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quinta-feira, 11 de março de 2021

12 vendas, botecos e mercearias antigas em Minas

(Por Arnaldo Silva) Populares no século XIX e principalmente no século XX, as antigas vendas, armazéns, mercearias e botecos estavam presentes nas cidades em cada esquina, em cada bairro, em cada vilarejo mineiro. Tinham de tudo e um pouco, desde fumo, bolas, produtos de limpeza, carnes, querosene, bebidas, sucos, fermentos, carne na lata, inseticidas, roupas, sapatos, utensílios domésticos, enfim, uma infinidade de utensílios.
          Mesmo os espaços pequenos das vendas, geralmente ocupando um cômodo das casas de seus donos, davam um jeito de colocar tudo lá dentro. Na foto acima e abaixo a Mercearia Carvalho, fundada na década de 50, no distrito de Santo Antônio do Alto Rio Grande, Bocaina de Minas, no Sul de Minas na foto acima do arquivo de Rodrigo Carvalho.
          Eram espaço sociais, de encontro de amigos e de família, numa época que se podia comprar fiado, com tudo anotado em caderneta, sem preocupação alguma do dono dos estabelecimentos.
         E mesmo com toda a modernidade do século XXI, as nostálgicas vendas e os pitorescos botecos ainda existem da mesma forma como antigamente. (na foto acima do Sérgio Mourão/@sergio.mourao, uma tradicional venda em São Geraldo do Jataí, distrito de Curvelo MG)
          Para reviver essa boas lembranças, conheça 12 antigas vendas, armazéns, mercearias e botecos em Minas Gerais. A lista está em ordem alfabética.
01 - Armazém São João em Bom Despacho
          Bom Despacho, no Centro Oeste de Minas, distante 150 km de Belo Horizonte, é uma cidade moderna, nos seus quase 300 anos de existência. Do passado antigo, restaram a tradição das antigas vendas, presentes nos povoados e vilas rurais, como no Engenho do Ribeiro, Garça e Passagem. São pequenas vendas e armazéns, que ainda resistem à modernidade e ao tempo.
          O Armazém São João, popularmente chamada de Venda da Passagem, foi fundado, como dá para ver na foto que fiz, Arnaldo Silva, de uma foto pendurada na parede do armazém, em 1 de junho de 1935, por João Cardoso. Como todas as vendas, ficava na esquina e fazia parte da casa do proprietário. De 1935 para cá, parece que o armazém parou no tempo. Pouca coisa mudou. De diferente, a energia elétrica e uma geladeira, para guardar as bebidas, além do arroz, óleo, sal, açúcar, feijão e café, que não são mais vendidos a granel. Mas o estilo e charme das vendas interioranas, continua o mesmo. E ainda, na mesma casa, com a mesma fachada, tudo igual. Casa simples, com telhado, sem forro, balcão para os fregueses tomarem uma pinga, feita na região ou uma geladinha e claro, balas, doces, queijos, utilidades domésticas, miudezas e tudo mais.
          Sem contar a simpatia do “Seu” Zé, como eu o chamava, esse senhor da foto acima, que infelizmente não está mais entre nós. Estive no povoado da Passagem em 2016 e tirei várias fotos. Era um senhor alegre, de fala mansa, gentil, atleticano, feliz com a vida, muito simples e se orgulhava de ter herdado a venda de seu pai, que hoje, está com seus filhos. Uma tradição maravilhosa e linda. Um lugar bem pitoresco e acolhedor em Bom Despacho.
02 - Armazém do Zé Totó em Belo Horizonte
          Fundado em 1943, no bairro Aparecida, em Belo Horizonte, bem no coração da capital mineira, está uma das mais tradicionais vendas de Minas. O Armazém do Zé Totó. A modernidade e o colossal crescimento de Belo Horizonte, não mudou em nada a vida da família do Zé Totó. Sua venda continua do mesmo jeito e no mesmo lugar, como antigamente. 
          Foi fundada por José Alves dos Santos, o Zé Totó, falecido em 1950. Como todas as vendas tinha o nome do dono, a venda era conhecida como Venda ou Armazém do Zé Totó. Seu filho mais velho, mesmo ainda menino na época, cuidou da venda do pai, após seu falecimento. Por isso é carinhosamente chamado por todos de Zé Totó. Está hoje com mais de 90 anos. 
          É um senhor alegre, cordial, simpático e fica feliz em ver os filhos e genros cuidarem de seu armazém, um ponto de encontro dos amigos que se debruçam no balcão para tomar uma tradicional pinga, com tira gostos ou mesmo, aquela geladinha no capricho.
          Zé Totó garante que o freguês encontra de tudo em sua venda, desde miudezas, brinquedos, doces, produtos de limpeza, utensílios domésticos, ferramentas, etc. Se não encontrar na hora, encomenda. Assim cativa a freguesia e ainda, faz questão de dizer que mesmo na capital mineira, preserva o hábito das vendas no fiado, com tudo anotado na caderneta, que se orgulha de mostrar. Como podem ver na foto acima.
          Se orgulha em dizer que é feliz pelo respeito e amizades que conquistou ao longo de décadas, sobre o balcão de sua pitoresca vendinha, numa tradicional construção da década de 1940. Abre todos os dias, das 8h até as 21 horas, mas faz questão de dizer que só não abre na Sexta-feira da Paixão.
          Estive na Mercearia do Zé Totó, fotografei e o entrevistei. Infelizmente, dois anos após a minha ida, "Seu" Zé Totó nos deixou.
03 - Mercearia Carvalho em Bocaina de Minas
          Mercearia Carvalho, fundada na década de 50, no distrito de Santo Antônio do Alto Rio Grande, Bocaina de Minas, no Sul de Minas na foto acima de Rodrigo Carvalho.
          Passada em 1973 às mãos de Ailton Afonso de Carvalho, (1951-2006), e posteriormente para seu filho, Ailton Rodrigo de Carvalho, onde trabalhou desde os 10 anos de idade, hoje com 38.
          
