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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O Parque Municipal de Belo Horizonte

(Por Arnaldo Silva) Inaugurado 76 dias antes da fundação oficial da Capital Mineira, em 1897, o Parque Municipal de Belo Horizonte, oficialmente, Parque Américo Renê Giannetti, prefeito de Belo Horizonte entre 1951 a 1954, se tornou um dos símbolos da capital e um dos mais tradicionais pontos de encontros das famílias belo-horizontinas. (fotografia abaixo de Rogério Salgado)
          O parque conta com cerca de 280 espécies de árvores diferentes,  entre jaqueiras, ipês, jacarandás, flamboyants, figueiras, fícus, pau-formiga, bougainvilles, manacá-de-cheiro, pau-terra, paineiras, pau-brasil, pau-mulato, dentre outras. Algumas dessa árvores, são centenárias. Cerca de 110 espécies diferentes de pássaros podem ser vistas no parque, como por exemplo, bem-te-vis, sabiás, socós, periquitos, pica-paus, sanhaços, saíras, canários, além de pequenos roedores e animais como por exemplo, micos e gambás.
          As nascentes no parque, formam 3 belos lagos, sendo o maior deles, com barcos e pedalinhos. Tem ainda jardins, parque infantil com diversos brinquedos, quadra de tênis e pista de patinação, pista de caminhada, quadras poliesportivas, equipamentos de ginástica, além de trenzinhos, fontes de água potável, sanitários, lanchonete, pipoqueiros e o tradicional algodão-doce, além dos saudosos fotógrafos lambe-lambe, que registram, desde a origem do parque, as recordações das famílias belo-horizontinas. (foto acima de Rogério Salgado e abaixo de Arnaldo Silva)
          O Parque Municipal é um verdadeiro museu a céu aberto. Caminhando por sua área, encontrará vários monumentos de grande relevância cultural e histórica, como o monumento dedicado à Mãe Mineira, esculpido pelo escultor italiano Lélio Coluccini, inaugurado em 1959.
          Ana Maria de Jesus Ribeiro, mais conhecida por Anita Garibaldi, heroína Catarinense, recebeu homenagens do povo mineiro, com uma estátua sua, instalada na Ilha dos Amores, no lago principal do parque (na foto acima de Arnaldo Silva).
          Duas réplicas de monumentos famosos no mundo, com os originais expostos no Museu do Louvre em Paris, estão no Parque Municipal, instaladas próxima a Avenida Ezequiel Dias. Uma é a réplica da escultura grega de Vitória de Samocrácia e outra, no Lago, outra escultura grega, a Vênus de Milo (na foto acima de Arnaldo Silva).   
          No Parque Municipal, encontra-se um charmoso coreto, rodeado por um belo jardim, em estilo francês. Esse coreto veio da Bélgica e estava inicialmente na antiga praça, em frente a atual rodoviária, transferido em 1922, para o parque. Tudo isso bem no centro da metrópole mineira. (foto acima de Rogério Salgado)
          Um lugar lindo, charmoso, nostálgico, pitoresco e atraente, desde sua fundação. E continua assim até os dias de hoje. É um dos mais belos cartões postais de Minas. Lugar onde famílias passam fins de semanas e feriados com os filhos. É comum toalhas estendidas sobre os gramados e as famílias em volta, no tradicional piquenique. 
          O Parque foi criado pelo engenheiro Aarão Reis, um dos integrantes da comissão criada em 1895, para projetar a nova capital mineira. Projetado por Paul Villon, arquiteto-jardineiro francês, o parque foi instalado na fazenda da família de Guilherme Vaz de Mello, numa área original de 555 mil metros quadrados. 
          Nessa época, o parque formava um imenso quadrado, entre a Avenida Afonso Pena, a antiga rua Araguaia, hoje Francisco Sales, a antiga rua Mantiqueira, hoje Alfredo Balena e a antiga rua Tocantins, hoje, Assis Chateaubriand. Esta área foi escolhida pela riqueza do solo e por suas nascentes de águas, que permitia o plantio de variedades de outras espécies. (foto abaixo de Arnaldo Silva)
          Belo Horizonte foi uma cidade que nasceu planejada. A previsão de seus idealizadores era teria  um crescimento lento, chegando a 100 mil habitantes, em 100 anos. Fatores como a industrialização e o êxodo rural constante, por exemplos, foram predominantes para o crescimento da capital, bem além das previsões iniciais. Mais de 120 anos depois de sua fundação, Belo Horizonte conta hoje com mais de 2,5 milhões de habitantes. 
          Com o crescimento da cidade, principalmente em torno da área do Parque Municipal, optaram por valorizar o crescimento urbano, reduzindo as áreas verdes, visão predominante na época. Assim, o Parque Municipal, começou a perder sua área. Avenidas e ruas em seu entorno começaram a ser alargadas. Com a instalação da Estação Ferroviária na capital, no início do século XX, parte da área do parque, deu lugar a trilhos. (foto abaixo de Rogério Salgado)
          Outra parte de sua área foi cedida para a instalação da Faculdade de Medicina da UFMG e da área hospitalar da Capital, entre as Avenidas Ezequiel Dias e Alfredo Balena. Um pedacinho da área, entre a Avenida Afonso Pena e Rua da Bahia, foi suprimido, para construção da Estação de Bondes, hoje, Mercadinho das Flores. Uma boa área do parque, no sentido BH/Sabará, foi integrada ao bairro Floresta, para construção de prédios residenciais e comerciais.
          Por fim, foram construídos dentro da área do parque, o Teatro Francisco Nunes, na década de 1940. Nas décadas de 1960 e 1970, foram construídos o Orquidário, o Palácio das Artes e o Colégio Imaco.
          Com isso, dos 555 mil metros quadrados da área original do parque, foram ao longo das décadas de sua existência, bastante reduzidos, chegando atualmente, a 182 mil metros quadrados de área. (fotografia acima de Rogério Salgado)
          Hoje, isso não aconteceria novamente com nenhuma outra área verde de qualquer cidade brasileira. Isso porque a visão atual, é de equilíbrio entre a urbanização e o meio ambiente, havendo consenso da necessidade de ampliar as áreas verdes das cidades, não o contrário.
