prédio de 91 andares. É a terceira maior cachoeira do Brasil. O poço formado por suas águas tem cerca de 20 metros de profundidade, rodeado por blocos de pedras e também, com muitas pedras submersos. Pra completa toda essa beleza no entorno da cachoeira existem belíssimos jardins naturais com orquídeas, sempre-vivas e bromélias gigantes.
          A cachoeira está na área do Parque Natural Municipal do Tabuleiro e no Parque Estadual da Serra do Intendente, ambos pertencentes ao distrito de Tabuleiro. (fotos acima de Nacip Gômez)
          É tão impactante e linda que foi eleita com 40 mil votos em concurso realizado pelo Instituto Estrada Real, órgão ligado à Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), como uma das 7 maravilhas da Estrada Real.
02 - Furquim
          Com origens nos primeiros anos do século XVIII, o distrito foi criado oficialmente em 16 de fevereiro de 1718. É histórico de Mariana, na Região Central, distante 28 km da sede e a 120 km de Belo Horizonte.
          O distrito é formado ainda pelos subdistritos de Goiabeiras, Cuiabá, Constantino, Gurujanga, Curvanca, Margarida Viana, Paraíso, Pedras e Crasto. No distrito e subdistritos, vivem cerca de 2 mil pessoas. (fotos de Leandro Leal)
          Seus moradores vivem da Agricultura Familiar, com destaque para a produção artesanal de doces caseiros como a goiabada e doce de leite, cachaça de alambique, queijos, quitandas, cultivo de hortaliças diversas e pequenas lavouras, como de milho.
          O artesanato é outra forte atividade em Furquim com destaque para confecção de tapetes de pita; flores e balaios de palha; esteiras e peneiras de taquaras de bambu; chicotes, cabrestos e bolsas de couro; bordados e crochês; pintura em tecidos; artesanato feito com pedra sabão como esculturas, panelas e arte decorativa; e também, artesanato em madeira como móveis rústicos, gamelas, colheres de pau e pilões.
Origem de Furquim
          Seu nome tem origem em Antônio Furquim da Luz, sertanista que fundou o Arraial dos Furquim nos primeiros anos do século XVIII. Foi Antônio Furquim o descobridor de minas de ouro na região, tornando-a um efervescente centro de mineração.
          Como todo arraial do interior mineiro, tinha como centro de fé uma igreja ou capela. Em Furquim, a fé no Bom Jesus do Monte. Uma pequena capela foi erguida 1704, começou a ser ampliada a partir de 1745, tendo sido concluída no século XIX.
          Uma obra setecentista rica em detalhes das ornamentações, talhas pinturas do estilo Joanino. Conta com belíssimos acervos sacros, que contribuíram com a igreja ao longo de sua construção renomados arquitetos, construções e artistas da época como Francisco Xavier Carneiro, Francisco Machado Luz, José Pereira Arouca. Sua importância para a história do Brasil Colônia é tão grande que a Igreja foi tombada em 1949 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)
          Em 1745, é instalado nas proximidade da capela o Cruzeiro Patriarcal, hoje um das principais atrações turísticas da Vila Colonial Barroca de Furquim. Além disso, em Furquim a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e os Dozes Passos da Via Sacra, são outros atrativos, juntamente com seu preservado e charmoso casario colonial. (fotos acima de Leandro Leal)
          Furquim preserva sua história, seu passado e suas características há três séculos. Uma vila colonial, tipicamente mineiro com casario colonial, simplicidade e requinte em suas construções, principalmente nos adornos e talhas de seus casarões e igrejas históricas.
Atrativos de Furquim
          A Matriz e o Cruzeiro do século XVIII são marcos da história de Furquim, bem como sua antiga estação ferroviária, reformada e preservada. Inaugurada em 28/08/1926, a estação fazia parte do ramal Ponte Nova. Ligava Furquim a estação Miguel Burnier em Ouro Preto MG, na época, capital da província de Minas, até Ponte Nova. Reformada, funciona atualmente na antiga estação um Centro Cultural.
          Além disso, Furquim tem como atrativos o encontro das águas do Ribeirão do Carmo com o Rio Gualaxo do Sul, a Cachoeira de Rosa, no subdistrito de Pedras, a Cachoeira do Jadir e a Cachoeira do Pedro, no subdistrito de Cuiabá. Tem ainda a Pedra do Urubu, o Rio do Coito e o Rio Gualaxo como atrativos naturais e a Ponte dos Macacos, a Fonte da Gameleira.
          Furquim conta com boa estrutura urbana para atender os turistas como pousadas, botecos e restaurante com comida típica, pequeno comércio onde o visitante encontra os produtos locais como queijos, doce e artesanato, além de poder acompanhar as tradicionais festas religiosas como Semana Santa, Corpus Christi, o Dia do Padroeiro, a Festa de virada de ano e do Furquiense ausente, em 1° de janeiro, Mês de Maria, Festa da Virgem do Carmelo em 16 de julho, Festas Juninas, dentre outras.
03 - Porto dos Mendes
          Porto dos Mendes é distrito de Campo Belo, município da região Oeste de Minas, distante 226 km de Belo Horizonte. O distrito, está na divisa de Campo Belo com Nepomuceno e por isso conta com dois portos, um em cada cidade. Isso porque Porto dos Mendes é banhado pelo Lago de Furnas e a travessia é feita e barcos e balsas. 