Em 2023 Mercearia Carvalho completou 50 anos. Além de comércio de cereais e armarinhos, funcionou simultaneamente como Posto Telefônico, pela antiga Telemig, e como ponto de coleta de leitura rural e distribuição de contas de energia pela Cemig.
          Passados 50 anos, mesmo com a modernidade e reformas, foram mantidas boa parte das características originais do imóvel, como o balcão, algumas prateleiras, balança e máquina de frios manual. A velha mercearia é motivo de muito orgulho da família.
04 - Mercearia Israel em São João Batista do Glória 
          Em São João Batista do Glória, no Sudoeste de Minas, distante 374 km distante de Belo Horizonte, uma charmosa mercearia, é um dos mais pitorescos e visitados lugares da cidade.
          É a Mercearia Israel, fundada em 1961, localizada próximo a Praça do Cruzeira. A Mercearia faz parte da história e desenvolvimento da cidade, embora se mantenha da mesma forma como antigamente, preservando suas característica, bem como sendo um dos mais charmosos pontos comerciais da cidade. (fotos acima do Amauri Lima)
          No pequeno espaço da mercearia, encontra-se de tudo e mais um pouco, desde miudezas, a utensílios para casa, ferramentas, enlatados, bebidas, secos e molhados, frutas, balas, corda, bolsas, canecas, panelas, chapéus, arame, doces, pimenta, produtos agropecuários, tudo junto e misturado. Sem contar, claro, muita prosa, histórias e antigos fregueses e novos, que estão sempre presentes na mercearia.  
05 - Mercearia Paraopeba em Itabirito
          Está na ativa desde o ano de 1884, na cidade de Itabirito a 50 km de Belo Horizonte, perto de Ouro Preto MG. Essa venda é a Mercearia Paraopeba, no mesmo endereço desde o século XIX, bem no centro da cidade.
   Nesse espaço que parece pequeno, na foto acima do Judson Nani, você encontra de tudo e mais um pouco. E tenha ainda a caderneta, para os fregueses mais antigos. Uma prática saudosa, preservada. O mais antigo freguês, anotado em uma das cadernetas da Mercearia, data de 1884. Registro histórico!        
          Na mercearia, encontra desde produtos de higiene a doces, queijos, bebidas, utensílios domésticos, frutas, artesanato, brinquedos antigos, quitandas, quitutes, enfim, tudo que precisar. Se não encontrar o que precisa, é porque ainda não foi inventado. Na foto acima mostra um pouco do que tem na Mercearia Paraopeba, só um pouco mesmo.
06 - Venda Alto Minchillo em Guaranésia
           Fundada em 1908, na cidade de Guaranésia, Sul de Minas, pelo casal Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, a venda é uma das maiores preciosidades do Sul de Minas e um clássico exemplo de como eram os antigos comércios no interior de Minas Gerais, no início do século XX. (foto acima do Luís Fernando) Vendia de tudo o quanto você pode imaginar como, miudezas, brinquedos, doces, pólvora, farinha, queijo, querosene, fubá, ratoeiras, naftalina, açúcar, sal, roupas, botas, sapatos, cereais a granel, café, ferramentas, carnes, banha, toucinho, aguardente, etc. Encontrava-se de tudo.
          A venda foi construída num sítio de 5 hectares e ocupa uma área construída de 120 metros, com pasto, roça de milho, pomar e estacionamento. De 1908 para cá, pouca coisa mudou. É uma das poucas vendas existentes atualmente, que preserva suas características originais. (foto acima e abaixo de Luís Fernando)
          Desde a fachada, o teto, o balcão, o estilo de colocar os produtos, está tudo do mesmo jeito, como há 112 anos. Até mesmo, a marca de um tiro de fuzil, disparado durante os confrontos entre Minas e São Paulo, durante a chamada “Revolução Constitucionalista de 1932”, está preservada na venda.
          De diferente mesmo foram construído dois banheiros e uma cozinha, já que a venda passou a servir bebidas e tira gostos, além de organizar eventos culturais e preservar uma antiga tradição, que vem desde a origem da venda. É a reza do terço de São Pedro e a tradicional festa junina, em 29 junho, dia do santo (foto acima de Isis Minchillo). A festa é uma das maias antigas e mais populares da região. Atualmente, a Venda Alto Minchillo está abrindo somente às quintas-feiras. (foto acima do Luís Fernando)
          Segundo Cauê Minchillo, a venda “foi passada de pai para filho. Começou com Luiz Minchillo e Josefina Minchillo, depois para meu bisavô, Adalberto Minchillo e depois para meu avô, Adalberto Minchillo Filho e mais dois irmãos, Domingos e José Roberto. E agora eu, Cauê, da 5ª geração, estou no comando”, finaliza.
07 - Venda da Dona Inês em Chapada do Norte
          Chapada do Norte é uma cidade histórica, do Vale do Jequitinhonha. É uma das poucas cidades mineiras onde podemos encontrar, não algumas, mas várias vendas, pelas esquinas das ruas da cidade. Uma dessas vendas é a da Dona Inês, como podem ver a fachada, na foto acima da Viih Soares e abaixo, de Thelmo Lins, o interior da venda.
          São casarões coloniais e outros, na arquitetura eclética, do século XX, mas com a beleza, charme e nostalgia das vendas antigas, de Minas Gerais. É uma das poucas cidades do Brasil, onde pode-se conhecer de fato, como era o comércio no século XIX.
08 - Venda do Seu Lidirico em Araçuaí
          Em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, está uma das mais pitorescas e famosas vendas de Minas Gerais. É a Venda que leva o nome de seu dono, Lidirico José Almeida, nascido em 7 de agosto de 1927, em Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha. Conhecido como Seu Lidirico, mudou-se de sua cidade para Araçuaí, na década de 1940, montando seu próprio negócio nesta cidade, em 1948, com o nome de "Casa Almeida". Como era comum na maioria das vendas antigas, o nome do estabelecimento passou a ser associado ao nome do dono. Assim, popularizou-se como Venda do Seu Lidirico.  Até hoje, preserva suas características arquitetônicas originais, bem como a tradição das antigas vendas do interior mineiro.
          Seu Lidirico abre a venda todos os dias, com a mesma alegria, simplicidade, gentileza e simpatia de antigamente, tendo sempre a companhia de sua esposa, dona Iaiá, de 88 anos, com quem é casado há mais de 70 anos. Dessa união, resultou em uma prole grande. São 15 filhos, criados com o trabalho duro e diário em sua venda. Completa a família, dezenas de netos e bisnetos e um tataraneto. A família já está na quarta geração. (foto acima e abaixo de Ernani Calazans, da parte externa da venda)
          Sua venda, é uma das mais tradicionais de Minas Gerais, onde os fregueses encontram de tudo um pouco, principalmente, acolhida e gentileza. Além disso, na venda podem ser encontradas relíquias bem conservadas do século passado. O casal é muito simpático e carismático. (na foto acima fornecida pelo Fabiano Versiani, "Seu" Lidirico atrás do balcão de sua venda)
          São pessoas simples, muito gentis e acolhedores. Sempre atendem bem seus fregueses e estes o retribuem com muita amizade. É uma das mais originais, pitorescas, charmosas e famosas vendas, não só da cidade, mas de Minas Gerais. A venda do “Seu” Lidirico, faz parte da história da cidade.
          É hoje uma das referências em Minas Gerais para quem quer conhecer profundamente, como eram os pequenos comércios nas cidades mineiras. O sucesso da Venda do “Seu” Lidirico é tanto que é constantemente visitada por veículos de comunicação, como rádios, jornais e TVs. 