          Em 1977, o Parque Municipal de Belo Horizonte foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA). Todo o conjunto paisagístico e arquitetônico da área do parque, foi tombado. Com isso, novas construções ou perdas de espaços, ficaram proibidos. Nesse mesmo ano, a área foi toda cercada. Em 1992, foram plantadas mais árvores em sua área, além de receber novas melhorias. (panorâmica abaixo de Arnaldo Silva)
          O Parque Municipal é administrado desde 2005 pela Fundação de Parques Municipais (FPM). É aberto à população de terça a domingo, de 6h às 18hs, com entrada franca.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Caeté e o esplendor da Serra da Piedade

(Por Arnaldo Silva) A cidade de Caeté é uma das joias de Minas Gerais. Com cerca de 45 mil habitantes, está apenas 50 km da capital, com acesso pela BR-381, que liga BH a Vitória/ES. Faz divisa com os municípios de Nova União, Taquaraçu de Minas Raposos, Rio Acima, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Bom Jesus do Amparo e Sabará. 
          Seu povoamento e história começa antes, no final do século XVII e início do século XVIII, com a chegada de bandeirantes à região, em busca de ouro, prata e esmeraldas. Fundada em 14 de fevereiro de 1714, quando foi elevada à vila, com o nome de Vila Nova da Rainha, cresceu com a mineração do ouro, tendo sido elevada a distrito em 1724. Com a decadência do Ciclo do Ouro, voltou a ser vila em 1833, para ser elevada novamente a distrito, em 1840, mudando o nome de Vila Nova da Rainha, para Caeté. Em 1865, foi elevada à cidade emancipada. O nome Caeté tem origem na língua tupi, que significa “Mato Verdadeiro”. (fotografia acima de John Brandão- In Memoriam com Caeté ao fundo, e abaixo de de Sérgio Mourão, o centro de Caeté)
          O território de Caeté foi palco de importantes episódios da história de Minas Gerais, como a Guerra dos Emboabas, um confronto travado de 1707 a 1709, entre bandeirantes paulistas e portugueses. Emboabas era um apelido pejorativo que os paulistas deram aos portugueses. A disputa era pelo direito de exploração das minas de ouro, recém descobertas em Minas Gerais. (fotografia abaixo de Thelmo Lins)
          O município é formado pelos distritos de Antônio dos Santos
Morro Vermelho, Penedia e Roças Novas. Caeté conta com uma ótima estrutura urbana, com setor de prestação de serviços bons, um comércio variado, uma boa rede hoteleira e gastronômica. A economia da cidade gira em torno da agropecuária, da indústria extrativa, confecções, moveleira, alimentos, bebidas, dentre outros segmentos, além de suas reservas minerais.
          Outra atividade que movimenta a economia de Caeté é o turismo. A cidade histórica, guarda relíquias dos tempos do Ciclo do Ouro e do Império, em bom estado de conservação como o Museu Regional, a Casa João Pinheiro, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de São Francisco, a Ponte do Funil, o Pelourinho do Poder, além de diversos casarões e construções do período colonial. Tem ainda as belezas naturais do município.
          Caeté possui um grande potencial para o ecoturismo, tendo inclusive, sido citada como um dos nove destinos ideais no Brasil para a prática de esportes radicais, pela Revista Veja. A cidade tem tradição na prática de arborismo e alpinismo, conta ainda com belas paisagens, como a Cachoeira de Santo Antônio, no distrito de Morro Vermelho, o Morro Serrote, a Serra do Gandarela, a Pedra Branca. (fotografia acima de Thelmo Lins)
          A cidade está ainda na Rota do Ferro, um antigo leito do ramal ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava Sabará, Barão de Cocais e Santa Bárbara, cruzando com a linha do trem da Ferrovia Vitória-Minas, em Caeté (na foto acima de Andréia Gomes). Hoje, a Rota do Ferro é uma trilha ecológica, muito usada por ciclistas. Pela trilha podem ser vistas belas paisagens, com cachoeiras, matas nativas, montanhas, cascatas, pontilhões e estações antigas.
          O grande destaque arquitetônico e um dos símbolos de Caeté, é a Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Trata-se de um dos mais belos exemplares da arte barroca e uma das precursoras do estilo rococó em Minas Gerais. (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          Construída em alvenaria de pedra e não em estrutura de madeira e barro, como eram comuns naquela época, a igreja data da primeira metade do século XVIII, com atribuição do projeto a Antônio Gonçalves da Silva Bracarena. Há relatos de época, que diz que Bracarena não projetou a obra, apenas executou, sendo os riscos feitos por Manuel Francisco Lisboa.
          Pra quem não conhece, Manuel Francisco Lisboa, era um renomado arquiteto, carpinteiro, construtor e mestre-de-obras português. Chegou ao Brasil em 1724, vivendo em Ouro Preto, até sua morte, em 1767. Na cidade, deixou grandes obras como pontes e igrejas, como a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1727 e a Igreja do Carmo, construída em 1766, além de ter construído o Palácio dos Governadores e feito outras obras em Ouro Preto e outras cidades. Mas seus talento e obras foram ofuscadas 
pelo talento notável do filho, que teve com uma de suas escravas. Era o pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Manuel Francisco Lisboa é mais conhecido hoje como, “o pai do Aleijadinho”.       Voltando à Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso em Caeté, a igreja ostenta uma imponente fachada, pilastras em relevo de cantaria, com janelas e portada, emolduradas em pedra, torres em corte quadrado, com óculo ao centro e cruz no topo.
          O interior da Igreja simplesmente impressiona pela riqueza dos detalhes e talhas douradas bem trabalhadas. Cada detalhe e cada entalhe é uma história e uma arte que impacta. A Igreja de Caeté é mais que uma igreja, é uma obra de arte pura! (fotografia acima e abaixo de Thelmo Lins)
          São oito altares com sanefas e baldaquinos, atribuídas a José Coelho Noronha. O forro da nave tem pinturas em perspectivas, o coro e pia batismal, em madeira. O retábulo do altar-mor, apresenta colunas salomônicas, anjos e um resplendor, onde estão onde estão simbolizados Deus Pai e o Espírito Santo e conta com a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso. 
          O filho de Manuel Francisco Lisboa, o jovem Antônio Francisco Lisboa, estava iniciando nos primeiros passos na arte barroca, ensinada por seu pai. Aleijadinho, como mais tarde passou a ser conhecido, participou da ornamentação desta igreja como aprendiz, tendo esta obra influenciado na definição de seu estilo arquitetônico próprio, que fez dele o maior artista da arte barroca no Brasil e um dos artistas mais notáveis do mundo.