          São dois portos. O porto “De Cá” como chamam o porto do lado de Campo Belo e o porto “De Lá”, como é mais chamado o porto de Nepomuceno, embora seu nome antigo seja Porto Sapecado. Mas é mais fácil falar “porto de lá” e “porto de cá”. (na foto acima do Daniel Souto)
          Além dos dois portos, as atividades de pesca e náutica, as balsas transportam carros, ônibus e tudo que puder sobre as águas do Lago. Porto dos Mendes é um dos mais importantes atrativos distritos de Campo Belo, não apenas pelo Lago de Furnas, mas por sua história e origem.
          Porto dos Mendes surgiu de um povoado formado no século XVIII, com o nome de Vila São Sebastião de Porto dos Mendes. Em 9 de agosto de 1864 foi elevado a distrito, passando a ser apenas chamado de Porto dos Mendes.
          É uma charmosa, pacata e atraente vila mineira, formada por pessoas igualmente pacatas, acolhedores e hospitaleiros. Tem ainda como destaque a Igreja de São Sebastião, construída em meados do século XVIII, o Cruzeiro no alto da serra, matas nativas, trilhas ecológicas e belas cachoeiras. (foto acima de Daniel Souto)
          Lugar com boa estrutura para receber turistas, conta com bons restaurantes, bares e pousadas, tanto em Campo Belo e Nepomuceno, quanto na própria vila. Lugar ideal para passeios em família, pesca esportiva, passeios de barcos e ainda para quem gosta de viajar pelos encantos da simplicidade das vilas coloniais mineiras.
04 - Chacrinha dos Pretos
          É distrito de Belo Vale, no Vale do Paraopeba, distante 82 km de BH.
          A comunidade da Chacrinha dos Pretos tem origem no século XVIII, há mais de 180 anos. Foi formada entre as fazendas Chácara e Santa Cecília, que pertenceu ao Coronel José de Paula Peixoto, influente fazendeiro que tinha o apelido do valor sua fortuna, “Milhão e Meio”. (fotos acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
          Por influência de sua esposa, a qual amava muito, não seguia os padrões no trato com os escravizados na época. Tratava-os bem. Após sua morte, sua esposa alforriou todos os escravos da fazenda. Além isso, como herdou toda a propriedade de seu falecido esposo, colocou em testamento os escravos que alforriou como seus herdeiros diretos. Após a morte da viúva do coronel “Milhão e Meio”, os escravos alforriados assumiram a posse legal da fazenda, de acordo com a vontade da viúva do coronel “Milhão e Meio”.
          A área da antiga fazenda e onde foi formado o quilombo da Chacrinha dos Pretos, formam um sítio arqueológico de grande valor histórico para a cidade e região por ter sido o início da formação do Quilombo. É um bem tombado como Patrimônio Cultural e Material de Belo Vale MG, através do Decreto N° 1240/2011, devido sua grande importância para a história da comunidade quilombola da região. (fotos acima de Mauro Euzébio/@mauroart)
          Além disso, Chacrinha dos Pretos é uma comunidade quilombola certificada pela Fundação Cultural Palmares. Isso garante que os moradores de Chacrinha dos Pretos tem origem em comum e tem como base a preservação dos valores de seus antepassados, bem como a preservação de suas práticas culturais, além de preservarem a identidade cultural e histórica da comunidade.
          Os moradores atuais, descendentes os quilombolas que formaram a comunidade, realizam manifestações culturais, religiosas e folclóricas no sítio arqueológico, onde começou o quilombo. Isso por ser um lugar de uma riqueza histórica e cultural impressionante, bem como a história da formação do quilombo que se formou na fazenda, totalmente diferente da origem dos quilombos na época.
05 - Padre Pinto (Caxambu)
          É distrito do município de Rio Piracicaba, no Médio Piracicaba, distante 127 km de Belo Horizonte. O distrito conta com cerca de 1500 moradores e está a 5 km da BR-381, a 14 km do centro de Rio Piracicaba e possui uma boa estrutura urbana.
          É um lugar simples, pacato, sossegado, com povo acolhedor e bastante hospitaleiro, que se orgulha de sua comunidade, de preservar suas festas tradicionais, principalmente religiosas e ainda, valorizam e respeitam a memória de seus antepassados, principalmente os de origem africana. O distrito tem raízes históricas no tempo da Mineração e Escravidão. (fotografia acima do Duva Brunelli)
          Durante o ano ocorrem eventos populares, folclóricos e religiosos em Padre Pinto, com destaque para a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a tradicional Congada. Além disso, no mês de maio, acontece a tradicional Festa do Boi Fogueira, uma tradicional festa folclórica com danças e cantigas de roda.
          Seu nome de origem era Caxambu, passando a se chamar Padre pinto, em homenagem ao padre Manoel Fernandes Pinto Coelho, a partir de 8 de agosto de 1927. Mesmo alterando o nome, Caxambu é o nome mais popular, devido existir no distrito a Comunidade Quilombola Caxambu.