          Já foi inclusive tema de música, composta por Miltino Edilberto e Xangai, apresentada pela primeira vez no programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrim. O título da música: é “La na Venda do “Seu” Lidirico”. 
          Seu Lidirico faleceu em junho de 2023, aos 96 anos.
09 - Venda do Gordo em Franceses
          Franceses é distrito da cidade de Carvalhos, no Sul de Minas. Cidade famosa por suas trilhas e cachoeiras, é tradicional na produção de cachaças e morangos. Carvalhos tem origem no nome de uma família judaica, estabelecida na região no final do século XVIII, bem como o distrito de Franceses, que teve em suas origens, famílias de franceses, que viviam no Rio de Janeiro, no século XVIII e se mudaram para a região, dando origem ao distrito. (foto acima e abaixo de Mônica Rodrigues)
          Em Franceses, está a venda do Gildo Landim, conhecido por todo como Gordo. Sua venda foi fundada em 1958 e além de vender gêneros alimentícios e miudezas, serve as típicas bebidas produzidas na cidade, bem como deliciosos tira gostos. É ponto de encontro dos moradores da pacata e charmosa vila colonial, sul-mineira.
10 - Venda do Zeca em Jaboticatubas
          Ficam em Jaboticatubas, uma histórica e acolhedora cidade tipicamente mineira, distante 60 km de Belo Horizonte, na Serra do Cipó.
          Fundada por Felicíssimo dos Santos Ferreira, já falecido, a venda está presente na história da cidade e de Minas Gerais, desde os primeiros anos do século XX, hoje administrada por seus netos, Carlos e Marcos, a terceira geração do seu fundador. É uma das mais tradicionais e charmosas vendas de Minas. Ir à Serra do Cipó e não conhecer a Venda do Zeca, é um sacrilégio. (foto acima de Edson Borges)
          Funciona num acolhedor e charmoso casarão colonial, com uma ampla área externa, cercado pela exuberante beleza da Serra do Cipó, à sombra de flamboyants (na foto acima da Alexa Silva). Tem de tudo e mais um pouco que os fregueses procuram e claro, a nostálgica tradição do encontro entre amigos, nos balcões e mesas das vendas.
          A Venda do Zeca é uma das nossas mineiridades e um dos lugares mais visitados na Serra do Cipó. Além dos utensílios para uso do dia a dia, na venda tem os petiscos, tira gostos, porções e bebidas.
          Na estufa do balcão da venda, ficam salgadinhos, torresmo e outras delícias, mas as porções são feitas neste belo casarão da foto acima, da Alexa Silva. Fica em frente, alguns passos da venda.
          É movimentadíssima a venda, sempre tem gente que vai lá comprar miudezas ou mesmo, conhecer, já que a região é muito visitada por turistas, que vem à Jaboticatubas, aproveitar as cachoeiras, trilhas e belezas impactantes da Serra do Cipó. E se encantam com a simplicidade do lugar, com a acolhida e simpatia dos proprietários e funcionários.
          Funciona todos os dias, das 8h às 20 horas e ainda, tem estacionamento. Dá gosto estar na Venda do Zeca, entrar na mercearia ou mesmo, sentado numa mesa no lado de fora, degustando os deliciosos petiscos e tira gostos, bem tradicionais. (foto acima da Alexa Silva)
          O acesso à Venda do Zeca é pela Rodovia MG-10, no km 95. Fica na Rua do Campinho, número 45.          
11 - Venda do Zé Alvino em Alfenas
          Em Alfenas, no Sul de Minas, distante 335 km de Belo Horizonte, no bairro Gaspar Lopes, está uma das mais antigas vendas em funcionamento no Brasil. Fundada no século XIX, a venda está presente na cidade há mais de 150 anos. (foto acima e abaixo do Luis Leite)
         Além de sua história e de fazer parte da história de Alfenas, foi nesses anos todos, pontos de encontros de amigos, fregueses e personagens ilustres como Milton Nascimento. Sempre que o cantor e compositor vem à Três Pontas MG, onde tem casa, visita a venda do Zé do Alvino. 
          Inclusive, sua presença no local está registrada em fotos. Na venda, se encontra de tudo que você imaginar, além de tradição, histórias seculares e nostalgia. 
          Estamos falando da charmosa venda do Senhor José Aureliano de Mesquita, o popular, Zé do Alvino. Geralmente, as vendas são passadas de pai para filho, mas nesse caso, foi diferente. José Aureliano de Mesquita, herdou a venda de seu sogro, o Zé do Alvino. Como a venda era associada ao nome de seu sogro, herdou também, o apelido. (foto abaixo do Luís Leite)
          Um senhor simpático, de boa prosa, que cativa com seu carisma, toda a freguesia, que fazem questão de estar na venda, não só para comprar, mas escutar os causos e as histórias do Zé do Alvino e dar boas risadas. São histórias contadas e ouvidas na venda, que sobrevivem ao tempo e cativam a todos, bem como a própria venda, em si. Ninguém entra na venda e não encontra o que procura.
          Um detalhe diferente na Venda do Zé do Alvino chama a atenção. No forro da venda pode ser ver notas de vários valores presas em tampinhas de garrafas, fixadas no forro por tachinhas. Esse dinheiro é doado pelos fregueses, que doam a quantia que puderem. Depois de um tempo, o dinheiro é retirado e encaminhado à Associação Vida Nova, que assiste pacientes com câncer. (foto abaixo do Luis Leite)
          Uma atitude nobre, enaltecida por todos, mas esperada, já que Zé do Alvino, é uma pessoa muito querida e respeitada por todos do bairro. A venda fica aberta todos os dias, tradicionalmente das 6h30 às 19 horas.
12 - Venda do Jorginho em Guaranésia
          Guaranésia fica no Sul de Minas e está distante, 457 km. Conta com pouco mais de 20 mil habitantes. Muito tradicional, a cidade guarda relíquias de seu passado. Entre essas relíquias, está a Venda do Jorginho. (fotografia acima e abaixo de Luís Fernando)
          A história da tradicional Venda é contada pelos próprios proprietários: “Miguel Gibrim, imigrante árabe vindo da Síria, abriu as portas da venda em Guaranésia pela primeira vez em 1918. Desde então, já se vão mais de 100 anos em que a família honra o compromisso de repetir o gesto e abrir as portas de madeira da venda todos os dias para atender fregueses amigos.
          Nessa jornada centenária, a esposa de Miguel Gibrim veio da Síria com a pequena filha Anice, depois nasceram Gibrim Miguel e Jorge Miguel. Jorginho, o caçula, assumiu a venda por volta de 1950. Dessa década até os anos 80, a venda foi ponto de intenso movimento dos trabalhadores das roças de café e cana, da vizinhança do alto da cidade que começava a se expandir. Tempos áureos da velha e boa caderneta de fiado.
          Com a padronização dos mercados e supermercados, a venda se reinventou e nas mãos da esposa do Jorginho, Dona Floripes, manteve firme e altiva a simplicidade e o acolhimento. Em 2018, a venda ganhou a direção da terceira geração. Agora, os filhos do Jorginho e da Floripes mantêm a essência e a identidade, mas inovam: a Venda do Jorginho é uma venda mineira de secos e molhados em geral, que tem o orgulho de ter nas prateleiras, uma seleção dos melhores produtos que Guaranésia e o Sul de Minas produzem.
          Reconhecidamente tradicional, a Venda do Jorginho é empresa Parceiro Guardião dos Produtos da Região do Queijo da Canastra. E tem tudo mais, a tempo e a hora. Ah, sim, aceita cartões que convivem muito bem com a velha e boa caderneta de fiado.
          Venda do Jorginho, Honestidade e Cortesia desde 1918.”