A Serra da Piedade
           Caeté é também um centro de peregrinação religiosa. Todos os anos, cerca de 500 mil romeiros, vindos de todo o Brasil, visitam a cidade. Isso porque é no município que está a Serra da Piedade e no topo da serra, a 1746 metros de altitude, está o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, construção iniciada em 1704 e concluída em 1770, contando com obra do Mestre Aleijadinho em seu altar. (foto acima do John Brandão/@fotografo_aventureiro) 
          A pequena ermida foi elevada a Basílica em 2017, pelo Papa Francisco, sendo até então, a menor basílica do mundo. Vale ressaltar que Nossa Senhora da Piedade é a Padroeira de Minas Gerais. (foto acima de Elpídio Justino de Andrade) Em 1974 foi construído um novo templo, atrás da Capela histórica. O novo templo foi projetado pelo arquiteto Alcides da Rocha Mineira, para receber os romeiros, chamada de Igreja Nova das Romarias.
          Antes da chegada do santuário, está o Observatório Astronômico Frei Rosário, da Universidade Federal de Minas Gerais. A estrada para o Santuário é muito bem conservada, segura e sinalizada. Além disso, o local conta com uma excelente estrutura para receber os romeiros como estacionamento, restaurante, cafeteria, lanchonete, loja onde se encontra diversos produtos religiosos, além dos famosos queijos maturados nas nuvens, dos frades que vivem no local e a Casa dos Peregrinos Dom Silvério, lugar para ideal para orações, meditações e seminários.
          Do alto da Serra da Piedade, o visual é deslumbrante, com vistas para várias cidades no entorno da Serra, como Belo Horizonte e o mar de serras, que impressiona pela beleza. (fotografia acima de John Brandão/@fotografo_aventureiro) Um lugar de paz, de sossego, de meditação, de contato com o eterno. O visitante, sente-se tocando no céu, se sentindo no coração de Deus.
          A Serra da Piedade é desde 16 de julho de 2004, Monumento Natural de Minas Gerais, através da Lei nº 15.178/2004, que definiu os limites de conservação da Serra, de acordo com a Constituição Mineira.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

As 15 mais belas capelas de Minas Gerais

(Por Arnaldo Silva) Basílica, Catedral, Paróquia, Igreja, Capela e Ermida. Essa é ordem hierárquica dos templos católicos. Basílica é a mais alta na hierarquia dos templos católicos. Diferencia das catedrais por ser mais pomposa e ter alguns privilégios, como por exemplo, altar reservado ao papa, cardeais e outras autoridades superiores da Igreja. Já uma Catedral, seria a sede da diocese, que é um conjunto de paróquias, tendo um bispo como superior, responsável. As igrejas são os templos principais que formam a Paróquia, tendo uma delas, designada como matriz.
          As Capelas são pequenos templos, com atendimentos religiosos específicos, mas sem contar com os serviços religiosos normais do dia-a-dia das igrejas, como esta acima, registrada pela Karla Jardim/@tripcatasaltas, a Capela do Senhor do Bonfim, datada do século 1789, integrada ao casario colonial da Rua Monsenhor Barros - Santa Quitéria, em Catas Altas MG, Região Central.
          Esses pequenos templos foram e até hoje são construídos em locais mais distantes da Matriz, como por exemplo em casarões de sedes de fazendas, colégios, universidades, presídios, conventos, quartéis, quilombos, aldeias indígenas e comunidades rurais ou mesmo dentro das cidades, com funções específicas.
          Uma dessas capelas, com funções específicas, é a Capela do Santuário Schoenstatt Tabor da Liberdade ou Santuário da Mãe Rainha, em Confins, a 30 km de BH, a 5 minutos do Aeroporto Internacional (na foto acima de Elvira Nascimento). Construída em 2003, a singela Capela, é uma réplica do Santuário Schoenstatt, movimento religioso pertencente à Igreja Católica Apostólica Romana, fundado pelo Padre José Kentenich, em 1914, na cidade de Schoenstatt, na Alemanha. No mundo, são cerca de 200 santuários existentes e no Brasil, são 22. O santuário tem uma ótima estrutura para receber os fiéis, devotos da Mãe Rainha, que vem de todas as regiões do Brasil, principalmente em maio e outubro, para expressarem sua devoção a Mãe Rainha. É uma das referências do turismo religioso em Minas Gerais.
          Já as ermidas, são pequeninos templos, geralmente construídos em locais ermos e distantes das fazendas e vilarejos ou mesmo, (na foto acima do Marley Melo, uma pequena ermida, na Zona Rural de Mar de Espanha MG, Zona da Mata).          
          Em tempos antigos, era tradição construir capelas e ermidas nas fazendas e comunidades rurais, devido às dificuldades do povo em ir às igrejas assistir às missas e participar das atividades da paróquia.
          Nas capelas, faziam as rezas dos terços e celebravam as principais festas religiosas como Semana Santa, Corpus Christi e festas dos santos padroeiros de cada capela, além dos festejos tradicionais, como Festas Juninas e agradecimentos pela colheita ou graças alcançadas.
          Uma das capelas que se destaca em Minas Gerais, sendo considerada uma das mais belas, é a Capela do Senhor do Bonfim (na foto acima da Elvira Nascimento), no topo do Morro Redondo, em Ipoema, distrito de Itabira MG, Região Central. O Morro Redondo está a 1.180 metros de altitude, acima do nível do mar. É um lugar ideal para fotografar, meditar e contemplar a natureza, já que do mirante, ao lado da Capela, é possível avistar os distritos de Ipoema, Serra dos Alves e Senhora do Carmo, além da Mina do Cauê, o Santuário do Caraça e o município de Bom Jesus do Amparo.
          São milhares de capelas espalhadas pelos 853 municípios e 1772 distritos mineiros, cada uma mais linda que a outra e algumas, como a Capela de Nossa Senhora do Ó, em Sabará, iniciada em 1717, são verdadeiros tesouros de nossa história. A Capela é um esplendor de beleza e um dos mais belos exemplares do estilo Nacional Português em Minas Gerais, a primeira fase do Barroco Mineiro, além de contar com traços orientais em suas ornamentações interiores.