          Uma charmosa vila, com um casario antigo em estilo colonial, eclético e moderno, povo simples, acolhedor e de fé. Além de igreja católica, construída em 1911, em Padre Pinto existem duas igrejas evangélicas. Seus moradores vivem da agricultura familiar. (foto acima de Duva Brunelli)
          Sua antiga usina elétrica, é hoje patrimônio tombado de Rio Piracicaba. Além disso, Padre Pinto é um dos distritos de grande importância cultural para a cidade por sua história e tradições populares, oriundas do tempo da Escravidão.
          Por sua origem africana, a comunidade Caxambu, em Padre Pinto é área reconhecida pela Fundação Palmares como comunidade Quilombola. O Quilombo de Caxambu, que significa, na língua africana que para alguns historiadores a junção dos vocábulos cacha (tambor) e mumbu (música). Mas há outros historiadores que afirmaram que seu significado seria a junção dos vocábulos de caa (mato), xa (ver), umbu riacho, sendo então mato que vê o riacho.
A família Alcântara de Caxambu
          É em Caxambu (Padre Pinto) que vive a Família Alcântara, que forma o coral Família Alcântara. Fundado há mais de meio século, o coral já está na quarta geração da família.
          A Família Alcântara, bem como todos que vivem no Quilombo, é formada por descendentes de escravos trazidos de Angola, por volta de 1760 para trabalharem nas fazendas da região.
          A história da Família Alcântara, bem como o coral é conhecida e reconhecida em Minas, no Brasil e também no mundo. O coral tem discos gravados, já fizeram várias apresentações em várias cidades e festivais e também em programas de TVs, entre eles do programa de Jô Soares, na Rede Globo, além de terem sido tema de documentário produzido e exibido pela TV Rede Minas.
06 - Bom Jesus do Vermelho
          Bom Jesus do Vermelho é distrito subordinado a Santa Rita do Ibitipoca, município distante 70 km de Barbacena e a 241 km de Belo Horizonte, nos limites territoriais com Ibertioga, Piedade do Rio Grande, Santana do Garambéu, Lima Duarte, Bias Fortes e Antônio Carlos, no Campo das Vertentes com a Zona da Mata. O acesso é pela MG-135 E MG-338. (foto acima de André Duarte)
          Bom Jesus do Vermelho é uma pequena vila típica do interior mineiro, com uma singela igreja, praça, um casario colonial bem cuidado, destacando as velhas e antigas vendas, como a Venda Salles, como podem ver nas fotos acima do André Duarte, a Venda, a Igreja e o casario visto da entrada da vila.
          Seu povo é simples, hospitaleiro, valorizam suas tradições folclóricas, religiosas e a tradição mineira dos tempos dos tropeiros e boiadeiros, presente nas cantorias da tradicional música caipira mineira, além da culinária mineira, principalmente as quitandas, sempre presente nas cozinhas mineiras e nas rodas de viola e sanfona, que sempre acontece nas casas e quintais da Vila.
          Lugar calmo e tranquilo, onde todos se conhecem. Na charmosa e pequena vila, vivem pouco mais de 1000 pessoas. Sua economia se baseia em pequenos comércios, na agricultura familiar e no turismo, já que a Santa Rita do Ibitipoca e seus distritos estão na área do Parque Estadual do Ibitipoca. Por esse motivo, restaurantes, bares e pousadas se encontra com facilidade no distrito, em Santa Rita e redondezas.
          Além disso, Bom Jesus do Vermelho oferece a seus moradores e visitantes um convívio pelo com a natureza, com trilhas diversas, cachoeiras, montanhas e as belíssimas paisagens paisagens do Parque do Ibitipoca, como por exemplo a Janela do Céu, principal atração do Parque, situado nas terras do município de Santa Rita, no qual faz parte Bom Jesus do Vermelho.
          Uma época boa para visitar Bom Jesus do Vermelho é julho, quando acontece a tradicional festa do Bom Jesus, com shows com bandas e artistas locais e regionais, barracas com comidas típicas, celebrações religiosas, dentre outras atrações.
07- Coco
          Coco é uma típica e tradicional Vila Colonial Mineira, distrito de Moeda MG, no Vale do Paraopeba, distante 60 km de Belo Horizonte.
           O casario colonial, típico do período barroco é um dos atrativos do distrito, suas belezas naturais nativas como matas nativas, trilhas, cachoeiras, bem como a Igreja do Sagrada Coração de Jesus. É uma igreja simples, mas com talhas, entalhes, forros e ornamentos requintados, típicos da arte sacra da século XIX e XX. (fotografia acima de Evaldo Itor Fernandes, o casario e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus)
          Tanto a Igreja, quando a formação do povoado, tem origens no século, segundos os moradores mais antigos. Seu povo tem orgulho de sua comunidade, de sua igreja e recebem muito bem os visitantes, como todo bom mineiro. A principal atividade econômica de Coco é agricultura familiar, turismo e pequenos comércios. 
08 – Betânia
          É distrito da de Pedra do Indaiá, no Oeste de Minas, distante 174 km de BH. Em Betânia vivem cerca de 700 pessoas. Está situado no KM 145 a MG-050, entre Divinópolis e Formiga MG.
