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quinta-feira, 5 de abril de 2018

A tronqueira, o mata-burro e o passador

(Por Arnaldo Silva) Quando eu era menino, vinha muito pra roça. Era minha diversão. Chegava as férias, ficava lá o tempo todo. Da cidade pra roça tinha um ônibus, bem velho, uma jardineira. Levavam de tudo lá. Roupas, comida, cachorro, até porco, mas era divertido.
          A gente apeava na beira da estrada e seguia caminho a pé. Os caminhos eram pequenas trilhas e a gente passava em várias propriedades, divididas por cercas e tinha sempre um passador para passar de um pasto para outro.
          Passador era uma pequena passagem, de 50 uns centímetros de largura mais ou menos, em curva. Isso impedia o gado de passar para outro pasto, tinha que ser estreito assim, porque bezerro podia passar com facilidade. O passador era feito com troncos de madeira e arame farpado. Já rasguei roupa demais nesses passadores. Só podia passar um de cada vez. Meu avô brincava dizendo que é "passa um", se passar dois, não vai, entala todo mundo.
          Quando a gente pegava a estrada sempre tinha mata-burros. Tinha uma mata-burro e de um lado uma porteira. A porteira era para passagem de charretes e o mata-burro dos caminhões de leite e outros carros. Foram feitos exatamente para evitar o tempo gasto do motorista do caminhão de sair, abrir a porteira, passar com o caminhão e voltar para fechar. Com o mata burro isso não era necessário.
          Faziam um buraco no chão e colocavam a armação em concreto ou ferro, com várias fendas. Boi, vaca e cavalos são muito medrosos, tem medo de buracos e não se atreviam a passar para o outro lado. Nunca fazem isso. Se por um acidente caírem no mata-burro, machucariam muito, as patas ficariam presas e se não tiverem socorro rápido, morrem. Mas porque o nome mata-burro?
          Meu avô dizia que um burro caiu num desses e morreu. O mata-burro era sobre um córrego e como não tinha socorro, as casas de roça eram distantes uma da outra, o animal acabou morrendo. Dai o nome. Se tivesse caído um boi, seria mata-boi. Se fosse uma vaca, mata-vaca. Um cavalo, mata-cavalo. Mas quem morreu primeiro por causa dessa ideia foi um burro e ficou então, mata-burro.
          É raro um animal cair num mata-burro, justamente pelo medo deles de buracos. Mas já vi também muito motorista ruim mesmo cair no mata-burro, não foi pouco não. Mas a gente seguia o caminho. Chegando na fazenda, tinha uma porteira enorme, de madeira bruta, mas entre uma pasto e outro, tronqueiras.
          Ô trem ruim é tronqueira viu. Só quem já tentou abriu ou fechar esse troço, sabe o quanto é ruim. Trata-se de troncos com arame farpado pregados e presos a um tronco maior. Eram bem esticados e ficavam apertados. Tinha que prender em baixo e em cima e dava trabalho e machucava às vezes. Já prendi dedo, já cortei a mão com o arame. Para tirar a argola que prendia o tronco era difícil, pra fechar mais ainda.
          Por que tronqueira? Era uma economia. Fazer porteira, toda em madeira, era trabalhoso e caro, as tronqueiras são mais em conta. Tinha também os colchetes, que é o mesmo que tronqueira mas menor, para passagem de pessoas apenas, entrada em hortas, no cercado em volta das casas. 

          Gostando ou não, as tronqueiras e colchetes são realidades na roça, justamente por serem baratas, em relação a porteiras. Mas ô trem danado de ruim para abrir e fechar viu!  Quando eu ando a pé na roça, prefiro pular a cerca que abrir tronqueiras.

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