          Infelizmente não temos como postar todas, por isso, escolhemos, apenas 15 capelas que se destacam por sua relevância histórica e arquitetônica para Minas Gerais. São capelas reconhecidas como patrimônios municipais, do Estado de Minas Gerais e do Brasil, através tombamento pelos órgãos de cultura das prefeituras locais, pelo IEPHA e IPHAN.
1ª - Capela de São José da Serra em Jaboticatubas
 
          Uma singela capela, com arte, adornos e contornos bem mineiros, em estilo colonial, encanta quem visita a pitoresca e bucólica Vila Colonial de São José da Serra, distrito de Jaboticatubas, apenas 25 km do Centro da cidade. A mimosa vila é um encanto, com seu casario em estilo colonial, bem preservado, o marco do Cruzeiro, datado de 1800 e sua capela, em tom azul e branco, com data de 1922, formam um dos mais simples, singelos e importantes conjuntos arquitetônicos mineiros. Da charmosa e atraente capela, tem-se como vistas, as belezas naturais da Serra do Cipó. (foto acima de Alexa Silva/@alexa.r.silva)
2ª - Capela de Santana em Belo Vale
          Em Belo Vale, distante 88 km de Belo Horizonte, no Vale do Paraopeba, o Vale do Charme Mineiro, está um dos mais queridos templos religiosos de Minas e um dos marcos da fé católica da cidade: a Capela de Santana, na Comunidade de Santana do Paraopeba, a 9 km de Belo Vele.
          Construída em1735 pelos escravos, a mando de Manoel Sobreira e Manoel Machado, dedicaram a Capela a Santa Ana, a mãe de Maria e avó de Jesus. 26 de julho é o dia da santa e nesse dia, foi descoberto ouro na região. Por isso a dedicação do Capela à Santana. A arquitetura da Capela evidencia a transição do estilo Nacional Português, para o início do Barroco Mineiro. A Capela possui altares e retábulos em madeira muito bem trabalhadas, bem como seus ornamentos internos, talhas douradas no altar-mor e pinturas no forro, evidenciando assim a fase clássica da arte barroca mineira.
          Desde sua construção, a Capela passou por algumas reformas, apresentando em sua arquitetura, elementos do estilo barroco e a partir de 1920, recebendo retoques em estilo eclético. Em 1929, uma grande intervenção, modificou a fachada original da Capela, abrindo arcos em sua porta e janelas, e acrescentando elementos diferentes do estilo barroco original da Capela. De original, restou em sua fachada, a data grafada, quando da construção do templo: 1735. A Capela passou por nova restauração recente, em 2020, de sua parte arquitetônica, cabendo agora a restauração de seus elementos artísticos interiores.
3ª - Capela do Rosário em Milho Verde
          A singela e mimosa capela do século XIX, dedicada à Nossa Senhora do Rosário, erguida pela devoção e fé dos negros livres e escravos, é um dos mais importantes templos setecentistas de Minas Gerais. Pouco se sabe sobre sua história, construção e data de seu início e conclusão da obra. A certeza é que é do século XIX e que é uma das maiores preciosidades da arquitetura mineira. (na foto acima de John Brandão/@fotografo_aventureiro.)
          Ladeada por um charmoso e simples casario colonial, localizada no topo de uma colina, de onde se tem uma bela vida em redor, principalmente do Pico do Itambé, fica em Milho Verde, distrito da cidade do Serro MG no Vale do Jequitinhonha.
          Erguida em barro, com estruturas em madeira bruta, mas bem trabalhadas, principalmente na sua fachada, chanfrada e com torre central, telhado em duas águas e ornamentos interiores em talhas simples. A pequena capela se destaca por ser um dos mais belos símbolos da mineiridade e simplicidade mineira e uma das mais visitadas e fotografadas capelas do Estado.
4ª - Capela da Penha em Passos
          Uma arquitetura diferente e singular para as capelas do século XIX, em forma octogonal e muito atraente (na foto acima de William Cândido), construída por Antônio de Faria e sua esposa, por gratidão à Nossa Senhora da Penha, por graça alcançada. A construção começou em 1863 e foi concluída em 1867, com bênção do padre João da Fonseca e Melo. Passou uma reforma na década de 1960 e outra, na década de 1980. Em 2008 passou por um novo processo de restauração, administrado pelo arquiteto André Nery, tendo sido concluído em 2009. É um dos maiores símbolos da religiosidade de Passos, um povo com tradições vivas, reconhecido pelo amor às sus tradições e preservação das festividades religiosas seculares. Por sua importância, a Capela de Nossa Senhora da Penha, é um bem tombado pela administração municipal desde 1998.
5ª – Capela do Senhor do Bonfim em Santa Luzia
          No Centro Histórico de Santa Luzia, cidade distante apenas 20 km de Belo Horizonte, uma charmosa capela erguida entre o final do século XVIII e início do século XIX, chama atenção, em meio a suntuosas construções do período colonial na cidade. É a Capela do Senhor do Bonfim (na foto acima do Elpídio Justino de Andrade), restaurada e entregue à população em 2006, pelo IEPHA/MG. 
          É uma típica construção do Barroco Mineiro, com telhado em duas águas, porta frontal, duas portas no fundo, um sineiro sem torre e duas janelas frontais. As paredes tem a cor branca, com a base, em madeira, na cor azul. É um dos tesouros arquitetônicos de Minas Gerais. Em seu altar-mor, segue o estilo rococó, com ornamentação feita em talhas bem trabalhadas e no altar, a imagem do Senhor do Bonfim, esculpida por um escravo, que fez a obra em troca de sua carta de alforria, segundo a tradição oral.