          É uma pequena vila, que tem como base econômica a extração de pedras que são trabalhadas para serem usadas em calçamento, mistura em concreto e outros usos. Por esse motivo, a vila é pavimentada e conta com uma boa estrutura, poluição zero e um povo muito hospitaleiro e gentil. (fotografia de Maurício Soares)
09 – Córrego do Nhonhepe
          É distrito da cidade de Tarumirim, distante 344 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. Um típico povoado mineiro, com um povo simples, acolhedor e hospitaleiro que vive a agricultura familiar. Um lugar calmo, pacato, tranquilo, um casario no estilo colonial bem simples e aconchegante.
          Segundo Romário e Priscila/@viagens_por_minas, que nos forneceu as fotos  informações, Nhonhepe é lugar de gente de boa prosa, e tem como referência a tradicional Venda do Djalma, na ativa desde 1973. É aquela charmosa venda que ao mesmo tempo é boteco, lugar de contato social da vila e onde você encontra de tudo e mais um pouco. É mais que um ponto de encontro dos moradores da vila, é um lugar para rever os amigos, fazer amigos, prosear bastante e vivenciar o dia a dia de uma típica venda do interior.
          Atrás do balcão está o Sr. Djalma, sempre simpático e que adora uma boa prosa e os fregueses, também, bons de prosa e fazem amizades bem fácil. É um lugar em que todos são de casa.
10 - Porto Alegre 
          Porto Alegre é distrito de Moeda MG, Vale do Paraopeba, distante 60 km de BH. Tem origem no início do século XVIII, quando chegou à região, as bandeiras lideradas por Fernão Dias Paes Leme. Aportaram em um pequeno arraial onde viviam algumas poucas pessoas que trabalhavam na agricultura, já que em sua origem, desde o final do século XVII, o Vale do Paraopeba era uma região de produção de alimentos, devido à qualidade de suas terras. Eram pessoas simples, muito alegres e receptivas.
          O pequeno vilarejo ficava no encontro das águas do Ribeirão da Barra com o Rio Paraopeba. Esse encontro de águas formava um porto era usado ancorar embarcações que fazia a travessia do rio, levando e trazendo alimentos, além de pessoas. Por isso o nome dado ao lugar, Porto Alegre.
          Seu crescimento foi devagar, em torno da igreja do seu padroeiro, o Senhor Bom Jesus. Inclusive, a Igreja do Senhor Bom Jesus de Porto Alegre é um dos seus principais atrativos, bem como a beleza e o charme do seu casario colonial, suas belezas naturais e belas cachoeiras, além claro, da alegria de seu povo, que faz jus ao nome do lugar. (fotos acima de Evaldo Itor Fernandes)
11 – Conceição de Minas
          É distrito do município de Dionísio, distante 189 km de Belo Horizonte, na Região do Vale do Rio Doce, compondo o Colar Metropolitano do Vale do Aço, nos limites territoriais com os municípios de São Domingos do Prata, Timóteo, Marliéria, São José do Goiabal.
          Conceição de Minas é uma pequena e pacata vila, onde vivem pouco mais de 1000 pessoas. Foi elevado a distrito em 30 de dezembro de 1962. O acesso é pela BR-381, com entrada pelo entroncamento da BR-381 em Dionísio e mais 30 km em rodovia pavimentada.
          Seus moradores vivem da agricultura família e pequenos comércios.
          A vila é sossegada e bem tranquila. Conta boa estrutura para seus moradores com igreja, pracinha, academia ao ar livre, ruas calçadas com bloquetes, um simples mas charmoso casario. É um lugar gostoso de se viver.
12 – Baixa Verde
          É distrito de Dionísio MG a 189 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce. Em Baixa Verde vivem cerca de 3 mil pessoas que vivem de pequenos comércios, da agropecuária, da extração de madeira e de carvão vegetal, além do artesanato feito com fios, pinturas e trabalhos no estilo Barroco, que contribui para a movimentação da economia local.
          O distrito conta com uma boa estrutura urbana com escola de ensino fundamental e médio, Unidade Básica de Saúde, Agência dos Correios, abastecimento de água e coleta de esgoto, igrejas e praças. Enfim, é uma charmosa e atraente vila interiorana, com casario típico, povo hospitaleiro, que valoriza suas tradições e religiosidade. (foto acima de Duva Brunelli)
          Em Baixa Verde, matas nativas de Mata Atlântica bem preservadas, são atrativos, bem como dezenas de lagoas naturais, além da beleza do Rio Mumbaça.
13 – Conceição de Tronqueiras
          É distrito de Coroaci, no Vale do Rio Doce, distante 306 km de Belo Horizonte. Faz limite territorial com Sardoá, Peçanha, Governador Valadares, Nacip Raydan, Marilac e Virgolândia.
          É uma pequena e pacata vila, típica do interior mineiro com praça, matriz, festividades religiosas, um casario bem cuidado. (fotografia acima de Duva Brunelli)
          Seu povo é muito religioso, acolhedor, hospitaleiro e adoram uma boa prosa. Além disso, Conceição de Tronqueiras conta com uma boa estrutura urbana para seu moradores que vivem basicamente de pequenos comércios e agricultura familiar.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Receita da broa João-deitado do Cerrado

A broa João-deitado, Cobu ou Bolo Pau-a-pique, tem cheiro saudade e gosto de infância. É uma das mais saborosas quitandas de Minas.