domingo, 7 de março de 2021

As Irmandades religiosas e a construção de igrejas em Minas

(Por Arnaldo Silva) Quem vem às cidades históricas mineiras se deslumbra com a riqueza arquitetônica dos casarões e principalmente, pela suntuosidade e imponência das igrejas mineiras.
          Minas Gerais, no auge de sua povoação, no século XVIII, não foi construída pelas mãos de engenheiros e arquitetos e sim, pelas mãos de artistas, artesãos, escultores e mestre nas artes que fizeram escola e até hoje são reverenciados, como mestres Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho e seu pai, Manuel Francisco Lisboa, Joaquim José da Natividade, Valentim da Fonseca e Silva, Manoel da Costa Ataíde, José Soares de Araújo, Silvestre de Almeida Lopes, dentre outros outros tantos talentos mineiros e estabelecidos em nossas terras. (na fotografia acima de Nacip Gômez as igrejas de São Francisco e de Nossa Senhora do Carmo em Mariana MG)
          Minas não foi construída, foi esculpida e pintada à mão.
Por isso a riqueza e beleza das construções e ficam sem entender, porque tantas igrejas, até próximas umas das outras e do porque a Igreja Católica construía tantas igrejas e com tanto ouro e suntuosidade. A questão é que não foi a Igreja Católica a construtora das igrejas mineiras durante o Ciclo do Ouro e sim, as Irmandades.
O Ciclo do Ouro e as Irmandades
          A descoberta do ouro em Minas Gerais, fez surgir vilas e cidades, formada por diferentes povos, que vieram para a então capitania. Vieram de todos os cantos do Brasil e também, do mundo. Foram esses povos, que deram origem a formação social, política, arquitetônica, cultural e gastronômica de Minas Gerais.
          Foi este um período que começaram a surgir em Minas Gerais, as irmandades e confrarias. Com origem na Europa, eram associações de homens de diversas camadas sociais, ricos ou pobres, que tinham ideais e objetivos comuns, além da devoção a um santo católico, que era a base para o surgimento das irmandades e confrarias. (na foto acima de Peterson Bruschi, o Altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar, igreja de Ouro Preto construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento)
Confraria, Irmandade e Ordem Terceira
          