6ª – Capela de Santa Quitéria em Catas Altas
          Construída por volta de 1728, no século XVIII, no alto de uma colina em Catas Altas MG, Região Central, a Capela Setecentista de Santa Quitéria é uma das mais expressivas construções em estilo Nacional Português em Minas Gerais. A base de sua estrutura é madeira maciça e barro, com frente chanfrada e torre central. Em seu interior, elementos do estilo joanino e rococó, ornamentam o altar-mor. (fotografia acima de Tom Alves/tomalves.com.br)
          A Capela foi tombada em 1999 pelo Núcleo Histórico de Catas Altas e também pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG)
7ª - Capela de São Francisco em Monte Verde
          Monte Verde tem sua origem em imigrantes vindos da Letônia (Latvijas Republika), país do Leste Europeu, na parte oriental do Mar Báltico. Seu fundador é o letão Verner Grimberg, percebendo semelhanças do lugar com seu país, como as paisagens, o frio e belezas naturais, adquiriu uma fazenda na região. Com o passar do tempo, outros letões começaram a chegar e um povoado a se formar, sendo hoje, Monte Verde, um dos mais badalados centros de turismo no Brasil. Os letões, fundadores de Monte Verde, deixaram um pouco da história, culinária e a arquitetura da Letônia, presente em todos os cantos da charmosa vila, de 6 mil habitantes.
          Uma dessas construções, em estilo letão, que se destaca, é a Capela de São Francisco de Assis (na foto acima de Sérgio Mourão), localizada na principal via de Monte Verde e bem ao lado da Paróquia de São Francisco de Assis. A pequena Capela, representa o estilo de vida de São Francisco de Assis, em sua simplicidade e humildade.
8ª – Capela do Porto do Saco
          No final do século XVIII e nos primeiros anos do século XVIII, foi formada uma fazenda, na curva do Rio Grande, em Carrancas MG, Campo das Vertentes. Essa curva lembra um saco, com a fazenda passando a ser associada a essa curva, sendo chamada de Fazenda do Saco.
          
Segundo a tradição oral, uma imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada à beira do Rio Grande. Retirada da beira do rio, foi levada para uma capelinha de madeira na fazenda. Dona Júlia Maria da Caridade, proprietária das terras, decidiu construir uma capela, de alvenaria para abrigar a imagem. (na foto acima de Rogério Salgado) A tricentenária capela foi erguida em pedra, na cor branca, com 4 janelas e porta frontal, portas e janelas laterais, em madeira, sem torre e sineira interna, sendo ainda, cercada por uma murada de pedras. Sacristia com retábulos, pinturas e ornamentos simples, em estilo rococó. No assoalho da Capela, estão os túmulos dos seus benfeitores. Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, IEPHA/MG, a Capela é ainda, o primeiro patrimônio municipal de Carrancas e em torno da Capela, um povoado, hoje distrito, começou a ser formar a partir de 1879 está a 18 km do Centro de Carrancas.
9ª - Capela do Patriarca São José em Cordisburgo
          Construída em 1883 pelo Padre João de Santo Antônio, foi dedicada ao Patriarca São José. Em torno da Capela (na foto acima do Edson Borges), em estilo colonial e até os dias de hoje, preservada em sua originalidade, formou-se um povoado, com o nome de Vista Alegre. O pequeno povoado, deu origem à cidade de Cordisburgo, na Região Central. Por isso a importância da Capela para a história e formação do município, conhecido ainda pelas grutas, como a de Maquiné e por ser a terra do escritor Guimarães Rosa.
10ª - Capela Bom Jesus de Matosinhos em Couto de Magalhães
          Construída no final do século XVIII, a Capela do Senhor Bom Jesus de Matozinhos (na foto acima de Leandro Leal), na cidade de Couto de Magalhães de Minas, no Vale do Jequitinhonha, é uma das mais singelas e belas arquiteturas do Barroco Mineiro. Tombada pelo IEPHA/MG em 2 de junho de 1977, a capela segue o estilo das construções barrocas, com fachada bem simples, com uma única torre e uma beleza impactante em seu interior. 
          Destaca pela beleza dos retábulos, com pinturas e esculturas seguindo o estilo rococó e também o estilo joanino, com destaque para as imaginárias nos altares laterais do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Rita, de Santana, além de dois crucifixos. Retábulos são estruturas artísticas com louvores, instalados atrás ou acima do altar, feitos em madeira, mármore, pedra-sabão ou outro tipo de material, encerrando um ou mais painéis, pintados ou esculpidos.
11ª – Capela do Sagrado Coração de Jesus em Tabuleiro
          Conceição do Mato Dentro é uma cidade histórica mineira, distante 170 km da capital. Com origens nos primeiros anos do século XVIII, a tricentenária cidade se destaca pela riqueza do seu patrimônio arquitetônico. Destaca atualmente pela mineração, por suas paisagens espetaculares, pelo ecoturismo e seus distritos, igualmente ricos em tradição, história e arquitetura. Entre esses distritos, está Tabuleiro, distante 18 km do Centro da cidade. (foto acima de @vinicusbarnabe) Além de estar no distrito, a maior cachoeira de Minas, a Cachoeira do Tabuleiro, com 273 metros de queda, o Poço do Pari, Poço Pari, o Sítio Arqueológico do Dourado, a Lapa dos Gentios e Piscina da Lapa do Rio Preto, além da Cachoeira do Zé Cornicha.
          O bucolismo e mineiridade da charmosa e acolhedora vila colonial está presente em suas construções e em seu povo, muito hospitaleiro e acolhedor. Vivem na mimosa vila, pouco mais de 1 mil moradores. Tabuleiro guarda um dos tesouros do barroco mineiro: a capela do Sagrado Coração de Jesus.
          A capela e toda a vila simbolizam a nossa mais genuína mineiridade, evidenciando a harmonia da arquitetura barroca, com a simplicidade de seu povo e com a natureza. Erguida no topo de uma colina, que permite uma bela vista da vila e da natureza em redor, tem acesso por uma ladeira em pedras e escadaria, muito bem cuidada e iluminada. A Capela possui em seu exterior detalhes bem simples com estrutura em madeira, na cor vermelha, portas e janelas na cor azul, com contornos vermelhos, uma torre com sineira, portas e janelas laterais e telhado em duas águas. Seu interior conta com altar-mor, retábulos, pinturas e ornamentos bem simples, mas muito bem preservados e cuidado com muito carinho por seus moradores.