INGREDIENTES
. 1 litro de coalhada dissolvida em 700 ml de leite integral
. 1 quilo de fubá de canjica
. 500 gramas de farinha de trigo
. 250 gramas de manteiga derretida
. 1 concha rasa de banha de porco derretida
. 500 gramas de açúcar demerara
1 colher de sopa de fermento em pó dissolvido em 1 colher de sopa de leite integral em temperatura ambiente
4 ovos batidos ligeiramente batidos
. Sal a gosto
. Cravo moído e canela em pó a gosto
. Folhas de bananeira cortadas no formato 15x15 centímetros
MODO DE PREPARO
- Coloque em uma vasilha o fubá de canjica, a manteiga e a banha já derretidas. Misture bem
- Acrescente a farinha de trigo, o açúcar, o sal, o fermento em pó dissolvido no leite e mexa bem.
- Adicione os ovos e mexa novamente.
- Aos poucos, coloque a coalhada, mexendo até a massa ficar lisa e homogênea.
- Espalhe a canela, o cravo e misture.
- Peque as folhas da bananeira e com uma colher, vá pegando a massa e espalhando sobre as a folha.
- Enrole cada folha e amarre as laterais com um barbante ou linha da própria palha da bananeira.
- Leve para assar em forno a gás pré-aquecido a 250°C e deixe assando por 40 minutos
Retire do forno e sirva com um bom café e se quiser melhorar mais ainda o sabor, passe melado de cana ou com uma geleia de sua preferência que ficará ótima!
Fotos da broa da @merceariaparaopeba em Itabirito MG

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A venda do Cecé em Jaboticatubas

(Por Alexa Silva) Essa é uma típica venda mineira, também conhecida como armazém, fica em na histórica e tradicional cidade de Jaboticatubas MG, a 60 km de Belo Horizonte, na Serra do Cipó. Como toda vendinha do interior, tem de tudo...
          Café moído na hora, ovos caipira, fubá de moinho d'água, leite, queijo, rapadura, cerveja gelada, tira gosto, pinga, biscoitos caseiros, bolos, frutas, xampu, Presto-barba, soda cáustica, refrigerante, suco, vassoura, rodo, absorvente, água mineral, balde, fumo de rolo, galinha caipira, toucinho fresco, vela, papel higiênico, arroz, sal, açúcar, pão... Bem assim, tudo junto e misturado.
  
          Ahhh!!! Tava esquecendo o principal, tem Seu Cecé, dona Lia, e Nonô. Com atendimento maravilhoso, prosa boa, simplicidade, aconchego... Tudo tão lindo, tão simples, tudo tão Minas!
Texto e fotos da Venda do Cecé em Jaboticatubas de autoria de Alexa Silva/@alexa.r.silva

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Sabão de cinzas: tradição, origem e como fazer

(Por Arnaldo Silva) Lembramos com romantismo e saudosismo os velhos tempos na roça que nossos pais e avós viveram. A vida era mais tranquila, as famílias trabalhavam na roça, plantavam para comer. 
          Quase ninguém tinha dinheiro, mas não faltava nada. Plantavam e colhiam. Criavam galinhas e porcos. Tinha ovos, carne e gordura sempre. Roupas eram feitas na roda de fiar, com o algodão colhido que eles mesmos plantavam. (foto acima de @merceariaparaopeba em Itabirito MG)
           Não havia luz elétrica, usavam lamparina para iluminar a casa à noite. Na beira do fogão muita prosa, cachaça feita no alambique da comunidade e muitas quitandas. Tudo iluminado à luz de lamparina.
          Eram simples e a vida era simples. Mas não era fácil. A vida era dura, o trabalho era pesado. Começava antes do sol amanhecer e do galo cantar e encerrava depois que o sol se punha. Mas era um estilo de vida que deixou saudades, pela pureza e pela nostalgia. (foto acima do Igor Messias em Santana do Pirapama MG)
          Comparando com a realidade atual, não hesitamos em dizer que, mesmo sendo uma vida difícil, era melhor que a que temos hoje. E éramos mais humanos e as famílias mais unidades.
          Nossos pais e avós nos deixaram coisas boas desse tempo. Muitas delas estão em nossa memória e vida, mas outras foram esquecidas devido a modernidade. Uma dessas preciosidades esquecidas é o Sabão de Cinzas, também chamado de Sabão Decoada que é o processo de coar as impurezas da cinza antes de ser dissolvida na água.
O Sabão feito de Cinzas
          Passaram gerações e esse sabão acabou sendo esquecido e ao saber que existia, muita gente estranha existir um sabão feito com cinzas. Naqueles tempos difíceis, as famílias tinham que usar técnicas bem rústicas para manterem a higiene da casa e de si próprios. Sabonete e sabão, como conhecemos, existia, mas fora da alcance da maioria do povo que vivia no interior. Se não tinha como comprar sabão, faziam, aproveitando ingredientes bem fáceis e sem custo algum. (na foto acima, sabão de cinzas da @merceariaparaopeba em Itabirito MG)
          A cinza do fogão a lenha, água de cisterna e a gordura de porco, após o uso em várias frituras e já não estava mais boa para novas frituras.
          Não leva nenhum produto químico, como soda cáustica e nem precisa. Isso porque a cinza é rica em sais como o carbonato de potássio e o carbonato de sódio. Que dissolvida na água, exerce a mesma função da soda cáustica, com a vantagem de ser natural.