Embora pareça ser a mesma coisa, confraria, irmandade e Ordem Terceira, tem suas diferenças. As confrarias eram associações pias, informais, formada pela união de grupo de pessoas leigas, com o objetivo de fazer caridade. Quando passavam a se constituir formalmente, como pessoas jurídicas, registradas e reguladas por estatutos, eram chamadas de irmandades.
          Já as ordens terceiras eram instituições da Igreja Católica, formada por leigos. Eram muito ativas nos tempos do Brasil Colônia, em Minas. Para se fundar uma ordem terceira, os leigos dependiam de autorização dada por uma ordem primeira. Diferente das confrarias e irmandades, que aceitavam entre seus membros, diversos setores da sociedade, o ingresso à Ordem Terceira, obedecia a critérios rigorosos e seletivos, como por exemplo, ser rico, ter o sangue limpo, ou seja, seus membros não podiam ser negros, cristãos novos, ter origem de “raça duvidosa” ou com descendência de alguns desses povos, além de outras exigências.
          Menos seletivas, as irmandades e confrarias eram mais comuns, formadas por homens brancos, negros, pardos, mestiços e mamelucos, com profissões e classes sociais diferentes, seja rico ou seja pobre. Cada grupo, com suas respectivas irmandades e devoção a seus santos, mas sem se misturarem. (na foto acima de Elvira Nascimento, a Igreja de São Francisco de Assis, em Diamantina MG, construída pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis)
          Ser aceito e fazer parte de uma irmandade ou confraria, era primordial para o reconhecimento social, dos homens no período colonial.
A Irmandade dos Homens Pretos
          Entre as irmandades formadas em Minas Gerais, as irmandades dos homens pretos, eram as mais ativas e atuantes. Isso devido à limitação impostas pelos brancos à fé dos escravos, bem como as discriminações, humilhações e preconceitos a que eram submetidos, constantemente.
          A forma que encontraram para se unirem, com a permissão das autoridades, foi através das irmandades.          
          Assim foram surgindo irmandades de homens pretos e pardos pelas cidades mineiras, com o objetivo de se protegerem e construírem suas próprias igrejas. Com isso, conseguiam se fortalecer, protegerem-se uns aos outros, além de preservarem suas tradições, cultura e fé, mantendo ainda a unidade dos homens que formavam a irmandade. 
          As irmandades dos homens pretos nutria grande afeição por Nossa Senhora das Mercês, São Benedito e em especial, Santa Efigênia (na foto acima de Ane Souz, a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, irmandade fundada por volta de 1717) e principalmente por Nossa Senhora do Rosário.
          A predileção dos escravos pela santa católica se deu devido ao seu rosário, semelhante ao “rosário de ifá”, usados pelos sacerdotes africanos. (na foto abaixo de Ane Souz, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, irmandade fundada em 1715)
A expulsão das Ordens Religiosas em Minas 
          A maioria das igrejas mineiras, durante o Ciclo do Ouro, foram construídas por irmandades e confrarias religiosas, diversas. As irmandades foram se formando durante o período da mineração do ouro, devido os desentendimentos entre a Igreja Católica e a Coroa Portuguesa.
          No início do século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais, a Coroa Portuguesa proibiu as ordens primeiras da Igreja Católica de atuarem e de existirem em Minas Gerais, bem como, limitava a circulação de religiosos, nas cidades onde existia mineração. (na fotografia acima de Ane Souz a Igreja de Nossa Senhora de Nazaré em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto MG)
          O objetivo era manter bem longe de Minas Gerais, principalmente das cidades onde eram extraídos ouro e diamantes, o clero regular. Afastando e expulsando as ordens religiosas de Minas Gerais, a Coroa Portuguesa visava controlar o contrabando, bem como se prevenia de possíveis complicações futuras, pelo fato das ordens religiosas não se submeterem à normas da administração portuguesa e sim, à normas internas da Igreja Católica. 
          Além disso, muitos religiosos e ordens,  se envolviam em rebeliões de contestação da atuação da Coroa Portuguesa, sendo vistos como desestabilizadores e incentivadores de revoltas populares. 
O papel das Irmandades na religiosidade mineira
          Expulsar as ordens religiosas foi uma medida drástica. Para evitar descontentamento entre os mineiros, a saída que a Coroa Portuguesa encontrou foi a de incentivar a criação das irmandades ou confrarias, formadas por leigos. Assim, as manifestações de fé do povo mineiro, continuava e as regras e imposições da Coroa Portuguesa, respeitadas. Cabia então às irmandades, construir os templos, zelar pelas igrejas, organizar os serviços religiosos, além de construírem e manterem seus cemitérios.
          Mesmo com o impedimento da presença das ordens religiosas da Igreja Católica em Minas Gerais, a administração portuguesa permitia a presença de padres, designados pelos bispos da Bahia e Rio de Janeiro, estados onde não havia as restrições impostas aos clérigos. Com a expulsão das ordens religiosas em Minas Gerais, era o Arcebispado desses dois estados, os responsáveis por designar padres e orientar as atividades religiosas na Capitania das Minas Gerais. (na fotografia acima de Ane Souz, o interior da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Ouro Preto MG)
          Os padres que eram designados pelo Arcebispado, tinham que obter licença do governo português na colônia e seguir rígidas regras, para atuarem em na Capitania de Minas Gerais. Teoricamente, a atuação desses padres se limitava à ministração dos cultos e serviços dos sacramentos. Quem construía, dirigia, preparava as cerimônias dentro e fora dos templos e administrava as igrejas, eram as irmandades e não a Igreja Católica.
O papel social das Irmandades 
          Assim foram surgindo as irmandades e confrarias pelas cidades mineiras, com o objetivo de unir homens em prol de seus ideais comuns, defendendo seus interesses e a devoção em seus santos, dedicando a eles, as igrejas e capelas que construíam.
          As atuações das irmandades eram vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, já que esses movimentos, tinham total controle sobre a construção de seus templos, contratação de arquitetos, pintores para ornamentação e decoração de suas igrejas. Eram as irmandades que decidiam como seriam construídas as igrejas, que tipo de adornos e ornamentações que teriam, mobiliário, peças sacras, tudo. Isso eximia o Estado de subsidiar e manter os templos, já que o custo das obras, bem como sua ornamentação e pinturas, ficava por conta dos membros das irmandades. (na foto acima do Matheus Freitas/@m.ffotografia, o Altar-mor da Basílica de Nossa Senhora do Pilar em São João Del Rei MG, igreja construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1711)