12ª – Capela do Rosário em Grão Mogol
          Uma capela singular e de grande importância para a cidade histórica norte-mineira, de Grão Mogol MG, com origens no século XVIII, com suas construções no estilo colonial e em pedras, abundantes na região. Um dos destaques da cidade é a Capela de Nossa Senhora do Rosário. Erguida em pedra sobre pedra, janelas de madeira em formato de arco e telhado colonial e altar em talhas bem trabalhadas que impressionam pela beleza e riqueza, dedicado à Nossa Senhora do Rosário, retratada no altar segurando um terço, e com vestes em azul. A capela foi tombada em 2001 como patrimônio municipal. (fotografia acima de Tharlys Fabrício)
13ª - Capela de São Francisco de Paula em Tiradentes
          Edificada no alto de um morro, com gramado em sua frente e a tradicional cruz, com os instrumentos usados nas chagas de Jesus, está a singela Capela de São Francisco de Paula. É uma das mais importantes capelas, edificadas durante o Ciclo do Ouro, na cidade histórica de Tiradentes MG.
          Erguida em meados do século XVIII, foi tombada como patrimônio nacional pelo IPHAN, em 27 de janeiro de 1964. Por estar num lugar alto, com ampla vista para a cidade, em especial, a Matriz de Santo Antônio, subir o morro, conhecer a capela e fotografar a cidade e a Serra de São José, é quase que um ritual dos turistas que visitam Tiradentes.
          Diferente das tradicionais capelas erguidas em no município, a Capela (foto acima do César Reis) possui as sineiras não em torres e sim no corpo da fachada, que tem ainda duas janelas e uma porta em madeira bruta. Em seu interior, encontra no retábulo-mor a imagem de São Francisco de Paula, além das imagens de Santo Antônio e Nossa Senhora do Carmo. No lado direito da Capela, um painel de autoria de G. Rodrigues, feito na década de 1940, retrata moradores de Tiradentes, assistindo uma missa. Nas laterais da Capela, pode se ler a reprodução de dois ex-votos, datados do século XVIII. Em um desses ex-votos, pode-se ler a seguinte frase: “Mercê que fez São Francisco de Paula a Bernarda Maria, dando saúde a um seu escravo por nome José; que por espaço de cinco dias não comeu nem bebeu, nem fez operação alguma. Anno de 1787”. Um ex-voto, palavra em latim que significa “por força de uma promessa”, é um presente que um fiel oferece ao seu santo de devoção, em consagração, renovação de uma promessa ou agradecimento de uma graça alcançada.
14ª - Capela de Santa Rita em Serro
          É o maior símbolo da cidade do Serro MG, Vale do Jequitinhonha, e uma das mais singelas e belas construções coloniais do Estado de Minas Gerais. (foto acima de Elvira Nascimento) Erguida no topo de uma colina, com vista de 360 graus da cidade, com acesso por uma escadaria de 57 degraus, está a Capela de Santa Rita, construída por volta de 1745, no século XVIII.
          A arquitetura da Capela é simples, charmosa e atraente. Seu telhado é em duas águas, com fachada poligonal, com uma porta central e duas laterais e 5 janelas e uma única torre, onde está um relógio. Em seu interior, talhas em detalhes dourados e pinturas marmorizadas e motivos florais, nas paredes, feitas no século XIX, completam a harmonia da arte barroca mineira. A Capela está inserida no Conjunto Arquitetônico do Serro, tombado como Patrimônio Nacional pelo IPHAN em 1938.
15ª - Capela de Santo Antônio do Canjica
          Em Tiradentes, no Campo das Vertentes está uma das mais singelas e simples capelas mineiras, tanto em seu exterior, quanto em seu interior. Dedicada a Santo Antônio, data dos primeiros anos do século XVIII, erguida numa área de mineração de ouro. À época, as pedras de ouro encontradas nas minas em torno da capela tinham o tamanho dos grãos do milho da canjica. Por esse motivo, a localidade passou a se chamar Canjica e a capela, dedicada a Santo Antônio, teve o acréscimo de Canjica, passando a se chamar, por todos de Capela de Santo Antônio do Canjica. (foto acima do César Reis)
          A simplicidade da Capela e do bairro, contrasta com sua importância para a região, durante o Ciclo do Ouro, já que era a principal área de exploração mineral de Tiradentes, no século XVIII. Mesmo um pouco distante do Centro Histórico de Tiradentes, o bairro do Canjica e sua capela, por sua importância histórica, são considerados, pelo IPHAM, partes do conjunto paisagístico e arquitetônico da cidade histórica mineira.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Inconfidentes: a Capital Nacional do Crochê

(Por Lucas Silva Dantas*) Inconfidentes, localizada no interior do Sul de Minas Gerais, é uma cidade encantadora na sua simplicidade, na sua beleza e na riqueza dos seus talentos. Localizada a 441 quilômetros da sua Capital Belo Horizonte com acesso pela BR-381 e MG-290, a cidade possui aproximadamente 7.300 habitantes e 149 Km2, fazendo divisa com os municípios de Bom Repouso, Borda da Mata, Bueno Brandão, Ouro Fino e Tocos do Moji.
Fotografia de Cesar Augusto Neves, por meio do seu projeto “Um Novo Olhar sobre Inconfidentes”, para a Lei Aldir Blanc.
          Segundo a historiadora Leyde Moraes Guimarães no seu livro “Inconfidentes: a terra que me viu nascer” (2010):
          “Naturalmente os primeiros habitantes desta região foram os gentios – talvez o gentio caiapó (habitante das matas) – que dominaram a vasta região da cabeceira do rio Mogi-Guaçu. Inconfidentes está situada em território que era ocupado por eles. A nação caiapó pertencia ao grupo jê e era de caráter bravio. Dominava desde a cabeceira do rio Araguaia, em Goiás, até as cabeceiras dos rios Oriçanga e Mogi-Guaçu. Suas aldeias se estendiam pelos vales dos rios.
          Geralmente estabeleciam residências nos lugares onde mais abundavam a caça e a pesca. ”
          Segundo Elaine Garcaia Reberte, em seu trabalho denominado “Histórico de Inconfidentes” (1998):
          “A vinda dos bandeirantes em busca de ouro nas margens do Rio Mogi Guaçú também marca a história de Inconfidentes. O território era chamado Povoado de Mogi Acima e pertencia ao município de Ouro fino. O ourofinense Júlio Bueno Brandão tomou todas as providências junto ao Governo Estadual para que fosse criado uma Colônia Agrícola de Estrangeiros, onde foi concedido e iniciada em 22 de maio de 1910. Intitulada Núcleo Colonial de Inconfidentes as terras foram distribuídas para os colonos italianos, espanhóis, portugueses, russos, estonianos, franceses, suíços e outras nacionalidades. Desta forma, Inconfidentes não nasceu de um assentamento, mas da colonização por colonos estrangeiros e nacionais."