          Além disso, na cinza estão concentradas propriedades que tem a função de purificar e branquear. E o povo antigo sabia disso. Tanto é que as roupas claras encardidas, eram colocadas de molho com o sabão que faziam, com uma trouxinha amarrada com cinzas. No dia seguinte enxaguavam e colocavam para secar. A roupa ficava branquinha.
          A cinza é fácil de diluir em água porque concentra substâncias alcalinas, que são solúveis. Por isso mesmo, é usada desde tempos antigos para fazer sabão.
          Antigo que eu falo é antigo mesmo, não é nos tempos de nossos avós não. Há registros de sabão feito de cinzas há 2.800 anos antes de Cristo. Surgiu no oriente médio, na Babilônia. A arte de fazer sabão de cinzas passou a ser difundida na Europa pelos gauleses 600 anos a. C e principalmente durante o Império Romano.
Como fazer o Sabão de Cinzas
          O primeiro passo é preparar a decoada, que é mistura da água com cinza, misturada na gordura e aquecida no fogo até aprumar, ficando numa consistência bem grossa.
          Então vamos aprender fazer o sabão?
Você vai precisar de:
• 2,5 quilos de cinza de madeira
• 5 quilos de gordura de porco
• 5 litros de água de nascente ou cisterna.
Embalagem. Antigamente não embalavam o sabão, mas hoje, caprichosamente, como podem ver na foto acima, na Mercearia Paraopeba em Itabirito MG, passamos a embalar o sabão na palha da bananeira. Fica mais charmoso e bem no estilo antigo. Capricho de mineiro mesmo.
Dicas importantes:
- Não use a cinza de madeira de eucalipto porque, hoje, é uma madeira modificada geneticamente e nem de madeira de árvores transgênicas. Use a cinza da madeira nativa natural.
- Faça o sabão somente com a água de cisterna ou nascente. Não use água de torneira porque contém muito cloro e o sabão não vai prestar.
- Não use de jeito nenhum óleo de cozinha que temos em casa, comprados em supermercados, já embalados. São feitos com químicos e produtos transgênicos. É banha de porco mesmo, nada de óleo de soja, girassol, granola, etc.
- O sabão de cinzas bom é o feito com água, cinza e gordura de porco, natural.
Modo de fazer
- Recolha as cinzas, passe em uma peneira e retire as impurezas e gravetos não queimados.
- Faça a decoada, dissolvendo a cinza na água. Misture bastante até as cinzas se dissolverem por completo.
- Coe novamente na peneira para retirar o restante de cinza e impurezas.
- Coe também a gordura para retirar restos de alimento.
- Em um tacho, coloque a gordura. Quando estiver derretida, acrescente aos poucos a decoada e deixe fervendo por umas 2 horas. O sabão ficará na cor cinza escura.
- Demora, mas sempre dê uma olhada e mexa de vez em quando.
- Quando perceber que está adquirindo uma consistência bem firme, está chegando no ponto e mexa devagar, mas sem parar.
- Nesse ponto, mexa mais rápido até engrossar bem.
- Desligue o fogo e continue batendo até ficar uma massa dura.
- Deixe esfriar e em seguida pegue um punhado do sabão e comece a embolar, fazendo bolinhas.
- Enrole na palha da bananeira e amarre, como vê na foto acima da Mercearia Paraopeba/@merceariaparaopeba em Itabirito MG.
Prontinho. Está pronto um sabão ecologicamente correto que não afeta o meio ambiente.
Uma tradição ecologicamente correta
          Nossos avós diziam que esse sabão ajudava no tratamento de doenças de pele como as brotoejas, perebas, piolho, coceira, etc. Limpava mesmo a pele e ainda, deixava o cabelo lisinho, além de ajudar a combater a seborreia, prevenir cravos e espinhas.
          Mesmo sendo antigo, o sabão de cinzas continua a ser feito nos quintais das casas de nosso interior, como em Itabirito MG, encontrado na Mercearia Paraopeba e em várias outras cidades mineiras.
          Sabão de cinzas é tradição e sabedoria que ficou no passado, mas presente na vida de muitas famílias hoje que não dispensa esse sabão, usando-o na lavagem de utensílios domésticos, de roupas e também para tomar banho. Ah, e ainda usam a bucha vegetal, que é esfoleante natural e ajuda em muito na limpeza da pele.

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Receita de Rosquinha tradicional de fubá

(Por Arnaldo Silva) Uma joia da rica culinária mineira e com sabor de história, é a Rosquinha de Fubá, quitanda mineira presente nas mesas dos mineiros desde os tempos dos Barões do Café, no século XIX. Por ser bem fácil de fazer e muito saborosa, nunca faltava nas mesas mineiras.
Receita tradicional da Rosquinha de Fubá
INGREDIENTES
. 2 xícaras de fubá de moinho fino
. 1 xícara (chá) de amido de milho
. 1 copo (americano) de leite
. 1 ½ xícara (chá) de açúcar
. 1 gema de ovo
. 150 gramas de manteiga
. 1 colher (sopa) de erva-doce
. 1 colher (sopa) de fermento em pó químico
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha, coloque o açúcar, o amido, o fubá, a erva-doce, o fermento e misture.