          Outro fator importante para o apoio às irmandades pelo Estado, era o serviço de apoio e assistência social que estas prestavam aos seus membros e seus familiares. Além disso, ajudavam os que não eram membros das irmandades, mas tinham devoção a seus santos, mantendo afinidades com as irmandades.
          Todos os membros das irmandades, tinham por obrigação, ajudar uns aos outros, em tudo que necessitassem. Quando ficavam doentes e necessitavam de ajuda, lá estava os irmãos e confrades para ajudarem. Eram ajudados quando passavam por problemas financeiros e quando eram presos, contavam com assistência jurídica. 
          As viúvas dos membros das irmandades não ficavam desamparadas e as irmandades, ajudavam financeiramente as viúvas e filhos, caso necessitassem. Davam ainda apoio às famílias com velório e sepultamento dignos, além de apoio e conforto espiritual.
          Essas atividades sociais eram importantíssimas paras as irmandades e vistas com bons olhos pela Coroa Portuguesa, que assim se sentia desobrigada de prestar assistência social à população.
          Mesmo assim, a atuação das irmandades era controlada pelo governo português, que exigia que cada irmandade criada, tivesse seu estatuto próprio, com normas que regulava as atividades dos membros da irmandade. 
          O estatuto teria que ser registrado e aprovado por uma entidade criada pela administração portuguesa, a Mesa de Consciência e Ordens. Nos estatutos das irmandades, constava suas obrigações jurídicas de acordo com as leis vigentes da época, regulamentação da conduta moral, ética, religiosa, política, familiar e social de seus membros.
          A formação das irmandades e suas atividades, eram acompanhadas e orientadas, pelo Arcebispado da Bahia e Rio de Janeiro, que acompanhava a formação das irmandades em Minas, bem como na orientação de suas atividades religiosas. Recebendo essa aprovação das autoridades, passavam a serem reconhecidas pela Coroa Portuguesa. Caso houvesse necessidade de mudança nos estatutos, as irmandades teriam que comunicar às autoridades, encaminhar as mudanças e aguardar a aprovação. (na foto acima da Ane Souz, o altar da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos, no bairro Padre Faria em Ouro Preto MG)
          Por isso a existência de tantas irmandades e confrarias em Minas Gerais e claro, de igrejas. Quanto mais irmandades existiam numa cidade, mais igrejas eram construídas.
Quanto mais irmandades, mais igrejas
          Em Ouro Preto, por exemplo, durante o Ciclo do Ouro, existiam 29 irmandades. Cada igreja ou capela ouro-pretana, nessa época, foi construída por uma irmandade diferente. E assim foi por todas as cidades mineiras, surgidas durante o Ciclo do Ouro, como Sabará, Serro, Mariana, Tiradentes, São João Del Rei, Diamantina, etc.
          E era cada um na sua, cada irmão em sua irmandade, cada confrade em sua confraria. (na foto acima do @viniciusbarnabe, a Igreja de São José, construída pela Irmandade do Patriarca São José dos Homens Bem Casados e ao fundo, a Igreja de São Francisco de Paula, construída pela Irmandade da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula em Ouro Preto MG) 
          As irmandades não viam a carência religiosa da sua cidade em si, mas sim, os seus interesses, com sua atuação religiosa e social, restrita a seus membros e devotos dos santos de suas respectivas igrejas. Não se incomodavam e nem se importavam em construir seus templos, próximas uns dos outros. 
          Isso porque suas igrejas não eram para a cidade, e sim, para a própria irmandade, inclusive, as sedes das irmandades eram dentro das igrejas, em salões localizados nos fundos. Cada irmandade construía sua igreja, mesmo que à frente, na rua do lado ou atrás da sua igreja, exista outra. (na foto acima do Matheus Freitas/@m.ffotografia, a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e ao fundo, a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, em São João Del Rei MG)
          Por isso que nas cidades históricas mineiras, erguidas nesse período, existem tantas igrejas e todas, bem próximas.
Irmandades, vaidades e poder financeiro
          Havia inclusive disputas de poderio econômico entre irmandades. Notadamente visível na Praça Minas Gerais em Mariana, manifestação clara da disputa de poderio econômico e de poder, entre duas irmandades: a Ordem Franciscana e a Terceira Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Essa disputa resultou na construção de duas igrejas, uma em frente a outra, dedicadas à São Francisco de Assis, construída em 1763 e à Nossa Senhora do Carmo, construída em 1784. (na foto acima do Peterson Brushi)
          A construção de igrejas pelas irmandades, ultrapassava os sentimentos de fé e devoção. Era mostra clara de disputa de poder, com explícita demonstração de poderio econômico. Para conquistar poder ou manter o poder em mãos, as irmandades investiam fortunas em ornamentos em ouro, madeiras nobres, luxo e riqueza. 
          O luxo excêntrico e riqueza das ornamentações das igrejas do período colonial em Minas Gerais,  saiam dos bolsos dos membros das irmandades e não dos cofres da Igreja Católica.          
          Quanto mais ricos eram os membros das irmandades, mais investiam em seus templos. Quanto mais ouro e ornamentos tinham as igrejas, mais prestigio, fama, poder econômico e social, tinham a irmandades e seus membros.
(na foto acima do César Reis, o reluzente brilho do ouro do Altar-mor da Igreja de Santo Antônio, em Tiradentes MG, construída pela Irmandade do Santíssimo Sacramento, fundada em 1710)
A volta das Ordens Religiosas à Minas Gerais
          Com o fim da riqueza gerada pelo ouro, finalizou também a proibição da presença das ordens religiosas oficiais, que voltaram a se instalar em Minas Gerais, passando a administrar as igrejas e cemitérios e demais obras sociais, bem como reformar e construir novos templos. 
          As irmandades e ordens terceiras, continuaram a existir e muitas delas, existem até os dias de hoje, nas cidades históricas mineiras. Dão apoio às ordens e ajudam nos trabalhos das igrejas, que administradas diretamente pelas ordens oficiais católicas, bem como, colaboram na manutenção de seus templos. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Chapada do Norte e a tradição da Festa do Rosário