Fotografia de Maria Stela Rissatti, por meio do seu projeto “Uma proposta de arquivo histórico de garra da população de Inconfidentes”, para a Lei Aldir Blanc.
          Inconfidentes se tornou município em 30 de dezembro de 1962, o nome da cidade é uma alusão aos heróis da Inconfidência Mineira, como Tiradentes e Alvarenga Peixoto.
          A cidade de Inconfidentes apresenta na sua formação os contornos de vários povos, etnias, culturas e tradições diversas. Tem um histórico de luta e resistência para deixar de ser núcleo colonial, para se desligar de Ouro Fino, até ser oficializada como município. Desde a sua criação, a cidade foi pensada por engenheiros da época, com projeção das praças, quarteirões, entre outros espaços, para que pudesse um dia ser reconhecida como cidade.
          Em Inconfidentes está sediado o Instituto Federal do Sul de Minas Gerais (IFSULDEMINAS) - Campus Inconfidentes, um dos maiores polos de ensino e pesquisa do Brasil. Segundo o site do Instituto:
          “O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – campus Inconfidentes, tem sua origem em 28 de fevereiro de 1918, pelo Decreto nº 12.893, nove anos após a criação da primeira Escola Agrícola no Brasil, ainda como Patronato Agrícola, vinculada ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Permaneceu assim até o final da década de 50, quando então passou a ser denominada a Escola Agrícola “Visconde de Mauá”, oferecendo curso ginasial, durante toda a década de 60. No dia 29 de dezembro de 2008 a Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes/MG, passou a denominar Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Campus Inconfidentes, juntamente com as ex- escolas agrícolas de Machado e Muzambinho. Com a sua criação, os Institutos deverão ter forte inserção na área de pesquisa e extensão, visando estimular o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas e estendendo seus benefícios à comunidade.”
Fotografia de Rosiane Aparecida Silva, por meio do seu projeto “Um Olhar Sobre Inconfidentes”, para a Lei Aldir Blanc
          Inconfidentes é reconhecida como a Capital Nacional do Crochê, sendo uma das maiores produtoras de crochê, malhas, fios, fibras e tapetes do Sul do Minas Gerais. O crochê está no dia a dia da população, se transformou em fonte de renda de muitas pessoas do município, deixando um legado histórico e cultural para a cidade. O modo de fazer crochê foi tombado como Patrimônio Cultural do Estado de Minas Gerais através da lei Nº 22896, DE 11/01/2018. A cidade integra o Circuito Turístico das Malhas, sendo uma das maiores produtoras de malhas e de crochê do Estado.
          A cidade se tornou famosa por sua produção artesanal de peças com essa técnica, tanto em linha de seda quanto em linha de barbante. O crochê está na decoração das árvores, no tapete das casas, nas lojas de artesanato, nas roupas e acessórios, nas mãos de crocheteiras que ensinam suas filhas, suas netas e passam essa arte de geração em geração. O crochê produzido em Inconfidentes se espalha pelas lojas de todo o País. Estima-se que mais de 2 mil pessoas fazem o artesanato no município, comprovando o ditado popular que diz que em Inconfidentes toda família tem uma crocheteira.
Fotografia de Caroline Silva Dantas, por meio do seu projeto “Mãos (In)Visíveis”, para a Lei Aldir Blanc.
          Para trazer visibilidade as malharias, comércios, artistas e artesões do Município foi criado a CrocheMalhas, um importante evento da cidade com cerca de 4 dias de exposição com desfiles, shows e outros eventos organizados para atrair turistas e a população das cidades vizinhas. Nos dias de realização da CrocheMalhas a cidade toda se reúne para apreciar a exposição de malhas, crochês, entre outros artesanatos e produções.
          Em 2005, Inconfidentes entrou para o Rank Brasil como o maior artesanato linear em Crochê do Brasil com um tapete de 2.578,09 metros. A peça de crochê foi estendida desde a entrada da cidade, passando pela avenida principal, decorando toda a praça da igreja e entrando até o pavilhão de exposições da CrocheMalhas.
          Para além do crochê Inconfidentes também possui outras riquezas e conta com a produção de alho, café, verduras, legumes, frutas, bucha, leite, queijo, danone, doce de leite, entre outros produtos que trazem riqueza, fartura e que são o sustento de muitas famílias da cidade. Os produtores rurais estão espalhados por todo o município, que possui extensa Zona Rural, com plantações e produções diversas, incluindo a pecuária.
Fotografia de Rosiane Aparecida Silva, por meio do seu projeto “Um Olhar Sobre Inconfidentes”, para a Lei Aldir Blanc 
Fotografia Ana Luiza Silva Ribeiro do Vale, por meio do seu projeto “Sobre Olhares”, para a Lei Aldir Blanc.         
          Inconfidentes também faz parte do roteiro turístico do Caminho da Fé, caminho de peregrinação inspirado no milenar caminho de Santiago de Compostela na Espanha. Para além do Caminho da Fé Inconfidentes também está no trajeto do Caminho da Prece, Caminho de Nhá Chica, Caminho das Graças e Prosas e Caminho das Capelas. Inconfidentes possui hotéis, hostel e pousadas prontas para receber turistas e peregrinos que por aqui passam e desejam conhecer melhor o município!
          Seja para apreciar as árvores revestidas de crochê, para peregrinar pelos diversos caminhos que passam pelo município, para imergir no turismo rural e conhecer picos e cachoeiras, para comprar os artesanatos, provar o café, os queijos e doces, para conhecer o IFSULDEMINAS Campus Inconfidentes e seus inúmeros cursos técnicos, para visitar a Igreja e as diversas capelas do município, visite e conheça Inconfidentes!
Fotografia de Ana Luiza Silva Ribeiro do Vale, por meio do seu projeto “Sobre Olhares”, para a Lei Aldir Blanc.