- Acrescente o leite, a gema, a manteiga e misture bastante com as mãos até ficar uma massa bem firme, desgrudando das mãos.
- Se a massa ficar muito dura, acrescente leite.
- Agora, pegue um punhado da massa, enrole nas mãos, faça tiras e junte as pontas, fazendo o formato anelar.
- Se preferir, outro molde, faça bolinhas com as mãos e achate-a.
- Coloque as rosquinhas em forma já untada com manteiga e leve para assar em forno preaquecido a 180 °C e deixe assando até ficarem douradas
          Por fim, faça um café e sirva que é bom demais da conta!
Fotos da rosquinha da Mercearia Paraopeba/@merceariaparaopeba em Itabirito MG

Broinha de milho: origem e receita tradicional

(Por Arnaldo Silva) Muita gente pensa que todas as nossas receitas saíram de uma senzala, de uma taba indígena ou foram trazidas pelas sinhazinhas portuguesas. Nem todas, como por exemplo, as broas de fubá, tradicionais em Minas Gerais desde o século XIX.
          Broa não tem origens nos escravos, na sabedoria indígena e muito menos na cozinha portuguesa. As broas têm origem nos imigrantes alemães. Não tem origem na Alemanha, foi criada pelos alemães já no Brasil mesmo. Justiça e reconhecimento sejam feitos, foram os alemães, que chegaram ao Brasil a partir de 1824 e a Minas Gerais, a partir de 1859, que deram origem às broas tão populares e tradicionais em Minas.
          Os alemães adoram pão, em especial o tradicional Deustsches Brot, Pão Alemão, na tradução para o português. Esse pão tem como ingrediente principal a farinha de centeio. Como no século XIX não existia centeio e nem farinha de trigo cultivado no Brasil e importar naquela época não era fácil, tiveram que adaptar a receita original do Brot alemão aos ingredientes locais. No caso, a farinha de centeio foi substituída pela farinha do milho, o fubá de moinho.
          Assim surgiu o Brot, um pão alemão adaptado, assado em formas ou em formato de bolinhas achatadas. Levava ainda o açúcar de engenho, chamado mascavo e erva-doce. O fubá, o açúcar e erva-doce eram bem fáceis de encontrar em Minas.
          A palavra brot se popularizou em Minas com o nome “amineirado” de broa e broinhas. E assim é até os dias de hoje.
          Broa é a quitanda mineira que tem como ingrediente principal o fubá, não leva trigo ou centeio.
          Quando o trigo começou a chegar no Brasil e a se popularizar, esse ingrediente passou ser incorporado às broas ou mesmo, passou a ser mais usado que o fubá. Só que já não se chamava mais broa e sim, bolo.
          Para os alemães passou a ser Mischbrot, ou seja, pão misto. Para os mineiros, simplesmente bolo. Em Minas Gerais, tudo que tem trigo como ingrediente principal é bolo ou bolinho. Quando é o fubá o principal ingrediente, é broa ou broinha
          Então vamos aprender a receita tradicional da Broinha de Milho:
INGREDIENTES
. 500 gramas de fubá de moinho de milho amarelo
. 1 ½ xícara (chá) de açúcar
. 2 ovos
. 3 colheres (sopa) de manteiga
. 1 xícara (chá) de leite
. 1 colher (sopa) de fermento em pó
. Erva-doce a gosto
. 1 pitada de sal
MODO DE PREPARO
- Em uma vasilha, coloque os ovos, a manteiga, o leite, a erva-doce, o sal e o fermento em pó e misture bem.
- Vá despejando aos poucos o fubá e misturado com as mãos até ficar na consistência firme, no ponto de enrolar.
- Pegue um punhado de massa com as mãos e faça os moldes enrolando. Para evitar que as broinhas trinquem muito, coloque o punhado da massa em uma cuinha de cuité ou em xícara de chá e chacoalhe até moldá-la.
- Coloque as broinhas em uma forma untada com manteiga e pulverizada com fubá e coloque uma a uma ao lado da outra, dando distância de 1 cm.
- Leve para assar em forno preaquecido a 180°C graus por 30 minutos ou até que as beiradas comecem a ficar escuras.
          Enfim está pronta a broinha de milho. Agora é só passar o café!
Fotografias da broinha de milho da Mercearia Paraopeba em Itabirito MG

sábado, 9 de setembro de 2023

A cidade de Ponte Nova e o Cemitério dos Escravos

(Por Arnaldo Silva) A cidade de Ponte Nova, na Zona da Mata, tem origens no século XVIII, surgindo como povoamento em 12 de dezembro de 1770, às margens do rio Piranga. Com seu crescimento, foi elevada a freguesia, vila e por fim à cidade emancipada em 30 de outubro de 1866. É uma cidade de grande valor histórico e cultural para Minas Gerais.
          Está a 180 km de Belo Horizonte e faz limites territoriais com Santa Cruz do Escalvado, Urucânia, Oratórios, Amparo da Serra, Teixeiras, Guaraciaba, Acaiaca, Barra Longa e Rio Doce. Segundo último Censo do IBGE, Ponte Nova conta com 57.776 habitantes. (fotografia acima e abaixo de Fabinho Augusto, a vista parcial de Ponte Nova)
          Cidade com boa estrutura urbana, com bons hotéis, pousadas e restaurantes com comida típica, conta com um comércio bem variado, um bom setor de serviços e facilidades de acesso, já que a cidade é corta por várias rodovias estaduais como a MG-066, MG-262, MG-326, MG-329, e também pela BR-120.