(Por Arnaldo Silva) Localizada no Vale do Jequitinhonha, distante 522 km de Belo Horizonte, está Chapada do Norte, uma pequena cidade histórica mineira, com 10.337 habitantes, segundo Censo do IBGE em 2022. Chapada do Norte faz divisa com os municípios de José Gonçalves de Minas, Berilo, Francisco Badaró, Jenipapo de Minas, Novo Cruzeiro, Minas Novas e Leme do Prado. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade).
          A cidade se destaca por sua arquitetura colonial, sua história e por guardar e preservar em sua forma original, as tradições, raízes e cultura negra. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1, vista parcial da cidade) Isso porque Chapada do Norte tem sua origem em quilombos formados durante o Ciclo do Ouro. A exploração mineral na região começa a partir de 1728, no século XVIII. Em busca do ouro, vieram pessoas de várias localidades, formando assim um arraial, denominado de Arraial de Santa Cruz da Chapada.
          Com a decadência do ouro, parte dos moradores do arraial, começaram a ir embora, permanecendo boa parte dos escravos que lá viviam. Com o tempo, começou a chegar escravos que fugiam dos maus tratos, dando origem a formação de quilombos. A comunidade aumentou a partir de 1888, com a abolição da escravidão. Assim, a comunidade crescia, foi elevada à distrito e cidade emancipada em 1963, com o nome de Chapada do Norte.
          Charmosa, atraente e acolhedora, guarda tesouros valiosíssimos da nossa arquitetura, religiosidade, folclore e tradições, presentes nos casarões e igrejas do século XVIII, como a Igreja Matriz de Santa Cruz, a Capela de Nossa Senhora do Rosário e a Capela de Nossa Senhora da Saúde e ainda a Capela do Bom Jesus da Lapa, do século XIX. (na foto acima de Viih Fotografia/@soares.viih1), o interior da Capela do Rosário)
Tradicionais vendinhas
          Na cidade, encanta as pitorescas vendinhas, onde se encontra de tudo, o singelo casario e a simplicidade de seu povo, muito hospitaleiro e atencioso. (na foto acima do Sérgio Mourão)
Maior percentual de população negra do país
          Por ter como origem em quilombos, Chapada do Norte, possui, segundo o IBGE, o maior percentual urbano de negros no país. 91,1% de seus habitantes se declaram negros ou pardos. É ainda em Chapada do Norte que se encontra o maior número de comunidades quilombolas de Minas Gerais. São 14 ao todo.
A Festa de Nossa Senhora do Rosário 
          Devido à grande concentração negra, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que acontece no segundo fim de semana de em outubro, na Capela de Nossa Senhora do Rosário é um dos eventos religiosos mais tradicionais do município. É uma tradição preservada há mais de 200 anos com danças, cânticos, apresentações musicais, lavação da igreja e distribuição do angu, entre outros rituais. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          A Festa e a Capela de Nossa Senhora do Rosário são tão importantes, que ambas foram tombadas pelo patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais. Em 2013, a Festa de Nossa Senhora do Rosário foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial de Minas Gerais, pelo IEPHA/MG. Já a Capela de Nossa Senhora do Rosário, foi tombada em 1980, também IEPHA/MG. 
A Capela do Rosário dos Homens Pretos
          Datada do século XVIII, é uma capela típica do barroco mineiro, com características externas bem simples, mas abriga um impressionante acervo em seu interior. (foto acima de Thelmo Lins) Seu altar-mor conta com retábulos laterais junto ao arco do cruzeiro, dois altares em talhas em dourado douradas muito bem trabalhadas, além de belíssimos painéis, pintados em seu forro.