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*Lucas Silva Dantas é educador e artista, natural de Inconfidentes e colaborador do Turismo e da Cultura do município
Referências Bibliográficas: Livro “Inconfidentes a terra que me viu nascer - aspectos históricos gerais” escrito por Leyde Moraes Guimarães (2010); Trabalho “Histórico de Inconfidentes”, escrito por Elaine Garcia Reberte (1998)

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Itapanhoacanga: preciosa joia da Estrada Real

(Por Arnaldo Silva) Itapanhoacanga, em tupi-guarani significa “Serra da Cabeça Preta”. É um nome que dá para enrolar a língua, mas também, ensina muito. Principalmente sobre a história da mineração de ouro e diamantes, nos tempos do Brasil Colônia.
          Itapanhoacanga é um charmoso, atraente e acolhedor distrito de Alvorada de Minas, pequena cidade mineira com pouco mais de 4 mil habitantes, a nordeste da Região Central. O município está a 210 km de Belo Horizonte, com aceso pela MG-010. Faz divisa com os municípios do Serro, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim e Sabinópolis. (na foto acima do Anderson Sá, o letreiro do distrito e abaixo, do Marcelo Santos, a Igreja do Rosário)
          Quem quer conhecer a Estrada Real e sua história, tem que conhecer Itapanhoacanga, uma charmosa e atraente vila colonial mineira, onde vivem cerca de 1700 pessoas.  A vila tem origens no inicio do século XVIII. Tem ainda como tradição as tradicionais Marujadas, Bumba Meu Boi e a Folia de Reis, preservadas em sua originalidade.
          Além de sua riqueza arquitetônica e folclórica, encontra-se no distrito, belíssimas paisagens, principalmente às margens dos rios Landim, Campina e Tanque do Carumbé, além desses rios serem pontos de lazer de seus moradores.
          A economia de Itapanhoacanga tem como base a agricultura, pequenos comércios, o turismo e a mineração, com exploração atualmente de jazidas de minério, na região. A mineração se estende de São Sebastião do Bom Sucesso, antigo Sapo, distrito de Conceição do Mato Dentro MG, até as proximidades do município do Serro MG. A atividade vem reativando a economia de toda região, onde estão as jazidas de minério. (fotografia acima de Luciana Silva)
          No Século XVIII, Itapanhoacanga era distrito do Serro do Frio e se destacava no garimpo, sendo o distrito que gerava mais riqueza, com exploração de seus garimpos de ouro. Essa riqueza, além de sua posição privilegiada, transformou Itapanhoacanga num pouso do Caminho dos Diamantes e da Estrada Real. Ligava o Serro do Frio à Ouro Preto. Quem vinha da região de Diamantina, passava pelo Serro do Frio e pousava em Itapanhoacanga. 
          O trecho da Estrada Real, em Itapanhoacanga é hoje a rua principal do distrito. Por essa rua, passaram governadores, fidalgos portugueses, mercadores, tropeiros, garimpeiros e tropas diversas. Nessa rua passaram também importantes viajantes e pesquisadores, como John Mawe, em 1808 e Saint-Hilaire, em 1816. (foto acima e abaixo da Luciana Silva)
          No auge do Ciclo do Ouro, no século XVIII, era uma das regiões mais movimentadas da Estrada Real. Com a escassez do ouro, o movimento sofreu drástica redução, bem como o declínio econômico, não só em Itapanhoacanga, mas em todas as cidades produtoras de ouro e diamantes, foi visível. O que ficou do auge da riqueza, foram as ricas construções coloniais e principalmente, as igrejas, ornadas em ouro puro, com talhas e pinturas muito bem trabalhadas. Hoje, relíquias de nossa história e de um imenso valor cultural.
          Itapanhoacanga conta um pouco desse tempo e preserva em sua arquitetura, cultura e religiosidade, as tradições dos séculos XVIII e XIX. 
          Entre as maiores riquezas, presentes no distrito, são hoje consideradas de grande valor arquitetônico e de grande importância histórica, para Minas Gerais. 
          Uma delas é a Igreja de São José, um dos mais importantes templos da arte barroca mineira, tombado pelo IPHAN em 1972. (foto acima de Giselle Oliveira) A obra teve início em 1746, tendo sido concluída em 1785. Dois anos depois, era concluída a pintura do forro. Em estilo rococó, com12 belíssimos painéis, representando cenas da vida de José, o pai de Jesus. No forro, está grafada a seguinte frase: “No ano de 1787, pintou esta pintura Manoel Antônio da Fonseca, por mandado do Capitão José Pereira Bonjardim, que por sua devoção deu as tintas”. A igreja conta uma portada e duas janelas frontais que impressionam pelo fino acabamento, bem com as talhas internas, principalmente na ornamentação do altar-mor. 
          A Igreja de São José foi restaurada, entre 1999 e 2000, e como podem ver na foto acima, carece de nova restauração. E será restaurada.
          Ao custo de 4 milhões de reais, a Igreja de São José de Itapanhoacanga, será totalmente restaurada pelo IPHAN, em parceria com a multinacional inglesa Anglo American PLC, uma das maiores mineradoras do mundo, que atualmente, atua na exploração mineral na região.
          A parceria entre o órgão federal e a minerador, é fruto fruto da assinatura de um Termo de Compromisso, para restaurar esse importante patrimônio histórico de Minas Gerais, num prazo de 24 meses. Será uma restauração completa, começando pela parte artística da igreja, como portada, forros, altar, pisos, elementos decorativos, etc. A igreja contará ainda com proteção contra descargas elétricas, alarmes, proteção contra incêndios, além de sonorização e instalações hidrossanitárias adequadas.  
          Outra igreja de destaque e de grande valor em Itapanhoacanga é Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (na foto acima de Giselle Oliveira). É outra obra magnífica do Barroco Mineiro, com a pintura dos painéis de seu forro atribuídas a Manuel Antônio da Fonseca. Acredita-se também que um dos discípulos de Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde, tenha participado da pintura dos painéis do forro da Igreja. (fotografia abaixo da Luciana Silva)
          Por sua história, por sua riqueza arquitetônica e por sua importância nos tempos da exploração do ouro e diamantes, Itapanhoacanga é uma das maiores joias de toda a Estrada Real, do Barroco Mineiro e de Minas Gerais. Carrega em seus três séculos de existência, boa parte da história de Minas Gerais. É a história viva, presente e preservada do Caminho dos Diamantes, da Estrada Real e de Minas Gerais. Quem quer conhecer na prática a Estrada Real e a história do Ciclo do Ouro, tem que conhecer Itapanhoacanga e região.

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