          Sua economia tem como base o comércio, setor de serviços, pequenas e médias indústrias que atuam em diversos ramos industriais como alimentício, têxtil, automobilístico, farmacêutico, eletrônico, dentro outros. Outro setor econômico de grande importância para a cidade é a agropecuária com destaque para a agricultura familiar, suinocultura, pecuária leiteira e de corte.
          Município de terras férteis, é banhado pelo rio Piranga e conta com vários pontos turísticos naturais com matas nativas, córregos e rios que formam cachoeiras de águas cristalinas.
          Ponte Nova faz parte do Circuito Turístico Montanhas e Fé, além de ser integrante do Programa de Regionalização do Turismo do Estado de Minas Gerais. Por sua origem histórica, Ponte Nova está ainda na área de influência da Estrada Real e da Rota Imperial, a antiga Estrada São Pedro de Alcântara. (na foto acima do Fabinho Augusto, ponte férrea sobre o rio Piranga em Ponte Nova)
          Além disso, a cidade se destaca em Minas pela sua culinária típica, principalmente seus doces caseiros e belos casarões rurais centenários. (fotografias acima de Fabinho Augusto)
          Ponte Nova conta com vários atrativos naturais e urbanos como a belíssima Matriz de São Sebastião com seus belíssimos casarões em seu entorno (na foto acima do Fabinho Augusto).
          Além disso, na parte central da cidade, podemos admirar belas construções do início do século XX, em estilo eclético (na foto acima de Fabinho Augusto). 
          Tem ainda as praças Getúlio Vargas e Dom Helvécio, o Parque Passa Cinco, a Capela Dom Bosco, a Praça das Palmeiras, o Pesque e Pague Sombrio, o Esporte Clube Palmeirense, a Igreja de São Pedro, o Clube AABB, a Rodoviária, o Rio Piranga, a Capela Vau Açu, a Pista de skate, a Cachoeira do Vau Açu, a Casa da Família Monte, a Estação Ferroviária, a Cachoeira da Sesmaria, o Mirante Alto do C.D.I., o Cemitério dos Escravos e o Parque Ecológico Municipal Tancredo Neves, na foto abaixo do Sérgio Mourão/@encantosdeminas.
          Sem contar as festividades culturais e religiosas durante o ano como Semana Santa, Corpus Christi, Festa do Rosário, Folia de Reis, Festas Juninas, Carnaval e os festejos de aniversário da cidade.
O Cemitério dos Escravos de Ponte Nova
          Construído no início do século XIX, o Cemitério dos Escravos está localizado em terras da Fazenda da Urtiga, que pertenceu a Manoel Ignácio, o Barão do Pontal. Natural do Minho, em Portugal, Manoel Ignácio nasceu em 1781, vindo para o Brasil em 1806.
          Atuando como produtor rural e comerciante na região de Ponte Nova, era muito influente e proprietário de um grande número de escravos. Em 1841, recebeu o título de Barão pelo Imperador Dom Pedro II. Em homenagem à sua propriedade, que ficava em um pontal às margens do rio Piranga, passou a ser chamado, por vontade próprio de Barão do Pontal. Faleceu e foi sepultado em seu cemitério particular, em sua própria fazenda. (na foto acima do Duva Brunelli, as proximidades do Cemitério dos Escravos)
          Em sua propriedade, foi criado um cemitério para sepultamentos de seus escravos, devido à sociedade à época não permitir sepultamentos de negros em cemitérios de brancos.
          É um cemitério com características bem simples, com cerca de 800 m², cercado por um muro de pedras e estruturas em cantaria, que são blocos de rochas talhadas em ferramentas rústicas, pelos próprios escravos, além de uma cruz de madeira ao centro. (nas fotos acima e abaixo do Duva Brunelli, a murada externa do Cemitério dos Escravos)
          Os escravos eram enterrados neste cemitério até a abolição da Escravidão no Brasil, em 1888. A partir desse ano, os negros passaram a ser sepultados nos cemitérios dos distritos de Pontal e Chopotó, pertencentes a Ponte Nova.
          O Cemitério dos Escravos da Fazenda Urtiga é hoje uma parte da história da Escravidão no Brasil. É um bem tombado como patrimônio do município e um dos pontos de visitação.
          Embora pareça estranho um cemitério como bem tombado e atrativo de uma cidade não é um local de contemplação e sim, reflexão. Mas não uma reflexão sobre a vida e a morte, mas sim, sobre a vida de quem lá está sepultado. (foto acima e abaixo do Duva Brunelli, o interior do cemitério)
          Eram seres humanos retirados à força de suas terras e famílias na África, e trazidos para o Brasil para trabalharem como escravos. Vítimas de sofrimentos e humilhações diversas, levaram para a sepultura as marcas de mais de 400 anos de escravidão no Brasil.
          Marcas que nos levam a não esquecê-los e atender suas últimas vontades que era de manter vivas suas memórias e histórias. Vontades essas que os próprios escravos deixaram em vestígios encontrados no entorno de suas sepulturas.

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