Desemboque e o Sertão da Farinha Podre

(Por Arnaldo Silva) Desemboque, povoação fundada em 02/03/1766, no século XVIII, é hoje, distrito de Sacramento MG, no Triângulo Mineiro. O curioso nome “Sertão da Farinha Podre” era o antigo nome da Região do Triângulo Mineiro.
 
          O nome, Sertão da Farinha Podre, segundo a tradição oral, se popularizou quando da chegada de bandeirantes, que adentraram no sertão em busca de ouro e diamantes. (foto acima de Luís Leite) Tinham como prática, plantar alimentos pelo caminho e muitas vezes, enterrar, para consumirem em suas idas e vindas. Enterraram um grande suprimento de alimentos, principalmente farinha, mas quando desenterraram, encontraram os alimentos e toda a farinha já podres. Daí passaram a chamar o lugar de Sertão da Farinha Podre, tendo o nome se popularizado, tanto por moradores, e efetivado pelo poder público da época. (na foto abaixo do Luís Leite, Desemboque vista da estrada)
          Inicialmente, o Sertão da Farinha Podre pertenceu geograficamente ao Estado de São Paulo, passando a domínio, tempos depois, para o Estado de Goiás e por fim, em 1816, passou a pertencer definitivamente Estado de Minas Gerais.
          O nome Triângulo Mineiro surgiu no final do século XIX. A região está nos limites entre o Rio Grande, a sul, Rio Paranaíba, a norte e bacia do Rio Paraná, a leste, formando geograficamente, um triângulo. Percebendo essa semelhança, o nome Triângulo Mineiro passou a se popularizar, sendo hoje uma das 12 regiões geográficas de Minas Gerais.
          No século XVIII e XIX era uma região de intenso garimpo, principalmente ouro e diamantes, além de outros minerais, menos explorados na época, como o minério de ferro, o que motivou a formação de povoados, que deram origem a várias cidades e construções características. Hoje, seu solo continua produzindo riqueza, sendo a agricultura uma das alavancas para o desenvolvimento da região, já que seu solo é rico e fértil.
          O povoamento da Região do Triângulo Mineiro se deu pela exploração de ouro e diamantes na região. As características arquitetônicas e religiosas da região estão presentes em Desemboque, considerado o berço do Triângulo Mineiro. (na foto acima de Luis Leite, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro e seu cemitério) 
Poucos moradores
          Nos áureos tempos da exploração mineral no Sertão da Farinha Podre, Desemboque chegou a ser a maior povoação da região, com cerca de 2.500 moradores, com fórum, cartório, Câmara de Vereadores, pousadas, tabernas. Contava ainda com um grande fluxo de viajantes, bandeirantes e exploradores, o que tornava a vila muito movimentada. (fotografia acima e abaixo de Pedro Beraldo)
          Hoje, em Desemboque, vivem cerca de 30 pessoas apenas, restando a história e os áureas tempos da riqueza proporcionada pela mineração.
          Em dias de carreadas de bois, cavalgadas e festa junina, a charmosa vila ganha vida e alegria, com a presença de centenas  de pessoas. 
A Igreja do Desterro
          Entre essas riquezas, além do seu casario colonial, está a Igreja de Nossa Senhora do Desterro (na foto acima de Pedro Beraldo), construída entre 1743 e 1754, frequentada pelos homens brancos e a Capela de Nossa Senhora do Rosário, frequentada pelos homens pretos e pardos. Cada uma com um cemitério próprio. Ambas foram tombadas pelo IEPHA/MG, em 1984.
A Igreja do Rosário
          A Capela do Rosário, datada de 1854, segue os traços do estilo das construções do Sertão da Farinha Podre, que se caracteriza pela simplicidade em sua construção, com as paredes da nave em pedra, com vedação em tijolos de adobe, pintura em cal e telhado com telhas tipo, capa e bica, com beirais em cachorrada, com um conjunto de cachorros. Cachorro e cachorradas é um termo usado na arquitetura e nada mais é que pedras ou madeira em balanço, que dão sustentação ao beiral. (na foto acima do Luís Leite, a Capela do Rosário)
          O altar-mor e sacristia em lateral única da Capela do Rosário possui ornamentos e talhas esculpidos em madeira e pinturas interiores, bem simples e singelas. 
          Está situada num lugar privilegiado na vila, em meio a natureza plena, oferecendo paz, acolhimento e conforto aos que visitam a capela. Tanto na Igreja do Desterro, quanto na Capela do Rosário, se passaram boa parte da história do Triângulo Mineiro.

O beleza exuberante da Capela do Rosário em Ouro Preto

(Por Arnaldo Silva) Mais conhecida como Capela do Padre Faria, fica no bairro de mesmo nome, em Ouro Preto MG e foi tombada em 8 de setembro de 1939, como Patrimônio Histórico Nacional, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). É um dos mais belos exemplares do Barroco Mineiro, não só por sua riqueza arquitetônica, mas por fazer parte da origem e história de Ouro Preto e de Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Ane Souz, dos ornamentos interiores da Capela)
          Foi construída nos primeiros anos do século XVIII, pelo Padre João de Faria Fialho, nascido em 1636 na Ilha de São Sebastiao, atual Ilha Bela/SP, falecendo aos 76 anos em 1712, na Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
          Padre Faria era Capelão da Bandeira de Antônio Dias e também, tinha sua própria bandeira. Foi o responsável pela descoberta de ouro na região da antiga Vila Rica, hoje, Ouro Preto. O padre fundou ainda a cidade paulista de Pindamonhangaba, bem como, nesta mesma cidade, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. É atribuída ao Padre Faria, a celebração da primeira missa em Ouro Preto, que aconteceu num dia de São João.
          
Em Ouro Preto, o padre ergueu uma pequena ermida, dedicada à Nossa Senhora do Carmo. Em 1723, a administração e posse da Capela foi assumida pela Irmandade de Nossa Senhora do Parto do Bonsucesso, formada por homens pardos e mamelucos. (foto acima de Ane Souz)
          Por volta de 1740, a Capela passa a abrigar também Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos. Nessa época, a pequena ermida erguida pelo Padre Faria, dá lugar a outra capela, um pouco maior, seguindo o estilo nacional português. Simples por fora e por dentro, uma riqueza impressionante.
 
          A pintura do forro da igreja, segue o estilo barroco mineiro e mostra a coroação de Nossa Senhora do Rosário por anjos, bem como também, pinturas de cenas do cotidiano da época. (foto acima de Ane Souz)
          A estrutura foi erguida em alvenaria seca e tijolos talhados de rocha bruta, chamado de cantaria. A fachada é bem simples, com uma porta frontal em de madeira maciça, emoldurada em pedra lavada e duas janelas com balaústres. Seu interior, conta com laterais talhadas em estilho joanino e três altares, com ornamentos dourados, muito bem talhados, em estilo rococó. (fotografia acima de Ane Souz)
          Nas imaginárias, estão as imagens de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora do Bom Parto. (fotografia acima de Ane Souz) O sino da Capela data de 1750 e a cruz pontifícia, de 1756. Essa cruz chama a atenção por possuir três braços. (na foto abaixo da Ane Souz)
          Acredita-se que os três braços da cruz, simbolize as três bulas pontifícias, assinadas pelo papa Pio VII (Cesena, 14 de agosto de 1742 — Vaticano, 20 de agosto de 1823). Uma bula era um tipo de alvará, assinado pelo papa, que concedia privilégios e indulgências, e tinham força de lei eclesiástica. Nesse caso, as três bulas, concedia privilégios e graças às capelas.

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